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Material Específico – Letras – Tomo XVIII – CQA/UNIP 1 LETRAS MATERIAL INSTRUCIONAL ESPECÍFICO TOMO XVIII Material Específico – Letras – Tomo XVIII – CQA/UNIP 2 CQA/UNIP – Comissão de Qualificação e Avaliação da UNIP LETRAS MATERIAL INSTRUCIONAL ESPECÍFICO Tomo XVIII Christiane Mazur Doi Doutora em Engenharia Metalúrgica e de Materiais, Mestra em Ciências (Tecnologia Nuclear), Engenheira Química e Licenciada em Matemática, com Aperfeiçoamento em Estatística. Professora titular da Universidade Paulista. Tânia Sandroni Doutora em Letras (Teoria Literária e Literatura Comparada), Mestra em Ciências da Comunicação (Jornalismo), Bacharela em Comunicação Social (Jornalismo) e Licenciada em Letras (Português). Professora titular da Universidade Paulista. Material Específico – Letras – Tomo XVIII – CQA/UNIP 3 Questão 1 Questão 1.1 Nas sociedades contemporâneas, textos não são apenas verbais. Há uma variedade de composição de textos que articulam o verbal, o visual, o gestual, o sonoro – o que se denomina multimodalidade de linguagens. Assim, o ensino da Língua Portuguesa deve considerar o texto em suas muitas modalidades: as variedades de textos que se apresentam na imprensa, na TV, nos meios digitais, na publicidade, em livros didáticos e, consequentemente, também os vários suportes em que esses textos se apresentam. Disponível em <https://mec.gov.br>. Acesso em 12 jul. 2017 (com adaptações). Considerando a concepção de texto apresentada no excerto, avalie as asserções a seguir e a relação proposta entre elas. I. O ensino que foque no desenvolvimento de novas habilidades linguísticas, aumentando os recursos que o usuário da língua já possui, é mais adequado do que uma abordagem prescritiva do ensino da língua, mesmo que, em situações práticas, tais concepções não sejam excludentes. PORQUE II. O ensino de língua portuguesa embasado no texto como centro de referência permite que se entenda a língua em um processo interlocutivo, por meio do qual a significação é ativada, ao passo que a tarefa de estudar o texto implica desvendar as potencialidades da língua em situações de interação. A respeito dessas asserções, assinale a opção correta. A. As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa correta da I. B. As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II não é uma justificativa correta da I. C. A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa. D. A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira. E. As asserções I e II são proposições falsas. 1Questão 28 - Enade 2017 - Licenciatura. Material Específico – Letras – Tomo XVIII – CQA/UNIP 4 1. Introdução teórica Os textos nas sociedades contemporâneas Um texto pode ser considerado uma trama. A palavra “texto”, que provém do latim textus, significa tecido. Assim, qualquer texto é o resultado do ato de tecer, de fazer com que palavras e/ou as imagens se imbriquem, formando uma trama de significação. Nas sociedades contemporâneas, marcadas pelos meios de comunicação e pelas tecnologias da informação, lidamos com enorme variedade de textos, que se articulam entre si e sob diferentes modalidades de linguagem. As modalidades verbal, visual, gestual e sonora são exemplos que convergem na produção e na “consumação” de um vídeo, por exemplo, que pode ser produzido, veiculado e consumido por qualquer pessoa conectada às redes digitais. Nesse sentido, e em comparação às sociedades modernas (que inventaram a comunicação de massa), as sociedades ditas pós-modernas (que criaram uma nova forma de comunicação em massa, mas produzida, recebida e experienciada individualmente) oferecem uma profusão de textos (e/ou imagens) que chega a ser “iconofágica”, para usar expressão de Baitello Jr. (2014). Esse teórico da comunicação entende que nós, hoje, na Era da Iconofagia, não só devoramos imagens e textos, mas somos devorados por eles. E, muito embora essa tese seja bastante metafórica, ela fundamenta-se em um dado muito concreto da realidade. Nós vivemos em meio a telas e dispositivos e, portanto, textos apresentam-se a nós sob diferentes maneiras, em diversos suportes. Dessa forma, devoramos os textos e somos devorados por eles, ou seja, somos intimados, a todo instante, a consumir algum tipo de texto; daí a noção teórica de “consumação mediática” (OLIVEIRA, 2018). Embora esse tipo de consumação mediática seja uma característica da contemporaneidade, as ciências, em diversas disciplinas, têm mostrado como nós vivemos em um mundo de ficção construído pelas linguagens, ou por imagens/textos que brotam do nosso imaginário, ao menos desde que o homo erectus ficou em pé na face da Terra (DURAND, 2012). Em outras palavras, vivemos em um mundo codificado por imagens e textos das mais diversas naturezas – tanto de ficção imagética quanto de ficção linear –, que revestem o mundo (a biosfera) de significação (o que se chamou de semiosfera). Nós vivemos, pois, em uma espécie de segunda natureza, que é a natureza das nossas linguagens (FLUSSER, 2007). A linguagem, de modo geral, como afirma Fiorin (1998), é uma instituição social, veículo das ideologias, o instrumento de mediação entre os homens e a natureza e entre os homens Material Específico – Letras – Tomo XVIII – CQA/UNIP 5 e outros homens. O ensino de língua portuguesa e dessa concepção de linguagem, quando embasado no texto como centro de referência, evidencia o aspecto interacional e mediador da língua: coloca em evidência tanto a sua materialidade sintática quanto a sua virtualidade semântica – campo da significação. Esse tipo de ensino passa, portanto, pelas potencialidades da própria língua em funcionamento, ou seja, ele considera o texto em suas muitas modalidades e nos diversos meios: na imprensa, na TV, nos meios digitais, na publicidade, em livros didáticos etc. É por meio de textos que produzimos sentido. A produção de sentido, por sua vez, não está predeterminada por propriedades da língua, mas depende de relações constituídas nos/pelos textos. A produção de sentido, tanto individual quanto coletiva, acontece, então, em contexto de multimodalidade de linguagens. Como quer Eni Orlandi (2013, p.10): “com as novas tecnologias de linguagem, à memória carnal das línguas ‘naturais’ juntam-se as várias modalidades da memória metálica, os multimeios, a informática, a automação”. Nessa direção, o ensino que foque no desenvolvimento de novas habilidades linguísticas mostra-se adequado para o século XXI. Esse tipo de ensino, pode-se dizer, pós-moderno, passa a ser uma alternativa ao tipo de ensino moderno – típico da Modernidade –, e cuja principal característica é a prescrição – a lógica do dever ser. A abordagem prescritiva do ensino da língua é sintomática desse período e, por isso, pode ser repensada à luz das novas formas de linguagem, na contemporaneidade. 2. Análise das asserções I – Asserção verdadeira. JUSTIFICATIVA. O excerto refere-se ao ensino da Língua Portuguesa, que deve considerar o texto em suas muitas modalidades, nos diferentes suportes, visando à prática sociocomunicativa. Se pensada à luz das novas formas de linguagem do contemporâneo, a proposição ganha ainda mais sentido. II – Asserção verdadeira. JUSTIFICATIVA. O ensino de língua portuguesa, quando embasado no texto como centro de referência, “permite que se entenda a língua em um processo interlocutivo, por meio do qual a significação é ativada, ao passo que a tarefa de estudar o texto implica desvendar as potencialidades da língua em situações de interação”. A língua, nesse sentido, funciona mesmo Material Específico – Letras – Tomo XVIII – CQA/UNIP 6 como um sistemavirtual carregado de potencialidade e de significação, que “coloca junto” ou que serve à mediação de uns com os outros, e com a natureza. Relação entre as asserções. As duas asserções não mantêm relação de causa/consequência entre elas. Alternativa correta: B. 3. Indicações bibliográficas ● BAITELLO JR., N. A era da iconofagia. Reflexões sobre imagem, comunicação, mídia e cultura. São Paulo: Paulus, 2014. ● DURAND, G. As estruturas antropológicas do imaginário. Introdução à arquetipologia geral. Trad. Hélder Godinho. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2012. ● FIORIN, J. L. Linguagem e ideologia. São Paulo: Editora Ática, 1998. ● FLUSSER, V. O mundo codificado. São Paulo: Cosac Naify, 2007. ● OLIVEIRA, F. Por uma teoria da consumação: correspondências entre comunicação, consumo e imaginário. Signos do Consumo. São Paulo, v. 10, n. 2, p. 92-104, jul./dez. 2018. Disponível em <https://www.revistas.usp.br/signosdoconsumo/ article/view/141446/141626>. Acesso em 28 mai. 2021. ● ORLANDI, E. P. Análise de Discurso: princípios e procedimentos. Campinas, SP: Pontes Editores, 2013. Material Específico – Letras – Tomo XVIII – CQA/UNIP 7 Questão 2 Questão 2.2 João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia num barracão sem número Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro Bebeu Cantou Dançou Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado. BANDEIRA, M. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1993 (com adaptações). Considerando o poema, avalie as afirmativas a seguir. I. A ausência de um sobrenome convencional e de um número no barracão propicia a ampliação de sentidos do poema. II. O discurso jornalístico imbricado no discurso poético comprova que a matéria-prima utilizada em ambos pode misturar-se. III. O poema, retomando o registro jornalístico, tem o objetivo de narrar em 3ª pessoa a veracidade de um acontecimento cotidiano nas grandes cidades. IV. O que caracteriza o poema como tal é o fato de não contemplar todas as perguntas básicas da notícia, já que não há um porquê para o fato. É correto o que se afirma apenas em A. I e II. B. I e III. C. III e IV. D. I, II e IV. E. II, III e IV. 1. Introdução teórica Discurso literário e discurso jornalístico Os textos literários e os textos jornalísticos, ainda que tenham como objeto um mesmo tema ou um mesmo fato, apresentam várias distinções constitutivas e diferentes objetivos. O objetivo do jornalismo é, em essência, reportar ao leitor os acontecimentos do mundo que sejam considerados relevantes para sua vida. Para isso, entre os inúmeros fatos do dia a 2Questão 21 - Enade 2017 - Licenciatura. Material Específico – Letras – Tomo XVIII – CQA/UNIP 8 dia, são selecionados aqueles que atendem aos critérios de noticiabilidade, que determinam o grau de interesse público de um acontecimento. Uma morte na Lagoa Rodrigo de Freitas, por exemplo, apresenta os elementos para se tornar uma notícia ou, ao menos, uma nota no jornal. Nesse caso, a finalidade é informar o leitor. A notícia, embora carregue o germe de uma narrativa, não a desenvolve no sentido clássico como a conhecemos, com apresentação, conflito, clímax e desfecho. De acordo com os manuais de redação, que seguem os paradigmas norte-americanos de produção jornalística, uma notícia inicia-se com os elementos essenciais do fato, constituindo-se, assim, o lead do texto. No primeiro parágrafo, costumam figurar os elementos: o quê, quem, quando, onde, como e por quê. Na sequência, aparecem informações consideradas secundárias. Além disso, o relato jornalístico é marcado pelo efeito de objetividade, conseguido pelo apagamento das marcas do sujeito da enunciação, pelo pouco uso de palavras valorativas e pela precisão. É importante que, na notícia, figurem os nomes completos das pessoas envolvidas e outros dados referentes a elas, ao fato, ao tempo e ao lugar. Embora seja uma construção da realidade, o relato jornalístico tem compromisso com a verdade, por isso é grande seu grau de referencialidade. No jornalismo, predomina a função referencial da linguagem, como definiu Roman Jakobson. A literatura, por sua vez, não tem como intuito a informação, mas a formação. Nas palavras de Antonio Candido (1995, p.180), “a literatura desenvolve em nós a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza, a sociedade, o semelhante”. 2. Análise das afirmativas I - Afirmativa correta. JUSTIFICATIVA. A falta de um sobrenome e sua substituição por “Gostoso” retiram a referencialidade comum nas notícias. II - Afirmativa correta. JUSTIFICATIVA. O título do poema já indica que a matéria-prima dele pode ser um fato jornalístico. Material Específico – Letras – Tomo XVIII – CQA/UNIP 9 III - Afirmativa incorreta. JUSTIFICATIVA. Nenhuma obra literária, ainda que tenha base em acontecimentos, tem por objetivo narrar a veracidade de um fato. IV - Afirmativa incorreta. JUSTIFICATIVA. A mera ausência de elementos do fato não configura um poema. Se assim fosse, uma notícia mal apurada seria um poema. Alternativa correta: A. 3. Indicações bibliográficas ● CANDIDO, A. O direito à literatura. In: Vários escritos. Duas cidades/Ouro sobre Azul, 1995. ● SODRÉ, M.; FERRARI, M. H. Técnicas de reportagem: notas sobre a narrativa jornalística. São Paulo: Summus Editorial, 1986. Material Específico – Letras – Tomo XVIII – CQA/UNIP 10 Questões 3, 4, 5 e 6 Questão 3.3 Disponível em <http://avepalavra1.blogspot.com.br>. Acesso em 14 out. 2017 (com adaptações). Os gêneros (tanto da literatura quanto da língua), ao longo dos séculos de sua existência, acumulam as formas de uma visão do mundo e de um pensamento. Se o escritor-artesão serve-se do gênero como clichê externo, o grande artista, por sua vez, revela as virtualidades do sentido latente no gênero. Shakespeare explorou e passou à sua obra os imensos tesouros de um sentido potencial que, em sua época, não podia ser descoberto nem compreendido em sua plenitude. BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2003 (com adaptações). Tomando como referência o texto apresentado e considerando o cartum, avalie as afirmativas a seguir. I. Os elementos estéticos que organizam a linguagem no cartum põem em evidência aspectos que singularizam o texto e conferem-lhe, mesmo que de maneira indireta, o status de gênero literário. II. O valor literário não emerge de simples peculiaridades formais expressas, como as ilustradas no diálogo entre as personagens do cartum, pois, no gênero literário, os elementos da expressão articulam-se com o plano do conteúdo, recriando novas formas de expressão. III. O efeito sonoro presente no diálogo das personagens do cartum é uma peculiaridade do gênero poesia e constitui recurso estético que visa à desautomatização da linguagem, conferindo ao plano da expressão certo ritmo intensificador. 3Questão 21 - Enade 2017 - Licenciatura. Material Específico – Letras – Tomo XVIII – CQA/UNIP 11 É correto o que se afirma em A. I, apenas. B. III, apenas. C. I e II, apenas. D. II e III, apenas. E. I, II e III. Questão 4.4 TEXTO 1 A avaliação dos textos literários (sua comparação, sua classificação, sua hierarquização) deve ser diferenciada do valor da literatura em si mesmo. Mas é claro que os dois problemas não são independentes: um mesmo critério de valor (por exemplo, o estranhamento, ou a complexidade, ou a obscuridade, ou a pureza) preside, em geral, à distinção entre textos literários e não literários, e à classificação dos textos literários entre si. COMPAGNON, A. O demônio da teoria: literatura e senso comum. Belo Horizonte: UFMG, 2003 (comadaptações). TEXTO 2 A constituição da linguagem literária e do discurso que a configura pode ser entendida como resultado de um acto discursivo próprio, propondo a uma comunidade de leitores um texto que essa comunidade reconhecerá como texto literário. REIS, C. O conhecimento da literatura: introdução aos estudos literários. 2. ed. Coimbra: Almedina, 2001 (com adaptações). Considerando os fragmentos de texto apresentados, avalie as asserções a seguir e a relação entre elas. I. A definição de um texto como texto literário depende não só da observação das especificidades da linguagem literária, mas também da própria conceituação do que é literatura. PORQUE II. Na avaliação e na classificação de textos literários, não se devem ignorar aspectos extrínsecos (sociais, históricos, políticos etc.) que, em determinado momento, condicionam a percepção de um texto como literário por parte de uma comunidade de leitores. A respeito dessas asserções, assinale a alternativa correta. A. As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II justifica a I. B. As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II não justifica a I. C. A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa. D. A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira. E. As asserções I e II são proposições falsas. 4Questão 33 - Enade 2017 - Bacharelado. Material Específico – Letras – Tomo XVIII – CQA/UNIP 12 Questão 5.5 TEXTO 1 O processo de canonização não pode ser isolado dos interesses dos grupos que foram responsáveis por sua constituição, e, no fundo, o cânon reflete estes valores e interesses de classe. O cânon é um evento histórico, visto ser possível rastrear a sua construção e a sua disseminação. Não é suficiente repensá-lo ou revisá-lo, lendo outros e novos textos, não canônicos e não canonizados, substituindo os “maiores” pelos “menores”, os escritores pelas escritoras e assim por diante. Tampouco basta –ainda que seja extremamente necessário – dilatar o cânon e nele incorporar outras formações discursivas, como a telenovela, o cinema, o cordel, a propaganda, a música popular, os livros didáticos ou infantis, a ficção científica, buscando uma maior representatividade dos discursos culturais. O que é problemático, em síntese, é a própria existência de um cânon, de uma canonização que reduplica as relações injustas que compartimentam a sociedade. REIS, R. C. In: JOBIM, J. L. (Org.). Palavras da crítica. Rio de Janeiro: Imago, 1992 (com adaptações). TEXTO 2 Uma vida inteira pela frente. O tiro veio por trás. MOSCOVICH, C. Uma vida inteira pela frente. IN: FREIRE, M. (Org.) Os cem menores contos brasileiros do século. 2. ed. Cotia: Ateliê Editorial, 2004 (com adaptações). Considerando a discussão sobre o cânon literário apresentada no texto 1 e o gênero do miniconto, exemplificado no texto 2, avalie as asserções e a relação proposta entre elas. I. A forma literária do miniconto, por ser semelhante à da crônica, deve ser considerada expressão literária de valor para que a seleção de obras que integram o cânon seja democrática. PORQUE II. A formação do cânon é derivada de valores estéticos e políticos, e a sua existência promove a valorização justa de obras e a manutenção da divisão social. A respeito dessas asserções, assinale a opção correta. A. As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II justifica a I. B. As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II não justifica a I. C. A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa. D. A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira. E. As asserções I e II são proposições falsas. Questão 6.6 TEXTO 1 A dedução, feita a partir da definição de literatura como uma escrita altamente valorativa, de que ela não constitui uma entidade estável, resulta do fato de serem notoriamente variáveis os juízos de valor. Assim como uma obra pode ser considerada como filosofia num século, e como literatura no século seguinte, ou vice-versa, também pode variar o conceito do público sobre o tipo de escrita considerado como digno de valor. Até as razões que determinam a formação do critério de valioso podem se 5Questão 19- Enade 2017. 6Questão 29 - Enade 2017 - Licenciatura. Material Específico – Letras – Tomo XVIII – CQA/UNIP 13 modificar. Isso, como disse, não significa necessariamente que venha a ser recusado o título de literatura a uma obra considerada menor: ela ainda pode ser chamada assim, no sentido de pertencer ao tipo de escrita geralmente considerada como de valor. Não existe uma obra ou uma tradição literária que seja valiosa em si, a despeito do que se tenha dito, ou se venha a dizer, sobre isso. Valor é um termo transitivo: significa tudo aquilo que é considerado como valioso por certas pessoas em situações específicas, de acordo com critérios específicos e à luz de determinados objetivos. EAGLETON, T. Teoria da literatura: uma introdução. São Paulo: Martins Fontes, 2006 (com adaptações). TEXTO 2 Solicitamos que alunos separassem de um bloco de textos, que iam desde poemas de Pessoa e Drummond até contas de telefone e cartas de banco, textos literários e não literários, de acordo com suas definições mais tradicionais. Um dos grupos não fez qualquer separação. Questionados, os alunos responderam: “Todos são não literários, porque servem apenas para fazer exercícios na escola”. E Drummond? Responderam: “Drummond é literato, porque vocês afirmam que é, eu não concordo. Acho ele um chato. Por que Zé Ramalho não é literatura? Ambos são poetas, não é verdade? BRASIL, Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais: linguagens, códigos e suas tecnologias. Brasília, 2000 (com adaptações). À luz do que se discute no texto 1, constata-se que o texto 2 faz um relato de experiência escolar na qual a atividade proposta aos alunos propicia a discussão de questões que, no âmbito da Teoria da Literatura, estão relacionadas A. ao método de escolarização da leitura literária. B. ao conceito de poeta e poesia na modernidade. C. ao processo de canonização de autores e obras. D. ao papel do professor no ensino da fruição estética. E. à função do autor na construção do sentido do texto literário. Material Específico – Letras – Tomo XVIII – CQA/UNIP 14 1. Introdução teórica 1.1 O que é literatura? Etimologicamente, a palavra “literatura” vem de “littera”, que significa “letra”. Assim, na origem, a literatura está relacionada ao texto escrito. Os dicionários apontam uma série de significados para o vocábulo, mas aqui tomamos aquele que se refere às obras literárias em sentido estrito, como a arte feita com palavras. Adotando essa definição, vem à tona o problema de como conceituar essa arte, de como determinar os critérios de classificação das obras. Em outros termos, pergunta-se por que determinados livros são considerados literatura e outros não são. A questão sobre quais os critérios que devem definir o que é literatura é antiga e está na base de diversos estudos. Roberto Acízelo de Souza (2018) afirma que a pergunta “o que é literatura?” pode ser encarada como “tola” para o senso comum, pois a resposta parece óbvia. Para os estudiosos de Letras, por sua vez, a pergunta soa bastante complexa. Muitas vezes, o termo “literatura” aparece, no dia a dia, vinculado à escrita ficcional. A oposição entre “realidade” e “imaginação” estaria na base da distinção entre um texto literário e um texto não literário. Essa definição, no entanto, é falha, pois há obras literárias com conteúdo “verídico” e há obras ficcionais que não podem ser chamadas de literárias. Ainda como resposta à pergunta, algumas pessoas apresentam apenas exemplos de textos literários. Isso, entretanto, não resolve o problema da definição de literatura, pois a listagem de obras assim consideradasnão forma um conceito. Dessa forma, a problematização da definição de literatura é um elemento que está na base da teoria literária. Nas palavras de Acízelo de Souza (2018, p.13), “teorizar sobre algo é transformá-lo em objeto problemático, isto é, de interesse para um estudo de caráter metódico e analítico”. A produção literária tem despertado estudos desde a Antiguidade. Em Platão e Aristóteles, é possível notar certa propensão ao normativismo, apesar da livre reflexão proposta em suas obras. Essa mesma tendência normativa é observada na Idade Média e acentuada na Renascença. Dessa forma, durante séculos, prevaleceram os estudos que propunham modelos e preceitos para os gêneros literários. No século XIX, com o Romantismo, há mudança de percepção: a obra literária é vista como uma criação singular de um indivíduo dotado de genialidade e, assim, não pode ser submetida a um receituário. Nessa perspectiva, Material Específico – Letras – Tomo XVIII – CQA/UNIP 15 rejeitado o normativismo, a reflexão sobre as letras e seu cultivo torna-se francamente especulativa, favorecendo o desenvolvimento das mais diversas teorias, empenhadas tanto em reinterpretar as obras antigas como em propor explicações adequadas para os rumos da produção literária romântica e pós- romântica, crescentemente múltiplos e destoantes dos padrões clássicos. (SOUZA, 2028, p.20) Surge, então, uma corrente que defende a fruição subjetiva da obra literária, conhecida como impressionismo crítico, que tem Anatole France (1844 – 1924) como seu maior representante. Essa tendência vai contra o esforço de se atingir objetividade científica nos estudos literários, defendida, por exemplo, pelos estudos com viés determinista, influenciados pelo positivismo. Contra a imprecisão e o subjetivismo de interpretações impressionistas, começaram a ganhar força correntes de postura rigorosa, atenta à imanência do texto. 1.2 Os formalistas russos e a literariedade Já no início do século XX, os formalistas russos propuseram o olhar para a realidade material do texto, definindo a literatura como uma organização particular da linguagem. Vitor Chklovski (1893-1984) apontou que a arte em geral deve causar estranhamento. Segundo ele, a obra literária, por meio da aplicação de técnicas e artifícios, deve ser algo original e singular, de modo a modificar a percepção do leitor. Em sua essência, o formalismo foi a aplicação da linguística ao estudo da literatura; e como a linguística em questão era do tipo formal, preocupada com as estruturas da linguagem e não com o que ela de fato poderia dizer, os formalistas passaram ao largo da análise do "conteúdo" literário (instância em que sempre existe a tendência de recorrer à psicologia ou à sociologia) e dedicaram-se ao estudo da forma literária. (EAGLETON, 2006, p.16). Os formalistas russos, na verdade, não procuravam definir a literatura, mas a literariedade. Nas palavras de Roman Jakobson (1896-1982), “o objeto do estudo literário não é a literatura, mas a literariedade, isto é, aquilo que torna determinada obra uma obra literária” (apud SOUZA, 2018, p.23). Ela estaria no uso dos artifícios de linguagem, que provocariam estranheza, distanciando a linguagem literária da linguagem comum. Esses artifícios incluem sons, imagens, ritmo, sintaxe, métrica, rima e técnicas narrativas. Na fala cotidiana, as nossas percepções da realidade tornam-se automatizadas; a linguagem literária atua no sentido da “desfamiliarização”. Para Roman Jakobson, a literatura é a escrita que representa “uma violência organizada contra a fala comum” (EAGLETON, 2006, p.3). Material Específico – Letras – Tomo XVIII – CQA/UNIP 16 Os formalistas não consideravam a forma como a expressão do conteúdo. Para eles, o conteúdo era simplesmente a "motivação" da forma, uma ocasião ou pretexto para um tipo específico de exercício formal. 1.3 O cânone literário Cânone é o conjunto de textos tidos como clássicos da literatura ocidental, considerados esteticamente superiores (SOUZA, 2018). Em outros termos, trata-se de obras/autores que, por seu valor literário, devem ser lidos por quem se interessa por literatura. Isso significa que o cânone integra, tradicionalmente, o conteúdo estudado nas escolas. Como aponta o texto 1 da questão 5, o processo de canonização “não pode ser isolado dos interesses dos grupos que foram responsáveis por sua constituição, e, no fundo, o cânon reflete estes valores e interesses de classe” (REIS, 1992). A existência desse conjunto pressupõe a universalidade de valores, pois se julga que determinadas obras apresentam qualidade estética e são capazes de expressar as experiências humanas independentemente da época e do lugar de sua produção. Assim, por exemplo, estudantes brasileiros do século XXI devem conhecer obras como “Os Lusíadas”, de Camões, ou “Hamlet”, de Shakespeare. Recentemente, com o surgimento de novas abordagens nos estudos literários, a constituição e a adoção do cânone têm sido contestadas. O crescimento dos Estudos Culturais tem exercido importante papel no fato de a literatura ensinada hoje incluir obras de grupos historicamente marginalizados. Autores dessa corrente apresentam críticas ao universalismo e propõem o relativismo cultural e a ênfase no particular. Essa perspectiva permite compreender, por exemplo, o compositor Bob Dylan como ganhador do Prêmio Nobel de Literatura em 2016. Celso Frederico relata como essa discussão tem ganhado relevo. A defesa do cânon ocasionou uma ilustrativa polêmica na Universidade de Stanford. Um dos professores da escola, preocupado com a preservação da cultura ocidental, propôs uma mudança na grade curricular para garantir um ano de estudos dedicados à leitura de 15 obras de pensadores clássicos (Platão, Homero, Dante etc.). Levada a um plebiscito, a proposta foi derrotada e em seu lugar foi aprovada outra que privilegiava as obras das culturas não ocidentais, bem como a literatura produzida por mulheres, afroamericanos, hispânicos, asiáticos e aborígenes americanos. (FREDERICO, 2020, p.8) Material Específico – Letras – Tomo XVIII – CQA/UNIP 17 O autor ainda aponta que a palavra cânon surgiu como regra estabelecida por um conselho eclesiástico ou como “conjunto de livros da Bíblia aceitos pela Igreja como genuínos e inspirados”, o que já a torna suspeita de autoritarismo. Deve-se observar, ainda, que as produções do chamado Terceiro Mundo tendem a ficar em posição de inferioridade quando se estabelece uma “alta cultura ocidental”. Dessa forma, entende-se que a postura da desconstrução pós-colonial tenha reagido ao cânone. Celso Frederico comenta o caso exposto na questão 6, afirmando que a resposta do aluno aborda as ideias de Foucault, referentes à presença nos micropoderes na malha social, e a defesa de que o universalismo desconsidera outras culturas. Perguntado por que o texto de Drummond era considerado um texto literário, respondeu: “é literato porque vocês afirmam que é, e eu não concordo. Acho ele um chato. Por que Zé Ramalho não é literatura? Ambos são poetas, não é verdade?” Sem muita consciência, ele exprimiu a suspeita do saber/poder foucaultiano e o relativismo cultural… (FREDERICO, 2020, p.9) No caso do Brasil, observam-se reflexos do pensamento desconstrutivista nos Parâmetros Nacionais Curriculares para o Ensino Médio, que passaram a orientar o ensino de literatura também pela leitura de obras não canônicas e por outros gêneros textuais. Segundo Celso Frederico, até pouco tempo, esse ensino baseava-se em “critérios autoritários e arbitrários, fruto de ‘lutas classificatórias’ e das ‘legitimações sociais’ que valorizam determinadas obras (as canônicas), pois elas representariam o poder econômico e simbólico de certos grupos sociais” (FREDERICO, 2020, p.11). 3. Análise das afirmativas e das asserções Questão 3.I - Afirmativa incorreta. JUSTIFICATIVA. Os quadrinhos, ironicamente, questionam o fato de que a mera presença de um recurso estilístico torna o texto literário. Dessa forma, a linguagem utilizada, mesmo que explore recursos sonoros, não torna o cartum um gênero literário. II - Afirmativa correta. JUSTIFICATIVA. No texto apresentado no enunciado, Bakhtin cita o exemplo de Shakespeare, que “explorou e passou à sua obra os imensos tesouros de um sentido potencial que, em sua época, não podia ser descoberto nem compreendido em sua plenitude”. Nos quadrinhos, o Material Específico – Letras – Tomo XVIII – CQA/UNIP 18 diálogo das personagens, apesar da presença da aliteração, não é literário, pois o recurso não se articula ao plano de conteúdo, ou seja, não contribui para a expressão de algum pensamento. III - Afirmativa correta. JUSTIFICATIVA. O diálogo das personagens é marcado pela aliteração, que é um recurso sonoro que, na poesia, pode ter efeito de desautomatizar a linguagem, conferindo ritmo ao plano da expressão. Alternativa correta: D. Questão 4. I - Afirmativa correta. JUSTIFICATIVA. As definições sobre o que torna um texto literário não são estáticas. II - Afirmativa correta. JUSTIFICATIVA. Como afirma Reis, no texto 2 do enunciado, o reconhecimento de texto como literário, por uma comunidade, depende da construção de um ato discursivo próprio. Esse discurso está atrelado aos aspectos sócio-históricos. Relação entre as asserções. A consideração dos aspectos extrínsecos ao texto implica que não basta a simples análise dos recursos linguísticos. Alternativa correta: A. Questão 5. I - Asserção falsa. JUSTIFICATIVA. Considerando a discussão sobre o cânone proposta pelo texto 1 do enunciado, a substituição de “gêneros maiores” por “gêneros menores” (a simples existência de um conjunto de obras canônicas) “reduplica as relações injustas que compartimentam a sociedade”. Material Específico – Letras – Tomo XVIII – CQA/UNIP 19 II - Asserção falsa. JUSTIFICATIVA. A existência do cânon não promove a valorização justa das obras. Como afirma o texto 1, o cânon reflete valores e interesses de classe. Alternativa correta: E. Questão 6. Quando o aluno, durante a atividade, considera que a obra de Drummond é literatura porque os professores assim afirmam, ele faz referência ao que se entende por obras canônicas e ao poder de quem as classifica assim. Alternativa correta: C. 3. Indicações bibliográficas ● COMPAGNON, A. O demônio da teoria: literatura e senso comum. Belo Horizonte: UFMG, 2003. ● EAGLETON, T. Teoria da literatura: uma introdução. São Paulo: Martins Fontes, 2006. ● FREDERICO, C. Estudos culturais e crítica literária. A terra é redonda, 2020, disponível em <https://aterraeredonda.com.br/estudos-culturais-e-critica-literaria/>. Acesso em 10 ago. 2021. ● LAJOLO, M. O que é literatura. São Paulo: Brasiliense. ● REIS, C. O conhecimento da literatura: introdução aos estudos literários. 2. ed. Coimbra: Almedina, 2001. ● SARTRE, J. P. O que é a literatura? Petrópolis: Vozes, 2015. ● SOUZA, R. A. Teoria da literatura. Trajetória, fundamentos, problemas. São Paulo: É Realizações, 2018. Material Específico – Letras – Tomo XVIII – CQA/UNIP 20 Questões 7, 8, 9 e 10 Questão 7.7 Tanto a fala como a escrita se dão num contínuo de variações, surgindo saí semelhanças e diferenças ao longo de dois contínuos sobrepostos, tal como ilustra a figura a seguir. MARCUSCHI, L. A. Oralidade e escrita. Signótica, n.9, p.137, 1997 (com adaptações). Considerando o exposto, avalie as afirmativas a seguir. I. Ao comparar o texto de uma exposição acadêmica com o de uma conversação espontânea, percebe-se que, embora os dois sejam representantes da linguagem oral, o primeiro apresenta características muito próximas da linguagem escrita. II. A proposta de perceber a fala e a escrita por meio de um contínuo reafirma a necessidade de que sejam referendadas algumas dicotomias entre essas duas modalidades, tais como: descontextualização (na fala) x contextualização (na escrita), não planejamento (na fala) x planejamento (na escrita). III. De acordo com o contínuo apresentado, está equivocada a perspectiva teórica que considera a fala como dialogada e a escrita como monologada, já que o diálogo e o 7Questão 29 - Enade 2017 - Bacharelado. Material Específico – Letras – Tomo XVIII – CQA/UNIP 21 monólogo correspondem a formas de textualização presentes nas duas modalidades de língua. É correto o que se afirma em A. I, apenas. B. II, apenas. C. I e III, apenas. D. II e III, apenas. E. I, II e III. Questão 8.8 TEXTO 1 Combina as linguagens verbal e visual, que tornam a comunicação rápida, conquistando leitores de todas as idades como meio de diversão. A palavra e a imagem, em geral e na prática, possuem o mesmo peso, o que torna o ritmo da leitura mais acelerado ainda. Utiliza alguns recursos icônico- verbais próprios ou muito recorrentes, com uma morfossintaxe e sintaxe discursivas específicas: o desenho, o requadro ou vinheta, o balão, a figura, o uso de onomatopeias e de legendas, a elipse, a página ou prancha, conjugando discurso verbal e pictogramas. COSTA, S. R. Dicionário de gêneros textuais. Belo Horizonte: Autêntica editora, 2008 (com adaptações). TEXTO 2 Geralmente com três ou quatro quadros, apresenta um texto sincrético que alia o verbal e o visual no mesmo enunciado e sob a mesma enunciação. Circula em jornais ou revistas, numa só faixa horizontal de mais ou menos 14 cm x 4 cm, em geral no caderno de diversões, amenidades ou também conhecido como recreativo, onde se podem encontrar cruzadas, horóscopo etc. COSTA, S. R. Dicionário de gêneros textuais. Belo Horizonte: Autêntica editora, 2008 (com adaptações). Os textos 1 e 2 apresentam a definição de dois gêneros textuais distintos. Levando em consideração os elementos estruturadores de cada um dos gêneros definidos, sua função e circulação, é correto afirmar que as definições correspondem, respectivamente, a A. um anúncio e uma caricatura. B. uma caricatura e uma HQ. C. uma charge e um anúncio. D. uma tirinha e uma charge. E. uma HQ e uma tirinha. 8Questão 28 - Enade 2017 - Bacharelado. Material Específico – Letras – Tomo XVIII – CQA/UNIP 22 Questão 9.9 TEXTO 1 Em nosso dia a dia, no contato com outras pessoas e com as diversas informações que recebemos, estamos expostos a várias situações comunicativas, cada uma situada em seu devido contexto. Na escrita e na fala, existem algumas estruturas padronizadas que recebem o nome de gêneros textuais. No simples ato de abrir um jornal ou uma revista, já estamos expostos aos diversos: nesses dois meios de comunicação é possível encontrar artigos, cartas de leitor, artigos de opinião, notícias, reportagens, charges, tirinhas, ensaios, e-mails e tantos outros textos que se adequam às necessidades de quem os escreve, apresentando finalidades distintas e definidas. Assim são os gêneros, eles existem em grande quantidade justamente porque as práticas sociocomunicativas são dinâmicas e variáveis. Disponível em <http://brasilescola.uol.com.br>. Acesso em 7 jul. 2017 (com adaptações). TEXTO 2 As reflexões teóricas sobre a noção de gênero do discurso (ou de texto, conforme a perspectiva) têm sido ampliadas em vários campos de estudo e assumem especial importância para a metodologia do ensino e da aprendizagem da língua portuguesa, considerando os objetivos atualizados nas propostas curriculares contemporâneas. FURLANETTO, M.M. Gênero do discurso como componente do arquivo em Dominique Mangueneau. In: MEREU, A.B.; BONINI, A.; MOTTA-ROTH, D. Gêneros: teorias, métodos, debates. São Paulo: Parábola, 2005 (com adaptações). Considerando os textos apresentados, avalie as afirmativasa seguir. I. Os gêneros textuais são formas relativamente estáveis de um enunciado, determinadas sócio-historicamente. II. Os gêneros textuais possuem características específicas, que dependem dos usuários da linguagem e das necessidades em sua comunicação. III. O leitor/produtor de textos é um usuário proficiente da linguagem à medida que recorre aos gêneros textuais para, em diferentes situações comunicativas, externalizar os sentidos dos textos que lê ou produz. É correto o que se afirma em A. I, apenas. B. II, apenas. C. I e III, apenas. D. II e III, apenas. E. I, II e III. 9Questão 26 - Enade 2017 - Bacharelado. Material Específico – Letras – Tomo XVIII – CQA/UNIP 23 Questão 10.10 TEXTO 1 Disponível em <http://www.pauloleminski.com.br>. Acesso em 15 jul. 2017 (com adaptações). TEXTO 2 Disponível em <https://twitter.com/marcelinofreire>. Acesso em 15 jul. 2017 (com adaptações). Com base nos textos 1 e 2, avalie as afirmativas a seguir. I. O texto 1 exemplifica uma forma literária poética de origem japonesa, o Haicai, que ganhou destaque nas obras de escritores brasileiros e cujas principais características são a concisão e a objetividade. II. Tanto o texto 1 quanto o texto 2 seguem a recomendação de serem construídos com o máximo de 140 caracteres, o que demonstra que o estabelecimento de limites formais não interfere no processo de produção literária. III. O texto 2 representa um tipo de construção e publicação literária realizada na internet, a twitteratura, e estabelece uma relação entre a literatura publicada por meio de um suporte impresso e a experiência estética que surge com a utilização do twitter, uma das redes sociais da atualidade. 10Questão 32 - Enade 2017 - Bacharelado. Material Específico – Letras – Tomo XVIII – CQA/UNIP 24 É correto o que se afirma em A. I, apenas. B. II, apenas. C. I e III, apenas. D. II e III, apenas. E. I, II e III. 1. Introdução teórica 1.1. Fala e escrita Fala e escrita são práticas sociais fundamentais à humanidade. Trata-se de duas modalidades de uso da língua que apresentam semelhanças e diferenças. A fala é desenvolvida em contextos informais do cotidiano. A escrita, por sua vez, é aprendida em contextos formais, normalmente escolares, o que implica um caráter prestigioso como bem cultural desejável. Tradicionalmente, os estudos linguísticos sobre fala e escrita baseiam-se em dicotomias, expressas no quadro a seguir. MARCUSCHI, L. A. Oralidade e escrita. Signótica, n.9, 1997, p.127. Segundo Marcuschi, essa perspectiva oferece um primeiro modelo que pode ser caracterizado como a visão imanentista que deu origem à maioria das gramáticas pedagógicas que se acham hoje em uso. Sugere dicotomias estanques com separação entre forma e conteúdo, separação entre língua e uso e toma a língua como sistema de regras, o que conduziu o ensino de língua ao ensino de regras gramaticais. (MARCUSCHI, 1997, p.127) O autor defende que “as diferenças entre fala e escrita se dão dentro do continuum tipológico das práticas sociais de produção textual e não na relação dicotômica de dois polos Material Específico – Letras – Tomo XVIII – CQA/UNIP 25 opostos” (MARCUSCHI, 1997, p.136). Disso, surge um conjunto de variações, não uma simples variação linear. O gráfico apresentado no enunciado expressa essa concepção. A seguir, temos uma versão genérica dele. MARCUSCHI, L. A. Oralidade e escrita. Signótica, n.9, 1997, p.136. No gráfico, observa-se que a fala e a escrita acontecem em dois contínuos; na linha dos diversos tipos de texto e na linha das características específicas de cada modalidade. Segundo o autor, o contínuo tipológico distingue e correlaciona os textos de cada modalidade quanto às estratégias de formulação textual que determinam o contínuo das características que distinguem as variações das estruturas, seleções lexicais etc. Tanto a fala como a escrita se dão num contínuo de variações, surgindo daí semelhanças e diferenças ao longo de dois contínuos sobrepostos. (MARCUSCHI, 1997, p.137) 1.2 Gêneros textuais Os gêneros textuais são classificações que pretendem identificar características comuns a textos que têm determinado objetivo em uma situação comunicativa. De acordo com Marcuschi, os gêneros textuais são fenômenos históricos, profundamente vinculados à vida cultural e social. Fruto de trabalho coletivo, os gêneros contribuem para ordenar e estabilizar as atividades comunicativas do dia a dia. São entidades sociodiscursivas e formas de ação social incontornáveis em qualquer situação comunicativa. No entanto, mesmo apresentando alto poder preditivo e interpretativo das ações humanas em qualquer contexto discursivo, os gêneros Material Específico – Letras – Tomo XVIII – CQA/UNIP 26 não são instrumentos estanques e enrijecedores da ação criativa. (MARCUSCHI, 2002, p.21) Não se deve confundir o conceito de tipo textual com o de gênero. Marcuschi (2002, p.21) explica que o tipo textual se refere a “uma espécie de construção teórica definida pela natureza linguística de sua composição (aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais, relações lógicas)”. O gênero textual, por sua vez, seria “uma noção propositalmente vaga para referir os textos materializados que encontramos em nossa vida diária e que apresentam características sociocomunicativas definidas por conteúdos, propriedades funcionais, estilo e composição característica”. Essas distinções estão expressas na tabela a seguir. MARCUSCHI, L. A. Gêneros textuais: definição e funcionalidade, 2002, p. 23. 2. Resolução das questões Questão 7. O contínuo apresentado por Marcuschi mostra que gêneros da fala apresentam diferenças entre si. Uma exposição acadêmica aproxima-se, em sua linguagem e em sua estrutura, de um texto escrito. O autor, com esse quadro, mostra a falibilidade dos modelos dicotômicos, que prevaleceram nos estudos linguísticos por muito tempo. Uma dessas dicotomias refere- Material Específico – Letras – Tomo XVIII – CQA/UNIP 27 se ao monólogo, apontado como característica da escrita, e ao diálogo, apontado como característica da fala. Alternativa correta: C. Questão 8. Uma HQ e uma tirinha apresentam vários elementos constitutivos em comum, mas o tamanho é uma das diferenças. A tirinha, que normalmente tem como suporte o jornal, apresenta três ou quatro quadros. Alternativa correta: E. Questão 9. Nas palavras de Marcuschi, “os gêneros textuais são fenômenos históricos, profundamente vinculados à vida cultural e social. Fruto de trabalho coletivo, os gêneros contribuem para ordenar e estabilizar as atividades comunicativas do dia a dia”. Alternativa correta: E. Questão 10. O haicai é uma forma literária poética, de origem japonesa, que apresenta a concisão como característica. De acordo com Angélica Soares (2007, p.33), o haicai “é composto por três versos, somando dezessete sílabas, o primeiro e o terceiro com cinco e o segundo com sete”. Não tem como limite o uso de 140 caracteres, que é uma das características de textos publicados na rede social Twitter. Microcontos publicados em rede receberam o nome de twitteratura. Alternativa correta: C. 3. Indicações bibliográficas ● COSTA, S. R. Dicionário de gêneros textuais. Belo Horizonte: Autêntica editora, 2008. Material Específico – Letras – Tomo XVIII – CQA/UNIP 28 ● MARCUSCHI, L. A. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: DIONÍSIO, A. P.; MACHADO, A. R.; BEZERRA, M. A. (Orgs.). Gêneros textuais & ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002. p. 19-36. ● MARCUSCHI, L. A. Oralidade e escrita. Signótica, n.9, 1997. ● SOARES, A. Gêneros literários. São Paulo: Ática, 2007.Material Específico – Letras – Tomo XVIII – CQA/UNIP 29 ÍNDICE REMISSIVO Questão 1 Multimodalidades de linguagem e ensino. Questão 2 Discurso literário e discurso jornalístico. Questão 3 Linguagem e recursos literários. Conceitos de Literatura. Questão 4 Texto e linguagem literária. Conceitos de Literatura. Questão 5 Cânone e novas formas literárias. Questão 6 Cânone e conceitos de Literatura. Questão 7 Oralidade e escrita. Questão 8 Gêneros textuais. Questão 9 Gêneros textuais. Questão 10 Gêneros textuais. Haicai e microconto.
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