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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL UNIDADE UNIVERSITÁRIA DE CAMPO GRANDE CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA Educação Brasileira TRABALHO DE CONCLUSÃO DE DISCIPLINA: A ditadura civil-militar e as Leis 5540/68 e 5692/71 Gabriela Evangelista Vicentini Raissa Machinsky Britts Campo Grande, MS 2 2021 INTRODUÇÃO Este trabalho tem por finalidade avaliar nossos entendimentos acerca dos textos lidos sobre a temática escolhida, sendo esta o título deste, atestando-nos uma nota de 0 a 10 para a conclusão da disciplina de Educação Brasileira, ministrada pela Profa. Dra. Kátia Figueira. Outro objetivo deste trabalho é o de nos preparar, mediante a prática, para a escrita do Trabalho de conclusão de curso (TCC), que ao final do Curso de Pedagogia será o elemento norteador para julgar-nos aptas ou não para graduar e ter, assim, licença para exercer as profissões que o curso abrange no mundo do trabalho. Acerca do tema, discorreremos sobre o período da ditadura militar no Brasil, ocorrida entre 1964 e 1985. Neste período a educação se viu constrita à ideologia tecnocrática (FERREIRA JR. E BITTAR, 2008) que servia como estratégia de manutenção do poder da aliança empresarial-militar que estava no governo central do país e que, desde seus albores, revogou a liberdade democrática para apressar o crescimento do capitalismo no país. A ideologia tecnocrática adotada pelo governo empresarial-militar não somente levou as esferas governamentais a serem tomadas por tecnocratas, mas também influiu no modo de ensinar e aprender, isto é, adotou-se uma pedagogia autoritária e produtivista, que como a economia, era pendular: ora se mostrava nacionalista, ora subalterna ao Mercado Internacional (sobremodo aos ditames estadunidenses). Ainda no primeiro mês de governo (abril de 1964), o país foi “reconstitucionalizado” mediante os Atos Instituídos, e doravante, leis foram criadas afim de reformar as leis trabalhistas, econômicas e fiscais, a política per si e, claro, a educação (a reorganização dos estudantes em torno da UNE em 67 já previa a reforma universitária de 68, quando vários professores foram destituídos de seus cargos e estudantes perseguidos sob o pretexto de serem “perigosos à nação” com o apoio do decreto-lei n. 477 de fevereiro de 69 que oficializou as “infrações disciplinares” as quais professores, alunos e qualquer funcionário que se manifestasse contra o governo seriam sujeitos). 3 Amarílio Ferreira Jr. e Marisa Bittar são os autores dos dois artigos cotejados durante a produção deste. Ambos são professores da UFSCar em São Paulo, graduados no estado de Mato Grosso e doutores pela USP. 1. A DITADURA MILITAR Em 1964, os militares (junto a empresários e latifundiários) tomaram o poder no Brasil instalando a Ditadura Militar. O primeiro no governo foi o Marechal Castelo Branco que criou os Atos Instituídos 1, 2, 3 e 4, permitindo ao governo revogar a constituição de 1946, cassando leis, suspendendo direitos políticos, demitindo pessoas, tornando indireta as eleições à presidência e aos governos estaduais. O segundo presidente foi o Marechal Costa e Silva, que teve seu mandato marcado pela grande oposição dos estudantes e civis; Foi ele o responsável por sancionar o AI-5, que permitia Inquéritos Policiais-Militares revogando o direito básico a defesa dos acusados de “atentar contra a pátria”, foi ele também responsável pela reforma universitária de 1968. Após o governo da junta provisória, o terceiro presidente-militar foi Médici, que optou por manter o AI-5 e endureceu ainda mais a política dando origem ao que conhecemos como anos de chumbo (grande represália contra manifestações populares, investigações controversas, perseguições, torturas e assassinatos), foi ele também a face do “milagre econômico” (doravante melhor explicado). A ditadura começou a perder sua força no governo de Geisel, entre 74 e 79, quando este abre mão do AI-5 (não obstante, nesta data já houvesse 17 Atos em voga, todos antidemocráticos). Alguns anos mais tarde, o governo de João Figueiredo, que seria o último da ditadura militar, criou a Lei da Anistia, que perdoava a todos os acusados de crimes políticos (cometidos sobremodo durante os anos de chumbo) e permitiu, ao povo, a volta do pluripartidarismo. O fim do mantato de Figueiredo deu origem à Nova República na qual vivemos até hoje. Destarte, como podemos ver, o período ditatorial foi conturbado: repleto de modernizações urbanas forçasamente aceleradas (em uma sociedade até então essecialmente agrária) e de imperativa violência física, psicológica e ideológica, o que ecoa entre nós até os dias atuais. 1.2 Expediente do Golpe 4 Após ter fracassado em tomar o poder central pela via eleitoral e pela fraude do Plano Cohen, restou à aliança empresarial-militar apenas o expediente do Golpe de Estado (já efetuado em outras nações de mesmo modo) revogando a ordem institucional implantada após 1946, depondo o então presidente João Goulart com o intuito de negar os princípios da política nacional-populista implementada há três decênios e meio (FERREIRA JR. E BITTAR, 2008). Precisamente em março de 1964, as autoridades militares do Rio de Janeiro e de Minas Gerais mobilizaram suas tropas afirmando seu descontentamento em razão do Comício da Central (onde o então presidente João Goulart decretava atendidos os clamores populares acerca da reforma agrária e da expropriação das refinarias de petróleo - cerca de 150 mil pessoas estavam presentes e era esta a política-popular que a aliança da elite civil-militar queria frear); Juntamente aos empresários e latifundiários do território brasileiro, as autoridades militares entraram em reunião com o presidente dia 31 de março e ao fim do dia, o então presidente do Senado Auro Soares declarou que o cargo de presidente da República estava vago. 1.3 Justificativas teóricas O Golpe de Estado se firmava sobre a justificativa da Modernização Acelerada, isto é, era preciso ter “mão de ferro” para paralisar os direitos dos trabalhadores brasileiros e silenciar seus clamores. O governo pretendia acumular riqueza nacional para reinvestir nas indústrias e quitar a dívida externa. Para tanto, era preciso manter o nível de produção e exploração sem redistribuir a renda igualitariamente: neste ponto a educação foi fundamental para encucar nos indivíduos as premissas da obediência e do produtivismo. Além disso, os agentes do Golpe contaram com os pesquisadores do IPES (Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais) que estudavam “problemas brasileiros”, corroborando com a necessidade de uma “intervenção”. Outra teoria cabal, esta utilizada para justificar as reformas educacionais, é a teoria do “Capital Humano” de Schultz, que “estabelecia uma relação direta entre educação e economia na medida em que atribuía a primeira a capacidade de incrementar a produtividade da segunda” (FERREIRA JR. E BITTAR, 2008, p. 343 - 344). À vista disso, “a educação deveria ser 5 condicionada pela lógica que determinava o crescimento econômico da sociedade capitalista” (Id., Ib., p. 344). Em 1970, Schultz, escreveu uma tese defendendo que “os trabalhadores transformaram-se em capitalistas, não pela difusão da propriedade das ações da empresa, como o folclore colocaria a questão, mas pela aquisição de conhecimentos e de capacidades que possuem valor econômico” (SCHULTZ in FERREIRA JR. E BITTAR, Ib., p. 344). Assim: a educação não só alavancava a produtividade econômica como também transfigurava o trabalhador em capitalista, com base na quantidade e qualidade de novos conhecimentos que ele agregava à sua própria força de trabalho, ou seja, num capitalista proprietário de bens simbólicos metamorfoseados em ‘capital humano’ (FERREIRA JR. E BITTAR, ib., p. 344) Assim, criou-se o mito de que com a instrução apropriada o trabalhador seria detentor de um bem de valor econômico e produtivo: o conhecimento; transformando-se, assim, em “detentor de um meio de produção” – um “capitalista”.Percebemos, então, que a educação era vista como “bem de consumo” e que, para o trabalhador ordinário, a prospecção de transformar-se em capitalista era potencializadora (uma vez que operava a favor de sua vontade para com o trabalho e aceitação individual para com o sistema). 1.2 Entre o nacionalismo e a depedência institucionalizada A ditadura militar não criou um modelo econômico próprio, apesar de ter redigido o Programa de Ação Econômica do Governo (PAEG), o modelo per si executado pela ditadura militar era pensado de forma pendular, isto é, oscilando entre dois pólos: um que visava criar um capitalismo nacional e outro que preferia um sistema capitalista associado, sobremaneira aos Estados Unidos (em detrimento do Bloco Socialista). (IANNI in FERREIRA JR. E BITTAR, 2008). Esta instabilidade entre o nacionalismo afirmativo e a dependência institucionalizada também respingavam sua seiva intelectual na educação (com a obrigatoriedade do ensino de inglês nas escolas, por exemplo). 1.3 Milagre econômico e os Ais Em apenas quatro anos, o Brasil foi de quadragésimosexto para oitavo colocado nos índices internacionais de PIB. Isto foi chamado de “O milagre econômico”, destacando o Brasil como “grande potência econômica” a nível 6 mundial. No entanto, um milagre sempre vem acompanhado de um sacrifício; e com esta metáfora entendemos, então, que “as altas taxas de crescimento do PIB, que atingiam uma média próxima de 10% ao ano” (SIMONSEN in FERREIRA JR. E BITTAR, 2008, p. 336) só foram possíveis mediante a exclusão das classes trabalhadoras da política-nacional e esta exclusão foi sancionada, desde os primeiros meses de ditadura, pelos Atos instituídos (AIs). Como falamos anteriormente, o governo de Castelo Branco foi o que criou os quatro primeiros atos, a saber, de forma simplificada: o AI-1) garantia ao governo central o poder de alterar a constituição, cassar leis e demitir pessoas de seus cargos fossem eles vitalícios ou não. O AI-2) garantia as eleições indiretas para a presidência, dissolvendo o pluripartidarismo característico da democracia, aumentou o número de ministros e permitiu ao presidente declarar estado de sítio. O AI-3) garantia eleições indiretas para governadores estatais. E o AI-4) revogava a constituição. Notamos aqui a ignorância ante a massa brasileira que era aviltantemente excluída da política. O AI-5, criado por Costa e Silva, dava força ao grupo militar de informação para investigar e investir contra as manifestações e (possíveis) conspirações populares opostas ao regime. Em 1969, outros 12 Atos Instituídos foram criados, todos em prol da redução do poder democrático popular, visando o enriquecimento da maquina estatal e o desenvolvimento da indústria nacional. 2. Implicações das decisões As políticas da ditadura militar eram brutais e desconsideravam fortemente a existência de problemas estruturais de ordem social, criando assim, políticas de aparência protetiva, mas que, na verdade, só desencadeavam uma série de outros problemas como, por exemplo, a política de arrocho salarial das classes trabalhadoras, a rápida mudança nos preços das mercadorias para acompanharem a correção monetária determinada pelos índices de inflação (que eram calculados dentro de uma política cambial que privilegiava a sobrevalorização do dólar); a ampliação da infraestrutura ligada aos setores agrícola e industrial (em consonância com o aceleramento da modernização capitalista) superinchados por uma política de juros subsidiados, com taxas abaixo dos índices inflacionários; a rotatividade da mão-de-obra concatenada ao 7 fim da estabilidade no emprego (que era garantida em CLT após dez anos de serviço) por meio da adoção do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS); E ainda, o direcionamento da produção agrário-industrial para o mercado externo, em prejuízo do mercado interno (Netto,Simonsen e Campos in FERREIRA JR. E BITTAR, 2008), ou seja, queria-se riqueza pública em grande quantidade e em dólar, ignorando a realidade social da massa brasileira, colocando suas necessidades de habitação e subsistência em segundo plano. 2.1 Arrocho salarial O Arrocho salarial acontece quando o reajuste salarial (sobremodo do salário mínimo) não acompanha o aumento dos preços das mercadorias (inflação). No período da ditadura a inflação era flutuante e rápida o que gerou entre os consumidores o hábito de estocar comida (arroz, feijão, óleo, sal, açúcar etc), deste modo a demanda e a produção (lembrando que maior parte era destinada ao mercado externo) não se compensavam, o que tornava a inflação e o arrocho salarial um ciclo vicioso. No que concerne a categoria docente o arrocho salarial também foi impactante, principalmente porque, entre as décadas de 60 e 80, a profissão docente tornava-se uma área de mobilidade social, “um processo [...] tanto ascendente quanto descendente, pois os que tinham origem nos “de cima” se proletarizaram enquanto os de origem popular ascenderam a uma profissão da classe média” (FERREIRA JR. E BITTAR, 2006, p. 1159) 2.2 “Reforma” educacional (Leis 5.540/68 e 5.692/71) A política educacional do regime militar modificou todos os níveis de ensino, alterando a sua estrutura curricular e metodológica alinhavando-as as intenções nacionais de ordem e progresso, implementadas sobremodo através da repressão (uma vez que a categoria docente e discente dificilmente se silenciavam ante aos mandos do regime), as reformas educacionais: redundaram no tecnicismo; na expansão quantitativa da escola pública de 1º e 2º graus às custas do rebaixamento da sua qualidade; no cerceamento e controle das atividades acadêmicas no interior das universidades; e na expansão da iniciativa privada no ensino superior. (FERREIRA JR. e BITTAR, 2006, p. 1161) 8 O Estado autoriário entratava diretamente na concepção pedagógica da ditadura que era essencialmente produtivista na relação entre educação e mundo do trabalho. Viu-se na escola um instrumento fundamental para a difusão da ideologia do regime militar e isto se refletiu na “reforma educacional” promulgada primeiramente em 1968 no âmbito universitário e, quatro anos mais tarde 1971, na educação básica. Se observarmos a cronologia das leis, percebemos que, em primeira instância, a reforma universitária (68) formou o corpo profissional que executaria a mudança legislativa feita em 1971 – a Lei 5.692 que reforma a educação básica, instaurando o primeiro e segundo graus e suas diretrizes. “Ambas [as leis] tinham com escopo estabelecer uma ligação orgânica entre o aumento da eficiência produtiva do trabalho e a modernização autoritária das relações capitalistas de produção” (Idem, 2008, p. 335) ● Lei 5.540 de 1968 (reforma universitária) A lei é composta por 59 artigos, alguns vetados, todos revogados em 1996. Grande parte concerne a burocratização interna no referente a sectarização e à escolha de dirigentes, o Art. 26 confere à esfera federal a elaboração dos currículos, como podemos ver: Art. 26. O Conselho Federal de Educação fixará o currículo mínimo e a duração mínima dos cursos superiores correspondentes a profissões reguladas em lei e de outros necessários ao desenvolvimento nacional. Parágrafo único O currículo mínimo dos cursos de graduação em Ciências Sociais dará ênfase ao estudo do Direito do Menor. (Incluído pela Lei nº 6.625, de 1979). (BRASIL, 1969, s/p) Notamos nesta lei que a liberdade de cátedra estava comprometida e, mais grave ainda, as Ciências Sociais estavam sendo cerceadas, sofrendo um verdadeiro expurgo bibliográfico. Além disso, já nos três primeiros artigos enxergamos a ideologia tecnocrática manifesta na preponderância da formação profissional (art. 1) , no endosso à privatização (art. 2) e na tendência à sectarização dos serviços administrativos (art. 3): Art. 1º O ensino superior tem por objetivo a pesquisa, o desenvolvimento das ciências, letras e artes e a formação de profissionais de nível universitário. Art. 2º O ensino superior,indissociável da pesquisa, será ministrado em universidades e, excepcionalmente, em estabelecimentos isolados, organizados como instituições de direito público ou privado. Art. 3º As universidades gozarão de autonomia didático-científica, disciplinar, administrativa e financeira, que será exercida na forma da lei e dos seus estatutos. (BRASIL, 1968, s/p) ● Lei 5.692 de 1971 (reforma da educação básica) 9 A lei é composta por 88 artigos, também revogados. Através desta lei, instaura-se o primeiro e segundo graus: os anos iniciais e finais do fundamental, e o ensino médio. Como sabemos, estes dois “graus” de ensino estão, até hoje, vinculados ao Governo do Estado e do Município, portanto as leis foram rigorosas, como podemos observar logo no segundo artigo: Art. 2° O ensino de 1º e 2º graus será ministrado em estabelecimentos criados ou reorganizados sob critérios que assegurem a plena utilização dos seus recursos materiais e humanos, sem duplicação de meios para fins idênticos ou equivalentes. Parágrafo único. A organização administrativa, didática e disciplinar de cada estabelecimento do ensino será regulada no respectivo regimento, a ser aprovado pelo órgão próprio do sistema, com observância de normas fixadas pelo respectivo Conselho de Educação. (BRASIL, 1971, s/p) “Sem duplicacão de meios”, quer dizer, sem gastos além do necessário e adiante, no parágrafo único observamos novamente a sectarização burocrática: do regimento ao orgão próprio do sistema (governo estadual ou municipal), com atenção às normas pre-estabelecidas pelo Conselho de Educação regional em alinhamento com o da esfera federal (Conselho Federal de Educação). Como sabemos, a escola tem, para além de seu “fazer pedagógico”, o papel de assistir às necessidades básicas da criança e do jovem no que concerne sua segurança, alimentação e higiene. Não sendo diferente este modelo escolar em 1971, a lei incentivou no terceiro artigo: b) a entrosagem e a intercomplementariedade dos estabelecimentos de ensino entre si ou com outras instituições sociais, a fim de aproveitar a capacidade ociosa de uns para suprir deficiências de outros; (BRASIL, 1971) E no quarto artigo, novamente vemos a instauração de um núcleo curricular comum a toda a nação, que no inciso I atesta que: “o Conselho Federal de Educação fixará para cada grau as matérias relativas ao núcleo comum, definindo-lhes os objetivos e a amplitude”, que estaria obviamente em consonância às ideias de ordem e progresso, e a inserção do indivíduo no mercado de trabalho. Como dito anteriormente por Ferreira Jr. e Bittar (2006), a lei “redunda no tecnicismo”. 2.3 A tecnocracia 10 Durante a ditadura militar, “era necessário apetrechar o Estado nacional da capacidade de planejar a educação de acordo com os interesses socioeconômicos do mercado capitalista” (FERREIRA JR. E BITTAR, 2008, p. 346) e a ideologia tecnocrata cabia bem à essa necessidade, uma vez que era também cerne da conduta militar que valorizava a experiência, a disciplina sistêmica, a objetividade algébrica entre outros. A tecnocracia é positivista por intertextualidade e é, portanto, uma ideologia de natureza burguesa. Não somente colocavam-se ministérios nas mãos de tecnocratas (que como a própria alcunha já designa são conhecedores das técnicas, mas não dos povos), propagava-se, também, este ideário através da educação que era, juntamente com a instrução, antes de tudo: valores sociais de caráter econômico. Portanto, a “instrução/educação” é considerada como um “bem de consumo”, cuja principal propriedade é ser “um bem permanente de longa duração”, por conseguinte, diferente de outras mercadorias consumidas pelos indivíduos durante as suas vidas (SCHULTZ in FERREIRA JR. e BITTAR, 2008, p. 343) Com efeito, as estruturas curriculares precisariam se adequar à preponderância da formação técnica e científica conectada aos requisitos impostos pelo mercado de trabalho. Para isso o economista Simonsen formulou uma tabela contendo uma política educacional divida em três níveis: a educação primária, a média e a superior, descritas com operações, produtividade, desenvolvimento, expansão, ampliação, aperfeiçoamento entre outros. Tal receituário evidenciava que “para a alta tecnocracia brasileira da ditadura militar, a tarefa que estava posta era a criação dos fundamentos de um sistema nacional de ensino, com base nos aparelhos estatais” (FERREIRA JR. E BITTAR, ib., p. 345), uma impositiva organicidade entre educação e o aumento produtivo da economia nacional foi instaurada (Idem, Ibidem). A educação estava a cargo da racionalidade do Mercado Capitalista e, desta forma, impunha-se: a universalização da escola primária e média e, particularmente, a ênfase na questão curricular referente ao ensino de matemática e ciências naturais. Quanto ao ensino superior, previa-se a ampliação das vagas no âmbito dos cursos de graduação voltados para as profissões tecnológicas. Além disso, privilegia-se a estruturação dos programas de pós-graduação com a dupla função de produzir conhecimentos exigidos pela demanda do crescimento acelerado da produção econômica e, ao mesmo tempo, de formar novos quadros capacitados para a geração de ciência e tecnologia. (Idem, Ibidem, p. 346) 11 Esta universalização, essa expansão quantitativa não foi feita sem o prejuízo de sua qualidade, vide políticas de alfabetização (por exemplo, o MOBRAL). Lembrando que o privilégio da graduação e da pós-graduação era restrito; Para a baixa tecnocracia sobrava a formação de mão-de-obra especilizada para aumentar o PIB. No entanto, a demanda por educação era alta, “não era possível esperar a estruturação de um sistema nacional de ensino obrigatório e universal. Para o Estado tecnocrático, era preciso incorporar a massa da juventude” (Idem, Ibidem, p. 346) sobremodo a oriunda da classe popular, “ao esforço de construção do ‘Brasil Grande Potência’” (id., ib. p. 346) imediatamente. Para essa demanda específica que vinha da juventude pobre, miserável das áreas urbanas e rurais criou-se a “formação paramilitar de trabalho de menores” que se concretizava em trabalho não-remunerado sob a concessão de habitação e alimentação ao jovem trabalhador, que deveria ser homem (as mulheres que buscassem bons maridos!1): A concepção de paramilitarizar o trabalho da juventude pobre e miserável, durante a ditadura militar, se assemelhava aos programas postos em prática pelos Educação e ideologia tecnocrática na ditadura militar regimes fascistas na Europa do período entre guerras (1918-1945). Para os jovens excluídos, em vez da escola e proteção do Estado por meio de políticas sociais baseadas na transferência de renda, a tecnoburocracia preceituava o mercado de trabalho fundado na desumana exploração da “mão-de-obra de menores”, pois nem mesmo tinham direito aos salários. (FERREIRA JR. e BITTAR, 2008, p. 348) Enfim, esta era a cara da tecnocracia brasileira: pendulante entre o ultranacionalismo e a dependência institucionalizada aos EUA; formuladora de currículos positivistas, reducionistas e algebrizantes; autoritária e violenta; militarizante quando em encontro com a juventude pobre e galopante avante a construção de uma nação (aparentemente) à nível de primeiro mundo. 3. Considerações Finais Apresentado o contexto da concepção da Ditadura Militar, percebemos a criação de um sistema autoritário que controla o poder de um país, permeado pela ideologia tecnocrática, aderida ao sistema ditatorial. Essa ideologia é manifestada como uma maneira de organização pública, mas não democrática, fazendo da população uma massa de manobra. 1 Desculpe a ironia. 12 Nesse período, a educação foi duramente afetada, sendo voltada aos interesses do Estado, levando ao atrofiamento dos conteúdos curriculares das escolas públicas, tornando perene o analfabetismo absoluto e/ou funcional no Brasil. Como os tecnocratas defendiam a formação unilateral do homem, isto é, não-integral, percebemos que os esforços para a “universalização”deixavam a desejar em sua eficácia (verdadeiramente) pedagógica. Apesar das reformas educacionais sancionadas em 1968 e 1971, seu melhoramento metodológico era pensado a partir da racionalidade tecnocrática (e, por extensão, Positivista); Separava-se o ensino em dois, o da alta tecnocracia e da baixa tecnocracia, sendo o primeiro responsável pela formação profissional com vistas ao ensino superior e outro com vistas à qualificação da mão-de-obra. Adiante, para atender às demandas de educação da juventude pobre, os tecnocratas instauraram a formação profissional paramilitar que dava habitação, alimentação e instrução básica pagas através da força de trabalho dos menores contemplados, que não eram registrados, nem tinham salários. Desta forma, percebemos que o período militar deixou vinte anos de defasagem de ordem diastrática: a política era voltada para as relações internacionais e para a proteção da propriedade, o poderio militar, o alavancamento da indústria capitalista e o acúmulo de riqueza, deixaram em segundo plano as necessidades da classe trabalhadora. As escolas e universidades sofreram uma rigorosa diastrofia de diretrizes a qual mudou sua fisionomia, encravando traços da política vigente que era autoritária, operacionalizada, sectarizada (hierarquizada) e desenvolvimentalista. A educação em todos os seus níveis foi algebricamente expandida e modificada em claro detrimento de sua qualidade sócio-humanizadora. REFERÊNCIAS ALADIM, Débora. 50 minutos em 5: ditadura militar. YouTube, 2016. Disponível em:<https://www.youtube.com/watch?v=_h3155wuEw&t=29s&ab_channel=D% C3%A9boraAladim>. Acesso em: 05 de janeiro, 2021. BRASIL, Lei nº 5.540, de 28 de novembro de 1968. Brasília: Diário Oficial da União. 13 BRASIL, Lei nº 5.692 11 de agosto de 1971. Brasília: Diário Oficial da União. Ditadura militar: resumo para o enem. YouTube, 2019. Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=HGrq8Eit31E&t=99s&ab_channel=Descom plica>. Acesso em: 05 de janeiro, 2021. FERREIRA JR, Amarilío e BITTAR, Marisa. A ditadura militar e a proletarização dos professores. Campinas: Cad. Cedes. Vol. 27, 2006. FERREIRA JR, Amarilío e BITTAR, Marisa. Educação e ideologia tecnocrática na ditadura militar. Campinas: Cad. Cedes Vol. 28, 2008.