Buscar

Resumo - parte 1 - Formação econômica do Brasil - Celso Furtado.docx

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 9 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 9 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 9 páginas

Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO, ATUÁRIA E CONTABILIDADE
DEPARTAMENTO DE TEORIA ECONÔMICA
CURSO DE GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS ECONÔMICAS
ELIZABETH DA COSTA HENRIQUE
FICHAMENTO: FORMAÇÃO ECONÔMICA DO BRASIL – CELSO FURTADO
PARTE I – FUNDAMENTOS ECONÔMICOS DA OCUPAÇÃO TERRITORIAL
FORTALEZA
2018
CAPÍTULO I 
DA EXPANSÃO COMERCIAL À EMPRESA AGRÍCOLA
No capítulo 1, Celso Furtado nos apresenta o contexto que levou à descoberta e ocupação da América, isto é, a expansão comercial da Europa, que “no século XV, quando as invasões turcas começaram a criar dificuldades crescentes às linhas orientais de abastecimento de produtos de alta qualidade”, viu-se obrigada a procurar alternativas à Rota Oriental Mediterrânea de Comércio com o Oriente Próximo, Índia e China; sendo a descoberta da América fruto dos esforços na busca por novas rotas comerciais.
De início, a descoberta do continente americano teve caráter secundário frente à expansão comercial europeia, principalmente para Portugal. Já a Espanha, devido à descoberta de ouro e prata no México e nos Andes, com consequentes fortificações, tornou suas colônias importantes mais depressa que Portugal. Contudo, o conhecimento de riquezas suntuosas a se descobrir nas novas terras fomentou o interesse europeu pelo novo mundo; partindo do princípio de que espanhóis e portugueses não tinham direito senão àquelas terras que houvessem efetivamente ocupado, as demais nações europeias — principalmente Holanda, Inglaterra e França — acabam por pressionar a ocupação dessas terras. 
Com fins de abastecimento e defesa de seu quinhão, a Espanha foi forçada a criar colônias de povoamento em áreas menos atraentes economicamente da parte que lhe coubera no Tratado de Tordesilhas, como no caso de Cuba. “Contudo, tão grande é este e tão inúteis lhe parecem muitas das novas terras, que decide concentrar seu sistema de defesa em torno ao eixo produtor de metais preciosos, México-Peru. Esse sistema de defesa estendia-se da Flórida à embocadura do rio da Prata. Ainda assim, e não obstante a abundância dos recursos de que dispunha a Espanha não conseguiu evitar que seus inimigos penetrassem no centro mesmo de suas linhas de defesa, as Antilhas. Essa cunha antilhana foi de início uma operação basicamente militar. Contudo, nos séculos seguintes ela terá enorme importância econômica, como veremos mais adiante.”
Especialmente importantes para pressionar a ocupação portuguesa no Brasil foram a França Antártica (RJ — segunda metade do século XVI) e a França Equinocial (MA — início do século XVII). Dada a escassez de recursos de que dispunha para proteger suas terras e o fato de não ter encontrado tão rapidamente metais preciosos em tais terras, Portugal precisou encontrar uma forma de utilização econômica das terras americanas que não fosse a fácil extração de metais preciosos, voltando-se para a exploração agrícola — primeira tentativa séria de praticar a agricultura comercial nas Américas. Assim, “de simples empresa espoliativa e extrativa — idêntica à que na mesma época estava sendo empreendida na costa da África e nas índias Orientais — a América passa a constituir parte integrante da economia reprodutiva europeia, cuja técnica e capitais nela se aplicam para criar de forma permanente um fluxo de bens destinados ao mercado europeu”.
CAPÍTULO II
FATORES DO ÊXITO DA EMPRESA AGRÍCOLA
Quais fatores levaram ao êxito da empresa agrícola?
O autor destaca um conjunto de fatores particularmente favoráveis que tornou possível o êxito dessa primeira grande empresa colonial agrícola europeia: 
Os portugueses já tinham experiência na produção de uma das especiarias mais apreciadas no mercado europeu: o açúcar. Tal experiência foi adquirida com a plantação canavieira nas ilhas do Atlântico (Madeira e Açores) e os equipamentos foram baseados na produção do Chipre, um dos grandes produtores açucareiros da época;
Houve a quebra do monopólio veneziano no refino do açúcar, com o surgimento de concorrentes no Flandres e na Holanda;
Foi contraída aliança com cidades em ambas as regiões mencionadas — Antuérpia e Amsterdam —, para refino e distribuição da produção açucareira no Norte da Europa; os holandeses eram extremamente organizados e especializados no comércio intra-europeu; tendo, ainda, contribuído com o capital necessário para a instalação de engenhos;
A solução escravagista africana para o problema da mão-de-obra nos canaviais  acrescentou fonte extra de renda para ambas as partes.
Resulta do êxito português em tal empreitada a ocupação efetiva da parte que lhe coubera no Tratado de Tordesilhas, sendo portanto “a razão de ser da continuidade da presença dos portugueses em uma grande extensão das terras americanas”, isto é, se “a defesa das novas terras houvesse permanecido por muito tempo como uma carga financeira para o pequeno reino, seria de esperar que tendesse a relaxar-se”. Assim, no século seguinte, quando se modifica a relação de forças na Europa com o predomínio das nações excluídas da América pelo tratado de Tordesilhas, Portugal já havia ocupado enormemente sua respectiva parte.
CAPÍTULO III
RAZÕES DO MONOPÓLIO
Quais as razões do monopólio português na produção de açúcar?
Embora os "magníficos resultados financeiros da colonização agrícola do Brasil" abrissem "perspectivas atraentes à utilização econômica das novas terras", "os espanhóis continuaram concentrados em sua tarefa de extrair metais preciosos". Como os espanhóis não se interessaram em fomentar um intercâmbio com as colônias ou entre estas, havia uma permanente escassez de meios de transporte que tornava o frete na Espanha caríssimo (de Sevilha para as Colônias). Isso se dava porque a Espanha queria transformar suas colônias em sistemas econômicos independentes, que produzissem excedentes — na forma de metais preciosos — periodicamente transferidos para a metrópole.
O enorme fluxo de metais preciosos das colônias para a Espanha provocou profundas transformações estruturais na economia espanhola:
Enorme crescimento do Estado e aumento no fluxo de renda gerado pelos gastos públicos, gerando inflação crônica — que se traduziu em persistente déficit na balança comercial — que se propagou pela Europa;
A alta nos preços espanhóis, geradas pelo processo inflacionário levou ao aumento das importações e diminuição das exportações, causando a diminuição das atividades produtivas, que levaram à crise espanhola no século XVII.
Assim, embora dispusesse de melhores terras para o plantio canavieiro e barata mão-de-obra indígena mais evoluída do ponto de vista agrícola, bem como o enorme poder financeiro concentrado em suas mãos, a Espanha não fez uso de tais recursos para dominar o mercado de produtos tropicais — especialmente o açúcar —, deste modo, “cabe portanto admitir que um dos fatores do êxito da empresa colonizadora agrícola portuguesa foi a decadência da economia espanhola, a qual se deveu principalmente à descoberta precoce dos metais preciosos”.
CAPÍTULO IV
DESARTICULAÇÃO DO SISTEMA
Quais as razões da quebra do sistema de monopólio português na exportação de açúcar?
Portugal foi anexada à Espanha, e a guerra que esta última promoveu contra a Holanda — que continuou comandando o comércio marítimo europeu até cerca de 1730 e não pretendia renunciar à parte substancial que tinha na distribuição do açúcar aos países europeus, negócio cujo êxito fora em boa parte obra sua — provocou enormes prejuízos à comercialização do açúcar português, que se tornava impraticável sem a colaboração dos holandeses;
Durante a guerra, a Holanda acaba por ocupar o Nordeste do Brasil, principal zona produtora de cana, adquirindo, nesse período, conhecimentos técnicos e organizacionais que foram posteriormente utilizados em suas colônias caribenhas e no Suriname;
A implantação e desenvolvimento de uma indústria concorrente, de grande escala, na região do Caribe, acarreta a diminuição do preço doaçúcar e quebra do Monopólio português, causando graves prejuízos à balança de pagamentos de Portugal.
A quebra no monopólio açucareiro português levou a uma redução de mais de 50% no volume das exportações médias anuais da segunda metade do século XVII em relação às exportações ocorridas no seu melhor período — em torno de 1650, sendo estas liquidadas a preços que não superavam a metade daqueles que haviam prevalecido na etapa anterior. Deste modo, “tudo indica que a renda real gerada pela produção açucareira estava reduzida a um quarto do que havia sido em sua melhor época”. A enorme importância que a comercialização de açúcar representava para Portugal levou à depreciação, com respeito ao ouro, da moeda portuguesa. Como Portugal era o principal abastecedor da colônia, essa desvalorização significava uma importante transferência de renda real que era revertida principalmente em benefício dos exportadores metropolitanos portugueses.
CAPÍTULO V
AS COLÔNIAS DE POVOAMENTO NO HEMISFÉRIO NORTE
O que levou à implementação das colônias de povoamento no hemisfério norte?
O debilitamento da potência militar espanhola na primeira metade do século XVII e o crescimento do poder da Holanda, França e Inglaterra, no mesmo período, fortificaram o interesse destas potências em usurpar o rico quinhão espanhol. Com isto Inglaterra e França acabam por se apossar de estratégicas Ilhas no Caribe, criando nestas colônias de povoamento com objetivos militares. “Franceses e ingleses se empenham, assim, no começo do século XVII, em concentrar nas Antilhas importantes núcleos de população europeia, na expectativa de um assalto em larga escala aos ricos domínios da grande potência enferma desse século.” Devido aos seus objetivos políticos, essa colonização deveria basear-se no sistema da pequena propriedade, sendo seus colonos atraídos por meio de propagandas e engodos — ou recrutados entre criminosos ou até mesmo sequestrados. “A cada um se atribuía um pedaço de terra limitado que deveria ser pago com o fruto de seu trabalho futuro.”
A Inglaterra tinha vantagem no recrutamento de colonos, especialmente devido à intolerância política e religiosa presente na Metrópole. Os enclosures (cercamentos) também colaboraram para a formação de uma grande massa populacional disposta a emigrar da Inglaterra.
Inicialmente essas colônias acarretavam vultosos prejuízos para as companhias que as organizam, fazendo-se necessário encontrar uma utilização econômica das colônias. Assim, “a busca de artigos capazes de criar mercados em expansão constitui a preocupação dos novos núcleos coloniais. Ademais, era necessário encontrar artigos que pudessem ser produzidos em pequenas propriedades, condição sem a qual não perduraria o recrutamento de mão-de-obra europeia”. Particularmente grandes são os prejuízos dados pelas colônias da América do Norte, graças às dificuldades em encontrar bons artigos de exportação e à resistência indígena. Explica-se assim o lento desenvolvimento inicial das colônias do Norte do continente.
Diferentemente das colônias na parte norte da América Setentrional, as Antilhas apresentavam condições climáticas para a produção de produtos agrícolas que podiam auferir bons rendimentos, tais como o algodão, anil, café e principalmente o fumo, favorecendo seu povoamento — dado o alto custo de translado, poder produzir produtos agrícolas com altos rendimentos era uma condição para o povoamento de caráter não-militar. Devido à possibilidade de se obter altos lucros com esses plantios, além do sequestros de pessoas para sua colonização, “a população europeia das Antilhas cresceu intensamente, e só a ilha de Barbados chegou a ter, em 1634, 37.200 habitantes dessa origem”.
CAPÍTULO VI
CONSEQUÊNCIAS DA PENETRAÇÃO 
DO AÇÚCAR NAS ANTILHAS
Quais são as consequências da penetração do açúcar nas Antilhas?
O êxito comercial da agricultura tropical apresentava dificuldades devido à crescente necessidade de abastecimento de mão-de-obra europeia nas plantações de fumo caribenhas. A solução a que as companhias chegaram foi a introdução de mão-de-obra escrava.
Em sua primeira fase, a colonização das Antilhas era focada em pequenas propriedades, visando objetivos políticos e a divisão do trabalho formada entre a cultura agrícola promovida no Brasil – focada no cultivo da cana-de-açúcar – e a das Antilhas – reservada para o cultiva dos demais produtos tropicais.
A expulsão dos holandeses do Nordeste brasileiro na primeira metade do século XVII, impeliu os holandeses a criarem um forte núcleo de produção de açúcar fora do Brasil. Encontraram um vantajoso terreno nas Antilhas francesas e inglesas, colaborando com os colonos dessas regiões a tentarem encontrar outras terras para cultivarem. Foram recebidos com créditos fáceis para comprar equipamentos, escravos e terras, uma vez que a economia da região encontrava-se prejudicada.
Em pouco tempo estabeleceram-se poderosos grupos financeiros que controlavam enormes quantidades de terra, engenhos de açúcar com equipamentos mais modernos e com grande vantagem geográfica para o comércio – devido à proximidade com a Europa.
As consequências da eclosão de um sistema canavieiro nas ilhas caribenhas foram profundas. Houve um drástico decréscimo da população de origem europeia em ambas Antilhas francesas e inglesas. O volume de escravos cresceu exacerbadamente. O governo francês – menos submetido à influência das companhias comerciais – instaurou medidas para combater o abandono da população branca em suas Antilhas. Tratou de introduzir atividades manufatureiras nas ilhas e enviou operários especializados em missões técnicas para estudar os recursos da ilha, a fim de encontrarem outros meios de florescimento econômico e impedir o domínio absoluto da atividade açucareira. Contudo, todos os esforços foram inúteis. 
O sucesso da empresa açucareira caribenha empurrou a população de origem europeia para fora das ilhas em direção às colônias do norte. Lá os colonos encontraram recursos para estabelecerem atividades econômicas minimamente rentáveis e autossuficientes. 
O cultivo açucareiro nas Antilhas eliminou a produção de agricultura de subsistência, transformando as ilhas em grandes importadoras de alimentos. As colônias setentrionais encontraram nas ilhas caribenhas um vigoroso comprador para quem vender seu excedente de trigo. A guerra entre a Inglaterra e a França, na segunda metade do século XVII, debilitou o abastecimento de gêneros europeus às Antilhas, propiciando à Nova Inglaterra a possibilidade de intensificar suas trocas comerciais com as ilhas caribenhas.
Do ponto de vista macroeconômico, a produtividade das colônias da Nova Inglaterra continuavam muito inferiores às das colônias agrícolas de grandes plantações. Contudo, sua atividade econômica era compatível com seu modelo de produção de pequenas unidades produtivas, de base familiar. A abundância de terras tornavam as colônias do norte atraentes para imigração europeia no regime de servidão temporária. O modelo escravista era muito mais rentável, embora não fosse acessível para o pequeno produtor – diferente do modelo de servidão temporária que possibilitou ao pequeno produtor do norte o emprego de mão-de-obra imigrante.
Essas diferenças de estrutura econômica e modelo de produção correspondem a grandes disparidades de comportamento dos grupos sociais dominantes nos dois tipos de colônias. Nas Antilhas inglesas, os grupos dominantes estavam ligados a poderosos grupos financeiros da Metrópole e influenciavam enormemente o parlamento Britânico. Já as colônias setentrionais eram dirigidas por grupos ligados a interesses comerciais centralizados em Boston e Nova York – os quais frequentemente entravam em conflito com os interesses metropolitanos.
CAPÍTULO VII
ENCERRAMENTO DA ETAPA COLONIAL
Como se dá o encerramento da etapa colonial no Brasil e quais os desdobramentos deste encerramento no Brasil independente?
A evolução da colônia portuguesa na América, a partir da segunda metade doséculo XVII, foi profundamente marcada pelo novo rumo que toma Portugal como potência colonial: 
Portugal perdera seus entrepostos comerciais no Oriente para a Espanha durante a União Ibérica, na mesma época, a melhor parte da colônia americana era ocupada pelos holandeses;
Ao recuperar sua independência, Portugal se encontrava em posição débil: sob constante ameaça espanhola e sem condições de defender suas colônias — frente à forte expansão imperialista — devido à perda do comércio oriental e à desorganização do mercado do açúcar. Deste modo, Portugal via a necessidade de aliar-se a uma grande potência; sem sucesso em conseguir firmar acordo com a Holanda e devido à sua dependência dos bancos ingleses, esta acabou por alienar parte de sua soberania à Inglaterra; tornando-se praticamente um vassalo econômico desta;
“Os privilégios conseguidos pelos comerciantes ingleses em Portugal foram de tal ordem — incluíam extensa jurisdição extraterritorial, liberdade de comércio com as colônias, controle sobre as tarifas que as mercadorias importadas da Inglaterra deveriam pagar — que os mesmos passaram a constituir um poderoso e influente grupo com ascendência crescente sobre o governo português.”
Devido às dificuldades do reino, no último quartil do século XVII, Portugal toma consciência da necessidade de reconsiderar a política econômica do país. A solução encontrada foi a redução das importações através da fomentação da produção interna no setor manufatureiro. Durante “dois decênios se chegou mesmo a interditar a importação de tecidos de lã, principal manufatura então importada. Tal política, entretanto, não chegaria a amadurecer plenamente. O rápido desenvolvimento da produção de ouro no Brasil, a partir do primeiro decênio do século XVIII, modificaria fundamentalmente os termos do problema.” O acordo comercial, celebrado com a Inglaterra em 1703, firmou a renúncia portuguesa a todo desenvolvimento manufatureiro e a transferência para a Inglaterra de boa parte do ouro brasileiro. Graças a esse acordo, entretanto, Portugal conseguiu obter importantes vitórias políticas contra França e Espanha em Utrecht: renúncia francesa a quaisquer reclamações sobre a foz do Amazonas e a quaisquer direitos de navegação nesse rio e o reconhecimento espanhol dos seus direitos portugueses sobre a Colônia do Sacramento. “Ambos os acordos receberam a garantia direta da Inglaterra e vieram a constituir fundamentos da estabilidade territorial da América portuguesa”.
A descoberta de ouro no Brasil levou a uma grande expansão demográfica nesta colônia — “que trouxe alterações fundamentais à estrutura de sua população, na qual os escravos passaram a constituir minoria e o elemento de origem europeia, maioria” — e ao financiamento do desenvolvimento manufatureiro inglês, além de uma grande flexibilidade à sua capacidade para importar, e uma concentração de reservas que fizeram do sistema bancário inglês o principal centro financeiro da Europa.
Como a Inglaterra já havia entrado em plena revolução industrial, no fim do século XVIII, essa passou a necessitar de mercados cada vez mais amplos para escoar sua produção manufatureira, abandonando progressivamente os princípios protecionistas. Frente a uma política de abertura comercial e dada a decadência da mineração de ouro no Brasil, no último quartil do século XVIII, a Inglaterra abandona o tratado de Methuen — que criava uma situação de privilégio para os vinhos portugueses no mercado inglês — em 1786, em prol da França, possibilitando a plena entrada dos produtos ingleses manufaturados neste mercado.
Os privilégios ingleses em relação a Portugal estenderam-se também ao Brasil, quando a família real fugiu para cá das tropas napoleônicas. “Com efeito, se bem haja conseguido separar-se de Portugal em 1822, o Brasil necessitou de vários decênios mais para eliminar a tutela que, graças a sólidos acordos internacionais, mantinha sobre ele a Inglaterra.” 
Assim, embora do ponto de vista militar a independência fosse uma operação simples, foi necessário grande esforço diplomático para a consolidação da independência brasileira, fazendo-se necessário aceitar a continuidade dos privilégios ingleses no Brasil, limitando a soberania econômica brasileira em prol da Inglaterra de acordo com o tratado de 1827, no qual o governo brasileiro reconheceu à Inglaterra a situação de potência privilegiada.
Tais privilégios se constituíam em fortes dificuldades econômicas para o Brasil, reduzindo a capacidade de ação do poder central e, devido ao descontentamento, criando focos de desagregação territorial. Somente na metade do século XIX ocorrem alguns fatos que permitirão consolidar definitivamente o país: o café facilitou a ampliação de relações econômicas com os EUA, que se torna o principal mercado importador do Brasil. Tal ligação e a ideologia nascente de solidariedade continental contribuem para firmar o sentido de independência vis-à-vis da Inglaterra, possibilitando ao Brasil resistir à forte pressão do governo inglês para firmar outro documento do mesmo estilo quando expira, em 1842, o acordo com a Inglaterra.
Embora o Brasil tenha consolidado finalmente sua independência plena nesta época, sua estrutura econômica, na metade do século XIX, não diferia muito do que fora nos três séculos anteriores. “A estrutura econômica, baseada principalmente no trabalho escravo, se mantivera imutável nas etapas de expansão e decadência. A ausência de tensões internas, resultante dessa imutabilidade, é responsável pelo atraso relativo da industrialização. A expansão cafeeira da segunda metade do século XIX, durante a qual se modificam as bases do sistema econômico, constituiu uma etapa de transição econômica, assim como a primeira metade desse século representou uma fase de transição política.”
A Grande Depressão de 1929 derruba demanda e preços do café e promove uma fuga de capitais estrangeiros do Brasil para os centros internacionais, sobretudo para os EUA. Queimam-se os estoques de café no Brasil e Getúlio Vargas faz uma correção de rumos nas políticas econômicas, que segue rumo à transformação em direção à industrialização. Somente assim o Brasil vê-se livre definitivamente da etapa colonial da economia brasileira, partindo em direção a um sistema econômico autônomo, capaz de gerar seu próprio impulso de crescimento.

Continue navegando