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A IMPORTÂNCIA DO PATRIMÔNIO IMATERIAL

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO 
INSTITUTO DE GEOGRAFIA HISTORIA E DOCUMENTAÇÃO 
DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA 
BACHARELADO EM GEOGRAFIA 
 
 
 
 
 
 
 
 A IMPORTÂNCIA DO PATRIMÔNIO IMATERIAL: REDES ARTESANAIS DA 
COMUNIDADE DE LIMPO GRANDE, MUNICÍPIO DE VÁRZEA GRANDE – MATO 
GROSSO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CUIABÁ-MT 
2018 
 
 
 
 
 
 
 
Cintia Araujo Sacramento 
 
 
 
 
 
A IMPORTÂNCIA DO PATRIMÔNIO IMATERIAL: REDES ARTESANAIS DA 
COMUNIDADE DE LIMPO GRANDE, MUNICÍPIO DE VÁRZEA GRANDE – MATO 
GROSSO 
 
 
 
 
 
 
 
 
Trabalho de conclusão de curso apresentado ao 
Departamento de geografia da Universidade 
Federal de Mato Grosso, como parte dos requisitos 
necessários para a obtenção do grau de bacharel 
em geografia 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Giseli Dalla-Nora 
 
 
 
 
 
 
 
CUIABÁ-MT 
2018 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
As redeiras de Limpo Grande, que apesar das dificuldades 
lutam para manter viva uma tradição centenária. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Agradecimentos 
 
Agradeço primeiramente a Deus que me permitiu chegar até aqui. 
Aos meus pais, familiares, a amiga Jucenil que me acompanhou 
durante as pesquisas de campo e também a Marília. Agradeço 
em especial a minha orientadora Dr. ª Giseli Dalla-Nora. A 
universidade Federal de Mato Grosso ao professor Me. Diogo 
Marcelo Delben Ferreira de Lima,a todos os professores do 
departamento e a redeiras que me receberam na comunidade. 
 
, 
 
 
 
 
RESUMO 
 
Este trabalho estudou a importância das redes “cuiabanas” para a cultura local tendo 
como proposta o registro das redes, pois o registro é uma forma de proteção dos 
patrimônios imateriais. Para construção desse trabalho foram utilizados levantamento 
bibliográficos e visitas in loco. As visitas in loco foram muito importantes durante todo 
o desenvolvimento da pesquisa, pois elas proporcionaram mais clareza no objeto de 
estudo. A metodologia aqui aplicada foi a pesquisa qualitativa, pois a mesma busca 
entender todo o processo e não somente o resultado. Com os Resultados da pesquisa 
verificou-se que o registro não é uma garantia permanente da preservação do 
patrimônio imaterial, mas que pode sim contribuir para proteção e preservação do 
mesmo. 
 
 
 
 
Palavras-chaves: Patrimônio imaterial- Preservação- Registro. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE FIGURAS 
 
 
Figura 1: Mapa de localização ........................................................................... 16 
Figura 2: Índias guanás desenho de Florence 1827 ......................................... 17 
Figura 3: Foto de uma das redeiras mais antigas da comunidade ................. 19 
Figura 4: Rede arara com flores ......................................................................... 20 
Figura 5: Rede com estampa de tuiuiú .............................................................. 21 
Figura 6: Tear ....................................................................................................... 23 
Figura 7: Batedeira feita de buriti ...................................................................... 24 
Figura 8: Desenho de ponto cruz ....................................................................... 24 
Figura 9: Placa informando venda de rede ....................................................... 27 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
 
IPHAN Instituto do patrimônio histórico e artístico nacional 
NEPEC Núcleo de estudos e pesquisas sobre espaço e cultura 
SENAC Serviço nacional de aprendizagem comercial 
SESC Serviço social do comercio 
SPHAN Serviço do patrimônio histórico e artístico nacional 
UERJ Universidade do estado do Rio de Janeiro 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
1.INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 8 
2.REFERENCIAL TEÓRICO ..................................................................................... 9 
2.1. GEOGRAFIA E CULTURA .............................................................................. 13 
3. METODOLOGIA ................................................................................................. 14 
3.1. ÁREA DE ESTUDO ......................................................................................... 16 
4. RESULTADOS ..................................................................................................... 17 
4.1. OS ÍNDIOS GUANÁS E A ARTE DA TECELAGEM DEIXADA POR ELES ... 17 
4.2. AS REDES CUIABANAS DE LIMPO GRANDE .............................................. 18 
4.3. AS REDEIRAS ................................................................................................. 19 
4.4. TECELAGEM: PRODUÇÃO ARTESANAL X PRODUÇÃO INDUSTRIAL ..... 21 
4.4.1. O TECER E OS INSTRUMENTOS UTILIZADO NA TECEDURA ................ 23 
4.5. ARTE AMEAÇADA .......................................................................................... 25 
5. TOMBAMENTO E REGISTRO ........................................................................... 27 
5.1. PROPOSTA DE REGISTRO DAS REDES CUIABANAS ............................... 29 
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 32 
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 33 
 
8 
 
 
 
 
1. INTRODUÇÃO 
Cultura vai muito além da característica de uma sociedade, ela é o que 
diferencia uma sociedade de outra. A cultura possui uma diversidade ampla de 
conceitos, ela está presente em nossas vidas, seja na crença, nos costumes, hábitos, 
na forma como se veste, ou até mesmo em outros aspectos a cultura sempre se faz 
presente. 
 Quando falamos sobre identidade cultural, estamos fazendo menção ao 
sentimento de pertencimento que temos em relação a uma cultura, ou seja, a cultura 
a qual pertencemos, acreditamos e participamos ao longo da nossa vida. De acordo 
com Claval (2007, p.89), “A cultura só existe através dos indivíduos aos quais é 
transmitida e que, por sua vez, a utilizam, a enriquecem, a transformam e a difundem. 
Sem elas, eles estariam desamparados: o intuito não é suficiente para guiá-los”. A 
identidade cultural é um conceito muito discutido nas ciências sociais, isso porque ela 
é um processo que vai sendo construído, é o resultado das experiências e vivências 
de um determinado grupo social. 
O patrimônio cultural pode ser entendido como bens materiais e imateriais, 
muito importante na história de uma sociedade. Patrimônio cultural é um conjunto de 
saberes, expressões, formas de fazer, práticas, que estão ligados a identidade de um 
povo. Preservar o patrimônio cultural vai muito mais além do simples ato de preservar, 
proteger o patrimônio de uma sociedade é manter vivo através de memórias passadas 
a sua identidade. 
 O tombamento e o registro de um patrimônio cultural é uma forma de 
protegê-lo. O patrimônio pode ser dividido em duas categorias importantes, sendo 
essas categorias a dos bens materiais e dos bens imateriais. 
 Se entende como bens materiais tudo aquilo que podemos tocar, como por 
exemplo, uma estátua, um monumento, documentos. Já os bens imateriais são os 
costumes de uma sociedade, as tradições, as músicas, os modos de fazer entre 
outros. 
 
 A área de estudo desse trabalho é a comunidade Limpo Grande, que está 
localizada no distrito de Capão Grande, município de Várzea Grande-MT, uma das 
9 
 
 
 
 
comunidades mais antigas da cidade. Essa comunidade possui uma tradição muito 
importante, que é a produção de redes artesanais, tradição essa herdada dos 
primeiros habitantes dessa região, que eram osíndios guanás, e que possuíam 
grandes habilidades na tecelagem. 
 
 As redes de Limpo Grande ou ainda chamadas de “redes cuiabanas” se 
diferenciam das outras pela forma como são produzidas. Apesar das redes serem de 
uma comunidade de Várzea Grande elas recebem o nome popular de “redes 
cuiabanas”, esse nome é devido ao fato de seu polo principal de comercialização ser 
em Cuiabá. A confecção dessas redes se dá de forma artesanal e elas são produzidas 
em teares verticais uma tradição que vem a mais de cem anos sendo passada de 
geração a geração. Apesar de ser um importante patrimônio imaterial cultural mato-
grossense esse patrimônio não é registrado. 
O principal objetivo desse trabalho é indicar por meio da pesquisa, legislação e 
da política cultural a necessidade do registro das “redes cuiabanas” de Limpo Grande. 
Para que se possa alcançar o objetivo geral dessa pesquisa se faz necessário 
entender a importância da cultura e das práticas culturais na formação da identidade 
dessa comunidade, tendo foco na tecedura das redes. Sendo assim a justificativa 
desse trabalho consiste em demonstrar a importância da preservação do patrimônio 
cultural. 
Este trabalho está dividido em seções sendo elas: introdução, referencial 
teórico, metodologia, resultados e considerações finais. 
 
 
2. REFERENCIAL TEÓRICO 
Em tempos atuais a cultura desempenha diversos papeis, durante muitos 
anos quando falado em cultura, normalmente se referia ao patrimônio ou arte, porém 
com o passar do tempo o conceito de cultura foi se ampliando. 
 As políticas culturais são um conjunto de objetivos e estratégias que tem 
como principal função desenvolver o setor cultural. Elas são iniciativas ou propostas 
que são desenvolvidas pela administração pública, empresas privadas, ou ainda por 
organizações sem fins lucrativos, com objetivo de garantir a sociedade o direito à 
10 
 
 
 
 
prática, produção e acesso à cultura pois, seu ponto principal está pautado na 
concepção de cultura e em sua importância. Segundo Coelho (1997, p.291): 
A política cultural é entendida habitualmente como programa de 
intervenções realizadas pelo Estado, instituições civis, entidades 
privadas ou grupos comunitários com o objetivo de satisfazer as 
necessidades culturais da população e promover o desenvolvimento 
de suas representações simbólicas. Sob este entendimento imediato, 
a política cultural apresenta-se assim como o conjunto de iniciativas, 
tomadas por esses agentes, visando promover a produção, a 
distribuição e o uso da cultura, a preservação e divulgação do 
patrimônio histórico e o ordenamento do aparelho burocrático por elas 
responsável. 
As políticas culturais exercem um papel importante, pois são elas que irá fazer com 
que se cumpra o dever de garantir a todos o direito a cultura. 
 Um dos aspectos que classifica o ser humano como um animal diferente dos 
outros, é a habilidade que ele tem de promover mudanças em seu espaço, ou seja, 
produzir cultura e fazer história. A transmissão da cultura é um processo complexo, 
pois para que possa ser transmitida é importante que o indivíduo tenha uma grande 
capacidade de memorizar e também de reproduzir os conhecimentos. 
 Segundo Wagner e W.Miresell (2003, p.28): 
 
A cultura resulta da capacidade de os seres humanos se comunicarem 
entre si por meio de símbolos. Quando as pessoas parecem pensar e 
agir similarmente, elas o fazem porque vivem, trabalham e conversam 
juntas, aprendem com os mesmos companheiros e, mestres, 
tagarelam sobre os mesmos acontecimentos, questões e 
personalidades, observam ao seu redor, atribuem o mesmo significado 
aos objetos feitos pelo homem, participam dos mesmos rituais e 
recordam o passado. 
 
 
 Pode-se entender então que a cultura não leva em consideração indivíduos 
isolados, mas sim comunidade de pessoas que integram um mesmo espaço e a partir 
do momento em que integrantes de uma determinada comunidade passam a se 
deslocar a sua cultura começa a se difundir. 
 
 De acordo com Claval (2007, p.63): 
 
A cultura é a soma de comportamento, saberes, técnicas, 
conhecimentos e valores acumulados pelos indivíduos durante suas 
vidas e, em outra escala, pelo conjunto dos grupos de que fazem parte. 
11 
 
 
 
 
A cultura é uma herança transmitida de uma geração a outra. Ela tem 
suas raízes num passado longínquo, que mergulha no território onde 
seus mortos são enterrados e onde seus deuses se manifestam. Não 
é, portanto, um conjunto fechado e imutável de técnicas e 
comportamentos. Os contatos entre povos de diferentes culturas são 
algumas vezes conflitantes, mas constituem uma fonte de 
enriquecimento mútuo. A cultura transforma-se, também, sob o efeito 
das iniciativas ou inovações que florescem em seu seio. 
 
 A cultura pode ser vista de várias maneiras e através de vários olhares 
diferentes. Ela está inserida em diversos aspectos de uma sociedade, assim como a 
cultura preserva as tradições ela também integraliza outros costumes e tradições de 
outras sociedades. 
 
PATRIMÔNIO 
O patrimônio está vinculado à cultura, pois, se remete ao passado de uma 
sociedade, ele pode ser entendido como o resultado do que foi produzido por ela ao 
longo dos anos, e que deve ser preservado, como parte fundamental para se conhecer 
sua história. 
 
 De acordo com Scifoni (2015, p.129): 
 
 O patrimônio é expressão de um passado e lhe dá concretude 
permitindo compreendê-lo, mobiliza memórias coletivas e estimula 
uma reflexão sobre os caminhos traçados na trajetória da construção 
da humanidade do homem. 
 
 O patrimônio é a reflexão do passado, ou seja, através dele se pode perceber 
a história que foi percorrida pelo ser humano. 
 
De acordo com Silva e Silva (2006): 
O patrimônio cultural de um povo pode ser classificado como as 
diversas peculiaridades que possuem significado social, representam 
e traduzem uma identidade, abarcando tanto as características pelas 
quais os indivíduos pertencentes a distintas etnias se aproximam ou 
se diferenciam em relação ao seu modo de vida e ao de outros. Essa 
concepção ampliou-se paulatinamente ao longo do século XX, 
tornando-se mais abrangente em relação aos conceitos e às 
categorias de bens materiais e imateriais. 
 
Pode-se entender como patrimônio cultural tradições, identidades ou ainda 
características dos indivíduos. 
12 
 
 
 
 
 Segundo Veloso (2006.p.440) “O que importa destacar é que, quando se trata 
de patrimônio cultural, seja material ou imaterial, fala-se também de valores e de 
interesses coletivos que, por sua própria especificidade, não são fixos nem imutáveis”. 
Sendo assim ao referirmos a patrimônio cultural estamos fazendo menção a valores 
da coletividade, valores esses que não podem ser considerados permanentes e 
constantes. 
 O patrimônio imaterial ou ainda chamado de intangível são bens que se 
referem as práticas sociais como celebrações de festas, musicas, danças, modos de 
fazer, entre outros. Segundo Silva e Silva (2006): 
 O patrimônio imaterial, ou intangível, caracteriza-se por ter um 
suporte físico indireto, que sozinho não possui significado, mas torna-
se ícone de representações, costumes, tradições ou saberes. É o caso 
do artesanato, dos instrumentos de artes visuais, das festas religiosas, 
celebrações, e mesmo os modos peculiares “do fazer”, tais como 
técnicas culinárias e de trabalho, bem como os lugares de 
sociabilidade 
 A constituição de 1998 no artigo 216 caracteriza como patrimônio cultural, os 
bens materiais e imateriais. Esse trabalho tem como foco os bens imateriais, que é a 
categoria onde se enquadra a produção artesanal das redes da comunidade de Limpo 
Grande. Segundo o IPHAN (2012) “Os bens culturais imateriais estão relacionados 
aos saberes, às habilidades, às crenças, às práticas, aos modos de ser das pessoas”. 
Ainda de acordo com veloso (2006.p.251) “A tradição cultural é fruto de uma 
tessitura muito complexa que osindivíduos tecem com base em elementos da história, 
da memória e do cotidiano”. É a construção de saberes, tradições que vão se 
consolidando ao longo dos anos. 
 
De acordo com Cecilia Londres (2004): 
Patrimônio é tudo o que criamos, valorizamos e queremos 
preservar: são os monumentos e obras de arte, e também as 
festas, músicas e danças, os folguedos e as comidas, os 
saberes, fazeres e falares. Tudo enfim que produzimos com as 
mãos, as ideias e a fantasia. 
 
Preservar o patrimônio cultural é cuidar dos bens que representam histórias 
de gerações passadas de um grupo social, e que quando o cidadão se sente parte de 
um grupo social ele passa a valorizar suas raízes culturais, pois sente que aquela é a 
sua cultura e por isso deve preservá-la. 
13 
 
 
 
 
 
2.1 GEOGRAFIA E CULTURA 
 A geografia é uma das áreas que está presente nas ciências humanas, e 
estuda também a cultura, esse estudo é realizado através do subtema geografia 
cultural. Até se estruturar como é hoje a geografia cultural passou por várias etapas. 
De acordo com Claval (1999) por volta de 1890, surge a geografia cultural na 
Alemanha, Estados Unidos e França ainda de acordo com ele foi Ratzel quem utilizou 
pela primeira vez a expressão geografia cultural. Segundo Oliveira e Silva (2010.P.2): 
A Geografia Cultural tem suas origens na Europa do final do século 
XIX, e início do século XX juntamente com a sistematização da 
geografia como ciência acadêmica no debate sobre sua identidade, ou 
seja, sobre o que era inerente a ela como ciência. 
 
 Claval identifica o período de 1890 a 1940 como sendo a primeira fase da 
geografia cultural, nesse período pode-se enfatizar quatro temas que estão ligados 
entre a sociedade e a natureza, sendo eles: a análise das técnicas, os instrumentos 
de trabalhos, a paisagem cultural e o gênero de vida. (Corrêa,1999). 
 Já os anos de 1940 a 1970 é caracterizado como sendo a segunda fase da 
geografia cultural, no final da segunda fase a geografia cultural começou a passar por 
um processo de renovação, gerando críticas entre diversos geógrafos. 
 A geografia cultural não leva em consideração somente a cultura, ela abrange 
outros assuntos como, paisagem, território, lugares. A geografia cultural também 
busca compreender a interação que o ser humano tem com a natureza. Desde o seu 
surgimento a geografia cultural vem se desenvolvendo e após anos, se encontra tão 
importante quanto outros ramos da geografia como por exemplo a geografia política e 
econômica. 
 No Brasil a geografia cultural teve início em 1993 como a criação do 
Núcleo de Estudos e Pesquisa sobre Espaço e Cultura - NEPEC criado no 
departamento de geografia da Universidade do Estadual do Rio de Janeiro - UERJ, 
no entanto a geografia cultural ainda não possui a mesma importância que em outros 
locais do mundo como Europa e Estados Unidos, pois a mesma foi incorporada 
tardiamente. Segundo Corrêa e Rosendahl (2003): 
A cultura foi, ou negligenciada, ou entendida como senso comum, 
passando a ser vista como sendo dotada de poder explicativo. Seus 
aspectos culturais estavam presentes em muitos trabalhos realizados, 
14 
 
 
 
 
no entanto, isto não permitia qualificar aqueles trabalhos como de 
geografia cultural. 
 
 Com a incorporação tardia e a falta de reconhecimento a geografia cultural no 
Brasil é pouco difundida. Devemos sempre ter claro que a geografia cultural é uma 
análise, reflexão, sobre o espaço onde habita o homem e onde há diversas formas de 
cultura. 
 
3. METODOLOGIA 
 A metodologia desse trabalho se apoia nos conceitos da pesquisa qualitativa, 
pois segundo Bogdan e Biklen (1994) os investigadores que utilizam o método 
qualitativo estão mais preocupados com todo o processo do que somente com o 
resultado. Ainda de acordo com Bogdan e Biklen (1994): “Os investigadores 
qualitativos frequentam os locais de estudo porque se preocupam com o contexto. 
Entendem que as ações podem ser melhor compreendidas quando são observadas 
no seu ambiente habitual de ocorrência”. 
Quando o investigador visita a área de estudo, ele se aproxima dela, pois 
pode observar a realidade com seus próprios olhos. Por esse motivo frequentar a área 
de estudo é de fundamental importância, pois possibilita analisar com riqueza de 
detalhes comportamentos, hábitos, cultura e costumes da área que é estudada. 
 
 Por ser uma pesquisa que envolve um grupo social, foi aplicada nesse 
trabalho a pesquisa social. Esse método se pauta na vontade de conhecer e buscar 
resposta para os problemas, através da utilização de procedimentos científicos. A 
pesquisa social é um procedimento que possibilita a aquisição de conhecimentos 
novos no âmbito da realidade social. 
De acordo com Gil (1989, p.43): “A pesquisa social pode decorrer de razões de 
ordem intelectual, quando estão baseadas no desejo de conhecer pela simples 
satisfação de conhecer, ou prática quando estão baseadas no desejo de conhecer 
para agir”. Ela estuda as características de um grupo social por isso ela possibilita 
conhecer de perto o objeto de estudo. 
15 
 
 
 
 
 Para que se possa tornar possível e com melhor qualidade, foram utilizados 
na realização desse projeto, livros, artigos, entrevistas e outros materiais 
bibliográficos, que tenham embasamento teórico relacionado ao tema proposto. 
Também foi realizada a visita in loco, que tem como objetivo principal colher e registrar 
informações de forma ordenada sobre o assunto do tema estudado. 
 A aplicação das entrevistas se deu de forma não estruturada, isso para que 
se pudesse ter uma conversa mais informal, e de forma mais natural, possibilitando 
que as entrevistadas tivessem mais liberdade para responder e também deixando o 
caminho aberto para novos questionamentos que foram surgir ao longo das 
entrevistas. 
 As entrevistas ocorreram entre dezembro de 2017 a fevereiro de 2018, onde 
foram feitos questionamentos sobre todo o processo de confecção das redes desde a 
produção das redes até sua comercialização. Foram entrevistadas 5 redeiras com 
idade entre 37 a 54 anos de idade onde cada uma delas contou um pouco de sua 
história sobre quando iniciou o oficio de tecer. 
 Segundo Andrade (2010, p.13): 
Uma entrevista pode ter como objetivos averiguar fatos ou fenômenos; 
identificar opiniões sobre fatos ou fenômenos; determinar, pelas 
respostas individuais, a conduta previsível em certas circunstâncias; 
descobrir fatores que influenciam ou que determinam opiniões, 
sentimentos e condutas; comparar a conduta de uma pessoa no 
presente e no passado, para deduzir seu comportamento no futuro. 
 
Por isso a entrevista é um instrumento eficaz na confecção de uma pesquisa, pois se 
elaborada e realizada de forma correta será uma ferramenta fundamental. Portanto é 
importante definir o tipo de entrevista a ser realizada e também os objetivos que se 
pretende alcançar com ela 
 
 
 
 
16 
 
 
 
 
3.1. ÁREA DE ESTUDO 
 
 Figura nº1.Mapa de localização. 
Fonte: Mappersdigital 2018. 
 
Limpo Grande é uma comunidade rural que está há aproximadamente 23 km 
de distância do centro de Várzea Grande. Essa comunidade possui cerca de 200 
famílias, onde grande parte tem alguma relação de parentesco. As pessoas da 
comunidade em sua grande maioria são católicas e todo ano no local realizam a Festa 
de Santa Clara no início do mês de agosto. 
Segundo Magno (2010, P.82): 
 A religiosidade católica é dominante em toda comunidade, isso se 
evidencia pela demonstração de fé nas casas, com as imagens dos 
santos de devoção. As principais festas religiosas são as de Santa 
Clara e Santa Luzia. O costume de guardar os dias santos é seguido 
com respeito pelos mais velhos. 
17 
 
 
 
 
 
Parte dos moradores que ali residem trabalham em casas de famílias, 
trabalhos temporários e informais e com a comercialização de artesanato.Os 
moradores do local encontram uma grande dificuldade de locomoção, assim como 
seus filhos que precisam sair da comunidade para estudar, visto que a pequena escola 
presente na local atende apenas os alunos das séries iniciais. Essa dificuldade de 
locomoção se dá devido ao fato do único ônibus que passa pela comunidade circular 
no local a cada 2 h e 30 minutos, e o mesmo só circula na comunidade até as 19 h da 
noite. 
4. RESULTADOS 
 
4.1. OS INDIOS GUANÁS E A ARTE DA TECELAGEM DEIXADA POR ELES. 
Dentre os principais moradores que habitavam as margens do rio Cuiabá, 
sobre a margem direita estava a etnia Guanus, que era formada por vários grupos e 
aldeias, o conjunto de pessoas que ali habitavam somavam cerca de cinco a seis mil 
pessoas de acordo com Florence 1827. 
 
 Figura nº 2 - Índias guanás desenho de Florence 1827. 
 
Fonte: Florence 1827. 
18 
 
 
 
 
Os índios guanás ou ainda conhecidos como guanazes pertencem a etnia 
guanus e são os que mais se destacam na tecelagem, com a produção de redes e 
também na produção de cerâmica rude. E é onde hoje se encontra Santo Antônio do 
Leverger, Nossa Senhora Do livramento e Várzea grande que grande parte dos índios 
guanás habitavam. Os índios guanás eram conhecidos por seu caráter hospitaleiro e 
pacifico. 
Segundo Florence (1827.P.99): 
As peças de algodão trançado, que aqui são conhecidas por panões, 
não têm ordinariamente mais de quatro varas de comprimento e duas 
ou três de largura. São tramadas de um modo para mim desconhecido, 
os fios verticais inteiramente cobertos pelos horizontais de lado e de 
outro, o que faz com que o tecido seja muito espesso e próprio para 
barracas, por não dar passagem à mais violenta chuva. As mulheres 
de Cuiabá, que fazem redes, seguem o mesmo sistema. Para 
concluírem uma de duas varas em largura e comprimento, consomem 
seis ou mais dias. 
 
As índias guanás tinham grande habilidades no processo de tecer, e essa 
habilidade resultou em uma tradição que vem sobrevivendo a mais de 100 anos, 
passando por gerações. Tradição essa que hoje estão nas mãos das talentosas 
redeiras de Limpo Grande. 
 
4.2. AS REDES CUIABANAS DE LIMPO GRANDE 
 
 Chamadas de “redes cuiabanas” as redes de Limpo Grande recebem esse 
nome em função do seu polo de comercialização principal ser a cidade de Cuiabá. 
Elas se diferenciam pela forma como são produzidas. A origem das redes é uma 
tradição herdada das índias guanás. A comunidade de Limpo Grande é referência na 
produção artesanal de redes. Segundo Coradini (2006 P.150): 
As redes fascinam a todos pelo colorido, e pelos lavrados, que vão 
revelando as mais diversas formas, flores e animais da fauna mato-
grossense, como araras, tucanos, onças, tuiuiús, garças... além de 
formas humanas – como a figura de um índio flechando uma onça, ou 
mesmo a de uma santa, como a de Nossa Senhora do Livramento. 
 
19 
 
 
 
 
Figura nº 3- Foto de uma das redeiras mais antigas da comunidade
 
Fonte: Cintia Sacramento 2018. 
 
De acordo com informações obtidas nas entrevistas, por volta dos anos 40 e 
50 as redes ainda eram feitas a partir do algodão que era cultivado na própria 
comunidade, porém anos mais tarde passou-se a utilizar linhas industrializadas. A 
troca pela linha industrializada se deu devido ao fato de ser mais prático e pela 
variedade de cores, o que faz com que as redes se tornem mais bonitas e com cores 
vibrantes. Algumas redeiras afirmam terem ouvido histórias sobre a época em que se 
fiava os fios de algodão cru, ele passava por um processo de limpeza depois de 
colhido, processo esse que era realizado para retirar as sementes, depois o algodão 
era tingido o que acabava por resultar em um procedimento muito trabalhoso, segundo 
elas o fuso foi deixado de ser usado há muitos anos. 
 
4.3. AS REDEIRAS 
As redeiras são mulheres moradoras da comunidade de Limpo Grande, que desde 
cedo começaram a tecer para ajudar na renda de suas famílias. Por falta de 
20 
 
 
 
 
oportunidades e até por terem pouco estudo, tecer foi a forma que elas encontraram 
para poder ajudar em casa e foi assim que muitas sustentaram seus filhos. 
 As redeiras ou ainda chamadas de “artesãs”, fazem além das redes: chalés, 
echarpes, tapetes, caminhos de mesa, bolsas, colchas e forros para travesseiros. 
Todos esses produtos são levados para casa do artesão ou ainda vendido por elas 
mediante a encomenda de clientes. 
Redeira arara, 54 anos, relata que aprendeu a fazer rede com sua vó, que foi quem 
criou ela e seus três irmãos, pois sua mãe faleceu quando ainda era pequena e seu 
pai trabalhava fora, aos 13 anos começou a tecer e assim ajudava a família. Seu 
bordado favorito é o casal de araras. 
Redeira arara com flores, 59 anos, aprendeu a tecer observando sua mãe, fazendo 
rede ajudava na renda da família. Seu bordado favorito é a estampa de arara com 
flores. 
Figura nº 4- Rede arara com flores. 
 
Fonte: Cintia Sacramento 2018. 
Redeira Nossa senhora Aparecida, 43 anos, começou a fazer rede aos 14 anos, 
foi com sua mãe que aprendeu a tecer e assim ajudava com as despesas da casa. 
Seu bordado favorito é a imagem de Nossa senhora Aparecida, pois a mesma é 
devota dessa santa. 
21 
 
 
 
 
 Redeira tuiuiú, 37, anos começou a tecer com 16 anos, quando se casou, 
aprendeu a tecer com sua sogra que foi quem à ensinou. Tem preferência pelo 
bordado de tucano e tuiuiú. 
Figura nº 5- Rede com estampa de tuiuiú. 
 
Fonte: http://www.artlimpo.blogspot.com 
 
O trabalho realizado pelas redeiras é totalmente artesanal e por isso requer muito 
mais tempo para sem concluído diferente da produção industrial que pode ser 
realizada em pouco tempo. 
 
4.4. TECELAGEM: PRODUÇÃO ARTESANAL X PRODUÇÃO INDUSTRIAL 
 
A produção artesanal e produção industrial são dois meios de produção 
diferenciados. A produção artesanal é um processo bem demorado, pois o 
procedimento se dá de forma manual, esse meio de produção visa a qualidade do 
produto e é por esse motivo que os produtos artesanais possuem um valor mais 
elevado, pois sua qualidade e durabilidade são maiores. 
22 
 
 
 
 
A produção industrial por sua vez, está mais preocupada com a quantidade do que 
com a qualidade do produto, pois ela surgiu para acelerar o processo de produção, 
produzindo num curto período muito mais produtos. 
Dentro da produção industrial existem vários setores e cada setor é responsável 
pela execução de uma função especifica. Com a ajuda de máquinas os operários 
trabalham de forma sequencial, ou seja, produção em série, esse processo é chamado 
de linha de produção. 
Fiar ou tecer está ligado a técnica de produzir panos e tecidos, na arte de tecer os 
indígenas possuem grandes habilidades. O oficio de tecer é uma das artes mais 
antigas, acredita-se que esse oficio tenha tido início por volta de 5000 a.c. 
Até o período que antecede a revolução industrial, a única forma de tecelagem era 
manual, ou artesanal, porém essa realidade mudou a partir do século XVlll, visto que 
a revolução tinha o objetivo de trocar a força de trabalho pela força mecânica. Com 
isso a produção passou a ser industrializada o que tornou mais rápido a produção e 
dispensou grande parte da mão-de-obra humana. 
No Brasil muitas etnias indígenas praticavam a tecelagem, utilizavam algodão cru 
e palha trançada. Com a chegada dos portugueses a tecelagem passou a ser feita em 
teares que por eles foram trazidos. Porém em 1785 pressionada pela indústria da 
Inglaterra Dona Maria l mandou destruir todos os teares do Brasil. 
Em 1785, a rainha Dona Maria I, a Louca, assinou um alvará 
mandando destruir todos os teares brasileiros. Dona Maria I fez isso 
pressionada pelas indústrias da Inglaterra, que exportava seus tecidos 
para o Brasil e não estavam dispostos a enfrentar concorrência da 
produção local (SENAC, 2002, p. 9).Com o decreto da rainha a tecelagem passou a ser produzida de forma 
escondida e em locais mais distantes e afastados. Somente em 1809 quando através 
de um alvará de D. João Vl revogando o decreto de Dona Maria l, foi que a tecelagem 
deixou de ser produzida de forma clandestina. 
 
 
 
23 
 
 
 
 
4.4.1. O TECER E OS INSTRUMENTOS UTILIZADOS NA TECEDURA 
 
 Feito de ipê, cumbaru ou ainda de aroeira os teares verticais utilizados pelas 
redeiras de Limpo Grande têm em média um metro e meio de largura por um metro e 
oitenta de altura. Sentada no chão forrado com pano ou até mesmo com um colchão 
fino, as redeiras vão reproduzindo a tradição que por elas foram herdadas. Tecendo 
de baixo para cima pouco a pouco e com muita atenção, elas vão transformando linhas 
em bordados coloridos e belíssimos. 
Diversos desenhos são usados para bordar: ararás, tucanos, flores, viola de 
cocho, tuiuiú, onças, etc. Esses desenhos são tirados do ponto cruz e passados para 
o tecido. Divididas entre os afazeres doméstico e o tear as redeiras tecem de 4 a 6 
horas por dia, um trabalho que requer muita dedicação. 
 
Figura nº 6 – Tear. 
 
Fonte: Cintia sacramento – 2018. 
 
 
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 Figura nº 7 – Batedeira feita de buriti. Utilizada para juntar os pontos. 
 
Fonte: Cintia sacramento – 2018. 
 
 Figura nº 8 - Desenho de ponto cruz. 
 
Fonte: Cintia Sacramento – 2018. 
25 
 
 
 
 
De acordo com Coradini (2006.P.153): 
 
Quando se envolve no mundo das redeiras, passa-se a conhecer a 
linguagem própria do ofício, como se viu até agora. Assim, vocábulos 
como enovelar, urdir, bilro, corte de fio, tecer, batedeira, punho, 
sobrepunho, cadarcinho, travessado, canto, buriti, varanda, puçá, tear, 
liço, meeiro, fazem parte do modo de falar das redeiras. 
 
As redeiras possuem uma linguagem própria quando o assunto é tecer, usam 
palavras que normalmente não estão presentes no nosso cotidiano e que podem 
parecer estranhas para quem não conhece. 
 
O MODO DE FAZER 
Pra fazer uma rede eu gasto de 18 a 20 novelos de linhas. Primeiro eu 
começo a urdi a rede, que é passar as linhas em volta do tear, isso 
demora bastante, eu levo até dois dias só urdindo. Depois de urdi eu 
passo duas linhas brancas, essas linhas têm nome de liço, uma é 
usada pra bordar e a outra linha é usada pra fazer a troca de linha. A 
rede tem que ficar bem espichada então eu uso a espichadera, a 
espichadera é feita de bambu. Ai depois que já fiz um pouco da rede, 
quando vou fazer o bordado, coloco o ponto cruz no colo e vou 
passando do ponto cruz pra rede, tem que fazer isso com muito 
cuidado pra não errar. Os pontos têm que ficar bem assentado, aí uso 
a batedeira, essa batedeira é uma madeira que é feita de buriti, então 
eu pego a batedeira e enquanto eu vou tecendo, eu vou batendo até 
os pontos fica bem juntinho. Quando a rede fica pronta tem que tirar 
ela do tear pra dá o acabamento que é colocar o punho e a varanda. 
(Redeira arara com flores). 
 
É importante que haja a preservação do modo de fazer das redes, pois isso 
impedirá que aconteça a perda dos saberes. O modo de fazer a rede é um processo 
que envolve várias etapas, e cada etapa desse processo deve ser realizada com muita 
atenção e muito cuidado para que não haja erros, pois isso acarretaria o desmanche 
de toda a rede, fazendo com que a Redeira recomece todo o processo. 
 
4.5 ARTE AMEAÇADA 
 
O Brasil é um pais com uma ampla diversidade cultural e artística. A cultura e 
a arte são a maior herança que um povo pode deixar, uma das ameaças enfrentadas 
26 
 
 
 
 
pela cultura atualmente é a desvalorização cultural. Essa desvalorização decorre de 
vários fatores, como o fato de muitos exaltarem culturas de países estrangeiros e 
denegrirem sua própria cultura. 
 Em tempos onde há uma grande desvalorização da cultura é importante 
mostrar a dedicação e o empenho das “redeiras” em seguir no oficio de tecer, uma 
tarefa que não está sendo nada fácil. O preço é um fator que tem contribuído bastante 
para essa situação, pois muitas pessoas se encantam pelas redes, porem acham seu 
preço elevado demais. 
As redes e outros produtos feitos pelas redeiras são deixados por elas na casa 
do artesão, ao chegar lá o preço é elevado em torno 30% e uma rede de R$ 1.800 
pode chegar a custar cerca de R$ 2.300. 
Segundo Coradini (2006, P.171): 
A Casa do Artesão, mencionada tanto pelas artesãs tanto de Bom 
Sucesso como de Limpo Grande, desde dezembro de 2004, vem 
sendo administrada pelo Serviço Social do Comércio – SESC. 
Segundo informações concedidas pela gerente da casa, Alessandra 
Virna da Silva, o SESC manteve o mesmo sistema de comercialização 
do Estado. As artesãs deixam as redes em consignação, e o SESC, 
no momento da comercialização, coloca 30% sobre o preço de venda 
das artesãs. 
 
 Por esse motivo há redeiras que preferem vender seus produtos por conta 
própria, pois encontram mais facilidade para vender, visto que muitas vezes esperam 
meses para que uma de suas redes seja vendida na casa do artesão. 
Com isso muitas jovens da comunidade não querem aprender a tecer, pois 
acreditam que seu trabalho não será valorizado e assim buscam outros tipos de 
serviços. É em decorrência da desvalorização do trabalho das artesãs que vem 
diminuindo bastante o número de redeiras, estima-se que atualmente haja entre 10 a 
15 redeiras na comunidade, um número muito pequeno de redeiras se comparado a 
década de 90, onde em grande parte das casas na comunidade havia pelo menos 
uma pessoa que praticava a arte de tecer. 
 
27 
 
 
 
 
Figura nº 9- Placa informando venda de rede 
 
Fonte: Cintia Sacramento – 2018. 
 
5. TOMBAMENTO E REGISTRO 
O interesse pela preservação do patrimônio vem desde a época em que 
ocorreu a ll Guerra Mundial, onde durante a guerra os países envolvidos nesse conflito 
tiveram seus monumentos destruídos, causando uma perda irreparável para essas 
sociedades. No Brasil em 1937 foi criado o serviço do Patrimônio Histórico e Artístico 
Nacional - SPHAN, hoje conhecido como: instituto do Patrimônio Histórico e Artístico 
Nacional - IPHAN, que tem o intuito de proteger da especulação imobiliária e também 
das reformas urbanas monumentos e cidades antigas. 
 Porém tempos mais tarde essa ideia de preservação se consolidou em 1972 
com a criação da convenção para a proteção do patrimônio mundial, cultural e natural. 
A preservação dos patrimônios históricos e culturais são de grande importância para 
populações de determinadas localidade. E é um dever do estado preserva-lo, isso 
para que gerações futuras possam manter viva suas tradições e cultura. 
Segundo Rabello (2015. P.7): 
28 
 
 
 
 
O tombamento é a forma pela qual o poder público seleciona coisas - 
bens materiais que, por seus atributos culturais, devem ser 
preservadas contra mutilações e destruição; ou seja, coisas que, por 
serem portadoras de valor cultural, devem ser conservadas. 
 
Seguindo princípios legais, cabe ao estado o papel de avaliar a importância 
do bem, para que possa decretar a preservação do mesmo. O nome dado a esse 
procedimento utilizado pelo estado como instrumento para proteger o patrimônio é 
chamada de tombamento. Tombamento não é a mesma coisa que preservação, pois 
a preservação pode ocorrer sem que haja o tombamento, no entanto sem o 
tombamento não existe garantia permanente de preservação. A partir do tombamento 
a preservação do patrimônio passa a ser definitiva, visto que é a lei que vai impedir 
que esse patrimônio seja destruído. Podem ser tombados patrimônios materiais, de 
interesse mundial, nacional, estadual ou ainda local. O tombamento se aplica a bens 
culturais, ambientais, moveis e imóveis, para que haja um tombamento não há 
necessidade de desapropriação. Desde que seja preservado em caso de bens imóveis 
como prédios, essesbens podem ainda ser vendidos ou alugados. 
A solicitação de um tombamento pode partir de uma sociedade, entidade, de 
qualquer pessoa de direito público, de órgãos estaduais, municipais, entre outros, 
todavia para que se possa solicitar um tombamento esse pedido deve ser baseado 
nas justificativas. 
Diferente do tombamento que é realizado para patrimônios materiais, o 
registro é utilizado para patrimônios imateriais que são danças, o saber fazer, festas 
entre outros. Os registros podem ser de natureza: Municipal - Secretaria de Cultura 
do Município, Estadual - Secretaria de Cultura do Estado ou Federal (IPHAN) - 
Autarquia do Ministério da Cultura. 
Para que o patrimônio seja registrado pelo IPHAN é necessário passar por 
um longo processo que poderá levar anos até a sua conclusão. O interessado deverá 
entrar com um pedido de registro que será encaminhado para Brasília e só depois de 
analisado e comprovado a relevância do patrimônio a nível nacional, é que será feito 
o registro pelo IPHAN. 
29 
 
 
 
 
 A primeira fase do registro é o reconhecimento, nessa fase será realizada um 
levantamento para saber todos os locais do Brasil onde se realiza essa mesma prática 
(o modo de fazer as redes). Depois de aprovado o registro será elaborado um plano 
de salvaguarda. O plano de salvaguarda tem como objetivo garantir a existência do 
patrimônio imaterial registrado, são diretrizes para divulgação, continuidade do 
patrimônio seu objetivo é elaborar metas para que esse patrimônio não se acabe. 
A pesar do registro ser muito importante, ele não é uma garantia definitiva de 
que o bem será preservado definitivamente, pois a cada 10 anos os registros passam 
por uma análise em seu plano de salvaguarda, para saber se o plano está dando certo 
se está conseguindo alcançar seus objetivos, caso se passe os anos e o plano de 
salvaguarda não atinja seus objetivos, o registro pode deixar de existir. 
 
5.1. PROPOSTA DE REGISTRO DAS REDES CUIABANAS 
As “redes cuiabanas” da comunidade de Limpo grande são símbolo de uma 
tradição de mais de 100 anos. Tradição essa que vem a gerações passando pelas 
mãos das talentosas “artesãs” e que se encontra ameaçada devido à dificuldade em 
vender as redes e outros produtos e também pela falta de incentivos. 
Segundo Coradini (2006.P.175): 
 Muitas jovens, desmotivadas com a atividade da tecelagem, estão 
buscando no emprego assalariado uma saída, assim, o número de 
tecelãs tem diminuído, e se não houver um conjunto de ações 
compartilhadas entre as pessoas da comunidade com os órgãos 
públicos ou outras formas de parcerias a tendência é a diminuição 
cada vez maior dessa atividade importante para a identidade cultural 
do município de Várzea Grande e também do Estado de Mato Grosso. 
 
As redes são de beleza exuberante elas chamam atenção por seus bordados 
coloridos e principalmente por suas representações da fauna do Mato Grosso. A 
tecelagem é fundamental na cultura de Matogrossense e apesar de existirem 
produção de redes em vários locais do país, essa produção que aqui é realizada se 
destaca por sua forma diferenciada. 
 
30 
 
 
 
 
De acordo com Coradini (2006. P.150): 
Quando se está em Limpo Grande, o colorido das redes fascina. 
Escolher é difícil, porque todas são lindas! São feitas pelas habilidosas 
mãos das famosas artesãs que passam, todos os dias, horas e horas 
sentadas ao chão forrado por cobertor ou lençol, frente a grandes 
teares. 
 
As “redes cuiabanas” é um patrimônio pertencente a comunidade de Limpo 
Grande e se não protegido se perdera ao longo dos anos e é através da preservação 
do seu patrimônio que a comunidade terá acesso ao seu passado. Segundo Pedroso 
(1999.P 32) “Um povo que não tem raízes acaba se perdendo no meio da multidão. 
São exatamente nossas raízes culturais, familiares, sociais, que nos distinguem dos 
demais e nos dão uma identidade de povo, de nação”. São as raízes, costumes e 
cultura que formam a identidade de uma comunidade e o que as tornas diferentes de 
outas comunidades. 
As “redes cuiabanas” são patrimônio de natureza imaterial. Os patrimônios 
de natureza imaterial são protegidos pelo decreto nº 3.551 de 04 de agosto de 
2000.De acordo com esse decreto são patrimônios imateriais: os modos de fazer, 
saberes, as festas populares, lendas tradições, produções artísticas, etc. 
É o valor cultural que será o principal motivo para que haja o registro do 
patrimônio. Por isso é importante o resgate das raízes culturais no meio da 
comunidade. 
A perca dos valores culturais e das raízes, é um fato muito preocupante e que 
não pode passar despercebido, por isso é importante que se preserve a cultura da 
comunidade de Limpo Grande e para que isso ocorra se faz necessário realizar o 
registro das “redes cuiabanas” de Limpo Grande, pois é a partir do registro que passa 
a ter a proteção legal de um patrimônio. 
A rede de dormir possui um grande valor de representatividade cultural da 
comunidade de Limpo Grande, por isso propor o tombamento das redes envolve 
vários fatores. De acordo com Magno (2010, P.82) “as artesãs precisam de uma maior 
atenção, no sentido de divulgação de seus trabalhos, pois é dele que buscam garantir 
seu sustento e divulgar essa cultura. 
31 
 
 
 
 
Com o registro das redes haverá uma grande valorização dessa tradição, pois 
a mesma está se perdendo pela falta de valorização dessa arte. Outro fator importante 
na hora de se pensar o registro das redes e o modo como elas são feitas, pois 
sabemos que em vários locais do país se fazem redes, porem com técnicas diferentes. 
As técnicas aqui utilizadas para se fazer as redes, são técnicas muito antiga, assim 
como os teares verticais utilizados. 
Segundo Magno (2010, P.63): 
Dessa forma, ao analisar o processo artesanal da rede de dormir na 
localidade de Limpo Grande devem-se observar primeiramente as 
pessoas que tecem esse produto, pois são mulheres simples, com 
sensibilidade e paciência à flor da pele, que na maioria das vezes 
retratam sua personalidade nas redes de dormir. 
 
Quando observamos as redes, podemos ver que elas não exaltam somente 
a belezas da natureza mato-grossense, os símbolos que são representados buscam 
nas entrelinhas conscientizar a população para preservação do nosso ambiente 
natural. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
32 
 
 
 
 
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Os grupos sociais, comunidades produzem marcas ao longo dos anos e isso 
as identifica de forma individual e também coletiva, por isso em todos os lugares há 
uma tradição ou um modo de viver que foi constituído ao longo do tempo, por pessoas 
que habitavam e habitam o local. 
Os lugares não são apenas identificados pelas memórias do local, mas 
também por sua culinária, danças, festas e várias outras representações significativas 
para a comunidade. São as características que formam a identidade cultural de uma 
sociedade ou comunidade e é importante preservar essa identidade. 
Nesse trabalho foi relatado a importância da preservação do patrimônio, onde 
o grande foco foi o patrimônio imaterial. A falta de preservação do patrimônio imaterial 
é um fator que preocupa muito, pois, mesmo a legislação do Brasil sendo de boa 
qualidade ela não é suficiente para garantir a preservação permanente dessa 
categoria de patrimônio, visto que o registro que é utilizado como forma de proteção 
dos patrimônios imateriais, passa por uma analise a cada 10 anos, e dependendo do 
resultado da análise o registro pode deixar de existir. Um dos principais objetivos 
quando se pensa no registro das redes cuiabanas é divulgar e reconhecer o trabalho 
das redeiras assim como preservar esse patrimônio. 
As redes cuiabanas retratam as belezas da flora e da fauna mato-grossense, 
e isso é muito importante para a cultura local, tendo em vista que é através da 
valorização que mantemos a cultura viva, pois em locais onde não háessa valorização 
a cultura acaba se extinguindo ao longo do tempo, fazendo com que se perca parte 
da história do local. 
Com esse trabalho conclui-se que não existe uma garantia permanente de 
preservação dos patrimônios imateriais, e mais, para que se possa conseguir registrar 
um patrimônio há um longo processo que pode levar anos. 
 
 
 
33 
 
 
 
 
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APÊNDICE 
 
ANEXO

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