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1 UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES – UCAM CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO JOELMA DE SOUZA TEIXEIRA LOGÍSTICA REVERSA: UM ESTUDO SOBRE O DESTINO DADO AO LIXO ELETRÔNICO NA CIDADE DE CAMPOS – RJ CAMPOS DOS GOYTACAZES – RJ JULHO/2013 2 UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES – UCAM CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Joelma de Souza Teixeira LOGÍSTICA REVERSA: UM ESTUDO SOBRE O DESTINO DADO AO LIXO ELETRÔNICO NA CIDADE DE CAMPOS – RJ Trabalho de conclusão de curso apresentado à banca de Graduação em Engenharia de Produção, da Universidade Cândido Mendes – Campos / RJ, como requisito parcial para obtenção do Título de Bacharel em Engenharia de Produção. ORIENTADOR: Profª. CAMILA MENDONÇA ROMERO SALES CAMPOS DOS GOYTACAZES, RJ JULHO/2013 3 JOELMA DE SOUZA TEIXEIRA LOGÍSTICA REVERSA: UM ESTUDO SOBRE O DESTINO DADO AO LIXO ELETRÔNICO NA CIDADE DE CAMPOS – RJ Trabalho de conclusão de curso apresentado à banca de Graduação em Engenharia de Produção, da Universidade Cândido Mendes – Campos / RJ, como requisito parcial para obtenção do Título de Bacharel em Engenharia de Produção. Submetida em 11 de Julho de 2013. BANCA EXAMINADORA __________________________________________________ Profª. Camila Mendonça Romero Sales, M.Sc. UCAM – Campos __________________________________________________ Profª. André Amaral, MBA. UCAM – Campos __________________________________________________ Profª. Waidson Bitão Suett, M.Sc. UCAM – Campos CAMPOS DOS GOYTACAZES, RJ Julho, 2013 4 5 À minha família que sempre esteve ao meu lado me incentivando a lutar pelos meus objetivos. Ao meu marido e filho por todo amor, carinho e compreensão na minha ausência. Obrigado por acreditar em mim e me ajudar a superar todos os obstáculos para fazer desse sonho uma realidade. Sem vocês eu não sou nada. 6 AGRADECIMENTOS A Deus pelas oportunidades. A minha família, em especial ao meu marido e meu filho, por tudo. A minha orientadora, professora Camila, pela amizade e compreensão, se mostrando sempre solícita em todas as ocasiões e necessidades. Aos demais Professores da Universidade Cândido Mendes que estiveram comigo durante esta caminhada me proporcionando aprendizado e desenvolvimento acadêmico. A todos aqueles que de alguma forma, contribuíram para a conclusão deste trabalho. 7 “O essencial é invisível aos olhos.” Antoine de Saint Exupéry “O mundo é um lugar perigoso de se viver, não por causa daqueles que fazem o mal, mas sim por causa daqueles que observam e deixam o mal acontecer.” Albert Einstein 8 RESUMO O grande aumento na produção e comercialização de equipamentos eletrônicos tem contribuído para a diminuição da vida útil dos mesmos e também para o consumo inconsciente por parte da sociedade que faz aumentar a descartabilidade dos eletrônicos. Conseqüentemente o volume de lixo eletrônico tem aumentado significativamente e vem sendo descartado no lixo comum sem nenhuma preocupação ambiental, acabando por acumular-se nos lixões e aterros. Esse processo acaba por gerar graves problemas ambientais, econômicos e também sociais. Nos últimos anos, a incapacidade de metabolização do lixo eletrônico tem despertado a atenção da sociedade e a partir de estudos vem sendo desenvolvidas políticas públicas para uma gestão adequada do problema e também a elaboração de legislações específicas para fiscalizar essa gestão. As empresas preocupadas com a sua imagem estão buscando a sustentabilidade investindo no processo de logística reversa e disseminando os conceitos de reciclagem. A sociedade, por sua vez, vem aumentando sua sensibilidade ecológica numa crescente preocupação com as gerações futuras. O presente trabalho baseia-se em pesquisas literárias e digitais para traçar um panorama inicial sobre a destinação do lixo eletrônico na cidade de Campos dos Goytacazes/RJ. Para tal objetiva-se trabalhar com a aplicação de questionários junto à população e entrevista com a empresa responsável, junto à prefeitura, pelo recolhimento e destinação do lixo eletrônico. Palavras-Chave: Lixo Eletrônico, Legislação, Logística Reversa. 9 LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Divisão dos eletroeletrônicos por categorias. ..........................................................24 Figura 2 - Elementos contidos em um telefone móvel. ............................................................28 Figura 3 - Particularidades dos REEE´s. ..................................................................................30 Figura 4 - Exportação de lixo eletrônico. .................................................................................33 Figura 5 - Rotas conhecidas e suspeitas de exportação de lixo eletrônico. ..............................34 Figura 6 - Geração de REEE utilizado (Método Suprimento do Mercado). ............................39 Figura 7 - Base ativa de Computadores no Brasil (milhões de unidades). ...............................41 Figura 8 - Campanha Natal da Eletrorreciclagem. ...................................................................43 Figura 9 - Local para descarte de lixo eletrônico. ....................................................................44 Figura 10 - Descarte de celulares. ............................................................................................45 Figura 11 - Produtos com obrigatoriedade de implantação de logística reversa no Brasil. .....48 Figura 12 - Localização das recicladoras de lixo eletrônico no Brasil. ....................................60 Figura 13 - Áreas de atuação e etapas reversas. .......................................................................67 Figura 14 - Logística reversa agregando valor. ........................................................................68 Figura 15 - Foco de atuação da Logística Reversa. ..................................................................70 Figura 16 - Fluxograma de operações para os resíduos eletrônicos no Japão. .........................71 Figura 17 - Fluxograma de operações para os resíduos eletrônicos em Portugal. ...................72 Figura 18 - Fluxograma de operações para os resíduos eletrônicos na Europa........................72 Figura 19 - Fluxograma de operações para os resíduos eletrônicos na Califórnia. ..................73 Figura 20 - Comparativo de Legislação Internacional x Brasil................................................74 Figura 21 - Fluxograma de operações para os resíduos eletrônicos no Brasil. ........................75 Figura 22 - Custos da logística reversa de eletroeletrônicos no Brasil.....................................76 10 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 - Composição de um computador (%)......................................................................29 Gráfico 2 - Número de linhas móveis ativas no mundo. ..........................................................35 Gráfico 3 - Evolução do número de linhas móveis ativas no Brasil.........................................40 Gráfico 4 - Divisão do lixo eletrônico coletado em São Paulo em 2011..................................42 Gráfico 5 - Coleta Seletiva no Brasil........................................................................................62 11 LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Os metais e os principais problemas causados à saúde do homem........................32 Quadro 2 - Instrumentos legais de abrangência nacional. ........................................................49 Quadro 3 - Estados que possuem legislação sobre lixo eletrônico...........................................50 Quadro 4 - Municípios que possuem legislação sobre lixo eletrônico. ....................................51 Quadro 5 - Empresas recicladoras de eletrônicos e baterias no Brasil. ....................................59 Quadro 6 - Diferença entre logística direta e logística reversa.................................................65 Quadro 7 - Benefícios da implantação do sistema de logística reversa de eletroeletrônicos. ..77 12LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Número de celulares vendidos mundialmente.........................................................28 Tabela 2 - Vendas mundiais de computadores. ........................................................................36 Tabela 3 - Características dos domicílios brasileiros. ..............................................................38 Tabela 4 - Mercado Brasileiro de Celulares. ............................................................................39 Tabela 5 - Mercado Brasileiro de Computadores. ....................................................................41 Tabela 6 - Metais em um computador, percentual de integração e reciclabilidade..................56 13 LISTA DE ABREVIAÇÕES ABDI – Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial ABINEE – Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas ABRELPE – Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais ANATEL – Agência Nacional de Telecomunicações BAN – Basel Action Network CEMPRE – Compromisso Empresarial para Reciclagem CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente EIA – Environmental Investigation Agency (ONG do Reino Unido) ELETROS – Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos EMPA - Materials Science & Technology (Instituto de Pesquisa Científica Suíço) EPA – Environmental Protection Agency (Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos) FAO – Food and Agriculture Organization (Organização Americana) FGV – Fundação Getúlio Vargas GREENPEACE – Organização Não Governamental IDC – Empresa de Consultoria nas áreas de TI e Telecomunicações IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística INTERPOL – International Criminal Police Organization (Organização Internacional de Polícia Criminal) IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada OIT – Organização Internacional do Trabalho ONU – Organização das Nações Unidas ONG´s – Organizações Não Governamentais PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio PNRS – Política Nacional de Resíduos Sólidos PNUMA – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente REEE – Resíduos de Equipamentos Elétricos e Eletrônicos RoHS – Restriction of Certain Hazardous Substances (Restrição de Certas Substâncias Perigosas) 14 SMSP – Secretaria Municipal de Serviços Públicos StEP – Solving the e-Waste Problem (Resolvendo o Problema do Lixo Eletrônico) TELECO – Inteligência em Telecomunicações Consultoria UIT – União Internacional de Telecomunicações UNEP – United Nations Environment Programme (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) WEEE – Waste Electric and Electronic Equipment (Resíduos de Equipamentos Elétricos e Eletrônicos) 15 SUMÁRIO CAPÍTULO I – CONSIDERAÇÕES INICIAIS ......................................................................17 1.1 INTRODUÇÃO ..............................................................................................................17 1.2 OBJETIVOS ...................................................................................................................18 1.2.1 Objetivo Geral ..........................................................................................................18 1.2.2 Objetivos Específicos...............................................................................................18 1.3 JUSTIFICATIVA ...........................................................................................................19 CAPÍTULO II – REVISÕES BIBLIOGRÁFICAS .................................................................20 2.1 A EVOLUÇÃO TECNOLÓGICA .................................................................................20 2.2 O LIXO ELETRÔNICO.................................................................................................23 2.2.1 A Composição do Lixo Eletrônico...........................................................................27 2.2.2 Os Principais Impactos do Lixo Eletrônico .............................................................30 2.2.3 O Comércio Mundial de Lixo Eletrônico.................................................................33 2.2.4 O Lixo Eletrônico Mundial em Números.................................................................35 2.2.5 O Lixo Eletrônico no Brasil .....................................................................................36 2.2.6 O Lixo Eletrônico em Campos dos Goytacazes.......................................................44 2.3 LEGISLAÇÃO ...............................................................................................................46 2.3.1 Legislações Globais..................................................................................................46 2.3.2 Legislações Nacionais ..............................................................................................48 2.4 RESPONSABILIDADE AMBIENTAL.........................................................................51 2.5 OS TRÊS R`S DA SUSTENTABILIDADE ..................................................................53 2.5.1 Reduzir .....................................................................................................................54 2.5.2 Reutilizar ..................................................................................................................54 2.5.3 Reciclar.....................................................................................................................55 2.6 SOBRE A RECICLAGEM DE RESÍDUOS ELETRÔNICOS .....................................55 2.6.1 A Reciclagem no Brasil............................................................................................58 2.6.2 A Reciclagem no Japão ............................................................................................62 16 2.7 DEFINIÇÕES DE LOGÍSTICA.....................................................................................63 2.7.1 Logística Reversa .....................................................................................................65 2.7.2 Logística Reversa de Pós-Venda..............................................................................67 2.7.3 Logística Reversa de Pós-Consumo.........................................................................69 2.7.4 Logística Reversa dos REEE´S ................................................................................70 2.7.5 Logística Reversa dos REEE´S no Brasil ................................................................74 CAPÍTULO III – METODOLOGIA........................................................................................78 CRONOGRAMA .....................................................................................................................79 QUESTIONÁRIO (População) ................................................................................................80 QUESTIONÁRIO (Empresa de Reciclagem) ..........................................................................82 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .....................................................................................84 ANEXO 1: LEI Nº 12.305, DE 2 DE AGOSTO DE 2010. .....................................................92 ANEXO 2: DECRETO Nº 7.404, DE 23 DE DEZEMBRO DE 2010. ...................................94 ANEXO 3: Recicladoras de REEE no BRASIL ......................................................................96 ANEXO 4: Responsabilidades na logística reversa dos REEEs no BRASIL ..........................99 17 CAPÍTULO I – CONSIDERAÇÕES INICIAIS Este primeiro capítulo aborda as considerações iniciais sobre o tema proposto. Apresenta uma introdução sobre o objeto de análise, o detalhamento dos objetivos esperados, além da justificativa que motivou a elaboração deste estudo. 1.1 INTRODUÇÃO A população mundial cresce muito rapidamente e conjuntamente cresce a geração de lixo. O lixo é uma ameaça ambiental e os problemasderivados da falta de uma gestão adequada, ou então de uma gestão imprópria desse lixo está interferindo na promoção da sustentabilidade ambiental comprometendo as necessidades básicas do ser humano como, por exemplo, água limpa e ar puro, entre outras necessidades. O presente trabalho trata especificamente do lixo eletrônico. Altamente dinâmico e inovador, o setor eletroeletrônico permeia várias atividades produtivas, sendo de fundamental importância econômica e surgindo na base de vários outros setores. Não é considerado poluidor do ponto de vista da utilização de recursos naturais e emissão de poluentes no seu processo produtivo. Porém nos últimos anos, tem sido alvo das autoridades das regiões mais desenvolvidas pela preocupação ambiental devido ao seu descarte no final de seu ciclo de vida (ANSANELLI, 2011). Os impactos sócio-ambientais associados à velocidade de crescimento dos resíduos eletrônicos e a conseqüente incapacidade de gerir esses resíduos tem sido reconhecido como um grande risco tanto para a sociedade quanto para o meio ambiente. Isso se deve ao grande volume gerado anualmente, que segundo a OIT representa 5% de todo o lixo gerado pela humanidade, tendo o maior fluxo de crescimento entre os resíduos, e também devido a sua composição, que conta com a presença de substâncias tóxicas, afirma Rodrigues (2007). 18 De acordo com CEMPRE (2010) apud Magalhães e Dias (2010), o setor eletrônico é responsável por, aproximadamente, 2 a 4% dos impactos ambientais do mundo, porém fornece serviços, produtos e soluções para os outros 96 a 98% dos segmentos mundiais. A visibilidade dos problemas gerados pelo descarte incorreto do lixo eletrônico vem ganhando destaque frente à sociedade, devido à mesma está exposta aos mais diversos riscos resultantes do impacto ambiental e dos problemas oferecidos a saúde dos envolvidos por este lixo, ressalta Magalhães e Dias (2010). Porém, em sua grande maioria, a população ainda desconhece estes problemas e acaba descartando seus eletrônicos junto ao lixo comum. Diante deste cenário observa-se a necessidade de criação de novas legislações, convenções e protocolos, assim como a ampla divulgação e utilização dos conceitos de reuso, remanufatura e reciclagem por parte de todos os envolvidos, governos, empresas e população, com o objetivo de minimizar todos os prejuízos ao meio ambiente, sejam ambientais, econômicos ou sociais. 1.2 OBJETIVOS 1.2.1 Objetivo Geral Analisar a destinação final dos resíduos eletrônicos na cidade de Campos dos Goytacazes, assim como identificar o posicionamento da população local sobre a importância desta destinação. 1.2.2 Objetivos Específicos Investigar de que forma esta sendo feita a coleta e o gerenciamento do lixo eletrônico produzido na cidade na cidade estudada; Analisar os problemas causados pelos resíduos eletrônicos; Analisar a visão da população sobre o descarte; Comparar destino dado na cidade estudada com outras cidades. 19 1.3 JUSTIFICATIVA O grande aumento do consumismo, o ritmo acelerado das inovações e conseqüentemente a descartabilidade dos equipamentos eletrônicos resultam num grande problema, a geração de um grande volume de lixo eletrônico. O descarte incorreto desses resíduos pode ocasionar sérios impactos ao meio ambiente, assim como graves problemas a saúde das pessoas. Atualmente os eletrônicos deixaram de ser um luxo para se tornar uma necessidade na vida da sociedade mundial. Com isso houve um aumento significativo na geração de lixo eletrônico. Estudo do UNEP (2009) destacou o Brasil como campeão entre os países emergentes, na geração desses resíduos. Houve um aumento também nas exportações desses resíduos para países em desenvolvimento. Segundo a OIT (2012) isso ocorre, principalmente, devido aos elevados custos para um descarte adequado desses equipamentos. Uma legislação específica com uma fiscalização rigorosa é muito importante para uma gestão sustentável do lixo eletrônico. A partir do ano 2010 com a criação do Plano Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), através da Lei nº 12.305, o Brasil começou a trilhar o caminho para a implantação de um sistema de logística reversa para alguns tipos de resíduos sólidos, entre eles os resíduos eletroeletrônicos. Porém muito ainda tem a ser feito. No Brasil, estudos a respeito desse assunto fazem-se necessário para se quantificar e tipificar o lixo eletrônico, já que as informações disponíveis são escassas. A partir dos dados é possível equacionar uma gestão sustentável desse lixo, gerando emprego e renda. O trabalho se justifica, uma vez que visa identificar e analisar as diversas variáveis envolvidas no processo. 20 CAPÍTULO II – REVISÕES BIBLIOGRÁFICAS Este capítulo aborda alguns conceitos relativos aos equipamentos eletrônicos. Aborda também a logística reversa e a reciclagem. 2.1 A EVOLUÇÃO TECNOLÓGICA O consumo mundial de produtos eletrônicos é incrementado pela acessibilidade a grande parte da população e também pela velocidade desenvolvimento e lançamento de novas tecnologias no mercado nos últimos anos. O lançamento acelerado de inovações ao mercado gera um alto grau de obsolescência dos eletrônicos, principalmente produtos de informática e celulares, reduzindo seu ciclo de vida e aumentando a tendência a descartabilidade (ANDRADE et al., 2010). Na perspectiva de Miguez (2010) prover um tempo de vida extra aos produtos significa uma produção menor, menos resíduo e, quando os resíduos são perigosos, que é o caso dos eletrônicos, haverá uma geração de substâncias perigosas menor. O dano ao meio ambiente assim como a saúde do homem será menor também. Mas quando se conserta ou atualiza um eletrônico antigo, na maioria das vezes, percebe-se que é mais barato adquirir um produto novo (ACOSTA et al., 2010). Sem contar que a maioria das peças e dos produtos eletrônicos antigos não foram projetados para reciclagem, afirma Rodrigues (2007). Ao longo dos tempos pode-se perceber que o concerto dos eletroeletrônicos ficou extremamente dificultado por dois motivos principais: a não disponibilização de peças de reposição pelos fabricantes e o altíssimo custo quando estas são disponibilizadas, o que gera a inviabilidade econômica do reparo (COSTA, 2012). 21 Para Rigotti (2011) o grande avanço tecnológico tende a baixar o preço dos novos produtos muito mais rapidamente que os custos de conserto dos mesmos, o que torna inviável o conserto destes equipamentos mais antigos, ou mesmo da versão anterior. Rodrigues (2007) afirma que ao invés da promoção da vida útil dos produtos eletroeletrônicos e eletrodomésticos a uma tendência ao descarte. Afirma ainda que: “Num país como o Brasil, onde a maioria da população possui baixo nível de renda e onde ainda existe a cultura da tentativa de conserto, isto na maior parte das vezes ocorre não por escolha do usuário e sim por falta de alternativa.” Dois fatores contribuem para essa situação: o curto prazo de garantia dos produtos, que no Brasil é de apenas 90 dias (3 meses), usualmente ampliada para até um ano, com a denominação de garantia estendida; e as leias que garantem a disponibilização de peças de reposição pelos fabricantes que não são claras e objetivas quanto ao tempo de disponibilização e tampouco quanto ao preço das mesmas, ressalta Rodrigues (2007). A legislação brasileira que trata esta questão é a Lei 8078, de 11 de setembro de 1990, também conhecida como Código de Defesa do Consumidor. A Lei, no seu artigo 26, fixa o prazo de garantia de 90 dias para reclamação pelos vícios aparentes ou de fácil constatação dos produtos duráveis adquiridos pelo consumidor. E no seu artigo 32 dispõe sobre a obrigatoriedade da oferta de peças de reposição. “Art. 32. Os fabricantes e importadores deverão assegurar a oferta de componentes e peças de reposição enquanto não cessar a fabricação ou importação do produto.” “Parágrafo único. Cessadas a produção ou importação, a oferta deverá ser mantida por período razoávelde tempo, na forma da lei.” A Lei 8078/90 deixa dúvida sobre qual seria o período razoável de tempo, ainda mais nos dias de hoje quando a vida útil dos equipamentos está cada vez menor. Diante dessa lacuna na definição da lei acaba prevalecendo à conveniência dos fabricantes na disponibilização de peças para reposição, bem como os preços das mesmas. 22 Isso ficou claro na pesquisa que Rodrigues (2007) fez com oficinas de manutenção/atualização de eletroeletrônicos no interior do Estado de São Paulo. Ainda em Rodrigues (2007), segundo os entrevistados muitos fabricantes não disponibilizam peças de reposição, até mesmo para as assistências técnicas, ou então, quando disponibilizadas elas são muito caras e somadas à mão-de-obra do técnico fica quase pelo preço de um produto novo, resultando na não aprovação do orçamento e conseqüentemente no descarte do produto. O Greenpeace afirma que os resíduos eletrônicos devem ser minimizados. Inevitavelmente reciclados e descartados de forma segura. E que parte do problema poderia ser resolvido com o design de produtos com uma vida útil maior, sendo mais seguros e mais fáceis de reparar, atualizar e reciclar, e também eliminar as substâncias tóxicas na produção desses produtos. O que tornaria mais barato e mais fácil reciclar os resíduos eletrônicos, pois a reciclagem de produtos perigosos é cara e perigosa (GREENPEACE, 2008). Na visão de Rodrigues (2007), o aumento da vida útil dos produtos é contraditório ao sistema capitalista atual que investe pesado na obsolescência1 programada dos produtos, reduzindo assim o seu ciclo de vida e investindo muito em marketing, como forma de aumentar os lucros em conseqüência do aumento das vendas. Ao longo do tempo os equipamentos eletrônicos também estão alterando suas funções originais, o que também leva a troca dos equipamentos por novos. Um grande exemplo são aparelhos celulares. Assistindo duas reportagens feitas pelo jornalista da Rede Globo de Televisão Roberto Kovalick no Japão, pode-se perder que desde a sua criação em 1973 até hoje ele evoluiu muito, em alguns lugares chegou ao ponto de perder sua função principal que é falar com as pessoas. Segundo Kovalick (2013) os japoneses usam o celular mais como computador de bolso e televisão portátil. O mercado de celulares está saturado, pois todos possuem celulares. O país é sinônimo de tecnologia, oferece velocidade de internet altíssima e está constantemente lançando novas tecnologias, a próxima a ser lançada é um tradutor automático de idiomas, onde duas pessoas que falam línguas diferentes podem conversar pelo celular nos seus próprios idiomas, pois o celular vai se encarregar de fazer a tradução automaticamente. 1 Obsolescência: é a condição que ocorre a um produto que deixa de ser útil, mesmo estando em perfeito estado de funcionamento, devido ao surgimento de um produto tecnologicamente mais avançado. 23 E a cada nova tecnologia as pessoas querem substituir seus aparelhos gerando mais lixo eletrônico e aumentam o desperdício. Isso acontece em muitos países, menos no Japão. Pois os japoneses são ensinados desde pequenos a reciclar, então mesmo gostando de ter sempre o último modelo eles devolvem os aparelhos antigos para reciclagem, isso sem ganhar nada em troca, dinheiro ou desconto na compra de um novo aparelho (KOVALICK, 2010). 2.2 O LIXO ELETRÔNICO Segundo Costa (2012), nas últimas décadas as inovações tecnológicas foram tão intensas que transformaram até mesmo as formas de produção modernizando setores como a biotecnologia, a robótica e principalmente a informática. Tobias (1992) apud Slack et al. (2002, p. 250) mostra o quão rápido a tecnologia tem mudado com a referência a seguir: “O ritmo de progresso da tecnologia de informação tem sido tão grande que, se avanços similares tivessem ocorrido na indústria automobilística, você poderia comprar um Jaguar que andasse a velocidade do som, percorresse 600 milhas com um tanque de gasolina e custasse somente $2!” A indústria eletrônica se expandiu ao passo que, para Ferreira e Ferreira (2008), vivemos em um tempo onde a tecnologia nos torna societários da informação, integralizando as pessoas em rede com o mundo, diminuindo o espaço físico, aumentando a comunicação e proporcionando uma maior flexibilidade tanto na atuação pessoal quanto profissional dos indivíduos. Ainda segundo Ferreira e Ferreira (2008), o lixo eletrônico teve origem na fixação do homem pelos avanços tecnológicos, os quais transformaram os eletrônicos em sucatas numa velocidade assustadora. A obsolescência acelerada e a redução de preços ao consumidor, segundo Leite (2006) apud Acosta et al. (2010), têm levado os eletrônicos a ciclos de vida cada vez menores fazendo com que as pessoas troquem seus eletrônicos numa velocidade cada vez maior, seja por status, por moda, por novas tecnologias ou por novos modelos. A queda dos preços faz com que cada dia mais pessoas adquiram seu primeiro eletrônico. 24 Na Europa, em média, a venda de computadores atinge 1,6 kg/habitante ao ano e na Suíça, que é um mercado saturado, esse índice chega a 3,2 kg/habitante ao ano (UNEP, 2009 apud ACOSTA et al., 2010). Para Costa (2012), a velocidade da substituição destes eletrônicos tem gerado um tipo de lixo especial, um novo tipo de resíduo sólido. Que apesar de possuir diversas denominações como: e-lixo, lixo eletrônico, sucata eletrônica, lixo high tech, resíduos de equipamentos elétricos e eletrônicos (REEE´s), lixo tecnológico, resíduo tecnológico, nada mais é que a denominação para o descarte de qualquer tipo de equipamento eletrônico. São exemplos de lixo eletrônico: computadores, periféricos como: teclados e mouses, celulares, câmeras digitais, notebook, impressoras, tablets, baterias, mp3 player, microondas, pilhas, televisão, entre muitos outros aparelhos; que se encontram no final de sua vida útil, obsoletos, que não podem mais ser reaproveitados ou ainda que as pessoas simplesmente não queiram mais. Na figura 1 podem-se observar as categorias em que os produtos eletroeletrônicos são divididos no Brasil. Figura 1 - Divisão dos eletroeletrônicos por categorias. Fonte: ABDI (2012). De acordo com o relatório da OIT (2012), divulgado em janeiro de 2013, o lixo eletrônico tem o maior fluxo de crescimento entre os resíduos. Anualmente são produzidos 40 milhões de toneladas de lixo eletrônico, o que equivale a 5% de todo o lixo produzido pela 25 humanidade. Estimativas apontam para reciclagem de somente 11% do total destes resíduos (ESTRADA, 2009 apud ANDRADE et al., 2010). “Grande parte do “lixo eletrônico” é formada por computadores e outros produtos do setor de informática. A rapidez de obsolescência desses materiais aumenta progressivamente e muitas vezes eles tornam-se “ultrapassados” antes mesmo de saírem das lojas, o que representa um grande problema para empresas, sociedade e meio-ambiente” (BORGES, 2007; ABINEE, 2007 apud LEITE et al., 2009). Para Andrade et al. (2010), a primeira vista, os produtos eletrônicos são equipamentos inofensivos, confeccionados para proporcionarem comodidade e conforto, mas geram também grandes danos desde a sua produção ao seu descarte. A expansão do uso desses equipamentos assim como as constantes trocas de versão, motivadas seja pela obsolescência programada ou pela febre de consumo, geram uma quantidade imensa de resíduos praticamente imensuráveis. Segundo Rodrigues (2007), isso contribui para a insustentabilidade ambiental, onde desde a produção destes bens até o seu descarte, são consumidas matérias-primas não renováveis. Há também à perda de energia quando do seu descarte prematuro, isso sem falar nos muitos outros impactos derivados da emissão de substâncias tóxicas durante as etapas do seu ciclo de vida. A figura mostra algumas das particularidades dos resíduos eletrônicos. “A sociedade descartável encontra seu equilíbrio entre a produção e consumo, necessário para sua contínua reprodução, somente se ele puderartificialmente “consumir” em grande velocidade (isto é descartar prematuramente) grandes quantidades de mercadorias, que antes pertenciam à categoria de bens relativamente duráveis” (MÉSZÁROS, 1989 apud RODRIGUES, 2007). Miguez (2010) aponta que 75% dos equipamentos eletrônicos antigos, aproximadamente, estão armazenados nas residências. Isso ocorre por dois motivos principais: primeiro porque os consumidores não sabem como descartá-los, e acabam jogando no fundo de uma gaveta qualquer, ou então porque acreditam que em algum momento estes aparelhos podem lhes render algo. 26 Segundo dados da Basel Action Network (BAN, 2013), os americanos jogam no lixo diariamente mais de 350 mil celulares e 130 mil computadores. E cerca de 80% dos resíduos eletrônicos que são entregues as empresas de reciclagem são exportados. Isso ocorre porque, segundo OIT (2012), é 10 vezes mais barato tratar desse lixo na Ásia que nos Estados Unidos. A falta de informações dos perigos que os componentes químicos existentes nos equipamentos eletrônicos podem causar ao homem, assim como a maneira correta de descartá-los fazem com que muitos aparelhos eletrônicos tenham sido e continuem sendo descartados em aterros sanitários comuns, ameaçando o solo. Esse descarte incorreto representa perda de oportunidade de recuperação de valiosos recursos, tais como minerais de terras raras, ressalta Carvalho (2012). Carpanez (2007) apud Mattos (2008) aponta 10 mandamentos para evitar a geração de tanto lixo eletrônico. Sendo eles: 1. Pesquise: Conheça o fabricante de seu produto, bem como suas preocupações ambientais e o descarte do bem de consumo mais tarde. 2. Prolongue: Cuide bem de seus produtos e aprenda a evitar os constantes apelos de troca, prolongue ao máximo sua vida útil. 3. Doe: Doe para alguém que vá usá-lo, além de ajudar, evita que alguém compre um novo. 4. Recicle: Procure por pontos de coleta que fazem reciclagem. 5. Substitua: Produtos que agregam várias funções, como uma multifuncional, consomem menos energia do que cada aparelho usado separadamente. 6. Informe-se: Torne-se adepto ao consumo responsável, sabendo as conseqüências que seus bens causam ao meio ambiente. 7. Opte pelo original: Cuidado com piratarias, os produtos não seguem políticas de preservação do meio ambiente. 8. Pague: Os produtos dos fabricantes que oferecem programas de preservação ambiental podem ser mais caros, mais vale à pena optar pela alternativa “verde”. 9. Economize energia: Opte pelo produto que consome menos energia. 10. Mobilize: Passe informações sobre o lixo eletrônico para frente, pois muitos usuários de tecnologia não se dão conta do tamanho do problema. 27 Os Estados Unidos produziu 3,1 milhões de toneladas de lixo eletrônico em 2008, deste total apenas 14% foram para reciclagem, os outros 86% foram enviados para aterros sanitários, incinerados ou então exportados (EPA apud CARVALHO, 2012). De acordo com Ferreira et al. (2010) apud Rigotti (2011) a falsa doação é uma maneira usada pelos países ricos para descartar seu lixo eletrônico. Eles usam a desculpa de promover a inclusão digital nos países pobres, porém sabem que os equipamentos possuem pouco ou nenhum tempo de vida. 2.2.1 A Composição do Lixo Eletrônico Conforme Silva (2010), o lixo eletrônico é composto por resíduos tóxicos de difícil reciclagem e manejo, por isso deve ser descartado corretamente. Seu potencial contaminante é uma grande ameaça a saúde das pessoas e ao meio ambiente. De acordo com UNEP (2009), a indústria eletrônica como um todo consome mais de 80% da demanda mundial de rutênio (usado em de resistores e discos rígidos), quase 80% de índio (usado nas telas LCD e de celulares) e 50% de antimônio (funciona como retardador de chama). O preço desses materiais tem aumentado muito nos últimos anos devido ao grande consumo pela indústria. O Índio, que está presente na fabricação de mais de 1 bilhão de equipamentos todos os anos, por exemplo teve seu preço aumentado seis vezes nos últimos 5 anos, chegando a custar mais que a prata nos dias de hoje. E sua produção depende do zinco, que tão logo não será mais possível ser produzido devido às reservas minerais serem limitada (LEITE et al., 2009). Os eletrônicos modernos contém uma variedade de até 60 elementos diferentes, muitos são valiosos, outros perigosos e ainda há aqueles que são ambos os casos, valiosos e perigosos ao mesmo tempo. A mistura mais complexa de substâncias é encontrada, geralmente, nas placas de circuito impresso. A figura 2 mostra os 43 elementos da tabela periódica que um aparelho de celular pode conter. Os metais representam, em média, 23% do peso do aparelho, sendo em sua maioria cobre, enquanto que o restante é composto de material plástico e cerâmico (UNEP, 2009). 28 Figura 2 - Elementos contidos em um telefone móvel. Fonte: UNEP (2009). Uma tonelada de sucata de celular (o equivalente a 6 mil aparelhos sem bateria), contém em média 3,5 quilos de prata, 130 quilos de cobre, 340gramas de ouro, 140gramas de paládio. Um único aparelho pode conter: 250miligramas de prata, 24miligramas de ouro, 9miligramas de paládio e 9gramas de cobre e somente uma bateria pode conter mais de 3,5 gramas de cobre (UNEP, 2009). Em uma avaliação preliminar, os números anteriores parecem ser muito pequenos, mas se levarmos em conta que somente no ano de 2012 foram vendidos mundialmente 1,7 bilhões de aparelhos de celulares (conforme mostrado na tabela 1), isso leva a uma demanda significativa do total de metal. Tabela 1 - Número de celulares vendidos mundialmente. Milhões de unidades 2008 2009 2010 2011 2012 Samsung 196,6 227 280 330,9 406 Nokia 468,4 431,8 452,9 416,9 335,6 Apple 13,7 25,1 47,5 93,1 135,9 ZTE - 26,7 51,8 69,5 65 LG 100,8 117,9 116,7 88,1 55,9 RIM (Black Berry) 26 34,37 48,2 51,1 32,5 Sony Mobile 96,6 57,1 43,1 34,2 32,6 Outros * 228,3 209,3 208,5 631,5 672,4 Total 1.130,4 1.129,27 1.248,7 1.715,3 1.735,9 * inclui Motorola para efeitos de comparação Fonte: Teleco (2013). 29 Segundo um estudo da Universidade das Nações Unidas, para a fabricação de um computador de mesa é necessário 1,8 toneladas de matéria-prima diversa. São 1.500 quilos de água, 240 quilos de combustíveis fósseis e 22 quilos de produtos químicos. A fabricação de um computador é mais difícil que a fabricação de um eletrodoméstico da linha branca, pois consome até 10 vezes o seu próprio peso em combustíveis fósseis enquanto que um eletrodoméstico consome apenas 1 a 2 vezes o seu próprio peso (LEITE et al., 2009). O maior problema é a fabricação dos chips que consome muita água, cada etapa do processo de produção necessita de seguidas lavagens com água extremamente pura, e que não sai pura do processo obviamente (LEITE et al., 2009). Sobre a fabricação de computadores, Acosta et al. (2010) aponta que segundo dados da UNEP (2009) o processo consome 3% de todo o ouro e a prata que são minados em todo o mundo anualmente, assim como 13% e 15% do paládio e do cobalto, respectivamente. A composição de um computador pode ser observado no gráfico 1, onde as placas eletrônicas são compostas principalmente de ouro, platina, prata e paládio. Gráfico 1 - Composição de um computador (%). Fonte: Silva (2010). É notável que o descarte inadequado do lixo eletrônico no meio ambiente é extremamente prejudicial ao homem, já que é composto por metais altamente contaminantes, que podendo causar danos irreversíveis à saúde, assim como prejudica todo o ciclo de vida ao redor de onde foi realizado o descarte incorreto. A contaminação do lençol freático, por exemplo, ocorre na medida em que as substâncias tóxicas penetram no solo e o alcança. Podendo causar danos a partir de quando a água for utilizada, aponta Silva (2010). 30 2.2.2 Os Principais Impactos do Lixo Eletrônico Não nos restam dúvidas que a Revolução Industrial trouxe muitos benefícios para a humanidade, hoje é impossível imaginar a vida sem os recursos que a tecnologia nos proporciona.Os aparelhos eletrônicos estão presentes em quase tudo na nossa vida, mas o uso e o descarte inconsciente desses produtos podem causar sérios impactos ao meio ambiente e danos à saúde (FERREIRA e FERREIRA, 2008). A figura 3 mostra algumas das particularidades dos resíduos eletroeletrônicos. Figura 3 - Particularidades dos REEE´s. Fonte: ABNT (2013). Para Ansanelli (2011) o aumento da geração de lixo eletrônico tem crescido, em parte, por dois motivos: o aumento do consumo desses equipamentos e a redução da vida útil dos mesmos, que varia entre 2 e 4 anos atualmente. E mais: “A disposição final desses resíduos, conseqüentemente, vem se tornando um problema de saúde pública, uma vez que os equipamentos contêm substâncias nocivas à saúde humana, animal e ao meio ambiente, como mercúrio, cromo, cádmio e chumbo”. 31 Segundo OIT (2012), uma regulamentação eficaz deve ser combinada com incentivo financeiro para que os recicladores informais entreguem as peças recuperadas para empresas especializadas para uma reciclagem responsável. A reciclagem informal emprega centenas de milhares de pessoas em situação de pobreza, que não tem condições dignas de trabalho, sem falar dos vários riscos à saúde, que são expostos devido à manipulação de materiais tóxicos. Ferreira e Ferreira (2008) falam em fumaça invisível2 como uma forma de poluição eletrônica, que seria a poluição causada pelos poluentes utilizados na fabricação dos aparelhos eletroeletrônicos e também nas suas formas de descarte. Esta forma de poluição estaria aumentando sua proporção devido à popularização dos equipamentos eletroeletrônicos e também por sua utilização desmedida. De acordo com Cançado et al. (2012), os processos de incineração de resíduos eletrônicos podem causar grandes problemas à saúde, devido a queima de cloretos halogenados e brometos contidos nos plásticos formarem dioxinas e furanos, os quais são altamente tóxicos (cancerígenos). Carvalho (2012), por sua vez, cita o exemplo da formação do amálgama mercúrio-ouro. Magalhães e Dias (2010) afirma que os metais pesados são necessários para a manutenção da vida, sendo que em pequenas quantidades. Quantidades essas encontradas naturalmente no ambiente, mas quando em grandes proporções pode contaminar o solo, os lençóis freáticos e até mesmo a atmosfera no caso de serem queimados, causando efeitos nocivos ao meio ambiente bem como a saúde da população. Isso acontece, por exemplo, quando do descarte incorreto de equipamentos eletrônicos no meio ambiente. De acordo com Matos et al. (2008), 40% do chumbo encontrado em aterros sanitários é proveniente dos produtos eletrônicos. Sendo a principal preocupação o vazamento do mesmo e conseqüentemente a contaminação dos sistemas fornecedores de água potável. O mercúrio em contato com a água transforma-se em metil-mercúrio, e vai para as partes mais profundas contaminando toda a vida marinha. Ele se acumula nos seres vivos através da cadeia alimentar, sendo nocivo a saúde do feto e bebês, causando danos crônicos ao cérebro. Os efeitos causados pelos metais pesados no organismo humano são vastos e severos. E pode se agravar ainda mais devido à bioacumulação3 destes metais, que pode atingir todos 2 Fumaça invisível: são campos de energia eletromagnética produzidos pelos aparelhos eletroeletrônicos. 3 Bioacumulação: é o processo ocorrido quando um composto se acumula em um nível de concentração milhares de vezes maiores que os níveis presentes no meio ambiente, independente do nível trófico. 32 os níveis tróficos da cadeia alimentar gerando a cronicidade dos danos sofridos, ressalta Andrade et al. (2010). Segundo o Dr. Kevin Bridgen, médico do Greenpeace que visitou as regiões de depósitos de lixo eletrônico na China, Índia e também em Gana, muitas das substâncias químicas que são liberadas nestes locais são altamente tóxicas, algumas podem afetar o desenvolvimento do sistema reprodutivo das crianças, e outras podem afetar o desenvolvimento do sistema nervoso e também do cérebro. Na China descobriu-se que as crianças que vivem em áreas de reciclagem de lixo eletrônico têm altos níveis de chumbo no sangue (GREENPEACE, 2008). Para Andrade et al. (2010) os problemas relatados no quadro 1 culminam em substanciais gastos econômicos e sociais para tratamento dos recursos hídricos, do solo e hospitalares. Estes problemas se agravam formando uma avalanche e pressionam a adoção de ações de responsabilidade socioambiental empresarial e governamental além de uma legislação específica para o lixo eletrônico. OS VILÕES DO LIXO ELETRÔNICO Metal Os principais problemas causados á saúde Alumínio Alguns autores sugerem existir relação da contaminação crônica do alumínio como um dos fatores ambientais da ocorrência de mal de Alzheimer Arsênio Câncer de pele e dos pulmões, anormalidades cromossômicas e efeitos teratogênicos Bário Provoca efeitos no coração, constrição dos vasos sanguíneos, elevação da pressão arterial e efeitos no sistema nervoso central Berílio Câncer no pulmão Cádmio Intoxicação crônica pode gerar descalcificação óssea, lesão renal, enfisema pulmonar, além de efeitos teratogênicos (deformação fetal) e carcinogênicos (câncer) Chumbo Exerce ação tóxica na biossíntese do sangue, no sistema nervoso, no sistema renal e no fígado, constitui-se veneno cumulativo de intoxicações crônicas que provocam alterações gastrintestinais, neuromusculares, hematológicas podendo levar à morte Cobre Intoxicações como lesões no fígado Cromo Pode provocar anemia, alterações hepáticas e renais, além de câncer no pulmão Mercúrio Doses de 3g a 30g são fatais, apresentando efeito acumulativo e provocando lesões cerebrais, além de efeitos de envenenamento no sistema nervoso central e teratogênicos Níquel Carcinogênico (atua diretamente na mutação genética) Prata A ingestão de 10g como Nitrato de Prata é letal ao homem Quadro 1 - Os metais e os principais problemas causados à saúde do homem. Fonte: Adaptado de Andrade et al. (2010). 33 2.2.3 O Comércio Mundial de Lixo Eletrônico Nas últimas décadas a indústria eletrônica revolucionou o mundo e os aparelhos eletrônicos tornaram-se onipresentes na vida de hoje. Estes produtos estão em áreas como medicina, educação, comunicação, segurança, entre outras. Atualmente, há uma escassez de dados disponíveis sobre o lixo eletrônico, os encontrados são insuficientes e pobres, são necessárias técnicas de estimativas para a extensão de dados globais, é o que foi relatado pelo UNEP em relatório divulgado em 2009. Segundo a OIT (2012), estimativas apontam que as nações ricas enviam 80% do seu lixo eletrônico para países em desenvolvimento como China, Índia, Gana e Nigéria. E boa parte desse lixo é enviada ilegalmente, acabando em plantas de reciclagem informal que não dispõem de infraestrutura e de tecnologia para a reciclagem apropriada desse material. Sem contar que eles próprios estão gerando cada vez mais lixo eletrônico. A seguir temos as principais rotas de exportação do lixo eletrônico ilustrado na figura 4. Figura 4 - Exportação de lixo eletrônico. Fonte: Lewis (2011) apud OIT (2012). Muitos equipamentos eletrônicos velhos são enviados para países em desenvolvimento sob o pretexto de redução do fosso digital4. Porém segundo o Greenpeace (2008), na maioria das vezes isso significa simplesmente despejar equipamentos inúteis, ou seja, lixo, sobre os países pobres. Uma estimativa do problema sugere que entre 25% e 75% dos “bens de 4 Fosso digital: é falta ou dificuldade de acesso as tecnologias da informação. 34 segunda mão” que são importados para a África não pode ser reutilizado, são produtos quebrados ou que não funcionam. Estima-se que 70% da produção anual de lixo eletrônico, que é de 40 milhões de toneladas, sejam exportados para a China e, muitas vezes, de lá é reexportado para outros países do Sudoeste Asiático, como Camboja e Vietnã. No entanto não há números substanciais para confirmar isso. E devido ao recente endurecimentodas regulamentações na Ásia, estima-se que futuramente essas exportações sejam para o Oeste Africano (OIT, 2012). O comércio ilegal de e-lixo é impulsionado, principalmente, pelo lucro envolvido, um volume de milhões de dólares. O principal condutor deste comércio é que o e-lixo contém componentes valiosos, é de fácil fonte, o transporte em navios é relativamente barato e o risco de ser pego é geralmente baixo (INTERPOL, 2010 apud OIT, 2012). Uma investigação da EIA revelou que os grupos criminosos que exportam lixo eletrônico também são considerados envolvidos em outros crimes, como roubo, tráfico humano, fraude, tráfico de drogas e armas de fogo, e lavagem de dinheiro. Em resposta a isso, a Interpol criou um grupo de Crime Global de E-lixo em 2009, para desenvolver uma estratégia multinacional para controlar o comércio ilegal e investigar ligações com o crime organizado (OIT, 2012). A seguir, na figura 5, podem-se observar as rotas conhecidas e suspeitas do lixo eletrônico, bem como as fontes conhecidas. Figura 5 - Rotas conhecidas e suspeitas de exportação de lixo eletrônico. Fonte: Universidade de Northampton (2010). 35 Um dos problemas envolvidos neste comércio ilegal é a questão da segurança. Na investigação realizada pela EIA, citada anteriormente, verificou-se que os operadores ilegais tinham contratos com instituições governamentais, hospitais e corpo de bombeiros, isso mostra que provavelmente os discos rígidos não foram “limpos” corretamente antes de serem vendidos. Os computadores possuem muitas informações sensíveis, detalhe de contas bancárias, que, se não forem excluídos, gera oportunidade de fraude (OIT, 2012). Num esforço contínuo para combater o comércio ilegal de e-lixo, a Interpol realizou nos meses de novembro e dezembro de 2012 a Operação Enigma, que contou com a participação de autoridades de sete países europeus e africanos resultando na apreensão de 240 toneladas de equipamentos eletroeletrônicos e investigação contra 40 empresas envolvidas neste comércio ilegal. A investigação também descobriu evidências de novos métodos utilizados pelos envolvidos, o que ajudará na fiscalização e combate dessas atividades ilegais (INTERPOL, 2013). 2.2.4 O Lixo Eletrônico Mundial em Números Segundo UNEP (2009), os Estados Unidos é o maior produtor de lixo eletrônico do mundo com três milhões de toneladas e a China é o segundo maior produtor com 2,3 milhões de toneladas anuais. De acordo com dados divulgados pela Teleco (2013), o ano de 2012 encerrou-se com mais de 6,3 bilhões de assinaturas móveis ativas mundialmente. O gráfico 2 abaixo mostra o crescimento dos celulares no mundo a partir do ano 2000. Gráfico 2 - Número de linhas móveis ativas no mundo. Fonte: Teleco (2013). 36 Segundo relatório divulgado pela UIT (2012), sete nações possuem penetração superior a 200%, ou seja, mais de duas linhas por habitante e outras mais de 100 nações possuem penetração superior a 100%. Dos seis bilhões de linhas móveis, existentes em 2011, a metade estava concentrada na região Ásia-Pacífico, englobando a China com mais de um bilhão de linhas móveis e a Índia que estava prestes a atingir a casa de um bilhão também. A China sozinha concentra 25% do total de usuários de internet do mundo, sendo o maior mercado de smartphones. O mundo hoje conta com 90% de cobertura de redes móveis e se o crescimento anual se mantiver, já no próximo ano (2014) haverá no planeta mais linhas móveis ativas que habitantes (UIT, 2012). Na tabela 2, a seguir, pode-se observar o aumento do número de computadores ao redor do mundo, a partir do ano de 2007, de acordo com as vendas mundiais. Tabela 2 - Vendas mundiais de computadores. Milhares / ano 2007 2008 2009 2010 2011 2012 Hewlett-Packard 49.434 52.942 62.769 62.741 62.321 58.129 Lenovo 20.131 21.791 33.966 38.180 44.016 52.448 Dell 38.709 41.074 42.124 42.119 44.278 38.718 Acer 24.257 30.834 45.266 48.759 37.073 33.494 ASUS - - - 18.903 20.619 24.134 Toshiba 10.932 13.499 19.012 15.500 - - Outros 127.717 130.657 147.769 124.698 155.580 145.498 Total 271.180 290.797 350.906 350.900 363.887 352.421 Fonte: IDC apud Teleco (2013). De acordo com Kang e Schoenung (2005) apud Acosta et al. (2010) a vida útil de um computador pessoal nos Estados Unidos que era de 4,5 anos em 1992 diminuiu para apenas 2 anos em 2006. Segundo Teleco (2013) somente no ano de 2012 foram vendidos 352.421 milhões de computadores no mundo, a partir daí é possível imaginar a montanha de lixo que será gerada daqui a dois anos apenas derivado de computadores. 2.2.5 O Lixo Eletrônico no Brasil Relatório do UNEP (2009) critica a falta de informações sobre o volume e a destinação dada ao lixo eletrônico produzido no Brasil. Critica também a forma de reciclagem 37 no país, alegando que não é feita de forma sustentável e ainda afirma que o país é o que mais gera lixo eletrônico por pessoa anualmente entre os países emergentes. A publicação ainda faz um alerta para a falta de leis federais e um melhor controle público sobre o problema, afirmando que exemplos de políticas como a cobrança de uma taxa sobre as indústrias que não reciclarem seus produtos eletrônicos, que são adotadas com sucesso por outros países, não seriam bem vistas no Brasil devido à carga tributária brasileira já ser bastante pesada. O relatório mostra que o Brasil é líder na geração lixo eletrônico a partir de computadores com uma taxa de 0,5 quilo per capita. Já na geração de lixo eletrônico a partir de geladeiras o Brasil divide a liderança com o México e a China com taxa de 0,4 quilo per capita. O Brasil ainda ocupa a 3ª posição na geração de lixo eletrônico a partir de televisores com uma taxa de 0,7 quilo per capita e a 4ª posição na geração de lixo eletrônico a partir de celulares com uma taxa de 0,1 quilo per capita (UNEP, 2009). De acordo com Carvalho (2012) a administração pública responde por 17% do total de consumo de equipamentos eletrônicos do país, sendo a principal consumidora. Atualmente 13% dos resíduos gerados por ela é reciclado, com perspectiva de aumento para 30% com a logística reversa. Isso representaria uma economia de R$ 8 bilhões por ano, destacou o coordenador, Geraldo de Abreu, da Agenda Ambiental da Administração Pública no Ministério do Meio Ambiente. Magalhães et al. (2010) afirma que segundo o Instituto Sérgio Mota (ISM, 2009), a produção brasileira de lixo eletrônico é de 2,6 quilos por habitante/ano. A Fundação Estadual do Meio Ambiente do Estado de Minas Gerais (FEAM, 2009) desenvolveu um trabalho em parceria com o EMPA, um instituto de pesquisa sediado na Suíça, que utiliza uma metodologia de uso e consumo para estimar a geração de lixo eletrônico no Brasil, que no período compreendido entre 2001 e 2030, chegou-se ao valor 3,4 quilo/habitante/ano. O acumulado de resíduos desse período, estimado, foi de 2,4 milhões. Considerando apenas resíduos oriundos da telefonia fixa e móvel, computadores e televisores, este valor seria de 1 quilo/habitante/ano no Brasil. Este estudo anteriormente citado utiliza a abordagem que leva em consideração o número de residências que possuem o eletroeletrônico, assumi-se uma vida média para cada eletroeletrônico e calcula o ano de saída do REEE com dados adicionais. Para o método de consumo e uso, utilizada a seguinte fórmula: 38 Geração REE/ano = mn x hh x rn / lsn Onde: mn : peso médio de cada aparelho eletroeletrônico considerado. hh : número de residências. rn : taxa de saturação para cada aparelho eletroeletrônico considerado, por residência. lsn : vida útil média de cada aparelho eletroeletrônico considerado. Este método assume um conjunto de commodities de eletroeletrônicos por residência. Para cada produto, o peso referente é multiplicado pelo número total de residências. Dividindo o valor obtido pela vida útil média, encontra se a esperada geração anual de resíduo eletroeletrônico (FEAM, 2009). De acordo com a ABINEE (2013), 97% dos domicílios brasileiros possuemtelevisão e 50% possuem aparelho celular, segundo dados de 2011. A tabela 3 apresenta essas e outras características dos domicílios brasileiros. Tabela 3 - Características dos domicílios brasileiros. Existência de 2006 2007 2008 2009 2011 Fogão 98% 53,3 98% 54,7 98% 56,5 98% 57,6 99% 60,4 Televisão 93% 50,8 94% 52,7 95% 54,8 96% 56 97% 59,4 Geladeira 89% 48,7 91% 50,6 92% 53 93% 54,6 96% 58,7 Telefone (fixo + celular) 74% 40,7 77% 42,9 82% 47,2 84% 49,3 90% 55,1 Somente Celulares 28% 15,1 32% 17,7 38% 21,7 41% 24,1 50% 30,5 Rádio 88% 48 88% 49,1 89% 51,2 88% 51,4 83% 51,1 Máquina de Lavar Roupa 38% 20,5 39% 21,9 42% 23,9 44% 26 51% 31,3 Freezer 16% 9 16% 9 16% 9,2 15% 9 16% 10,1 Total Domicílios (milhões) - 54,6 - 55,8 - 57,6 - 58,6 - 61,3 Fonte: PNAD (2011) apud ABINEE (2013). Para a ABDI (2012) com o método de consumo e uso é possível calcular o valor de REEE gerado por ano sem os dados de vendas. Porém, o método se baseia nas variáveis de maior imprecisão que são: a vida útil dos produtos e o nível de saturação do mercado. O método suprimento do mercado é mais recomendado por tentar simular os acontecimentos reais, utilizando às vendas de um período em comparação a vida útil do produto. O modelo pode ser observado na figura 6. 39 Figura 6 - Geração de REEE utilizado (Método Suprimento do Mercado). Fonte: ABDI (2012). Segundo a IDC Brasil (2013) foram vendidos no país 43,5 milhões de celulares e 16 milhões de smartphones em 2012. O setor apresentou queda de 25% nas vendas de aparelhos mais básicos e aumento de 78% nas vendas de smartphones, em relação ao ano anterior. Neste ano o Brasil deve alcançar a quinta posição no mercado mundial de smartphones. A primeira posição é da China, seguida pelos Estados Unidos em segundo, Reino Unido em terceiro e Japão em quarto, e ainda a Índia na sexta posição. A tabela 4 apresenta esses e outros detalhes do mercado brasileiro de celulares. Tabela 4 - Mercado Brasileiro de Celulares. Indicadores (milhões de unidades) 2009 2010 2011 2012 Mercado Total de Telefones Celulares 47,5 52,8 67,0 59,5 Mercado de Celulares Tradicionais 45,5 47,9 58,0 43,5 Mercado de Smartphones 2,0 4,9 9,0 16,0 Exportações Totais de Telefones Celulares 16,3 13,2 7,4 3,4 Importações Totais de Telefones Celulares 4,0 7,3 15,7 16,8 Acesso Móvel Pessoal 173,9 202,9 242,2 261,8 Fonte: ANATEL, IDC e MDIC/SECEX apud ABINEE (2013). Dados divulgados pela ANATEL (2013) mostram que o Brasil fechou o primeiro trimestre de 2013 com exatos 264.052.573 milhões de linhas móveis ativas e com uma teledensidade de 133,67 acessos por cada 100 habitantes, ou seja, mais de uma linha por habitante. Somente no primeiro trimestre de 2013 foram registradas aquisições de mais de 2,2 40 milhões de novas linhas. O gráfico 3 mostra o aumento do número de linhas móveis, assim como a taxa de crescimento e a densidade dos últimos anos no Brasil. Gráfico 3 - Evolução do número de linhas móveis ativas no Brasil. Fonte: ANATEL (2013). De acordo com um estudo feito pela IDC Brasil (2013) o mercado brasileiro de computadores não atingiu o desempenho esperado para o ano 2012 e apresentou queda de 2% nas vendas em relação ao ano anterior. Durante todo o ano foram vendidos 15,5 milhões de computadores, atingindo a marca de 30 unidades por minuto. Desse total vendido 8,9 milhões foram portáteis (notebooks e netbooks) e os outros 6,6 milhões foram desktops. Com isso o país voltou a ocupar o quarto lugar no ranking mundial do mercado de computadores, perdendo apenas para China, Estados Unidos e Japão. Ainda segundo a IDC Brasil (2013) a queda nas vendas deu-se devido, entre outros fatores, a migração dos usuários domésticos, que representou 66% do mercado total anual, para outros dispositivos mais baratos como os tablets e os smartphones. A previsão de vendas para este ano de 2013 é de 14,4 milhões de computadores. A tabela 5 mostra a evolução nas vendas de computadores ao longo dos últimos seis anos. 41 Tabela 5 - Mercado Brasileiro de Computadores. Vendas (milhões unidades) 2007 2008 2009 2010 2011 2012 Mercado Total de PCs 10.673 11.893 11.482 14.189 15.853 15.513 Desktops 9.123 8.673 7.687 7.981 7.500 6.582 Notebooks e Netbooks 1.551 3.219 3.795 6.208 8.353 8.931 Mercado Oficial de PCs 5.896 7.568 7.321 10.180 12.049 11.939 Desktops 4.707 4.849 3.848 4.279 4.009 3.306 Notebooks e Netbooks 1.190 2.719 3.473 5.902 8.040 8.633 Mercado não Oficial de PCs 4.777 4.325 4.160 4.009 3.804 3.574 Desktops 4.416 3.825 3.838 3.702 3.492 3.276 Notebooks e Netbooks 361 500 322 307 313 298 Mercado Total de Tablets - - - 113 1.140 3.086 Fonte: IDC apud ABINEE (2013). Segundo pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV, 2013), no Brasil um computador é vendido a cada segundo, chegando a 60% de penetração em 2013. E em três anos atingiremos a marca de um computador por habitante, ou seja, 100% de penetração, conforme pode ser observado na figura 7 a seguir. O principal motivo será a venda de tablets. Figura 7 - Base ativa de Computadores no Brasil (milhões de unidades). Fonte: FGV (2013). O mercado brasileiro de tablets foi o que mais cresceu no ano de 2012, atingindo a marca de 3,1 milhões de unidades vendidas, apresentando um crescimento de 171% em relação ao ano anterior. O principal fator desse aumento significativo foi à entrada de novos equipamentos com preços até R$ 500,00. Hagge, analista da IDC Brasil, afirma que a chegada 42 dos tablets proporcionou um aumento na vida útil dos computadores, devido o consumidor estar levando mais tempo para renovar seus desktops e/ou notebooks (IDC BRASIL, 2013). Num estudo feito pelo Banco Mundial (2012) para o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação do Brasil a pesquisadora Vanda Scartezini afirmou que atualmente o Brasil produz aproximadamente 6,5 quilos/habitante/ano de lixo eletrônico e que em 2015 este número deve aumentar para 8 quilos/habitante/ano devido aos próximos eventos que o país sediará a exemplo a Copa do Mundo de 2014, e também devido a exploração de petróleo do pré-sal, ambos os acontecimentos devem aumentar a demanda por produtos eletrônicos. A Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE) com sede em São Paulo efetua na cidade um trabalho de logística reversa do lixo eletrônico. A entidade possui ecopontos permanentes localizados em locais como: Parque do Ibirapuera, Câmara dos Vereadores de São Paulo e nas lojas dos supermercados Extra da capital. Além disso, promove campanhas em shoppings e eventos para chamar a atenção da sociedade para o problema. Também conta com o programa Giro nas Escolas, que visa à conscientização dos estudantes, e ainda a distribuição de uma cartilha sobre o lixo eletrônico e o seu destino adequado (CARVALHO, 2012). Ainda segundo Carvalho (2012), a ABRELPE recolheu 27 toneladas de lixo eletrônico em 2010 em São Paulo e em 2011 este número subiu para 120 toneladas, um aumento de 344% no descarte de eletrônicos. No gráfico 4, a seguir, se pode observar a composição do lixo coletado em 2011. Gráfico 4 - Divisão do lixo eletrônico coletado em São Paulo em 2011. Fonte: Carvalho (2012). 43 Carlos Roberto Vieira da Silva Filho, diretor executivo da ABRELPE, considera o acordo firmado entre a administração municipal e a entidade como sendo a primeira iniciativa de logística reversa de eletrônicos permanente executada por um município brasileiro. A entidade é responsável por toda a gestão dos resíduos, desde coleta até a entrega para empresas especializadas e licenciadas para a reciclagem dos mesmos (CARVALHO, 2012). A Secretaria Estadual do Ambiente do Rio de Janeiro vem promovendo desde 2010 a campanha Natal da Eletrorreciclagem em parceria com a concessionária Metrô Rio visando mobilizar as pessoas para doarem seus aparelhos que não servem mais. O alvo da campanha são os seguintes eletrônicos: televisores, computadores e periféricos, DVD´s, videocassete, impressoras, rádio, celulares e carregadores (AGÊNCIA BRASIL,2012). Ainda segundo o autor, os equipamentos podem ser entregues nas estações do metro e será encaminhado para o projeto Fábrica Verde, que é um projeto voltado para a reciclagem e o reaproveitamento de eletrônicos. Ingrid Gerolimich, superintendente de Território e Cidadania da Secretaria do Ambiente, afirmou que nas duas primeiras edições da campanha foram coletadas 13,5 toneladas de aparelhos. E a expectativa para 2012 é dobrar a quantidade de material recolhido (AGÊNCIA BRASIL, 2012). Os números da última campanha não foram divulgados. A seguir, a figura 8, mostra folder da campanha. Figura 8 - Campanha Natal da Eletrorreciclagem. Fonte: Agência Brasil (2012). 44 De acordo com Paiva (2013) em 14 meses do projeto Fábrica Verde nas comunidades pacificadas da Rocinha e Alemão foram recebidas 100 toneladas de lixo eletrônico e montados 900 novos computadores. Todo o material que não foi utilizado na montagem de novos equipamentos foi enviado para reciclagem. 2.2.6 O Lixo Eletrônico em Campos dos Goytacazes De acordo com Zacarias Albuquerque, secretário municipal de Serviços Públicos do município, existe hoje em Campos dos Goytacazes entre 140 e 160 mil usuários de computadores. E para que a população possa descartar corretamente esses equipamentos a secretaria viabilizou, desde 2010, parcerias com empresas privadas para a reciclagem dos mesmos (COMUDES, 2013). A Secretaria de Serviços Públicos recebe em sua sede a quantidade máxima de seis unidades no total, entre computadores, CPUs, Nobreaks e impressoras. Para maiores quantidades, deve-se agendar com a secretaria através do Disque Limpeza: (22) 2726-4809. Segundo Zacarias, apesar da disponibilização do ponto de descarte, a procura está aquém das expectativas (COMUDES, 2013). A figura 9 mostra local de descarte de computadores. Figura 9 - Local para descarte de lixo eletrônico. Fonte: Dados da pesquisa. Edson Júnior, proprietário da Reciclagem União, empresa responsável pela reciclagem de computadores no município, afirmou que parte dos computadores recebidos é reciclada e outra parte doada à comunidade, para que os mesmos possam ser remontados (SMSP, 2013). 45 Campos dos Goytacazes possui o 1º lugar do ranking de usuários de celulares no Estado do Rio de Janeiro. E o 11º lugar no país (Blog do Zacarias Albuquerque, 2012). Segundo a ANATEL existem 130 celulares para cada 100 habitantes no município. O que mostra que milhares habitantes possuem mais de uma linha móvel e que existem aproximadamente 800 mil aparelhos de celulares no município (SMSP, 2013). Com relação ao descarte dos telefones celulares, baterias e carregadores, foram disponibilizados, a partir de 1º de novembro de 2012, dez postos com coletores para os equipamentos na cidade. A medida é parte integrante do programa de logística reversa do município. De acordo com Zacarias a secretaria firmou convênio com uma empresa que coleta o material e despacha para uma empresa recicladora em São Paulo. Através desse procedimento a possibilidade de redução da quantidade de resíduos eletrônicos no lixo doméstico e também nos aterros (SMSP, 2013). Segue abaixo os postos de coleta de celulares e também figura 10 mostrando local para descarte dos mesmos. 1- Secretaria Municipal de Serviços Públicos; 2- CAJAA, sede da Prefeitura; 3- Jardim São Benedito; 4- Praça da República; 5- Hospital Geral de Guarus; 6- Hospital Ferreira Machado; 7- Aeroporto Santos Dumont; 8- Museu Histórico de Campos; 9- Palácio da Cultura; 10- Secretaria Municipal de Educação. Fonte: Dados da pesquisa. Em Campos dos Goytacazes a orientação em relação ao descarte dos outros equipamentos que compõem o lixo eletrônico, como por exemplo: televisão, aparelhos de áudio e vídeo, entre outros, é para que a população guarde-os em suas residências até a definição que será apresentada pelo Ministério do Meio Ambiente a partir da implantação do sistema de logística reversa no país. Figura 10 - Descarte de celulares. 46 2.3 LEGISLAÇÃO De acordo com o Banco Mundial (2012) a legislação é importante para nortear uma boa gestão do lixo eletrônico tendo o papel de motor essencial na mobilização e promoção dos principais fatores de sucesso para uma gestão sustentável. Sua função é estabelecer normas para o tratamento adequado do lixo eletrônico e fazer com que produtores, recicladores e consumidores cumpram as mesmas. 2.3.1 Legislações Globais De acordo com a OIT (2012), a Costa Rica é o primeiro país latino-americano a criar uma legislação nacional específica sobre lixo eletrônico. A Convenção de Basiléia é um acordo internacional datado de 1989 e assinado por 162 países que entrou em vigor em 1992. No início as transferências de resíduos perigosos não eram proibidas, necessitando apenas do consentimento prévio do país receptor. Inicialmente adotada em resposta ao comércio internacional de resíduos perigosos e despejo dos mesmos em países em desenvolvimento. Esse comércio foi impulsionado por legislações ambientais mais rigorosas e também pelo aumento dos custos de disposição final destes resíduos nos países desenvolvidos (UNEP, 2004; BAN e SVTC, 2002; KANG e SCHOENUNG, 2005 apud RODRIGUES, 2007). Em 1995, uma emenda foi aprovada, proibindo essas transferências para países em desenvolvimento, reconhecendo a incapacidade de tratamento e disposição correta desses resíduos por estes países. Porém, essa emenda, não recebeu o número mínimo de ratificações e na última década esse comércio continua ocorrendo livremente, principalmente dos resíduos eletrônicos (VEIGA, 2005 apud RODRIGUES, 2007). Para UNEP (1989) apud Hori (2010) a convenção é uma importante iniciativa quanto ao gerenciamento de resíduos perigosos. Ela estabelece diretrizes referentes ao transporte e movimentação desses resíduos, que devem ser seguidas pelos países membros. Dentre elas destacam-se as seguintes: Proibição de entrada dos resíduos nos países que adotaram tal proibição; Redução de movimentação dos resíduos entre países, principalmente a exportação para países em desenvolvimento; 47 Assegurar que a movimentação e o gerenciamento dos resíduos sejam efetuados de forma ambientalmente apropriada. Ainda segundo o autor supracitado, os resíduos eletrônicos são contemplados pela Convenção de Basiléia, já que eles contêm materiais que são considerados tóxicos para o meio ambiente e também para a saúde humana. De acordo com o Banco Mundial (2012) o quadro legislativo mais importante é o modelo europeu, baseado no princípio da responsabilidade alargada pelo produtor. Em 1998 a Comunidade Européia começou a criar iniciativas para resolução do problema do lixo eletrônico, sendo um marco referencial para a formação de diretrizes políticas para a gestão correta desses resíduos. Este processo culminou na aprovação de duas diretivas, a WEEE (Waste Electric and Electronic Equipment: diretiva 2002/96/CE) e a RoHS (Restriction of the use of certain Hazardous Substances: diretiva 2002/95/CE), afirma Rodrigues (2007). Segundo Leite (2009) a diretiva WEEE estabelece quotas de recuperação de materiais e também a redução da quantidade de lixo eletrônico que acaba chegando aos aterros. E a diretiva RoHS vem complementar a diretiva anterior, com o objetivo de evitar ou diminuir a quantidade de metais pesados e de materiais tóxicos que entram na União Européia. O Banco Mundial (2012) aponta os principais objetivos da diretiva WEEE: Reduzir o descarte de lixo eletrônico para aterros sanitários. Melhorar o design do produto, tendo em vista tanto a redução de resíduos quanto aumentando de sua recuperação, reutilização e / ou reciclagem. Atingir objetivos de valorização, reutilização e reciclagem de diferentes classes de lixo eletrônico. Fornecer para o estabelecimento instalações de coleta e sistemas de recolha seletiva dos resíduos. Em 2007 teve início a iniciativa internacional StEP (Solving the e-Waste Problem), congregando a ONU, governos, ONGs e empresas.O programa objetiva a padronização dos processos de reciclagem do lixo eletrônico, o aumento do ciclo de vida dos produtos e a harmonização da legislação e das políticas mundiais que tratam do tema. Engloba também a construção de guias e diretrizes para a capacitação de países em desenvolvimento, ressalta STEP (2009) apud Andrade et al., (2010). Ainda segundo o autor, na América do Norte foi criada a empresa e-Stewards, que faz a certificação de empresas praticantes de elevados padrões de responsabilidade ambiental e 48 social. Os critérios para certificação incluem todos os tipos de resíduos despejados em aterros, ou incinerados, ou ainda exportados para os países em desenvolvimento. 2.3.2 Legislações Nacionais No Brasil, os resíduos eletrônicos bem como sua logística reversa estão sujeitos à Política Nacional de Resíduos Sólidos, assim como às legislações estaduais e municipais específicas e também as instruções normativas e as normas técnicas brasileiras (IPEA, 2012). A Lei 12.305 de 02 de agosto de 2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, cita os produtos eletroeletrônicos e seus componentes no seu artigo 33 (que pode ser visto em anexo) onde discorre sobre a cadeia de produtos que são obrigados a estruturar e implantar o sistema de logística reversa. A figura 11, a seguir, mostra todos os produtos que fazem parte dessa cadeia. Figura 11 - Produtos com obrigatoriedade de implantação de logística reversa no Brasil. Fonte: PNRS (LEI 12.305/2010). O Decreto nº 7404 de 23 de dezembro de 2010, cria o Comitê Orientador para a Implantação dos Sistemas de Logística Reserva e na Seção II (que pode ser vista no anexo 2) discorre sobre os Instrumentos e a Forma de Implantação da Logística Reversa no país. 49 Sobre o andamento da implantação da logística reversa dos eletroeletrônicos, a ABDI (2012) já divulgou um estudo de viabilidade técnica e econômica em novembro de 2012 e o Ministério do Meio Ambiente publicou em fevereiro de 2013 o edital de Chamamento para a Elaboração do Acordo Setorial para a Implantação de Sistema de Logística Reversa de Produtos Eletroeletrônicos e seus Componentes. Os fabricantes, importadores, comerciantes ou distribuidores interessados em apresentar uma proposta poderão fazê-lo no prazo de 120 (cento e vinte) dias a partir da data de publicação do edital. A seguir, o quadro 2, destaca alguns dos instrumentos legais de âmbito nacional. DOCUMENTO DESCRIÇÃO Lei 12.305, Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei no 9.605, de 12 de de 02/08/2010 fevereiro de 1998; e dá outras providências. Regulamenta a Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010, que institui a Política Decreto 7.404, Nacional de Resíduos Sólidos, cria o Comitê Interministerial da Política de 23/12/2010 Nacional de Resíduos Sólidos e o Comitê Orientador para a Implantação dos Sistemas de Logística Reversa, e dá outras providências. Institui o Programa Pró-Catador, denomina Comitê Interministerial para Inclusão Decreto 7.405, Social e Econômica dos Catadores de Materiais Reutilizáveis e Recicláveis o de 23/12/2010 Comitê Interministerial da Inclusão Social de Catadores de Lixo criado pelo Decreto de 11 de setembro de 2003, dispõe sobre sua organização e seu funcionamento, e dá outras providências. Os estabelecimentos industriais farão jus, até 31 de dezembro de 2014, a crédito presumido do Imposto sobre Produtos Industrializados - IPI na aquisição de Lei 12.375, resíduos sólidos utilizados como matérias-primas ou produtos intermediários de 30/12/2010, na fabricação de seus produtos. Somente poderá ser usufruído se os resíduos Art. 5º e Art. 6º sólidos forem adquiridos diretamente de cooperativa de catadores de materiais recicláveis com número mínimo de cooperados pessoas físicas definido em ato do Poder Executivo, ficando vedada, neste caso, a participação de pessoas jurídicas. Quadro 2 - Instrumentos legais de abrangência nacional. Fonte: Adaptado de IPEA (2012). O CONAMA (2013), através de um grupo de trabalho que contou com a participação da ABINEE e ELETROS, do IPEA e de representantes do setor de transportes e de recicladores, produziu uma proposta de resolução que dispõe sobre a regulamentação da gestão dos resíduos de equipamentos elétricos e eletrônicos no país. A proposta foi aprovada e arquivada pela Câmara Técnica de Saúde, Saneamento Ambiental e Gestão de Resíduos (CTSSAGR) em razão da necessidade de ainda serem criados acordos setoriais para a 50 implantação do sistema de logística reversa, conforme a PNRS (Lei 12.305/2010) e o Decreto 7.404/2010. A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT, 2013), publicou no dia 18 de março de 2013, a norma “ABNT NBR 16156:2013 Resíduos de Equipamentos Eletroeletrônicos – Requisitos para atividade de manufatura reversa”. A norma citada estabelece requisitos para garantir a proteção do meio ambiente, a saúde e segurança dos trabalhadores envolvidos no processo de manufatura reversa dos resíduos eletroeletrônicos e a segurança de possíveis dados contidos nos resíduos. Sendo a única norma da América Latina a regulamentar as ações das empresas recicladoras de resíduos eletroeletrônicos. O Estado do Mato Grosso é um dos primeiros a criar uma legislação específica sobre o lixo eletrônico. No estado a Lei 8.876/2008 dispõe sobre a coleta, reutilização, reciclagem, tratamento e disposição final do lixo tecnológico. O quadro 3 apresenta alguns outros estados que possuem uma legislação específica para os resíduos eletrônicos. ESTADO DOCUMENTO REGULAMENTAÇÃO Paraná Lei 15.851/2008 Obriga empresas produtoras, distribuidoras e vendedoras de equipamentos de informática, a criarem e manterem um programa de recolhimento, reciclagem e destruição destes equipamentos sem causar poluição ambiental. Mato Grosso Lei 8.876/2008 Dispõe sobre coleta, reutilização, reciclagem, tratamento e disposição final do lixo tecnológico. São Paulo Lei 13.576/2009 Institui normas e procedimentos para a reciclagem, gerenciamento e destinação final de lixo tecnológico. Pernambuco Lei 13.908/2009 Obriga empresas produtoras, distribuidoras e vendedoras de equipamentos de informática, a criarem e manterem um programa de recolhimento, reciclagem e destruição destes equipamentos sem causar poluição ambiental. Mato Grosso do Sul Lei 3.970/2010 Institui normas para a reciclagem, gerenciamento e destinação final do lixo tecnológico. Rio Grande do Sul Lei 13.533/2010 Institui normas e procedimentos para a reciclagem, gerenciamento e destinação final de lixo tecnológico. Acre Lei 2.539/2012 Obriga empresas produtoras, distribuidoras e vendedoras de equipamentos eletrônicos, a criarem e manterem programa de recolhimento e reciclagem. Espírito Santo Lei 9.941/2012 Dispõe sobre as normas e procedimentos para a coleta seletiva, o gerenciamento e a destinação final do "lixo tecnológico" no Estado e dá outras providências. Quadro 3 - Estados que possuem legislação sobre lixo eletrônico. Fonte: Felsberg e Associados (2012). 51 Alguns municípios também já dispõem de legislação específica para o lixo eletrônico. É o caso do município de Cascavel no Paraná que aprovou a Lei 5.359/2009, instituindo assim as regras para a gestão do lixo eletrônico. O município de Campos dos Goytacazes, objeto desse estudo, aprovou em 15 de junho de 2011, a Lei nº 8.232, que institui a Política Municipal de Resíduos Sólidos. Porém a referida lei não cita especificamente os resíduos eletrônicos. O quadro 4 apresenta outros municípios que possuem uma legislação específica. MUNICÍPIO DOCUMENTO REGULAMENTAÇÃO Cascavel / PR Lei 5.359/2009 Institui normas e procedimentos para a reciclagem, gerenciamento e destinação final de lixo tecnológico. Rio de Janeiro / RJ Lei 5.043/2009 Obriga os fabricantes e fornecedores de computadores a receber em suas representações, filiais ou matrizes, para reciclagem, computadores obsoletos que são descartados. João Pessoa / PB Lei 12.160/2011 Institui normas, prazos e procedimentos para
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