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Introdução à Física Clássica I Prof. Neemias Alves de Lima 26 de julho de 2021 Escola de Ciências e Tecnologia, UFRN 12 - Conservação de energia A ideia de que o movimento de um objeto é governado por algo que não muda teve sua origem nos experimentos pendulares de Galileu. Energia mecânica é qualquer forma de energia que está diretamente associada ao movimento ou a uma força. A energia cinética é uma forma de energia mecânica. Outros dois tipos de mecânica energia são a energia gravitacional, associada à força da gravidade e energia elástica, associado com a força exercida por uma mola. A partir do uso do conceito de energia mecâ- nica podemos ir além da abordagem de trabalho e energia que apresentamos no capítulo anterior. 1 Conservação de energia mecânica Vimos que para as forças gravitacional e elástica podemos escre- ver o trabalho como uma diferença de energia potencial: W = −(Uf − Ui) (1) Se a força resultante em um corpo de massa m realiza trabalho que pode ser calculado por esta equação, temos pelo teorema trabalho e energia cinética que Wres = −(Uf − Ui) = Kf − Ki (2) onde K = 1 2 mv2 (3) é a energia cinética do corpo. 2 Podemos reescrever esta igualdade da seguinte forma: Kf + Uf = Ki + Ui (4) onde a soma das energias cinética e potencial, E = K + U (5) chamamos de energia mecânica do sistema composto pela partí- cula e as fontes das energias potenciais. Forças para as quais podemos escrever o trabalho como uma dife- rença de energia potencial são chamadas de forças conservativas pois por (4) a energia mecânica é sempre constante: Ef = Ei (6) 3 A Eq. (6) é chamada de lei da conservação da energia mecânica. Esta lei foi proposta e comprovada em 1722 por Émilie du Châ- telet (1706 – 1749) por meio de colisões de esferas de metal com um alvo de barro mole. Émilie du Châtelet 4 Exemplo 12.1 - Um bloco cúbico de lado a é solto a partir do repouso no topo de uma rampa sem atrito, a uma altura H � a acima da base da rampa, como mostra Figura. A rampa termina a uma altura h acima da base, de forma que o bloco sai voando da rampa e segue uma trajetória parabólica até chocar- se contra o solo. Estime a velocidade do bloco ao atingir o solo. Despreze os efeitos da resistência do ar. v = 0H h y xO Estado inicial (i) v H h y xO Estado final (f) 5 A única força que realiza trabalho sobre o bloco é força gravita- cional. Pela lei de conservação de energia mecânica: Ef = Ei Kf + Ug,f =��> 0 K i + Ug,i 1 2 mv2f + mgyf = 1 2 mv2i + mgyi 1 2�� mv2 +��mg0 = 1 2�� m02 +��mgH v = √ 2gH Imagine como você resolveria este problema aplicando direta- mente as leis de Newton (e equações da cinemática). Seria mais simples ou mais complicado? 6 Exemplo 12.2 - Uma corda leve passa por uma roldana e liga dois blocos como ilustrado nas Figuras abaixo. O sistema é liberado do repouso com o bloco mA = 4, 0 kg tocando o solo. Com que velocidade v o bloco mB = 12, 0 kg atingirá o solo se h = 2, 0 m? Considere a roldana ideal e despreze o atrito em seu mancal. mA mB h v = 0 v = 0 Estado inicial (i) y 0 mA mB h v v Estado final (f) y 0 7 As condições do problema permitem aplicar a lei de conservação de energia mecânica. As altura iniciais e finais dos blocos A e B são yAi = 0, yAf = h, yBi = h e yBf = 0, com h = 2, 0 m, e as velocidades finais de ambos é v. Ef = Ei KAf + KBf + Ug,Af + Ug,Bf = KAi + KBi + Ug,Ai + Ug,Bi 1 2 mAv2 + 1 2 mBv2 + mAgh + 0 = 0 + 0 + 0 + mBgh Isolando v: v = √ 2mB − mA mB + mA gh = √ 212, 0 − 4, 0 12, 0 + 4, 0 9, 8(2, 0) = 4, 4 m/s 8 Exemplo 12.3 - Um brinquedo utiliza uma mola (k = 36 N/m) para lançar um bloco (m = 8, 0 g) em uma rampa inclinada (θ = 30◦). Qual é a distância s que o bloco percorre ao longo da rampa se a mola for comprimida de d = 4, 2 cm e então liberada do repouso? Despreze as forças de atrito. Nas Figuras abaixo temos as situações inicial, final e as escolhas dos sistemas de coordenadas que definem as energias potenciais. −d mk v = 0 θ Estado inicial (i) y′ x ′ 0 y x m k v = 0 θ Estado final (f) y′ x ′ y x s h 9 Aplicando a lei de conservação de energia mecânica, temos Ef = Ei Kf + Ug,f + Ue,f = Ki + Ug,i + Ue,i 0 + mgh + 0 = 0 + 0 + 1 2 kd2 Da Figura temos que h = s senθ (1) Substituindo (2) em (1): mgs senθ = 1 2 kd2 (2) Isolando d: s = kd 2 2mg senθ = 36(0, 042)2 2(8, 0 × 10−3)9, 8 sen30◦ = 0, 81 m 10 Energia E o que acontece com a energia mecânica quando forças não- conservativas atuam em um objeto? Como a própria pergunta sugere a energia mecânica do sistema não será conservada. Para obter a variação da energia mecânica escrevemos o trabalho re- sultante como uma soma dos trabalhos das forças conservativas, Wc, e das forças não conservativas, Wnc: Wres = Wc + Wnc = −(Uf − Ui) + Wnc = Kf − Ki (7) onde a ultima igualdade se deve ao teorema trabalho-energia ci- nética. 11 Podemos reescrever esta equação assim: Kf + Uf = Ki + Ui + Wnc (8) ou seja, Ef = Ei + Wnc (9) Portanto, quando há forças não conservativas, a energia mecâ- nica não é conservada e sua variação é justamente o trabalho resultante das forças não conservativas: ∆E = Wnc (10) Mas, se a energia mecânica não é conservada, para onde ela vai (no caso de dissipação) ou de onde ela vem (no caso de haver um ganho)? 12 Em 1843, James Prescott Joule (1818-1889) fez uma série de ex- perimentos e descobriu que o calor, energia cinética e o trabalho mecânico são apenas formas diferentes de energia. No mais fa- moso, um peso preso a um fio ao cair fazia girar uma pá imersa na água. Assim, ele mostrou que a energia potencial gravitacional perdida pelo peso na descida era igual à energia interna obtida pela água através do atrito com a palheta. James Prescott Joule Experimento de Joule 13 Em 1847, Hermann von Helmholtz (1821-1894) postulou que exis- tia uma única energia, e que esta se manifestava em diferentes formas. Hermann von Helmholtz Portanto, a variação da energia mecânica se deve a sua conversão em calor, luz, som, ligações químicas, etc, e vice-versa. 14 Exemplo 12.4 - Um bloco de massa 0,50 kg está sobre uma superfície plana horizontal. Ele é empurrado contra uma mola ideal comprimindo-a até uma distância 0,20 m. Quando o bloco é liberado ele se move por uma distância 1,0 m antes de parar. A constante da mola é igual a 100 N/m. Calcule o coeficiente de atrito cinético entre o bloco e a mesa. As Figuras abaixo ilustram as situações inicial e final do sistema, onde: m = 0, 50 kg, d = 0, 20 m, s = 1, 0 m e k = 100 N/m. y x m k v = 0 −d Estado inicial (i) y x m k v = 0 s Estado final (f) 15 O bloco para por causa da dissipação de energia mecânica devido à força de atrito. A equação de conservação de energia é Ef = Ei + Wat Kf + Ug,f + Ue,f = Ki + Ug,i + Ue,i − Fat,cs 0 + 0 + 0 = 0 + 0 + 1 2 kd2 − Fat,cs Isolando a força de atrito: Fat,c = kd2 2s = 100(0, 20)2 2(1, 0) = 2, 0 N 16 Da definição da força de atrito cinético temos Fat,c = µcN onde, pelo diagrama de corpo livre, N = mg Portanto: Fat,c = µcmg µc = Fat,c mg = 2, 0 0, 50(9, 8) = 0, 41 17 Exemplo 12.5 - Uma atleta de 65 kg caminha para fora de uma plataforma de mergulho de 10 m e pula na água. Se ela alcança uma profundidade de 4,5 m, qual é a força resistente média da água sobre ela? Desconsidere a resistência do ar. 18 A força de resistência ~FA da água é uma força não conservativa, logo Ef = Ei + WA onde WA é o trabalho de ~FA no deslocamento de profundidade d. Definindo y = 0 igual ao nível da água, temos Kf + Ug,f = Ki + Ug,i + WA 0 + mg(−d) = 0 + mgh − FAd Portanto, isolando FA: FA = mg(h + d) d = 65(9, 8)(10 + 4, 5) 4, 5 = 2, 1 × 103 N = 2, 1 kN 19 Exercícios 12.1 Um corpo de 5,0 kg de massa é preso a uma mola na posição vertical. A constante elástica da mola é igual a 2, 0 × 103 N/m. (a) Se se permitir que a mola se alongue muito lentamente, de que distância o corpo abaixará? (b) Agora o corpo, a partir da posição da mola relaxada, é abandonadode maneira a cair livremente. Qual a distância máxima que o corpo se deslocará nesse caso? 20 12.2 Uma bola de demolição balança na extremidade de um cabo de 12,0 m sobre um arco circular vertical. O operador da grua consegue imprimir à bola uma velocidade escalar de 5,00 m/s quando a bola passa pelo ponto mais baixo de seu balanço e depois deixa de dar qualquer assistência à bola. O atrito e a resistência do ar são desprezíveis. Com que velocidade estará a bola quando o cabo fizer um ângulo de 20, 0◦ em relação à vertical? 21 12.3 Na Figura abaixo, um carro se desloca sem atrito ao longo do trilho. Ele parte do repouso no ponto A a uma altura h acima da base do círculo de 10,0 m de raio com topo no ponto B. (a) Qual é o menor valor de h para que o carro passe por C sem cair? (b) Se h = 35, 0 m qual é a velocidade e a aceleração do carro no ponto C, uma extremidade do diâmetro horizontal. A C B 22 12.4 Uma criança escorrega de uma colina de areia sentada em um pedaço de papelão. No topo da colina, sua mãe lhe dá um empurrão para atingir uma velocidade de 1,0 m/s para ela come- çar a descida. A força de atrito que age no papelão é um terço do peso combinado da criança e do papelão. Se ela percorre uma dis- tância de 25 m e a sua velocidade na base da colina é de 4,0 m/s, calcule o ângulo que a inclinação da colina faz com a horizontal. 23 12.5 Um bloco (m = 2, 0 kg) é empurrado contra uma mola (k = 400 N/m), comprimindo-a em d = 0, 250 m, como indica a Figura. Quando o sistema é liberado o bloco se move ao longo de uma superfície horizontal e então a partir da posição D = 60, 0 cm pode subir (ou não) um plano inclinado de θ = 35◦. Se os coeficientes de atrito da superfície com o bloco são µc = 0, 30 e µe = 0, 50 em qual posição (x, y) o bloco voltará a estar em repouso? y x 0 D m k v = 0 −d θ 24 Respostas 12.1 (a) 2,4 cm; (b) 4,9 cm 12.2 3,4 m/s 12.3 (a) 25, 0 m; (b) 22,1 m/s; (c) 50 m/s2 12.4 21◦ 12.5 (8,9 cm, 0,27 cm) 25 12 - Conservação de energia
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