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Universidade Federal do Piauí – UFPI Campus Universitário Ministro Petrônio Portella Centro de Ciências Humanas e Letras – CCHL Departamento de Ciências Econômicas – DECON Francisco Carlos Eduardo Sá de Abreu fceduardo_2017@hotmail.com Francisco Carlos Eduardo Sá de Abreu fceduardo_2017@hotmail.com Resumo Parte 4 FEB Celso Furtado – Capítulos 17, 19 ao 29 Parte 4 – Economia de transição para o trabalho assalariado (século19) Capítulo 17 – Passivo Colonial, crise financeira e instabilidade política Esse capítulo refere-se aos acontecimentos do final do século 18 e início do século 19. A ocupação de Portugal pelas tropas francesas lideradas por Napoleão Bonaparte forçou a fuga da família real para o brasil em 1808. Nesse mesmo ano, é decretado a ruptura do Exclusivo metropolitano com a “abertura dos portos as nações amigas”. Se por um lado isso acelerou a evolução do país, que assumiria a posição de prolongamento da metrópole em vez de mera colônia, por outro a posterior independência (1822) acentuaria as dificuldades econômicas que se iniciara com a decadência do ouro. A independência do brasil se processou sem descontinuidade de poder dos portugueses em 1822 o que derivou em um custo econômico para a nação recém-nascida: 2 milhões de libras pagas a Portugal como indenização, tratados econômicos abusivos com A Inglaterra como forma de reconhecimento da nova nação (Tratados de 1810) e a apropriação das dívidas e passivos contraídos por Portugal. Assim, o brasil já nasce endividado. Entretanto, foi justamente essa estabilidade de poder no processo de independência que possibilitou a permanência da unidade territorial. Fosse a independência processada por lutas internas prolongadas, provavelmente haveria uma fragmentação do território brasileiro em que os interesse regionais prevaleceriam sobre o interesse nacional já que “nenhuma das regiões do país dispunha de suficiente ascendência sobre as demais para impor a unidade”. É no ano de 1827 que a Inglaterra consolida sua posição dominante sobre a economia brasileira. “Seria erro, entretanto, supor que aos privilégios concedidos à Inglaterra cabe a principal responsabilidade pelo fato de que o Brasil não se haja transformado numa nação moderna já na primeira metade do século 19”. Na verdade, foi a própria ascensão inevitável da classe agrícola ao poder que impediu que o Brasil se libertasse da sina primário-exportadora. A classe dos senhores agrícolas colonial, liderada por Visconde de Cairu, era a única devidamente organizada, já que o comercio era monopolizado pela coroa portuguesa. Além disso eles pregoavam ideias de liberdade comercial, sem o empecilho português, consoantes com os interesses da potência inglesa. A comunhão ideológica e a identidade de interesses existente entre a classe dominante agrícola e a potência inglesa faltava com Portugal pois este ultimo constitui apenas um entreposto preso as amarras mercantilistas cujos interesses conflitava com os da ex-colônia. “Não existindo na colônia sequer uma classe comerciante de importância - o grande comércio era monopólio da Metrópole -, resultava que a única classe com expressão era a dos grandes senhores agrícolas. Qualquer que fosse a forma como se processasse a independência, seria essa classe a que ocuparia o poder, como na verdade ocorreu, particularmente a partir de 1831[eliminação do poder de Dom Pedro I]”. Pontua-se, entretanto, que a relação entre Brasil e Inglaterra também não era tão harmônica. A primeira metade do século 19 é marcada por conflitos entre os dirigentes da grande agricultura brasileira e os ingleses. O motivo está atrelado não a ideologia econômica, que em Universidade Federal do Piauí – UFPI Campus Universitário Ministro Petrônio Portella Centro de Ciências Humanas e Letras – CCHL Departamento de Ciências Econômicas – DECON Francisco Carlos Eduardo Sá de Abreu fceduardo_2017@hotmail.com teoria convergiam, mas na forma incoerente que a Inglaterra praticavam o liberalismo: de forma unilateral, como ganhos individuais aos ingleses através de tratados abusivos que garantiam aos ingleses privilégios; A Inglaterra, por sua vez, não se dedicava a abrir mercado para os produtos tropicais brasileiros, por estes concorrerem com os de sua colônia antilhana. As dificuldades econômicas criada por essa situação começam a incomodar os grandes agricultores numa etapa em que estes iniciavam a governar o país. Acresce a isso o fato de a Inglaterra tentar impor (inutilmente) a eliminação da importação de mão de obra escrava africana (para desarticular o açúcar brasileiro por causa dos interesses antilhanos) colocando o negócio agrícola sobre ameaça de elevação de custos (corrosão de lucros). O conflito, entretanto, era com a classe dominante brasileira e não com o governo imperial, razão pela qual a Inglaterra continuou a usufruir de seus privilégios econômicos não obstante a queda de receita que isso ocasionava as contas do império. Aqui compreende-se o caráter econômico limitador dos privilégios ingleses. Como o governo central não podia taxar as exportações e comprometer o lucro da classe colonial seria natural taxar as importações. Mas essa taxação também foi impedida pelos tratados com a Inglaterra. Assim o governo central viu seus recursos caírem. “o privilégio aduaneiro concedido à Inglaterra (...)numa etapa de estagnação do comércio exterior, criaram sérias dificuldades financeiras ao governo brasileiro [na arrecadação de] suas receitas básicas [via impostos sobre importação]. A única alternativa a esse imposto era taxar as exportações, o que numa economia escravista significa cortar os lucros da classe de senhores da grande agricultura. Assim, entre a necessidade de sangrar seus próprios lucros numa etapa de dificuldades e a possibilidade de aumentar o imposto de importação, debateu-se a classe governante brasileira”. As receitas do governo central brasileiro estavam limitadas as aduanas, uma vez que inexistia estrutura fiscal no país. Combinado com os empecilhos econômicos dos tratados com os ingleses isso surtiu enorme dificuldades de consolidação pós independência. “O governo central, que enfrenta extraordinária escassez de recursos financeiros, vê sua autoridade reduzir- se por todo o país, numa fase em que as dificuldades econômicas criavam um clima de insatisfação em praticamente todas as regiões”. As dificuldades de financiamento do governo central no período posterior a independência (anos 20) foram financiadas via emissão de papel moeda e alguns empréstimos (já que estavam impossibilitados pelos acordos com a Inglaterra de aumentar a arrecadação via impostos sobre importação até 1844). A consequência, entretanto, foi a desvalorização cambial externa da moeda brasileira e inflação dos preços de produtos importados nas zonas urbanas (revoltas urbanas). “Dadas as pequenas dimensões da economia monetária, seu alto coeficiente de importação e a impossibilidade de elevar a tarifa aduaneira, os efeitos das emissões de moeda-papel se concentravam na taxa de câmbio, duplicando o valor em mil-réis da libra esterlina entre 1822 e1830”. “(...) a inflação acarretou um empobrecimento dessas classes, o que explica o caráter principalmente urbano das revoltas da época e o acirramento do ódio contra os portugueses, os quais sendo comerciantes eram responsabilizados pelos males que acabrunhavam o povo”. Vê-se, portanto, uma crise de autoridade do governo imperial por falta de recursos que se converte em instabilidade territorial e focos de desagregação. “Nos anos 30 e 40 do século 19 o Brasil viveu um período praticamente ininterrupto de revoltas e guerra civil. Pará, Maranhão, Ceará. Pernambuco. Bahia, Minas Gerais, São Paulo, Mato Grosso e Rio Grande do Sul atravessaram convulsões internas”. Universidade Federal do Piauí – UFPI Campus Universitário MinistroPetrônio Portella Centro de Ciências Humanas e Letras – CCHL Departamento de Ciências Econômicas – DECON Francisco Carlos Eduardo Sá de Abreu fceduardo_2017@hotmail.com O cenário de dificuldade em vender seus produtos e a estagnação do comercio exterior começa a reverter quando também nesse período (anos 30) o Café surge como nova fonte de riqueza para o País e principal produto exportado. “Graças a essa nova riqueza forma-se um sólido núcleo de estabilidade na região central mais próxima da capital do país, o qual passa a constituir verdadeiro centro de resistência contra as forças de desagregação que atuam no norte e no sul”. Capítulo 19 – Declínio a Longo prazo do nível de renda: primeira metade do século 19 Dada a impossibilidade de fomentar a industrialização no brasil na primeira metade do século 19 (pela falta de base técnica, de mercado interno limitado e a ser criado...), Celso Furtado coloca que “a condição básica para o desenvolvimento da economia brasileira, na primeira metade do século XK, teria sido a expansão de suas exportações”. Ainda que uma política de industrialização inteligente eventualmente fosse executada (contra o interesse da elite agrária dominante), “a primeira condição para o êxito daquela política [ainda] teria sido uma firme e ampla expansão do setor exportador”. Assim, ‘a causa principal do grande atraso relativo da economia brasileira na primeira metade do século 19 foi, portanto, o estancamento de suas exportações”. Na primeira metade do século 19, a população cresceu mais que as exportações (nível quase estacionário), o nível de renda per capita caiu sensivelmente e todo o aumento das exportações no período é devido ao café. De maneira mais específica, observa-se uma queda dos preços internacionais em cerca de 40% (1820 -1850) o que gera uma depreciação dos termos de troca. O país passaria fazer um enorme esforço para exportar maior volume de gêneros agrícolas, mas saldados a menor valor (Preços). Como o preço das importações permaneceram estáveis o resultado foi uma corrosão do valor real das exportações, com isso a queda da produtividade da economia exportadora brasileira. “A queda do índice dos termos do intercâmbio foi de, aproximadamente, 40 por cento, isto é, que a renda real gerada pelas exportações cresceu 40 por cento menos que o volume físico destas”. “A tendência foi declinante na primeira metade do século. Também é provável que a renda per capita por essa época haja sido mais baixa do que em qualquer período da colônia, se se consideram em conjunto as várias regiões do país”. “Somente um desenvolvimento intenso do setor não ligado ao comércio exterior [ tais como serviços e industrias urbanas] poderia haver contrabalançado o declínio relativo das exportações, para que se mantivesse o nível dessa renda”. O que houve, ao contrário, foi a involução econômica, um alimento relativo do setor subsistência que desencadeou essa que de renda per capita, pois esse tipo de economia possui produtividade mais baixa. Capítulo 20 – Gestação da economia cafeeira Este capítulo refere-se ao mesmo período histórico: a primeira metade do século 19. Entretanto, nesse capítulo do livro foca-se na parte da gestação economia cafeeira, na primeira parte do século 19, para além de questões políticas. Antes é interessante colocar cronologicamente alguns acontecimentos e características desse período. Século 18: • início do século 18: introdução do café e uso para consumo local • três primeiros carteis do século 18: rápido crescimento demográficos de base migratória Universidade Federal do Piauí – UFPI Campus Universitário Ministro Petrônio Portella Centro de Ciências Humanas e Letras – CCHL Departamento de Ciências Econômicas – DECON Francisco Carlos Eduardo Sá de Abreu fceduardo_2017@hotmail.com • último cartel do século 18 e os dois primeiros carteis do século 19: estagnação econômica e crescimento demográfico vegetativo lento; rudimentar sistema administrativo; precária situação fiscal (endividamento e limitação e aumentar impostos); atraso técnico; estagnação estrutural; problema no abastecimento de mão de obra • fim do século 18: café assume importância comercial Século 19: • primeira metade: estagnação e decadência; tendência de queda nos preços dos gêneros agrícolas então exportados pelo Brasil o anos 30: café começa a se destacar • segundo e terceiro cartel do século 19: GESTAÇÃO DA ECONOMIA CAFEFEIRA e de uma nova classe empresária • segunda metade: transformações da economia brasileira- predominância do café • fim do terceiro quartel do século 19: um novo produto (café) que possibilitaria a reinserção do brasil nas correntes de comercio internacional e seu próprio financiamento para expansão; uma nova classe dirigente já formada; RESTAVA A QUESTÃO DA MÃO DE OBRA A primeira metade do século 19, como já foi visto no capítulo anterior e como pode ser visto na cronologia, é caracterizada pela estagnação econômica e pela baixa nas exportações brasileiras, o que prejudicou a única possibilidade de crescimento do país nesse período. Além disso, soma-se a precária situação fiscal e endividamento do país que contribuíam para afastar os investimentos externos. A tendencia declinantes dos preços da metade do século 19 fazia com que “as possibilidades de que as exportações tradicionais do Brasil voltassem a recuperar o dinamismo necessário para que o país entrasse em nova etapa de desenvolvimento [fossem] remotas”. O mercado do açúcar no Brasil, nessa época, era cada vez menos promissor por diversos fatores internacionais, enquanto o do Algodão (segundo principal produto exportado), pior ainda, apresentava rentabilidade comprometida em decorrência da violenta queda de preços com a entrada dos ofertantes americanos. Eis o dilema brasileiro na primeira metade do século 19: pouco capital disponível para ser investido; mão de obra limitada (vale lembrar que a Lei Eusébio de Queirós de 1850, proibiu o tráfico negreiro para o Brasil); exportações declinantes; terra abundante. “(...)a terra era o único fator de produção abundante no país. Capitais praticamente não existiam e a mão-de-obra era basicamente constituída por um estoque de pouco mais de dois milhões de escravos”. Assim, o problema brasileiro consistia em encontrar um produto agrícola compatível com as condições naturais e econômicas do país, ou seja, encontrar produtos de exportação em cuja produção entrasse como fator básico a terra. É com o protagonismo da economia cafeeira, desenvolvido inicialmente ao redor do Valeo do Rio Paraíba do Sul, na região montanhosa ao redor da então capital do país (Rio de Janeiro), que a situação começa a mudar. O café foi introduzido no Brasil no início do século 18 para consumo local e passou a ganhar importância comercial no final desse mesmo século – mais especificamente no último decênio (alta de preços em decorrência da desorganização da Universidade Federal do Piauí – UFPI Campus Universitário Ministro Petrônio Portella Centro de Ciências Humanas e Letras – CCHL Departamento de Ciências Econômicas – DECON Francisco Carlos Eduardo Sá de Abreu fceduardo_2017@hotmail.com produção haitiana). É nos anos 30 do século 19 que começa ganhar ainda mais destaque e protagonismo e já pela metade do século esse produto já configura como principal produto da pauta de exportação brasileira. “No primeiro decênio da independência o café já contribuía com 18 por cento do valor das exportações do Brasil, colocando- se em terceiro lugar depois do açúcar e do algodão. E nos dois decênios seguintes já passa para primeiro lugar, representando mais de 40 por cento do valor das exportações” É no segundo e principalmente terceiro cartel do século 19, com a recuperação dos preços do café, que a econômica cafeeira é gestada de forma mais específica. “Todoo aumento que se constata no valor das exportações brasileiras, no correr da primeira metade do século 19, deve-se estritamente à contribuição do café”. Esses recursos também advinham do norte do país: com a recuperação dos preços do café no terceiro quartel do século 19 e a depressão do mercado do açúcar criou-se uma forte pressão no sentido de transferência de mão de obra do norte para o sul do país. O desenvolvimento da produção de café se concentrou na região montanhosa próxima da capital do país. Isso ocorreu porque além de condições naturais propícias, nas proximidades dessa região, existia relativa abundância de mão-de-obra, em consequência da desagregação da economia mineira, além da proximidade do porto. Dessa forma, a primeira fase da expansão cafeeira se realiza com base num aproveitamento de recursos preexistentes e subutilizados. É interessante comparar a economia cafeeira com a econômica açucareira para se notar certos pontos. Se por um lado ambos se assemelham por serem intensivas em mão de obra escrava e operarem com capital imobilizado possuem diferenças cruciais que facilitaram o café se desenvolver no Brasil ainda mais no contexto de dificuldade mostrado. A economia cafeeira possui menor grau de capitalização (maior destaque ao fator terra - abundante); também necessita de menores gastos de reposição; opera com equipamentos simples e de fabricação local ( os equipamentos na econômica açucareira eram importados); era menos vulnerável a choques de oferta de mão de obra (fator importante num contexto de ilegalidade do tráfico de escravos). “A etapa de gestação da economia cafeeira é também a de formação de uma nova classe dirigente”. Essa classe era composta por grandes comerciantes cariocas responsáveis pelo comercio de gêneros e de animais para transporte no rio de janeiro. “Muitos desses homens, que haviam acumulado alguns capitais no comércio e transporte de gêneros e de café, passaram a interessar-se pela produção deste, vindo a constituir a vanguarda da expansão cafeeira”. Aqui mais uma vez se compara a economia açucareira com a cafeeira. Agora no aspecto da formação das classes dirigentes. Os dirigentes da economia açucareira não possuíam clara consciência de seus interesses. Nesse ciclo havia o isolamento das fases produtiva e comercial e a decisão de produção concentrava-se na fase comercial. Os produtores eram quase sempre passivos. Isso explica o fato de que quando houve a separação de Portugal a Inglaterra teve que, facilmente, ocupar o local deixado. Na economia cafeeira por outro lado, os dirigentes possuíam clara consciência de seus interesses e havia o entrelaçamento entre fase produtiva, comercial e até mesmo política; Assim, os dirigentes da produção cafeeira possuíam ampla habilidade comercial e foram capazes até mesmo de induzir a descentralização do governo para subordinar o aparelho do estado para seus interesses econômicos locais bem definidos. “A nova classe dirigente formou-se numa luta que se estende em uma frente ampla: aquisição de terras, recrutamento de mão-de-obra, organização e direção dá produção, transporte interno, comercialização nos portos, contatos oficiais, interferência na política financeira e econômica”. Universidade Federal do Piauí – UFPI Campus Universitário Ministro Petrônio Portella Centro de Ciências Humanas e Letras – CCHL Departamento de Ciências Econômicas – DECON Francisco Carlos Eduardo Sá de Abreu fceduardo_2017@hotmail.com “Ao concluir-se o terceiro quartel do século 19 os termos do problema econômico brasileiro se haviam modificado basicamente. Surgira o produto que permitiria ao país reintegrar- se nas correntes em expansão do comércio mundial; concluída sua etapa de gestação, a economia cafeeira encontrava-se em condições de autofinanciar sua extraordinária expansão subsequente; estavam formados os quadros da nova classe dirigente que lideraria a grande expansão cafeeira. Restava por resolver, entretanto, o problema da mão-de-obra”. O PROBLEMA DA MÃO DE OBRA - A oferta potencial na economia de subsistência nacional e nos núcleos urbanos - O fomento a imigração europeia pela elite cafeeira no último quartel do século 19 e início do 20 - A oferta de mão de obra na antiga econômica açucareira nordestina, canalizada para a Amazônia no último quartel do século 19 e início do 20 Capítulo 21 – O problema da mão de obra I: OFERTA INTERNA POTENCIAL • Terceiro cartel do século 19: “Pela metade do século 19, a força de trabalho da economia brasileira estava basicamente constituída por uma massa de escravos que talvez não alcançasse 2 milhões de indivíduos. Qualquer empreendimento que se pretendesse realizar teria de chocar-se com a inelasticidade da oferta de trabalho.” • Houve uma “evolução diversa do estoque de escravos nos dois principais países escravistas do continente: os EUA e o Brasil”: enquanto o brasil tinha uma taxa de mortalidade maior que a de natalidade de escravos, o inverso ocorria nos estados unidos. Assim, se no início do século 19 ambos os países tinham estoque de mão de obra escrava africana similia, na metade do século a força de trabalho americana era o dobro da brasileira (4mi e 1,5mi, respectivamente) o No brasil, diferentemente dos estados unidos, não se desenvolveu fazendas criatórias de escravo. Aqui predominava a mentalidade de curto prazo em relação aos escravos. Nos estados unidos vê-se as fazendas de criação de escravos e os estados vendedores de escravo responsáveis pelo abastecimento interno de mão de obra. • Ao crescer a procura de escravo no Sul para as plantações de café intensifica- se o tráfico interno em prejuízo das regiões que já estavam operando com rentabilidade reduzida (decadência da região do algodão no maranhão e da região açucareira) • Eliminada a única fonte importante de imigração, que era a africana, a questão da mão-de-obra se agrava e passa a exigir urgente solução • O crescimento brasileiro, “era puramente em extensão. Consistia em ampliar a utilização do fator disponível - a terra - mediante a incorporação de mais mão- de-obra. A chave de todo o problema econômico estava, portanto, na oferta de mão-de-obra”. • “não existia uma oferta potencial de mão-de-obra no amplo setor de subsistência, em permanente expansão?”: “O setor de subsistência, que se estendia do norte ao extremo sul do país, caracterizava-se por uma grande dispersão. Baseando-se na pecuária e numa agricultura de técnica rudimentar, era mínima sua densidade econômica”. Universidade Federal do Piauí – UFPI Campus Universitário Ministro Petrônio Portella Centro de Ciências Humanas e Letras – CCHL Departamento de Ciências Econômicas – DECON Francisco Carlos Eduardo Sá de Abreu fceduardo_2017@hotmail.com o A "roça" era e é a base da economia de subsistência. Entretanto, não se limita a viver de sua roça o homem da economia de subsistência. Ele está ligado a um grupo econômico maior, quase sempre pecuário, cujo chefe é o proprietário da terra onde tem a sua roça. o Se bem que a unidade econômica mais importante da economia de subsistência fosse realmente a roça, do ponto de vista social a unidade mais significativa era a que tinha como chefe o proprietário das terras. o A economia de subsistência de maneira geral estava de tal forma dispersa que o recrutamento de mão-de-obra dentro dela seria tarefa bastante difícil e exigiria grande mobilização de recursos. Na realidade, um tal recrutamento só seria praticável se contasse com a decidida cooperação da classe de grandes proprietários da terra. A experiência demonstrou, entretanto, que essa cooperação dificilmente podia ser conseguida, pois era todo um estilo de vida, de organização social e de estruturação do poder político o que entrava em jogo. • Mas não somente no sistema de subsistência existia mão-de-obra que podia ser consideradacomo reserva potencial de força de trabalho. Também, nas zonas urbanas se havia acumulado uma massa de população que dificilmente encontrava ocupação permanente. As dificuldades principais neste caso eram de adaptação à disciplina do trabalho agrícola às condições da vida nas grandes fazendas • As dificuldades de adaptação dessa gente e, em grau menor, daqueles que vinham da agricultura rudimentar do sistema de subsistência contribuíram para formar a opinião de que a mão-de-obra livre do país não servia para a "grande lavoura". Em consequência, mesmo na época em que mais incerta parecia a solução do problema de mão-de-obra, não evoluiu no país a ideia de um amplo recrutamento interno financiado pelo governo. o Prevalecia no país uma atitude extremamente hostil a toda transferência interna de mão-de-obra, o que não é difícil de explicar, tendo em vista o poder político dos grupos cujos interesses resultariam prejudicados Capítulo 22 – O problema da mão de obra II: A IMIGRAÇÃO EUROPEIA • Como solução alternativa do problema da mão-de-obra sugeria-se fomentar uma corrente de imigração europeia. • já antes da independência começara, por iniciativa governamental, a instalação de "colônias" de imigrantes europeus. Entretanto, essas colônias "pesavam com a mão de ferro" sobre as finanças do país. o As colônias criadas em distintas partes do Brasil pelo governo imperial careciam totalmente de fundamento econômico. Eram mais uma questão racial. o Era essa uma colonização amplamente subsidiada. Pagavam-se transporte e gastos de instalação e promoviam-se obras públicas artificiais para dar trabalho aos colonos. E, quase sempre, quando, após os vultosos gastos, se deixava a colônia entregue a suas próprias forças, ela tendia a definhar, involuindo em simples economia de subsistência. • A política imigração europeia elaborada pelo governo imperial para solucionar o problema da mão de obra foi um fracasso e em nada contribuía para solucionar o problema da mão-de-obra da grande lavoura o A classe dirigente da economia cafeeira, cuja influência no governo já era decisiva, não demonstrasse nenhum interesse em subsidiar uma imigração que nada contribuiria para solucionar o problema da mão-de-obra em suas plantações e que com ela viesse concorrer no mercado do café. o A classe dirigente da economia cafeeira passou a preocupar- se diretamente com o problema (sistema de parcerias e depois o sistema misto (anos 70)) Universidade Federal do Piauí – UFPI Campus Universitário Ministro Petrônio Portella Centro de Ciências Humanas e Letras – CCHL Departamento de Ciências Econômicas – DECON Francisco Carlos Eduardo Sá de Abreu fceduardo_2017@hotmail.com o O sistema de parceria: um sistema de escravidão disfarçada (por dívidas) ▪ adaptação do sistema pelo qual se organizara a emigração inglesa para os EUA na época colonial: o imigrante vendia o seu trabalho futuro. Nas colônias inglesas, o financiamento corria por conta do empresário. No caso brasileiro, o governo cobria a parte principal desse financiamento, que era o preço da passagem da família ▪ a renda do colono era sempre incerta, cabendo-lhe a metade do risco que corria o grande senhor de terras. ▪ esse sistema degeneraria rapidamente numa forma de servidão temporária, a qual nem sequer tinha um limite de tempo fixado, como ocorria nas colônias inglesas. Com efeito, o custo real da imigração corria totalmente por conta do imigrante. ▪ O colono devia firmar um contrato pelo qual se obrigava a não abandonar a fazenda antes de pagar a dívida em sua totalidade • o acirramento da questão da mão de obra no terceiro quartel do século 19 (anos 70): o 2 MOTIVOS - Estímulo a expansão cafeeira em decorrência da alta dos preços -Menor disponibilidade interna em decorrência das plantações de algodão do norte estarem a pleno vapor beneficiadas pelo vácuo de oferta deixada pelos EUA na época da guerra de secessão o Medidas para fomentar a imigração europeia: menor insegurança ao colono ▪ conjunto de medidas que tornou possível promover pela primeira vez na América uma volumosa corrente imigratória de origem europeia destinada a trabalhar em grandes plantações agrícolas - Mudança no sistema de pagamento ao colono (sistema misto - o colono tinha garantida parte principal de sua renda) - A questão do transporte da mão de obra: em 1870, o governo imperial passou a encarregar-se dos gastos do transporte dos imigrantes que deveriam servir à lavoura cafeeira. - O fazendeiro devia cobrir os gastos do imigrante durante o seu primeiro ano de atividade, isto é, na etapa de maturação de seu trabalho. Também devia colocar à sua disposição terras em que pudesse cultivar os gêneros de primeira necessidade para manutenção da família. Dessa forma o imigrante tinha seus gastos de transporte e instalação pagos e sabia a que se ater com respeito à sua renda futura ▪ Conjunto de condições favoráveis do lado da oferta: instabilidade política no processo de unificação italiana no fim do século 19. A população emigrou em massa, sobretudo para o Brasil. Capítulo 23 – O problema da mão de obra III: Transumância Amazônica • Além da grande corrente migratória de origem europeia para a região cafeeira, o Brasil conheceu no último quartel do século XIX e primeiro decênio do XX um outro grande movimento de população: da região nordestina para a amazônica. o A base da economia da bacia amazônica eram sempre as mesmas especiarias extraídas da floresta que haviam tornado possível a penetração jesuítica na extensa região (ex: cacau, algodão, arroz, borracha) o O aproveitamento dos demais produtos da floresta deparava-se sempre com o mesmo obstáculo: a quase inexistência de população e a dificuldade de organizar a produção com base no escasso elemento indígena local o A economia amazônica entrar em decadência desde fins do século 18. Desorganizado o engenhoso sistema de exploração da mão de obra indígena Universidade Federal do Piauí – UFPI Campus Universitário Ministro Petrônio Portella Centro de Ciências Humanas e Letras – CCHL Departamento de Ciências Econômicas – DECON Francisco Carlos Eduardo Sá de Abreu fceduardo_2017@hotmail.com estruturado pelos jesuítas a imensa região reverteu a um estado de letargia econômica • A borracha estava destinada, nos fins do século 19 começo do 20, a transformar-se na matéria-prima de procura em mais rápida expansão no mercado mundial o Necessidade de uma solução de longo prazo para as dificuldades de expansão da produção de borracha para atender à crescente demanda internacional: questão da mão de obra, técnica; recursos o Todavia, a rapidez com que crescia a procura de borracha nos países industrializados, em fins do século 19, exigia uma solução a curto prazo. A evolução da economia mundial da borracha desdobrou-se assim em duas etapas: durante a primeira encontrou-se uma solução de emergência para o problema da oferta do produto extrativo; a segunda se caracteriza pela produção organizada em bases racionais, permitindo que a oferta adquira a elasticidade requerida pela rápida expansão da procura mundial1". o A primeira fase da economia da borracha se desenvolve totalmente na região amazônica e está marcada pelas grandes dificuldades que apresenta o meio. • Ainda mais do que no caso do café, a expansão da produção de borracha na Amazônia era uma questão de suprimento de mão-de-obra • Fluxo migratório para a região amazônica no último decênio do século 19, a partir do nordeste -Ascensão da economia da borracha (atração de mão de obra) - Dificuldades econômicas do Nordeste (repulsão de mão de obra): A decadência da economia açucareira, a partir da segunda metade do século 17, determinou a transformação progressiva do sistema pecuário em economia de subsistência. na segunda metade do século XIX, os sintomas de pressãodemográfica sobre a terra tornaram-se mais ou menos evidentes. As ondas de prosperidade [provocada pela economia do algodão] iam contribuindo, entretanto, para criar um desequilíbrio estrutural na economia de subsistência A seca de 1877-1880 prejudicou essas plantações de algodão e de subsistência e fez muitas pessoas perecerem sem renda e sem alimentação provinda dos núcleos de subsistência as condições de miséria prevalecentes dificultaram, pelo menos durante algum tempo, a reação dos grupos dominantes da economia da região, os quais viam na saída da mão-de-obra a perda de sua principal fonte de riqueza Formou-se, assim, a grande corrente migratória que fez possível a expansão da produção de borracha na região amazônica, permitindo à economia mundial preparar-se para uma solução definitiva do problema. • Aparentemente, a imigração europeia para a região cafeeira deixou disponível-e excedente de população nordestina para a expansão da produção da borracha o A imigração europeia para a economia cafeeira e a migração nordestina para a Amazônia constituem os dois grandes movimentos de população ocorridos no Brasil, em fins do século XIX e começo do XX. Ambos os movimentos tiveram características bem distintas (*ver os dois últimos parágrafos do capítulo) • O grande movimento de população nordestina para a Amazônia consistiu basicamente em um enorme desgaste humano em uma etapa em que o problema fundamental da economia brasileira era aumentar a oferta de mão-de-obra. o A prosperidade do ciclo da borracha baseava-se nos preços que o produto havia alcançado em suas melhores etapas. Ao declinarem estes de vez, a miséria generalizou-se rapidamente. Sem meios para regressar e na ignorância do que realmente se passava na economia mundial do produto, lá foram ficando. Obrigados a completar seu orçamento com recursos locais de caça e pesca, Universidade Federal do Piauí – UFPI Campus Universitário Ministro Petrônio Portella Centro de Ciências Humanas e Letras – CCHL Departamento de Ciências Econômicas – DECON Francisco Carlos Eduardo Sá de Abreu fceduardo_2017@hotmail.com foram regredindo forma mais primitiva de economia de subsistência, que é a do homem que vive na floresta tropical, e que pode ser aferida por sua baixíssima taxa de reprodução. Capítulo 24 – O Problema da mão de obra IV: ELIMINAÇÃO DO TRABALHO ESCRAVO • Na segunda metade do século 19, não obstante a permanente expansão do setor de subsistência, a inadequada oferta de mão-de-obra constitui o problema central da economia brasileira. Esse problema foi resolvido nas duas regiões em rápida expansão econômica: o planalto paulista (imigração europeia) e a bacia amazônica (Migração da mão de obra nordestina) • Prevalecia então a ideia de que um escravo era uma "riqueza" e que a abolição da escravatura acarretaria o empobrecimento do setor da população que era responsável pela criação de riqueza no país • A abolição da escravatura, à semelhança de uma "reforma agraria", não constitui per se nem destruição nem criação de riqueza. Constitui simplesmente uma redistribuição da propriedade dentro de uma coletividade (por meio do assalariamento) o Do ponto de vista econômico, o aspecto fundamental desse problema radica no tipo de repercussões que a redistribuição da propriedade terá na organização da produção, no aproveitamento dos fatores disponíveis, na distribuição da renda e na utilização final dessa renda: o À semelhança de uma reforma agrária, a abolição da escravatura teria de acarretar modificações na forma de organização da produção e no grau de utilização dos fatores: 2 possibilidades ▪ a abolição da escravatura assume apenas aspecto formal em decorrência da carência de terras, já ocupadas previamente. Nesse caso, os antigos escravos não têm como emigrar da economia principal e permanecem submetidos a ela sob baixos salários. Assim, a redistribuição de renda é algo apenas ilusório. ▪ A abolição possui impacto direto na economia principal devido a abundância de terras. Nesse caso, os ex-escravos emigram e passam a se dedicar a economia de subsistência, já que para ele o trabalho, depois de anos de sofrimento e escravidão, significava um infortúnio. As modificações na organização da produção seriam enormes, baixando o grau de utilização dos fatores e a rentabilidade do sistema, os salários se elevariam e a redistribuição da renda ocorreria em favor da mão de obra. • No Brasil não se apresentou nenhum dos dois casos extremos referidos. Contudo, pode- se afirmar que a região açucareira aproximou-se mais do primeiro caso e a cafeeira mais do segundo. REGIÃO NORDESTINA o Na região nordestina as terras de utilização agrícola mais fácil já estavam ocupadas praticamente em sua totalidade, à época da abolição. Os escravos liberados que abandonaram os engenhos encontraram grandes dificuldades para sobreviver. Nas regiões urbanas pesava já um excedente de população que desde o começo do século constituía um problema social. Essas duas barreiras limitaram a mobilidade da massa de escravos recém-liberados na região açucareira. Os deslocamentos se faziam de engenho para engenho e apenas uma fração reduzida filtrou-se fora da região. Não foi difícil, em tais condições, atrair e fixar uma parte substancial da antiga força de trabalho escravo, mediante um salário relativamente baixo sendo pouco provável que a abolição haja provocado uma redistribuição de renda de real significação Universidade Federal do Piauí – UFPI Campus Universitário Ministro Petrônio Portella Centro de Ciências Humanas e Letras – CCHL Departamento de Ciências Econômicas – DECON Francisco Carlos Eduardo Sá de Abreu fceduardo_2017@hotmail.com o NORDESTE: a contração da oferta, provocada pela abolição da escravatura, não chegou a ter consequências graves sobre a utilização dos recursos e muito provavelmente não provocou qualquer modificação sensível na distribuição da renda.: A abolição da escravatura provocaria uma natural contração da oferta de alocar em decorrência do maior custo com o trabalhador assalariado; mas essa contração da oferta coincidiu justamente com o período de declínio das exportações internacionais devido a concorrência cubana; então novos trabalhadores não foram contratados, muito menos a salários maiores, (já que não havia necessidade) e assim a redistribuição de renda COM O FIM DA ESCRAVATURA não ocorreu de fato no nordeste REGIÃO CAFEEIRA o No sudeste a possibilidade de explorar áreas de café em expansão dificultava a fixação da mão de obra , sendo necessários salários mais altos e quando não se refugiavam na economia de subsistência o Com efeito, tudo indica que na região do café a abolição provocou efetivamente uma redistribuição da renda em favor da mão-de-obra o Uma das consequências diretas da abolição, nas regiões em mais rápido desenvolvimento, foi reduzir-se o grau de utilização da força de trabalho: a melhora na remuneração real do trabalho parece haver tido efeitos antes negativos que positivos sobre a utilização dos fatores. Os escravos livres, agora vivendo com salários além do necessário para sua sobrevivência, preferiam o ócio a ter que trabalhar mais para acumular riqueza. A ideia de trabalho era um infortúnio depois anos de escravidão violenta. • A escravidão tinha mais importância como base de um sistema regional de poder que como forma de organização da produção. Abolido o trabalho escravo, praticamente em nenhuma parte houve modificações de real significação na forma de organização da produção e mesmo na distribuição da renda. Sem embargo, havia-se eliminado uma das vigas básicas do sistema de poder formado na época colonial e que, ao perpetuar-se no século XIX, constituía um fator de entorpecimento do desenvolvimento econômico do país. Capítulo 25 – Nível de renda e ritmo de crescimento na segundametade do século 19 A região nordestina parece ser a única cuja renda per capita diminuiu. Contudo, a renda absoluta da região cresceu, pois a renda do setor exportador aumentou 54 por cento. Admitiremos que o crescimento absoluto da renda haja sido igual ao da metade da população, isto é, que a renda per capita haja diminuído com uma taxa de 0,6 por cento anual. Na Bahia as forças nos dois sentidos possivelmente se hajam contrabalançado, podendo-se admitir que a renda per capita se haja mantido. Na região sul, onde a população cresceu com a taxa de 3 por cento ao ano, houve uma óbvia expansão da renda per capita, a qual dificilmente teria sido inferior a 1 por cento anual. Com respeito à região cafeeira, admitiremos a taxa de 2,3 por cento per capita, já referida. Finalmente, com relação à Amazônia, nos limitaremos a admitir que o crescimento absoluto da renda gerada nessa região teria alcançado o duplo da intensidade observada na região cafeeira. Dessas suposições se deriva que, no meio século referido, a renda real do Brasil se teria multiplicado por 5,4 o que representa uma taxa de crescimento anual de 3,5 por cento e de crescimento per capita de 1,5 por cento. Essa taxa de crescimento é elevada, com respeito ao desenvolvimento da economia mundial no século 19. Durante a mesma época a renda real dos EUA se multiplicou por 5,7, mas, dado o crescimento mais intenso de sua população, a taxa per capita é algo menor que a indicada para o Brasil. Capítulo 26 - o fluxo de renda na economia de trabalho assalariado Universidade Federal do Piauí – UFPI Campus Universitário Ministro Petrônio Portella Centro de Ciências Humanas e Letras – CCHL Departamento de Ciências Econômicas – DECON Francisco Carlos Eduardo Sá de Abreu fceduardo_2017@hotmail.com Os gastos de consumo - compra de alimentos, roupas, serviços, etc. - vêm a constituir a renda dos pequenos produtores, comerciantes, etc. Estes últimos também transformam grande parte de sua própria renda em gastos de consumo. Destarte, a soma de todos esses gastos terá necessariamente de exceder de muito a renda monetária criada pela atividade exportadora. Suponhamos agora que ocorra um aumento do impulso externo. Crescendo a massa de salários pagos, aumentaria automaticamente a procura de artigos de consumo. A produção de parte destes últimos, por seu lado, pode ser expandida com relativa facilidade, dada a existência de mão-de-obra e terras subutilizadas, particularmente em certas regiões em que predomina a atividade de subsistência. Desta forma o aumento do impulso externo - atuando sobre um setor da economia organizado à base de trabalho assalariado - determina melhor utilização de fatores já existentes no país. Demais, o aumento de produtividade - efeito secundário do impulso externo - manifesta-se fora da unidade produtora-exportadora. A massa de salários pagos no setor exportador vem a ser, por conseguinte, o núcleo de uma economia de mercado interno. Quando convergem certos fatores a que nos referiremos mais adiante, o mercado interno se encontra em condições de crescer mais intensamente que a economia de exportação, se bem que o impulso de crescimento tenha origem nesta última. Capítulo 27: a tendência ao desequilíbrio externo Numa economia do tipo da brasileira do século 19, o coeficiente de importações era particularmente elevado, se se tem em conta nas o setor monetário, ao qual se limitavam praticamente as transações externas. Por outro lado, os desequilíbrios na balança de pagamentos eram relativamente muito mais amplos, pois refletiam as bruscas quedas de preços das matérias-primas no mercado mundial. Por último, caberia ter em conta as inter-relações entre o comércio exterior e as finanças públicas, pois o imposto das importações era a principal fonte de renda do governo central. Ao crescer a renda criada pelas exportações, cresce a massa total de pagamentos a fatores, realizados dentro da economia. Essa renda, conforme vimos, tende a multiplicar-se, primeiramente em termos monetários e finalmente em termos reais, dada a existência de fatores subocupados. O aumento da renda se realiza, portanto, em duas etapas: em primeiro lugar graças ao crescimento das exportações e, em segundo, pelo efeito multiplicador interno. Capítulo 28: a defesa do nível de emprego e a concentração de renda • o fluxo migratório no Brasil reforçava a existência de uma reserva de mão de obra; isso permitia que os salários reais não crescessem e os aumentos de produtividade se convertesse em maiores lucros aos empresários do café o que auxiliou na expansão da economia cafeeira o os aumentos de produtividade se davam por intensificação das taxas de exploração, e não por melhorias tecnológicas do capital; como os salários não aumentavam por razão da reserva de mão de obra não havia incentivo aos donos do café para converter seus lucros em capital fixo que aumentasse a produtividade da Terra Universidade Federal do Piauí – UFPI Campus Universitário Ministro Petrônio Portella Centro de Ciências Humanas e Letras – CCHL Departamento de Ciências Econômicas – DECON Francisco Carlos Eduardo Sá de Abreu fceduardo_2017@hotmail.com o a lógica portanto era de intensificar o uso do capital variável e aplica qualquer novo trabalho na expansão das terras e não dá melhoria do cultivo em terras já existente • se a quantidade de terras fossem escassa a lógica do empresário seria de aumentar o investimento por quantidade de Terra. a Terra porém era tão abundante quanto a mão de obra fazia mais sentido investir o mínimo possível por plantio e ter várias propriedades • Seria esperado que em épocas de contração económica os lucros diminuíssem isso não acontecia entretanto por ações da taxa de câmbio e na balança comercial desequilibrada o em períodos de expansão os aumentos na produtividade do investimento se traduziam não é uma elevação de salários mas sim em sua manutenção nominal enquanto a elevação se dava nos lucros dos empresários de café o A procura por produtos importados era alta entre todas as classes sociais. entre todas elas se partilhava uma procura alta e inelástica por produtos essenciais como alimentação e tecidos; entre as classes mais altas havia uma procura altamente elástica por importações de luxo o nas épocas de contração a demanda por importações se mantinham tanto pela manutenção do nível de renda como pela necessidade de seus produtos esse fator levava a balança comercial a se desequilibrar • a política cambial do estado tinha o intento de benefício dos empresários de café: se desvalorizava artificialmente o poder de compra externo da moeda o isso diminui o preço de exportações brasileiras em moeda externa o que tornava o café brasileiro mais competitivo o ao mesmo tempo os retornos em moeda nacional eram grandes para os empresários • uma efeito secundário dessa política, porem, e de aumentar o preço em moeda nacional de produtos importados dos quais a população tinha alta dependência o comidas e tecidos mesmo inelásticos eram então menos consumidos por sua alta de preço enquanto produtos de luxo da elite mais elásticos d deixavam de ser consumidos o essencialmente esse aumento dos preços prejudicavam desproporcionalmente a população pobre; socialização das perdas o E com os altos lucros dos fazendeiros também concentrava ainda mais a renda; Privatização dos lucros o “os empresários exportadores estavam na realidade logrando socializar as perdas que os mecanismos econômicos tendiam a concentrar em seus lucros...” • As ao contrário do que se observa em economias dos países centrais a renda se concentrava ainda mais em épocas de expansão crescimento econômico e não se compensava por isso em épocas de contração • “pelas mesmas razões porque na alta cíclicas os frutos desse aumento de produtividade eram retidos pela classe empresarialna depressão os prejuízos da baixa de preços tenderiam a concentra-se nos lucros dos empresários do setor exportador • Furtado aponta: o nos países centrais a crise freia o progresso e diminui as taxas de lucros e os salários; essa parada possibilita econômico que elimina parte da competição e fortifica o restante para tornar seu processo mais eficiente o nos países periféricos a crise afeta de forma bem menor o capital variável para compensar pelo baixo ou nulo aumento dos salários em épocas de prosperidade; o que se freia no entanto é a produção e o seu montante total: o capital fica estagnado • no caso do café e da economia brasileira como vimos lograsse para a manutenção do nível de emprego defesa dos lucros e socialização das perdas Universidade Federal do Piauí – UFPI Campus Universitário Ministro Petrônio Portella Centro de Ciências Humanas e Letras – CCHL Departamento de Ciências Econômicas – DECON Francisco Carlos Eduardo Sá de Abreu fceduardo_2017@hotmail.com Capítulo 29: a descentralização republicana e a formação de novos grupos de pressão • A depreciação da taxa cambial em seu efeito de concentração de renda a redistribuir de várias formas o o setor de subsistência que tinha sua produção dependente de importações viu seus custos aumentarem; mas eles vendiam ao setor exportador por preços menores de forma a não compensar os custos adicionais e beneficiar o setor exportador o dentro do próprio setor exportador os trabalhadores nas fazendas taxa cambial apesar de produzirem parte de seus próprios alimentos recebia um salário nominal e ainda importavam vendo seu salário real então descer o Os mais prejudicados foram as populações urbanas que dependendo quase exclusivamente de importações para a subsistência tiveram a maior alta de seu custo de vida • As receitas das contas públicas também estagnaram por causa da desvalorização o a principal fonte de receita do governo eram as taxas sobre importação ainda não havia imposto de renda o com a contração das importações as receitas logo diminuíram o que dificultava a operação das contas públicas o assim o governo começou a pagar seus déficits com emissão de moeda o que puxou um processo inflacionário • esse processo inflacionário foi um outro mecanismo de concentração de renda a prejudicar mais pesadamente populações assalariadas • “a depressão externa (redução dos preços das exportações) transformava se internamente em um processo inflacionário” • há um contraste enorme se compararmos as políticas monetárias descritas aqui com as do fim do Império apenas uma década atrás o o crédito no governo imperial era extremamente restrito por vezes retraindo ao invés de expandir restringindo meios de pagamentos o Tal modelo era melhor compatível os interesses de uma sociedade escravocrata; mas em suas últimas décadas essas sociedades e essa política monetária já mostravam sinais de degradação de necessidade de modernização o nos últimos anos do Império em que se transitava no trabalho assalariado e milhões de imigrantes faziam a entrada ficou claro que: “o sistema monetário de que dispunha o país demonstrava ser totalmente inadequado para uma economia baseada no trabalho assalariado” • assim que o Império acabou, o governo provisório da nova República já tratou de modernizar a política monetária. A quantidade de crédito praticamente quadruplicou nos primeiros anos • a transição de uma prolongada etapa de crédito excessivamente difícil para outra de extrema facilidade de o lugar amar febril atividade econômica como jamais se conheceram no país (final século19) • também nesse final de século 19, ao crescimento de um posto cada vez maior entre as diferentes regiões do país o essas regiões antes em organizações sociais e oligarquias de interesses alinhados iam se distanciando o as diferenças se aprofundaram por razões econômicas o sul se modernizou mais rapidamente como trabalho assalariado centros urbanos e pequenas propriedades agrícolas no extremo sul • Isso acarretou em uma República unificada sob um federalismo com maior Independência entre os estados e o poder na mão das oligarcas regionais Universidade Federal do Piauí – UFPI Campus Universitário Ministro Petrônio Portella Centro de Ciências Humanas e Letras – CCHL Departamento de Ciências Econômicas – DECON Francisco Carlos Eduardo Sá de Abreu fceduardo_2017@hotmail.com • a Proclamação da República em 1889 toma em consequência a forma de um movimento de reivindicação da autonomia regional • ao final do século XIX os interesses claros da classe desafios por novos grupos de pressão: o classe média urbana o assalariados urbanos e rurais o setor agrícola voltado ao mercado interno o capital estrangeiro o indústria nascente • “se por um lado a descentralização republicana deu maior flexibilidade político administrativa ao governo no campo econômico, em benefício dos grandes interesses agrícolas exportadores, por outro a ascenção política de novos grupos sociais facilitada pelo regime republicano e cujas rendas não derivavam da propriedade veio reduzir substancialmente o controle que antes exerciam aqueles grupos agrícolas exportadores sobre o governo central. Tem início assim um período de tensões entre os 2 níveis do governo estadual e federal que se prolongará pelos primeiros decênios do século xx”
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