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Quilombolas e indígenas no Brasil: construções discursivas e disputas por direitos territoriais.

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1 
 
XIII Reunião de Antropologia do Mercosul 
22 a 25 de Julho de 2019, Porto Alegre (RS) 
 
 
 
 
 
Grupo de Trabalho: 01 - (Re) Configuraciones identitarias y culturales 
afro/negras en el Mercosur: Nuevas perspectivas académicas 
 
 
Título do Trabalho 
Quilombolas e indígenas no Brasil: construções discursivas e disputas 
por direitos territoriais. 
Amanda Lacerda Jorge 
Universidade Federal Fluminense 
email: amandalacerda@id.uff.br 
 
 
André Augusto Pereira Brandão 
Universidade Federal Fluminense 
email: andre_brandao@id.uff.br 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 
 
QUILOMBOLAS E INDÍGENAS NO BRASIL: CONSTRUÇÕES 
DISCURSIVAS E DISPUTAS POR DIREITOS TERRITORIAIS. 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
O direito ao território de povos e comunidades tradicionais como 
indígenas e quilombolas está relacionado, entre outras variáveis de matriz 
econômica e política, a um quadro de elementos discursivos colocados em jogo 
por grupos de “intérpretes” que integram diferentes campos. Assim, é possível 
apontar a existência de um conjunto de discursividades que interagem entre si, 
cada qual com sua perspectiva de “verdade” e estratégias de legitimação que 
podem ser lidas, na perspectiva de Bourdieu (2003), como uma luta entre 
agentes e agências oriundos de diferentes campos de posição e conhecimento, 
dotados de capital simbólico1. Exatamente por isso, a definição da “verdade” 
seria o próprio lugar da luta pela imposição socialmente legitimada de categorias 
e classificações. O que nos coloca no cerne do conceito de “campo”, enquanto 
“universos sociais relativamente autônomos” (BOURDIEU, 1996, p. 83), os quais 
constituem espaço de poder, composto por relações de força, interesses, 
estratégias de mudança ou manutenção, interpretação, e imposição de 
princípios. 
A garantia de acesso ou permanência ao território pelos povos e 
comunidades tradicionais como indígenas e quilombolas está diretamente 
relacionado ao campo do direito na medida em que a efetividade destes depende 
do reconhecimento jurídico e étnico-racial legitimado pelos interlocutores que 
constituem este campo de forças e de construção de “verdades”. Apesar da CF 
de 1988 ter significado um grande avanço na legislação brasileira no que diz 
respeito aos direitos territoriais de indígenas e quilombolas, este quadro tem 
ganhado um contorno preocupante – entre as ameaças de violação de direitos 
está a interpretação que vem sendo discutida e aplicada pelo Supremo Tribunal 
Federal (STF) denominada “marco temporal”. Tal interpretação equivale a 
decisão do judiciário de reconhecer direitos territoriais somente de povos e 
 
1 O capital simbólico, como explica Bourdieu (2003), pode ser caracterizado como qualquer tipo 
de capital, seja ele econômico, físico, cultural ou social, que seja percebido e reconhecido pelos 
sujeitos que passam a lhe atribuir valor. 
3 
 
comunidades tradicionais que estivessem ocupando as suas terras em 5 de 
outubro de 1988 (data da promulgação da Constituição Federal). 
Neste âmbito, segundo Silva e Filho (2014) a tese do marco temporal, que 
aparece em decisão plenária no julgamento da Petição/STF nº. 3388, sobre a 
demarcação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol tem sido aplicada em outras 
decisões do Supremo Tribunal Federal, tendo afetado processos de 
reconhecimento e demarcação de Terras Indígenas (TIs) de povos como os 
Terena, Guarani e Kaiowá. No que diz respeito à titulação de territórios 
quilombolas no julgamento final da ADI2 3239/2004 no ano de 2018 contra o 
Decreto nº 4887/2003, o posicionamento da aplicação do marco temporal se 
mostrou superado pelo STF, apesar de ter sido levantado na arena de debates 
por alguns ministros do STF. Ainda de acordo com Silva e Filho (2004) as 
decisões do judiciário têm tentado relativizar os direitos territoriais dos povos e 
comunidades tradicionais a partir de um conjunto de propostas e alterações da 
Constituição na esfera legislativa com vistas a reduzir o poder da administração 
do executivo de reconhecer e demarcar terras indígenas e quilombolas. 
Na busca por contribuir com as reflexões a respeito do direito territorial de 
povos e comunidades tradicionais como indígenas e quilombolas, este artigo 
pretende apresentar a disputa interpretativa no campo do direito acerca da 
titulação e demarcação dos territórios que pertencem a estes dois grupos. O 
estudo aborda dois contextos interpretativos: o primeiro diz respeito à Ação 
Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 3239/2004 (movida pelo Partido 
Democratas contra o Decreto nº 4887/2003) que regulamenta o processo de 
titulação territorial das comunidades quilombolas. E o segundo contexto está 
relacionado aos trâmites da Petição PET 3388, ajuizada em abril de 2005 pelo 
ex senador Augusto Botelho, cujo objeto era a anulação da demarcação da 
reserva indígena Raposa Serra do Sol localizada em Roraima. 
 
2 De acordo com o Supremo Tribunal Federal (2019) a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 
tem por finalidade declarar que uma lei ou parte dela é inconstitucional, ou seja, contrária a 
Constituição Federal. Somente as seguintes pessoas/ entidades podem propor esta ação: 
Presidente da República; Mesa do Senado Federal; Mesa da Câmara dos Deputados; Mesa da 
Assembleia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal; Governador de Estado ou 
do Distrito Federal; Procurador-Geral da República; Conselho Federal da Ordem dos Advogados 
do Brasil; Partido político com representação no Congresso Nacional; Confederação sindical ou 
entidade de classe no âmbito nacional. Disponível em: 
< http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=2227157>. Acesso em 07-06-2019. 
http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=2227157
4 
 
Ao mobilizar um número elevado de agentes internos e externos no 
campo jurídico, a ADI 3239/2004 teve longa tramitação no Supremo Tribunal 
Federal, com alto grau de exposição de conflitos interpretativos, os quais 
chegaram a termo no julgamento final ocorrido no mês de fevereiro de 2018. Já 
a PET 3388 de 2005 foi encerrada pelo STF em 23 de outubro de 2013. 
Sabendo que novos desafios vêm sendo lançados à arena do direito, no 
que diz respeito à demarcação e titulação territorial de quilombolas e indígenas, 
estes dois julgamentos realizados no âmbito do STF serão analisados a fim de 
entendermos as categorias e discursos que construíram a orientação 
interpretativa neste âmbito. 
 
1. COMUNIDADES QUILOMBOLAS E POVOS INDÍGENAS – IDENTIDADE E 
TERRITORIALIDADE 
A história social da definição contemporânea do que são os “quilombos”, 
os “quilombolas” ou os “remanescentes das comunidades dos quilombos” é 
também a história social da produção do monopólio da antropologia sobre um 
objeto por ela própria construído. É possível verificar através de diversos estudos 
(Almeida,1989; Brandão et al, 2010; Jorge, 2016; Queiroz, 2006) como um objeto 
impreciso e fugidio, que nas ciências sociais carregava denominações variadas 
como “camponeses negros”, “caipiras negros” e “comunidades negras rurais”; foi 
ganhando unidade após o ano de 1988. A categoria “comunidades quilombolas” 
se consolida e conquista legitimidade, em 1994, a partir de uma interpretação 
específica, teoricamente informada pelos cânones da ciência antropológica. A 
partir daí ganha unidade, emitida pelo discurso científico que produz um 
importante “efeito simbólico” ao “consagrar um estado das visões e das divisões 
no mundo social” (BOURDIEU, 2003, p. 119). 
Neste contexto, é possível verificar a ocorrência de um duplo movimento. 
Por um lado, a disseminação da interpretação antropológica do que seriam os 
“quilombolas” no seio das comunidades que passam a se autodeclarar desta 
forma (o que em geral a literatura da área nomeia como “processo de 
etnogênese”) e entreos agentes externos que atuavam na mobilização destes 
grupos. O exemplo disto pode ser encontrado na prosaica entrevista transcrita 
em Oliveira (2009) com uma “irmã pastorinha” que atuava junto a comunidades 
ainda não “quilombolas” no Vale do Ribeira no estado de São Paulo. A 
5 
 
entrevistada narra como o movimento que assessorava as “comunidades 
negras” da região, procurava as mesmas para explicar o que “era uma 
comunidade quilombola” e verificar se havia disposição dos membros em se 
“identificarem como quilombolas”. Algumas comunidades aderiam de imediato, 
outras levavam anos até entenderem “esta história de quilombo” e achar “que 
vale a pena”. 
O interessante é que a “irmã”, participante de um movimento social 
denominado Equipe de Articulação e Assessoria às Comunidades Negras – Vale 
do Ribeira (EAACONE), de fato acreditava que estava encontrando “quilombos”, 
pois em certo ponto afirmava que “(...) até hoje, a EAACONE, nunca errou! Todas 
as comunidades que a gente achou que era quilombo, no fim eram quilombos 
mesmo”. Esta atuação das “irmãs pastorinhas” no caso das comunidades do 
Vale do Ribeira é muito ilustrativa do processo que estamos narrando. Vale a 
pena reproduzir aqui um trecho da entrevista acima referida: 
Primeiro, o pessoal lá em Iguape dizia: ‘ah, eu acho que lá é quilombo, 
porque só tem negro’. Então a gente pegou o mapa, pegou o carro e 
foi lá ver (...). Então você chega, conversa, faz amizade, coloca a 
proposta da EAACONE; explica o que é uma comunidade quilombola. 
E a gente avalia se eles [moradores da comunidade visitada] estão 
mesmo dispostos a se identificarem como quilombolas (...). Tem 
comunidade que adere logo porque é bem organizada. Mas, tem 
comunidade que leva um ano, dois anos, tem outras que ficam sem se 
comunicar por anos e depois telefonam falando ‘ah, vocês vieram aqui 
há quatro anos, e só agora que a gente tá entendendo esta história de 
quilombo e estamos achando que vale a pena’. Este trabalho de 
identificação é demorado, porque é tudo muito novo pra todo mundo. 
Mas até hoje, a EAACONE, nunca errou! Todas as comunidades que 
a gente achou que era quilombo, no fim eram quilombos mesmo3 
(OLIVEIRA, 2009, p. 147) 
 
No que tange ao reconhecimento legitimo das comunidades quilombolas 
como sujeitos de direitos segundo Leite (2008) o novo debate instalado após o 
Artigo 68 do ADCT que garantia o acesso destas coletividades diferenciadas ao 
território naquele momento evidenciava o aspecto contemporâneo, 
organizacional, relacional e dinâmico a ser abarcado pela ressemantização do 
“quilombo” na atualidade. 
Os antropólogos apontavam apoiados na perspectiva de Barth (2000), 
que tais coletividades deveriam ser vistas como uma entidade social que emerge 
da diferença subjetivamente produzida e sentida nas relações de contato com 
 
3 Entrevista realizada por Oliveira (2009) em 27/07/2008. 
6 
 
grupos externos. Neste campo de estudos, duas categorias foram amplamente 
discutidas – a primeira é a de “uso comum” cunhada em Almeida (1989). Com 
esta era possível demarcar que, apesar da diversidade de características 
culturais e fenotípicas, apesar dos diferentes contextos de formação histórica 
das comunidades, etc.; havia algo em comum na organização social destas. E 
isto, consistia em uma forma específica de produzir, que se fazia fora dos 
parâmetros ocidentais da propriedade privada e do capital. Tratar-se-ia de 
formas de apropriação de recursos naturais e de territórios de produção 
baseadas no uso coletivo e comum4. 
A importância desta categoria se deve ao fato de se encontrar algo de 
homogêneo na diversidade empiricamente observada e ao mesmo tempo 
introduzir a noção de território. Este último, por sua vez, cumpria a função de 
afirmar cientificamente uma indissociabilidade radical (ou quem sabe uma 
“afinidade eletiva”) entre os “quilombolas” e “suas terras”. A segunda categoria 
que perfaz esta confluência é a de “etnicidade” tal como encontra-se na obra de 
Barth (2000). Com esta, foi possível argumentar que os “grupos étnicos” são 
construídos com base em características atributivas e identificadoras 
empregadas pelos próprios nativos. Tais grupos somente passam a existir a 
partir da interação com outros e do estabelecimento de “fronteiras étnicas”. 
O ponto culminante desta adequação é o Decreto nº 4.887/20035, que 
significou a grande inflexão no campo da “questão quilombola” até este 
momento. Esta alteração profunda na própria definição conceitual daqueles que 
seriam os possíveis beneficiários do direito previsto pela Constituição, levou o 
 
4 Apesar de pesquisas empíricas realizadas a partir de 2006 (Brandão et al, 2010 e Brandão e 
Da Dalt, 2013), apontarem em direção contrária a esta hipótese, o fundamental é que o conceito 
de “uso comum”, forjado por Almeida (1989) foi inequivocamente disseminado no discurso 
antropológico e legitimado como a narrativa “verdadeira” do que seria a forma de apropriação de 
recursos e territórios entre os “quilombolas”. 
5 O Decreto nº 4887/2003 trazia em seu segundo artigo a definição do que seriam os “quilombos” 
e como seria atestada a sua existência no tempo presente. Este dispositivo passou a afirmar a 
definição defendida pelos antropólogos já em 1994: 
Art. 2º Consideram-se remanescentes das comunidades dos quilombos, para os fins deste 
Decreto, os grupos étnico-raciais, segundo critérios de autoatribuição, com trajetória histórica 
própria, dotados de relações territoriais específicas, com presunção de ancestralidade negra 
relacionada com a resistência à opressão histórica sofrida. 
§ 1º Para os fins deste Decreto, a caracterização dos remanescentes das comunidades dos 
quilombos será atestada mediante autodefinição da própria comunidade. 
§ 2º São terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos as utilizadas para 
a garantia de sua reprodução física, social, econômica e cultural. 
 
7 
 
INCRA e Fundação Cultural Palmares à emissão de Portarias e Instruções 
Normativas com objetivo de normatizar os novos procedimentos de titulação. 
Entretanto, o direito territorial das comunidades quilombolas, vêm 
sofrendo ataques desde a Ação Direta de Inconstitucionalidade instituída por 
grupos contrários ao direito territorial quilombola no ano de 2004. A partir do ano 
de 2016 com a posse do presidente interino Michel Temer e posteriormente com 
o novo governo Bolsonaro este panorama vem se acentuando ainda mais. Um 
mapeamento analítico dos discursos que, em última instância, tem levado à 
desconstrução social dos direitos destes povos será melhor explicado no 
próximo tópico deste artigo. Para tanto, é preciso conhecer uma outra realidade 
antes disso – a questão indígena. 
Contextualizar a luta dos povos indígenas assim como a trajetória que 
vem sendo enfrentada por estas coletividades diferenciadas é um exercício de 
extrema importância. Principalmente quando levamos em consideração os 
contextos de conflitos fundiários – como encontrar soluções práticas e efetivas 
para estas questões? De acordo com Dodge (2018, p. 8): 
 
O marco regulatório do direito dos índios às terras de ocupação 
tradicional foi estável ao longo dos séculos, como consta do Alvará 
Régio de 1º de abril de 1680; da Lei de Terras de 1850 (Lei n. 601, de 
18 de setembro de 1850); e da Lei de Terras dos Índios de 1928 
(Decreto n. 5.484, de 27 de junho de 1928, que regula a situação dos 
índios nascidos no território nacional). 
 
Posteriormente é a Constituição de 1934 (art. 129) que passa a agregar 
uma maior segurança jurídica ao direito territorial indígena, direito este que foi 
sendo fortalecido a partir das outras cartas magnas que foram sendo instituídas 
ao longo da história brasileira (CF 1937, art. 154; CF 1946, art. 216; CF 1967, 
art. 186). Mas foi a Constituição de 1988a responsável pela ampliação de 
direitos direcionados aos povos e comunidades tradicionais como indígenas e 
quilombolas. A CF de 1988 reafirmou o direito secular dos povos indígenas ao 
seu território a partir do artigo 231: 
 
São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, 
línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras 
que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, 
proteger e fazer respeitar todos os seus bens. 
 
8 
 
Neste sentido, a Constituição de 1988 legitimou e regulamentou os 
principais aspectos do direito à terra no que diz respeito as tribos indígenas, a 
fim de salvaguardar, recuperar, conservar e prevenir os direitos destas 
coletividades diferenciadas as terras tradicionalmente ocupadas. Assim como o 
território quilombolas, as terras indígenas são consideradas inalienáveis e 
indisponíveis, porque se destinam a esta e às futuras gerações, que são 
responsáveis pelos recursos naturais que tal território possui. A Constituição de 
1988 declarou os direitos originários dos índios às terras de sua ocupação 
tradicional e atribuiu à Justiça Federal competência para processar e julgar as 
disputas sobre direitos indígenas (art. 109, XI), assim como ao Ministério Público 
“a função institucional de defender judicialmente os direitos e interesses das 
populações indígenas”. (DODGE, 2018, p. 9). 
Podemos afirmar que pesquisas antropológicas antes da Constituição de 
1988, já despertavam a atenção de operadores de direitos e administradores das 
políticas públicas a respeito destas questões. Os primeiros laudos 
antropológicos produzidos no Brasil datam da década de 1970, e estavam 
relacionados à questão indígena. Neste momento, era notável a participação de 
professores universitários, movidos por seus objetos de pesquisa, como 
principais produtores destes documentos. No entanto, ainda não havia nenhum 
padrão específico ou critérios estabelecidos pela comunidade científica a serem 
seguidos pelo pesquisador. 
Foi na década de 1980, que o campo profissional dos antropólogos, como 
“peritos” legítimos da questão indígena se expandiu. Neste momento, a 
realização de perícias, emissão de laudos e relatórios por parte destes 
profissionais não passou a contar somente com professores e pesquisadores 
ligados às universidades e seus núcleos de pesquisas, mas, também com a 
criação de consultorias próprias, Ongs e com um quadro efetivo que estava se 
constituindo em alguns órgãos governamentais. 
A trajetória percorrida pelo atual reconhecimento do direito indígena ao 
território é ainda repleta de barreiras. Isto porque desde a colonização até os 
dias atuais, “a invasão, ocupação e exploração do solo brasileiro foram e são 
determinantes para as transformações radicais que os povos originários passam 
no decorrer de cinco séculos” (SILVA, 2018, p.481). 
 
9 
 
2. OS QUILOMBOLAS E O JUDICIÁRIO BRASILEIRO 
Tomamos aqui como escopo de análise um evento específico: a 
tramitação da Ação Direta de Inconstitucionalidade6 nº 3.239/2004 no Supremo 
Tribunal Federal, movida pelo atual Partido Político Democratas contra o Decreto 
nº 4887/2003. Este dispositivo marca um ponto de inflexão fundamental na breve 
história da “questão quilombola” e indica uma direta adesão do executivo federal 
às discursividades acerca do artigo 68 do ADCT que vinham sendo produzidas 
no campo das ciências sociais no Brasil (em especial da antropologia) e 
utilizadas pelo movimento “quilombola” nascente. O primeiro efeito do Decreto 
em tela é, portanto, desvincular os “quilombolas” da necessidade de uma 
comprovação que remeta a um passado de fuga de escravos. Indo mais longe, 
a caracterização destes sujeitos passa a ser atestada através da “autodefinição 
da própria comunidade” (§ 1º do Decreto nº 4.887/2003). 
O Decreto também amplia – potencialmente – a quantidade de hectares 
de terra que seriam utilizados para a titulação. Isto porque, define em seu 
§ 2º que seriam consideradas “terras ocupadas por remanescentes das 
comunidades dos quilombos as utilizadas para a garantia de sua reprodução 
física, social, econômica e cultural”. Bem diferente disto, no Decreto anterior que 
regulava a matéria (Decreto nº 3.912/2001), a possibilidade de titulação somente 
poderia englobar “terras que: I - eram ocupadas por quilombolas em 1888; e II – 
estavam ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos em 5 
de outubro de 1988.” 
A interpretação do artigo 68 do ADCT contida no Decreto nº 4.887/2003 
promove, portanto, uma dupla ampliação – seja no rol de possíveis beneficiários, 
seja no montante de terras a serem tituladas. Acontece que este movimento vai 
gerar, quase imediatamente, uma resposta por parte daqueles que desde 1988, 
vinham buscando legitimar uma leitura mais restrita do dispositivo constitucional. 
De fato, temos aqui um embate direto entre duas concepções que estão contidas 
na chamada “sociedade aberta de intérpretes do texto constitucional” 
(HABERLE, 1997). Neste sentido a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI), 
movida junto ao Supremo Tribunal Federal, pelo então Partido da Frente Liberal 
(atualmente denominado Democratas) marca um embate fundamental entre 
 
 
10 
 
duas interpretações do artigo 68 do ADCT no cerne do campo do direito – o 
quilombo histórico versus quilombo como grupo étnico identitário. 
Percebe-se que a necessidade de comprovação é fundamental no 
arcabouço intelectual que sustenta a Petição da ADI nº 3.239/2004. Se as 
comunidades quilombolas remetem ao período colonial e ao período imperial da 
história brasileira, será necessário comprovar que um determinado grupo 
“remanesce” de eventos ocorridos neste passado. Isto porque, na perspectiva 
dos autores da Petição, as comunidades quilombolas seriam aquelas “formadas 
por escravos fugidos, ao tempo da escravidão no país” (PETIÇÃO INICIAL DA 
ADI Nº 3.239/2004, 2004, p. 10). Mas, o que a Petição Inicial do PFL não expõe, 
é o fato de que a necessidade de comprovação corresponde a uma criação pós-
1988, originada de uma forma específica de interpretar o Artigo 68 do ADCT, 
combinada com certa pressuposição do que seriam os “quilombos”. Isto porque, 
o artigo 68 do ADCT em nenhuma de suas breves vinte e três palavras, aponta 
a necessidade de que qualquer elemento seja comprovado. 
Estamos aqui, no terreno das interpretações e estas ganham ainda mais 
espaço frente à vacuidade que o artigo 68 do ADCT carrega. Nesta direção, a 
Petição trabalha com a perspectiva de que deixar de lado a comprovação, 
geraria uma ilegalidade, que corresponderia a reconhecer o direito a mais 
pessoas do que aquelas efetivamente beneficiadas pelo dispositivo. Neste 
contexto discursivo, a pretensa assepsia jurídica da Petição cai por terra. 
Produzido por grupo partidário diretamente vinculado aos interesses dos 
grandes proprietários rurais, o texto da Petição Inicial lembra que, com a 
autoatribuição (e por consequência sem necessidade de comprovação), estaria 
se realizando “por vias oblíquas uma reforma agrária”, atribuindo títulos de terras 
a pessoas que “efetivamente não tem relação com os habitantes das 
comunidades formadas por escravos fugidos, ao tempo da escravidão do país” 
(PETIÇÃO INICIAL DA ADI Nº 3.239/2004, 2004, p. 10). 
Como vemos a Petição que dá origem a ADI nº 3.239/2004 circula em 
torno do já antigo debate, vivido pela “sociedade aberta de intérpretes da 
constituição” (HABERLE, 1997). Neste debate, o fundamental seria consagrar 
socialmente uma caracterização das comunidades “quilombolas” que operaria 
uma maior, ou menor, restrição da quantidade de possíveis beneficiados pela 
propriedade da terra com base no artigo 68 do ADCT. 
11 
 
Iniciado o julgamento, o ponto inicial da argumentação do Ministro Cezar 
Peluso, relator da ação, foi que o Decreto nº 4.887/2003 seria inconstitucionalpor promover direta regulamentação do texto constitucional, o que não seria 
válido no ordenamento jurídico nacional. O relator mostra total concordância com 
a argumentação de matriz cronológica, que alicerça a Petição Inicial do PFL. 
Para o ministro Peluso, os “destinatários” do direito conferido pelo artigo 68 do 
ADCT: 
São aqueles que subsistiam nos locais tradicionalmente conhecidos 
como quilombos, entendidos estes na acepção histórica, em 05 de 
outubro de 1988. Noutras palavras: os que, tendo buscado abrigo 
nesses locais (quilombos), antes ou logo após a abolição, lá 
permaneceram até a promulgação da Constituição de 1988 (ADI Nº 
3.239/2004, VOTO RELATOR 1, 2012, p. 38). 
 
O relator se preocupa em apurar esta demarcação histórica, livrando-a de 
possíveis questionamentos. Por isso, afirma que não é necessário precisar a 
data da extinção formal da escravidão como o limite para a constituição dos 
quilombos, uma vez que naquele momento o país era marcado por grandes 
problemas de comunicação (daí o limite ser o ano de 1888). De fato, podemos 
entender que o ministro deve estar se referindo a possibilidade de uma hipotética 
fuga de escravos e consequente formação de um quilombo, ter ocorrido, por 
exemplo, em 13 de junho de 1888, um mês após a abolição e sem que escravos 
ou os senhores soubessem que aquele instituto não mais existia. Neste caso, os 
remanescentes do “quilombo” formado estariam também cobertos pelo artigo 68 
do ADCT? Mas, por esta via, o mesmo não ocorreria caso o “quilombo” tivesse 
início em primeiro de janeiro de 1889? Quantos dias estão compreendidos no 
limite “logo após a abolição” (ADI Nº 3.239/2004, VOTO RELATOR 1, 2012, p. 
38) definido no voto de Peluso? 
 Vemos que a convicção do ministro é fruto, também, de uma 
interpretação. E esta não se afasta daquela que a Petição Inicial do PFL já 
levantara. A categoria “quilombo” que o voto do relator aponta como a acertada 
para a interpretação do artigo 68 do ADCT é de fundo cronológico e, portanto, 
os sujeitos do direito garantidos pela Constituição de 1988 seriam 
“remanescentes” de eventos que deveriam ter efetivamente ocorrido até o 
período imperial. 
12 
 
Após a exposição do voto do relator, Ministro Cezar Peluso, em 18 de abril 
de 2012, imediatamente a ministra Rosa Weber solicitou vistas7 ao processo e 
este foi devolvido cinco dias depois, em 23 de abril de 2012. No entanto, o 
julgamento somente retornou a pauta em 25 de março de 2015, quando a 
ministra então fez a leitura de seu voto. De acordo com a interpretação da 
ministra existiria um objeto claro no artigo 68 do ADCT: o direito dos 
remanescentes das comunidades de “quilombos” ao reconhecimento, pelo 
Estado, das terras por eles ocupadas. Isto leva a ministra a apontar que o direito 
territorial das comunidades quilombolas é um direito fundamental, dotado de 
eficácia plena e aplicação imediata. Rosa Weber concorda que o Decreto nº 
4887/2003 de fato regulamenta diretamente o artigo 68 do ADCT, mas, 
argumenta que este é o procedimento juridicamente correto, uma vez que tal 
artigo se refere a direito fundamental, que exige regulamentação imediata, e 
carrega elementos de autoaplicação. 
Em 25 de março de 2015, logo após a leitura do voto da ministra Rosa 
Weber, que “empatou” a votação da ADI nº 3.239/2004 no plenário do STF, o 
ministro Dias Toffoli pediu vistas ao processo. O voto deste ministro foi somente 
publicado no dia 09/11/2017. De acordo com este: 
 
Não há dúvida de que o preceito constitucional motivou-se na 
necessidade de se reparar uma dívida histórica decorrente da injustiça 
secularmente praticada contra os negros desde o período escravocrata 
brasileiro. Trata-se de reparação concretizada no reconhecimento dos 
direitos de descendentes das comunidades dos antigos escravos à 
propriedade das terras por eles historicamente ocupadas. Indo mais 
além, garantiu a Carta da República, agora em seu texto permanente, 
a proteção das manifestações culturais afro-brasileiras (art. 215, § 1º, 
CF) e o tombamento de todos os documentos e os sítios detentores de 
reminiscências históricas dos antigos quilombos (art. 216, § 5º, CF) 
(ADI Nº 3.239/2004, VOTO MINISTRO TOFFOLI, 2017, P. 147). 
 
De acordo com o Ministro Dias Toffoli (2017) a “questão quilombola” está 
diretamente relacionada à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos 
formadores da sociedade brasileira – trata-se, portanto, da obrigação do Estado 
em resguardar o patrimônio material e imaterial brasileiro ao reconhecer direitos 
territoriais a grupos étnicos e minoritários. Todavia, não se pode deixar de 
 
7 O pedido de vista é regulamentado no STF, e equivale a um período que o ministro examina 
melhor o processo antes de emitir seu voto. O regulamento interno do STF determina que o 
processo deve ser devolvido ao plenário duas sessões após aquela em que foi feito o pedido. 
13 
 
reconhecer o caráter complexo deste panorama que tem suscitado 
interpretações divergentes “quanto ao alcance subjetivo e objetivo desse direito, 
bem como quanto às formas para sua aplicação, divergências essas das quais 
decorre, no meu sentir, o ajuizamento da presente ação direta de 
inconstitucionalidade” (ADI Nº 3.239/2004, VOTO MINISTRO TOFFOLI, 2017, P. 
149). Tais questionamentos estão relacionados principalmente as seguintes 
questões: 
Quem será beneficiado pela norma constitucional? Quem são os 
“remanescentes das comunidades dos quilombos”? Quais critérios 
utilizar para identificá-los? Quais terras serão objeto de titulação? Para 
ser reconhecido o direito de propriedade, em que momento a 
comunidade deveria “estar ocupando suas terras”? Esses pontos 
coincidem exatamente com as impugnações formuladas pelo partido 
autor da presente ação direta de inconstitucionalidade em face do 
Decreto federal nº 4.887, de 20 de novembro de 2003 (ADI Nº 
3.239/2004, VOTO MINISTRO TOFFOLI, 2017, P. 149). 
 
 Como se percebe, a interpretação construída pelo ministro deixou de lado 
a antiga definição de quilombo histórico, ao eleger critérios antropológicos para 
denominar quem seriam as comunidades quilombolas, e quais seriam os seus 
direitos na contemporaneamente. E esta foi também a posição da maioria dos 
ministros do STF no que diz respeito a ADI 3239/2004. O inteiro teor do acórdão 
final8 deste julgamento foi publicado um ano após o fechamento da ação, no dia 
21/02/2019. Trata-se de um documento 353 páginas, que contém todos os votos 
dos ministros do STF. Para abordamos profundamente tal questão 
precisaríamos de mais páginas, já que se trata de um tema complexo. 
Podemos fechar este tópico informando ao leitor que a ADI 3239/2004 
mobilizou um número elevado de agentes internos e externos ao campo jurídico 
com longa tramitação na Suprema Corte e com alto grau de exposição de 
conflitos interpretativos. No dia 8 de fevereiro de 2018 o julgamento terminou. O 
desfecho final desse embate foi desenhado com um placar de oito votos 
favoráveis ao direito territorial dos quilombolas e três votos contrários. Durante o 
julgamento as discussões foram posicionadas principalmente para a questão do 
marco temporal defendida pelo Partido Democratas e pela bancada ruralista 
durante todo o processo, além de considerações sobre a autodeclaração como 
 
8 Disponível em:< https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=2227157>. Acesso 
em 11-06-2019. 
https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=2227157
14 
 
um critério para o reconhecimento de comunidades quilombolas. Mas esta tese 
foi claramente rechaçada pelos ministros do STF e não consta do acordão final. 
 
3. OS INDÍGENAS E O JUDICIÁRIO BRASILEIRO 
A condição dos povos indígenas na realidade brasileira é conhecida 
histórica e socialmente como um processo que abarca vitórias e retrocessos,reconhecimento e invisibilidade, e principalmente violência. Estamos neste 
sentido, nos referindo a um bem que carrega tensões e disputas – o acesso a 
terra, ou no caso dos povos e comunidades tradicionais o direito ao território 
como fonte de reprodução não somente material, mas também simbólica. 
A Constituição de 1988 amplia e reafirmar dispositivos de proteção ao 
território indígena, sendo o resultado do fortalecimento da organização política e 
institucional de órgãos de defesa e da própria luta do movimento social indígena. 
Mas a Petição 3388/RR reúne questões complexas vocalizadas tanto pela 
sociedade quanto pelos juízes do Supremo Tribunal Federal que interpretaram 
e julgaram a ação popular ajuizada pelo Senador Affonso Botelho Neto (PT) e 
Francisco Mozarildo de Melo Cavalcanti (Arena, PFL, DEM). Trata-se da 
solicitação de nulidade da Portaria nº 534/2005 que passou a definir os limites 
da Terra Indígena Raposa Serra do Sol9 (TIRSS). Somente no ano de 2009, 
o Supremo Tribunal Federal (STF) validou a demarcação contínua da reserva 
indígena e determinou a saída dos não índios da área. 
Como nos esclarece Lages (2004) a reserva já havia sido reconhecida 
pela Fundação Nacional do Índio (FUNAI), demarcada no governo Fernando 
Henrique Cardoso (Decreto nº 1 775/96 e Portaria nº 820/1998) e homologada 
em 2005 pelo governo Lula (através da Portaria n º 534/2005). A partir desta 
última Portaria declarou-se a posse permanente dos grupos indígenas Ingarikó, 
Makuxi, Taurepang e Wapixana sobre a Terra Indígena denominada Raposa 
Serra do Sol. Ainda de acordo com este dispositivo: 
Art. 4º Ficam excluídos da área da Terra Indígena Raposa Serra do 
Sol: I - a área do 6º Pelotão Especial de Fronteira (6º PEF), no 
Município de Uiramutã, Estado de Roraima; II - os equipamentos e 
instalações públicos federais e estaduais atualmente existentes; III - o 
núcleo urbano atualmente existente da sede do Município de Uiramutã, 
 
9 A área que possui cerca de 1,7 milhão de hectares, também ficou conhecida pela disputa entre 
indígenas, fazendeiros, e produtores de arroz que ocuparam de maneira irregular tal reserva 
indígena. O Território está situado no estado brasileiro de Roraima, Norte do país, nos municípios 
de Normandia, Pacaraima e Uiramutã e faz fronteira com a Venezuela. 
http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=105036
http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=105036
15 
 
no Estado de Roraima; IV - as linhas de transmissão de energia 
elétrica; e V - os leitos das rodovias públicas federais e estaduais 
atualmente existentes. Art. 5º É proibido o ingresso, o trânsito e a 
permanência de pessoas ou grupos de não-índios dentro do perímetro 
ora especificado, ressalvadas a presença e a ação de autoridades 
federais, bem como a de particulares especialmente autorizados, 
desde que sua atividade não seja nociva, inconveniente ou danosa à 
vida, aos bens e ao processo de assistência aos índios. Parágrafo 
único. A extrusão dos ocupantes não-índios presentes na área da Terra 
Indígena Raposa Serra do Sol será realizada em prazo razoável, não 
superior a um ano, a partir da data de homologação da demarcação 
administrativa por decreto presidencial (Art 4º e 5º da Portaria n º 
534/2005). 
 
De acordo com Lages (2014) a decisão proferida pelo STF sobre a TIRSS 
foi pensada como um marco regulatório nos casos de demarcação de terras 
indígenas fundamentadas juridicamente de maneira contínua - no entanto, no 
dia 23 de outubro de 2013, a Corte voltou atrás e decidiu que sua validade seria 
apenas para o caso específico julgado, não tendo, portanto, efeito vinculante, o 
que não nos espanta, afinal estamos falando de um bem valioso, escasso e 
disputado no país: a terra. Argumentos contrários até os dias atuais sobre a 
demarcação têm ainda como base apontamentos como: ameaça à soberania 
brasileira, já que a localização das terras é em áreas de fronteira, a necessidade 
de inserção dos índios à sociedade capitalista nacional, tomados até então como 
grupos isolados, e a busca pelo desenvolvimento econômico e social a partir da 
diversidade de recursos naturais da região. 
A partir destas questões iniciais vejamos alguns pontos importantes da 
decisão sobre a demarcação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, proferida 
em 2009 pelo Supremo Tribunal Federal. Ao analisar os autos que formam a 
PET nº 3388/RR estaremos aqui fazendo o exercício de compreender a 
manifestação de discursos, ideologias e interpretações que contornam o campo 
do direito – a leitura desta realidade é encenada pelos Ministros do STF. Já no 
documento inicial da PET nº 3388/RR os autores da petição apontam logo nas 
primeiras linhas que “o Supremo tem a guarda da Constituição e não pode 
despedir-se desse dever, imposto de forma expressa pelo Constituinte de 1988, 
sob pena de a história cobrar-lhe as consequências da omissão, de 
comprometimento da própria credibilidade” (AÇÃO POPULAR, PET. 3388/RR). 
Entretanto como aponta Lages (2014), apesar destas denominações que 
“sacralizam” estes agentes não podemos perder de vista os alicerces culturais, 
16 
 
sociais e simbólicos que constroem a identidade magistral destes e que acabam 
por dar viés as suas decisões. Por isso, nos é interessante refletir o campo do 
direito e os agentes que dele participam a partir de Bourdieu (2003) – já que a 
autonomia do direito não deve ser tomada como um dado a priori. 
O relator do processo foi o ministro, atualmente aposentado, Carlos Ayres 
Britto. O objeto do julgamento envolveu como afirmamos anteriormente, a 
nulidade do processo demarcatório da Reserva Raposa Serra do Sol, proferida 
em 2005. O autor principal da ação, o então senador Affonso Botelho Neto 
argumentou que a portaria apresentaria “vícios, quando da realização de perícia 
judicial determinada pelo juízo da 1ª Vara Federal de Roraima e representariam 
ofensa aos princípios da razoabilidade, proporcionalidade, segurança jurídica, 
legalidade e devido processo legal” (PET nº 3388/RR, p. 3). Isto porque: não 
houve a participação de todos os interessados durante o processo de 
demarcação da reserva, o estudo antropológico precisaria ser revisto já que foi 
assinado por um único antropólogo, a iminente insegurança para o país deveria 
ser considerada (tendo em vista que a região está localizada em área de 
fronteira), além do prejuízo econômico e ofensa ao equilíbrio federativo, haja 
vista que a área demarcada ocupava grande parte do território do Estado de 
Roraima. 
Durante o processo a Procuradoria Geral da República (PGR) apresentou 
contra-argumentos a estas acusações e não acolheu a argumentação 
desenvolvida pelos partidários da anulação dos atos demarcatório, por 
interpretar que tratava-se de argumentos genéricos “sem, no entanto, apontar, 
efetivamente, qualquer ilegitimidade com força para anulá-la” (PGR, PET nº 
3388/RR, p. 4). Argumenta-se, portanto, a partir da “tradicional e inequívoca 
ocupação indígena na região” que existem documentos, e mapas históricos que 
comprovam a ocupação dos grupos indígenas naquele território, desde antes do 
início da colonização de Roraima. Diante do processo de colonização a 
instalação do Serviço de Proteção ao Índio foi até mesmo necessária com o 
crescimento do registro de conflitos que começaram a ocorrer com o 
povoamento do local através de colonos civis. A violência física, e desterro 
também estão documentados em livros e em outras referências. 
 Percebe-se que ao contrário da “questão quilombola” e de inúmeras 
comunidades negras rurais que contam com a memória como prova da 
17 
 
ancestralidade do território onde vivem ou de onde foram expulsas, no caso 
específico da TIRSS a ocupação tradicional exercida pelos índios é atestada por 
diversos documentos que não podem deixar dúvidas para o observador externo.“Deste modo, resta evidente que não é o processo demarcatório que cria o direito 
à posse, pois este somente delimita a área indígena de ocupação tradicional” 
(PGR, PET nº 3388/RR, p. 10). 
Outro ponto apontado pela PGR é que mesmo diante do fato de os 
indígenas terem sido forçados a se retirar de parte de suas terras, por ação do 
poder público ou por violência de agentes privados, este acontecimento não 
descaracterizaria as terras como tradicionalmente indígenas. Percebe-se que as 
categorias território e tradicional são sempre apresentadas nos discursos que 
constroem as peças da PET 3388/RR. Afirma-se que o direito ao território pelos 
grupos indígenas está previsto na CF de 1988, que reconhece: 
 
 Não apenas a ocupação física das áreas habitadas pelas tribos, mas, 
sim, a ocupação tradicional do território indígena, o que significa 
reconhecê-lo como toda a extensão de terra necessária à manutenção 
e preservação das particularidades culturais de cada grupo. São 
incorporadas não só as áreas de habitação permanente e de coleta, 
mas também todos os espaços necessários à manutenção das 
tradições do grupo. Assim, ao se garantir que a TIRSS fosse 
demarcada em uma faixa contínua de terras, procurou-se atender a 
todos os requisitos legais atinentes à matéria, preservando-se a 
identidade histórica e cultural dos silvícolas que lá habitam (PGR, PET 
nº 3388/RR p. 13). 
 
No ano de 2009, após relatados e discutidos os autos, os ministros do 
STF, sob a presidência do ministro Joaquim Barbosa votaram pela manutenção 
de Raposa Serra do Sol em território contínuo como condição imprescindível à 
vida social e cultural, à reprodução dos costumes, línguas, crenças, tradições 
indígenas. Estavam presentes à sessão os Ministros Celso de Mello, Marco 
Aurélio, Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski, Dias Toffoli, Luiz Fux, Rosa 
Weber, Teori Zavascki e Roberto Barroso. No acordão o STF esclareceu que: 
a) a decisão proferida na PET 3.388/RR não vincula juízes e tribunais 
quando do exame de outros processos, relativos a terras indígenas 
diversas; b) com o trânsito em julgado do acórdão proferido na PET 
3.388/RR, todos os processos relacionados à Terra Indígena Raposa 
Serra do Sol deverão adotar as seguintes premissas como 
necessárias: (i) são válidos a Portaria/MJ nº 534/2005 e o Decreto 
Presidencial de 15.4.2005, que demarcaram a área, observadas as 
condições indicadas no acórdão; e (ii) a caracterização da área como 
terra indígena, para os fins dos arts. 20, XI, e 231, da Constituição, 
importa em nela não poderem persistir pretensões possessórias ou 
18 
 
dominiais de particulares, salvo no tocante a benfeitorias derivadas da 
ocupação de boa-fé (CF/88, art. 231, § 6º); c) o usufruto dos índios não 
lhes confere o direito exclusivo de explorar recursos minerais nas terras 
indígenas. Para fazê-lo, quais pessoas devem contar com autorização 
da União, nos termos de lei específica (CF/88, arts. 176, § 1º, e 231, § 
3º). De toda forma, não se pode confundir a mineração, como atividade 
econômica, com as formas tradicionais de extrativismo, praticadas 
imemorialmente, nas quais a coleta constitui uma expressão cultural 
ou um elemento do modo de vida de determinadas comunidades 
indígenas. No primeiro caso, não há como afastarem-se as exigências 
previstas nos arts. 176, § 1º, e 231, § 3º, da Constituição. (...) O 
Tribunal, por unanimidade, resolveu as questões de ordem suscitadas 
pelo Relator para: a) declarar encerrada a supervisão judicial sobre os 
atos relacionados ao cumprimento da Portaria/MJ nº 534/2005 e do 
Decreto Presidencial de 15.4.2005; e b) declarar exaurida a eficácia do 
acórdão proferido na RCL 3.331/RR, pondo fim à presunção absoluta 
de competência desta Corte para as causas que versem sobre a 
referida Terra Indígena, sem prejuízo da possibilidade de que, em cada 
situação concreta, os interessados demonstrem ser esse o caso. 
(ACORDÃO PET 3388/RR, 2013, p. 93-94). 
 
Assim como no âmbito da questão quilombola, este julgamento mobilizou 
um número elevado de agentes internos e externos ao campo jurídico com longa 
tramitação na Suprema Corte e com alto grau de exposição de conflitos 
interpretativos, mas que resultou positivamente na salvaguarda do direito 
territorial dos grupos indígenas do estado de Roraima. Dessa forma impôs ao 
Estado a obrigação de garantir e proteger o pleno exercício do direito territorial 
de grupos indígenas, que infelizmente está, assim como o direito das 
comunidades quilombolas ao território, as margens de decisões da agenda 
governamental e do executivo, capazes de desmantelar o que lhes é atribuído 
por direito – restando mais uma vez, frente a este processo a palavra final dos 
juízes do STF sempre que são intimados a responder: quem tem direito? 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Neste artigo foi possível verificar como as performances discursivas no 
campo do direito se articularam em torno de direitos territoriais de quilombolas e 
indígenas no Brasil. Tanto a ADI nº 3.239/2004, quanto a PET nº 3388/RR 
constituem um exemplo vivo de como os agentes do judiciário, na figura de 
ministros do Supremo Tribunal Federal interpretam e constroem o significado da 
categoria étnico e identitária de indígenas e quilombolas, assim como o direito 
ao território. 
Como aponta Bourdieu (2003) o campo do direito compartilha, produz ou 
contradiz afirmações de verdade com pretensão de legitimidade. Este seria o 
19 
 
lugar de agentes com competência técnica socialmente legitimada, que atuam 
como mandatários autorizados de uma coletividade, com a função de interpretar 
textos capazes de resolver conflitos e proceder às negociações no mundo social. 
A interpretação de textos jurídicos, feita pelos agentes autorizados, possui um 
caráter plural e, por isso, este contexto apresenta um “jogo de lutas, pois a leitura 
é uma maneira de apropriação da força simbólica que nele se encontra em 
estado potencial” (BOURDIEU, 2003, p. 213). 
Por fim, nos cabe aqui encerrar dando visibilidade ao desmantelamento 
ainda mais radical que vem sendo sofrido por povos e comunidades tradicionais 
como indígenas e quilombolas no país no que diz respeito aos direitos territoriais 
e sociais. Em seu mandato atual o presidente eleito Jair Bolsonaro vem 
defendendo que a área da reserva indígena Raposa Serra do Sol seja explorada, 
a fim de garantir o desenvolvimento econômico do país e a integração do índio 
à sociedade (JORNAL BRASIL DE FATO10, 2018). No mês de abril de 2017, 
quando ainda era deputado federal, o presidente participou de um evento no qual 
afirmou que, após visitar comunidades quilombolas no município de Eldorado 
(SP), pôde perceber que “o afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. 
Não fazem nada. Eu acho que nem para procriar eles servem mais”. No ano de 
2018, uma denúncia foi apresentada pela procuradora-geral da República, 
Raquel Dodge, que acusou Bolsonaro de usar e propagar discurso 
discriminatório. Entretanto, no dia 7 de junho de 2019, a denúncia foi arquivada. 
 
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13-28; 
 
BRANDÃO, André et al. Comunidades quilombolas no Brasil: características 
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questao-de-honra-do-general-augusto-heleno/>. Acesso em 16/06/2019. 
 
https://www.brasildefato.com.br/2018/12/18/raposa-serra-do-sol-or-a-questao-de-honra-do-general-augusto-heleno/https://www.brasildefato.com.br/2018/12/18/raposa-serra-do-sol-or-a-questao-de-honra-do-general-augusto-heleno/
20 
 
http://www.cpisp.org.br/acoes/upload/arquivos/Parecer%20-%20Procurador-
Geral%20da%20Rep%C3%BAblica.pdf> Acesso em: junho de 2014. 
 
______. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. 
Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988. 292 p. BRASIL. 
 
______. Petição n. 3.388. Relator: Ministro Ayres Britto, 
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stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=630133>. Acesso em: 
9 de fev. de 2019. 
 
______. Decreto Nº4887 de 20 de novembro de 2003. Regulamenta o 
procedimento para identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e 
titulação das terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos 
quilombos de que trata o art. 68 do Ato das Disposições Constitucionais 
Transitórias. Presidência da República- Casa Civil. Brasília, DF, 2003. Disponível 
em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2003/D4887.htm> Acesso 
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