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Marisa Eugênia Melillo Meira e Mitsuko Aparecida Makino Antunes Organizadoras PSICOLOGIA ESCOLAR: PRÁTICAS CRÍTICAS AUTORAS Adriana Marcondes Machado Elenita de Rício Tanamachi Marisa Eugênia Melillo Meira Mitsuko Aparecida Makino Antunes Veruska Galdini Wanda Maria Junqueira Aguiar Associação Unificada Pauiista de Ensino Roncvado Objeíjyo - ASSUPERO Data N° de Vdunio N° de Chamada vrv S'4P Registrado por Í'U4*K( i(X-YlíV f ,Casa do Psicólogo® 1 © 2003 Casa do Psicólogo Livraria e Editora Ltda. É proibida a reprodução total ou parcial desta publicação, para qualquer finalidai sem autorização por escrito dos editores. Ia edição 2003 Editores Ingo Bemd Güntert e Silésia Delphino Produção Gráfica Renata Vieira Nunes Capa Willian Eduardo Nahme Revisão Leila Marco Editoração Eletrônica Valquíria Kloss Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Psicologia escolar: Práticas críticas / Marisa Eugênia Melillo Meira e Mitsuko Aparecida Makino Antunes, organizadoras. — São Paulo: Casa do Psicólogo®, 2003. Vários autores. Bibliografia. ISBN 85-7396-282-8 1. Psicologia educacional I. Meira, Marisa Eugênia Melillo. II. Antunes, Mitsuko Aparecida Makino. 03-6727 CDD-370.15 índices para catálogo sistemático: Psicologia escolar 370.15 Impresso no Brasil Printed in Brazil Reservados todos os direitos de publicação em Língua Portuguesa à ^s£ Casa do Psicólogo® Livraria e Editora Ltda. g!^^ Rua Mourato Coelho, 1.059 - Vila Madalena - 05417-011 - São Paulo/SP - Brasil ^fep Tel.: (11) 3034-3600 - E-mail: casadopsicologo@casadopsicologo.com.br ^ Site: www.casadopsicologo.com.br SUMÁRIO Apresentação......................................................................................7 Marisa Eugênia Melo Meira Mitsuko Aparecida Makino Antunes A Atuação do Psicólogo como Expressão do Pensamento Crítico em Psicologia e Educação........................................................... 11 Elenitade RícioTanamachi Marisa Eugênia Melillo Meira Os psicólogos trabalhando com a escola: intervenção a serviço do quê?.........................................................................................63 Adriana Marcondes Machado Intervenção junto a professores da rede pública: potencializando a produção de novos sentidos....................................................87 VeruskaGaldini Wanda Maria Junqueira Aguiar A Psicologia Escolar na implementação do Projeto Político-Pedagógico da Rede Municipal de Ensino de Guarulhos: construindo um trabalho coletivo..........................................105 Mitsuko Aparecida Makino Antunes e colaboradores Sobre os autores.............................................................................129 »:., APRESENTAÇÃO A Psicologia da Educação constituiu-se, no início do século, como uma área de conhecimentos que se propunha a estudar questões importantes que interessavam à educação escolar, e, só na década de 1940, tornou-se uma prática profissional, o que propiciou o surgimento do psicólogo escolar, cuja função seria a de resolver problemas escolares. Desde então, a educação tem se constituído no campo profissional para uma parcela considerável de psicólogos e, de acordo com pesquisa realizada pelo Conselho Federal de Psicologia em 1992, depois da clínica (37,2%) e organizacional (29,6%), ela já é a área de atuação no Brasil que mais absorve profissionais (24,4%). No entanto, isso não significa que já tenhamos reunido elementos teórico-metodológicos suficientes e adequados à consolidação de práticas profissionais competentes. Ao contrário, a análise da literatura disponível indica que no Brasil a maneira como se conduziu o processo de atuação e produção de conhecimentos na área tem sido alvo de sérias críticas que, principalmente a partir da década de 1980, têm se tornado, cada vez mais, contundentes. Todo esse movimento de crítica, gerado pela reflexão sobre a insuficiência das práticas desenvolvidas em nossos meios, bem como dos quadros conceituais sobre os quais elas vêm se sustentando historicamente, tem oferecido importantes subsídios tanto no sentido de desvelar os determinantes sociais e históricos que conformam o (des)encontro entre a Psicologia e a Educação quanto no sentido de reafirmar a possibilidade da construção de perspectivas mais adequadas. 8 MARIA EUGÊNIA MEI.ILLO MEIRA E MITSUKO APARECIDA MAKINO ANTUNES A análise do conjunto das principais críticas dirigidas à Psicologia Escolar parece indicar que ela acabou por se reduzir a uma Psicologia do Escolar, descomprometida em relação às questões fur.i.-mentais da Educação e à necessidade de efetivação de um proce?>. de democratização educacional. Ao se distanciar desse objetivo, os psicólogos têm muitas ve se limitado a atuar em direção a questões secundárias que, na m£ lhor das hipóteses, são apenas algumas manifestações de probleraa»-escolares e sociais graves e complexos. O processo de culpabilização do aluno, pela via da patologiz dos problemas escolares, tem se fundamentado ao longo de n história em variadas abordagens teóricas, que por diferentes carrr- nhos, expressam a mesma desconsideração pelas múltiplas deterrc-nações da educação. Acreditamos ser fundamental a denúncia dos compromissos ideológicos da Psicologia Escolar que se expressa claramente em uir-tendência histórica de se colocar a serviço, das mais diferentes formas, da conservação tanto da estrutura tradicional da escola quão» da ordem social na qual ela está inserida. O trabalho que ora apresentamos constitui-se em mais uma tentativa na direção não apenas desta denúncia, mas ainda da construção de novas possibilidades de reflexão crítica que possam subsidia: os psicólogos escolares de forma que eles possam contribuir, de maneira decisiva, nos mais diferentes campos de atuação, para que sejam favorecidos os processos de humanização e reapropriação d* capacidade de pensamento crítico dos indivíduos. Os autores, docentes e pesquisadores do Departamento de Psicologia da Universidade Estadual Paulista (UNESP-Bauru), do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP) e da Faculdade de Psicologia e do Programa de Estudos Pós-graduados em Psicologia da Educação da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP), buscam evidenciar e colocar em discussão algumas expressões possíveis de uma prática baseada numa concepção crítica de Psicologia Escolar, fundada em um novo compromisso social da Psicologia. APRESENTAÇÃO O trabalho de Marisa Eugênia Melillo Meira e Elenita de Rício, :as da Unesp-Bauru, aponta algumas possibilidades de interven-.'-'.. que se constituem em expressões concretas do pensamento crí--: já construído em Psicologia e Educação e indicam caminhos : _rá que os psicólogos escolares possam ajudar a escola a cumprir _.; função social de socialização do conhecimento historicamente — -mulado e contribuir para a formação ética e política dos sujeitos. Essas reflexões buscam situar o psicólogo escolar como mediador -.? processo de elaboração das condições necessárias para a trans-rormação das demandas de queixa escolar e daquelas provenientes ias instituições de ensino, discutindo o referencial teórico-filosófico e metodológico que embasa o trabalho desenvolvido em disciplinas teóricas, na supervisão de estágios e em inúmeros projetos de extensão. O texto ainda apresenta a sistemática de trabalho e as estratégias utilizadas na intervenção em casos de crianças encaminhadas para atendimento em função de queixas escolares e era projetos desenvolvidos em instituições de ensino. Wanda Maria Junqueira Aguiar e Veruska Galdini, da PUC-SP, enfocam a intervenção junto a professores da rede pública de ensino, analisando uma experiência realizada em São Paulo. Destaca os pressupostos teórico-metodológicos e as etapas do trabalho, evidenciandoque a Psicologia sócio-histórica pode contribuir para a produção de novos sentidos ao trabalho docente, já que possibilita que os sujeitos se apropriem e articulem a dimensão histórica, social e institucional; a dimensão subjetiva de sua existência (ou seja, as determinações que os constituem) e as características específicas da realidade do professor. Esse é o movimento de potencialização para que o professor construa um projeto profissional criativo. O texto de Adriana Marcondes Machado, do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IPUSP), analisa a intervenção do psicólogo junto à escola, buscando destacar como os saberes da psicologia podem estar a serviço de uma melhor qualidade de ensino e aprendizagem. Para a autora, focar essas políticas e essas práticas implica buscarmos o funcionamento das mesmas na singularidade de 1 O MARIA EUGÊNIA MELILLO MEIRA E MITSUKO APARECIDA MAKINO ANTUNES cada história escolar, de cada aluno que fracassa, de cada quer apresentada por um professor. Trata-se de compreender o mov mento de um campo de forças no qual devemos nos colocar a serv" ço do fortalecimento da aprendizagem e da permanência da cri; na escola. Um outro trabalho, organizado por Mitsuko Aparecida Ma Antunes, docente da PUC-SP e assessora da Secretaria Munici de Educação de Guarulhos/SP, foi escrito, em verdade, por mui profissionais desta secretaria, que fizeram um esforço coletivo socializar sua prática. Com a finalidade de apresentar as possibili des de atuação da Psicologia Escolar na educação pública, esse tes to descreve as ações que têm sido implementadas no âmbito da cação infantil, fundamental, inclusiva de jovens e adultos, em que Psicologia é um dos fundamentos para a prática educacional e psicólogo participa coletivamente do processo de construção e ' plantação de um projeto político-pedagógico, cuja finalidade é fun mentalmente calcada numa concepção crítica, humanizadora transformadora da realidade escolar e social. A palavra-chave de trabalho é "coletividade": propõe uma ação coletiva para a transf mação da escola; crê que isso só ocorrerá como produto da ação coletividade escolar e foi escrito coletivamente. Consideramos que estes trabalhos oferecem contribuições construção de perspectivas teórico- práticas que se constituam elementos norteadores fundamentais, embora não suficientes, para adoção de um compromisso social com a cidadania, a ser concr zado em propostas de atuação orientadas por finalidad transformadoras. Marisa Eugênia Melillo Aíei Mitsuko Aparecida Makino Ant São Paulo, setembro de 2 A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO COMO EXPRESSÃO DO PENSAMENTO CRÍTICO EM PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO Elenita de Ricio Tanamachi Marisa Eugênia Melillo Meira O objetivo deste texto é o de apontar algumas possibilidades de intervenção concretamente já elaboradas pelas autoras e que se constituem em expressões do pensamento crítico já construído em Psicologia e Educação. A Psicologia Escolar é aqui entendida: Como área de estudo da Psicologia e de atuação/ formação profissional do psicólogo, que tem no contexto educacional — escolar ou extra-escolar, mas a ele relacionado - o foco de sua atenção, e na revisão crítica dos conhecimentos acumulados pela Psicologia como ciência, pela Pedagogia e pela Filosofia da Educação, a possibilidade de contribuir para a superação das indefinições teórico-práticas que ainda se colocam nas relações entre a Psicologia e a Educação (Tanamachi, 2002, p. 85). Desta forma, o que define um psicólogo escolar não é o seu local de trabalho, mas o seu compromisso teórico e prático com as questões da escola. Defendemos que: O melhor lugar para o psicólogo escolar é o lugar possível, seja dentro ou fora de uma instituição, desde 12 ELENTTA DE RÍCIO TANAMACHI E MABIS A EUGENIA MELILLO MEIRA que ele se coloque dentro da educação e assuma um. compromisso teórico e prático com as questões da es Ia, já que independente do espaço profissional que poisa estar ocupando, ela deve se constituir no foco principal de sua reflexão, ou seja, é do trabalho que se desenvolve em seu interior que emergem as grandes questões para as quais deve buscar tanto os recurso: explicativos, quanto os recursos metodológicos que possam orientar sua ação (Meira, 2000, p. 36). Considerando a existência de distintas referências teórico-filo-sóficas e metodológicas iniciaremos o texto com a discussão de algumas das principais questões teórico-práticas da Psicologia na educação em uma perspectiva crítica. Para tanto, apresentaremos as questões mais propriamente tec -ricas da Psicologia na Educação, analisando as explicações tradick -nais sobre o fracasso escolar e as tendências atuais do pensamen-. crítico em Psicologia Escolar, defendendo que o momento atual exige uma revisão dos pressupostos teórico-filosóficos e metodologia - sobre o homem em geral, a formação do indivíduo, as concepções de Educação e de Psicologia - e a delimitação de um novo sentido para a Psicologia Escolar. Em seguida, apresentaremos algumas reflexões enfocando a> possibilidades teórico-críticas de intervenção do psicólogo junto à demanda de queixa escolar e em instituições de ensino. Discutiremos a atuação em Psicologia Escolar, anunciando um novo lugar para o psicólogo, buscando delimitar os elementos da avaliação e da intervenção, as estratégias mais utilizadas e os resultad possíveis. Embora considerando que tanto no caso da intervenção junto demanda de queixa escolar, quanto em instituições de ensino as qu toes teórico-práticas envolvidas e as etapas do trabalho sejam as m mas, em cada um desses momentos de apresentação no text retornamos a elas, ao mesmo tempo que destacamos as especificidad a eles pertinentes. Além disso, para permitir uma compreensão mais A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO COMO EXPRESSÃO DO PENSAMENTO ... 13 ampla do que estamos considerando como atuação do psicólogo escolar em uma perspectiva crítica, enfocamos, principalmente na segunda parte, um exemplo de encaminhamento de ação junto à demanda de queixa escolar e, na terceira parte, a metodologia e a sistemática empregada no trabalho em instituições de ensino. Os fundamentos teóri-eo-filosóficos são retomados em ambas. 1. PRINCIPAIS QUESTÕES TEÓRICO-PRÁTICAS DA PSICOLOGIA NA EDUCAÇÃO Para apresentar as principais questões teórico-práticas da Psicologia na Educação, iniciamos com a análise das explicações tradicionais sobre o fracasso escolar, considerando tanto a realidade educacional brasileira quanto a história da Psicologia em relação ao movimento de constituição da sociedade, da Educação e da própria Psicologia como ciência. Análise crítica das abordagens tradicionais em Psicologia Escolar Dados obtidos por pesquisas realizadas sobre o processo de escolarização no Brasil1 revelam ausência de escola para todos, evasão ou permanência sem nada aprender (expulsão/exclusão), índices altos de analfabetismo, mostrando que a impossibilidade de constituição da condição humana pela via da educação formal é ainda uma realidade em nosso País. Situando a história da Psicologia em relação ao movimento de constituição da sociedade, da Educação e da própria Psicologia como ciência, Maria Helena Patto (1990) aponta-nos como a Psicologia tem contribuído para justificar essa realidade educacional. 1 IBGE (2001), Otaviano Helene (1997) e Alceu Ferraro (1999). 14 ELENITA DE RÍCIO TANAMACHI E MAÍUSA EUGÊNIA MELELLO MEIKA A autora reporta-se ao século XIX para assinalar o mo qual a contradição vivida pela burguesia atinge o apogeu, i cando-se o abismo entre a acumulação de riquezas e as conquistas do proletariado que, segregado pela burguesia, : mais seu aliado. Buscar justificar tal abismo é também uma das ciências humanas que nascem e se oficializam nesse per - Conforme Patto (1990, p. 17), a burguesia traduz as reh ções das massasem termos assimiláveis pela ordem social e.v com o auxílio das ciências. Esse é o caminho mais eficaz para tir uma participação política, sem que tais reivindicações se ameaças incontroláveis. Desse modo, a Psicologia, para explicar os ajustes da social capitalista em função das exigências dos novos momen tóricos de sua recomposição, tem transitado entre teorias e gens que nada mais são do que recursos da Psicologia como c para a reordenação do status quo da própria sociedade, da Fil da Sociologia... Podemos concluir com a autora que, tendo surgido nesse do, a Psicologia mantém-se até o momento presente, he nicamente, reproduzindo essa condição, conforme o quadro a >■-permite visualizar2. Embora reconhecendo a forma extremamente simplificada apresentação dos dados contidos no quadro3, é possível ideni que a heterogeneidade por ele revelada é apenas aparente. Co ramos ser esta a expressão do pensamento de Patto (1990), q afirma que embora por caminhos teórico- práticos diferentes, a 2 O quadro busca sistematizar, ainda que de modo bastante esquemático, algut» aspectos que caracterizam, principalmente, as relações entre o movimento político, a concepção teórica e a abordagem presente em cada um dos moment: movimento, os procedimentos, os tratamentos, os termos de referência e onc\ situada a origem do problema em cada caso. Embora simplificado e inac^r preferimos o quadro porque nos permite melhor visualizar o desenvolvimer:; Psicologia na Educação, em relação com o contexto de nossa sociedade. 3 Os dados contidos no quadro foram obtidos por meio da leitura de textos de Níx Helena Souza Patto (1990), Newton Duarte (1996) e troca de idéias entre as auto-s Marilene Proenca. I A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO COMO EXPRESSÃO DO PENSAMENTO ... 15 cologia em suas relações com a Educação tem sido conduzida por finalidades semelhantes. Referenda o status quo da Educação e da própria Psicologia como ciência, por meio da ênfase em aspectos particulares dos indivíduos, das famílias ou do meio sociocultural que caracterizam a maioria de suas explicações. Neste caso, a única pergunta possível ao psicólogo refere-se a "porque os indivíduos não aprendem", apontando para uma ausência de compromisso da Psicologia com a condição multideterminada das circunstâncias nas quais os indivíduos se humanizam. Tendências atuais do pensamento crítico em Psicologia Escolar A visão tradicional e hegemônica da Psicologia na Educação acima apresentada, passou a ser sistematicamente denunciada no Brasil, a partir da década de 1980, momento no qual se consolida uma postura crítica em relação à identidade e à função social do psicólogo escolar. Tendo como uma das principais referências o texto de Maria Helena Patto (1984), o movimento de crítica pauta-se, nesse momento, pela constatação e denúncia dos pressupostos teóri-co- práticos da Psicologia e da Educação e pelo diagnóstico e análise crítica da história da Psicologia na Educação, enfatizando concepções progressistas e o trabalho coletivo, entre outros. A década de 19904 assinala um período privilegiado desse movimento, marcado pela tentativa de descrever, explicitar, construir/ propor respostas que traduzem em ações as tendências apontadas na década anterior. Na atualidade, verificamos que, apesar de persistirem as tendências já assinaladas, têm ocorrido várias tentativas de retorno às 4 Para uma análise das tendências atuais do pensamento crítico em Psicologia Escolar, pode-se consultar textos das autoras, publicados no ano de 2000 no livro Psicologia e Educação: desafios teórico-práticos, organizado em conjunto com as professoras Marilene Proença e Marisa Rocha. ■fáüà Ifc Movimento Concepção Abordagem Procedimentos Tratamento Termo de Origem do Por que a teórico e teórica referência problema criança nao político aprende? Darwinismo Teoria do Psicomoteria Testes de Aptidão Educação Criança No indivíduo Hereditariedade social Dom ou das e Personalidade Especial anormal (determinantes (consolidação da Aptidões heredológicos) sociedade Individuais capitalista) Movimento Ambienlalismo Clínica - Psicodiagnóstico Psicoterapia/ Criança - Ambiente Fatores Higienista (Psicanálise x e (observação/ Orientação problema familiar emocionais (família Behaviorismo) Modificação entrevista/história Familiar e desajustado ou controle idealizada) do Comporta- de vida) Escolar - Na criança e inadequado do mento - Condicionar comportamentos adequados e eliminar inadequados seus relacionamentos (determinantes da personalidade) comportamento Movimento de Organicismo Organicista Exame Neurológico Medicação/ Criança com Disfunção Fatores Saúde Escolar (alteração na e Terapias de distúrbio de cerebral orgânicos ordem natural da aprendizagem por anormalidades neurais) Eletroencefalograma reeducação aprendizaget r (determinantes neuropsicológicos) '**• m& ivcvfêaU» Reivindicações de minorias raciais e étnicas nos EUA (acordos de cooperação Brasil x EUA) Interacionismo Teoria da privação/ carência cultural lestes de Aptidão e Personalidade, Psicodiagnóstico ou Modificação de Comportamento Liducuçáo Compensatória (merenda/ estimulação precoce/ antecipação da escolaridade / programas especiais para crianças carentes) Criança carente/ deficiente ou diferente 1 >clei iiinmnlrs sociais e culturais (nível sócio-econômi- co) AN|K'1 IO'. socioculluiais Mundiali/.ação (Neoliberalismo PÓN- Modemidiide) Inatismo, Anibienlalisino, Inlrracionisnío/ ('onslrulivismo Socioconslrutivista, Sociointcracionisla, Socioinleracionisino Conslnilivisla, Coiislnilivisinn IVlS PiilgCliilllO - Aplicação de provas para avaliar desenvolvimento/ capacidade da criança Avaliaçfio de condições do ambiente - Aguardar maturação física das funções intelectuais Preparação de umhiente favorável à aprendizagem Criança imatura No processo de desenvolvimento do indivíduo em contato com o meio adequado - Não atingiu maturidade suficiente - Ausência de ambiente facilitador 1 8 ELEXIT A DE Rício TAN AMACHI E MARIS A EUGÊNIA MELILLO MEIRA concepções tradicionais, que acabam sendo incorporadas ao d" so das concepções defendidas pelo movimento de crítica, como ? o caso por exemplo das aproximações entre as teorias de Piage Vigotski, estudadas por Duarte (1996, 2000). Assim compreendidas, essas tendências atuais do pensa em Psicologia e Educação, podem reafirmar, neste início de séc movimento de recomposição das justificativas da ciência psicoló, e pedagógica para a manutenção da realidade educacional no texto da sociedade mais ampla, quadro semelhante ao já denunc por Patto (1984). Deixando de se posicionar diante das dimensões ontológi epistemológica e lógica do conhecimento, o retorno às explicaçê tradicionais, encoberto por meio de uma nova linguagem, prepara cenário ideológico propício às mudanças para adaptar o já existe ao novo momento histórico social, sem que seja necessário que;" nar as finalidades da organização social, da produção do conh mento e dos próprios indivíduos. Neste contexto, a tese aqui defendida refere-se ao rompinr com estas tendências, tanto por meio da explicitação de fundam tos teórico-filosóficos e metodológicos que permitam discutir fin dades histórico-sociais concretas, quanto pela ênfase em referen ainda pouco explorado como alternativo à superação dos conh mentos elaborados pela Psicologia em relação à Educação. Uma concepção crítica de Psicologia Escolar Tomamos como referência teórico-filosófica e metodológica, o conjunto de elaborações da Psicologia, efetivados a partir do Ma-terialismo Histórico Dialético, enfocando as categorias que têm implicações imediatas para a compreensão do processo de humanizaçãc dos indivíduos no contexto sociohistórico atual.No nível da análise sobre o homem em geral desenvolvida por Marx, destacamos o trabalho como atividade vital por meio do qual o A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO COMO EXPRESSÃO DO PENSAMENTO ... 19 homem se relaciona com a natureza e com os outros homens, criando as condições para a produção e reprodução da humanidade; o caráter material e histórico do desenvolvimento humano que permite compreender as relações de produção como determinantes da forma e do conteúdo das relações entre os homens e, finalmente, a lógica dialética, cujas categorias centrais - contradição, totalidade, particularidade..., viabilizam o conhecimento e a interpretação da realidade, considerando a origem multideterminada e contraditória dos fenômenos, apreendendo-os em sua dinâmica horizontal (sua história de desenvolvimento) e vertical (articulação entre aparência e essência). Como a concepção Materialista Histórico Dialética foi gestada visando à análise crítica da sociedade capitalista, ela veicula, para além de um visão de homem e de sociedade, uma concepção ética. Implica a responsabilidade de se construir uma nova ordem social, capaz de assegurar a todos os homens um presente e um futuro dignos. Exige compromisso pessoal e com a construção de um conhecimento científico capaz de contribuir para que o homem se objetive de forma social e consciente, tornando-se, cada vez mais, livre e universal. A finalidade explícita é o compromisso ético-políti-co com a emancipação humana, estando, portanto, presentes as dimensões ontológica - formação do ser dentro de determinadas circunstâncias sociohistóricas, epistemológica - como se conhece esse processo e a dimensão lógica - lógica inerente a essa peculiaridade e que precisa ser apropriada. Nesse sentido, concordamos que a concepção científica sobre o homem em geral, na visão de Marx, pode dar sustentação aos estudos sobre a individualidade/subjetividade, uma tarefa para a Psicologia, assumida por Sève (1979), Vigotski (1996), Leontiev (1978), entre outros. No nível da formação da individualidade, enfocamos os fundamentos da concepção histórico- social do ser humano, tal como propõe Leontiev (1978), no texto "O homem e a cultura". Ao explicitar o momento de constituição da natureza social do homem, o autor 2 0 ELENTT A DE RÍCIO T ANAMACHI E MAEIS A EUGÊNIA MELTLLO MEIRA explica como se dá o processo de apropriação das objetivações mano-genéricas que permite a objetivação do indivíduo, o lugar comunicação e da educação (em geral e escolar) nesse proces sem deixar de considerar que tudo isso ocorre em uma determin circunstância, no caso, a sociedade capitalista que tem a aliena, como uma de suas marcas. Como não há unidade no referido p cesso de apropriação, porque esta forma de organização social caracterizada por diferenças nas condições de vida (fruto da de-gualdade econômica, de classe e de relação com as aquisiçc sociohistóricas), a constituição da individualidade está condicion à superação do processo de alienação. " Discutindo a alienação econômica e cultural, o autor aponta e mentos progressistas e reacionários da cultura intelectual, ou seja. elementos que servem ao desenvolvimento da humanidade e aque que servem ao interesse das classes no poder. Explicita, finalmen a ruptura entre as gigantescas possibilidades desenvolvidas pelo nero humano e a pobreza e estreiteza que cabe aos homens indivi almente como a contradição que caracteriza a sociedade capitali Defende que essa situação não é eterna porque não o são as re ções socioeconômicas que lhes dão origem, colocando a superaç dessa realidade como uma possibilidade no contexto atual. Concluímos, a partir da análise do autor, que a superação alienação só se constitui uma possibilidade quando a compreen mos por contradição (porque o que os indivíduos precisam para d se libertar está no mesmo contexto que a provoca), quando consi ramos a historicidade dos fatos humanos e quando podemos ent der para transformar as circunstâncias. Além disso, é preciso con derar tanto um processo de educação para permitir a humaniza, (que implica compromisso com a superação da alienação), qu uma concepção de Psicologia que possa dar sustentação, no que ela compete como ciência, a esse processo de educação. Em relação à Educação, encontramos na Concepção Históri crítica de Saviani (2000) a explicitação de finalidades transformado para a Educação e para a Psicologia. A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO COMO EXPRESSÃO DO PENSAMENTO ... 21 Ao discutir as finalidades da educação escolar, destaca o caráter conservador e ao mesmo tempo contraditório do projeto burguês de escola, pensando por contradição tanto as relações da escola com a sociedade, quanto a função da escola e os temas relativos ao processo educativo (conteúdos, métodos, relação professor/aluno). Toma o processo de democratização da educação no sentido formal e substancial, defendendo a garantia de acesso e permanência na escola, como uma condição de humanização no sentido da "onilateralidade"5. O autor permite apresentar, como elementos que garantam a transformação da escola em instrumento de emancipação: • a natureza e a especificidade do trabalho da escola, enfatizando a seleção e organização dos conteúdos com base no saber universal (clássico/erudito), o movimento de continuidade (com aquilo que o aluno já sabe) e ruptura (quando o professor apresenta, introduz novos conhecimentos) e a discussão sobre as práticas diárias (o que/ como/para que fazer, a fim de garantir a transformação a partir da educação escolar); • a competência técnico-pedagógica do professor para selecionar os conteúdos e os procedimentos de ensino e o compromisso político com os pressupostos e as finalidades de emancipação; • o lugar do professor como coordenador da ação educativa e o trabalho coletivo; • a compreensão da escola como um local, ao mesmo tempo, conservador e revolucionário que difunde a cultura, que é ao mesmo tempo fictícia e verdadeira. As práticas pedagógicas imprescindíveis a uma educação escolar emancipatória, enfocadas por Giroux (1986), acrescentam aspectos importantes a respeito da natureza ativa da participação dos alunos e dos professores no espaço da educação escolar. Propondo o professor como mediador entre os alunos e o conhecimento e o conhecimento como mediação entre os que aprendem, o autor anuncia que as relações em sala de aula devem garantir a aprendizagem 5 Para aprofundar essa discussão, ler Manacorda (1989). 2 2 ELENTTA DE RÍCIO TANAMACHI E MARISA EUGÊNIA MELILLO MEIRA do pensamento crítico. Professores e alunos devem ir além do ocínio fragmentado, buscando a origem do conhecimento para : mitir a autoria dos próprios atos. Devem aprender porque certos lores são imprescindíveis à vida humana, indignando-se diante forças contrarias à qualidade da existência humana, despei paixão e otimismo em relação às possibilidades de um mundo lhor. Conforme Suchodolski (1984), o processo de formação gera. específica dos indivíduos deve levá-los aresponsabiüzar-se pela formação da realidade sociohistórica atual. Ainda discutindo o espaço específico - e possível nas circ tâncias atuais - da escola no processo de transformação da so ' de, Pucci (1995) sinaliza na direção da construção de uma comprometida com a transformação humana e social, destacan • a educação das consciências, para que os indivíduos pos~ tomar distância do material a ser interpretado, ao mesmo te apreendendo no hiato entre um presente e um futuro radicalm diferentes, as contradições a serem superadas por ação individ' e social; • a necessidade de romper com a autoconfiança e a auto-s; facão do senso comum para resistir/superar o estado estabele das coisas, indignando-se com a realidade; • o restabelecimento das condições de autonomia, liberdade consciência dos indivíduos, trabalhando com o conhecimentonec sário ao rompimento da consciência domesticada pela via da fo ção cultural; • a importância da conscientização dos mecanismos subjetiv da dominação e dos motivos que levam a ela, para que a submis" se torne insuportável e o desejo de viver melhor tome conta indivíduos. Neste contexto, consideramos juntamente com Sève (197 Duarte (1993) e Vigotski (1996) que cabe à Psicologia oferecer s sídios para o desenvolvimento de uma concepção científica do indiv duo, entendido como síntese da história social da humanidade, cujo desenvolvimento deve conscientemente participar para asseg A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO COMO EXPRESSÃO DO PENSAMENTO ... 2 3 :ÍT sua emancipação. Trata-se de tomar como tarefa também da Psicologia o estabelecimento de mediações entre o desenvolvimento Mítórico-social da humanidade e a vida particular dos indivíduos. E se no momento atual as relações entre os homens têm favorecido a alienação, deve-se ressaltar que estas mediações teóricas não podem apenas explicar como e porque os indivíduos agem ou são de uma ou de outra maneira, mas deverão também buscar responder como e porque os indivíduos podem vir a agir ou tornarem-se seres emancipados. A concepção de Psicologia de Vigotski6 (1996,1998,2000,2001) enfrenta esse desafio, marcada por princípios que caracterizam a elaboração de estudos da Psicologia, desenvolvidos a partir do Ma-terialismo Histórico Dialético. Entendendo-a como ciência que se propõe a explicar como a partir do mundo objetivo (que é histórica e socialmente determinado) se constrói o mundo subjetivo do indivíduo, Vigotski e os demais autores citados acima explicitam tanto a concepção filosófico-metodológica que embasa as análises da Psicologia, quanto os procedimentos e as funções de tal conhecimento; não reduzem "o pensamento e a ação humana a determinações do psiquismo individual", não partem, portanto, "de um errôneo primado ontológico do indivíduo", mas das relações sociais para chegar à "biografia" do indivíduo e retornar ao social; não reduzem o conceito de indivíduo à descrição das características de indivíduos em geral (indivíduos empíricos)7. O projeto principal de Vigotski (1996) constituiu-se no estudo dos processos de transformação do desenvolvimento humano em 6 Aqui fizemos um recorte no interior da Psicologia Soviética, para situar as contribuições de Vigotski, que estudou principalmente aqueles temas que nos permitem aproximar a Psicologia da Educação. Entre outros, poderíamos ainda buscar as contribuições de Alexander Romanovich Luria e de Alexei Nicolaevich Leontiev e de outros representantes da Psicologia Soviética, tais como Zinchenko, Petroviski, Davidov, Andréeva, conforme indicação de Marta Shuare (1990). 7 Para análise dos princípios que caracterizam os estudos da Psicologia, desenvolvidos a partir do Materialismo Histórico Dialético, consultar as fontes utilizadas para as citações, além dos textos de Lucien Sève - Marxismo e a Teoria da Personalidade (1979) e do texto de Newton Duarte - A Individualidade para-si (1993). 24 ELENITA DE Ricio TAN AMACHI E MARISA EUGÊNIA MELILLO MEIRA sua dimensão filogenética, histórico-social e ontongenética, do chegar até à dimensão micro- genética - formação e maniit ção de determinado processo psicológico. Priorizou as funçõeí cológicas superiores - controle consciente do comportamen ção/pensamento abstrato/capacidade de planejamento, as mu qualitativas do comportamento, a educação em geral e escolar seu papel no desenvolvimento. A finalidade de seu trabalhe redefinir o método de compreensão do fenômeno humano, para cobrir o meio pelo qual a natureza social se torna a psicológici indivíduos. Para tanto, destaca o cérebro como órgão material da ativi^ mental, que também se adapta às transformações no meio físi social; o processo de internalização que permite a apropriaç~ conceitos, valores e significados, a partir da atividade cognitiva consciência em relação à atividade externa; o conceito de medi , possível por meio dos sistemas simbólicos que representam a r dade (instrumentos e linguagem, que regulam as ações sobre os jetos e sobre o psiquismo respectivamente). Conclui que os pr sos de funcionamento mental do homem são fornecidos pela c (no plano social-interpsicológico), por meio de instrumentos psi gicos são internalizados (movimento intrapsicológico), produzin movimento de individuação (que é singular, mas socialm construído). Estudando principalmente a relação pensamento/linguage relação aprendizagem/desenvolvimento, a consciência e as emoç o autor supera as concepções inatistas, ambientalistas e interacioni que reforçam a idéia de determinismo prévio (inato ou adquiri defendendo a perspectiva sociohistórica ou histórico-cultural explicar tais temas relativos ao desenvolvimento humano. Toma o pensamento e a linguagem como processos de orige biopsicológica diferentes e desenvolvimento independente, mas q se relacionam para permitir o funcionamento psicológico superi A linguagem, impulsionada pela necessidade de comunicação, e pressa o pensamento e age como organizadora do mesmo e A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO COMO EXPRESSÃO DO PENSAMENTO ... 25 rrocesso de internalização, medeia a ação dos indivíduos. Portan-para o autor, a comunicação é fator de desenvolvimento. Deve >er clara, precisa, provocar dúvidas e o desejo de iniciar novos ::>cessos construtivos. No que se refere à relação aprendizagem/desenvolvimento, ex-r:ca que a aprendizagem (escolar e extra-escolar) possibilita e mo-menta o processo de desenvolvimento e que ele é dinâmico (não gradativo, nem de evolução progressiva ou de acumulação quanti-ütiva, como no caso das outras concepções), no qual estágios de relativa estabilidade sucedem períodos de mudanças radicais, com ênfase nos momentos de crise. De acordo com a perspectiva >ociohistórica, o desenvolvimento ocorre no nível real (aquilo que o mdivíduo já é capaz de fazer só) e por meio da Zona de Desenvolvimento Próximo - obtida pela diferença entre o que é capaz de fazer só e aquilo que faz com ajuda e que explica a possibilidade de novas aprendizagens. Nesse caso, a educação escolar deve produzir desenvolvimento - que segue a aprendizagem e cria a Zona de Desenvolvimento Próximo. O ensino deve estar voltado para novos conhecimentos. E a Psicologia deve estudar como os indivíduos elaboram conceitos, enfatizando as estratégias, os erros, o processo de generalização. A teoria de Vigotski lembra ainda que a formação da consciência individual envolve as relações entre pensamento/linguagem, desenvolvimento/aprendizagem, o significado das mesmas e os afetos e emoções que oferecem as condições para sua elaboração. Desse modo, para o autor, o pensamento tem origem na esfera motivacional (desejos, necessidades, interesses, afetos...) que explicam o porquê de sua existência. Os aspectos da teoria do autor aqui ressaltados permitem explicitar espaços muito bem delimitados para a Psicologia e para a Educação, no contexto da constituição histórico-social dos indivíduos. Em ambos os casos, a finalidade seria favorecer os processos de humanização e a reapropriação da capacidade de pensamento crítico. 2 6 ELENITA DE RÍCIO TANAMACHI E MARISA EUGÊNIA MELILLO MEIRA No que se refere à educação, este objetivo concretiza-se por da valorização do papel da escola para trabalhar com o que ai está formado no aluno (adiantando-se ao seu desenvolvimento).«. controle das atividades, sempre privilegiando a autonomia, a criati\> a automotivação e a diferenciação. Ainda, a ênfase no papel d; fessor como mediador na dinâmica das relações interpessoais relação da criança com os objetos do conhecimento, ressalt lugar importante para a imitação e para o brinquedo. Em relação ao espaço da Psicologia, cabe um posicion diante das finalidades sociais da Educação e da própria Psi como ciência, sempre pautado na explicitaçãoe conhecimento pressupostos teórico-filosóficos e metodológicos que funda' sua ação e reflexão; a redefinição do seu objeto de estudo, enf o modo como a atividade dos alunos é determinada pela Educ\ a descoberta das leis psicológicas que regem esse processo. C ainda, a consideração dos determinantes sociais e dos aspectos jetivos inerentes à organização escolar e à definição dos prob" de ensino-aprendizagem, visando a transformação do trab escola. A atuação do psicólogo deve visar uma multiplici ações, uma vez que a identidade profissional está nas finali serem atingidas por recursos teóricos e práticas diferenci pesquisa não pode se constituir em mera investigação científica, produzir efeitos, e permitir a participação de todos no proa transformação dos resultados em ações concretas para transfi a realidade. Podemos então concluir que o referencial aqui apresentado mite o reconhecimento de lugares específicos no interior do p so de humanização dos indivíduos, à Filosofia cabendo as finali (por que e para que tal processo); à Psicologia, a explicação de a aprendizagem e o desenvolvimento ocorrem e à Educação E a efetivação da educação/aprendizagem por meio de recursos gógicos concretamente organizados pelo professor. Se estamos considerando que a Educação é o principal cesso por meio do qual os indivíduos se objetivam como hu A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO COMO EXPRESSÃO DO PENSAMENTO ... 27 i?ropriando-se dos bens produzidos pelo conjunto dos homens. Que a Psicologia é a ciência que se propõe a explicar como a partir do mundo objetivo se constrói o mundo subjetivo do indiví-i- o. então os processos de subjetivação/objetivação do mundo >ocial pelos indivíduos são o seu objeto de estudo. E a Psicologia não pode desconsiderar a dimensão educativa em qualquer de suas áreas de estudo/atuação/formação. A Psicologia Escolar não pode ser compreendida como especialidade na formação do psicólogo, embora tenha especificidades. Necessariamente, há que <e rever a Psicologia na Educação, atribuindo-lhe um novo sentido, além de um outro lugar ao psicólogo. 2. A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO JUNTO A DEMANDA DE QUEIXA ESCOLAR Situamos o psicólogo como mediador no processo de elaboração das condições necessárias para a superação da queixa escolar, uma demanda freqüentemente presente em nosso trabalho. Para tanto, defendemos a aprendizagem dos conceitos cotidianos e científicos como a atividade principal da criança para garantir o seu processo de humanização, uma vez que ela possibilita e movimenta o processo de desenvolvimento do pensamento, tendo a linguagem, a consciência e as emoções como mediadoras desta ação. Assim, podemos tomar como objeto de estudo/intervenção da Psicologia na Educação, o modo como esta atividade da criança é determinada pela Educação em geral e/ou escolar, além da descoberta das leis psicológicas que regem este processo. No que compete à ação do psicólogo, propomos a descrição e análise da relação entre o processo de produção da queixa escolar e os processos de subjetivação/objetivação dos indivíduos nele envolvidos, como uma mediação necessária à superação das histórias de fracasso escolar. 28 ELENTTA DE RÍCIO TANAMACHI E MARISA EUGÊNIA MELHXO MEIRA Herbert8 tinha dois anos de idade quando, em dições precárias de saúde e financeiras de sua fi. foi levado por sua madrinha para morar na casa O marido da madrinha e as filhas não queriam ção, mas esta foi feita à revelia de todos, inclusi' pais biológicos. Restabelecido, todas as vontades satisfeitas e do desde as primeiras artes e desobediências q poderia ser diferente mesmo, afinal seu futuro é s catador de papel como o pai biológico, chegou a de ir para a escola... a mesma na qual também es' seus irmãos biológicos. A mãe adotiva apressa-se em contar sua história a direção/coordenação e professores da escola, se de uma criança que inspira cuidados... A última que ele fez foi quando estava em consulta medi rotina. O médico, amigo da família, recomendou consultassem um neurologista porque o menino é nervoso. A ele foi prescrito calmante e antidepr que o fazem oscilar entre a apatia total e a. euforia, pendendo do medicamento tomado (dorme tarde, não sono na hora em que todos dormem; na escola fica trado ou bate, briga, não para quieto...). Logo ao fim do primeiro ano, a escola que já conversado semanalmente com a mãe adotiva, faz o caminhamento da "queixa " para o Centro de Psi gia, para a Psicologia Escolar. Nesse momento, Herbert encontra-se com 8 an:. agressivo, desobediente, não tem concentração na sa.s, 8 As análises teórico-práticas da atuação do psicólogo serão acompanhadas, no do texto, de trechos retirados do relatório de um trabalho desenvolvido em 2002 pelas estagiárias Aline Luzia Pavan e Célia Regina da Silva do curso de gr em Psicologia da UNESP-Bauru, respectivamente e supervisionado por Ele Rício Tanamachi. Para evitar identificação, o nome do cliente foi substituído. A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO COMO EXPRESSÃO DO PENSAMENTO ... 29 aula e apesar de copiar muito bem quando quer, não sabe ler nada. Só vai passar de ano devido à progressão continuada..., afirma o encaminhamento feito pela escola. Entendemos a "queixa" como uma síntese de múltiplas de-:erminações - relações familiares, grupos de amigos, contexto social e escolar, portanto, consideramos que a superação das condições nas quais a "queixa" é apresentada depende da ação comprometida e consciente de todos aqueles com ela envolvidos, mediada pelo psicólogo. A escola diz que o ideal seria Herbert ir para uma classe especial, afinal ele tem "problemas " porque é adotivo. O médico confirma, receitando medicamentos considerados adequados para o caso. A mãe adotiva diz que sem os remédios não dá para "agüentá-lo", ele bate nela..., nos colegas da escola, não obedece, vai para a diretoria, não faz o que a professora pede... As irmãs adotivas dizem que é muito mimo, que ele tem tudo o que elas não tiveram. Junto com o pai adotivo elas acham que ele deve voltar a morar com os pais biológicos. A mãe adotiva e as professoras acham que tudo fica pior quando Herbert encontra com os irmãos e os pais biológicos... Quando ele vai brincar na casa dos amigos, ele briga e tem de voltar para casa. Os pais dos amigos não querem mais que os filhos brinquem com Herbert. Na escola, quando tem passeios, os pais já perguntam se o Herbert vai... Escola, professores, pais, amigos, a criança e o próprio psicólogo precisam compreender que a "queixa" é apenas a aparência, o nível imediato que se caracteriza como uma representação isenta de análise, cabendo ao psicólogo mediar a compreensão da essência do que foi apresentado como "queixa", por meio da investigação/explicação/ação conjunta. 3 O ELENITA DE RÍCIO TANAMACHI E MARIS A EUGÊNIA MELULO MEIRA A professora disse que Herbert tem problemas aprender porque viveu em precárias condições até de vida. Noutro dia, disse que tem problema po adotado..., é traumatizado por se sentir aband pelos pais biológicos e é mimado pela mãe adotir tenta compensar as carências... Perguntamos sobre os conteúdos escolares, procuramos der como são trabalhados na sala de aula e investigamos com i cola (em conversa com professora/coordenadora/diretora e e servações na escola) o que acontece quando a professora en~' que ensina, quando os alunos aprendem, quando não aprend que ocorre que às vezes não dá vontade de ensinar, de apren„ que acontece quando os alunos fazem uma parte do que é solicii Quando o aluno é encaminhado ao médico, ao psicólogo?... 0 ocorre quando o professor pede ajuda?... A mãe adotiva disse que a professora não sabe nar, que a escola chama os pais toda semana para br ar que façam aquilo que é trabalho da escola... qu£ professora deveria ser mais enérgica. Em outro mo to disse que cobra demais... Ela também acha que o nino possui problemas por ser adotivo. 'Ele tem pr made cabeça, por isso não aprende", disse em um encontros com a psicóloga... :y ■■'■■■ As irmãs adotivas e o pai culpam a mãe adotiva dar atenção demais ao menino. O pai já decretou, vai ser como os pais biológicos, não tem jeito. Fizemos, com a família adotiva, uma lista do que Herbert faz, destacar que a família só observa aquilo que considera errado, nega' E se pensamos nos afazeres domésticos já realizados, nas tarefas lares quando ele realiza, nos carinhos feitos a todos...? O que faz que a mãe adotiva o trate de modo diferente do que o faz com as de filhas? O que faz o pai adotivo achar que será igual aos pais biológi A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO COMO EXPRESSÃO DO PENSAMENTO ... 31 Herbert não quer falar, nem vivenciar qualquer situação que se assemelhe à escola. Quando os temas referem-se a outras situações de seu dia-a-dia, ele esbofeteia os bonecos, xinga a psicóloga, diz que ela não sabe de nada e que não vai fazer nada porque está com sono. Diz que não sabe ler nem escrever. Outras vezes diz que vai à escola para aprender... A psicóloga insiste para que ele faça um desenho, conte uma história, leia ou ouça a leitura de um livri-nho, escreva o seu nome ou alguma letra que conhece, brinque de escolinha. Embora irritado com esta condição insuportável que todos (pais, escola, a psicóloga e ele próprio, que não consegue ver sua realidade de outro modo, já que é impedido de vivenciá- la...) insistem como sendo a única possibilidade... (se conhecessem outras formas de análise talvez tivessem elementos para romper com essas já cristalizadas)... Herbert vai à aula, acredita que é lá que irá aprender, quando a professora passa atividades iguais as dos colegas, ele se empenha e participa ao menos. Quando a psicóloga diz que ele não precisa fazer a atividade, mas que ela vai realizá-la... e joga com os pais adotivos, ou lê e escreve... ele entra na atividade e mostra tudo o que já é capaz de fazer... Herbert adora encontrar os irmãos biológicos. Ele quer ir na casa deles... ver os pais biológicos... A escola e os pais adotivos não querem que isso ocorra..., mas não falam sobre isso... A mãe adotiva tem medo de perdê-lo... A professora acha que desconcentra... Os irmãos adotivos e o pai acham que tem de ir e ficar... A psicóloga não sabe a hora exata de suas intervenções. Como contar esta história a todos? Esquece-se que a história poderia ser elaborada por todos, desde que cada um deixasse de entender que esta é tarefa exclusiva dele... 32 ELENTTA DE RÍCIO TAN AMACHI E MAÍOSA EUGÊNIA MELILLO MEIRA Herbert, sem conhecer estas expectativas e anal" quer ficar com todos, quer desfrutar da riqueza sibilidades que sua condição de vida lhe permi dido, irrita-se... A professora desiste, a mãe es' da e não sabe mais o que fazer. O pai e as irm vas acham que deve voltar para a família biológiat dia a mãe adotiva viajou, ele quis bater numa de adotivas, ela ficou brava e ele fugiu e foi parar ;:-da família biológica... A avaliação e a intervenção não podem se pautar por que visem encontrar nos indivíduos a explicação para a " Não se trata de desfocar a criança, para culpabilizar a família^ escola. Mudamos a pergunta, em vez de nos dirigirmos a pes situações isoladas - o que tem efeito paralisador - busca circunstâncias, porque estas podem ser transformadas. Se consideramos que a subjetividade só se constitui a pa condições concretas de vida dos indivíduos, é a historicidade fatos apresentados como "queixa" que deverá ser investigacL ta-se de buscarmos, com todos os envolvidos, as ações, os aco mentos, as concepções que "produziram" a "queixa" e "motiv seu encaminhamento, conforme nos indica Machado (2000). A avaliação aqui adquire caráter investigativo e não cl catório, do que concluímos que a base de nossa avaliação é o rc histórico das situações concretas que permitiram a existência da' xa". Identificar as possibilidades concretamente existentes superação dessa condição, constitui-se no desafio da interven^ Conforme Vigotski (Duarte, 2000, p. 87), devemos: - Saber descobrir sob o aspecto externo do processo conteúdo interno, sua natureza e sua origem. Toda a d: dade da análise científica radica no fato da essência objetos, isto é, sua autêntica e verdadeira correlação coincidir diretamente com a forma de suas manifes externas e por isso é preciso analisar os processos; é A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO COMO EXPRESSÃO DO PENSAMENTO ... 33 so descobrir por esse meio a verdadeira relação que subjaz nesses processos por detrás da forma exterior de suas manifestações. Desvelar essas relações é a missão que há de cumprir a análise. Para dar conta desse trabalho, Collares e Moysés (1997) sugerem que o psicólogo deve olhar não para o que a criança não tem e não sabe, mas para o que ela sabe e gosta de fazer. Assim como indica Meira (2000), o profissional deve articular o processo de avaliação/intervenção a partir daquilo que todos apresentam como dados concretos, já conhecidos, como entendem e agem nas situações apresentadas. Nesse caso, com a criança observamos nas atividades realizadas durante os encontros, os aspectos que estão relacionados com nossa investigação, elementos que revelam seu potencial de aprendizagem quando colocada diante de situações-problema, desafios. Com a família e a escola, investigamos as concepções, as hipóteses sobre a "queixa", o que fazem para superá-la e quais são suas expectativas. Avaliamos e mobilizamos, portanto, as objetivações, os significados, os sentidos atribuídos ou a serem atribuídos, visando preparar a apropriação de novas possibilidades. A intervenção tem dois eixos principais que não podem ser trabalhados em separado. O primeiro eixo refere-se à relação desenvolvimento/aprendizagem em Herbert e em todas as pessoas envolvidas, na perspectiva da constituição das condições de humanização pela via do conhecimento de conteúdos pertencentes tanto à educação escolar, quanto à Psicologia. O segundo eixo refere-se à elaboração de afetos/emoções como motivos compatíveis com a formação da consciência. Quando a professora desiste de ensinar Herbert, aprendizagem dele em relação a novos conhecimentos, fica defasada... Constata-se ausência de mediação da linguagem (verbal e escrita)... Ele não pede, empurra... 34 ELENTTA DE RÍCIO TANAMACHI E MARIS A EUGÊNIA MELILLO MEKA ele "manda " a psicóloga, ou a mãe e o pai escrev resultado dos jogos... Ele não utiliza a linguagem um recurso nas relações cotidianas ou mesmo res... As pessoas não conversam com ele, não exr o que está acontecendo... Ele também não quer es o que já sabe, precisa aprender que quem sabe parte, com ajuda, poderá saber o todo. Precisa ser. safiado a ouvir as explicações, precisa ser cobr Necessita entender-se dentro do processo de alfab ção, pode estabelecer uma outra relação com o seu cesso de aprender a ler, escrever, contar... Pela vi conhecimento, os motivos começam a ser compatíveis novas possibilidades de aprender... Um dia a psicóloga deixou o nome dos coleg Herbert e o dele próprio na lousa da sala de atendi to. Quando ele entrou, ela disse "vou apagar aqui; que será que deixaram a lousa assim?... o que será estavam fazendo? Me ajude aqui!" Ele diz "olha o nome aqui! Ta cheio de nome...", e reconheceu mais guns nomes. "Herbert, o que você está fazendo? " tou lendo nomes!" "Lembra quando você dizia que sabia ler? E agora?" "Agora eu já sei"... A psicól continua... "Quem sabe ler alguns nomes, pode ler tros, pode escrever também. É só ter alguém que ensi para isto existe a escola, professor, ninguém nasce bendo..." Avaliando o dia, pergunta: "o que aconte de bom hoje?" Herbert apressa-se...: "descobri que ler e que posso escrever" e a psicóloga diz "quem pn sa saber disso? Vamos pensar como contar e vamos fi tografar, desenhar este momento"... No mesmo dia, f uma reunião com a família adotiva, na qual Herbert c ta tudo o que ocorreu...Depois, as fotos e desenhos v para a escola... Todos precisam entender e analisar que aconteceu para incorporar o fato em sua relaç m A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO COMO EXPRESSÃO DO PENSAMENTO ... 35 com Herbert e em outras circunstâncias semelhantes... Ele quer contar tudo isso para a família biológica e pede à psicóloga "você vai comigo?"... Todos precisam também entender que a adoção não é limite, mas uma condição, assim não pode ser causa da não-aprendizagem, da agressividade, do mesmo modo que o trabalho do professor, da família e mesmo do psicólogo podem ser condições a serem preservadas ou superadas. Se tomados como limites, podem imobilizar. Quais são as possibilidades concretas existentes para a superação dessa história que já não é mais somente a história de Herbert? Mas, a dele em relação à da professora, dos pais, da psicóloga em formação... Do que efetivamente não dá para abrir mão? Herbert precisa por sua descoberta a serviço da aprendizagem de conhecimentos úteis a uma vida, cada vez mais, autônoma e participativa - ele vai fazer 10 anos e só pode sair de casa acompanhado, não pode ver os pais biológicos quando quer, não faz as atividades escolares como os colegas... A família adotiva precisa reconhecer a legitimidade da relação de Herbert com a família biológica e que o fato de ter duas famílias enriquece sua história. Ele não precisa escolher uma... Isso deixa todos mais seguros! Deve ainda entender que a adoção não é causadora de dificuldade para aprender... Convencer- se de que ele é capaz de aprender... que a escola pode/ deve ensinar... A escola, de posse daquilo que Herbert já é capaz de fazer, precisa desafiá-lo na direção do que ainda não sabe realizar só, solicitando-o, passando tarefas, cobrando sua realização, avaliando, oferecendo modelos, apresentando conceitos, ensinando... 3 6 ELENITA DE RÍCIO TANAMACHI E MARISA EUGÊNIA MELILLO MEIRA O psicólogo, como mediador na efetivação de esses objetivos, deve superar a condição de "reso de problemas " — que espera a aprovação de Her fim do ano, a reconciliação entre as famílias, en nais felizes para encerrar "o caso ", para saber como as finalidades da Psicologia não são as da cação e nem as das famílias, essa atuação já pode encerrado... O retorno à especificidade da Psicologia, por da intervenção, constitui-se em mais uma etapa de trabalho. Falemos, ainda, sobre as principais estratégias utilizadas: • Temas/situações geradores9 de possibilidades de trabalho: dições necessárias para provocar, desafiar as pessoas envolv em busca da superação das condições postas no momento, por da "queixa"; geradores, enfim, da atividade principal da crian; condição de participação de pais, professores e crianças. Um dia Herbert entra na sala de atendimento em direção a um carrinho de bombeiros lá esque A psicóloga tinha planejado outro encaminhamento avaliar o conceito de número, mas sabendo de sua ção aos conteúdos escolares, substitui a atividade. tendo a finalidade prevista. Arremessou o quebra ça numérico ao chão, anunciando um incêndio e mando pelo bombeiro... que chegou prontamente, olhos brilhavam!... Estava preparada a situação . dor a de muitas possibilidades... Descobriu, junte 9 Parte da fundamentação teórica utilizada para a organização dessa estra' apropriada do conjunto de elaborações desenvolvidas por Celestin Freinet c Freire. A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO COMO EXPRESSÃO DO PENSAMENTO ... 37 Herbert, motivos para aprender a trabalhar com números; depois puderam contar isto para os pais e para a professora... Cada peça do quebra-cabeça era uma casa destruída em parte pelo fogo, de modo que para reconstruí-la teria que utilizá-la adequadamente (conforme as regras do quebra-cabeça, adequadas para o trabalho com conceitos numéricos...). Herbert puxou um tapete com os números do quebra-cabeça, colocou-os em seqüência e, assim, numerou as casas a serem restauradas. Disse que as casas ficavam em uma rua... E como a cena montada não podia ficar na sala de atendimento, a psicóloga sugeriu que fosse construída com cartolina, para poder guardar... A maquete teria de ser completa e Herbert caprichou... fez placas, sinal de trânsito e escreveu "PAE" (pare), tem um posto e escreveu "POT"... e fez o convite para a reinauguração da rua, pediu o alfabeto móvel e começou a organizar o convite, escreveu tudo o que já sabia com ajuda da psicóloga, fez todo o convite. Indagado sobre o que faziam, disse "escrevemos". "Então, já sabe escrever? Vamos fotografar, registrar. O que vamos fazer? " O menino diz: "vou contar pro meu pai, minha mãe e minha professora". "Como?" "Mandando o convite de reinauguração da rua para eles ". • Jogos coletivos, como estratégias para a compreensão das contradições não explicitadas na "queixa" ou para evidenciá-las. A psicóloga marcou o encontro de Herbert junto com o de outra criança atendida por sua colega... e planejou um jogo... Herbert ensinou o menino a jogar, o menino ganhou o jogo e ele xingou o menino... 3 8 ELENTTA DE Rlcio TANAMACHI E MARIS A EUGÊNIA MELOLO • Dinâmicas que permitam ultrapassar os limites locados pela "queixa". ;< % Em uma dinâmica envolvendo uma volta os pais adotivos contaram as suas histórias a psicóloga e para o Herbert e ele quis Si depois quis conversar com os pais biológicos • Leitura e discussão de textos e relatórios e plane' junto de atividades. A análise e discussão de um texto sobre gem/desenvolvimento, ajuda o pai adotivo e. Herbert não é igual ao pai biológico. "Ent" tudo definido quando nasce?" A leitura conjunta dos relatos dos encon, res e do planejamento do trabalho, após os encontros, permite a Herbert posicionar-se sa ir lá na escola, eu não vou mais porque mesmo! O pai falou que eu vou puxar carroç. e a mãe adotivos não querem marcar reunião mília biológica: "Pode tirar isso do planeja Ao ver o relatório do encontro no qual o Hcr. e escreveu, a mãe adotiva disse ao pai: "Eu que ele esconde o jogo?"... A psicóloga muda o jeito de escrever... faz n nejamento... Redige texto para leitura e discus. - Em outro momento, estavam todos reunidos, dimento conjunto, família biológica, Herbert, a ga, organizando as etapas do trabalho, até o ria chegar a intervenção, qual o lugar de cada processo! • Grupo de crianças para privilegiar a relação que elas o que sabem, gostam, querem fazer, enfatizando os conh A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO COMO EXPRESSÃO DO PENSAMENTO 39 _e cada um no coletivo - tomado como o espaço de manifestação : :s diferentes níveis de conhecimento. Cada criança seleciona uma atividade que sabe fazer e que os demais não conhecem... planeja com o psicólogo os passos para ensinar os colegas e a cada encontro uma delas coordena com a psicóloga os trabalhos... Herbert fez a lista de material para ensinar a fazer pipa (escreveu o que já sabia e pediu ajuda em casa, na escola e para a psicóloga...), foram comprar e arrumar o material, pensou com a psicóloga como ensinar aos colegas. No dia da reunião, ele fez passo a passo, mostrando aos colegas... Olhava o trabalho de cada um... Um menino não conseguiu fazer, ele deixou a sua pipa e ajudou o menino até dar certo, depois voltou para a sua... Depois foram escrever o material para todos guardarem. Herbert põe na lousa... Quando pula letras nas palavras, outro colega vai lá e completa. A lista fica pronta... Na avaliação, todos disseram: "o Herbert ensinou a fazer certinho... as pipas subiram... ele sabe fazer..." • Grupo de pais: para discutir diferentes formas de ocupar seu espaço na educação escolar do filho e para se posicionarem em relação às questões da escola, da Psicologia, da medicalização e outras tantas que surgem no decorrer do trabalho. Em uma das reuniões mensais, a atividade inicial era ler um texto em alemão, para entender como os filhos podem sentir-seem situações variadas na escola ou em casa... quando exige-se a tarefa pronta, ' quando se pede para fazer o que já for possível... Na avaliação, um pai concluiu: "quando você sabe que pode fazer o que dá, descobre que já sabe muita coisa "... 4 O ELENTTA DE RÍCIO TANAMACHI E MARISA EUGÊNIA MELILLO MEIRA Noutra reunião, a mãe conta que o filho não o remédio que o neurologista passou (ela descol ele jogava no lixo) e concluiu: "ele não podia este calmo por causa do comprimido (...). Eu não insisz para ele tomar". Outro dia, uma mãe disse à mãe de Herbert: casa eu falo: venha comer! e ponho o prato. Se nZ na hora, fica sem comer e ele não faz mais isso! ~S porque tem de ser diferente para o Herbert! Expe te fazer assim ". No primeiro encontro, as psicólogas contaram é o psicólogo, o que ele faz... Uma mãe disse: que eu ia antes não era assim, aqui é diferente... possível falar de formas diferentes de atuar e de dades para cada uma delas, discutindo as final do trabalho que fazemos. • Grupo de professores e reuniões na escola para c conhecimentos da Psicologia a serviço do trabalho pedagogia Em atividade conjunta, a professora de Her lou para a psicóloga que "não chama ele na lousa. ele não passar vergonha... " A psicóloga per "quem quer vir à lousa?" Herbert foi o primeiro.. creve aí, Herbert... professora". Ele escreve po..., ma o colega e pede ajuda e escreve corretamente. lêem "professora"... Assim planejam e discutem inúmeras situações. _ cóloga prepara texto para explicar a lógica de tervenção... A professora pede para apresentar nião. Psicóloga e professora preparam e coon - reunião na escola... • Visitas domiciliares e ao bairro: para investigar e co a dinâmica familiar e as relações entre o bairro e a escola. A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO COMO EXPRESSÃO DO PENSAMENTO ... 41 Herbert queria ir à casa da família biológica. A psicóloga marca reunião na casa da família adotiva para discutir a visita. A mãe fala: "se for, tenho medo de que não volte"; as irmãs e o pai "é bom que fique";... Herbert fala: "eu só quero passar o dia com eles, eu gosto de vocês ". A mãe diz: "ele não sabe o caminho ". A psicóloga não aceita que a mãe explique, deixando que ele a conduza; chegam certinho. Conversam muito, ele brinca com os irmãos biológicos. Todos falam com muito respeito da família adotiva. Na volta, muita coisa para contar e analisar! • Eventos científicos para entender que todos os participantes do trabalho contribuem com a elaboração do sabei/fazer Psicologia Escolar. Em um congresso na universidade, para fazer o painel do trabalho desenvolvido junto à demanda de "queixa escolar", tínhamos fotos dos grupos de crianças e de pais. Precisávamos de autorização para a exposição. Levamos o painel para os grupos de pais e crianças. Contamos sobre o evento, para que servia e que sem eles a formação dos psicólogos não se efetiva como julgamos que deva ser. Uma mãe disse: "anota aí, você esqueceu de contar aquele dia que eu descobri que minha filha não tinha nascido com problema, mas que se alguém tivesse ensinado antes ela teria aprendido, agora ela sabe". O pai adotivo de Herbert disse: "ele quer ir lá, posso levar? ". Na apresentação do painel, lá estava Herbert, o pai adotivo e a estagiária. Quando começaram a chegar os observadores, Herbert chamou um grupo de alunos de Psicologia e a supervisora do estágio: "vem cá ver a foto do meu grupo... este aqui sou eu! Sabe por que eu estou aqui?... " E contou a história do trabalho para todos, junto 42 ELENITA DE RÍCIO TANAMACHI E MARISA EUGÊNIA MELILLO MEIRA com a psicóloga e o pai. Nos detalhes dizia: "Em: foi o dia que eu descobri que sabia ler e escrever t que não preciso mais ir no CPA, falo com a psic carta ou por e-mail, quando dá saudade ". O envolvimento das pessoas relacionadas às si escolarização em questão, compreendendo-as e transfo é o resultado geral das investigações. Os professores apropriam-se de peculiaridades de seu e dos alunos que não haviam compreendido. Os pais descobrem capacidades e especificidades de. e de sua própria relação familiar. As crianças apropriam-se de suas possibilidades de .: O psicólogo define seu lugar nesse processo e organiza nhecimentos sobre a Psicologia na Educação, quando retorna Consideramos que este trabalho é a expressão co~ referencial anunciado, pois enfoca as diferentes relações criança participa, mobiliza todos os elementos presentes n ções e põe o psicólogo em condições de mediar, junto com sor, a construção do sentido pessoal e social do processo e de aprender de todos os participantes. 3. A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO EM INSTITUIÇÕES DE ENSINO Tomando como fundamento as categorias do pensam co e suas expressões nos pressupostos da Pedagogia rústica e da Psicologia sociohistórica, defendemos que o objeto logo em uma instituição de ensino - escolas de educação ensino fundamental e médio; creches; universidades; proi cacionais ligados a diferentes instituições públicas e privac lhos de educação popular, etc - é o encontro entre os su| educação e a finalidade central de seu trabalho deve ser a ur A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO COMO EXPRESSÃO DO PENSAMENTO ... 43 buir para a construção de um processo educacional que seja capaz de socializar o conhecimento historicamente acumulado e de contribuir para a formação ética e política dos sujeitos. Assim, o principal critério para a delimitação das áreas de intervenção mais importantes relaciona-se diretamente com a definição do quanto a atuação da Psicologia pode contribuir para que a escola cumpra sua função social. Nesta perspectiva, o psicólogo não é um "resolvedor" de problemas, um mero divulgador de teorias e conhecimentos psicológicos, mas um profissional que dentro de seus limites e de sua especificidade, pode ajudar a escola a remover obstáculos que se interpõem entre os sujeitos e o conhecimento e a formar cidadãos por meio da construção de práticas educativas que favoreçam processos de humanização e reapropriação da capacidade de pensamento crítico. Para dar conta dessa tarefa, o psicólogo deve compreender de forma mais aprofundada tanto as maneiras pelas quais o trabalho educativo produz nos indivíduos singulares a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens (Saviani, 1991). desempenhando o papel de atividade mediadora entre a esfera da vida cotidiana a as esferas não-cotidianas de objetivação do gênero humano (Duarte, 1995), quanto as funções e a natureza social do desenvolvimento cognitivo, dos afetos e emoções no processo de humanização desses indivíduos pela via da apropriação da cultura. Esta fundamentação pode tornar o profissional capaz de contribuir para o processo de desvelamento ideológico de uma série de idéias e concepções cristalizadas e combater em diferentes instâncias as explicações psicologizantes que buscam re-situar os problemas educacionais como problemas dos próprios alunos. É evidente que cada instituição apresenta necessidades e particularidades que devem ser compreendidas, respeitadas e trabalhadas. No entanto, parece-nos oportuno apresentar neste texto alguns elementos que podem, em alguma medida, contribuir para o delinea-mento de propostas de intervenção fundadas em finalidades transformadoras. 44 ELENTTA DE RÍCIO TANAMACHI E MARISA EUGÊNIA MEUILO MHT^ Para facilitar a exposição, apresentaremos estas ganizadas em três tópicos: fundamentos, metodologia e do trabalho em instituições de ensino. Principais fundamentos do trabalho em instituições de Como já evidenciamos anteriormente, independente social e da área de atuação que o psicólogo escolar esteja as bases filosóficas e teóricas nas quais assenta seu trabalb-mesmas, desde que elas lhe garantam a compreensão e a pos de intervenção crítica e competente em contextos educativo? Entretanto, é preciso destacar que o trabalho em i educacionaisapresenta certas especificidades que exigem fissional o domínio mais aprofundado de algumas mediaçct cas, dentre as quais destacaremos três que nos pareceu mais importantes: a compreensão de possíveis articulaçor teorias de aprendizagem e práticas educativas; a análise cr" espaço social da sala de aula e a concepção de conhecimec: instrumento do vir a ser. Articulação entre teorias da aprendizagem e práticas pedagógicas Conforme aponta Antunes (2000), ao longo de nossa Psicologia tornou-se parte constitutiva do pensamento edu brasileiro. Isso significa que é possível localizar com maior ou m: de clareza e importância diferentes contribuições da Psicolo venientes de variadas tendências teóricas, nos pr constitutivos dos ideários pedagógicos que fundamentam p propostas educacionais no Brasil. E, se é verdade que os conhecimentos psicológicos po tivamente contribuir para a elaboração de propostas mais co A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO COMO EXPRESSÃO DO PENSAMENTO ... 45 que resultem em melhorias do processo ensino aprendizagem, é ".".iamental que o psicólogo escolar compreenda e domine tanto os gerenciais da psicologia, quanto da educação. Existem múltiplas possibilidades de articulação entre teorias ie aprendizagem e práticas pedagógicas. Nesse texto, destacamos tema das relações entre desenvolvimento e aprendizagem em ama perspectiva sociohistórica. Um processo pedagógico qualitativamente superior pode ser -onstruído por meio de inúmeros caminhos e, neste sentido, não existe uma definição suficientemente ampla que possa dar conta de todas as possibilidades. No entanto, podemos afirmar de maneira geral e um tanto óbvia, que um bom ensino é aquele que garante uma aprendizagem efetiva. Neste sentido, um bom professor é aquele que dá conta de ensinar seus alunos. Mas, o que é preciso para que um professor ensine de fato? Poderíamos enumerar uma série de condições tais como: formação adequada, salários dignos, espaços de estudo e reflexão, valorização social e tantas outras mais. Embora estas sejam questões fundamentais, neste momento, vamos analisar de forma mais detida o valor e a importância de uma adequada compreensão do desenvolvimento humano e de suas articulações com a aprendizagem e as relações sociais, já que não se pode verdadeiramente ensinar se não se considerar como o aluno aprende, ou ainda, porque às vezes ele não aprende. Se a escola é a instância socializadora do conhecimento historicamente acumulado e se a finalidade da ação docente se concretiza na tarefa de ensinar e ensinar bem, é preciso que o professor selecione tanto os elementos culturais que precisam ser assimilados pelos alunos, quanto as formas mais adequadas para atingir este objetivo. De acordo com Saviani (1992), os educadores devem nortear sua ação a partir de três objetivos fundamentais: a identificação das formas mais desenvolvidas em que se exprime o saber objetivo socialmente produzido; a transformação deste saber objetivo em saber escolar que possa ser assimilado pelo conjunto dos alunos e a garan- 4 6 ELENITA DE Rlcio TANAMACHI E MARISA EUGÊNIA MEULLO MEIRA tia das condições necessárias para que estes não apenas se ap em do conhecimento, mas ainda elevem seu nível de compr sobre a realidade. Mas a tarefa docente vai muito mais além, já que após ter nido os conteúdos e delimitado a metodologia e os recursos p gicos a serem utilizados, o professor ainda tem de enfrentar u desafio: o fato de que nem todos aprendem do mesmo m mesmo momento e ritmo. Além disso, alguns alunos parece plesmente não aprender nada. Dentre as várias explicações para o não aprender q freqüentemente utilizadas nos meios educacionais, a mais co~ é aquela que parte da idéia de que os alunos não aprendem não estão "prontos". Uma análise crítica desse tipo de abordagem deno maturacionista aponta para pelo menos duas questões pri Em primeiro lugar, a afirmação de imaturidade neurológica, lectual ou emocional da criança só é possível se tomarmos o como padrão, o que significa que essas explicações descons1 que o ser humano é histórico e está em um permanente p de construção. Conforme apontam Collares e Moysés (1 conceito de imaturidade colocado nesses termos não possui ma legitimidade científica, já que, desde o nascimento e ao Io toda a sua vida, o ser humano apresenta as características : emocionais e cognitivas adequadas e convenientes a cada m to determinado, ou seja, não podemos considerar a criança um ser imaturo pelo simples fato de diferenciar-se de um a Interessa-nos, outrossim, discutir de forma mais aprofu segunda questão, que se relaciona com o pressuposto mais g fundamenta essa forma de compreender as dificuldades de zagem dos alunos: a idéia de que ela depende diretamente do volvimento. Esta perspectiva considera que determinados apresentam dificuldades porque não atingiram o nível de dese mento psicointelectual necessário. Assim, o professor não p sinar porque estes alunos não têm condições de aprender, 4 6 ELENITA DE RÍCIO TANAMACHI E MARIS A EUGÊNIA MELILLO MEIRA tia das condições necessárias para que estes não apenas se aprop"' em do conhecimento, mas ainda elevem seu nível de compreens' sobre a realidade. Mas a tarefa docente vai muito mais além, já que após ter definido os conteúdos e delimitado a metodologia e os recursos pedagógicos a serem utilizados, o professor ainda tem de enfrentar um novo desafio: o fato de que nem todos aprendem do mesmo modo, no mesmo momento e ritmo. Além disso, alguns alunos parecem simplesmente não aprender nada. Dentre as várias explicações para o não aprender que s freqüentemente utilizadas nos meios educacionais, a mais conheci é aquela que parte da idéia de que os alunos não aprendem porqu não estão "prontos". Uma análise crítica desse tipo de abordagem denomina maturacionisía aponta para pelo menos duas questões princip": Em primeiro lugar, a afirmação de imaturidade neurológica, i lectual ou emocional da criança só é possível se tomarmos o ad como padrão, o que significa que essas explicações desconside que o ser humano é histórico e está em um permanente procede construção. Conforme apontam Collares e Moysés (1996). conceito de imaturidade colocado nesses termos não possui ne ma legitimidade científica, já que, desde o nascimento e ao longo toda a sua vida, o ser humano apresenta as características físi emocionais e cognitivas adequadas e convenientes a cada mo to determinado, ou seja, não podemos considerar a criança um ser imaturo pelo simples fato de diferenciar-se de um aduL Interessa-nos, outrossim, discutir de forma mais aprofunda segunda questão, que se relaciona com o pressuposto mais ger fundamenta essa forma de compreender as dificuldades de ap zagem dos alunos: a idéia de que ela depende diretamente do volvimento. Esta perspectiva considera que determinados apresentam dificuldades porque não atingiram o nível de desen mento psicointelectual necessário. Assim, o professor não p sinar porque estes alunos não têm condições de aprender, A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO COMO EXPRESSÃO DO PENSAMENTO ... 47 restando outra alternativa a não ser esperar que eles fiquem "maduros", para só então cumprir sua função social. Consideramos que para rompermos com o maturacionismo é preciso transformar a concepção de conhecimento e de como ele pode ser transmitido pelos professores e apropriado pelos alunos. Em outras palavras, é preciso compreender de uma nova forma as relações entre desenvolvimento e aprendizagem. Encontramos esse novo olhar nas contribuições de L. S. Vigotski, para quem o principal fato humano é a transmissão e assimilação da cultura. Assim, a aprendizagem é alçada a uma posição de extrema importância, na medida em que se constitui em condição fundamental para o desenvolvimento das características humanas não naturais, mas formadas historicamente. Vygotsky
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