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CRIMINOLOGIA AULA 6 Prof. Carlos Roberto Bacila CONVERSA INICIAL Nesta aula veremos como os estigmas/metarregras influenciam o sistema penal desde os tempos primitivos. A seleção para o sistema penal possui forte influência dos estigmas e entenderemos os dois aspectos relacionados aos estigmas: o aspecto objetivo e o aspecto subjetivo. TEMA 1 – OS ESTIGMAS COMO METARREGRAS: CONCEITUANDO Depois de constatar que havia uma necessidade do estudo das condições estruturais dos estigmas, pesquisei durante anos sobre as origens históricas dos preconceitos. Minha tese de doutoramento foi no sentido de desenvolver um conceito para poder identificar em casos concretos se houve tratamento equivocado ou discriminação. Esse trabalho resultou num livro denominado Criminologia e Estigmas: um estudo sobre os Preconceitos. Portanto, três conclusões podem ser extraídas como básicas de minha pesquisa: 1. estigmas não possuem base racional; 2. estigmas possuem um aspecto objetivo (ser mulher, ser pobre, comportamento religioso, raça, cor da pele, etnia, procedência nacional, imigração). Junto com o aspecto objetivo, também temos um aspecto subjetivo, isto é, um desvalor social ou uma valoração social negativa. 3. O aspecto subjetivo do estigma corresponde às metarregras negativas (regras práticas que não possuem fundamento): “se é pobre tem tendência para o furto” (Bacila, 2015, p. 2). TEMA 2 – O ESTIGMA DA RAÇA O conceito de “raça”, para tratar dos estigmas, pode ser traduzido exatamente como ele é visto em termos de discriminação e preconceito, mas não para se formular um conceito de “raça” por si só. Assim, “raça”, no exclusivo sentido de estigma, constitui cor da pele, etnia, procedência nacional, imigração etc. Este é o aspecto objetivo do estigma. O aspecto subjetivo constitui as metarregras diversas de inferioridade, maldade, preguiça etc. A origem do estigma da raça também está ligada a fatores casuais ou aleatórios: uma tribo derrotava a outra por número maior, força, estratégia ou 2 3 surpresa e escravizava a tribo perdedora, que passava a ter seus integrantes estigmatizados. Em Criminologia e Estigmas ponderamos: as metarregras das raças não predominantes indicam a seleção dos estigmatizados, pois a regra que está atrás das normas jurídicas é a de um valor negativo atribuído às pessoas com cores, estética e fisionomias que representem estigmas. É por isso que se equipara o estigma à metarregra: porque o estigma da raça é uma marca objetiva e que apresenta uma valoração negativa na esfera policial: ‘o criminoso deve estar aí!?’ (Bacila, 2015, p. 177) TEMA 3 – O ESTIGMA DA RELIGIÃO O aspecto objetivo do estigma religioso é o próprio comportamento, a frequência ao culto, a liturgia, os rituais. O aspecto subjetivo não é a crença em si, mas achar que aquele que não faz parte da sua religião não está completo, ainda não encontrou o bem pleno, é infeliz... enfim, é inferior em muitos aspectos. Por outro lado, o ateu ou o agnóstico acham que o crente está completamente enganado ou iludido (quem afinal pode assegurar?!). Como surgiu o estigma religioso? Formulamos uma hipótese em Criminologia e Estigmas: com o passar do tempo, surge nos nossos avós mais antigos a vontade de explicar os fenômenos da natureza. De onde surgiam os raios? Por que pessoas morriam sem estarem com lesões aparentes? O que seria o fogo? Está-se no período da vingança divina, que vai consolidar o poder da figura do sacerdote como regulador das punições, fato este que marcará a humanidade durante milênios, pois não se pode argumentar racionalmente contra uma decisão baseada na divindade que, supostamente dirigiu-se a alguns privilegiados, em detrimento da maioria. (Bacila, 2015, p. 67). TEMA 4 – O ESTIGMA DA POBREZA No seu aspecto objetivo, o estigma da pobreza se caracteriza por falta de recursos básicos para sobrevivência. No aspecto subjetivo, um mundo de metarregras tais como “tendência para furtar” (talvez por isso a sociedade somente veja como cleptomaníaco ou compulsivo para o furto o rico, nunca o pobre), “preguiça”, “suspeito de crime” etc. A origem do estigma do pobre também é aleatória e irracional. Decorreu da especialização ou do infortúnio. Em Criminologia e Estigmas mencionamos: as pessoas que se dedicavam aos afazeres comuns submetiam-se aos coordenadores e sutilmente isto foi-se tornando tradição de subordinação cada vez em escala maior. A cada geração, as 4 atividades intelectuais eram transferidas de pai para filho. Esse fator, somado com as pragas, enchentes e secas que ocorriam para uns, mas não para outros, começou a criar ricos – agora proprietários de casas, ministros e funcionários – e pobres. Note-se que o aspecto decisivo aqui é a força da natureza e não a preguiça ou a falta de capacidade, etc. (Bacila, 2015, p. 61-62) NA PRÁTICA Os estigmas não possuem base racional e possuem aspecto objetivo (pobre, índio) e aspecto subjetivo (inferiorização). O estigma da raça pode condicionar a identificação de suspeitos de um crime de acordo com sua raça, em que negros, por exemplo, podem se tornar suspeitos prioritários. O estigma da religião pode “legitimar” um crime com base no estigma da intolerância religiosa pregada por determinadas crenças, logo, se não é da mesma religião que eu, não deve existir. O estigma do pobre pode influenciar o sistema penal, atribuindo ao pobre a “necessidade de praticar crimes”. FINALIZANDO Nesta aula vimos como a influência dos estigmas pode conduzir a interpretações equivocadas, comprometendo o sistema penal e gerando uma série de consequências para as relações sociais. Muitas atitudes são tomadas tendo por base a cultura estigmatizadora enraizada que domina a sociedade e deve ser enfrentada com políticas e ações em prol do equilíbrio e justiça social. Saiba mais Para melhor compreensão do conteúdo, sugerimos os seguintes materiais: “Estigmas: escrito a partir de duas obras inacabadas sobre preco nceitos”, por Carlos Roberto Bacila. Disponível em: <https://emporiododireito.com.br/leitura/estigmas-escrito-a-partir-de-duas- obras-inacabadas-sobre-preconceitos>. Acesso em: 30 mar. 2021. “Dale Carnegie's biography”. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=uDZKbSzOSgE>. Acesso em: 30 mar. 2021. 5 REFERÊNCIAS BACILA, C.R. Criminologia e Estigmas: um estudo sobre os preconceitos. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2015.
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