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61
FACULDADE DE SANTA CATARINA
ADOÇÃO INTERNACIONAL: Aspectos legais à luz do Estatuto da Criança e do Adolescente
São José
2018
FACULDADE DE SANTA CATARINA
ANDREIA SARAIVA 
ADOÇÃO INTERNACIONAL: Aspectos legais à luz do Estatuto da Criança e do Adolescente
Trabalho de Conclusão de Curso submetido à Faculdade de Santa Catarina – FASC, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito. 
Orientador: Prof Luciano Zanetti.
São José
2018
TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE
Declaro, para todos os fins de direto, que assumo total responsabilidade pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Faculdade de Santa Catarina – FASC, a Coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador (a) de toda e qualquer responsabilidade acerca do tema desenvolvido nesta pesquisa.
São José, xx (dia) de xxxx (mês) de 2018
_________________________
Nome do aluno
ADOÇÃO INTERNACIONAL: Aspectos legais à luz do Estatuto da Criança e do Adolescente
Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado à obtenção do título de Bacharel em Direito e aprovado em sua forma final pelo Curso de Direito, da Faculdade de Santa Catarina, com nota _______.
São José, xx(dia) de xxxxx(mês) de 2018.
________________________
Prof. Xxx (nome do professor), 
Coordenador do Curso
Banca Examinadora:
________________________
Prof. Luciano Zanetti, 
Orientador
Faculdade de Santa Catarina
________________________
Prof.ª, xxxx(nome), 
Co-Orientadora
Universidade xxxx(origem do professor)
________________________
Prof., Xxxx(nome), 
Universidade xxxxxx(origem do professor)
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho à XXXXXXXXX
XXXXXXXXXXXXXXXXX
AGRADECIMENTOS
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX.
(XXXXXXXXXXXXX)
RESUMO
O resumo deve ser um texto corrido, sem parágrafos e com alinhamento justificado. Deve ter no máximo 500 palavras. 
Palavras-chave: XXXXXX. XXXXXXXX. XXXXXXXXXXXX.
ABSTRACT
Xxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
Keywords: xxxxxxxxxxxx xxxxxxxxxxxxxxx xxxxxxxxxxxxxx
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ECA – Estatuto da criança e adolescente
ROL DE CATEGORIAS
Adolescente: É considerado adolescente o sujeito de 12 (doze) anos de idade completos, a 17 anos (BRASIL, 1990).
Criança: É considerada criança a pessoas de até 12 (doze) anos de idade incompletos (BRASIL, 1990).
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO	12
2 O INSTITUTO DA ADOÇÃO: HISTÓRICO E EVOLUÇÃO	14
2.1 DOUTRINA DA PROTEÇÃO INTEGRAL: ASPECTOS LEGAIS	17
2.1.1 Conceitos de adoção	20
2.2 A ADOÇÃO NO ORDENAMENTO BRASILEIRO	21
3 A REGULAMENTAÇÃO PELO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE – ECA	24
3.2 EVOLUÇÃO DAS LEIS DE ADOÇÃO INTERNACIONAL NO BRASIL	31
3.3 A ADOÇÃO INTERNACIONAL E OS ASPECTOS NORMATIVOS	32
3.3.1 Requisitos e procedimentos para Adoção Internacional	34
3.4 AS COMISSÕES JUDICIÁRIAS DE ADOÇÃO INTERNACIONAL (CEJAI)	37
3.4.1 Organismos credenciados	39
4 ADOÇÃO INTERNACIONAL: JURISPRUDÊNCIAS	43
4.1 A ADOÇÃO INTERNACIONAL NA PRÁTICA	49
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS	51
REFERÊNCIAS	52
ANEXOS	56
1 – ECA: PRINCIPAIS NORMAS QUE REGEM A ADOÇÃO	56
1 INTRODUÇÃO
A proteção integral foi abordada pela primeira vez na Declaração Universal dos Direitos da Criança em 1959. Mais tarde, em 20 de novembro de 1989, a Assembleia Geral das Nações Unidas na Convenção sobre os Direitos da Criança adotou a carta Magna, a qual fundamentam-se no reconhecimento da dignidade inerente e dos direitos iguais e inalienáveis de todos os membros da família humana, validando os direitos também às crianças.
No Brasil, durante a Assembleia Nacional Constituinte, uma iniciativa popular expressa discutiu o tema da proteção integral à crianças e adolescentes e a Constituição Federal de 1988 abraçou essa doutrina o que resultou no artigo 227 da nossa “Constituição Cidadã”. Esse dispositivo que reconhece os direitos fundamentais para crianças e adolescentes, cuja efetividade tem cláusula prioritária.
Dois anos depois, em 1990, foi aprovado o Estatuto da Criança e do Adolescente. O estatuto regulamentou o artigo 227 da Constituição Federal e é considerada uma das Leis mais avançadas do mundo em termos de proteção da criança e do adolescente.
Além do atendimento de que crianças e adolescentes, devem estar sob a corresponsabilidade da família, do sociedade e do Estado, o ECA também trouxe várias mudanças, do ponto de vista normativo, em relação ao antigo Código de Menores de 1979, que versava sobre família substituta e, principalmente sobre o Instituto da Adoção. Atualmente, o recurso de uma família substituta para guarda provisória ou adoção, só será usado, esgotadas as possibilidades da criança permanecer no lar biológico.
A adoção é um tipo de filiação que advém da forma sanguínea, mesmo estabelecendo todos os vínculos que possuem os filhos naturais, e, portanto, chamada de adoção jurídica, já que garante ao adotado todos os direitos dos consanguíneos, não existindo qualquer diferença entre eles. É considerada uma “adoção internacional”, quando uma das partes reside em outro país, ou seja, adotado ou adotando são estrangeiros.
Nesse contexto, a presente monografia tem como objetivo geral verificar o cumprimento dos aspectos legais nos casos de adoção internacional, à luz do Estatuto da Criança e do Adolescente. 
Como objetivos específicos, conceituar o Instituto da adoção no ordenamento brasileiro; examinar a jurisprudência nos processos tocante a adoção internacional; e analisar como acontece na prática a adoção de crianças e adolescentes brasileiros por adotantes estrangeiros.
Adotou-se como metodologia um estudo descritivo-analítico, desenvolvido por meio de pesquisa bibliográfica, livros, revistas e artigos científicos e também na legislação vigente.
Além dessa introdução, esse trabalho é composto pela fundamentação teórica, com três capítulos onde, primeiramente, será descrito o Instituto da adoção, histórico e evolução; Os aspectos legais da doutrina da proteção integral da criança e do adolescente, bem como os conceitos e características. No segundo momento, um capítulo dedicado ao ECA, as regulamentações e a evolução das Leis de Adoção Internacional no Brasil, bem como os requisitos e as Comissões Judiciárias de Adoção Internacional (CEJAI), responsáveis pela análise dos pedidos de adoções. E por último, essa parte do desenvolvimento do trabalho trará as jurisprudências e abordará como se dá a adoção internacional na prática, em nosso país.
Ainda, esse estudo discute e analisa, nas considerações finais, a teoria que balizou o trabalho, bem como as percepções do autor sobre o tema. 
2 O INSTITUTO DA ADOÇÃO: HISTÓRICO E EVOLUÇÃO
Para bem entender o instituto da adoção, principalmente da adoção internacional, mister se faz entender como esse cenário, como conhecemos hoje, da transferência total e irrevogável de uma criança ou adolescente, de sua família biológica para outra, se transformou com os anos. Esse “é um fenômeno bastante recente na história legislativa do Ocidente”, ressalta Fonseca (2006, p. 44). A História comprova que há um grande número de anais alusivos à questão adoção, sobre os quais os pesquisadores se baseiam para fundamentar seus estudos.
Conforme alguns historiadores, como Boswell (1988 apud FONSECA, 2006) o instituto da adoção pode ser identificado desde os primórdios da civilização, constando na mitologia[footnoteRef:1], passagens bíblicas (história de Moises, por exemplo)[footnoteRef:2] e até nos contos infantis[footnoteRef:3] (SILVA, 2017). Podemos observar, inclusive, nas Leis do Código de Hamurabi, (1728-1686 a.C.), onde as regras para adoção estavam presentesem alguns de seus trechos: [1: Sófocles viveu a tragédia ao ser adotado e posteriormente veio a se apaixonar por sua mãe adotiva e assassinou o pai que o tinha adotado. “AS TRAGÉDIAS DE SÓFOCLES” - https://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/3778135. ] [2: Na bíblia, Moises foi encontrado, cuidado e tido como filho, por meio da adoção, pela filha do Faraó. (Bíblia Sagrada, Êxodo 2,10).] [3: A história de Pinóquio, do Patinho feio, de Simba, na história do Rei Leão que após ter o pai assassinado foi criado por um suricate e um porco selvagem e das princesas adotadas por madrastas, por exemplo. (FONSECA, 2006).] 
§ 185 Se um awïlum (termo acádico correspondente a homem) adotou uma criança desde o seu nascimento e a criou: essa criança adotada não poderá ser reclamada.
§ 186 Se um awïlum adotou uma criança e, depois que a adotou, ela continuou a reclamar por seu pai ou sua mãe: essa criança adotada deverá voltar à casa de seu pai.
§ 191 Se um awïlum, que adotou uma criança e a criou, constituiu um lar, em seguida teve filhos e resolveu despedir o filho de criação: esse filho não partirá de mãos vazias, seu pai de criação deverá dar-lhe de seus bens móveis um terço de sua parte na herança e ele partirá. Ele não lhe dará nada de seu campo, pomar ou casa.
§ 192 Se o filho adotivo de um gerseqqûm (termo acádico correspondente a funcionário do palácio, geralmente um eunuco) ou o filho adotivo de uma ZI.IK.RU.UM (termo acádico correspondente a uma classe sacerdotal feminina ou sacerdotisa-meretriz) disse a seu pai que o cria ou à sua mãe que o cria: ―tu não és meu pai, tu não és minha mãe‖: cortarão sua língua.
§ 193 Se o filho adotivo de um gerseqqûm ou o filho adotivo de uma ZI.IK.RU.UM descobriu a casa de seu pai, desprezou seu pai que o cria ou sua mãe que o cria e partiu para a casa de seu pai: arrancarão o seu olho (SILVA, 2010).
Esse Código permitia que uma mulher estéril pudesse cuidar dos filhos nascidos de seu marido, com outra mulher, escolhida por ela para gerar os rebentos, dado que ela não podia procriar.
No Direito Romano, base que inspirou o direito ocidental encontra-se o seguinte conceito: “adoptio est actus solemnis quo in loco fili vel nepotis adscicitur qui natura talis non est”, o que significa: a adoção é o ato solene pelo qual se admite em lugar de filho quem pela natureza não é. Nessa premissa, havia três tipos de adoção: a adrogatio, a adoptio, e a adoção por testamento. Através da adrogatio um chefe de família podia adotar uma família inteira, de modo que o adotado (adrogado) entrava com toda a sua família para a família do adotante (ad-rogante). Com o passar dos tempos as definições foram se modificando, sendo determinados pelas várias culturas existentes (SILVA, 2010).
 Também é histórico que, tanto na Europa, quanto no Brasil, durante a idade média e parte da era moderna e contemporânea, a roda de expostos ou enjeitados, foi um expediente usado pelos nobres com o intuito de se desfazer dos recém-nascidos, bastardos ou indesejados (FONSECA, 2006; MARCÍLIO, 2008).
Os recém-nascidos eram depositadas na Roda dos Expostos e eram acolhidas pelas Santas Casas de Misericórdia, garantindo o sigilo sobre as mães biológicas das crianças, normalmente as brancas solteiras de classe média. Essas crianças eram adotadas ou viviam e em conventos e hospitais geridos pela igreja católica (SILVA, 2010).
A roda dos expostos foi a instituição brasileira de mais longa vida, sobrevivendo aos três grandes regimes da nossa história. Criada na colônia, perpassou e multiplicou-se no período imperial, conseguiu manter-se durante a República e só foi extinta na recente década de 1950 (MARCÍLIO, 2008, p. 51).
A extinção das Rodas dos Expostos, no Brasil, se deu, de fato, ou pelo menos oficialmente, “apenas em 1923, pelo decreto nº 16.300, de 31 de Dezembro (SILVA, 2010, p. 6).
Quanto as primeiras disciplinas sobre o assunto no Brasil, pode se dizer que, o instituto da adoção não foi sistematizado no direito anterior ao Código Civil, no entanto, ele foi acolhido e disciplinado no Livro I do Direito de Família, Capítulo V, arts. 368 a 378. Estes arts. 368 a 378 do Código Civil de 1916[footnoteRef:4], abordavam o instituto da adoção, seus trâmites legais, suas possibilidades e as possíveis vedações. [4: RODRIGUES, Sílvio. Direito Civil: direito e família. p. 336/337.] 
Nesse sistema a adoção se dava através de escritura pública, sem influência judicial e o mais interessante era que os filhos adotivos não rompiam os vínculos com a família biológica, podendo permanecer com o nome originário e o mais curioso: permanecer com os direitos e deveres alimentícios face aos pais consanguíneos (DIAS, 2010, p. 33).
O Instituto da adoção é originário do Direito de família, que tem como desígnio a formação de uma família, do modo mais natural possível.
Este instituto já sofreu variadas modificações Preliminarmente a adoção era vista como algo que atenderia aos interesses apenas do adotante, pelo fato de que os princípios terem grande influência na sociedade, sendo que ao ter filhos a família estava dando continuidade ao culto familiar (LEITE, 2016, p. 4).
Aos longo dos anos, conforme a sociedade evoluía, a adoção passou a ser vista como algo positivo tanto para os adotantes, quanto para os adotados. Principalmente porque tratados e convenções internacionais colocaram a criança e o adolescente como sujeito de diretos e deveriam receber atenção e proteção integral do Estado e sociedade.
2.1 DOUTRINA DA PROTEÇÃO INTEGRAL: ASPECTOS LEGAIS
A Convenção das Nações Unidas, da qual o Brasil é signatário, sobre os Direitos da Criança, adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 20.11.89 considera a criança como sujeito de direitos, afirmando o seu direito a ter um nome, a partir do nascimento, assim como o direito a ter uma nacionalidade; o direito de conhecer e conviver com seus pais, a não ser quando incompatível com seu melhor interesse; e pode se destacar dos seus 56 artigos, dois da I Parte do Documento:
Art.1 Para efeitos da presente convenção considera-se como criança todo ser humano com menos de 18 anos de idade, a não ser que, em conformidade com a lei aplicável à criança, a maioridade seja alcançada antes. 
Art.2 1 – Os Estados Partes respeitarão os direitos enunciados na presente Convenção e assegurarão sua aplicação a cada criança sujeita à sua jurisdição, sem distinção alguma, independentemente de sexo, idioma, crença, opinião política ou de outra natureza, origem nacional, étnica ou social, posição econômica, deficiências físicas, nascimento ou qualquer outra condição da criança, de seus pais ou de seus representantes legais (UNICEF, 2015).
Nessa Convenção, a família é considerada como instituição fundamental da sociedade e reconhecida como o ambiente natural para o desenvolvimento saudável da criança e do adolescente. Corroborando com o documento da Convenção, os termos do Estatuto da Criança e do Adolescente (Cap. III, Art. 19) assiste às crianças e aos adolescentes o direito de serem criados e educados “no seio de sua família e, excepcionalmente, em família substituta (BRASIL, 1990).
Sobre a proteção integral, o ECA determinava, em síntese:
a) a normatização do princípio da proteção integral à criança e ao adolescente, como uma categoria paralela aos direitos fundamentais da pessoa humana;
b) a definição, para efeitos legais, de criança, como a pessoa até doze anos de idade incompletos, e do adolescente, como aquela entre doze e dezoito anos de idade;
c) o dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do Poder Público de assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária;
d) o direito da criança e do adolescente ser criado e educado no seio da sua família natural e, excepcionalmente, em família substituta (guarda, tutela ou adoção);
e) a atribuição da condição de filho ao adotado, de forma irrevogável,com os mesmos direitos e deveres, inclusive sucessórios (estes recíprocos entre o adotado, seus descendentes, o adotante, seus ascendentes, descendentes e colaterais até 4° grau), desligando-o de qualquer vínculo com pais e parentes, salvo os impedimentos matrimoniais;
f) a diferença de idade, em pelo menos dezesseis anos, entre adotante e adotado;
g) a possibilidade de adoção mesmo que dissolvido o casamento e a adoção post mortem;
h) o deferimento da adoção desde que representasse reais vantagens para o adotando, fundada em motivos legítimos;
i) o consentimento dos pais ou do representante legal do adotando, e do próprio adotando maior de doze anos de idade;
j) o necessário estágio de convivência com a criança ou adolescente, pelo prazo que a autoridade judiciária fixar, observadas as peculiaridades do caso; e
k) a adoção internacional condicionada a estudo prévio e análise de uma comissão estadual judiciária de adoção, que forneceria o respectivo laudo de habilitação para instruir o processo competente (BARROS; MOLD, 2012, p. 9-10).
Este preceito vigorou ao longo dos últimos vinte anos no Brasil, tendo por base dois princípios protetivos basilares - o da proteção integral e o da prioridade absoluta[footnoteRef:5]. O princípio da proteção integral considera que crianças e adolescentes são pessoas capazes e incompletas, portanto, sujeitos de direito que têm opiniões que precisam ser respeitadas. Também, o diploma constitucional contrapõe-se à doutrina da situação irregular que norteava o entendimento e ações do Código de Menores de 1979. [5: Princípio da prioridade absoluta tem base no caput do art. 227 da Constituição Federal de 1988 (CF-88).] 
Ainda, o Princípio da Proteção Integral das Crianças e dos Adolescentes determina que seja observado pelo poder judiciário brasileiro, na sua interpretação teleológica ou valorativa, todos os princípios que engloba tal doutrina. O art. 3º do ECA consagrou essa forma de interpretação das normas no caso concreto, deixando claro a extensão dos direitos desses entes, em seu Diploma legal:
Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade (BRASIL, 1990).
Assim, O art. 227 da Constituição Federal de 1988 ilustra o compromisso do Brasil com o Princípio doutrinário de Proteção Integral, assegurando às crianças e aos adolescentes a condição de sujeitos de direitos. 
 Nas palavras de Fontoura (2011, p. 25):
O estabelecimento da proteção integral significou uma mudança de paradigma, modificou essa concepção de objetos de direito, na medida em que se encontravam enquadradas no binômio necessidade-delinquência, para uma situação de protagonismo, detentores de direitos, independentemente de estarem ou não em uma situação de risco.
 Não obstante, enquanto sujeitos de direito, precisam ser contempladas em políticas públicas que proporcionem essa proteção.
2.1.1 Conceitos de adoção
A origem da palavra adoção vem do latim “adoptio” que significa escolher, perfilhar, dar o seu nome a, optar, juntar, desejar, ou ainda a ação de adotar, tomar alguém como para si com cuidados. (SILVA, 2010).
[...]a adoção imita a filiação natural [...]. Na sua origem, a adoção foi pensada para resolver a impossibilidade de procriação natural dos casais inférteis, permitindo a manutenção do culto doméstico (ALDROVANDI; BRAUNER, 2010, p. 4).
 A priori é importante dizer que conceitos e definições dos institutos jurídicos normalmente são formulados pela doutrina, e dizem respeito a uma determinada época e sistema em que se inserem. De modo geral, o instituto da adoção é conceituada como sendo um ação jurídica através do qual se constitui um vínculo fictício de filiação, dando origem a uma relação jurídica de parentesco civil entre a pessoa adotada e a pessoa adotante.
Como leciona Diniz (2014, p. 498):
A adoção vem a ser o ato jurídico solene pelo qual, observando os requisitos legais, alguém estabelece, independentemente de qualquer relação de parentesco consanguíneo ou afim, um vínculo fictício de filiação trazendo para sua família, na condição de filho, pessoa que geralmente lhe é estranha. [...]que possibilita que se constitua entre o adotante e o adotado um laço de parentesco de 1º grau na linha reta.
A autora completa ainda que, a adoção “é um elo legal que cria uma paternidade e filiação civil” (DINIZ, 2014, p. 572).
Granato (2005 apud LOPES, 2015, p. 22) lembra que “a adoção não tem por finalidade resolver a situação de casais ou pessoas que não podem ou não querem gerar um filho biológico”, e sim de proporcionar ao adotado uma família, e que as duas partes possam suprir suas carências e juntos criar um vínculo familiar.
Complementando tais definições, Lopes (2015, p. 24) advoga que:
A adoção é a modalidade de colocação em família substituta mais segura, já que retira o adotando do contexto de abandono e institucionalização, transmitindo ao adotante os deveres inerentes ao poder familiar, com a responsabilidade pela criação e educação, conferindo ao adotado os mesmos direitos e deveres como se filho biológico fosse.
Essas definições servem tanto para a adoção no âmbito nacional, como nos processos adotivos envolvendo atores de diferentes nacionalidades. A adoção é um instituto que mudou ao longo dos tempos. A evolução legislativa, mesmo que de forma lenta, foi importante para o resultado que se tem hoje no ordenamento jurídico, como será visto no próximo capítulo.
2.2 A ADOÇÃO NO ORDENAMENTO BRASILEIRO
A adoção entrou no Brasil a partir das “Ordenações Filipinas e a primeira lei a tratar do assunto, de forma não ordenada, foi promulgada em 22 de setembro de 1828” (CUNHA, 2011, p. 4). Essa Lei tinha características do direito português, originário do direito romano, base do direito ocidental.
Entretanto, no ordenamento brasileiro, o instituto da adoção foi disciplinado pela primeira vez no Código Civil de 1916. Neste diploma a adoção possuía uma natureza jurídica contratual, “defendida pela maioria da doutrina civilista do século XIX” (FURTADO, 2016, p. 17). Esse tipo de contrato, o laço de parentesco era gerado somente entre adotante e adotado, não criando este nenhum laço com os parentes daquele. Constava o artigo 376 do Código. 
A Lei disciplinava o instituto entre seus artigos 368 a 378. A adoção era autorizada somente aos maiores de cinquenta anos e desde que fossem dezoito anos mais velhos que o adotado e que não possuíssem prole legítima ou legitimada. Isto trazia grandes dificuldades para as pessoas que possuíam o intento de adotar (FURTADO, 2016, p. 19).
A Lei n. 3.133/57, de 08 de maio de 1957, trouxe alterações no Código Civil de 1916[footnoteRef:6], e o instituto da adoção foi atualizado e ganhou melhoras na sua aplicabilidade. Além da idade do adotante, que diminui de 50 para 30 anos, a diferença de idade exigida entre adotante e adotado também diminuiu de dezoito para dezesseis anos. Outro ponto importante foi em relação a condição dos adotantes já possuírem filhos, com essa modificação, essa exigência caiu, somente sendo preciso demonstrar a estabilidade do laço conjugal por um período mínimo de cinco anos (MANFREDINI, 2014). [6: CÓDIGO CIVIL DE 1916. Disponível em:< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L3071.htm> Acesso em: 20 set. 2018.] 
É importante lembrar que,
Segundo a redação dada pela Lein.3.133/57 mediante a adoção somente o pátrio poder era transferido, no entanto, os demais direitos e deveres em relação à família natural não se extinguiam, e em relação à sucessão, os direitos do filho adotivo resumiam-se somente à metade do quinhão a que tinham direito os filhos biológicos (FURTADO, 2016, p. 17).
Além disso, a adoção era ato passível de revogação, como se infere dos artigos 373 e 374:
“Art.373. O adotado, quando menor,ou interdito, poderá desligar-se da adoção no nano imediato ao em que cessar a interdição, ou a menoridade. 
Art. 374. Também se dissolve o vínculo da adoção: 
I. Quando as duas partes convierem.
II. Quando o adotado cometer ingratidão contra o adotante (CÓDIGO CIVIL DE 1916).
Em junho de 1965 entra em vigor a Lei de número 4.655[footnoteRef:7] e também traz importante mudanças na doutrina do instituto da adoção. Com essa Lei, passou a ser possível o cancelamento do primeiro registro de nascimento do adotado, para que este fosse substituído por outro, com o nome dos pais adotivos. A chamada legitimação adotiva. [7: Disponível na íntegra em: http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1960-1969/lei-4655-2-junho-1965-377680-publicacaooriginal-45829-pl.html.] 
Mais tarde, com o advento do chamado Código de Menores, a Lei nº 6.697 de 10 de outro de 1979, a adoção passou a ter duas característica: Adoção simples e adoção plena (SANTOS, 2011).
A adoção simples era aplicável aos menores de dezoito anos, em situação irregular, sendo realizada por escritura pública e de acordo com os requisitos trazidos pelo Código Civil. Já a adoção plena se aplicava aos menores de sete anos, através de um procedimento judicial, tendo essa um caráter assistencial (FURTADO, 2016, p. 19).
O Código de Menores trouxe, pela primeira vez, a preocupação em proteger prioritariamente os interesses das crianças e dos adolescentes antes da proteção dos interesses dos adotantes.
Com a Constituição Federal de 1988, que representou um marco na garantia dos direitos fundamentais e na proteção da dignidade da pessoa humana (FONTOURA, 2011), a adoção ganhou novas definições, juntamente com as redefinições do Direito de Família[footnoteRef:8]. [8: RODRIGUES, Sílvio. Direito Civil: direito de Família. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 1991. v. 6.] 
A grande modificação inserida pela Constituição de 88 veio no §6º do artigo 227, segundo o qual § 6º “os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação” (BRASIL, 1988).
No início dos anos 90, os ideais trazidos pela CF/88 corroboraram na criação da Lei nº 8.069, o Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, 1990), que trouxe novas alterações à sistemática da adoção, com o objetivo de proteger ainda mais e de forma mais abrangente os interesses e os direitos da criança e do adolescente. Como será visto no capítulo 3 desse estudo.
Depois, com o Código Civil de 2002 a adoção por meio de escritura pública foi extinta, passando a existir um único regime jurídico para a adoção, o judicial. 
Por último, a Lei nº 12.010, conhecida como a Lei Nacional da Adoção de 3 de agosto de 2009 foi promulgada e passou a balizar a doutrina e os entendimentos jurídicos para adoção no país e adoção internacional. 
3 A REGULAMENTAÇÃO PELO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE – ECA
No Brasil, em 1979, no Código de Menores, houve a criação de duas espécies de adoção, a simples e a plena[footnoteRef:9]. A adoção simples aplicava-se a criança ou adolescente menor de dezoito anos em situação irregular, e, nesses casos, o adotado não perdia o vínculo com a família biológica. A adoção plena era um expediente usado, em regra, para crianças com até sete anos de idade e, tal como na adoção simples, que se encontrasse em situação irregular, ocorrendo a perda do vínculo com a família natural. [9: Código de Menores: Art. 28. A adoção simples dependerá de autorização judicial, devendo o interessado indicar, no requerimento, os apelidos de família que usará o adotado, os quais, se deferido o pedido, constarão do alvará e da escritura, para averbação no registro de nascimento do menor. (BRASIL, 1979).] 
A esse respeito, Lopes (2015, p. 20) destaca que a adoção plena “poderia ser utilizada para crianças maiores de sete anos ou adolescentes nos casos em que se encontrassem sob a guarda dos adotantes”, isso em casos excepcionais. A sentença da adoção plena tinha efeito constitutivo e cancelava o registro original da criança ou adolescente, sendo um ato irrevogável[footnoteRef:10]. [10: Art. 31. A adoção plena será deferida após período mínimo de um ano de estágio de convivência do menor com os requerentes, computando-se, para esse efeito, qualquer período de tempo, desde que a guarda se tenha iniciado antes de o menor completar sete anos e comprovada a conveniência da medida (BRASIL, 1979). ] 
Mais tarde, com a aprovação do novo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em 1990, revogou-se toda a legislação anterior sobre o assunto e a adoção internacional tornou-se uma questão maior. Além das exigências de que, doravante, todas as adoções fossem plenas, sancionadas por um Juizado de Infância e Juventude, vários elementos da nova lei pareciam implícita ou explicitamente destinados a regular a adoção por adotantes de outros países (FONSECA, 2006). Sobre o ECA, Nathalia Vilela afirma:
O Estatuto da Criança e do Adolescente é diploma legal com ideais bem avançados e trata da adoção como a forma de resolver o problema social do abandono e dos casos de destituição do poder familiar. As regras estabelecidas para adoção respeitam os princípios constitucionais da família, da dignidade da pessoa humana e do melhor interesse da criança e do adolescente (VILELA, 2016, p. 8). 
O Eca aperfeiçoou o tratamento dado à adoção no Brasil, e trouxe novas diretrizes ao Juiz da Infância e Juventude e o Código Civil brasileiro fixou normas para a adoção em favor de maiores de dezoito anos.
Sobre essas novas regras, o ECA (BRASIL, 1990) define adoção, na Subseção IV, Art. 39:
Da adoção: § 1o A adoção é medida excepcional e irrevogável, à qual se deve recorrer apenas quando esgotados os recursos de manutenção da criança ou adolescente na família natural ou extensa, na forma do parágrafo único do art. 25 desta Lei. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência.
O ECA estabelece que a idade mínima para adotar é de vinte e um anos, todavia com a entrada em vigor do Código Civil atual, a idade mínima para adotar passou para 18 anos, conforme previsão do seu artigo 1.618. Expõe também que se a adoção for realizada por casal, basta um deles ter a idade mínima para adotar. Também, a adoção por estrangeiros será considerada uma medida excepcional (artigo 31)[footnoteRef:11]. [11: Art. 31. A colocação em família substituta estrangeira constitui medida excepcional, somente admissível na modalidade de adoção (BRASIL, 1990).
 Art. 32. Ao assumir a guarda ou a tutela, o responsável prestará compromisso de bem e fielmente desempenhar o encargo, mediante termo nos autos (BRASIL, 1990).
] 
De acordo com o ECA de 1990, o art. 39[footnoteRef:12] veda totalmente a adoção por procuração, ou seja, o artigo proíbe que, um advogado, por exemplo, possa assumir a guarda de uma criança e enviá-la de avião para outro país, a fins de adoção à uma família estrangeira. O artigo 39 transmite a mensagem implícita de que a prioridade da adoção deve ser dada aos adotantes brasileiros. [12: ] 
O ECA também determina que os adotantes passem um período probatório com a criança, recomendada para todas as adoções, pode ser dispensada se os pais adotivos forem brasileiros. Já os adotantes estrangeiros devem se submeter ao período probatório junto ao adotado e no próprio país, no caso, precisam ficar no Brasil. Essa obrigatoriedade, conforme o artigo 46, § 2, é de mínimo 15 dias quando as crianças têm menos de 2 anos de idade e 30 dias se elas têm mais de 2 anos (BRASIL, 1990).
Ainda, o artigo 51 do ECA, determina que o adotado não pode sair do país antes de os procedimentos legais da adoção estarem devidamente concluídos. É importante ressaltar que, até cidadãos brasileiros que moram fora do país, se quiserem adotar uma criança no Brasil, terão que passar pelo processo da adoção internacional. “Porém, de acordo com o § 2º do mesmo artigo, terão preferência sobre os estrangeiros” (LEITE, 2016, p. 4).
Sobre os artigos 51 e 52 do ECA, Fonseca (2006, p. 12)acrescenta:
A candidatura de pais estrangeiros deve ser examinada por uma comissão estadual judiciária de adoção que exigirá documentação completa (devidamente traduzida), além da aprovação (mediante, entre outras, avaliações psicossociais) dos candidatos por uma agência especializada e credenciada no seu próprio país.
Com o Estatuto da Criança e Adolescente ocorreram mudanças quanto ao atendimento de crianças e do adolescente, sobretudo em virtude desta categoria ter alcançado à condição de sujeito de direitos. Nota-se grandes melhorias no instituto da adoção, pois o ECA, conseguiu eliminar as diferenças fazendo com que filhos naturais (biológicos) e filhos adotivos tenham os mesmos direitos e deveres. As adoções deixaram de ser divididas entre simples e plena, e as normas para a adoção internacional se tornaram mais rígidas.
Com o ECA, algumas características colocadas foram determinantes para que configure a adoção:
- Ato personalíssimo: A adoção é um ato que depende somente da pessoa, é direito exclusivo dela, não podendo ser exercido por outra pessoa, disposta no Art. 45: 
Art. 45. A adoção depende do consentimento dos pais ou do representante legal do adotando. 
§1°. O consentimento será dispensado em relação à criança ou adolescente cujos pais sejam desconhecidos ou tenham sido destituídos do poder familiar. 
§2°. Em se tratando de adolescente maior de doze anos de idade, será também necessário o seu consentimento (BRASIL, 1990).
- Excepcional e irrevogável: As adoções são processos excepcionais, pois a criança ou adolescente só deve ser posta em adoção quando extenuadas todas as medidas de convivência em sua família biológica. É irrevogável, porquanto transitado em julgado, o processo de adoção, inclusive com a alteração do nome da criança no registro civil, esta passa a ser considerada filha dos adotantes, sem opção de revogação deste novo vínculo de paternidade e filiação. Art. 39:
Art. 39. A adoção de criança e de adolescente reger-se-á segundo o disposto nesta Lei.
§1°. A adoção é medida excepcional e irrevogável, à qual se deve recorrer apenas quando esgotados os recursos de manutenção da criança ou adolescente na família natural ou extensa, na forma do parágrafo único do art. 25 desta Lei.
§2°. É vedada a adoção por procuração (BRASIL, 1990).
Na compreensão de Cobalchini (2017, p. 15) a “criança ou adolescente que foram adotados criam laços com os adotantes”, portanto, estes não devem ser rompidos por simples motivo, sob pena de causarem traumas irreversíveis no adotado.
A adoção regida pelo Estatuto da Criança e do Adolescente é irrevogável (art. 48); de modo que o vínculo constituído entre os requerentes e a criança adotada torna-se definitivo.
A irrevogabilidade da adoção é instituto de caráter protetivo, criado em favor dos infantes adotados; de modo a exigir maior reflexão e cautela dos adotantes (antes e durante o curso do processo). Esta característica da sentença constitutiva da adoção justifica a realização do prévio cadastro de pessoas interessadas em adotar, estágio de convivência, acompanhamento por equipe interdisciplinar [...]. Da mesma forma que não se desfaz uma filiação legítima, por acordo de vontades, é inadmissível também, em face da igualdade constitucional entre os filhos, a dissolução dos vínculos de filiação adotiva. Não cabe aos adotantes, após promoverem pedido em juízo (e assumirem compromissos com o Poder Judiciário, Ministério Público e, principalmente, com a criança adotada) o direito de desistir da adoção já concretizada. A criança que se encontrava abrigada em uma instituição, alheia ao poder familiar, cria expectativas sobre a nova família, e uma eventual devolução pode causar traumas irreversíveis à criança. (HONORATO; LENTCH, 2007).
É importante lembrar o parágrafo segundo do art. 39, onde veda a adoção por procuração. Faz-se esta vedação com a finalidade de melhor avaliar quem serão os adotantes: 
No parágrafo único do artigo 39, a lei veda a adoção por procuração, devendo os adotantes comparecerem pessoalmente à Vara da Infância e Juventude, mesmo que tenham constituído advogado. Tal exigência possibilita o contato direto do Juiz de Direito, do Promotor de Justiça e dos técnicos do Serviço Auxiliar da Infância e Juventude com os adotantes, para melhor análise do caso e evitar a intermediação e o comércio de crianças e adolescentes (COBALCHINI, 2017, p. 17).
- Imprescritível: Não prescreve, mesmo depois da morte dos adotantes. No ECA, essa característica encontra previsão legal no art. 49: “A morte dos adotantes não restabelece o poder familiar dos pais naturais” (BRASIL, 1990).
- Requisitos subjetivos e objetivos: São avaliados os subjetivos, como idoneidade dos que querem adotar, motivos legítimos para a adoção e reais vantagens para a pessoa que se quer adotar; Os requisitos objetivos avaliam como idade e parentesco dos atores envolvidos, consentimento ou destituição do poder familiar dos pais biológicos e o aceitação da pessoa que se quer adotar, ainda o estágio de convivência e prévio cadastramento[footnoteRef:13] (VILELA, 2016). Arts. 29 e 43: [13: Art. 50. A autoridade judiciária manterá, em cada comarca ou foro regional, um registro de crianças e adolescentes em condições a serem adotados e outro de pessoas interessadas na adoção (BRASIL, 1990).] 
Artigo 29. Não se deferirá colocação em família substituta a pessoa que revele, por qualquer modo, incompatibilidade com a natureza da medida ou não ofereça ambiente familiar adequado [...]. Artigo 43. A adoção será deferida quando apresentar reais vantagens para o adotando e fundar-se em motivos legítimos (BRASIL, 1990).
Sobre esses objetivos, nos artigos 29 e 43, melhor explanação se lê em Cobalchini (2017, p. 19): 
Antigamente, a adoção visava atender os interesses dos adotantes. Hoje, a adoção só é deferida quando trouxer reais vantagens para o adotado. Caso a adoção não retire o menor de uma situação ruim para colocá-lo em uma melhor, não deve ser concretizada a adoção.
A análise desses objetivos vem de encontro ao “princípio do melhor interesse da criança”[footnoteRef:14], o que confere respeito ao adotado, descrito no ECA: [14: O princípio do melhor interesse da criança teve sua origem na Inglaterra, no século XIV, quando foi criado o instituto do parens patriae, que era utilizado como prerrogativa do Rei e da Coroa a fim de proteger os incapazes (PEREIRA, 1999 apud COBALCHINI, 2017, p. 33).] 
Art. 5°. Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais (BRASIL, 1990).
A intervenção do Ministério Público: Confere maior credibilidade ao ato e ainda assegura o bom andamento do feito e a legalidade dos procedimentos.
Artigo 201. Compete ao Ministério Público:
[...] III – promover e acompanhar as ações de alimentos e os procedimentos de suspensão e destituição do poder familiar, nomeação e remoção de tutores, curadores e guardiães, bem como oficiar em todos os demais procedimentos da competência da Justiça da Infância e da Juventude. [...] (BRASIL, 1990).
Essa intervenção é necessária desde o início de alguns dos processos de adoção. Em especial nas ações que envolvam poder familiar, guarda e adoção, pois essas ações levam a uma convivência entre a criança ou adolescente e sua família substituta, sendo que esta gera vínculos afetivos entre as partes.
Outra mudança importante feita pelo ECA, diz respeito a licença maternidade. A nova lei unificou os prazos de licença-maternidade para a adoção, pois revogou os §§ 1º, 2º e 3º do artigo 392-A da CLT, que tratavam do período de licença-maternidade para as mães adotivas.
Nesse sentido, a lei coloca fim à tabela progressiva de períodos da licença-maternidade, que estipulava os seguintes prazos: 30 dias de licença para crianças de 4 a 8 anos de idade; 60 dias de licença para crianças de 1 a 4 anos de idade; 120 dias de licença para crianças de até 1ano de idade. Depois da revogação, para qualquer caso de adoção, ou guarda judicial para fins de adoção, o período de licença-maternidade, o qual a mãe adotante tem direito, passa a ser de 120 dias, independentemente da idade da criança. Facultada a opção pela licença de 180 dias aprovada pela Lei 11.770 de 2008[footnoteRef:15] (ALDROVANDI; BRAUNER, 2010). [15: Lei da Licença Maternidade: Disponível em: https://presrepublica.jusbrasil.com.br/legislacao/93197/lei-da-licenca-martenidade-lei-11770-08.] 
Essas foram as principais mudanças trazidas pelo ECA ao Instituto da Adoção.
Em 3 de agosto de 2009 foi promulgada a Lei nº 12.010, que trouxe modificações significativas na doutrina da adoção, mas respeitando o diploma constitucional, por sua importância, passou a ser considerada “Lei Nacional da Adoção”. A Lei foi motivada pela necessidade de incorporação e adequação das diretrizes previstas na Convenção de Haia, ratificada pelo Brasil em 1999, ao Estatuto da Criança e do Adolescente, com a finalidade de conferir harmonia aos dois instrumentos (LEITE, 2016).
Para além do ECA, muitas Leis foram promulgadas e ou modificadas, com vistas o aperfeiçoamento do Instituto da adoção e da regras para a adoção internacional. Essa evolução será descrita no próximo capítulo.
3.2 EVOLUÇÃO DAS LEIS DE ADOÇÃO INTERNACIONAL NO BRASIL
No Brasil, para que a criança ou adolescente seja adotada por adotantes estrangeiros é necessário que se esgote todas as possibilidades de adoção em nosso país. É importante lembrar que ainda, 
A adoção será assistida pelo Poder Público, na forma da lei, que estabelecerá casos e condições de sua efetivação por parte de estrangeiros (LEITE, 2016, p. 3)
A adoção internacional aparece como prática regular, após a Segunda Guerra Mundial, “em face da existência de multidões de crianças órfãs, sem qualquer possibilidade de acolhimento em suas próprias famílias” (SILVA, 2010, p. 12).
Crianças da Alemanha, Itália, Grécia, do Japão, da China e de outros países foram adotadas por casais norte-americanos e europeus. Segundo o Serviço Internacional de Adoção, milhares de crianças foram encaminhadas para o exterior sem que tivessem os documentos indispensáveis à regularização de sua cidadania. Das crianças adotadas na Itália, entre 1985 e 1990, quase 80% eram provenientes da América Latina. Já na França, das 5.348 crianças adotadas, entre 1990 e 1992, 21% eram brasileiras (SILVA, 2010, p. 12-13).
A falta de controle, os abusos verificados, quando da retirada da criança de seu país e, especialmente a venda e o tráfico internacional de pessoas, para fins desde escravidão, prostituição e até amputação de órgãos, fez nascer à necessidade de serem estabelecidas normas eficazes de garantia das adoções e de proteção à crianças e adolescentes. Nas palavras de Leite (2006, p. 3):
Para que a criança ou adolescente seja adotada é necessário que se esgote todas as possibilidades de adoção no Brasil. A Adoção Internacional ao longo dos anos foi uma instituição mal vista, por muito tempo à ligaram ao “crime” pois considerava – se uma porta aberta para tráfico de crianças, órgãos e prostituição. A muita discussão sobre esse instituto, pelo fato de que, importar, tirar crianças e adolescente de seu solo poderá se constituir um processo bem doloroso, pois para o sujeito adotado indica: renascer, viver em outra cultura, outra família, outros costumes.
Na América Latina, as mudanças legislativas tiveram início no final da década de 1980, buscando atender aos princípios da Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança, adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 20.11.89 (SILVA, 2010; ZAMBONI; COSTA, 2016). Mais tarde, a Convenção de Haia sobre Proteção de Crianças e Cooperação em Matéria de Adoção Internacional de 29 de maio de 1993, tiveram o escopo de normatizar esse instituto.
Depois das modificações feitas pelo texto constitucional, a aprovação do ECA (1990) e com influência de tratados internacionais houve uma melhor compreensão sobre o instituto da adoção. O Brasil seguiu os tratados internacionais sobre a adoção e suas Leis evoluíram, conforme será visto a seguir.
3.3 A ADOÇÃO INTERNACIONAL E OS ASPECTOS NORMATIVOS
A Adoção Internacional, ou adoção transnacional é o processo adotivo que acontece quando os adotantes são domiciliados em um país e o adotado domiciliado em outro (SILVA, 2010). Conforme o ECA, considera-se “adoção internacional aquela na qual a pessoa ou casal postulante é residente ou domiciliado fora do Brasil” (Art. 51)[footnoteRef:16]. A adoção internacional é permitida pela CF/88 no seu artigo 227, § 5º[footnoteRef:17], e depois ampliada e normatizada pelo ECA. [16: ECA – Lei nº 8.069 de 13 de julho de 1990. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8069.htm.> Acesso em: 20 ago. 2018.] [17: BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 – Presidência da República. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm.> Acesso em 15 ago. 2018.] 
Em nosso país, Em conformidade com o art. 7º da Lei de Introdução ao Código Civil, definiu-se que na adoção Internacional que a norma a ser seguida no processo é o da lei da nacionalidade ou a do domicílio (VILELA, 2016).
Permite-se a Adoção internacional como excepcionalidade (Preâmbulo e art. 1 da Convenção de Haia) a Convenção traz como importantes princípios e objetivos a proteção da criança e de seu melhor interesse (LEITE, 2016, p. 5).
Além do que já era determinado no Código Civil e na CF/88, o Estatuto da Criança e do Adolescente aumentou o controle do Estado sob o procedimento da adoção, assim, “demonstrando atenção cuidadosa com a criança e ao adolescente, atenção que está em consonância com a Convenção de Haia” (LOPES, 2015, p. 23). Hoje existe uma preocupação maior quanto à segurança jurídica para essa modalidade de adoção.
A Convenção de Haia estipula diversos requisitos de cooperação entre os Estados, o seu art. 1º trata objetivamente que:
Artigo 1. A presente Convenção tem por objetivo:
a) Estabelecer garantias para que as adoções internacionais sejam feitas segundo o interesse superior da criança e com respeito aos direitos fundamentais que lhe reconhece o direito internacional; b) Instaurar um sistema de cooperação entre os Estados Contratantes que assegure o respeito às mencionadas garantiras e, em consequência, previna o sequestro, a venda ou o tráfico de crianças; Assegurar o reconhecimento nos Estados Contratantes das adoções realizadas segundo a convenção (BRASIL, 1999).
Esse mecanismo, acordado na Convenção de Haia, se justifica pela necessidade dos Estados signatários mantenham uma uniformidade legal nas doutrinas que tratam da adoção internacional. 
3.3.1 Requisitos e procedimentos para Adoção Internacional
Os procedimentos concentram-se principalmente nos prazos, tradução, espécies de documentos, relatórios e outros que possibilitam a transparência do processo de adoção. A adoção internacional da criança ou adolescente brasileiro ou domiciliado no Brasil somente será consumado quando restar comprovado:
Art. 51 - § 1º do ECA: I - Que a colocação em família substituta é a solução adequada ao caso concreto; II - que foram esgotadas todas as possibilidades de colocação da criança ou adolescente em família substituta brasileira, após consulta aos cadastros; III - que, em se tratando de adoção de adolescente, este foi consultado, por meios adequados ao seu estágio de desenvolvimento, e que se encontra preparado para a medida, mediante parecer elaborado por equipe interprofissional. § 2º - Os brasileiros residentes no exterior terão preferência aos estrangeiros, nos casos de adoção internacional de criança ou adolescente brasileiro (Mapa Jurídico, 2018).
Ainda, quanto a adoção internacional pressupõe a intervenção das Autoridades Centrais Estaduais e Federal em matéria de adoção internacional.
A este propósito, sobre o adotante internacional, além do requisito da extraterritorialidade, o caput doart. 42 do Estatuto da Criança e do Adolescente, prevê que poderão postular, no tramite internacional, os adotantes maiores de 18 anos, independente do estado civil. 
As certidões de registro não poderão conter nenhuma observação sobre a adoção, conforme texto original do ECA art. 47:
Art. 47. O vínculo da adoção constitui-se por sentença judicial, que será inscrita no registro civil mediante mandado do qual não se fornecerá certidão.
§ 1º A inscrição consignará o nome dos adotantes como pais, bem como o nome de seus ascendentes.
§ 2º O mandado judicial, que será arquivado, cancelará o registro original do adotado.
§ 3º A pedido do adotante, o novo registro poderá ser lavrado no Cartório do Registro Civil do Município de sua residência. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência.
§ 4º Nenhuma observação sobre a origem do ato poderá constar nas certidões do registro. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência.
§ 5º A sentença conferirá ao adotado o nome do adotante e, a pedido de qualquer deles, poderá determinar a modificação do prenome. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência (BRASIL, 1990).
Acompanha o mesmo dispositivo, em seu § 3º, elencando também como requisito indispensável da adoção internacional, o imperativo de que, o adotante deve ter no mínimo 16 anos de diferença de idade do adotando. Os pressupostos estabelecidos tratam-se de requisitos objetivos que devem ser observados, antes de se dar início ao processo (MANFREDINI, 2014).
Observado os requisitos legais de admissibilidade do adotante, segue-se ao procedimento legal. No que tange ao processo exigido por lei, esse se inicia com a fase preparatória. Assim, aqueles que desejam participar de uma adoção internacional, devem habilitar-se junto à Autoridade Central em matéria de adoção internacional em seu país de origem, conforme prevê a Convenção de Haia. 
Convenção de Haia de 1993[footnoteRef:18]: [18: Convenção relativa à proteção das crianças e à cooperação em matéria de adoção internacional.] 
Art.6º. [...] 
2. Um Estado federal, um Estado no qual vigoram diversos sistemas jurídicos ou um Estado com unidades territoriais autônomas poderá designar mais de uma Autoridade Central e especificar o âmbito territorial ou pessoal de suas funções. O Estado que fizer uso dessa faculdade designará a Autoridade Central à qual poderá ser dirigida toda a comunicação para sua transmissão à Autoridade Central competente dentro desse Estado. (FURTADO, 2016, p. 45).
No Brasil, a Autoridade Central Administrativa Federal (ACAF), é responsável pela fiscalização dos organismos nacionais e internacionais incumbidos de intermediar os pedidos de habilitação e adoção internacional.
Conforme esclarece Furtado (2016, p. 43) o requerimento à habilitação dever ser acompanhado dos seguintes documentos:
a) certidão de casamento ou certidão de nascimento; b) passaporte; c) atestado de sanidade física e mental expedido pelo órgão ou vigilância de saúde do país de origem; d) comprovação de esterilidade ou infertilidade de 46 um dos cônjuges, se for o caso; e) atestado de antecedentes criminais; f) estudo psicossocial elaborado por agência especializada e credenciada no país de origem; g) comprovante de habilitação para adoção de criança estrangeira, expedido pela autoridade competente do seu domicílio; h) fotografia do requerente e do lugar onde habita; i) declaração de rendimentos; j) declaração de que concorda com os termos da adoção e de que o seu processamento é gratuito; l) a legislação sobre a adoção do país de origem acompanhada de declaração consular de sua vigência; m) declaração quanto à expectativa do interessado em relação às características e faixa etária da criança.
Estes documentos se fazem essenciais para que um estrangeiro não domiciliado ou residente no Brasil possa requerer a adoção de uma criança ou adolescente brasileiro. Os documentos de língua estrangeira devem ser juntados aos autos, autenticados pela autoridade consular, traduzidos por “tradutor juramentado público e devem ser observados também, os tratados e convenções internacionais” (FURTADO, 2016, p. 44).
Se a Autoridade Central do país de acolhida considerar que os solicitantes estão habilitados e aptos para adotar, emitirá um relatório que contenha informações sobre a identidade, a capacidade jurídica e adequação dos solicitantes para adotar, sua situação pessoal, familiar e médica, seu meio social, os motivos que os animam e sua aptidão para assumir uma adoção internacional.
3.4 AS COMISSÕES JUDICIÁRIAS DE ADOÇÃO INTERNACIONAL (CEJAI)
As Comissões Estaduais Judiciárias de Adoção Internacional (CEJA ou CEJAI) são mecanismos previstos no ECA para garantir a rápida e uniforme implementação da lei de adoção internacional e, principalmente, atuam na aproximação dos pretendentes estrangeiros com os possíveis adotados (SOUSA, 2011). 
Art.52. A adoção internacional poderá ser condicionada a estudo prévio e análise de uma comissão estadual judiciária de adoção, que fornecerá o respectivo laudo de habilitação para instruir o processo competente. 
Parágrafo único. Competirá à Comissão manter registro centralizado de interessados estrangeiros em adoção (BRASIL, 1990).
Essa Comissão, tida como a Autoridade Central Estadual de Adoção Internacional[footnoteRef:19] é responsável por regular a fase de habilitação, ou seja, cabe a essa autoridade disciplinar, dentro do território do estado, o procedimento a ser adotado para recepção, processamento e decisão de habilitação de adotantes. A entrada das CEJAI’s foi uma modificação de cunho significativo na legislação brasileira, oriunda da preocupação existente com possíveis desvios de finalidade das adoções internacionais. [19: “As Autoridades Centrais são órgãos sem fins lucrativos, credenciadas pelo Estado onde foram constituídas”. CAVALCANTI, Camila Xavier de Oliveira. A adoção internacional no Brasil: as inovações trazidas pela Resolução do CNJ nº 190/2014. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XX, n. 161, jun. 2017. Disponível em: http://www.ambito- juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_caderno=14.] 
Essas comissões, compostas por cidadãos proeminentes na comunidade e membros do Poder Judiciário, foram aparecendo aos poucos ao longo da década de 1990 e agilizaram os processos de adoção. Eram formadas nos estados e Distrito federal. “Em 16 de setembro de 1999 foi editado o decreto de número 3.174, que findou as dúvidas sobre a obrigatoriedade do funcionamento das CEJAI’s” (FURTADO, 2016, p. 51). 
A Comissão é um órgão de existência obrigatória que deve ser vinculado ao Poder Judiciário Estadual, devendo desenvolver suas atividades em cada Estado; sua atuação é imprescindível para o devido processo legal de adoção.[footnoteRef:20] O papel dessas Comissões é de extrema importância na preparação dos candidatos estrangeiros à adoção, oferecendo ao magistrado a segurança, a certeza da intenção do adotante com relação à criança, garantindo e assegurando também ao estrangeiro que tem interesse de ver sua adoção prosseguir nem complicações e de forma legal. Elas agilizam os procedimentos, bem como conferem maior seriedade e idoneidade aos processos de adoção. [20: As Comissões Estaduais Judiciárias de Adoção, previstas no art. 52 da Lei nº 8.069/90, ou os órgãos análogos com distinta nomenclatura, aos quais compete exercer as atribuições operacionais e procedimentos que não se incluam naquelas de natureza administrativa, a cargo da Autoridade Central Federal, respeitadas as determinações das respectivas leis de organização judiciária e normas locais que a instituíram. Parágrafo único. As competências das Autoridades Centrais dos Estados federados e do Distrito Federal serão exercidas pela Autoridade Central Federal, quando no respectivo ente federado inexistir Comissão Estadual Judiciária de Adoção ou órgão com atribuições análogas. (Art. 4 do Decreto nº 3.174 de 1999).] 
 Sobre a significativa melhora na celeridade dos processos de Adoção Internacional, Fonseca (2006) leciona que:
NoEstado de Minas Gerais, por exemplo, bem como no Estado de Pernambuco, as comissões foram criadas com relativa rapidez (1992 e 1993, respectivamente), produzindo quedas igualmente rápidas no número de crianças locais entregues em adoção internacional (FONSECA, 2006, p. 53).
Além do acompanhamento do processo de adoção, toda a documentação exigida nos procedimentos de habilitação dos candidatos a doção, são recebidos, conferidos e emitidos por essas Comissões. Entre as funções desempenhadas por estas Autoridades Centrais, o artigo 9º da Convenção de Haia de 1993, lista:
Art. 9. As Autoridades Centrais tomarão todas as medidas apropriadas, seja diretamente ou com a cooperação de autoridades públicas ou outros organismos devidamente credenciados em seu Estado, em especial para a) reunir, conservar e permutar informações relativas à situação da criança e dos futuros pais adotivos, na medida necessária à realização da adoção; b) facilitar, acompanhar e acelerar o procedimento de adoção; c) promover o desenvolvimento de serviços de orientação em matéria de adoção e de acompanhamento das adoções em seus respectivos Estados; d) permutar relatórios gerais de avaliação sobre as experiências em matéria de adoção internacional; e) responder, nos limites da lei do seu Estado, às solicitações justificadas de informações a respeito de uma situação particular de adoção formuladas por outras Autoridades Centrais ou por autoridades públicas (MAPA JURÍDICO, 2018).
A CEJAI é um órgão auxiliar do juiz, atua como órgão consultivo que é composto por desembargadores, juízes de direito, promotores e procuradores de justiça, assistente social, psicólogo, pedagogos, sociólogo e outros membros. São as comissões que expedem o certificado de Habilitação do adotante. A partir disso, será expedido um laudo de habilitação à adoção internacional, que terá validade de um ano, podendo haver renovação. Com o laudo de habilitação em mãos, o adotante ou o casal postulante, será autorizado a formalizar pedido de adoção perante o Juízo da Infância e da Juventude do local em que se encontra a criança ou adolescente, conforme indicação efetuada pela Autoridade Central Estadual.
3.4.1 Organismos credenciados
A Autoridade Central Federal pode ainda realizar credenciamento de organismos nacionais ou estrangeiros que demonstrem aptidão para intermediar[footnoteRef:21] as solicitações de processos de adoção internacional. Entretanto, isso acontece caso a legislação do país de acolhida também permita que os pedidos de habilitação sejam intermediados por estes organismos. Tal possibilidade está prevista tanto no Estatuto da Criança e do Adolescente, nos parágrafos do artigo 52 e 166, como na Convenção de Haia[footnoteRef:22] Relativa à Proteção das Crianças e à Cooperação em Matéria de Adoção Internacional, entre seus artigos 10 e 13 (FURTADO, 2016). [21: Preceitua o artigo 11°, da mencionada Convenção de Haia: Um organismo credenciado deverá perseguir unicamente fins não lucrativos, nas condições e dentro dos limites fixados pelas autoridades competentes do Estado que o tiver credenciado ser dirigido e administrado por pessoas qualificadas por sua integridade moral e por sua formação ou experiência para atuar na área de adoção internacional e estar submetido à supervisão das autoridades competentes do referido Estado, no que tange à sua composição, funcionamento e situação financeira (FONSECA, Claudia. Uma virada imprevista: o "fim" da adoção internacional no Brasil. DADOS – Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, Vol. 49, no 1, 2006, pp. 41 a 66. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0011-52582006000100003&script=sci_arttext).] [22: Convenção diz ainda, que um organismo credenciado em um Estado Contratante somente poderá atuar em outro Estado Contratante se tiver sido autorizado pelas autoridades competentes de ambos os Estados.] 
Conforme o Estatuto da Criança e do Adolescente, para que aconteça o credenciamento, há certos requisitos e qualidades que estes organismos devem apresentar:
Art.52. [...] § 3º Somente será admissível o credenciamento de organismos que: I - sejam oriundos de países que ratificaram a Convenção de Haia e estejam devidamente credenciados pela Autoridade Central do país onde estiverem sediados e no país de acolhida do adotando para atuar em adoção internacional no Brasil; II - satisfizerem as condições de integridade moral, competência profissional, experiência e responsabilidade exigidas pelos países respectivos e pela Autoridade Central Federal Brasileira; III - forem qualificados por seus padrões éticos e sua formação e experiência para atuar na área de adoção internacional; IV - cumprirem os requisitos exigidos pelo ordenamento jurídico brasileiro e pelas normas estabelecidas pela Autoridade Central Federal Brasileira (BRASIL, 1990)
Ainda, de acordo com o § 4º do mesmo dispositivo, outras exigências para com organismos credenciados são: 
§ 4º Os organismos credenciados deverão ainda: I - perseguir unicamente fins não lucrativos, nas condições e dentro dos limites fixados pelas autoridades competentes do país onde estiverem sediados, do país de acolhida e pela Autoridade Central Federal Brasileira;
II - ser dirigidos e administrados por pessoas qualificadas e de reconhecida idoneidade moral, com comprovada formação ou experiência para atuar na área de adoção internacional, cadastradas pelo Departamento de Polícia Federal e aprovadas pela Autoridade Central Federal Brasileira, mediante publicação de portaria do órgão federal competente; III - estar submetidos à supervisão das autoridades competentes do país onde estiverem sediados e no país de acolhida, inclusive quanto à sua composição, funcionamento e situação financeira;
IV - apresentar à Autoridade Central Federal Brasileira, a cada ano, relatório geral das atividades desenvolvidas, bem como relatório de acompanhamento das adoções internacionais efetuadas no período, cuja cópia será encaminhada ao Departamento de Polícia Federal; V - enviar relatório pós-adotivo semestral para a Autoridade Central Estadual, com cópia para a Autoridade Central Federal Brasileira, pelo período mínimo de 2 (dois) anos. O envio do relatório será mantido até a juntada de cópia autenticada do registro civil, estabelecendo a cidadania do país de acolhida para o adotado; VI - tomar as medidas necessárias para garantir que os adotantes encaminhem à Autoridade Central Federal Brasileira cópia da certidão de registro de nascimento estrangeira e do certificado de nacionalidade tão logo lhes sejam concedidos (BRASIL, 1999).
No Brasil, o órgão federal administrativo que possui a competência para realizar o credenciamento de organismos nacionais e internacionais, bem como efetuar o acompanhamento pós-adotivo e viabilizar a cooperação jurídica com as Autoridades Centrais Estrangeiras é a ACAF – Autoridade Central Administrativa Federal, que atua também como Secretaria Executiva para o Conselho das Autoridades Centrais Brasileiras. Caso estes organismos credenciados venham a descumprir as obrigações a eles delegadas, pode ocorrer sua suspensão ou até seu descredenciamento nos casos mais graves (CAVALCANTI, 2017). Ainda pode haver a cobrança de valores considerados abusivos pela Autoridade Central Federal e que não sejam devidamente comprovados e a suspensão de repasse de recursos provenientes de organismos estrangeiros encarregados de intermediar pedidos de adoção internacional a organismos nacionais ou a pessoas físicas.
4 ADOÇÃO INTERNACIONAL: JURISPRUDÊNCIAS
Nesse capítulo tratar-se-á de algumas decisões judiciais sobre as ações de Adoção Internacional. Será feito um recorte temporal as jurisprudências depois do ano de 2008, à luz do Estatuto da Criança e do Adolescente e da Lei de número 12.010 (lei Nacional de Adoção), pelas inovações que essas regulamentações trouxeram às decisões judiciais no âmbito da adoção no Brasil.
 1 – Apelação Cível – 2008
Essa decisão se refere a Recurso Apelatório, no caso de um menor que já residia fora do país e que teve o pedidode Adoção negado por não ter cumprido os ritos exigido para a Adoção Internacional: 
Tribunal de Justiça de Sergipe TJ-SE - APELAÇÃO CÍVEL: AC 2008204280 SE -Relator: Ministro RUY ROSADO DE AGUIAR
APELAÇÃO CIVEL - AÇÃO DE ADOÇÃO - PRESENÇA DA SITUAÇÃO DE RISCO DO MENOR - HOMOLOGAÇÃO POR SENTENÇA DE RENÚNCIA DO PODER FAMILIAR E GUARDA, POR PARTE DA MÃE BIOLÓGICA - ADOTANTE BRASILEIRA E SOLTEIRA - AUSENTES OS REQUISITOS DA ADOÇÃO INTERNACIONAL - ART. 51 DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE - ART. 1.629 DO CÓDIGO CIVIL - APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO INTEGRAL AO MENOR - SENTENÇA MANTIDA - RECURSO IMPROVIDO - DECISÃO UNÂNIME. - A adoção da espécie internacional é aquela em que está presente um adotante estrangeiro ou um casal estrangeiro.
(TJ-SE - AC: 2008204280 SE, Relator: DES. ROBERTO EUGENIO DA FONSECA PORTO, Data de Julgamento: 16/06/2008, 1ª.CÂMARA CÍVEL) (STJ< 2018).
Nesta Apelação Cível, o magistrado deferiu o pleito em favor da adotante, mesmo com dois votos contra que pediam a nulidade do pedido, dado que os ritos da Adoção Internacional, no caso em tela, a falta da habilitação requerida junto ao CEJAI, não constavam dos autos. O Magistrado entendeu que a requerente deveria ter mais um tempo para providenciar a documentação necessária, sem prejuízo do pedido de Adoção Internacional e com a preservação do criança, pelo menor desgaste possível. 
 2 – Ação Rescisória - 2011.
Do entendimento pelo Princípio do melhor interesse da criança e da Proteção absoluta:
 Ação Rescisória AR 354598 PE 0003815-31.1998.8.17.0000 (TJ-PE)
Jurisprudência - Data de publicação: 07/06/2011
Ementa: AÇÃO RESCISÓRIA. ADOÇÃO INTERNACIONAL. RESCISÃO DE SENTENÇA. IRREGULARIDADES NO TRÂMITE DO PROCESSO. SITUAÇÃO DE FATO CONSOLIDADA. PREVALÊNCIA DO INTERESSE DO MENOR EM DETRIMENTO DAS FORMALIDADES. PRINCÍPIO DO MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA E PROTEÇÃO ABSOLUTA. 1.Compulsando os autos da ação, verifica-se que o Órgão Ministerial objetiva rescindir sentença prolatada por juiz monocrático nos autos de processo de adoção internacional, que se deu sem a observância de formalidades elencadas pelo Estatuto da Criança e Adolescente. 2.Ocorre que, desde a data da interposição da ação em questão já se passaram 9 (nove) anos. E não se pode olvidar que, diante deste vasto lapso temporal, entre a criança e seus pais adotivos foram criados laços afetivos e psicológicos. 3.Diante da situação fática que se encontra sobejamente consolidada, retirar a criança do seio familiar em que vive com aqueles que reconhece como pais há 9 (nove) anos configuraria uma medida demasiadamente violenta, ensejadora de danos irreversíveis, que iria de encontro ao princípio do melhor interesse da criança, bem como da prioridade absoluta. 4.Em sendo assim, não se justifica decretar-se uma nulidade que se contrapõe ao interesse de quem teoricamente se pretende proteger (STJ, 2018).
Nesse decisão percebe-se o interesse do magistrado em proteger o adotando em detrimento de outras circunstâncias fáticas, presente no caso específico. 
3 – Sentença Contestada – 2014
 Nessa ação, os adotantes tiveram o pedido de adoção negado por não haver consentimento do pai biológico. Contestaram a sentença e obtiveram êxito na demanda que foi deferida em favor do requerente:
Superior Tribunal de Justiça STJ - SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA: SEC 8600 EX 2014/0096575-7.
SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA Nº 8.600 - CH (2014/0096575-7) RELATÓRIO O EXMO. SR. MINISTRO OG FERNANDES (Relator): M. D. W. requereu a homologação da sentença estrangeira de adoção, proferida pela Direção dos Negócios Interiores do Cantão de Zug, Suíça, a qual julgou procedente pedido de adoção do requerente, formulado por seu padastro, H. W., cidadão suíço, com quem sua mãe biológica brasileira contraiu matrimônio quando contava ele com apenas 2 anos de idade. Relata o requerente que, à época em que possuía 2 anos de idade, sua genitora se casou com o seu padrasto, passando a residir na Suíça. Informa que nunca teve contato com o pai biológico, pois foi abandonado. Informa que o órgão jurisdicional suíço dispensou a anuência do genitor, em razão de se encontrar em local incerto e não sabido. Sustenta que preenche todos os requisitos legais para dita homologação. Cumpridas as determinações da Presidência desta Corte Superior de Justiça (e-STJ, fls. 26, 38/56/65/69/82/92 e 97/102), determinou-se a citação por edital (e-STJ, fls. 140/141). O interessado não respondeu, razão pela qual se nomeou a Defensoria Pública da União como curador especial (e-STJ, fl. 142).
Antes dessa decisão, o pedido foi contestado (e-STJ, fls. 159/167) com os seguintes fundamentos:
(a) inexistência de comprovação da efetiva tentativa de localização do requerido para fins de citação no procedimento que tramitou na Suíça; (b) ausência de autorização do pai biológico para que o requerente viajasse a outro país; (c) a adoção se deu sem a sua anuência e nos casos de direitos indisponíveis a revelia não surte efeitos quanto à veracidade dos fatos alegados pelo autor; e (d) falta de estudo social e de laudo pertinente às condições do adotante, revelando que a decisão que se pretende homologar ofende a ordem pública, a soberania nacional e os bons costumes, pois não respeitou as exigências contidas para adoção internacional presentes no art. 52 do Estatuto da Criança e do Adolescente (STJ, 2018).
O Ministério Público, nas várias oportunidades em que se manifestou, requereu a juntada de documentos, entre os quais a sentença completa de adoção com autenticação consular, o que foi providenciado pelos requerentes.
Houve réplica (e-STJ, fls. 173/179). Autos distribuídos à Corte Especial (e-STJ,fl. 181). Ao se manifestar, o Ministério Público Federal opinou favoravelmente à homologação da sentença estrangeira (e-STJ, fls. 198/208). É o relatório (STJ, 2018).
Depois, o Exmo. Sr. Ministro Og Fernandes, relator, votou e deferiu o pedido de homologação. Como votou o Ministro:
[...] O trânsito em julgado se mostra comprovado, conforme "Atestado de Trânsito em Julgado" (e-STJ, fls. 54/55)
[...] No que diz respeito à alegação de ausência de citação do pai biológico, no processo de adoção instaurado sob jurisdição do mencionado Cantão suíço, é certo que a LINDB e Resolução 9/2005, desta Colenda Corte, exigem "terem sido as partes citadas ou haver-se legalmente verificado à revelia". Não obstante, não se pode formular exigências descabidas e inexequíveis, sob pena de se negar acesso à justiça nacional. Como muito bem ressaltado, no Parecer ministerial:
[...] diversos fatores justificam a apontada ausência, que, cautelosamente examinados, levam à conclusão de que o ato reclamado tornou-se inviável no caso concreto, por motivos que não podem e nem devem obstar a regularização da situação do adotando. Na peça exordial, o requerente esclareceu que aqui no Brasil ele e sua mãe “não tinham nenhum contato com o seu pai biológico e não sabiam onde o mesmo se encontrava, havendo uma situação de pleno abandono”, e que, estando, até os dias atuais, em lugar incerto e não sabido, “o órgão competente suíço abriu mão da anuência do pai” (fls. 3). Da sentença que se pretende homologar extrai-se que o “paradeiro do pai biológico, Lopez, David Gilberto, é atualmente incerto e desconhecido”, razão pela qual a Direção dos Negócios Interiores do Cantão de Zug, na Suíça, dispensou, no caso, a aquiescência do pai (fls. 20). Para fins de citação neste pleito de homologação, a Corte Superior determinou que o requerente apresentasse a qualificação de seu pai biológico necessária à citação (fls. 26). Ao dar cumprimento a aludido despacho, o requerente destacou que seus pais biológicos tiveram um “relacionamento passageiro”, sendo impossível “obter muitas informações a respeito de seu genitor”, pois, assim que nasceu, não houve mais contato entre eles, tendo se mudado logo em seguida para a Suíça com sua mãe e seu padastro, ora adotante. [...]Por isso, mais uma vez instado a tentar localizar seu pai biológico, relatou novamente que, diante de todo o contexto jáexplicitado, não dispunha de meios para tanto, acrescentando a justificativa que se transcreve (fls. 117): (…) uma vez que o Requerente não tinha notícias do paradeiro de seu genitor nem sequer na época que ainda era uma criança carente de cuidados e residia no Brasil, não é razoável que o mesmo conheça o paradeiro de seu genitor dezoito anos após a sua adoção e após vinte e cinco anos de abandono”. (STJ, 2018).
Cabe destacar mais uma parte do relatório proferido pelo Exmo. Sr Ministro, antes de finalizar o voto: 
A situação denota, ainda, outra peculiaridade, conforme informações prestadas pela genitora do requerente aos órgãos suíços, o requerido se mudou para país estrangeiro (Argentina) logo após o nascimento do postulante (e-STJ, fl. 174), o que deve ser considerado como um fator de maior dificuldade para sua localização. Ademais, a exigência da citação no processo de origem, diante de todo o contexto fático apresentado, mostra-se como mera formalidade, tendo em vista a situação de abandono pelo pai biológico e acolhimento pelo padrasto, com convivência afetiva e familiar por mais de 20 anos [...]Com essas considerações, atendidas as exigências formais objetivas e subjetivas do ordenamento pátrio, defiro o pedido de homologação. Custas ex lege. É como voto. (STJ, 2018).
Mais uma vez salienta-se o Princípio do melhor interesse da Criança e do Adolescente, norteando as decisões dos magistrados. Sobre o tema, Paulo Lúcio Nogueira, ensina 
Em resumo, o que deve sobrelevar é a proteção aos interesses do menor sobre qualquer outro bem ou interesse juridicamente tutelado, devendo ele ser ouvido sempre sobre sua situação ou seu próprio destino, quando estiver em condições de ser ouvido, não se compreendendo qualquer decisão que seja tomada contrariamente aos seus interesses (NOGUEIRA, 1996, p. 13).
Como bem elucidam as jurisprudências supracitadas, o princípio do melhor interesse da criança e do adolescente e a doutrina da proteção integral, duas regras basilares do Direito da Infância e da Juventude, permeiam todo o tipo de interpretação jurisprudencial por parte dos magistrados brasileiros. Não só nos casos que envolvem ações de adoção de crianças e adolescentes no Brasil, mas principal e necessariamente, a Adoção Internacional, que é quando os infantes vão viver longe da pátria mãe.
4.1 A ADOÇÃO INTERNACIONAL NA PRÁTICA
Após restar elucidado como a legislação regulamentou o Instituto da Adoção e da Adoção Internacional, importa descrever como se dá todo esse entendimento e procedimentos, na prática.
O processo da adoção internacional é divido por fases, a fase preparatória ou de habilitação e a fase judicial. Como visto nos capítulos anteriores, vários diplomas declamaram acerca da adoção no Brasil, que hoje é regido pelo Estatuto da Criança e do Adolescente e pela Lei 12.010/09 – Lei Nacional de Adoção. Mesmo estando amplamente normatizada, resta evidente que o número de crianças e adolescentes à espera de adoção ainda continua alto. Segundo informações do Cadastro Nacional de Adoção CNA[footnoteRef:23], existem cerca de 4.926 crianças e adolescentes disponíveis à adoção, dentre as quais grande maioria é parda (2.484 disponíveis para adoção), possuem irmãos e encontram-se no sudeste do Brasil (CNJ, 2018). [23: Cadastro Nacional de Adoção - Disponível em: http://www.cnj.jus.br/cnanovo/pages/publico/index.jsf.] 
O relatório de pretendes estrangeiros mostra um número muito baixo, apenas 247 possíveis adotantes estão cadastrados à espera de uma criança ou adolescente brasileiro (CNJ, 2018). Desses, 108, (43, 72%) não aceitam adotar irmãos, ou seja, podem até adotar duas ou mais crianças, mas que não possuam parentesco sanguíneo direto, como é caso de grupos de irmãos. 
Somente em abril de 2014, o Conselho Nacional de Justiça – CNJ editou, a Resolução nº 190/2014, e assim passou a incluir os adotantes residentes em outros países em um subcadastro vinculado ao CNA. A medida teve o objetivo de aumentar a visibilidade dos pretendentes que moram no exterior, a realizar a adoção internacional.
Ainda, é imperativo lembrar que existem casos que o final esperado pelas decisões judiciais não acontecem, ou seja, depois de uma longa espera e um processo desgastantes para a ambos os lados, a candidatura dos adotantes é negada. Muitas vezes a criança ou adolescente, já se encontra morando em outro país, com a família postulante, e isso causa grandes problemas para uma nova adaptação. A esse respeito, Costa (2-14, p. 12) diz que:
[...] depois de muitos anos, a criança pode não ser mais aceita no seio da família que a acolheu e sofrerá duras consequências para se readaptar em outra cultura que apesar de possuir uma ligação pelo nascimento, não foi aquela que cresceu.
Em outros casos, a criança escolhida, estando ainda no Brasil, já não tem mais as características que os adotantes buscavam, por exemplo, a idade entre uma faixa etária x ou y.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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REFERÊNCIAS
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