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UNIVERSIDADE VALE DO ACARAÚ CURSO: História DISCIPLINA: Hist. Moderna II PROF. Dr.: Denis Melo ALUNA: Amanda Freire Mesquita As flores do mal – Charles Baudelaire O RELÓGIO Relógio! Deus sinistro, hediondo, indiferente, Que nos aponta o dedo em riste e diz: “Recorda! A Dor vibrante que a lama em pânico te acorda Como num alvo há de encravar-se brevemente; Vaporoso, o Prazer fugirá no horizonte Como uma sílfide por trás dos bastidores; Cada instante devora os melhores sabores Que todo homem degusta antes que a morte o afronte. Três mil seiscentas vezes por hora, o Segundo Te murmura: Recorda! – E logo, sem demora, Com voz de inseto, a Agora diz: Eu sou o Outrora, E te suguei a vida com meu bulbo imundo! Remenber! Souviens-toi! Esto memor!(Eu falo Qualquer idioma em minha goela de metal.) Cada minuto é como uma ganga, ó mortal, E há que extrair todo o ouro até purificá-lo! Recorda: O Tempo é sempre um jogador atento Que ganha, sem furtar, cada jogada! É a lei. O dia vai, a noite vem; recordar-te-ei! Esgota-se a clepsidra; o abismo está sedento. Virá a hora em que o Acaso, onde quer que te aguarde, Em que a augusta Virtude, esposa ainda intocada, E até mesmo o Remorso(oh, a última pousada!) Te dirão: Vais morrer, velho medroso! É tarde! O Livro “As flores do mal” do francês Charles Baudelaire, publicado pela primeira vez em 1887, é considerado como uma transição do “romantismo” pra o que se pode chamar de “Simbolismo literário”. Por questões consideradas “fora da moral e dos bons costumes” alguns poemas sofreram censura e foram tirados da publicação. Em meio às transformações que passava a sociedade Francesa da época, o desenvolvimento das cidades e do capitalismo vai influenciar sua escrita. Assim, o tema principal de seus poemas é a cidade, como, por exemplo, no trecho do poema “OS SETE VELHOS” onde ela expressa sua visão e descrição de Paris: “ A Vitor Hugo Cidade formigante, e que ao sonho se aviva, Em que o fantasma ao sol nos agarra o pescoço! O mistério por tudo é seiva que deriva Nos estreitos canais do poente colosso. No entanto, uma manhã em que na rua feia As casa, a que a névoa emprestava brancor, Simulavam dois cais de um rio em plena cheia, E em que, decoração como a da alma do ator, Suja e amarela bruma enchia todo o espaço, Eu ia, os nervos meus com heróicas tensões, E discutindo com meu espírito lasso, Pela viela a vibrar dos graves carroções.” (pág. 51) Vivendo como Boêmio, se apaixonando por uma garota de programa e tendo uma vida desregrada, o poeta tirou das ruas as suas inspirações, e dela também os seus sujeitos marginalizados, que continuando o poema dos sete velhos podemos percebe- los: (...) De repente um ancião cujas pobres sacolas Imitavam a cor de um céu a tempestear, A cujo aspecto só choveriam esmolas, Se não fosse o rancor que ardia em seu olhar, Surgiu tendo no fel suas pupilas molhadas; Enquanto aguça a neve, a das noites mais rudas, A sua barba imensa, esquia como espadas, Projetava-se assim como a barba de Judas. Não era curvo mas alquebrado, a sua espinha Dava com sua perna exato ângulo reto, Tanto que seu bastão, que o seu cariz sublinha, Ia-lhe dando o ar, como o passo incorreto, De um mórbido muar, de um judeu de três patas. Metias os membros seus na nevada e no lodo, Como quem está a pisar mortos com as sapatas, Lançando ao universo o arreganho do apôdo. Vinha outro: barba, olhar, costas, bastão, molambos, Eram em tudo iguais, do mesmo inferno oriundos, Centenários os dois, visões barrocas ambos, Iam com passo igual a misteriosos mundos. Tinha eu diante do olhar um enredo poluto, Ou era a humilhação de um acaso perverso? Sete vezes contei, de minuto em minuto, A multiplicação e velho tão diverso. (...) Baudelaire foi crítico de artes, foi o primeiro a cunhar “modernidade” para se referir ao período em que estava vivendo. Ele também traduziu “O corvo” de Edgar Allan Poe, escritor também de “O Homem na multidão”, que vai influenciar sua escrita. Outro grande artista que influencia Baudelaire é Constanti Guys ( 1802- 1892), na qual tece críticas em “O Pintor da Vida moderna”, dentre os assuntos sobre a beleza, a moda também o coloca o pintor como alguém em meio a multidão: A multidão é seu universo, como o ar é dos pássaros, como a agua, o dos peixes. Sua paixão e profissão é desposar a multidão. Para o perfeito flâneur, para o observador apaixonado, é um imenso júbilo fixar residência no numeroso, no ondulante, no movimento, no fugidio, no infinito. Estar fora de casa, e contudo sentir- se em casa onde quer que se encontre; Ver o mundo, estar no centro do mundo e permanecer oculto ao mundo, (...) (BAUDELAIRE, 1996. p. 18) MODERNIDADE EM BAUDELAIRE Ao comparar o artista com um flâneur, alguém em meio á multidão. Mais adiante ele espera mais do artista, como diz que o homem na qual descreveu tem o “objetivo mais elevado do que um simples flâneur” (p. 22), em que esse algo em que procura pode- se chamar “Modernidade”. Então, a Modernidade em Baudelaire é efêmera, é a capacidade de “extrair o eterno do transitório”. (BAUDELAIRE, 1996. p. 18) O HOMEM NA MULTIDÃO E A UMA MENDIGA RUIVA “O observador é um príncipe que frui por toda parte do fato de estar incógnito” 1 . Em o Homem da multidão, de Edgar Allan Poe, o observador que estava sentado no café D. começou a olhar pela janela e contemplar a multidão que se aglomerava fora do hotel, olhando de longe via apenas as muitas cabeças juntas, mas ao aproximar- se começou a observar a variedade de figura, roupas, ar, porte e expressão 2 . E, a partir das características delas, ele poderia saber sua classe social, profissão e ocupação: como, por exemplo, os jogadores – que são mais fáceis de identificar-, com trajes variados, coletes de veludo, o lenço no pescoço, as correntes de ouro e os botões enfeitados. (p.2) Ainda olhando a multidão, viu um homem que chamou sua atenção, um velho de, aproximadamente, sessenta e cinco anos, que o deixou fascinado pelas suas expressões. O observador pôs- se a analisar a figura e a acompanhar - lo pela cidade. O sujeito tinha trajes rasgados e sujos. O homem que sozinho caminhava pela multidão não se deu conta do observador, que ao longo do percurso seguindo aquele homem estranho também observava a cidade, os prédios, as luzes, seus moradores diversos. Por fim, o homem da multidão não tinha destino certo, no outro dia caminhava novamente pela cidade entre as pessoas e sem nenhuma pretensão. A UMA MENDIGA RUIVA Ruiva e branca a aparecer, Cuja roupa deixar ver Por seus rasgões a pobreza Como a beleza, A mim, poeta sofredor, Teu corpo de um mal sem cura Todo manchas de rubor, Só tem doçura. E calças (muito mais bela Que a Rainha da Novela Com os seus coturnos brancos) Os teus tamancos. Em vez de molambos, mal Não teiria a roupa real, Cegando as ondulações Até os talões; Em vez de meia de crivos, Para os olhos dos lascivos Um punhal na perna linda Brilhasse ainda; E laços mal apertados Mostrem aos nossos pecados Os teus seios a brilhar Como um olhar; Para seres desnudada Tu te faças de rogada. Possam expulsar teus braços Dedos devassos; Pérolas formosas, ou Poema do mestre Belleau Que os galantes na prisão Sempre te dão, A chusma dos rimadores Dedicando-te primores, Contemplando-te o escarpim No varandim, Muito pagem a sonhar E muito senhor Ronsard Olhariam com sigilo Teu fresco asilo! No leito dos teus delírios Terás mais beijos que lírios Tua lei dominará Mais de um Valois! Porém segue a tua lida, Só por sobras de comida Jogadas por distanciadas Encruzilhadas; E só quer teu sonho louco Jóias que valem bem pouco Que eu nem posso, ó Deus clemente, Dar de presente. Nada te orna neste instante, Perfume, rubim, diamante, Só tua nua magreza! Minha beleza! A uma mendiga ruiva, pobre e bela. Com manchas na pele, que não tirava sua beleza e que sonhava em ter a roupa da rainha da novela, na qual cairia bem nela. A tensão sensual do seu corpo que terá mais beijos do que lírios. Ganhando poemas dos rimadores e dos belos homens da prisão. A pobreza e a busca por comida a fez sonhar em ser rica, mas sem dinheiro não usava perfume, nem rubi, e nem diamante, só tinha a magreza! Minha a beleza? Como uma de suas marcas, Baudelaire traz um sujeito marginalizado da sociedade, fala de seus trajes, expressão, sua beleza que é outro tema recorrente em sua poesia. Os dois textos são diferentes, mas podem ser correlacionados. Em ambos tem a descrição dos sujeitos, suas roupas, suas vidas parecidas. O homem na multidão e a Mendiga Ruiva são sujeitos da cidade, criados por ela, e suas vidas são esquecidas em meio ao cotidiano apressado e caótico das cidades em desenvolvimento. Suas existências são apagadas da história, não tem rosto, nem vida. NOTAS 1. BAUDELAIRE, Charles. Sobre a Modernidade: O pintor da vida moderna. (Organizador Teixeira Coelho). Rio de Janeiro: Paz e terra, 1996- Coleção literatura). 2. POE, Edgar A. O Homem na multidão. Tradução de Dorothée de Bruchard. Edição Bilíngue. Porto Alegre: Paraula, 1993, 51p. BIBLIOGRAFIA BAUDELAIRE, Charles. As flores do mal. Quadros Parisienses. TRADUÇÃO: Mário Laranjeira. São Paulo: Martin Claret. POE, Edgar A. O Homem na multidão. Tradução de Dorothée de Bruchard. Edição Bilíngue. Porto Alegre: Paraula, 1993, 51p. BAUDELAIRE, Charles. Sobre a Modernidade: O pintor da vida moderna. (Organizador Teixeira Coelho). Rio de Janeiro: Paz e terra, 1996- Coleção literatura). GATTI, Luciano. Experiência da transitoriedade: Walter Bejamin e a modernidade de Baudelaire. KRITERION, Belo Horizonte, nº 119, jun./2009, p159- 178. SITES: https://cultura.estadao.com.br/blogs/estado-da-arte/baudelaire-e-a-moda/ https://www.portalsaofrancisco.com.br/obras-literarias/poesias-charles-baudelaire http://leoleituraescrita.blogspot.com/2010/11/uma-mendiga-ruiva-baudelaire.html https://www.infoescola.com/biografias/charles-baudelaire/ http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/reh/article/view/2008/1147 YOUTUBE O corvo- https://www.youtube.com/watch?v=YhVeNJc7IZ0 O homem da multidão- https://www.youtube.com/watch?v=YhVeNJc7IZ0 https://www.youtube.com/watch?v=ltwzkoucn60 https://cultura.estadao.com.br/blogs/estado-da-arte/baudelaire-e-a-moda/ https://www.portalsaofrancisco.com.br/obras-literarias/poesias-charles-baudelaire http://leoleituraescrita.blogspot.com/2010/11/uma-mendiga-ruiva-baudelaire.html https://www.infoescola.com/biografias/charles-baudelaire/ http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/reh/article/view/2008/1147 https://www.youtube.com/watch?v=YhVeNJc7IZ0 https://www.youtube.com/watch?v=YhVeNJc7IZ0 https://www.youtube.com/watch?v=ltwzkoucn60