Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
AULA 1 METODOLOGIAS ATIVAS Profª Lígia Maria Bueno Pereira Bacarin 2 CONVERSA INICIAL Prezado(a) cursista, nesta nossa primeira aula, abordaremos a necessidade da construção de uma educação inovadora, mas que só será possível a partir de um trabalho conjunto e estruturado, no qual o papel do(a) educador(a) é essencial. Neste contexto, as metodologias devem oportunizar o cumprimento dos objetivos desejados. Sendo assim, para que os estudantes se tornem participativos, torna-se fundamental a adoção de metodologias que os envolvam e atividades cada vez mais criativas e elaboradas. Nesse sentido, para tratar dessas possibilidades as Metodologias Ativas se tornam essenciais, pois a partir delas se concebe a sala de aula como um espaço vivo, de trocas, resultados e pesquisas. Ou seja, estudos de casos, análise de artigos, sala de aula invertida, discussão de teorias, solucionar problemas em grupo, todas essas atividades fazem parte do conceito de metodologias ativas, desenvolvidas em algumas instituições de ensino e universidades. Nesse sentido, as questões que nortearão esta aula se apresentam da seguinte forma: o que são metodologias ativas? Como elas se desenvolveram? Quais são os elementos que as constituem? Como é uma aula que utiliza esse tipo de sistema? Observamos que ao tratar de novas metodologias, a discussão, necessariamente, precisa perpassar também um novo paradigma de educação e escola. Isto é, não há como mudar metodologias a partir de uma concepção de ensino que não se altere e/ ou acompanhe as transformações metodológicas. Observamos que as transformações sociais, econômicas, políticas, culturais e tecnológicas das últimas décadas têm impactado de forma significativa o cotidiano dos indivíduos e as relações que estes estabelecem entre si, tanto no mundo do trabalho e, por conseguinte, a escola. Esta última talvez seja a que mais tem sido “balançada”, dada à base histórica de sua superestrutura. Nesse contexto de imprecisão, situa-se a educação contemporânea e, mais precisamente, a escola, com seus processos, com os sujeitos que a constituem, com as relações entre docente-estudante-conhecimento e com as práticas pedagógicas. 3 CONTEXTUALIZANDO Bassalobre (2013, p. 312) observa que: Em oposição às experiências pedagógicas “sólidas” e conteudistas, as atuais demandas sociais exigem do docente uma nova postura e o estabelecimento de uma nova relação entre este e o conhecimento, uma vez que cabe a ele, primordialmente, a condução desse processo. Com efeito, conforme essa autora, essas exigências implicam em novas aprendizagens, no desenvolvimento de novas competências, em alteração de concepções, ou seja, na construção de um novo sentido ao fazer docente, imbuído das dimensões ético e política. Assim, podemos inferir, a partir das contribuições de Bassalobre (2013), que as contínuas e rápidas transformações da sociedade atual acalantam a exigência de um novo perfil docente. Dessa necessidade, Baldez, Diesel e Martins (2017, p. 269), observam que Surge a incumbência de repensar a formação de professores, tendo como ponto de partida a diversidade dos saberes essenciais à sua prática, transpondo, assim, a racionalidade técnica de um fazer instrumental para uma perspectiva que busque ressignificá-la, valorizando os saberes já construídos, com base numa postura reflexiva, investigativa e crítica. Para Bassalobre (2013), dessa perspectiva é possível inferir que os conhecimentos necessários à prática docente não se restringem ao conhecimento dos conteúdos das disciplinas. Para corroborar essa premissa, Baldez, Diesel e Martins (2017, p. 269), observam que Uma das possibilidades de interversão plausível para intervir nessa realidade resida em oportunizar aos professores e professoras refletirem na e sobre a sua prática pedagógica, a fim de que possam construir um diálogo entre suas ações e palavras, bem como outras formas de mediação pedagógica. Com base nesse cenário, as metodologias ativas se apresentam como uma possibilidade de construção de um novo processo de ensino que desloca da perspectiva do docente (ensino) para o estudante (aprendizagem). A partir dessa reflexão e das considerações já feitas é que se justifica a organização desta primeira aula, que tem como objetivo buscar pontos de convergência entre as metodologias ativas de ensino e outras abordagens já consagradas do âmbito da (re)significação da prática docente. 4 TEMA 1 – CONTEXTO HISTÓRICO DO SURGIMENTO DAS METODOLOGIAS ATIVAS Araújo (2015) observa que metodologia é uma palavra que tem registro em língua portuguesa somente em 1858. Em relação à sua etimologia, que advém do grego, compõe-se de três termos: metá (atrás, em seguida, através); hodós (caminho); e logos (ciência, arte, tratado, exposição cabal, tratamento sistemático de um tema). De acordo com Houaiss (2001) Essas significações, metodologia pode ser compreendida como tratado, disposição ou ordenamento sobre o caminho através do qual se busca, por exemplo, um dado objetivo de ensino ou mesmo uma finalidade educativa. Não haveria, por conseguinte, uma metodologia de ensino sem intencionalidade imediata, em curto prazo e de caráter programático (constituída pelos objetivos), e mediato, de caráter teleológico (pelas finalidades). Para Araújo (2015), confere-se à metodologia sentido igual a método: este seria utilizado para substituir aquela e vice-versa. Contudo, o autor observa que método se compõe de metá (atrás, em seguida, através) e de hodós (caminho). Portanto, na perspectiva desse pesquisador, método significa somente caminho por meio do qual se busca algo. Além disso, conforme o mesmo autor, metodologia de ensino também não pode ser entendida como reunião de métodos e técnicas de ensino, os quais se refeririam à didática teórica, cujos critérios passariam pelos “[...] objetivos, natureza do conteúdo, nível do aluno e natureza da aprendizagem [...]” (Martins, 1991, p. 46). Ainda para a autora: “O método constitui o elemento unificador e sistematizador do processo de ensino, determinando o tipo de relação a ser estabelecida entre professor e alunos [...]” (1991, p. 40). À vista disso, Abreu (2009) infere que: [...] a metodologia de ensino tem como alvo a articulação e a efetivação das seguintes dimensões: relações entre professores e alunos, o ensino/aprendizagem, objetivos de ensino, finalidades educativas, conteúdos cognitivos, métodos e técnicas de ensino, tecnologias educativas, avaliação, faixa etária do educando, nível de escolaridade, conhecimentos que o aluno possui sua realidade sociocultural, projeto político-pedagógico da escola, sua pertença a grupos e classes sociais, além de outras dimensões societárias em que se sustenta uma dada sociedade. A partir dessa explanação inicial, podemos pressupor que a metodologia ativa se reporta à ação pedagógica e as diferentes acepções relacionadas a esta. 5 Segundo Ferrater Mora (1982, p. 39), “O vocábulo ‘ação’ é um bom exemplo desse tipo de vocábulos com tantos e tão diversos sentidos que é pouco recomendável usá-los fora do contexto ou sem especificar seu emprego”. O antônimo de atividade, mais próximo do campo pedagógico e didático, pode ser referido à passividade, à inatividade, à inação. Segundo Abreu (2009), a essência das metodologias ativas não se constitui em algo novo, pois, para esse autor, o primeiro indício dos métodos ativos encontra-se na obra Emílio, de Jean Jacques Rousseau (1712-1778), tido como o primeiro tratado sobre filosofia e educação do mundo ocidental e no qual a experiência assume destaque em detrimento da teoria. Entretanto, Abreu (2009) afirma que foi com Johann Friedrich Herbart (1776-1841) que a pedagogia passou a ser reivindicada e estruturadacomo ciência, a qual devia, a seu ver, tornar-se experimental, posto que “[...] de uma experiência nada se aprende, tal como nada se aprende de observações dispersas [...]” (Herbart, 2003, p. 12). Isto é, sustentava então que é pela repetição de um mesmo ensaio, por muitas vezes, que se pode chegar a algum resultado. Abreu (2009) entende que para o pensador do século XVIII, à pedagogia cabia construir os seus próprios conceitos, o que promoveria sua autonomia, sua orientação e sua cientificização; para isso, ela deveria se fundar em ciências afins. A busca por constituí-la como ciência, “seria seguramente melhor se [...] se concentrasse tão rigorosamente quanto possível nos seus próprios conceitos e cultivasse mais um pensamento independente” (Abreu, 2009, p. 13). Van Zanten (2011) afirma que é com esse princípio que a pedagogia advém de cientificidade, ao admitir-se como ciência da educação, a partir do século XIX. Para Abreu (2009, p. 48), em síntese, durante o século XIX, O termo experiência foi tratado em vários sentidos: como apreensão imediata, como experiência da vida, como apreensão sensível, como afirmação de formas de experiência vivida etc. Já no século xx, chegou- se inclusive a classificar as experiências, discriminando-as por sensível, científica, religiosa, artística, filosófica etc. Conforme Ferrater Mora (1982), “muitas tendências filosóficas no século passado (XIX) e no presente (XX) deram grande atenção à noção de ação em suas múltiplas variantes: impulso, esforço, produção, transformação etc.” (p. 40). O mesmo dicionarista também se refere, em relação ao século XX, às “filosofias da ação, sob as quais estariam agrupados o pragmatismo (uma das fundações da escola nova), o existencialismo e o marxismo.” 6 Abreu (2009) analisa que foi nesse momento histórico que se desenrolou a metodologia ativa no campo do movimento da Escola Nova, a qual desencadeou uma expressiva curvatura entre a teoria e a prática, baseadas na experiência sob o domínio de Pedagogia Científica implantada por Herbart. Tal movimento surgiu na Inglaterra, através de uma “New School” em 1889, de onde se disseminou para o continente europeu, com diferenciadas propostas afeitas a construir „uma comunidade escolar livre‟, „a educação no campo‟, „a escola de humanidade‟, a coeducação; eram também concebidas como inovadoras e experimentais, e tinham como perspectiva finalidades educacionais que viessem a superar as escolas tradicionais. No Brasil, o movimento escolanovista é inaugurado por Sampaio Dória, em 1920, em São Paulo (em 1930, catorze estados brasileiros já haviam realizado sua reforma de caráter escolanovista). (Abreu, 2009, p. 7) Dessa maneira, Abreu (2009), entende que na construção metodológica da Escola Nova, a atividade e o interesse do aprendiz foram valorizados, e não os do professor. Assim, Dewey, por meio do seu ideário da Escola Nova, teve grande influência nessa ideia ao defender que a aprendizagem ocorre pela ação, colocando o estudante no centro dos processos de ensino e de aprendizagem. Enfim, conforme Abreu (2009, p. 52) A metodologia ativa elaborada em outro tempo e espaços, desde o final do século XIX até as primeiras décadas do século XX, com fundamentos autonômicos em relação à complexidade do fenômeno educacional, compreende o aluno sob o manto da Biologia primeiramente e, de modo derivado, ao da Psicologia. De um lado, o aluno sofreria uma dicotomia, seja como objeto resultante do ensino (tradicional), do qual simplesmente decorreria a aprendizagem; de outro, como sujeito (aluno) que promoveria a sua própria aprendizagem (ativa). TEMA 2 – O CONCEITO DE METODOLOGIAS ATIVAS A abordagem teórica que norteia o desenvolvimento deste segundo tema está abalizada no uso de metodologias ativas de ensino como possibilidade de (re)significação da prática docente, conforme estudos de Araújo (2015). Para tanto, inicialmente, esse autor, em sua obra, faz uma apresentação minuciosa do que se entende por metodologias ativas de ensino, levantando as principais características atreladas a elas. Essa caracterização irá direcionar os estudos posteriores, permitindo articulação em outras abordagens. Estabeleçamos, então, que a Metodologia Ativa está centrada no estudante, uma vez que sua aprendizagem se torna protagonista, secundarizando-se o ensino, que fazia protagonizar o professor. Entendemos que hegemonicamente alternavam-se as perspectivas puerocêntrica e a 7 magistrocêntrica. Numa narrativa filosófico-educacional, estabelecia-se “a querela entre a pedagogia da essência [tradicional] e a pedagogia da existência [moderna] iniciada durante o renascimento [...]” (Suchodolski, 1978, p. 29). Para Alencar e Borges (2014), podemos entender Metodologias Ativas como formas de desenvolver o processo do aprender que os professores utilizam na busca de conduzir a formação crítica de futuros profissionais nas mais diversas áreas. No entendimento desses autores, a utilização dessas metodologias pode favorecer a autonomia do educando, despertando a curiosidade, estimulando tomadas de decisões individuais e coletivas, advindos das atividades essenciais da prática social e em contextos do estudante. Dentre umas das Metodologias Ativas utilizadas, está a problematização, que tem como objetivo instigar o estudante mediante problemas, pois assim ele tem a possibilidade de examinar, refletir, posicionar-se de forma crítica. Moran (2015) observa que a maior parte do tempo – na educação presencial e a distância – ensinamos com materiais e comunicações escritos, orais e audiovisuais, previamente selecionados ou elaborados. São extremamente importantes, mas a melhor forma de aprender é combinando equilibradamente atividades, desafios e informação contextualizada. Para aprender a dirigir um carro, não basta ler muito sobre esse tema; tem que experimentar, rodar com ele em diversas situações com supervisão, para depois poder assumir o comando do veículo sem riscos. Moran (2015) também salienta que as metodologias precisam acompanhar os objetivos pretendidos. Se quisermos que os discentes sejam proativos, precisamos adotar metodologias em que os estudantes se envolvam em atividades cada vez mais complexas, em que tenham que tomar decisões e avaliar os resultados, com apoio de materiais relevantes. Se quisermos que sejam criativos, eles precisam experimentar inúmeras novas possibilidades de mostrar sua iniciativa. Dessa perspectiva, Baldez, Diesel e Martins (2017) entendem que é possível inferir que os saberes necessários ao ensinar não se restringem ao conhecimento dos conteúdos das disciplinas. Quem leciona sabe muito bem que, para ensinar, dominar o conteúdo é fundamental, mas reconhece também que este é apenas um dos aspectos desse processo. A partir das inferências de Baldez, Diesel e Martins (2017), percebemos, a partir do organograma anteriormente apresentado, que o eixo condutor das 8 Metodologias Ativas é a possibilidade de ativar o aprendizado dos estudantes, colocando-os no centro do processo, em contraponto à posição de expectador, conforme descrito anteriormente. Para Abreu (2009), ao contrário do método tradicional, que primeiro apresenta a teoria e dela parte, o método ativo busca a prática e dela parte para a teoria. Nesse percurso, há uma “migração do ‘ensinar’ para o ‘aprender’, o desvio do foco do docente para o aluno, que assume a corresponsabilidade pelo seu aprendizado” (Souza; Iglesias; Pazin-Filho, 2014, p. 285). Nesse sentido, Souza, Iglesias e Pazin-Filho (2014, p. 286) afirmam que É a partir de uma maior interação do estudante no processo de construção do próprio conhecimento, que se constrói a principal característica de uma abordagem por metodologias ativas de ensino. O aprendiz passa a ter mais controle e participação efetiva na sala de aula, já que exige dele açõese construções mentais variadas, tais como: leitura, pesquisa, comparação, observação, imaginação, obtenção e organização dos dados, elaboração e confirmação de hipóteses, classificação, interpretação, crítica, busca de suposições, construção de sínteses e aplicação de fatos e princípios a novas situações, planejamento de projetos e pesquisas, análise e tomadas de decisões. TEMA 3 – APROXIMAÇÃO ENTRE METODOLOGIAS ATIVAS E CORRENTES TEÓRICAS Para o desenvolvimento desse item, realizamos um recorte bibliográfico das principais abordagens teóricas voltadas para os processos de ensino e de aprendizagem, pautados nas principais teorias de aprendizagem, conforme estudo desenvolvido por Moreira (2011a), com justificativa de proporcionar o arcabouço teórico no qual se procura argumento para estudar a extensão dessa abordagem. Assim, desenvolveremos análises sobre a aprendizagem pela interação social; na aprendizagem pela experiência; a aprendizagem significativa e também a perspectiva freiriana da autonomia. 3.1 Contribuições do interacionismo Baldez, Diesel e Martins (2017, p. 268), lembram que o interacionismo surgiu em oposição ao inatismo, que considerava que o indivíduo nasce de um jeito e nunca mudará, e ao behaviorismo, segundo o qual as pessoas aprendem por meio de mecanismos de estímulos, respostas, reforço positivo e reforço negativo. Para os autores, 9 O interacionismo, não concebe o estudante como um ser passivo e ao educador compete a tarefa de propiciar aos estudantes o ambiente e os meios necessários para que eles construam seus conhecimentos, facilitando sua aprendizagem. Para tanto, segundo oliveira (2010), precisa ter ciência uma série de atos complexos, como oferecer um ambiente afetivo na sala de aula que seja favorável ao aprendizado, e dar espaço para que a voz do estudante seja ouvida. (p. 269) Nesse sentido, os autores destacam nessa corrente teórica Vygotsky, que concebeu uma perspectiva mais social ao interativismo. Interessa, aqui, analisar um pouco mais a fundo esta última perspectiva, que não leva em conta o indivíduo isoladamente, nem o contexto isoladamente, mas na interação desses elementos. Moreira (2011b), mencionando os fundamentos de Vygotsky, afirma que “os processos mentais superiores do indivíduo têm origem em processos sociais”. Para corroborar com a análise, Baldez, Diesel e Martins (2017) também retratam que a interação social é fundamental para o desenvolvimento cognitivo do indivíduo por provocar constantemente novas aprendizagens a partir da solução de problemas sob a orientação ou colaboração de crianças ou adultos mais experientes. 3.2 Contribuições da aprendizagem por experiências Baldez, Diesel e Martins (2017) afirmam que a pedagogia por experiências desenvolvidas por John Dewey também é referência às metodologias ativas de ensino. O que aproxima essas abordagens é o fato de que para ambas não há separação entre vida e educação, o que representa que, de acordo com Dewey (1978), os estudantes não estão sendo preparados para a vida quando estão na escola, e que estão de fato “vivendo” quando não estão em ambiente escolar. Baldez, Diesel e Martins (2017) afirmam que Dewey (1978) define cinco condições para uma aprendizagem que integra diretamente a vida. A título de ilustração e aproximação com o método ativo, elas se definem como: só se aprende o que se pratica; mas não basta praticar, é preciso haver reconstrução consciente da experiência; aprende-se por associação; não se aprende nunca uma coisa só; toda aprendizagem deve ser integrada à vida. 3.3 Contribuições da aprendizagem significativa Baldez, Diesel e Martins (2017) entendem que ao discorrer sobre a dicotomia da aprendizagem significativa e mecânica de Ausubel, Moreira (2011a) menciona que, na primeira, a nova informação é relacionada de maneira 10 substantiva e não arbitrária a um aspecto relevante da estrutura cognitiva, ao passo que, na aprendizagem mecânica, a nova informação não interage com aquela já existente na estrutura cognitiva. Nesse sentido, para Baldez, Diesel e Martins (2017), um estudante que, para realizar uma prova avaliativa, decora fórmulas, macetes, leis e, ao término da avaliação, esquece tudo, está submetido à aprendizagem mecânica. 3.4 Contribuições da perspectiva freiriana da autonomia Baldez, Diesel e Martins (2017) afirmam que Paulo Freire foi um dos pioneiros a problematizar os desafios concretos que impulsionaram a articulação de movimentos populares em direção à transformação das realidades sociais. Para o educador, um dos grandes problemas da educação paira no fato de os estudantes serem estimulados a pensarem autonomamente. Baldez, Diesel e Martins (2017) entendem que a abordagem de Freire acontece dentro de um enfoque construtivista, sendo do professor o papel de assegurar um ambiente dentro do qual os alunos possam reconhecer e refletir sobre suas próprias ideias; aceitar que outras pessoas expressem pontos de vista diferentes dos seus, mas igualmente válidos, e possam avaliar a utilidade dessas ideias em comparação com as teorias apresentadas pelo professor. (Jófili, 2002, p. 196). TEMA 4 – PILARES DAS METODOLOGIAS ATIVAS Com a intenção de exemplificarmos o que entendemos por uma abordagem moderada em metodologias ativas de ensino, apresentamos a figura a seguir (Figura 1), elaborada por Baldez, Diesel e Martins (2017), que sintetiza os principais princípios que constituem as metodologias ativas de ensino. 11 Figura 1 – Princípios que constituem as metodologias ativas de ensino Fonte: Baldez; Diesel; Martins, 2017. 4.1 O estudante como centro do processo de aprendizagem Conforme análise de Baldez, Diesel e Martins (2017), pela imagem anterior, observamos a perspectiva das metodologias ativas como uma possibilidade de ativar o aprendizado dos estudantes, colocando-os no centro do processo. Abreu (2009) analisa que, ao contrário do método tradicional, que primeiro apresenta a teoria e dela parte, o método ativo busca a prática e dela parte para a teoria. Nesse percurso, há uma “migração do ‘ensinar’ para o ‘aprender’, o desvio do foco do docente para o aluno, que assume a corresponsabilidade pelo seu aprendizado” (Souza; Iglesias; Pazin-Filho, 2014, p. 285). Baldez, Diesel e Martins (2017) salientam que a partir de uma maior interação do estudante no processo de construção do próprio conhecimento, este passa a ter mais controle e participação efetiva na sala de aula, já que exige dele ações e construções mentais variadas, como: leitura, pesquisa, comparação, observação, imaginação, obtenção e organização dos dados, elaboração e confirmação de hipóteses, classificação, interpretação, crítica, busca de suposições, construção de sínteses e aplicação de fatos e princípios a novas situações, planejamento de projetos e pesquisas, análise e tomadas de decisões (Souza; Iglesias; Pazin-Filho, 2014). Evidencia-se, dessa forma, que esse começo está relacionado a uma atitude ativa do estudante, na qual irá praticar sua autonomia, como será explicitado a seguir. 12 4.2 Autonomia Baldez, Diesel e Martins (2017, p. 268) atentam para o fato de que Em um ensino tradicional, baseado na transmissão de conteúdos, o estudante tem uma postura passiva diante dos processos de ensino e de aprendizagem, tendo a função de receber e absorver uma quantidade enorme de informações apresentadas pelo docente. Muitas vezes, não há espaço para o estudante manifestar-se e posicionar-se de forma crítica. Em oposição a isso, esses autores observam que ao desenvolver práticas pedagógicas norteadas pelo método ativo, o estudante passa a assumir uma postura ativa, exercitando uma atitude crítica e construtiva que fará dele um profissional melhor preparado. Segundo Reeve (2009 citado por Berbel, 2011, p. 28), o professor contribuipara promover a autonomia do aluno em sala de aula, quando: A) nutre os recursos motivacionais internos (interesses pessoais); b) oferece explicações racionais para o estudo de determinado conteúdo ou para a realização de determinada atividade; c) usa de linguagem informacional, não controladora; d) é paciente com o ritmo de aprendizagem dos alunos; e) reconhece e aceita as expressões de sentimentos negativos dos alunos. 4.3 Problematização da realidade e reflexão. Hengemühle (2014) afirma que, no contexto da sala de aula, problematizar implica em fazer uma análise sobre a realidade como forma de tomar consciência dela. Em outra instância, segundo esse autor, há necessidade de o docente instigar o desejo de aprender do estudante, problematizando os conteúdos. Reportando-se a essa questão, conforme Hengemühle (2014), é fundamental que o docente conheça as situações e os problemas aos quais o conteúdo está ligado. Daí porque se defende a ideia de que a educação desenvolvida na escola precisa ser útil para a vida, de modo que os estudantes possam articular o conhecimento construído com possibilidades reais de aplicação prática, ou seja, aprender com sentido, com significado contextualizado. TEMA 5 – SALA DE AULA INVERTIDA Em síntese, segundo Lage, Platt e Treglia (2000), sala de aula invertida, como um dos elementos da metodologia ativa, significa transferir eventos que tradicionalmente eram feitos em aula para fora da sala de aula. Trata-se de uma 13 abordagem pela qual o estudante assume a responsabilidade pelo estudo teórico e a aula presencial serve como aplicação prática dos conceitos estudados (Jaime; Koller; Graeml, 2015). Segundo conteúdo da Flipped Learning (FLN, 2014), aprendizagem invertida é entendida como uma abordagem pedagógica na qual a aula expositiva passa da dimensão da aprendizagem grupal para a dimensão da aprendizagem individual, transformando-se o espaço em sala de aula restante em um ambiente de aprendizagem dinâmico e interativo, no qual o facilitador guia os estudantes na aplicação dos conceitos. Figura 2 – Pilares da aprendizagem invertida Fonte: Adaptado de FLN, 2014. Conforme a figura que vimos há pouco, ressaltamos que há uma diferenciação entre os termos Sala de Aula Invertida e a Aprendizagem Invertida, uma vez que, conforme Schmitz (2016), inverter a aula pode, mas não necessariamente, levar a uma prática de aprendizagem invertida. É provável que muitos professores já tenham invertido suas classes ao pedir aos estudantes que lessem um texto ou assistissem a um vídeo com materiais adicionais ou que, ainda, resolvessem problemas prévios antes da aula. No entanto, para se engajar na aprendizagem invertida, os professores devem incorporar quatro pilares 14 fundamentais em sua prática, que são sintetizados na sigla ͞F-L-I-P, conforme imagem anterior (FLN, 2014). Bergmann e Sams (2012; 2016) demonstram que a sala de aula invertida prevê o acesso ao conteúdo antes da aula pelos alunos e o uso dos primeiros minutos em sala para esclarecimento de dúvidas, de modo a sanar equívocos antes dos conceitos serem aplicados nas atividades práticas mais extensas no tempo de classe. Para esses autores, em classe, as atividades se concentram nas formas mais elevadas do trabalho cognitivo: aplicar, analisar, avaliar, criar, contando com o apoio de seus pares e professores. Lage, Platt e Treglia (2000, p. 40), ressaltam que Transferir palestras (exposição do conteúdo) ou informação básica para fora da sala de aula possibilita ao estudante uma preparação prévia para atividades de aprendizagem ativa durante a aula, que ajudam os estudantes a desenvolver sua comunicação e habilidades de pensamento de ordem superior. Moran (2015) considera a sala de aula invertida um dos modelos mais interessantes da atualidade para mesclar tecnologia com metodologia de ensino, pois concentra no virtual o que é informação básica e, na sala de aula, atividades criativas e supervisionadas, uma combinação de aprendizagem por desafios, projetos, problemas reais e jogos. Segundo a FLN (2014), a aprendizagem invertida é uma abordagem que permite aos professores programar uma ou várias metodologias na sala de aula. Bergmann e Sams (2016, p. 45) afirmam que a abordagem “é compatível com a aprendizagem baseada em projetos, aprendizagens por descoberta, induzida pelo interesse do estudante”. Segundo Bergmann e Sams (2016, p. 22), “Como não existe um modelo único de inversão, em aula o professor pode guiar atividades práticas diferentes ou possibilitar que alunos trabalhem em tarefas diferentes simultaneamente; que trabalhem em grupos ou individualmente ou ainda que sejam avaliados, quando se sentem preparados”. Nas próximas aulas, aprofundaremo-nos acerca das possibilidades metodológicas propiciadas pelas salas de aula invertidas. 15 FINALIZANDO Prezado(a) cursista, nesta nossa primeira aula sobre Metodologias Ativas, compreendemos, a partir dos estudos de Berbel (2011) e de Baldez, Diesel e Martins (2017, p. 270) Que toda e qualquer ação proposta com a intenção de ensinar deve ser pensada na perspectiva daqueles que dela participarão que via de regra, deverão apreciá-la. Desse modo, conforme esse autor, o planejamento e a organização de situações de aprendizagem deverão ser focados nas atividades dos estudantes, posto que seja a aprendizagem destes, o objetivo principal da ação educativa. À vista disso, Moran (2015) observa que existe indigência de os educadores procurarem novos horizontes metodológicos que focalizem no protagonismo dos estudantes, beneficiem a motivação e requeiram a autonomia destes. Assim, conforme Baldez, Diesel e Martins (2017, p. 269), “atitudes como oportunizar a escuta aos estudantes, valorizar suas opiniões, exercitar a empatia, responder aos questionamentos, encorajá-los, dentre outras, são favorecedoras da motivação e da criação de um ambiente favorável à aprendizagem”. Nessa perspectiva, retomamos às questões que orientaram essa primeira aula: o que são metodologias ativas? Como elas se desenvolveram? Quais são os elementos que as constituem? Como é uma aula que utiliza esse tipo de sistema? Assim, para responder essas indagações, entendemos que as Metodologias Ativas surgem em contraposição ao método tradicional, e conforme Baldez, Diesel e Martins (2017, p. 268), Em que os estudantes possuem postura passiva de recepção de teorias, o método ativo propõe o movimento inverso, ou seja, passam a ser compreendidos como sujeitos históricos e, portanto, a assumir um papel ativo na aprendizagem, posto que tenham suas experiências, saberes e opiniões valorizadas como ponto de partida para construção do conhecimento. Com base nesse entendimento, o método ativo é um processo que visa estimular a autoaprendizagem e a curiosidade do estudante para pesquisar. LEITURA OBRIGATÓRIA Texto de abordagem teórica MORAN, J. M. Nova personalidade [25 out. 2014]. Brasília: Correio Braziliense. Brasília. Entrevista concedida para Olivia Meireles. Disponível em: 20 ago. 2018. 16 Nessa entrevista são abordados os principais elementos que influenciaram a construção das metodologias ativas. Texto de abordagem prática RAMAL, A. Sala de aula invertida: a educação do futuro. Rio de Janeiro: G1, 28 abr. 2015. Disponível em: <http://g1.globo.com/educacao/blog/andrea- ramal/post/sala-de-aula-invertida-educacao-do-futuro.html>. Acesso em: 20 ago. 2018. O foco do texto é abordar como ocorre a interação entre aprendizagem e docência a partir das salas de aula invertidas. Saiba mais OCDE. Understanding the brain: Towards a new learning science. Paris: OCDE, 2002. Na obra, são elencadas as principais referências que direcionam o debate sobre as metodologias invertidas. 17 REFERÊNCIAS ABREU, J. R. P. de. Contexto atual do ensino médico:metodologias tradicionais e ativas – necessidades pedagógicas dos professores e da estrutura das escolas. 2011. 172 f. Dissertação (Mestrado em Educação e Saúde) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2009. ALENCAR, G.; BORGES, T. S. Metodologias ativas na promoção da formação crítica do estudante: o uso das metodologias ativas como recurso didático na formação crítica do estudante do ensino superior. Cairu em Revista, jul./ago. 2014, Ano 3, n. 4, p. 119-143. ARAÚJO, J. C. Fundamentos da metodologia de ensino ativa (1890-1931) – UNIUBE/UFU. 37. Reunião Nacional da ANPEd – 4 a 8 de outubro de 2015, UFSC – Florianópolis. BASSALOBRE, J. Ética, Responsabilidade Social e Formação de Educadores. Educação em Revista. Belo Horizonte, v. 29, n. 1, p. 311-317, mar. 2013. BERBEL, N. As metodologias ativas e a promoção da autonomia dos estudantes. Semina: Ciências Sociais e Humanas, Londrina, v. 32, n. 1, p. 25-40, jan./jun. 2011. BERGMANN, J.; SAMS, A. Flip your classroom: Reach every student in every class every day. USA: ISTE, 2012. _____. Sala de aula invertida: uma metodologia ativa de aprendizagem. Rio de Janeiro: LTC, 2016. DEWEY, J. Vida e educação. 10. ed. São Paulo: Melhoramentos, 1978. FLIPPED LEARNING NETWORK (FLN). The four pillars of F-L-I-P. South Bend, IN: Flipped Learning, 2014. Disponível em: <http://www.flippedlearning.org/domain/46>. Acesso em: 20 ago. 2018. DIESEL, A.; BALDEZ, A. L. S.; MARTINS, S. N. Os princípios das metodologias ativas de ensino: uma abordagem teórica. Revista Themas. UNIVATES – Centro Universitário Centro Universitário Univates, Lajeado/RS, 2017. v. 14, n. 1, p. 268– 288. FERRATER MORA. Dicionário de filosofia. 4. ed. Madri: Alianza Editorial, 1982, 4 v. 18 FREIRE, P. Pedagogia da autonomia. Saberes necessários à prática educativa. 51. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2015. HENGEMÜHLE, A. Formação de professores: da função de ensinar ao resgate da educação. 3. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014. HERBART, J. F. Pedagogia geral deduzida da finalidade da educação. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2003. HOUAISS, Dicionário Eletrônico. São Paulo: Objetiva, 2001. JAIME, M. P.; KOLLER, M. R. T.; GRAEML, F. R. La aplicación de flipped classroom en el curso de dirección estratégica. In: Jornadas internacionales de innovación universitaria educar para transformar, 12, 2015. Actas... Madrid: Universidad Europea, 2015. p. 119-133. JÓFILI, Z. Piaget, Vygotsky, Freire e a construção do conhecimento na escola. Educação: teorias e práticas. v. 2, n. 2, p. 191-208, dez. 2002. LAGE, M. J.; PLATT, G. J.; TREGLIA, M. Inverting the classroom: a gateway to creating an inclusive learning environmente. Journal of Economic Education. Bloomington, IN, v. 31, n. 1, p. 30-43, 2000. MARTINS, P. L. O. Didática teórica/didática prática: para além do confronto. São Paulo: Loyola, 1991. MORAN, J. Mudando a educação com metodologias ativas. In: SOUZA, C. A. de; MORALES, O. E. T. (Org.) Coleção Mídias Contemporâneas. Convergências Midiáticas, Educação e Cidadania: aproximações jovens. Vol. II. PG: Foca Foto- PROEX/UEPG, 2015. Disponível em: <http://www2.eca.usp.br/moran/wp- content/uploads/2013/12/mudando_moran>. Acesso em: 20 ago. 2018. MOREIRA, M. A. Aprendizagem significativa: a teoria e textos complementares. São Paulo: Livraria da Física, 2011a. _____. Teorias de aprendizagem. 2. Ed. São Paulo: EPU, 2011b. OLIVEIRA, L. A. Coisas que todo professor de português precisa saber: a teoria na prática. São Paulo: Parábola Editorial, 2010. 19 SOUZA, C. da S.; IGLESIAS, A. G.; PAZIN-FILHO, A. Estratégias inovadoras para métodos de ensino tradicionais – aspectos gerais. Medicina, v. 47, n. 3, p. 284- 292, 2014. VAN ZANTEN, A. (Coord.). Dicionário de Educação. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011.
Compartilhar