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Matheus dos Santos Correia UniFG - Medicina 1 PROBLEMA 01 – BOEMIA 1. Definir o que é o envelhecimento. O envelhecimento não é caracterizado como um estado, mas sim como um processo de degradação progressiva e diferencial. Ele afeta todos os seres vivos, pois faz parte do curso natural da vida. É importante compreender que ele está presente nos níveis biológico, psicológico e sociológico e sua velocidade e gravidade variam de acordo esses níveis, bem como a cada indivíduo. Sabemos que a cronologia de todo homem é divido em três fases: fase de crescimento e desenvolvimento, fase reprodutiva e a senescência ou envelhecimento. A primeira fazer pode ser caracterizada com o crescimento e desenvolvimento dos órgãos e sistemas orgânicos que serão fundamentais no andamento da vida daquele ser. A segunda caracteriza-se pelo fazer de reprodução na tentativa de perpetuar a espécie, garantindo a sobrevivência e a evolução da mesma. A terceira, e última, caracteriza-se pelo declínio da capacidade funcional do organismo. Como foi dito acima que o processo de envelhecimento pode estar presentes em vários níveis em que envolvem a vida do ser humano, sendo eles biologicamente (envelhecimento orgânico com redução do funcionamento durante a vida e a perda da capacidade de autorregularão); na esfera social (papel funcional da pessoa perante a sociedade, englobando seus hábitos, história e cultura) e, por fim, a esfera psicológica (referente as competências comportamentais de cada pessoa, incluindo a sua inteligência, memória e motivação). Aproveitando que estamos falando do que é envelhecimento, cabe destacar que nos últimos anos há um importante fenômeno mundial chamado de envelhecimento demográfico o que está sendo responsável pela redução da população economicamente ativa (adultos jovens) que são importantes para a manutenção da economia de cada país. Nesse sentido, esta redefinição de estrutura etária exige políticas sociais que permitam fazer face à nova realidade demográfica, com um maior investimento na saúde, segurança social e, sobretudo, as questões que envolvem a previdência social. Como foi dito, a senescência é o processo natural que compromete os aspectos físicos e cognitivos do ser humano. Segundo a OMS, a terceira idade inicia entre os 60 e 65 anos. O envelhecimento está presente em vários níveis, sobretudo no fisiológico. O envelhecimento fisiológico é caracterizado pelo comprometimento homeostático de todas as funções biológicos. Embora haja o comprometimento das funções, isso não quer dizer que o indivíduo não consiga viver normalmente, porém ele apresenta dificuldades de manter a homeostase Matheus dos Santos Correia UniFG - Medicina 2 em situações de stress físico e emocional, podendo esses eventos culminarem em um processo patológico, na presença de declínio do sistema endócrino, nervoso e imunológico. 2. Diferenciar senescência e senilidade. Há uma grande diferença entre os termos senilidade e senescência no âmbito teórico e também na vivência. Ambos são ligados ao envelhecimento, no entanto, são quadros com impactos muito diferentes sobre a saúde. A senescência abrange todas as alterações produzidas no organismo de um ser vivo – seja do reino animal ou vegetal – e que são diretamente relacionadas a sua evolução no tempo, sem nenhum mecanismo de doença reconhecido. Já a senilidade é um complemento da senescência no fenômeno do envelhecimento. O geriatra define como “condições que acometem o indivíduo no decorrer da vida baseadas em mecanismos fisiopatológicos”. São, dessa forma, doenças que comprometem a qualidade de vida das pessoas, mas não são comuns a todas elas em uma mesma faixa etária. Assim são a perda hormonal no homem que impede a fertilidade, a osteoartrose, a depressão e o diabetes, entre outros comprometimentos. 3. Estudar a avaliação da funcionalidade do idoso a partir da escala Katz e Lawton. Capacidade Funcional A capacidade funcional de um idoso é definida como a sua aptidão para realizar uma determinada tarefa que permita o seu autocuidado e ter uma vida independente em seu meio. A funcionalidade então é determinada pelo seu grau de independência e dependência, sendo avaliada através de vários instrumentos, que nesses casos em específico, por meio de escalas. A fim de interpretar os resultados de cada escala é importante que tenhamos o conhecimento de quais são as atividades básicas da vida diária que são avaliadas e que apresentam variados graus de autocuidado. Elas são um conjunto de atividades fundamentais, tais como: tomar banho, vestir-se, promover higiene, transferir-se da cama para a cadeira, ter continência, capacidade de alimentar-se e deambular. Qualquer incapacidade na execução de cada uma dessas atividades já reflete algum grau de dependência apresentado por esse idoso, o que exige uma complexidade terapêutica e custo social e financeiro maior. As escalas são baseadas em informações dos pacientes e dos cuidadores e devem ser de rápida avaliação, podendo ser utilizada por todos os membros da equipe interdisciplinar. Matheus dos Santos Correia UniFG - Medicina 3 ESCALA DE KATZ A escala de Katz inclui a maioria das avaliações multidimensionais do idoso. Baseia-se na no entendimento que a perda funcional segue um padrão igual de declínio, sendo que primeiro perde a capacidade de tomar banhos, seguindo da incapacidade de se vestir, locomover-se e alimentar-se. Quando há a recuperação dessas funções ocorre de forma gradativa inversa. A escala foi elaborada no ano de 1963 para avaliar pacientes idosos internados. Ela foi posteriormente adaptada para ser utilizada em toda a comunidade, bem como apresenta adaptações transculturais para cada país, como no caso do Brasil. ESCALA DE LAWTON A escala de Lawton é bastante utilizada para avaliação das atividades básicas da vida diária. Ela foi desenvolvida para avaliação de idosos na comunidade em 1969. A pontuação máxima é 27, enquanto sua pontuação mínima é 9. Esses dois extremos retratam um ótimo grau de independência do idoso, enquanto o último retrata a alta dependência em diversas situações. É importante destacar que em algumas situações ela pode apresentar uma incapacidade de avaliar o idoso que não apresenta alguma habilidade, por exemplo, em cozinhar. Isso por si só prejudica a sua análise. Além disso, essa escala não é avaliada em nosso meio. Matheus dos Santos Correia UniFG - Medicina 4 4. Estudar as alterações fisiológicas no processo de envelhecimento do sistema respiratório. Sabemos que no mundo estamos observando um grande percentual de idosos em várias populações. Sobre isso, os profissionais de saúde têm que compreender os aspectos que envolvem um envelhecimento normal do corpo humano, entendendo as alterações anatômicas, fisiológicas e imunológicas do sistema respiratório. Cabe ressaltar que a maturação pulmonar plena ocorre entre os 20 e 25 anos de idade, e após isso, é possível observar um declínio da funcionalidade do trato respiratório. O envelhecimento resulta em grandes modificações tanto na arquitetura quanto na função pulmonar, contribuindo para o aumento da frequência de pneumonia, aumento da probabilidade de hipóxia e redução do consumo máximo de oxigênio pela pessoa idosa. Os pulmões de uma pessoa idosa ocorrem um aumento do volume, bem como dos ductos e bronquíolos que se alargam e os alvéolos se tornam flácidos. A consequência é o aumento de ar nos ductos alveolares e diminuição do ar alveolar com piora da ventilação e perfusão. Matheus dos Santos Correia UniFG - Medicina 5 Alterações na mecânica e funcionalidade do Sistema Respiratório A mecânica do sistema respiratório se dá pelo entendimento das fases de inspiração e expiração. Para tanto, temos que compreender os papeis dos músculos intercostais externos(inspiração elevando costela e diafragma) e os músculos intercostais internos (contração para reduzir o volume torácico). Eles são fundamentais no processo fisiológico da respiração. Em casos de dificuldade nesse mecanismo é possível observar a participação de outros grupos musculares como dos ombros e abdômen a fim de garantir a respiração do indivíduo. Com o envelhecimento é possível notar de forma mais frequente alterações no que diz respeito ao controle central da respiração (ponte e bulbo) e nos quimiorreceptores carotídeos e aórticos os quais apresentam uma capacidade reduzida de sensibilidade para detecção PCO2, PO2 e ao pH. Essas alterações reduzem a capacidade de adaptação ou homeostase de uma pessoa idosa quando submetida ao exercício físico. Ainda sobre a parte mecânica da respiração é importante salientar que com o passar do tempo os músculos, de uma forma geral, sofre um certo grau de sarcopenia o que reduz a capacidade da função pulmonar ao diminuir a força e a resistência da musculatura respiratória. Além disso, a partir dos 25 anos a quantidade de oxigênio que atravessa os alvéolos reduz, o tórax torna-se enrijecido, devido à calcificação das cartilagens costais e os pulmões ficam distendidos, por conta, da diminuição da capacidade de retornarem após a distensão da respiração. Sendo assim, ao perder a complacência ao envelhecer devido as alterações citadas da parede torácica é possível observar um processo de cifose e aumento do diâmetro anteroposterior do tórax, reduzindo a contração muscular do diafragma. Ainda sobre a mecânica do sistema respiratório é possível observar a perda de massa muscular com o passar da idade, particularmente das fibras de contração rápida (tipo II), diminuindo a capacidade de tensão muscular do diafragma. Além disso, há alterações nas junções neuromusculares com perda de neurônios motores periféricos com seletiva desnervação dessas fibras. Essas modificações culminam um maior trabalho muscular e gasto energético relacionado a respiração dos idoso. Estima-se que um homem de 60 anos de idade consuma 20% de energia a mais que um adulto jovem para a mesma atividade respiratória. A função mucociliar apresenta-se de forma lenta, prejudicando a limpeza do trato respiratório contra partículas inaladas, possibilitando a instalação de infecções. Sabemos que o surfactante é um líquido secretado pelos pneumócitos tipo II nas paredes alveolares. Essa substância faz com que os alvéolos apresentem uma tensão baixa o que Para entendermos esse mecanismo do sistema respiratório temos que ter noção do termo complacência o qual se traduz na capacidade de resistir às pressões se sofrer rupturas, sendo expresso na distensibilidade de um órgão preenchido por gás, por exemplo, o pulmão. Matheus dos Santos Correia UniFG - Medicina 6 facilita a sua complacência. Nos idosos é possível observar que a sua produção está diminuída. Sendo assim, a sua deficiência pode causar colabação durante a expiração, participando, assim, na formação de atelectasias. Além disso, o surfactante apresenta um papel protetor, impedindo a entrada de partículas e aumentando a presença de macrófagos. Sua ausência pode causar redução nos mecanismos de defesa no trato respiratório. Alterações imunológicas Os pulmões como sabemos compõe a maior superfície epitelial em órgãos humanos. Sendo assim, a sua exposição a vários microrganismos inalados é alta, por isso, esse trato apresenta um importante sistema de defesa contra esses invasores. Podemos citar a presença de mecanismos de limpeza não específicos: secreção brônquica, neutrófilos e macrófagos. Com o passar do tempo é possível observar que os macrófagos apresentam uma capacidade maior em liberar radicais livres em resposta aos estímulos esternos. Dessa maneira, há a formação de uma lesão proteolítica e oxidativa mediada pela perda desse controle de liberação de radicais livres. Matheus dos Santos Correia UniFG - Medicina 7 5. Reconhecer as alterações fisiológicas no processo de envelhecimento do sistema imunológico. As alterações imunológicas associadas ao envelhecimento, também chamada de imunossenescência, estão relacionadas com a perda da capacidade de resposta durante uma infecção, bem como pelo aumento da presneça de mediadores inflamatórios que traduzem a presença de doenças crônico-degenerativas. Isso implica no aumento da mortalidade e morbidade da população idosa por doenças infeciciosas, bem como por autoimunidade e neo plasias. Analisando esse cenário cabe destacar a importância do calendário vacinal específico para essa população ofertado pelo SUS. Para compreendermos as alterações é preciso retormar alguns conceitos para a compreensão da função imune. Esse sistema é composto por uma defesa genérica – imunidade inata – e por uma defesa específica – imunidade adaptativa. As células que compõe esse sistema são de linhagem linfoide (linfócitos T, B e NK) e mieloide (neutrófilos, eusonófilos, basófilos e monócitos). De forma geral, o sistema imune é um processo adaptativo que interagem com vários componentes dele mesmo e com o meio ambiente, a fim de assegurar a integridade do organismo. A função imune, como as demais funções, apresenta um importante declínio com o passar da idade o que permite o aumento da suscetibilidade a infecções, tumores e fenômenos autoimunes. Sobre isso, as células T é o principal componente desse sistema que sofre com os efeitos do envelhecimento. Com o avançar da idade é possível notar o aumento da proporção das células de memórias em relação as células virgenes o que traduz o amplo espectro de exposição no qual aquele organismo foi submetido, bem como a diminuição do potencial de reatiidade a novos antígenos. Podemos observar também a redução da atividade que ocorre no time no envelhecimento, podendo ela está associada com aumento do autoanticorposque observamos no indivíduos velho. A involução do timo, reduz a quantidade de linfócitos T, sobretudo a linhagem que assegura um importante equilibrio entre células normais e “anormais”, aumentando assim a chance de muitos fenômenos autoimunes. A maioria dos estudos aponta um declínio da intensidade dos linfócitos T em relação aos indivíduos mais velhos com os mais novos. Essa redução pode ser atribuída a prevalência de um linfócito T com fenótipo senescente. Sendo assim, esse linfócito acaba perdendo a capacidade replicativa, sendo ela dependente de vários aspectos como espécie, idade e conteúdo genético. Além da redução da funcionalidade das células de defesa é possível observarmos a alterações quanto a expressão de proteínas nesse processo, por exemplo, as citocinas. As interleucinas envolvidas no processo de defesa, em específico a IL-2, apresenta sua síntese prejudicada. Outra alteração envolvendo essa proteína é a redução da concentração de receptores para a mesma na superfície dos linfócitos T. Matheus dos Santos Correia UniFG - Medicina 8 A ativação celular mediada pelas interleucinas pode ser modificada fazendo com que as células de defesa ao invés de liberar determinados fatores liberam outros fatores. Basta ver o aumento da IL-6 sendo a mesma relacionada com distúrbios inflamatórios crônicos com avançar da idade. Dessa forma, há uma perda da função celualr, modificação da habilidade em responder aos eventos de ativação e modificação da resposta aos eventos dessa ativação. A compreensão das modificações do sistema imune é controvérsia. As razões para tanta discordância na literatura remetem as diferenças inerentes à população estudada, sabendo que o processo de envelhecimento não é uniforme dentro de um mesmo grupo há ausência da inclusão de variáveis externas, tais como hábitos de vida e estresse. Uma característica interessante sobre o processo de envelhecimento no tocante ao sistema imunológico é a redução dostítulos de anticorpos para partículas estranhas, enquanto que por outro lado há o aumento dos autoanticorpos. Dessa maneira, há uma desregulação da resposta imune o que favorece o aparecimento de neoplasias nessa faixa etária. Existem algumas linhas de evidência sugerindo que modificações envolvendo as células T nativas, que diminuem, e as células T de memória, que parecem aumentadas, contribuiriam para a imunodeficiência da idade avançada. Ao diminuir a célula nativa, também ocorre uma diminuição no potencial de reação a novos antígenos. Além disso, o envelhecimento levaria a um declínio na proporção de células T capazes de produzir interleucina-2 (potente estimulador de proliferação). 6. Determinar a epidemiologia, fisiopatologia, e quadro clínico das doenças mais prevalentes na população idosa relacionadas ao tabaco (DPOC e Câncer). DPOC - Definição A doença pulmonar obstrutiva crônica é caracterizada por ser uma síndrome de obstrução crônica e difusa das vias aéreas inferiores de caráter irreversível e com destruição progressiva do parênquima pulmonar. Normalmente, os pacientes são classificados com bronquite obstrutiva crônica ou enfisema pulmonar os quais são os dois principais componentes das doenças, sendo ambos relacionados à exposição à fumaça do tabaco. A DPOC é uma doença evitável e tratável caracteriza pela limitação crônica e progressiva ao fluxo aéreo, associada a uma resposta inflamatória crônica e exacerbada nas vias respiratórias a partículas e gases. Ela normalmente está relacionada com indivíduos de meia- idade ou idosos com história de tabagismo prévio. O estabelecimento de um diagnóstico precoce permite um tratamento adequado que possibilita a redução dos sintomas, a Matheus dos Santos Correia UniFG - Medicina 9 frequência e a gravidade das exacerbações, podendo melhorar o status clínico e qualidade de vida do paciente. - Epidemiologia A DPOC apresenta uma prevalência aumentada nas últimas décadas, especialmente no sexo feminino associado ao aumento proporcional do tabagismo. Sua maior incidência ocorre em indivíduos adultos mais velhos na quinta ou sexta décadas de vida, principalmente no sexo masculino. A DPOC hoje representa a quarta causa de morte nas estatísticas do EUA. Alguns fatores de risco estão relacionados com o aparecimento de DPOC na população mundial. Dentre eles: a) O tabagismo representa o principal fator de risco associado ao aumento do DPOC na população, basta ver que 90% dos casos apresentam história tabágica positiva. As substâncias presente no tabaco causam uma série de alterações nas vias aéreas: (1) estimulação à secreção de muco resultando na hipertrofia das glândulas submucosas; (2) redução dos movimentos ciliar das células epiteliais; (3) ativação dos macrófagos teciduais na secreção de citocinas (IL-8) atraindo os neutrófilos; (4) ativação de neutrófilos induzindo a secreção de enzimas proteolíticas como a elastases; (5) inibição da atividade da alfa-1-antitripsina a qual é responsável por inibir fisiologicamente a elastase. b) A asma pode estar presente causando confusão no entendimento da DPOC. Sabe-se que a inflamação é encontrada tanto na bronquite, quanto na asma. Sendo assim, na asma há a inflamação dependente dos linfócitos T CD4, eosinófilos, basófilos e mastócitos, mas sem o aparecimento de fibrose. Enquanto que na bronquite observamos a inflamação dependente de linfócitos T CD8 citotóxicos, macrófagos e neutrófilos com a presença de fibrose. Desse modo, há um fenômeno denominado de remodelamento das vias aéreas, levando à obstrução progressiva através do mecanismo fibrogênico. c) O tabagismo passivo, poluição atmosférica extra e intradomiciliar (fogão à lenha) e exposição ocupacional à fumação são fatores de risco fundamentais para o desenvolvimento da DPOC. Sobre o tabagismo passivo podemos destacar que Matheus dos Santos Correia UniFG - Medicina 10 crianças expostas ao tabagismo materno, inclusive durante a gestação apresentam crescimento pulmonar reduzida o que traduz em fator de ricos para a DPOC no futuro. d) A deficiência de alfa-1-antitripsina é a única forma de herança genética que predispõe ao aparecimento da DPOC. Pessoas que sofrem dessa alteração apresenta uma concentração reduzida de alfa-q-antitripsina, menor que 10% do valor normal, o que resulta na função exacerbada da elastase neutrófila – resultado do processo inflamatório – permitindo a degradação gradativamente do parênquima pulmonar. - Fisiopatologia Na fisiopatologia da DPOC podemos observar o que se denomina de desequilíbrio protease-antiprotease. O enfisema pulmonar é resultado desse desequilíbrio entre proteínas importantes e enzimas (proteinase 3, catepsina G e metaloproteinase MMP-12). O pulmão abriga as fibras contendo elastina é outras proteínas de matriz extracelular as quais são responsáveis por manter a integridade estrutural e elasticidade das paredes alveolares. Sendo assim, inflamações crônicas, por exemplo, resultantes do tabagismo, culminam com esse quadro, havendo assim a degradação da elastase e de outros componentes da matriz extracelular, como colágeno, proteoglicanas e fibronectina, resultando na modificação estrutural do parênquima pulmonar. As células inflamatórias liberam proteinases elastolíticas as quais são responsáveis pela destruição da matriz extracelular dos pulmões, resultando em morte celular (endotelial e epitelial), por meio de uma lesão oxidativa resultante da exposição à fumaça do cigarro e pela senescência. Associado a isso, podemos destacar que há um reparo ineficaz da elastina e de outros componentes da matriz extracelular o que permite alargamento dos espaços aéreos caracterizando assim a definição de enfisema pulmonar. O tabagismo é o principal fator desencadeador desse processo, pois os componentes da fumaça induzem a ativação da resposta inflamatória através de neutrófilos e macrófagos. Além disso, podemos observar, mais tardiamente, a presença de uma resposta humoral e celular mediadas tanto por linfócitos B, quanto por linfócitos T CD4+ e CD8+, mesmo após a cessação do tabagismo. Todo esse mecanismo descrito tornará os ductos das vias respiratórias inferiores estreitos resultado da hiperplasia e acúmulo de muco e fibrose. Há fatores de crescimento envolvidos no mecanismo, um importante é o fator de crescimento transformador beta (TGF-B), sendo que sua presença contribui para o aparecimento de fibrose, enquanto sua falta contribui para inflamação do parênquima e enfisema. Como o tabagismo é o principal fator dessa afecção é importante que nós como clínicos saibamos calcular os efeitos desse hábito no organismo. Para tanto, utilizamos a quantificação da carga tabágica com a multiplicação do número de maços por ano do hábito. Pacientes com DPOC apresenta em média 40 maços/ano. Matheus dos Santos Correia UniFG - Medicina 11 - Manifestações clínicas A DPOC deve ser suspeita em todos os pacientes que apresentem sintomas respiratórios crônicos, sendo ela limitante das atividades diárias, principalmente, devido a dispneia. Desse modo, pacientes com essa síndrome apresentam tosse crônica, podendo preceder da dispneia e a obstrução do fluxo aéreo. A secreção de aspecto mucoide ou mucopurulento está presente, sendo de modo recorrente ou persistente. O paciente pode cursar com dispneia progressiva, podendo progredir até aos mínimos esforços. Seguindo a história clínica do paciente a queixa mais presente é a dispneia aos esforços. Ela passa por uma evolução progressiva com pioras agudas desencadeadas por infecções. Com o passar do tempo é desencadeada com níveis cada vez menores de esforços. Fatores como piora na mecânica diafragmática no decúbito e aumento da secreção brônquica pela hiperatividade vagal noturna acentuam esses sintomas. A tosse é o segundo sintoma mais comum,lembrando que acompanhado por expectoração, muitas vezes precede o quadro dispneico. A causa maior desses sintomas é o tabagismo além de aumentar a secreção glândular, ele destrói a motilidade ciliar desse trato respiratório, permitindo o acúmulo de muco. (Esse quadro de tosse com expectoração se assemelha com a bronquite crônica). Ao exame físico o paciente pode variar de acordo com o grau da doença. Nos estágios iniciais ela pode se apresentar forma normal, podendo apenas revelar um tempo expiratório maior ou sibilância às manobras de expiração forçada. Quando a doença está em um estágio avançado pode-se observar murmúrio vesicular diminuído, roncos e sibilos, alargamento do diâmetro anteroposterior do tórax (tórax em tonel), a adoção da posição sentada, uso de musculatura acessória para a respiração, retração paradoxal dos espaços intercostais durante a inspiração (sinal de Hoover), cianose, prolongamento do tempo expiratório, insuficiência ventricular direita. A respiração do paciente com DPOC chama atenção pela fase expiratória prolongada e com a presença de um esforço muscular maior com o auxílio da musculatura abdominal. (Os pacientes expiram como se estivesse soprando). Em situações mais avançadas é possível observar o que se chama de pletórico, um tom de pele avermelhado derivado da policetima rativa à hipoxemia crônica, sendo ela mediada pelo aumento da eritropoietina renal. A dessaturação da hemoglobina resulta na cianose. Logo haverá a mistura do tom avermelhado com o tom azulado da cianose. Além disso, o exame físico permite observar dois esteriotipos de pacientes: pink puffers (sopradores rosados) e os blue bloaters (sopradores azuis). O primeiro é caracterizado por um estereótipo enfisematoso. O paciente apresenta um tórax em túnel, normalmente, são magros e sem sinais de cor pulmonale. A ausculta pulmonar desse tipo de paciente revela diminuição acentuada do murmúrio vesicular sem ruídos adventícios. Por outro lado, os inchados azuis apresentam um esterótipo bronquítico grave. Apresentam um distúrbio mais grave da troca gasosa do que o enfisematoso puro, apresentando uma hipoxemia Matheus dos Santos Correia UniFG - Medicina 12 significativa que resulta em cianose. Além disso, eles apresentam quadro de insuficiência ventricular direita e congestão sistêmica. Dessa forma, o corpo apresenta-se inchado (anasarca), geralmente são obesos e apresentam síndrome da apneia do sono. Na ausculta pulmonar apresenta uma rica prevalência de ruídos adventícios (sibilos, roncos e estertores). Com o avançar é possível notar presença do que denominamos de cor pulmonale caracterizado por uma hipóxia crônica com resposta de vasoconstricção das arteríolas pulmonares. Essa resposta é fisiológica e contribui para o desvio do fluxo sanguíneo. Quanto maior a hipóxia maior o grau de constrição dos vasos e, por conseguinte, surgimento da Hipertensão Arterial Pulmonar (HAP). Além disso, é possível nota a presença de sintomas de insuficiência ventricular direita: (1) elevação da pressão venosa central, (2) congestão sistêmica; (3) baixo débito cardíaco, contribuindo para o cansaço do paciente. Câncer de pulmão - Etiologia A principal causa do surgimento do câncer de pulmão é o tabagismo, cerca de 90% dos homens e 80% das mulheres que apresentam o câncer relatam que são ou foram tabagistas. A incidência como foi dita iniciou no começo do século XX com a pandemia do tabagismo, antes disso esse tipo de câncer era considerado uma coisa rara. O fato do tabagismo está associado ao surgimento do câncer deriva que a partir de sua combustão ocorre a liberação de mais de 4000 substâncias, dentre elas a nicotina (dependência) e hidrocarbonetos aromáticos que são importantes substâncias indutoras da gênese do câncer, devido sua capacidade de inibir a via apoptótica dessas células, tornando-as mais resistentes. Como o tabagismo é tão importante a gente como clínicos devemos calcular e saber interpretar o que significa a carga tabágica. Ela é o indicador utilizado na anamnese para classificar o risco do aparecimento de doenças associadas a esse hábito. A carga tabágica é calculada através do produto entre o número de cigarros fumados em um dia com o número de anos em que o indivíduo é fumante ativo. Uma carca tabágica maior que 20 circarros/ano já é um índice alto. É importante dizer que para o tabagismo não há um limite de segurança, sendo que a somente sua presença já potencializa o risco do aparecimento de CA no indivíduo. Os problemas do tabaco não só atingem os fumantes ativos, mas também acomete os fumantes passivos, sendo essa classe bastante importante, sendo composta geralmente por filhos e conjugue. Além deles, ex-tabagistas apresentam um rico mais elevado quando comparado com indivíduos que nunca fumaram. Além do tabagismo a doença obstrutiva pulmonar crônica, as pneumopatias fibrosantes e a exposição a outros agentes ambientais são possíveis etiologia para esse tipo de neoplasia. Os principais agentes exógenos são o radônio e o asbesto. O radônio está presente em locais A maioria dos pacientes com DPOC apresentam graus variados de bronquite obstrutiva crônica e enfisema, apresentando um quadro misto entre esses dois estereótipos. Matheus dos Santos Correia UniFG - Medicina 13 que há presença de jadizas de urânio. O segundo está associado a uma potencialização dos efeitos causados pelo tabagismo (sinergismo). Os estudos atuais apontam que há um caráter hereditário nesse tipo de câncer, sendo que indivíduos podem apresentar uma predisposição genética. Desse modo, ao realizarmos a anamnese desse paciente, devemos procurar saber sobre a história familiar, principalmente, a dos parentes de primeiro grau. A predisposição genética é responsável por 10% dos casos de neoplasias de pulmão. A etiologia propriamente dita do CA de pulmão decorre muito semelhante às demais, ela depende a interação de fatores genéticos e epigenético, associados ao acúmulo de mutações que culminam no surgimento da neoplasia. Essas mutações encurtam o caminho para o surgimento do câncer, devido elas normalmente se apresentar aos genes relacionados ao reparo do DNA e ao metabolismo e ativação de oncogenes. Não só esses fatores, mas também a dieta e o grau de poluição da atmosfera podem estar relacionado com o aparecimento desse tipo de câncer. Quanto a dieta podemos dizer que uma ingesta rica em frutas aumenta a prevenção no surgimento de CA, devido ao aumento da circulação de antioxidantes importantes na redução da transformação neoplásica, enquanto a poluição aumenta a probabilidade de surgimento do CA de pulmão. - Apresentação clínica No câncer de pulmão geralmente quando os sintomas aparecem já indicam que a doença se encontra em um estado metastático ou avançado. Dentre esses sintomas a tosse é o mais comum, estando presentem em cerca de 75% dos casos, ela decorre da invasão do CA no epitélio brônquico, derrame pleural ou formação de cavitação. Portadores de DPOC já que já apresentam a tosse derivada da doença acentua ainda mais sua manifestação. A dispneia está presente em quase metade dos casos, sendo geralmente associada a uma obstrução de grandes vias aéreas, nessa situação a pneumonite e atelectasia são observadas. Derrame pleural pode ser observado derivado da progressão do tumor, normalmente eles quando são drenados, por meio de uma toracocentese, são rapidamente reacumulados. O derrame é resultado de um exsudado com predominância linfocítica que estará presente na citologia, sua maior positividade nesse exame está relacionada ao adenocarcinoma. Duas síndromes podem apresentar sintomas decorrentes dos tumores de pulmão: 1. Síndrome de Pancoast-Tobias, ela deriva de pacientes que apresentam uma tumoração localizada no ápice. Os sintomas apresentados são dor no ombro ou na escápula ipsilateral e dor na distribuiçãodo nervo ulnar (parestesia e atrofia muscular distal). A destruição radiológica da primeira e segunda costela pode ser observada. Sua etiologia é o envolvimento das raízes nervosas C8 e T1 pela extensão pulmonar do tumor. O subtipo que apresenta maior frequência é o carcinoma epidermoide 52%, seguido dos carcinomas de grandes células 23% e o adenocarcinoma 23%. A ressonância magnética é o melhor exame para visualização, devido ela permitir cortes no plano coronal. Matheus dos Santos Correia UniFG - Medicina 14 2. Síndrome da veia cava superior é causada pela compressão dessa veia realizada pela tumoração, sendo assim a tumoração deve se localizar no lado direito. A manifestação clínica é a presença de edema e congestão da face e extremidades superiores, circulação colateral visível na parte superior do tórax e turgência da jugular. O paciente pode apresentar síncope, tosse, cefaleia e ortopneia. O diagnóstico pode ser realizado pelo RX de tórax que vai evidenciar um mediastino mais alargado com a presença de uma massa tumoral na parte central e derrame pleural. Os homens entre 50 e 70 anos são mais afetados por essa síndrome, sendo ela ocasionada por tumores broncogênicos, principalmente o carcinoma de pequenas células, seguido dos linfomas não Hodgkins. Antes essa síndrome era caracterizada como uma emergência, no entanto hoje é possível ter um tempo hábil para a realização de uma confirmação citológica. Desse modo, a confirmação deve anteceder o tratamento, sendo ela realizada através de uma broncoscopia ou mediastinoscopia. As opções terapêuticas variam, sendo que para carcinomas de pequenas células é indicada a quimioterapia, enquanto para carcinomas de não pequenas células é indicada uma quimiorradioterapia. Em casos graves é permitida a implantação de um stent para promover um alívio da congestão causada antes do tratamento definitivo. Síndromes paraneoplásicas estão relacionadas com a manifestação clínica do paciente. Essa síndrome é ocasionada pela existência de um tumor. Ela apresenta uma característica importante de preceder os sinais e sintomas indicativos para o câncer, sendo assim, a partir dela podemos realizar um diagnóstico muito precoce, aumentando as chances de cura. O carcinoma de células pequenas é o subtipo mais comum por causar essa síndrome. Vale lembrar que seus distúrbios estão relacionados com a origem das células tumorais (neuroendócrina). As manifestações desse tipo de síndrome são: 1. Hipercalcemia: as células tumorais têm a capacidade de secretar um polipeptídeo PTHrp o qual se assemelha muito com o paratormônio e estabelece o mesmo efeito (agonista), induz a atividades osteoclástica e impede a excreção renal do cálcio. 2. Síndrome de Cushing: as células tumorais apresentam a capacidade de sintetizar ACTH e CRH. Os efeitos ocorrem de forma tão rápida que o corpo não estabelece uma resposta, neste caso o corpo se adapta rapidamente a essas mudanças: aumento da pressão arterial, hiperglicemia e alcalose metabólica hipocalêmica. Além disso, o paciente pode apresentar a fácie cushincoide. 7. Entender as causas mais prevalentes de anemia no idoso. Anemia é uma síndrome clínica de origem multifatorial causada pela redução na massa circulante de hemácias (eritrócitos). É possível estimar a quantidade de hemácias através da concentração de hemoglobina (Hb), hematócrito (Ht) e contagem das hemácias (Hm)/amostra de sangue. A anemia normalmente costuma afetar os idosos, estando associada a várias afecções crônicas. Segundo a OMS, os níveis de hemoglobina menor que 13 g/dl em homens e 12 g/dl em mulheres classificam a anemia. Matheus dos Santos Correia UniFG - Medicina 15 De forma genérica a classificação das anemias em função da fisiopatologia: 1/3 de anemia por deficiência nutricional, 1/3 por doença renal crônica ou inflamação crônica e 1/3 por causa inexplicada. Pessoas com idades mais avançadas apresentam alta incidência de anemia, sendo que há uma maior prevalência nos homens. Os dados de idosos que vivem em instituições de longa permanência apresentam um percentual de anemia de 48 a 63% do total. É importante compreendermos que a anemia não deve ser encarada como parte de envelhecimento normal, alguns estudos constatam a sua associação com o aumento do risco de morbimortalidade, piora do declínio físico e função cognitiva. Causas de anemia no idoso 1) A deficiência de ferro é a causa mais comum da anemia por efeito nutricional. Ela é caracterizada por microcítica e homocrômica e associada a outras comorbidades. As manifestações da deficiência de ferro ocorrem em vários estágios, a depender da depleção de ferro. O ferro orgânico encontra-se 2/3 ligado ao grupo heme e 1/3 presente em estoque sob a forma de ferritina ou hemossiderina. Sua importância fisiológica é através da incorporação à protoporfirina a fim de compor o grupo heme. Cabe destacar da necessidade de repor 1 a 2g de ferro por dia. No idoso, a perda crônica de sangue pelo trato gastrointestinal é a forma mais comum para essa deficiência. Embora seja possível identificar a baixa absorção de ferro com a idade essa é a causa mais incomum de anemia. Além disso, o tratamento de anemia associada a doença renal crônica sob uso de eritropoietina pode gerar a redução dos estoques de ferro disponíveis. 2) A deficiência de vitamina B12 (cobalamina) é a causa mais comum da anemia megaloblástica. Sua ausência contribui para redução da síntese de DNA. As alterações morfológicas da medula óssea e nas hemácias é revelado pelo gigantismo das células e evidências de retardamento da divisão celular. A vitamina B12 é importante para a conversão de propionil CoA a metilmalonil CoA e a succinil CoA para dar origem ao grupo heme. As causas de deficiência da vitamina B12 e do ácido fólico é geralmente relacionada com o alcoolismo. 3) A doença renal crônica é importante causadora de anemia no idoso, sendo ela associada ao declínio da função renal (senescência) e sua relação com algumas comorbidades (ex: diabetes). É sabido que a função renal é caracterizada pela medição da filtração renal, sendo que há uma perda de 10% de sua capacidade por década de vida a partir dos 30 anos de idade, associado a isso, podemos ressaltar a presença de lesões renais. A DRC leva a diminuição de eritropoietina, deficiência de ferro (perda de sangue no trato gastrointestinal) supressão da medula pela uremia (redução da meia-vida), perda sanguínea e inflamação (aumento das citocinas inflamatórias). Ela pode ser oligossintomática/assintomática progressiva e insidiosa, sendo importante fechar seu diagnóstico de forma precoce. 4) A anemia de doença crônica normalmente está associada a doenças inflamatórias agudas e crônicas, neoplasias, vasculites, atrite reumatoide e outros. Sua fisiopatologia está relacionada com a elevação das citocinas inflamatórias IL-1, TNF-alfa, IL-6, IFN- gama as quais agem negativamente sobre a proliferação e diferenciação das células progenitoras na medula óssea. 5) A anemia inexplicada não apresenta critérios específicos para sua classificação, podendo ser chamada também de anemia idiopática do idoso. Suas causas são pouco conhecidas, mas as hipóteses são relacionadas ao hipogonadismo (redução da Matheus dos Santos Correia UniFG - Medicina 16 testosterona), produção inadequada de eritropoietina, defeitos na proliferação celular na medula óssea. 8. Compreender a sexualidade na terceira idade. A sexualidade da pessoa idosa também deve integrar a avaliação da mesma. Estudos mostram que 74% dos homens e 56% das mulheres casadas mantêm vida sexual ativa após os 60 anos. A identificação de disfunção nessa área pode ser indicativa de problemas psicológicos, fisiológicos ou ambos. Muitas das alterações sexuais que ocorrem com o avançar da idade podem ser resolvidas com orientação e educação. Alguns problemascomuns também podem afetar o desempenho sexual: artrites, diabetes, fadiga, medo de infarto, efeitos colaterais de fármacos e álcool. Embora a frequência e a intensidade da atividade sexual possam mudar ao longo da vida, problemas na capacidade de desfrutar prazer nas relações sexuais não devem ser considerados como parte normal do envelhecimento. Devem fazer parte da avaliação sistemática das pessoas idosas sexualmente ativas a investigação de doenças sexualmente transmissíveis/AIDS. As mulheres após a menopausa, principalmente, após os 60 anos, normalmente apresentam algum desconforto nas relações sexuais com penetração vaginal, devido às condições de hipoestrogenismo e, consequentemente, hipotrofia dos tecidos genitais. A utilização de um creme vaginal à base de estriol, 2ml, uma a duas vezes por semana, permite uma manutenção do trofismo do epitélio (mucosa), favorecendo uma melhoria nas condições genitais para o exercício pleno da sexualidade. Para o início de sua utilização, é necessário a realização dos exames preventivos para o câncer ginecológico e mamário, conforme protocolos vigentes, recomendados nessa faixa etária. A maioria das literaturas quando trazem o tem IST em idosos concentra as informações acerca do HIV/AIDS. É sabido que a epidemia de HIV e AIDS nas pessoas idosas tem emergido como um difícil problema de saúde pública. Esse tema trouxe à tona questões no campo de saúde a respeito da abordagem da sexualida, na investigação do uso de drogas e acesso aos serviços e insumos de prevenção, sobretudo na faixa etária idosa. Uma das principais causas que reforçam a prevalência desse tipo de doença nessa população é o desconhecimento, o preconceito e discriminação com o comportamento sexual dos idosos o qual ainda é visto como inadequado, imoral e anormal, até mesmo nos próprios idosos. A crença de que o avançar da idade e o declinar da atividade sexual estejam ligados pode contribuir para que essa situação seja negligenciada, prejudicando, assim, a qualidade de vida dessa população. Os profissionais de saúde, sobretudo os médicos, não valorizam as queixas sexuais dos idosos. Normalmente, eles preferem não tocar no assum, por medo de não saberem lidar com ele. Sendo assim, as pessoas idosas que ainda apresentam o desejo sexual experimentam por essa razão um sentimento de culpa e vergonha. Nesse sentido, a negligência quanto a atenção clínica a respeito da sexualidade dos idosos contribui para a prevalência também das ISTs nessa faixa etária, devido a não investigação das doenças através de testes rápidos Matheus dos Santos Correia UniFG - Medicina 17 presentes na própria atenção básica. O principal problema da persistência das ISTs nesse público não é a prática sexual, mas sim todo o tabu que envolve esse tema. Mesmo sabendo que é de responsabilidade pública colocar à disposição das pessoas idosas os insumos necessários à adoção de práticas sexuais mais seguras, como o preservativo masculino, feminino e gel lubrificante, isso não é visto na prática de nossa sociedade. Dessa forma, é importante que haja uma qualificação dos profissionais de saúde quanto a essas questões, a fim de ofertar uma atenção integral ao idoso através dos insumos presentes, sobretudo, na atenção básica. É importante destacar que não somente o acesso aos insumos são importantes, mas o acolhimento e orientação desse público tem valor maior para reduzir esses indicadores de ISTs. 9. Definir o Calendário vacinal do idoso. VACINAÇÃO DO IDOSO As doenças infecciosas são responsáveis por elevadas taxas de morbidade, hospitalização e letalidade da população idosa. Isso pode ser explicado pela menor reserva funcional e pelas alterações nos mecanismos de defesa próprios da imunossenescência. Para diminuir o risco de certas infeções graves e promover melhor qualidade de vida para essa população, os programas de imunização são ferramentas simples e de comprovado custo/benefício na prevenção e promoção de saúde do idoso • INFLUENZA (GRIPE) A vacina contra gripe (influenza) está indicada para todas as pessoas com 60 anos ou mais. Deve ser tomada todos os anos durante as campanhas de vacinação. A vacina deve ser aplicada anualmente, no período que precede o outono e o inverno. Deve ser administrada em dose única anual, por via subcutânea ou intramuscular, e pode ser aplicada simultaneamente com outras vacinas ou medicamentos, em diferentes sítios anatômicos. A vacinação dos grupos prioritários, incluindo os maiores de 60 anos, é fundamental como uma estratégia de prevenção e promoção de saúde, reduzindo a ocorrência da doença, internações e óbitos atribuíveis ao vírus influenza. A vacina é composta por vírus morto e fragmentado, o que permite boa tolerabilidade e segurança. Reações sistêmicas como mialgia, febre baixa, mal-estar geral e cefaleia, ou locais como dor, sensibilidade no local da injeção, eritema e enduração regridem espontaneamente em no máximo 48 h. A reação anafilática (eritema, angioedema, asma alérgica e anafilaxia) raramente acontece e resulta provavelmente de hipersensibilidade a alguns componentes da vacina, geralmente a proteínas residuais do ovo. Matheus dos Santos Correia UniFG - Medicina 18 A vacinação deve ser adiada na presença de doença febril aguda moderada ou grave. Para pacientes com trombocitopenia ou qualquer distúrbio de coagulação, com risco de sangramento pela via intramuscular, deve-se considerar a via subcutânea. A vacina é contraindicada nos casos de reação anafilática prévia ou alergia grave relacionada com o ovo de galinha e seus derivados, assim como a qualquer componente da vacina. DT (DIFTERIA E TÉTANO) As pessoas com 60 anos ou mais que nunca foram vacinadas devem tomar 3 doses. É necessário tomar uma dose de reforço a cada 10 anos. A maior suscetibilidade da faixa etária geriátrica a essas infecções pode ser explicada pela diminuição da resposta imunológica própria do processo de envelhecimento. Assim, acredita-se que entre os idosos exista maior proporção de pessoas com título sorológico inadequado de anticorpos para proteção contra essas doenças. Além disso, no caso do tétano, o indivíduo idoso costuma apresentar maiores taxas de déficit psicomotor e de percepção do espaço, estando mais propenso a acidentes, dos quais poderão advir soluções de continuidade na pele, permitindo a exposição à bactéria. Após administração da vacina dT, podem ocorrer reações locais como dor, eritema e enduração. Febre e outras manifestações sistêmicas são menos comuns. Encefalopatia e convulsões não foram relatadas em idosos e foram relacionadas com o uso de vacinas de células inteiras e na faixa etária infantil. A vacina dever ser adiada no caso de doença febril aguda. No caso de reação anafilática prévia às vacinas ou a algum de seus componentes, a vacina tem contraindicação absoluta. PNEUMOCÓCICAS (VPC13) E (VPP23) A vacina contra pneumonia está indicada para pessoas com 60 anos ou mais. O pneumococo é uma das principais causas de pneumonia adquirida na comunidade em idosos e resulta em elevada morbimortalidade, mas nem sempre éacompanhada de bacteriemia. A única contraindicação formal é história de reação anafilática a dose anterior da vacina ou algum de seus componentes. No caso de síndrome febril aguda, a vacina pode ser adiada e, no caso de trombocitopenia grave, deve-se considerar a administração por via subcutânea. Matheus dos Santos Correia UniFG - Medicina 19 Os eventos adversos mais comuns são os locais (dor, eritema), que regridem espontaneamente em curto intervalo de tempo. Febre ou reações mais graves são muito raras (anafilaxia, por exemplo). HERPES – ZÓSTER O herpes-zóster acomete geralmente adultos com mais de 50 anos, mais da metade das pessoas acometidas são idosas. A principal complicação do HZ é a neuralgia pós-herpética (NPH).Aproximadamente 10 a 18% dos pacientes com HZ são acometidos pela NPH que interfere negativamente nas atividades de vida diária, piorando a qualidade de vida. Essa alta prevalência em idosos pode ser explicada pelo fato de que à medida que envelhecemos, ocorre o declínio fisiológico da imunidade celular, o que parece estar relacionado com o aumento da incidência e prevalência do HZ e da NPH, assim, a idade é o maior fator de risco para HZ. A vacina que atualmente está no mercado (ZostavaxTM) é feita de vírus vivo atenuado, 14 vezes mais potente que a vacina contra a catapora. Esta vacina foi desenvolvida para evitar ou atenuar os sintomas do HZ. Aumenta significativamente a imunidade celular e humoral específica contra o VVZ e a aplicação é subcutânea, no músculo deltoide. É indicada, segundo a Sociedade Brasileira de Imunização, a partir dos 60 anos, dose única. A maior efetividade da vacina para a prevenção do HZ foi no grupo etário de 60 a 69 anos. Trata-se de uma vacina segura; os efeitos colaterais mais comuns foram eritema, dor e prurido no local da aplicação. É contraindicada em pessoas com histórico de hipersensibilidade a qualquer componente da vacina, incluindo a gelatina, reação anafilática a neomicina, estados de imunodeficiência primária adquirida, em vigência de tratamento com imunossupressores (incluindo elevadas doses de corticosteroides), tuberculose ativa não tratada e gestação. HEPATITE B A indicação de vacina contra hepatite B para idosos não é recomendação de rotina, porém as especificidades dessa faixa da população, como baixa imunidade, concomitância de doenças crônicas e internações hospitalares recidivantes, requerem que sua utilização, por vezes, seja considerada. A vacina dever ser administrada por via intramuscular (IM) em esquema de três doses, sendo a segunda 1 mês depois da primeira e a terceira 6 meses após a primeira (esquema 0-1-6 Matheus dos Santos Correia UniFG - Medicina 20 meses). Esquemas especiais de vacinação para a hepatite B são necessários para pacientes imunossuprimidos e renais crônicos: dose dobrada em quatro aplicações (esquema 0-1-2 a 6 meses). HEPATITE A A maioria dos adultos e idosos em nosso país apresenta positividade sorológica para essa infecção. Aos 50 anos, são poucos os indivíduos que não tiveram ainda contato com o vírus. Assim sendo, para os idosos, a vacinação é indicada apenas para aqueles suscetíveis, com sorologia negativa para a doença. A vacina deve ser administrada IM em esquema de duas doses, com intervalo de 6 meses após a primeira (esquema 0 a 6 meses). FEBRE AMARELA A vacina contra febre amarela deve ser realizada em todos os residentes em área de risco e habitantes de outras regiões maiores de 9 meses de idade que se dirijam às áreas de risco. A vacina é realizada por via subcutânea em dose única, porém é importante a realização de dose de reforço a cada dez anos. Recomenda-se que a administração ocorra no mínimo dez dias antes da viagem. A vacina é composta por vírus vivo atenuado e já foram descritos efeitos adversos graves da vacina, sobretudo na população acima de 60 anos, fato esse não verificado no Brasil. TRÍPLICE VIRAL A vacina contra sarampo, caxumba e rubéola não é recomendada de forma rotineira para idosos, uma vez que a maioria deles já é imune a essas doenças. Pode ser indicada em casos de surto ou caso o paciente tenha viagem programada para locais onde essas doenças são endêmicas. É considerado protegido o indivíduo que tenha recebido duas doses da vacina após 1 ano de idade, com intervalo mínimo de 1 mês entre elas. Está disponível em redes privadas e na rede pública apenas em situações especiais. MENINGOCÓCICA CONJUGADA A vacina contra meningite apresenta cobertura contra meningococo A, C, W135 e Y. São poucos os estudos na população idosa e não é uma vacina recomendada no calendário de rotina para idosos, devendo ser realizada apenas em situações de epidemia.
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