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1 Planejamento Governamental no Brasil Autor: Alexandre Barreto de Souza Orientador: José Matias Pereira http://www.angelfire.com/ar/rosa01/page16.html INTRODUÇÃO O que é planejamento Neste tópico serão apresentados conceitos e definições para o planejamento, bem como suas características. Deve ser ressalvado, entretanto, que nesse tópico inicial não será feita a distinção entre planejamento em uma empresa privada e o planejamento governamental. Apresentarei o planejamento tão somente como uma função administrativa, para somente no tópico seguinte explorar as peculiaridades do processo no âmbito governamental. As organizações (em seu sentido lato) não trabalham com base na improvisação. Suas ações são planejadas antecipadamente. O planejamento é a função administrativa que determina antecipadamente quais são os objetivos que devem ser atingidos e como se deve fazer para alcançá-los. Trata-se, pois, de um modelo teórico para ação futura. Segundo MATUS, planejamento pode ser definido como "cálculo situacional sistemático que relaciona o presente com o futuro e o conhecimento com a ação." Quatro etapas principais compõem o planejamento: 1. estabelecimento dos objetivos a alcançar; 2. tomada de decisões a respeito das ações futuras; 3. elaboração de planos: e 4. ação. O planejamento, portanto, começa com a determinação dos objetivos e posteriormente detalha os planos necessários para atingi-los da melhor forma possível. Planejar é definir os objetivos e escolher antecipadamente o melhor curso de ação para alcançá-los. O planejamento define onde se pretende chegar, o que deve ser feito, quando, como e em que seqüência. De acordo com seu grau de amplitude, o planejamento pode ser categorizado em três níveis distintos: o planejamento estratégico, o tático e o operacional. O planejamento estratégico é o planejamento mais amplo e abrangente da organização. Projetado a longo prazo, tem seus efeitos e conseqüências estendidos a vários anos pela frente, além de envolver a organização como um todo, abrangendo todos os seus recursos e áreas de atividade, e preocupar-se em atingir os objetivos a nível mais abrangente. É definido pela cúpula da organização e corresponde ao plano maior ao qual todos os demais estão subordinados. O planejamento tático, por seu turno, é projetado a médio prazo, geralmente para o exercício anual. Envolve segmentos da organização, abrangendo seus recursos específicos, e é definido por cada segmento da organização. O planejamento operacional é o planejamento feito para cada tarefa ou atividade. Geralmente é projetado para o curto prazo, e envolve cada tarefa ou atividade isoladamente, preocupando-se com o alcance de metas específicas. Alguns detalhes devem ser observados no processo de planejamento. Inicialmente, é fundamental para o sucesso do plano que o objetivo planejado seja eficaz, coerente e possível, sob o risco de os planos não saírem nem ao 2 menos do papel (aliás, uma das causas do insucesso de muitos dos planos governamentais adotados no Brasil, como se verá adiante, foi justamente a falta de rigor técnico na definição dos objetivos). Objetivos possíveis, coerentes e eficazes não bastam. O planejamento deve definir os meios suficientes, necessários, potentes e eficazes, além de coerentes entre si, para a consecução dos objetivos propostos. É justamente nesse ponto que reside o cerne do sucesso ou não da implementação do planejamento proposto. Um outro aspecto que merece destaque é que o planejamento deve considerar os terceiros envolvidos no processo. Ora, a implementação dos planos propostos vai depender diretamente das pessoas envolvidas em sua execução, em todos os níveis. O planejamento deve prever , na medida do possível, os efeitos dessa inter- relação. Esse é um dos pontos fracos do planejamento na área governamental, pois quanto maior o número de atores envolvidos no processo, mais difícil se torna a previsão das ações reativas ao plano. Em suma, para obter êxito o planejamento deve incluir tanto o "deve ser", quanto o "pode ser" e o "fazer". Abaixo, como síntese dessa definição do planejamento, são apresentadas algumas das características do planejamento apontadas por CHIAVENATO: 1. O planejamento é um processo permanente e contínuo; 2. O planejamento é sempre voltado para o futuro: o planejamento está sempre ligado intimamente à previsão, embora não se confunda com ela; 3. O planejamento visa selecionar, entre várias alternativas, um curso de ação; 4. O planejamento é sistêmico: deve considerar tanto o sistema como os subsistemas que o compõem; 5. O planejamento é interativo; 6. O planejamento é uma técnica de alocação de recursos humanos e não-humanos; 7. O planejamento é uma função administrativa que interage com as demais; e 8. O planejamento é uma técnica de coordenação e de integração. Planejamento Governamental Até o momento, o planejamento vem sendo tratado no presente trabalho de forma indistinta. Faz-se necessário agora, porém, apontar quais são as peculiaridades do processo de planejamento governamental e quais são as diferenças que mantém em relação ao processo em nível empresarial. O objetivo primordial de uma empresa é gerar lucro. O objetivo estatal é promover o bem estar social. Essa diferença fundamental entre os diferentes entes tem repercussões diretas no processo de planejamento. O planejamento empresarial envolve planejamento mercadológico, financeiro, de produção, de recursos humanos e organizacional, por exemplo. LOPES fornece uma definição própria para o planejamento no setor público como sendo um "método coerente e compreensivo de formação e implementação de diretrizes, através de um controle central de vastas redes de órgãos e instituições interdependentes, viabilizados por conhecimentos científicos e metodológicos" . Podemos nesse conceitos identificar peculiaridades do planejamento governamental. Note-se que LOPES menciona "diretrizes", além de "controle central de vastas redes de órgãos e instituições interdependentes". Nesse ponto, ele chama a atenção para a necessidade de haver órgãos específicos de planejamento, coordenando a criação e a implementação de políticas públicas. Segundo MATUS , a ação planejadora do Estado vai além da simples produção econômica, alcançando também o que ele define como "Produção Social", que tem um sentido mais amplo que produção econômica, envolvendo diversos aspectos da vida social da população. Justamente em decorrência dessa "produção social", a implementação do planejamento público enfrenta dificuldades decorrentes da ação criativa de resposta dos atores sociais envolvidos, aumentando o grau de imprevisibilidade do modelo de planejamento adotado. Modelos matemáticos podem ser úteis na simulação de diferentes cenários, mas nem sempre são eficazes, dada a complexidade decorrente das inúmeras reações possíveis, o que inviabiliza a construção de um modelo perfeito, que possa prever todas as variáveis envolvidas. 3 Tal característica, embora também possa ser observada em uma empresa privada, o será em grau infinitamente inferior, quando em comparação ao âmbito estatal. Por esse motivo, modelos de planejamento baseados em modernas tecnologias de informática e novas teorias obtêm ótimos resultados em uma empresa, porém pouca valia no aspecto governamental. Acreditar que técnicas de planejamento adotadas por empresas possam ser aproveitadas pelo governo sem ao menos passarem por uma profunda adaptação é, no mínimo, ingenuidade. Planejamento em uma empresa privada admite e resolve os problemas de implementação, e pode dar-se ao luxo de restringir a varredura ambiental a busca de alternativas e aferição de conseqüências a um mínimo manejável e, principalmente, pode estabelecer uma clara hierarquização de objetivos dentro de critérios consistentes. Podemos identificar, ainda segundo LOPES e a partir da análise dos modelos de adotados por diferentes países, três espécies principais de planejamentogovernamental, quais sejam: 1. o modelo socialista soviético, onde o planejamento permeia todo o sistema econômico, utilizando-se de minuciosa explicitação de todo o processo produtivo (trata-se de um modelo relativamente em desuso, após o colapso dos regimes socialistas, à exceção da China e Cuba, que assim mesmo fazem concessões à economia de mercado). 2. o modelo adotado pelos países de terceiro mundo, que adota o planejamento como processo ideal nos esforços de industrialização rápida, com o objetivo de aumentar a renda per capita. Neste rol se incluem os planos brasileiros até a década de 70. 3. o modelo utilizado nos países de economia de mercado, que utiliza o planejamento indicativo onde, ao invés da substituição do mercado e mecanismo de formação de preços, busca-se garantir maior eficiência do setor econômico através da redução do nível de incerteza. O planejamento no âmbito governamental pode ainda ser classificado em: è nacional: define metas e diretrizes para o país; è regional: limitado a determinadas regiões do país que tenham certas peculiaridades econômicas e sociais; è urbano: circunscrito ao ambiente da cidade e preocupado com aspectos ligados ao crescimento da mesma; e è setorial: ligados a determinados setores, tais como educação, transportes, energia, etc. No caso brasileiro, por se tratar de uma federação, observa-se ainda o planejamento de âmbito estadual, que inclusive pode ser dividido por micro-regiões dentro do estado. Cabe nesse ponto ressaltar que o planejamento governamental deve prever três aspectos políticos que influenciam diretamente a implementação dos planos: o poder, a cooperação e a coordenação. A estrutura do poder, quando não prevista na formulação, simplesmente inviabiliza a execução do planejamento. Deve ser salientado ainda que os problemas sociais, e também os econômicos, em menor grau, não tem uma única solução correta e possível. O planejamento deve escolher uma dentre as alternativas possíveis. E é justamente nesse ponto que estão envolvidos os aspectos políticos do planejamento. A decisão governamental de como gastar envolve interesses de toda a sociedade, e nesse ponto, os critérios que prevalecem nem sempre são os técnicos . Uma última observação a ser feita sobre o planejamento governamental é no tocante aos críticos que apontam o seu insucesso e freqüente desuso, em escala mundial. Ora, não planejar é sinônimo de improvisação e despreparo. Muito embora seja verdadeiro que a experiência brasileira na década de 80 e o colapso das economias planificadas no início dos anos 90 indiquem o possível insucesso do planejamento governamental, o planejamento continua a ser um instrumento que pode ser útil ao governo e à nação. Constitui-se na verdade na indicação dos caminhos do desenvolvimento econômico, bem como na transparência da aplicação dos recursos públicos. O malogro brasileiro na década de 80 esteve muito mais ligado às oscilações da economia de então do que a falhas no planejamento em si. Voltarei neste ponto mais adiante, quando for tratada a questão da crise do planejamento e suas perspectivas futuras. HISTÓRICO DO PLANEJAMENTO NO BRASIL A década de 30 marcou a transição entre dois modelos de Estado no Brasil. Antes de 1930, o Brasil se caracterizava por uma estrutura econômica baseada na agricultura, sendo que o poder político se concentrava nas oligarquias rurais, notadamente de São Paulo e Minas Gerais. Uma série de acontecimentos (principalmente a quebra dos produtores de café devido ao crash da bolsa de Nova Iorque, que 4 reduziu drasticamente o mercado consumidor do café brasileiro), que culminaram com a revolução de 1930 e a subida de Getúlio Vargas ao poder, marcaram o fim do antigo modelo e o início de um novo, com participação mais ativa do Estado na economia, que pode ser denominado como nacional-desenvolvimentista. A partir daí, o Estado brasileiro foi levado a desempenhar funções cada vez mais complexas no conjunto da economia. Essa participação se deu tanto de forma direta quanto de forma indireta, desde a formulação de regras de desenvolvimento até a criação e manutenção de empresas estatais. Esse era o cenário nacional quando foram efetivadas as primeiras tentativas de planejamento no Brasil, decorrência natural da nova concepção do Estado como fomentador do desenvolvimento nacional. Deve se assinalar também que a experiência do planejamento estava em voga também em outras nações, quer desenvolvidas, em desenvolvimento ou socialistas . Nas linhas seguintes, serão apresentados as experiências brasileiras de planejamento em nível nacional, em uma retrospectiva histórica até os dias de hoje. PLANO ESPECIAL (Plano Especial de Obras Públicas e Aparelhamento da Defesa Nacional) PERÍODO PREVISTO: 1939 - 1944 Trata-se do marco inicial do planejamento no Brasil; foi a primeira tentativa de alocação de recursos visando o atingimento de fins específicos, muito embora não possa ser considerada uma experiência de planejamento propriamente dita, haja vista ter muitas falhas em sua concepção. Tinha como objetivos principais a criação de industrias básicas, execução de obras públicas consideradas indispensáveis e o aparelhamento da defesa nacional. Conforme já foi salientado não chegou a constituir um plano propriamente dito, mas antes uma listagem de obras a se fazer. Ressalta-se também a preocupação com a soberania e a defesa nacional, o que se explica pelo desenrolar à época da Segunda Guerra Mundial. O PLANO ESPECIAL é resultado direto da nova concepção de Estado que se criara no Brasil na década de 30, ou seja, o Estado como propulsor da economia e do desenvolvimento. Porém, a preocupação excessivamente econômica desse plano resultou em um êxito apenas relativo, haja vista que vários aspectos dos problemas nacionais não foram abordados. De qualquer forma, o PLANO ESPECIAL, teve extrema importância, não só pelo marco inicial do planejamento no Brasil, mas também por alguns êxitos alcançados no desenvolvimento da economia (a criação da Companhia Siderúrgica Nacional fazia parte do Plano, por exemplo). PLANO DE OBRAS E EQUIPAMENTOS PERÍODO PREVISTO : 1944 a 1948 A execução desse plano foi precedida por duas missões técnicas norte-americanas encarregadas do diagnóstico dos problemas brasileiros, bem como a indicação das vias para a superação destes problemas. A Missão Taub (1942) e a Missão Cooke (1943) tiveram profunda influência na formação dos técnicos brasileiros, no tocante ao planejamento. O PLANO DE OBRAS E EQUIPAMENTOS foi idealizado sob a luz do referencial técnico absorvido das missões norte-americanas. No aspecto metodológico, podem ser observados notáveis avanços em relação ao plano anterior. Tinha como objetivos precípuos apoiar obras públicas e indústrias básicas. Esse plano teve vida curta; embora tenha sido efetivamente aplicado nos dois primeiros anos, em 1946, devido a problemas econômicos seu orçamento (diferenciado até então) foi incorporado ao Orçamento Geral da república. PLANO SALTE PERÍODO PREVISTO : 1950 a 1954 5 Implantado no governo Dutra sob influência de técnicos do DASP, que convenceram o então presidente da república das vantagens do mesmo, uma vez que ele não era simpático à idéia. Foi a primeira experiência de planejamento no Brasil implementada sob um regime democrático. A discussão no Congresso Nacional sobre o PLANO SALTE Elegia quatro setores como prioritários para os investimentos governamentais: saúde, alimentação, transporte e energia (daí a sigla SALTE, formada pelas iniciais destas palavras). Pela primeira vez nota-se a preocupação com a coordenação das ações por parte das diferentes esferas de governo: O Poder Executivo promoverá entendimentos e firmará acordos com os governos estaduais e municipais, as autarquias, as sociedades de economia mista e entidades privadas, no sentido de coordenar as atividades relacionadas com os programas de trabalho deste Plano. O PLANO SALTE também redundouem fracasso. Podemos apontar como causas do insucesso do plano: defasagem entre os recursos previstos e os aplicados, falta de controle e excessiva centralização de poderes da presidência. Esvaziado a partir de 1953, se manteve de forma precária até 1954. PROGRAMA DE METAS Em fevereiro de 1956 foi criado o Conselho de Desenvolvimento, com as seguintes atribuições: 1. estudar as medidas necessárias à coordenação da política econômica do País, particularmente no tocante ao desenvolvimento econômico; 2. elaborar planos e programas que visem aumentar a eficiência das atividades governamentais, bem como fomentar a iniciativa privada; 3. Analisar relatórios e estatísticas relativos à evolução dos diferentes setores da economia do País, com o propósito de integrá-los na formação da produção nacional; 4. Estudar e preparar anteprojetos de leis, decretos ou atos administrativos julgados necessários à consecução dos objetivos supramencionados; 5. Acompanhar e assistir a implementação, pelos Ministérios e Bancos Oficiais competentes, de medidas e providências concretas cuja adoção houvesse recomendado. Durante o governo Juscelino Kubistchek foi instituído, sob os auspícios do Conselho de Desenvolvimento, o PROGRAMA DE METAS, que estabelecia 30 metas em quatro grandes setores: energia, transporte, agricultura e alimentação e indústrias de base. O PROGRAMA DE METAS inaugura no Brasil a utilização do planejamento indicativo (embora em pequena escala), ou seja, a distinção entre onde o governo vai atuar como agente econômico e onde deve haver apenas a indicação para o setor privado. Conseguiu êxito no plano de industrialização da economia e na superação de pontos de estrangulamento que impediam o desenvolvimento nacional, porém teve como conseqüências desequilíbrios na balança de pagamento e aumento das taxas de inflação. PLANO TRIENAL Tentativa de planejamento instituída em meio à agitação política que marcou o breve governo de João Goulart. Data dessa época a criação do Ministério Ordinário do Planejamento (1962), sob o comando do economista Celso Furtado. O PLANO TRIENAL procurou, pela primeira vez, soluções para os problemas estruturais do país, abordando de forma integrada a estrutura econômica e social do Brasil. Conferiu importância fundamental ao planejamento no processo de desenvolvimento econômico; caberia a ele antecipar as principais modificações estruturais desenvolvidas e indicar medidas a serem tomadas. Tinha como objetivos a manutenção de elevada taxa de crescimento do produto, a redução progressiva da inflação, a redução do custo social do desenvolvimento, a melhor distribuição de seus frutos e a redução das desigualdades regionais de níveis de vida. 6 O PLANO TRIENAL estabelecia uma reforma de base de difícil implementação, pois estabelecia controles que não contavam com a simpatia popular, o que o levou a seu fracasso. Não obstante tenha sido a primeira experiência de planejamento que visava a objetivos não meramente econômicos, mas também sociais, o PLANO TRIENAL teve duração de apenas 5 meses. Após seu malogro foi extinto o Ministério do Planejamento. PAEG - PROGRAMA DE AÇÃO ECONÔMICA DO GOVERNO PERÍODO 1964 a 1966 Instituído pelo governo Castelo Branco, já sob a ditadura militar que derrubou o antigo presidente João Goulart, o PAEG enfatiza a viabilidade do modelo de planejamento dentro de uma economia de mercado. Tratava-se de uma tentativa clara de desvincular a imagem do planejamento das economias socialistas de então, e um modelo totalmente diverso daquele apregoado pelo PLANO TRIENAL. Seus objetivos primordiais eram: acelerar o ritmo do desenvolvimento econômico, conter progressivamente o processo inflacionário, atenuar os desníveis econômicos setoriais e regionais e assegurar oportunidades de emprego, além de corrigir a tendência a déficits descontrolados do balanço de pagamentos. Durante seu período de implementação, foi reativado o órgão do poder executivo encarregado do planejamento, sob o nome de Ministério do Planejamento e Coordenação Econômica. O PAEG obteve relativo sucesso, muito embora não tenha atingido todos os objetivos inicialmente previstos, houve uma significativa melhora na situação econômica do país. PLANO DECENAL PERÍODO: 1967 a 1976 Foi a primeira tentativa de planejamento a longo prazo no Brasil, sendo que seu período previsto abrangia 10 anos. Formulado sob a influência do relativo sucesso do PAEG, buscou naquele plano suas inspirações para os objetivos a serem alcançados no período. O PLANO DECENAL, todavia, não saiu do papel. Não obstante tenham sido feitos os estudos iniciais visando sua implementação, o plano não chegou a ser executado. PROGRAMA ESTRATÉGICO DO DESENVOLVIMENTO PERÍODO:1968 a 1970 Idealizado durante o governo Costa e Silva, tinha como objetivos a aceleração do desenvolvimento econômico simultaneamente com a contenção da inflação, o desenvolvimento a serviço do progresso social e a expansão das oportunidades de emprego e de mão de obra. Nota-se que os objetivos desse plano não diferem muito dos planos anteriores idealizados sob o regime militar; porém houve uma preocupação para que não houvesse correlação de imagens entre esse plano e o fracassado PLANO DECENAL, pois havia a necessidade de correção de certas distorções que se faziam sentir. No aspecto econômico, o PROGRAMA ESTRATÉGICO DO DESENVOLVIMENTO foi bem sucedido, haja vista as altas taxas de crescimento do produto interno bruto alcançadas no período. O mesmo porém, não pode se dizer no campo social. METAS E BASES PARA AÇÃO DO GOVERNO PERÍODO: 1970 a 1972 Não chegou a constituir um plano em si, na verdade tratou-se mais de um documento de intenções do governo instituído pelo presidente Médici, dando continuidade aos objetivos traçados pelo PAEG, buscando inová-lo e corrigi-lo, sem descontinuá-lo. 7 Fixa como grande objetivo o ingresso do Brasil no mundo desenvolvido até o final do século, por meio de políticas que levassem ao crescimento expressivo do PIB, processo de desenvolvimento auto-sustentado integrado e crescimento dos setores de infra estrutura. PRIMEIRO PLANO NACIONAL DO DESENVOLVIENTO ECONÔMICO PERÍODO: 1972 a 1974 Segue o plano anterior de "metas e bases", aperfeiçoando-o ao dividir o planejamento em duas grandes partes: modelo brasileiro de estratégia de desenvolvimento e execução da estratégia, ou seja a implementação do planejamento. Esse fato manifesta preocupação com a consecução prática dos objetivos do plano, face a proliferação de tentativas não realizadas e do irrealismo e ausência de objetividade de determinado programas. Estabelecia três grandes objetivos: colocar o Brasil, em uma geração, na categoria das nações desenvolvidas; duplicar, até 1980, a renda per capita do país; elevar a economia às dimensões resultantes de um crescimento anual do PIB entre 8% e 10%. Durante sua implementação, ocorreu a expansão da fronteira econômica, a consolidação do desenvolvimento no centro sul e as primeiras tentativas de industrialização do Nordeste. Nota-se a preocupação com a redução das disparidades regionais e a preocupação com a integração nacional. Ocorreu uma relativa modernização da economia brasileira, e a tentativa de redução da dependência externa. O 1º PND correspondeu a um período de crescimento econômico extraordinário no Brasil, aliado a baixas taxas de inflação. SEGUNDO PLANO NACIONAL DO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Instituído na época da primeira crise do petróleo, o que o influenciou diretamente. O sucesso advindo do 1º PND gerou um otimismo exagerado; acreditava-se que o Brasil conseguiria superar a crise econômica internacional por suas características naturais o que gerou uma expectativa superestimada de crescimento econômico, refletida no 2º PND. Seus objetivos eram: 1. manter o crescimento acelerado dos anos anteriores, com taxas de aumento de oportunidades de emprego de mão-de-obra superiores às da década passada; 2. reafirmara política de conexão da inflação pelo método gradualista; 3. manter em relativo equilíbrio o balanço de pagamentos; 4. realizar políticas de melhoria de distribuição de renda, pessoal e regional, simultaneamente com o crescimento econômico; 5. preservar a estabilidade social e política; e 6. realizar o desenvolvimento sem deterioração de qualidade de vida, sem devastação de recursos naturais. Os problemas econômicos do período geraram sérios obstáculos para sua implementação; durante seu período de vigência, foi alvo de duras críticas e teve sua credibilidade comprometida ao longo de sua execução. Na verdade, o 2º PND não foi uma resposta à altura da crise econômica mundial que então se afigurava. TERCEIRO PLANO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO ECONOMICO Idealizado em plena crise econômica mundial e nacional, que teve reflexos também no aspecto político, com o desgaste do regime militar, o 3º PND marca o fim do processo de planejamento como efetivo instrumento da política econômico financeira do país. Estabelecia como objetivos principais: 1. acelerar o crescimento da renda e do emprego; 2. melhoria da distribuição de renda com redução dos níveis de pobreza absoluta e elevação dos padrões de bem estar das classes de menor poder aquisitivo; 3. redução das disparidades regionais; 4. contenção da inflação; 8 5. equilíbrio da balanço de pagamento e controle do endividamento externo; 6. desenvolvimento do setor energético; e 7. aperfeiçoamento da instituições políticas. O 3º PND não conseguiu atingir a nenhum de seus objetivos. Se constituiu em um malogro retumbante face à crescente crise econômica no país, notadamente a alta das taxas de inflação e o desequilíbrio na balança de pagamentos. Influenciaram em seu fracasso a descrença derivada do malogro do plano anterior, bem como as dificuldades econômicas internacionais. Além disso, foi posta em cheque a própria efetividade e importância do planejamento como ferramenta de decisão governamental. A DÉCADA DE 1980 Os anos 80 foram marcados por profundas crises econômica, política e social, que levaram à sua caracterização como a "década perdida". Durante o período, os efeitos da crise do petróleo se fizeram sentir, notadamente com a elevação das taxas de juros internacionais em 1982 e a moratória mexicana no mesmo ano. No campo político e social, a ditadura militar demonstrava claros sinais de esgotamento. Sem conseguir manter as altas taxas de crescimento da década anterior e lutando contra a inflação e o desemprego crescentes, o governo tornava-se cada vez mais impopular. Manifestações populares a favor da abertura política tornavam-se cada vez mais freqüentes. Neste cenário de incerteza política e econômica, o planejamento era visto como uma figura de retórica. Contribuíam ainda para essa visão negativa do planejamento na época o insucesso dos 2º e 3º Planos Nacionais de Desenvolvimento, durante a década de 70. Ademais, o restante do mundo experimentava o início da onda neo-liberal, capitaneada pelos governos Reagan, nos Estados Unidos, e Tatcher, na Inglaterra. As políticas neo-liberais apregoavam a redução do intervencionismo estatal na economia, na crença em que o mercado estaria suficientemente amadurecido para resolver seus próprios problemas; essa concepção de Estado também influenciou negativamente o planejamento governamental. Prevaleceram no Brasil durante o período planos heterodoxos de orientação voltada à política econômica (monetária e fiscal): Plano Cruzado e Cruzado 2 (1986), Plano Bresser e Verão (1987) e o Plano "feijão com arroz" do então Ministro da Fazenda Marcílio Marques Moreira. Todos estes planos tiveram eficácia pequena ou nula na resolução dos problemas econômicos brasileiros. Podemos afirmar, portanto, que a década de 80 é marcada pela crise deliberada do planejamento governamental, pelo desencanto com o processo, dúvidas quanto às suas qualidades e ceticismo quanto a seu potencial. Todos esses fatores, aliados ainda às altas taxas de inflação observadas no período, levaram ao gradativo desuso do planejamento governamental. O MOMENTO ATUAL Passemos agora à analise do momento atual do planejamento governamental brasileiro. Porém, antes de adentrar em suas características atuais, forçosa se faz a menção dos dispositivos constitucionais que regulamentam o planejamento e o orçamento no Brasil. Disposições Constitucionais, Orçamento Público e Plano Plurianual A Constituição brasileira, promulgada em 1988, prevê e disciplina o planejamento governamental, ao estabelecer em seu artigo 165: Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerão: I - o plano plurianual; II - as diretrizes orçamentárias; III - os orçamentos anuais. 9 § 1.º A lei que instituir o plano plurianual estabelecerá, de forma regionalizada, as diretrizes, objetivos e metas da administração pública federal para as despesas de capital e outras delas decorrentes e para as relativas aos programas de duração continuada. § 2.º A lei de diretrizes orçamentárias compreenderá as metas e prioridades da administração pública federal, incluindo as despesas de capital para o exercício financeiro subseqüente, orientará a elaboração da lei orçamentária anual, disporá sobre as alterações na legislação tributária e estabelecerá a política de aplicação das agências financeiras oficiais de fomento. (...) § 4.º Os planos e programas nacionais, regionais e setoriais previstos nesta Constituição serão elaborados em consonância com o plano plurianual e apreciados pelo Congresso Nacional. (...) § 7.º Os orçamentos previstos no § 5.º, I e II, deste artigo, compatibilizados com o plano plurianual, terão entre suas funções a de reduzir desigualdades inter-regionais, segundo critério populacional. (...)" Portanto, percebe-se que o constituinte se preocupou claramente com a questão do planejamento público, ao instituir o Plano Plurianual, que deve estabelecer, "de forma regionalizada, as diretrizes, objetivos e metas da administração pública federal." Assim, se o planejamento se traduz num programa plurianual, o orçamento público é o detalhamento de cada uma das suas etapas, estipulando as metas anuais de investimento. "O orçamento é o ato pelo qual o Poder Legislativo prevê e autoriza ao poder Executivo, por certo período e em pormenor, as despesas destinadas ao funcionamento dos serviços públicos e outros fins adotados pela política econômica do país, assim como a arrecadação das receitas criadas em lei" . Portanto, a ação planejada do Estado, quer na manutenção de suas atividades, quer na execução de seus projetos, materializa-se através do orçamento público, que é o instrumento de que dispõe o Poder Público (em qualquer de suas esferas) para expressar, em determinado período de tempo, seu programa de atuação, discriminando a origem e o montante dos recursos a serem obtidos, bem como a natureza e o montante dos dispêndios a serem realizados. A análise dos parágrafos 4º e 7º do artigo 165 da Constituição Federal revela ainda dois outros aspectos que devem permear o processo de planejamento governamental brasileiro: a necessidade de coordenação entre os níveis nacional, regional e setorial, além da preocupação com as desigualdades regionais. Características Atuais As questões referentes ao Plano Plurianual, bem como às leis orçamentárias anuais decorrentes do Plano devem ser discutidas na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, após serem recebidas as propostas do poder executivo. Atualmente, cabe ao Ministério do Planejamento e Orçamento (MPO) a responsabilidade quanto à elaboração da proposta do Plano Plurianual e da proposta orçamentária. Convém ressaltar que, durante os governos dos presidentes Collor e Itamar (1990 a 1994) a pasta do planejamento tinha o status de secretaria vinculada à Presidência da República, vindo a readquirir o grau de Ministério sob o governo do presidente Cardoso, em 1995. Neste período tornaram-se freqüentes os atritos entre a pasta do Planejamentoe a da Fazenda; voltarei a esse assunto mais adiante, quando tratar da análise do processo de planejamento no Brasil. Uma vez aprovado, o Plano Plurianual deverá ter a duração de quatro anos, iniciando-se no segundo ano do mandato do Presidente da República e terminando ao primeiro ano do mandato do Presidente subsequente. 10 Nenhum investimento cuja execução ultrapasse um exercício financeiro poderá ser iniciado sem prévia inclusão no plano plurianual, ou sem lei que autorize a inclusão, sob pena de crime de responsabilidade. PLANEJAMENTO REGIONAL Assim como o planejamento em nível nacional, o planejamento regional é recente no Brasil. As primeiras tentativas, segundo Mendonça de Barros , datam do fim da década de 50, particularmente através dos programas da SUDENE - Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste. A exemplo da SUDENE, foram criadas, em momentos posteriores, a SUDAM - Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia e a SUDECO - Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste. Tratava-se da tentativa de estimular o desenvolvimento econômico e social em áreas mais pobres do território brasileiro. Nota-se que o planejamento em nível regional procurou seguir o mesmo modelo de planejamento em nível nacional, ou seja, a otimização da alocação de recursos econômicos. Entretanto, observando certas peculiaridades: è as zonas geoeconômicas das regiões abrangidas pelos planos regionais muitas vezes não coincidem com as fronteiras geográficas. Por esse razão a SUDENE, por exemplo, tinha jurisdição também sobre o extremo norte de Minas Gerais; è os instrumentos de política econômica são federais. Isso traz duas conseqüências principais: os efeitos das políticas gerais não se propagam eqüitativamente entre diferentes regiões; por outro lado, lideranças regionais têm pouca autonomia na alocação de créditos públicos. O plano regional deve adequar-se aos objetivos nacionais. Dentro dessa perspectiva, é preciso compatibilizar os objetivos de maximização do produto nacional com a minização das disparidades regionais. A coordenação entre os diferentes entes da federação é fundamental para a consecução desse objetivo. PLANEJAMENTO ESTADUAL PLANEJAMENTO ESTADUAL Na esteira do planejamento federal, cujo processo de utilização se desencadeou na década de 30, os estados logo passaram a utilizar o planejamento como instrumento de alocação de recursos públicos. Constituem peculiaridades do processo de planejamento em nível estadual: o efetivo controle de um reduzido número dentre as variáveis de maior gravitação na vida econômica local; uma capacidade pouco definida de influenciar decisões que, ditadas por outros centros de poder, profundamente afetam o comportamento das economias estaduais; e o menor peso e grau de diversificação institucional dos poderes públicos das unidades federadas, quando em comparação com a União. Percebe-se então que o processo de planejamento estadual fica limitado, à medida em que os governos locais não possuem todos os mecanismos de decisão que irão influir na vida econômica local. 11 Ademais, na maioria dos estados brasileiros, a dependência considerável de recursos alheios, ao limitar drasticamente o raio de ação da administração local, faz com que suas aspirações a planejamento só tenham a ganhar sentido concreto num contexto regional. O caso dos estados nordestinos é exemplo desta contingência. PLANEJAMENTO LOCAL O planejamento local, ou urbano, trata-se da aplicação das técnicas de planejamento ao âmbito municipal. Reveste-se, porém, de certas peculiaridades. O planejamento urbano diz respeito à ocupação espacial da cidade, bem como da distribuição dos serviços públicos essenciais à população. Um exemplo de planejamento urbano é o Plano Diretor de Brasília, que estabelece onde e como será o crescimento da cidade; onde deverão haver escolas, hospitais, prédios residenciais e comerciais, etc. A Constituição delega aos municípios a responsabilidade pelo planejamento urbano, ao determinar em seu art. 182: Art. 182 A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes. § 1º o plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, obrigatório para cidades com mais de vinte mil habitantes, é o instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana. § 2º A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor. § 3º As desapropriações de imóveis urbanos serão feitas com prévia e justa indenização em dinheiro. No que tange às recentes mudanças no papel do Estado como principal agente condutor do processo de desenvolvimento econômico do país, o efeito mais imediato é a drástica redução no montante de recursos disponíveis para investimento na infra-estrutura urbana. Nessas condições, o grande desafio das cidades passa a ser a mobilização de fontes alternativas de financiamento e a criação de novos arranjos institucionais que permitam compensar a crescente escassez de recursos CONSIDERAÇÕES SOBRE O PLANEJAMENTO GOVERNAMENTAL BRASILEIRO Neste tópico, apresentarei características que permearam o processo de planejamento no Brasil. Essas características estão separadas por tópicos, conforme abaixo relacionado: Preponderância do aspecto econômico No Brasil, como nos demais países em desenvolvimento, em função da escassez de recursos e relativa simplicidade da estrutura econômica (em um primeiro momento) , o processo de planejamento era visto como instrumento ideal de otimização dos investimentos nos setores básicos. Essa abordagem do planejamento traz consigo uma séria limitação: ao ser enfatizado em demasia o aspecto econômico, a questão social fica em segundo plano, com conseqüências funestas principalmente para a população de baixa renda. Embora LOPES indique que a preocupação com o desenvolvimento social esteve presente nas experiências brasileiras de planejamento, entendo que essa preocupação tenha sido meramente pro forma, ou seja, produziu poucos efeitos práticos. 12 Tendência à abrangência Os planos vão muito além a mera elaboração do planejamento e o controle de sua execução; o grau de intervencionismo na economia é grande. Institucionalização do planejamento Foram criados órgãos específicos para conduzir o processo de planejamento - CONSPLAN - SEPLAN - Ministério do Planejamento - Secretarias Estaduais e Municipais de Planejamento Mínima participação democrática O planejamento foi inserido no Brasil durante um regime ditatorial (o período Vargas), e as experiências mais bem sucedidas foram implementadas durante o regime militar. Poucas vezes o planejamento foi discutido no Congresso, o que acabou acarretando uma repercussão pública limitada. Nota-se um distanciamento entre o planejador e o público do planejamento, o que talvez possa ser indicado como provável causa das dificuldades de implementação dos diferentes planos. Otimismo exagerado Em muitos dos casos, a clareza dos objetivos a serem atingidos era considerada como razão suficiente para o sucesso de planejamento. Não notamos preocupação com as fases posteriores à formulação dos planos, o que talvez explique o insucesso de boa parte deles, assim como o estabelecimento de metas difíceis de serem alcançadas. Identidade dos objetivos No âmbito federal, observamos que o processo de planejamento manteve objetivos mais ou menos homogêneos: Manter elevada a taxa de crescimento econômico Reduzir a inflação Prazos curtos e ausência de um plano de perspectivas A grande maioria dos planos teve a duração de apenas 2 ou 3 anos. A mudança de um governo para outro significa a descontinuidade dos planos; tal fato é ainda mais grave nos âmbitos estadual e municipal. Tendência ao abandono de metas rígidas A falta de rigor técnico, noestabelecimento de objetivos em determinados planos se traduz na determinação de metas por demais abrangentes, na tola tentativa de que qualquer resultado, mesmo que pífio, sirva como indicador do atingimento das metas. Rivalidade entre as pastas do Planejamento e da Fazenda Enquanto a área de planejamento procura disponibilizar o maior montante de recursos possível, a área de fazenda procura conter ao máximo as despesas. Falta de coordenação entre os diferentes Planos Tanto em nível federal, quanto nos níveis regional, estadual e local. CRISE DO PLANEJAMENTO E PERSPECTIVAS FUTURAS Nos anos 80, em nível mundial, o planejamento governamental praticamente não tem sido mais abordado na área acadêmica como efetivo instrumento do desenvolvimento. 13 Na prática, os planos não foram, em geral, bem sucedidos. O limitado número de sucessos prende-se a períodos de arrancada econômica, de grande nitidez de objetivos básicos e forte comprometimento da massa de trabalhadores. Os últimos anos presenciaram o gradativo crepúsculo do planejamento abrangente, como instrumento efetivo de controle econômico e alocação ótima de investimentos. Os exemplos remanescentes consistem mais em apego a uma tradição histórica e política do que uma demonstração de sucesso do processo. O caso brasileiro não é diferente; conforme já abordado na página 21 do presente trabalho, a partir da década de 80, o planejamento governamental foi marcado pelo desencanto com o processo, dúvidas quanto às suas qualidades e ceticismo quanto a seu potencial. Para buscarmos as razões desse fato, é necessário analisar novamente a história recente de nosso país. A partir dos anos 30, o Estado brasileiro cresceu bastante, dentro da lógica de que era imperativo empreender publicamente, no Brasil, ações que espontaneamente não emanavam da iniciativa privada. Ressalte-se que o fenômeno não foi exclusivamente brasileiro, ao contrário, refletiu uma tendência internacional coerente com a era keynesiana, onde o setor público passa a ser o carro-chefe dos processos de desenvolvimento, e onde a generalização do planejamento era a ferramenta da ação estatal na economia. O modelo de Estado nacional-desenvolvimentista inaugurado no governo Vargas começou a dar sinais de esgotamento na década de 80, o que coincide com o período em que o planejamento deixou de ser utilizado em larga escala, de forma que talvez possamos associar o processo de planejamento governamental abrangente ao modelo de Estado então vigente. As razões para tal esgotamento podem ser encontradas na crise fiscal e de endividamento público por que passa o Estado brasileiro, além da crise mundial do paradigma do Estado de Bem Estar Social. Ademais, no caso brasileiro, também deve-se assinalar que a ineficiência de determinados órgãos estatais ocasiona junto à população um sentimento de desencanto com o serviço público em geral. Muito embora existam determinados órgãos caracterizados por sua excelência profissional, é inegável que diversos outros enfrentam problemas graves sem o mesmo grau de sucesso. Podemos identificar alguns destes problemas nos órgãos estatais: as atividades em grande parte são voltadas para fins políticos de provimento de favores a forças aliadas; geralmente são dirigidas por elementos recrutados por critérios de fidelidade política muito mais do que competência técnica; a política de pessoal atrofiada vêm castigando o funcionalismo público continuamente; a descontinuidade orçamentária, bem como a falta de recursos; e o endividamento devido a uma política macroeconômica de atração de capitais internacionais. Depreende-se que o Estado brasileiro não tem mais as condições econômicas e políticas necessárias para investir diretamente na economia, tal qual no período que vai da década de 30 à década de 70, e onde se fazia necessária a existência do panejamento nos moldes tradicionais. Não se trata de catalogar a ação do Estado naquele momento como certa ou errada: tratava-se de um momento histórico diferente. Como bem assinala Octavio Ianni , o desenvolvimento industrial brasileiro no período 1930- 1970 não foi resultado do jogo espontâneo e automático das forças produtivas de mercado; ao contrário, algumas dentre as principais manifestações do desenvolvimento econômico brasileiro resultaram da ação direta do Estado Qual a resposta para o dilema quanto ao tamanho ideal do Estado? Talvez o artigo abaixo, extraído de um periódico de circulação nacional forneça a chave da questão: "Tal como foi definida em depoimento na publicação do Banco Mundial por Grzegorz Kolodko, o bem sucedido ex-ministro das Finanças da Polônia entre 1994 e 1997, o estágio atual das economias emergentes requer limites entre extremos. Kolodko acha que ainda há tempo para fugir às propostas radicais de opção entre "planejamento ou mercado" e caricatura os neo-maniqueístas: diante de uma lâmpada apagada num poste público os planejadores radicais chamam um burocrata para fazer um estudo de viabilidade, um eletricista para trocar a lâmpada e outro burocrata para fazer um relatório. Na contramão ficam os adeptos do laissez-faire: deixa-se a lâmpada apagada no lugar à espera de que o mercado resolva o problema." 14 Neste contexto, agora cabe a pergunta que fundamenta a discussão sobre este tema em um trabalho sobre planejamento: Qual deve, então ser o papel do planejamento governamental no Estado moderno? Creio que a questão do bom senso, tal como apresentada no trecho extraído do Jornal do Brasil, novamente é a chave para a questão. Se por um lado, o Estado planejador em larga escala não tem mais lugar na história recente, tampouco parece razoável que o Estado se recuse a desempenhar funções reguladoras que fundamentam sua própria razão de ser. A saída passa pelo resgate e pela valorização do papel do Estado na formulação e na condução das políticas públicas. Não mais na condição de empresário ou de construtor, mas sim na condição de regulador da ação privada e indicador do desenvolvimento e compensador dos prejuízos sociais. Em tal perspectiva de Estado, não cabe mais o uso do antigo planejamento tradicional. Faz-se necessária uma nova metodologia, que corresponda às novas funções a serem desempenhadas pelo setor público. Esse novo modelo pode ser denominado de planejamento indicativo, ou seja, o planejamento governamental como indutor da ação privada. Neste modelo de planejamento, ao invés da substituição do mercado e mecanismo de formação de preços, busca-se garantir maior eficiência do setor econômico através da redução do nível de incerteza. CONCLUSÃO A partir da década de 30, o Estado brasileiro foi levado a desempenhar funções cada vez mais complexas no conjunto da economia. Essa participação se deu tanto de forma direta quanto de forma indireta, desde a formulação de regras de desenvolvimento até a criação e manutenção de empresas estatais. Em decorrência disso, a política econômica governamental tornou-se cada vez mais complexa e ambiciosa, chegando a configurar-se como política econômica planificada. Este modelo perdurou por um período de 40 anos, até o momento em que apresentou sinais de esgotamento na década de 70. O esgotamento do modelo acarretou a crise do planejamento governamental brasileiro. Durante esse período, o governo federal lançou 12 diferentes planos, com resultados diversos. Alguns, como o Programa de Ação Econômica do Governo e o Primeiro Plano Nacional de Desenvolvimento, alcançaram relativo êxito. Outros, como o Plano Decenal, não chegaram nem ao menos a sair do papel; outros ainda, estabeleceram metas ambiciosas sem que tenham sido implementadas as políticas para a viabilização dos planos. Na esteira do planejamento em nível federal, surgiram planos regionais, em decorrência dos planos nacionais, e os estados também adotaram o planejamento como ferramenta de alocação de recursos. Os resultados alcançados por estas políticas de planejamento é discutível. Os planos tiveram orientaçãoeminentemente econômica, o que prejudicou o desenvolvimento do setor social no Brasil. Tornou-se célebre a frase de determinado ministro à época do regime militar que afirmou "ser necessário aumentar o bolo, para depois dividi-lo". Ademais, boa parte dos objetivos econômicos dos planos não foram atingidos. Nota-se também , a partir da análise histórica dos planos brasileiros, que em determinados momentos históricos prevaleceram planos de desenvolvimento, ao passo que em outros a preocupação maior era com a estabilização econômica. A crise pela qual passou o planejamento na década de 80 pôs o planejamento governamental em cheque, o que pode induzir a uma suposta ineficácia do planejamento. Entretanto, não planejar é um erro tão grande quanto planejar mal. 15 Faz-se necessário que sejam instituídas, de maneira efetiva, práticas de acompanhamento e avaliação de políticas públicas, como forma de resgatar a importância do planejamento, imprimindo transparência ao processo, responsabilizando os agentes envolvidos e aumentando a eficiência no uso dos meios e no atingimento dos fins. BIBLIOGRAFIA BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, de 05 de outubro de 1988. BURZTYN, Marcelo. Ser ou não ser: eis a questão do Estado brasileiro. Revista do Serviço Público, Brasília, v. 118, nº 3, set/dez 1994. CEPAL. Planejamento Estadual no Brasil. Brasília: 1965. CHIAVENATO. Idalberto. Teoria Geral da Administração. Volume 1. 4ª ed. São Paulo: McGraw-Hill, Makron Books: 1993. HILHORST, Jos G. M. Planejamento Regional. 2ª ed. Rio de Janeiro. Zahar Editores:1975. IANNI, Otávio. Estado e Planejamento Econômico no Brasil. 3ª ed. Rio de Janeiro. Civilização Brasileira: 1979 LAFER, Bety N. Planejamento no Brasil. São Paulo, Ed, Perspectiva: 1970. LOPES, Carlos Thomaz G. Planejamento, Estado e Crescimento. São Paulo. Livraria Pioneira Editora: 1990. MATUS, Carlos. Política, Planejamento e Governo. Brasília. Ed. IPEA, Tomos I e II, 1993. MPO/SECRETARIA ESPECIAL DE POLÍTICAS REGIONAIS. Indicações para uma Nova Estratégia de Desenvolvimento Regional. Documento apresentado à Câmara de Políticas Regionais em 12 de agosto de 1995, como subsídio para a elaboração do Plano Plurianual. OLIVEIRA, Djalma de Pinho Rebouças de. Planejamento Estratégico. 11ª ed. São Paulo. Atlas: 1997. PEREIRA, José Matias. Finanças Públicas (coletânea textos apresentados em disciplina ministrada na Universidade de Brasília no 2º semestre de 1997) 16 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DISCIPLINA:CIS 186 - PLANEJAMENTO E ORÇAMENTO PÚBLICO PROF.: LUIZ IVAN DOS SANTOS SILVA ATIVIDADE Fazer a leitura dos textos disponibilizados ¨Planejamento Governamental no Brasil” e “Planejamento Governamental e Gestão Pública no Brasil: elementos para ressignificar o debate e capacitar o estado”. 1) O que é planejamento? Para que se planeja? Apresente exemplos práticos de planejamento. 2) Comente sobre as etapas principais que compõem o planejamento. 3) Quais as características do planejamento estratégico, tático e operacional. 4) Comente sobre as características do planejamento conforme Chiavenato. 5) Comente sobre o planejamento governamental e suas peculiaridades. 6) Quais os planos governamentais que possibilitaram uma resposta mais efetiva para a sociedade brasileira? Comente sobre os mesmos, justificando sua resposta. 7) Comente sobre o momento atual do planejamento governamental no Brasil. 8) Considerando o atual momento econômico brasileiro, quais deveriam ser as preocupações prementes do governo visando resgatar a ampliação do emprego e contribuir para o funcionamento pleno da economia. 9) Diante do quadro atual do seu município quais os projetos estratégicos deveriam ser executados pela administração municipal nos próximos quatro anos. 10) Faça uma análise critica do artigo “Planejamento Governamental e Gestão Pública no Brasil: elementos para ressignificar o debate e capacitar o estado”.
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