Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
MUZZY, Leonardo A. – P2 1 Farmacologia II Farmacologia da Tireoide A tireóide é uma glândula localizada anteriormente à traqueia, próxima à laringe. É uma glândula produtora de alguns hormônios → T3 e T4 são poroduzidos pelos folículos tireoidianos através de um estímulo hipofisário, que por sua vez é estimulado pelo hipotálamo. A calcitonina é outro hormônio produzido também pela tireoide pelas células parafoliculares e tem participação do metabolismo de regulação do cálcio. Nessa aula iremos falar, particularmente, de fármacos que vão atuar minimizando os efeitos dos hormônios tireoidianos ou que tentam estimular ou produzir ação semelhante a eles. T3 e T4 são produzidos na tireoide pelos folículos, quando são encontradas condições adequadas, uma vez que o produto utilizado para sua produção é o iodo. Então, quando a glândula consegue captar quantidades suficientes de iodo ela vai conseguir realmente produzir esses hormônios. Essa glândula é estimulada por um hormônio, que é o TSH secretado pela pituitária anterior, na hipófise. O TSH ao chegar nos folículos tireoideanos, se liga aos receptores, que são proteína quinase, gerando o aumento do AMP cíclico e, consequentemente, gerando o aumento da cascata de fosforilação, que será capaz de aumentar o influxo de cálcio, aumentar a concentração dos fosfoinositídeos (sendo o principal o trifosfato) e os fatores de crescimento. A partir da ação do TSH sobre a glândula, os folículos irão captar o iodo e produzir os hormônios, uma vez que esses hormônios são produzidos em quantidade adequada geram feedback negativo sinalizando para o TSH parar de estimular a tireoide, uma vez que a glândula não é estimulada, devido à diminuição do TSH, há diminuição da produção. Quando a gente não tem condições adequadas de iodo, por mais que o TSH se ligue ao receptor da tireoide, ele não vai conseguir produzir quantidade suficiente desse hormônio e isso vai fazer com que o feedback negativo seja deficiente. E quando ele é deficiente gera um estímulo ainda maior para a hipófise aumentando a produção de TSH, ou seja, quando tem um desequilíbrio nessa regulação dos hormônios tireoidianos é preciso utilizar algum fármaco, ou tratar de alguma forma para tentar equilibrar, fazendo com que o feedback negativo aconteça da forma ideal. Como esses hormônios são sintetizados na glândula? A gente sabe que o iodo é captado pelos folículos tireoidianos na tireoide, esse iodo é obtido através da alimentação, o qual passa pela absorção MUZZY, Leonardo A. – P2 2 no intestino, ou seja, o iodo que é ingerido é transformado em iodeto no intestino para ser absorvido. Então, esse iodo cai na corrente sanguínea na forma de iodeto, sendo captado pelo transportador na tireoide. Lá dentro da tireóide se ele se mantiver na sua forma de iodeto não consegue ser aproveitado para síntese de hormônios. Então, quando ele chega dentro da célula dos folículos ele passa por uma reação de oxidação pela peroxidase (que é a TPO). Essa enzima vai ser responsável por transformar iodeto em um íon orgânico (iodo orgânico), o qual será aproveitado pela tiróide para ser utilizado na síntese do hormônio. É importante a gente lembrar que altas concentrações de iodeto inibem a peroxidase para que realmente ela não estimule a síntese de mais hormônios, ou seja, toda vez que essa glândula capta grandes concentrações de iodo, a peroxidase é inibida para que não haja formação excessiva desses hormônios, uma vez que o iodo orgânico está disponível (deixou de ser iodeto e passou a ser iodo) ele será conjugado com a tireoglobulina (glicoproteína exclusiva da glândula tireóide) rica em tirosina. O que acontece? O iodo se liga a molécula de tirosina (iodo + tirosina) para que haja, assim, a formação do produto precursor dos hormônios. A tireoglobulina apresenta 2 subunidades: ✓ 1 átomo de iodo se ligando a 1 molécula de tirosina → MONOIODOTIROSINA (MIT). ✓ 2 átomos de iodo se ligando → DIIODOTIROSINA (DIT). Uma vez que essa MONO e DIIODOTIROSINA se conjugam há a formação de T3 (3 iodos se ligando a uma molécula de tirosina). Se tiver 2 moléculas de DIIODOTIROSINA (DIT) → DIT + DIT há formação de T4. Após serem formados, esses hormônios precisam sofrer PROTEÓLISE para que haja realmente a conjugação dessas duas moléculas e se formem T3 e T4. Sabe-se que 90% dos hormônios produzidos na tireoide estão na forma de T4 (tiroxina), apesar do T3 ser mais ativo. Dessa forma, o T4 sofre metabolismo periférico para se tornar T3 para ele realmente produzir suas ações sobre os receptores. Como são moléculas muito lipossolúveis, elas são carreadas por uma proteína na circulação, que é a globulina carreadora de Tiroxina (T4 tem uma ligação maior a essas proteínas do que o T3). Para que esse hormônio consiga ter sua ação, ele precisa se ligar a seus receptores. Quando ele chega na corrente sanguínea, ele vai sofrer essa metabolização: O T4 se transforma em T3 que, por sua vez, se liga aos receptores de T3, que são receptores de hormônios tireoidianos intracelulares nucleares e, a partir da alteração de RNAm, é possível aumentar a síntese de proteínas. Onde se localizam receptores de T3? Na maioria das células do nosso corpo, mas em especial na hipófise, no fígado, rins pulmão, músculo, intestino, cérebro. E, aí, ao atuar sobre os seus receptores produzem diversas ações. Sabe-se que são ações relacionadas ao crescimento celular e ao metabolismo. Quando eles se ligam a seus receptores produzem: ❖ Ações metabólicas: Calirogênese, ou seja, estimulam a síntese e degradação de lipídios, proteínas e carboidratos com a MUZZY, Leonardo A. – P2 3 neoglicogênese e glicogenólise; efeitos sobre a bomba de sódio/potássio e de cálcio. ❖ SNC: T3 tem ações diferenciadas em relação ao período (fase adulta ou embrionária). Na fase embrionária, o T3 é responsável por induzir fatores de crescimento neuronal, por isso que faz parte do pré-natal, do planejamento familiar monitorar função tireoideana, pois se essa mulher tiver disfunção tireoidiana, principalmente um hipotireoidismo, pode afetar o desenvolvimento fetal ou até mesmo induzir o aborto espontâneo, pois isso é um fator importante para o crescimento neuronal do feto. Na fase adulta, T3 apresenta função muito importante na cognição, aprendizado e na vascularização do SNC como um todo. Por isso que a gente vê quais são os sintomas do hipotiroidismo pessoa fica letárgica, com dificuldade de concentração dificuldade no aprendizado, principalmente em crianças, porque esse hormônio é um fator importante para o desenvolvimento cognitivo e para vascularização do sistema nervoso central como um todo. ❖ Cardiovasculares: Efeito simpaticomimético, induzindo o aumento da frequência e da força de contração. Eles ainda têm um efeito indireto que ainda contribui para esse efeito simpaticomimético que é a indução de receptores beta, aumentando a expressão desses receptores. Por isso que a gente vai ver que no hipertireoidismo, se o paciente tiver uma crise tireotóxica (sintomas exacerbados do hipertireoidismo), um dos tratamentos adjuvantes é usar um beta- bloqueador. ❖ Sistema respiratório: No período fetal apresenta uma ação surfactante para o completo desenvolvimento do sistema respiratório e, na fase adulta na manutenção da frequência respiratória. ❖ Muscular: Turnover proteico, síntese e degradação de proteínas, no eutireoidismo quando a tireoide está funcionando normalmente, tem-se a ação desse hormônio muito mais na síntese do que na degradação (o que a gente não vê quando há uma disfunção, pois a degradação aumenta) e também participa do metabolismo ósse Como a gente avalia a função da tireóide? Quais são os testes laboratoriaisrealizados para que a gente consiga avaliar a função da tireóide? A disfunção da tireoide, seja qualquer uma delas, a avaliação clínica é muito importante, exame clínico, anamnese, tem um peso muito importante no diagnóstico, mas esse diagnóstico precisa ser confirmado a partir das alterações laboratoriais. Pode avaliar a partir dos níveis de T4 livre (+ utilizado), T3 livre, ou seja, sem estar carregado pelas globulinas. A gente pode avaliar T3 e T4 total ou sua forma livre que são as formas mais utilizadas. Os níveis de TSH, já que se sabe que em níveis aumentados tem-se concentrações menores de hormônio da tireóide. Então, geralmente associa as dosagens séricas do hormônio com níveis de TSH. A captação de iodo em 24 horas que é feito para diagnóstico do hipertireoidismo, pela doença de Graves. Os anticorpos antitireoglobulina que também estão relacionados à doença. Anti-TPO geralmente associado a doenças autoimunes. Biópsia quando necessário, tireoglobulina sérica e anticorpos estimulante de TSH ou de TSI que servem para avaliar se essa disfunção é da própria tireóide ou se é uma disfunção secundária a níveis de TSH e TRH. Quando a gente não tem o feedback negativo acontecendo da forma ideal e esses níveis de MUZZY, Leonardo A. – P2 4 hormônios tireoidianos circulantes estão desnivelados, não estão equilibrados, tem-se uma disfunção da tireóide e essas disfunções são síndromes, consideradas síndromes endócrinas com um efeito sistêmico muito importante, já que eles atuam em diversos tecidos, sendo as principais disfunções: Hipo e hipertireoidismo. Hipotireoidismo Uma deficiência na produção desses hormônios tireoidianos que pode ser acompanhada ou não pelo bócio. Logo, não deve se associar a presença do bócio hipotiroidismo. Nessa situação o bócio é um efeito reflexo a uma diminuição do feedback negativo, pois quando você tem diminuição de T3 e T4 isso estimula a hipófise a produzir e secretar mais TSH podendo ser um fator do aumento dessas células e isso provocar uma hiperplasia dos folículos ou até mesmo uma hipertrofia por conta do feedback negativo que não está acontecendo. Existe o hipotiroidismo declarado ou franco e o hipotireoidismo subclínico. O hipotiroidismo declarado ou franco → É quando realmente tem a confirmação da deficiência da tireóide por uma associação de baixos níveis de tiroxina com níveis elevados de TSH, ou seja, o feedback não está acontecendo. Teve uma diminuição dos níveis de hormônio e isso está induzindo a hipófise a secretar mais TSH. O hipotiroidismo subclínico → Muitas vezes o paciente não apresenta sinais e sintomas característicos do hipotiroidismo, como enfraquecimento das unhas cabelos, letargia, aumento do peso. Ele é caracterizado por níveis TSH acima dos valores considerados normais, mas ainda os níveis de tiroxina são encontrados dentro da normalidade. Pode encontrar valores de TSH mais altos, acima de 4, mas com valores de T3 e T4 normais. Existe uma discussão de tratamento desse hipotiroidismo subclínico quando o paciente já apresenta alguns sintomas característicos, mas não possui TSH alterado, o TSH é limítrofe ao valor superior. Por exemplo: Você acompanha o paciente, o qual apresenta sinais e sintomas característicos de um hipotireoidismo, tem histórico familiar importante, como um hipotiroidismo de Hashimoto que tem uma característica genética/hereditária muito importante. Porém apresenta T3 e T4 normal, TSH vem se elevando ao longo do tempo e já se encontra próximo do limite superior e nessa condição se deve tratar como Hipotireoidismo. O hipotireoidismo subclínico precisa ser definido quando se exclui uma possibilidade de doença hipotalâmica ou uma doença pituitária, na hipófise. Então, quando realmente exclui essas condições e existe uma característica familiar importante com presença de sinais e sintomas ou não e esses valores começando a se alterar é denominado hipotiroidismo subclínico. Etiologia e patogênese → A tireoidite de Hashimoto é a mais presente é a causa mais comum. Existem aquelas que são induzidas por fármacos. Disormonogênese. Pela radiação ou pela tireoidectomia, tanto que pacientes com hipertireoidismo trata com iodoterapia e passam do hipertireoidismo para o hipo. Congênito que é mais difícil, mais raro. Secundário pela deficiência de TSH (raro). Tratamento do Hipotireoidismo Trata-se fazendo uma reposição hormonal, administrando análogos do hormônio. A intenção do tratamento farmacológico é retornar ao eutireoidismo, que é a situação que se têm níveis MUZZY, Leonardo A. – P2 5 normais de T3 T4 e TSH também dentro da normalidade. Existem 02 opções de tratamento: ✓ LEVOTIROXINA→ É um levógiro da tiroxina. ✓ T3 (molécula análoga: triiidotironina). Sabe- se que T3 é a forma mais ativa que se liga a seus receptores e produz a ação do hormônio. Mas apesar disso, a gente vê muito mais a utilização da LEVOTIROXINA do que do próprio T3, visto que a ½ vida do T3 é muito curta, fazendo com o que o medicamento seja administrado várias vezes ao dia. Então, o T3 produz uma ação mais rápida que a levotiroxina, porém essa ação é mais curta. Logo T3 é mais potente, tem mais afinidade pelo receptor, tem um tempo de latência menor (age de forma mais rápida), mas apresenta um tempo de ½ vida mais curta, o que dificulta seu tratamento. Quando o T3 vai ser utilizado? Em situações em que precisa realmente reduzir de forma mais drástica. Mas, pensando em um tratamento a longo prazo, trata-se com LEVOTIROXINA, a qual tem uma ½ vida mais longa por ser um levógiro (estrutura química favorece a absorção mais lenta e, uma ação mais prolongada) e isso possibilita a administração 1x/dia. E, hoje a gente encontra várias concentrações, o que facilita a adequação das dosagens que vai estar diretamente relacionada aos níveis séricos dos hormônios. Então, inicia-se o tratamento com doses mais baixas e vai acompanhando a normalização dessas concentrações séricas, facilitando adequar a dose mais com a levotiroxina do que com o próprio T3. A absorção deles, principalmente da levotiroxina, mas também de T3 acontece no duodeno, no íleo principalmente na parte terminal e, ela pode ser e vai ser modificada por fatores intraluminais (alimentos, fármacos, acidez gástrica e flora intestinal), ou seja, são características que vão influenciar nessa absorção, por isso é muito importante para pacientes que fazem uso de levotiroxina administrar essa medicação em jejum (30 a 60 minutos antes do desjejum), pois isso faz uma diferença gritante nos efeitos farmacológicos, visto que aumenta a biodisponibilidade 60 a 70% da droga, ela se torna muito mais biodisponível quando administrada em jejum. Às vezes a gente ver paciente que está tomando uma dose alta de levotiroxina e não consegue ter melhora a partir dos níveis séricos e quando vai saber ele não está tomando em jejum e quando você orienta ele que ele precisa tomar essa medicação em jejum ele consegue um controle muito mais fácil. Em realação a distribuição a gente viu que esses hormônios são altamente lipossolúveis e eles são carreados parte pela albumina e parte pela globulina transportadora de tiroxina. E algumas condições que podem alterar a distribuição, podendo aumentar ou não a biodisponibilidade da droga: ❖ Gravidez → Quando a mulher tem hipotiroidismo e engravida ela precisa fazer algumas adequações na dose, porque o volume plasmático aumenta e aí pode ter também a produção aumentada de proteínas carreadoras. Com isso, pode ter uma diminuição da concentração da droga livre, precisando, assim, aumentar a dosagem para ter o aumento da droga livre para produzir o efeito e, ter o controle dos valores da tireóide. MUZZY, LeonardoA. – P2 6 ❖ Estrogênios e contraceptivos orais → Podem aumentar, principalmente a globulina transportadora de tiroxina e, consequentemente, aumenta a concentração de droga ligada, o que dificulta o controle também dessa disfunção. Em relação ao metabolismo e excreção eles têm o metabolismo hepático muito importante. Como destaque maior a excreção dos hormônios tireoidianos são excretados EXCLUSIVAMENTE PELA VIA BILIAR. Então eles são reabsorvidas pela circulação entero-hepática para depois ser eliminados pelas fezes, ou seja, se o paciente utiliza sequestradores biliares em que a gente já falou no tratamento das dislipidemias, que são as resinas, isso pode diminuir a ação dos hormônios, pois eles vão ser conjugados e eliminados. Lembrando que os sequestradores biliares eles diminuem as concentrações de colesterol, eliminando-os nas fezes e com o aumento dessa eliminação quem vai embora também são os hormônios tireoideanos. Deve-se ter muito cuidado com pacientes que fazem utilização de resinas e tratamento para hipotiroidismo. A LEVOTIROXINA é o fármaco de escolha para reposição hormonal no caso do hipotiroidismo. Apresenta uma meia-vida de 7 dias, sendo administrado 1x ao dia. Se o paciente esquecer de tomar um dia ou dois, dependendo da gravidade da doença, ele não consegue perceber a ausência do medicamento. Ele precisa sim ser administrado 1x ao dia para que ele atinja o equilíbrio dinâmico, para que aquela dose se mantenha na corrente sanguínea, mas por conta dessa meia vida de 7 dias, essas pequenas alterações nos horários nas tomadas não influencia tanto, não tem um impacto tão grande na sua utilização. Quando se inicia com a levotiroxina, sabendo que ele tem esse tempo de meia-vida mais longo e essa administração demora chegar nos níveis que a gente chama de equilíbrio dinâmico, os níveis de TSH precisam ser monitorados depois de 6 a 8 semanas do início da medicação ou do ajuste da dose. Ao atingir o eutireoidismo, as taxas de T3 e T4 estão normais e, principalmente esse TSH já diminuiu a gente passa para 6 meses e depois para 1 ano a monitorização. Quais são as considerações em relação as posologias da levotiroxina? Jovens ou pacinetes com doenças muito leves que utilizam uma dosagem considerada integral (reposição hormonal integral) eles já podem iniciar com uma dose maior e os lactentes têm uma necessidade ainda maior por conta do desenvolvimento neuronal, então, quando isso é diagnosticado no lactente, ele vai utilizar uma dose muito maior do que um adulto. Mas, se o paciente tiver mais que 50 anos sem doença cardíaca ele vai utilizar 50 mcg/dia e vai aumentando de acordo com acompanhamento do TSH. E se for um idoso com cardiopatia ele vai utilizar doses menores e vai fazer a adequação dessas doses ao longo do tempo, porque a gente sabe que os hormônios tireoidianos atuam como simpaticomiméticos, eles induzem receptores beta, tem uma ação inotrópica e cronotrópica muito importante, então, se esse paciente for um paciente hipertenso, portador de uma arritmia ou que passou por um IAM, que são situações como doenças arteriovascular, esse paciente tem que ter o ajuste mais controlada, por isso inicia com baixas doses da levotiroxina e vai aumentando, acompanhando com os níveis de TSH. MUZZY, Leonardo A. – P2 7 Então situações especiais: Se a gente pensa no idoso como a cardiopatia eu devo aumentar as doses gradativamente, pois baixos níveis de T3 são considerados até protetores para essas doenças, já que a gente sabe que o hormônio tem uma ação simpaticomimética. Na gravidez geralmente a mulher precisa de um aumento de 25 a 30% de levotiroxina e, isso vai de acordo com o trimestre de gestação por conta do volume plasmático. E o tratamento subclínico que a gente trata quando o T3 e T4 estão normais e TSH estão aumentados ou o TSH está limítrofe e apresenta características que induzem uma disfunção tireoidiana. Efeitos adversos → Cardiovasculares, palpitação e taquicardia. Mas eles só são sentidos quando a dosagem delas são maiores, não é normal paciente ter esses efeitos em doses muito baixas não. Hipertireoidismo O hipertireoidismo pode ser chamado de tireotoxicose, o qual é uma síndrome clínica que surge quando os tecidos ficam expostos a níveis elevados de hormônios tireoidianos, ou seja, há uma produção e secreção excessiva desses hormônios pela tireoide. A principal causa é a doença de Graves, a qual produz esse bócio tóxico difuso que é característico dessa doença autoimune, isto é, quando nosso organismo cria anticorpos que são dirigidos ao receptor de TSH e esse anticorpo é capaz de estimular receptor de TSH na membrana dos folículos, estimulando a produção e secreção desses hormônios. Como essa doença é diagnosticada? Quando encontra-se T3 e T4 elevados e TSH suprimido, porque houve secreção de hormônio da tireóide e isso induz ao feedback negativo, ou seja, suprime a ação do TSH. Mas pq T3 e T4 continuam sendo produzidos? Porque o anticorpo produzido nessa doença autoimune ativa receptores de TSH e, consequentemente, estimula os folículos a produzirem e secretar hormônio. Tratamento do Hipertireoidismo Existem 03 formas: ✓ ANTITIREOIDIANOS ✓ TRATAMENTO CIRÚRGICO (retirada da glândula) ✓ IODO RADIOATIVO O nosso enfoque é nos antitireoidianos e no iodo radioativo. Qual a diferença entre eles? Antitireoidianos são o único tratamento conservador da tireóide, uma vez que tanto a tireoidectomia quanto o iodo radioativo são tratamentos que não são conservadores, eles realmente destroem os folículos ou retiram a glândula. MUZZY, Leonardo A. – P2 8 Quem são os antitireoidianos? São as TIAMIDAS e os IODETOS e temos ainda o iodo radioativo e os adjuvantes que são os betabloqueadores. São o principal tratamento antitireoidiano para o hipertireoidismo. Como é um tratamento conservador é a principal escolha. Temos 2 representantes: METIMAZOL (10x mais potente que a propiltiouracila) e PROPILTIOURACILA que só é utilizada quando não consegue usar o metimazol → 1° trimestre da gestação (droga considerada categoria C), na tempestade tireoidiana, reações adversas com metimazol, quando paciente tem alguma contraindicação no uso de metimazol. A tempestade tireoidiana acontece a partir de um hipertireoidismo (crise tireotóxica), uma exacerbação aguda do hipertireoidismo e como a PROPILITIOURACILA atua de forma mais rápida ela pode ser utilizada nesses casos. Já o METIMAZOL é um fármaco mais potente, necessitando assim, de uma posologia mais espassada. Mecanismo de ação das tiamidas → Elas apresentam mecanismo múltiplo de ação para a inibição realmente do hormônio tireoideanos. O seu mecanismo de ação se concentra inibindo a peroxidase (TPO). Se não tem peroxidase, não há transformação do iodeto em Iodo orgânico, se não tem iodo orgânico não é possível conjugá-lo com a tirosina, logo não se tem hormônio tireoideano. Eles também fazem bloqueio do acoplamento das iodotirosinas, ou seja, ela impede a organificação e também faz a inibição da desoiodação periférica, que é a conversão de T4 em T3. A ação principal das tiamidas é INIBIR A PEROXIDASE, as outras ações são menos específicas das tiamidas. As TIAMIDAS tem o início de ação muito lento, começando seus efeitos 3 a 4 semanas após o início da utilização desses fármacos, porque elas vão impedir a formação de novas moléculas, mas esses aquelas moléculas de hormônios que já foram produzidas e estão prontas para serem secretadas. Quando são utilizadas? Sempre que o hipertireoidismo é diagnosticado, sendo administradas até que a doença tenha remissão espontânea, ou seja, até quando os níveis de T3, T4 e TSH estejam normalizados. Se inicia com doses fracionadaspara depois começar com doses únicas diárias até o paciente ter estabilização da função tireoidiana e ele vai continuar utilizando isso por um tempo longo de 12 a 18 meses que é o tratamento médio do hipertireoidismo. E existe incidência de recidiva de 50 a 70% das vezes, pois na maioria das vezes o hipertireoidismo é ocasionado por uma doença autoimune, por isso é muito comum que a recidiva. Reações adversas → São bem raras. A principal delas é uma erupção cutânea, uma rash cutâneo no início do tratamento, mas que pode ser controlado com o uso de anti-histamínicos nas primeiras semanas. A Agranulocitose é um efeito adverso bem raro e a hepatite medicamentosa está relacionada ao uso da propilitiouracila e não do metimazol, visto que a propilitiouracila é mais hepatotóxica e caso haja elevação das transaminases, esse tratamento precisa ser interrompido. MUZZY, Leonardo A. – P2 9 O outro antitireoidiano utilizado no tratamento do hipertireoidismo é o IODETO → Foram os primeiros antitireoidianos desenvolvidos, são soluções de iodetos utilizados de forma oral, temos 2 representantes: ✓ SOLUÇÃO DE LUGOL ✓ SOLUÇÃO SATURADA DE IODETO DE POTÁSSIO (SSKI). Hoje eles só são utilizados em associação com as TIAMIDAS e não sozinhos por conta do seu mecanismo de ação. Mecanismo de ação dos iodetos → Atuam em duas partes da síntese do hormônio, atuam também inibindo a ação da peroxidase, mas como o iodeto pode impedir a ação da peroxidase se ele usa iodeto para produzir iodo? Pois quando esses folículos captam grandes quantidades de iodeto a peroxidase é inibida para que haja diminuição da produção de hormônio tireoidiano, ou seja, em grande quantidade de iodeto há inibição da peroxidase, por isso o iodeto é utilizado para hipertireoidismo. Eles também inibem a proteólise que acontecem com as tireoglobulinas, pois quando as iodotirosinas são produzidas elas precisam sofrer proteólise para que realmente tenha produção e secreção dos hormônios. Logo, eles atuam também impedindo que essa proteólise aconteça. Diferente das tiamidas, os iodetos produzem um efeito muito mais rápido de 2 a 7 dias, pois eles impedem que novas moléculas sejam produzidas e também daquelas que já foram formadas, uma vez que estão atuando sobre as proteólise. Além disso, existem estudos que demostram que altas concentrações de iodeto reduzem o tamanho e a vascularização da glândula, por isso que o paciente utiliza também as soluções de iodeto como um tratamento prévio ao tratamento cirúrgico. Então ele faz a utilização do iodeto por um tempo para depois fazer a retirada da glândula, porque ele realmente diminui o tamanho da glândula e a sua vascularização o que facilita a cirurgia. Importante falar que os iodetos devem ser iniciados após instituição da terapia com as tiamidas, porque ele só vai fazer o bloqueio do hormônio já formado. Se começar a utilizar os iodetos e não tiver fazendo uso das tiamidas, esse bloqueio não vai acontecer por completo. Por isso que inicia com a tiamida para depois associar com os iodetos. Não devem ser utilizados durante a gravidez, pois o iodeto atravessa barreira placentária e pode gerar alterações nos hormônios tireoideanos fetais. E, a gente viu que as TIAMIDAS podem ser utilizadas. Reações adversas → Iodismo que são altas concentrações de iodeto que podem gerar algumas reações simples que são aumento das glândulas salivares, ulcerações das mucosas, conjuntivite, rinorreia. Dificilmente evolui para distúrbios hemorrágicos e reações anafilactóides a não ser que o paciente seja realmente alérgico ao iodo. Outro tratamento, que não deixa de ser um tratamento farmacológico, é o IODO RADIOATIVO. Ele não é tratamento conservador, é um tratamento definitivo e, muitas vezes, é utilizado quando o paciente já teve recidiva do hipertireoidismo, tratou com as tiamidas, teve o controle e a doença voltou. E aí quando ela volta, uma das escolhas é utilizar o iodo radioativo. O iodo radioativo é um isótopo na forma de iodeto de sódio que vem associada a raios MUZZY, Leonardo A. – P2 10 beta os quais são administrados por via oral em uma dosagem única e essa dosagem pode ser repetida depois de algum tempo caso não tenho tido supressão da glândula. Ele vai ser o tratamento de primeira escolha quando: ❖ Tiver contraindicações para o uso de antitireoidianos ou da cirurgia ou quando tem recidiva da doença com os antitireoidianos. ❖ Quando o controle definitivo e rápido é desejado, por exemplo, cardiopatas idosos e mulheres em idade fértil que planejam gravidez. E, a gente sabe que vai ser um tratamento definitivo e mais rápido, pois após 2 a 4 semanas da administração do iodo já começa a destruição do parênquima da tireóide, vai fazendo em intumescimento e necrose do epitélio, desorganização folicular, edema e infiltração de leucócitos, tendo assim a inativação da glândula. Por que essa inativação da glândula acontece? A gente falou que o iodo ele é captado pela glândula para produção de T3 e T4. Logo a gente "engana" a glândula entregando para ela o iodo radioativo. E aí quando ele chegar no interior da célula os raios beta que contém ali são capazes de fazer a destruição do celular. Isso ocorre a longo prazo, ele vai emitindo esses raios de uma forma lenta e gradativa até que ele consiga degradar ali a célula. Geralmente se realiza o tratamento com antitireoidianos com tiamidas, não deve utilizar o iodeto próximo da utilização do iodo radioativo, tem que esperar algumas semanas, se não a tireoide vai ficar "confusa" ela vai pegar o iodeto para produzir o hormônio ou ela vai pegar o iodo radioativo? Visto que está ofertando a ela 2 substratos (iodeto em altas concentrações e o iodo radioativo), por isso não podem ser associados. O hipotiroidismo acontece em 20 a 30% dos pacientes em uso de iodo radioativo → Então paciente trata o hipertireoidismo e fica com hipotireoidismo, pois está sendo feita a destruição dessas células e, aí precisa instituir a reposição hormonal com a Levotiroxina. Por ser um produto radioativo NÃO pode ser administrado em mulheres grávidas ou lactantes ou que desejam engravidar em um futuro muito próximo. Nesse caso se trata com os antitireoidianos. ADJUVANTES → Principalmente na crise tireotóxica onde se tem exarcebação dos hormônios tireoidianos sobre os tecidos, uma forma de minimizar os sintomas apresentados pelos pacientes é utilizando o BETA-BLOQUEADORES, visto que esses hormônios tem uma ação simpaticomimética e ainda induz a expressão de genes formadores dos receptores beta, por isso tem que utilizar beta- bloqueador. Geralmente se utiliza o PROPRANOLOL, mas quando paciente tiver alguma restrição, como no caso de um paciente asmático ou com outra comorbidade respiratória, pode-se utilizar os mais seletivos, como atenolol ou até mesmo o de duração mais rápida como esmolol. O DILTIAZEM que é um vasodilatador (bloqueador dos canais de Ca2+) são utilizados em segundo plano, quando realmente paciente não pode usar um betabloqueador. Uma outra droga que pode ser utilizado o tratamento adjuvante também são os GLICOCORTICÓIDES na crise tireotóxica e não no tratamento convencional do hipertireoidismo, pois ele faz inibição da síntese proteica e diminui a atividade dos hormônios tireoidianos. É utilizado apenas no tratamento agudo.
Compartilhar