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1 Texto 1 DIDÁTICA: UMA RETROSPECTIVA HISTÓRICA ILMA PASSOS ALENCASTRO VEIGA A retrospectiva histórica da Didática abrange duas partes: na primeira é abordado o papel da disciplina antes de sua inclusão nos cursos de formação de professores a nível superior, compreendendo o período que vai e 1549 até 1930; a segunda parte procura reconstituir a trajetória da Didática a partir da década de 30 até os dias atuais. São destacados os aspectos sócio-econômicos, políticos e educacionais que servem de pano de fundo para identificar as propostas pedagógicas presentes na educação, bem como os enfoques do papel da Didática. 1. Primórdios da Didática: O período de 1549 / 1930 Os jesuítas foram os principais educadores que quase todo o período colonial, atuando, aqui no Brasil, de 1549 a 1759. No contexto de uma sociedade de economia agrário-exportadora-dependente, explorada pela Metrópole, a educação não era considerada um valor social importante. A tarefa educativa estava voltada para a catequese e instrução dos indígenas, mas, para a elite colonial, outro tipo de educação era oferecido. O plano de instrução era consubstanciado no Ratio Studiorum, cujo ideal era a formação do homem universal, humanista e cristão. A educação se preocupava com o ensino humanista de cultura geral, enciclopédico e alheio à realidade da vida de Colônia. Esses eram os alicerces da Pedagogia Tradicional na vertente religiosa que, de acordo com SAVIANI (1984, p. 12), é marcada por uma “visão essencialista de homem, isto é, o homem constituído por uma essência universal e imutável”. A essência humana é considerada criação divina e, assim, o homem deve se empenhar para atingir a perfeição, “para fazer por merecer a dádiva da vida sobrenatural”. (Ibid., p. 12). A ação pedagógica dos jesuítas foi marcada pelas formas dogmáticas de pensamento, contra o pensamento crítico. Privilegiam o exercício da memória e do desenvolvimento do raciocínio; dedicavam atenção ao preparo dos padres-mestres, dando ênfase à formação do caráter e sua formação psicológica para conhecimento de si mesmo e do aluno. Desta forma, não se poderia pensar em uma prática pedagógica e muito menos em uma Didática que buscasse uma perspectiva transformadora na educação. Os pressupostos didáticos no “Ratio” enfocavam instrumentos e regras metodológicas compreendendo o estudo privado, em que o mestre prescrevia o método de estudo, a matéria e o horário; as aulas, ministradas de forma expositiva; a repetição visando repetir, decorar e expor em aula; o desafio, estimulando a competição; a disputa, outro recurso metodológico era visto como uma defesa de tese. Os exames eram orais e escritos, visando avaliar o aproveitamento do aluno. O enfoque sobre o papel da Didática, ou melhor, da Metodologia de Ensino, como é denominada no Código pedagógico dos jesuítas, está centrado no seu caráter meramente 2 formal, tendo por base o intelecto, o conhecimento e marcado pela visão essencialista de homem. A Metodologia de Ensino (Didática) é entendida como um conjunto de regras e normas prescritivas visando a orientação do ensino e do estudo. Como afirma PAIVA (1981, p. 11), “um conjunto de normas metodológicas referentes à aula, seja na ordem das questões, no ritmo do desenvolvimento e seja, ainda, no próprio processo de ensino”. Após os jesuítas, não ocorreram no país grandes movimentos pedagógicos, como são poucas as mudanças sofridas pela sociedade colonial e durante o Império e a República. A nova organização instituída por Pombal, pedagogicamente, representou um retrocesso. Professores leigos começaram a ser admitidos para as “aulas-régias” introduzidas pela reforma pombalina. Por volta de 1870, época de expansão cafeeira e da passagem de um modelo agrário-exportador para um urbano-comercial-exportador, o Brasil vive o seu período de “iluminismo”. Segundo SAVIANI (1984, p. 275), “tomam corpo movimentos cada vez mais independentes da influencia religiosa”. No campo educacional, suprimi-se o ensino religioso nas escolas públicas, passando o estado a assumir a laicidade. É aprovada a reforma de Benjamim Constant (1890) sob a influencia do positivismo. A escola busca disseminar uma visão burguesa de mundo e sociedade, a fim de garantir a consolidação da burguesia industrial como classe dominante. Os indicadores de penetração da Pedagogia Tradicional em sua vertente são os Pareceres de Rui Barbosa, de 1882 e a primeira reforma republicana, a de Benjamin Constant, em 1890. Esta vertente leiga da Pedagogia Tradicional mantém a visão essencialista de homem, não como criação divina, mas aliada à noção de natureza humana, essencialmente racional. Essa vertente inspirou a criação da escola pública, laica, universal e gratuita. (SAVIANI, 1984, p. 274). A essa teoria pedagógica correspondiam as seguintes características: a ênfase ao ensino humanístico de cultura geral, centrada no professor, que transmite a todos os alunos indistintamente a verdade universal e enciclopédica; a relação pedagógica que se desenvolve de forma hierarquizada e verticalista, onde o aluno é educado para seguir atentamente a exposição do professor; o método de ensino, calcado nos cinco passos formais de Herbart (preparação, apresentação, comparação, assimilação, generalização e aplicação). É assim que a Didática, no bojo da Pedagogia Tradicional leiga, está centrada no intelecto, na essência, atribuindo um caráter dogmático aos conteúdos; os métodos são princípios universais e lógicos; o professor se torna o centro do processo de aprendizagem, concebendo o aluno como um ser receptivo e passivo. A disciplina é a forma de garantir a atenção, o silêncio e a ordem. A Didática é compreendida como um conjunto de regras, visando assegurar aos futuros professores as orientações necessárias ao trabalho docente. A atividade docente é entendida como inteiramente autônoma face à política, dissociada das questões entre escola e sociedade. Uma Didática que separa teoria e prática. A Pedagogia tradicionalista leiga refletia-se nas disciplinas de natureza pedagógica 3 do currículo das Escolas Normais desde o início de sua criação, em 1835. A inclusão da Didática como disciplina em cursos de formação de professores para o então ensino secundário, ocorreu quase um século depois, ou seja, em 1934. 2. A Didática nos Cursos de Formação de Professores a partir de 1930 2.1. O período de 1930/1945: A Didática é tradicional, cumpre renová-la Na década de 30, a sociedade brasileira sofre profundas transformações, motivadas basicamente pela modificação do modelo sócio-econômico. A crise mundial da economia capitalista provoca no Brasil a crise cafeeira, instalando-se o modelo sócio- econômico de substituição de importações. Paralelamente, desencadea-se o movimento de reorganização das forças econômicas e políticas o que resultou em um conflito: a Revolução de 30, marco comu- mente empregado para indicar o início de uma nova fase na história da República do Brasil. No âmbito educacional, durante o governo revolucionário de 1930, Vargas constitui o Ministério de Educação e Saúde Pública. Em 1932 é lançado o Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova, preconizando a reconstrução social da escola na sociedade urbana e industrial. Entre os anos de 1931 e 1932 efetivou-se a Reforma Francisco Campos. Organiza-se o ensino comercial; adota-se o regime universitário para o ensino superior, bem como organiza-se a primeira univesidade brasileira. A Faculdade de Filosofia Ciências e Letras da Universidade de São Paulo foi o primeiro instituto de ensino superior que funcionou de acordo com o modelo Francisco Campos. A origem da Didática como disciplina dos cursos de formação de professores a nível superior está vinculada à criação da referida Faculdade, em 1934, sabendo-se que a qualificação do magistério era colocada como pontocentral para a renovação do ensino. No início, a parte pedagógica existente nos cursos de formação de professores era realizada no Instituto de Educação, sendo aí incluída a disciplina “Metodologia do Ensino Secundário”, equivalente à Didática hoje nos cursos de licenciatura. Por força do art. 20 do Decreto-Lei no 1190/39, a Didática foi instituída como curso e disciplina, com duração de um ano. A legislação educacional foi introduzindo alterações para, em 1941, o curso de Didática ser considerado um curso independente, realizado após o término do bacharelado (esquema três + um). Em 1937, ao se consolidar no poder com auxílio de grupos militantes e apoiado pela classe burguesa, Vargas implanta o Estado Novo, ditatorial, que persistiu até 1945. Os debates educacionais são paralisados e o “prestígio dos educadores passa a condicionar-se às respectivas posições políticas”, como afirma PAIVA (1973, p. 125). O período situado entre 1930 e 1945 é marcado pelo equilíbrio entre as influências da concepção humanista tradicional (representada pelos católicos) e humanista moderna (representada pelos pioneiros). Para SAVIANI (1985, p. 276) a concepção humanista moderna se baseia em uma “visão de homem centrada na existência, na vida, na atividade”. Há predomínio do aspecto psicológico sobre o lógico. O escolanovismo propõe um novo tipo de homem, defende os princípios democráticos, isto é, todos têm direito a assim se 4 desenvolverem. No entanto, isso é feito em uma sociedade dividida em classes, onde são evidentes as diferenças entre o dominador e as classes subalternas. Assim, as possibilidades de se concretizar este ideal de homem se voltam para aqueles pertencentes à classe dominante. A característica mais marcante do escolanovismo é a valorização da criança, vista como ser dotado de poderes individuais, cuja liberdade, iniciativa, autonomia e interesses devem ser respeitados. O movimento escolanovista preconizava a solução de problemas educacionais em uma perspectiva interna da escola, sem considerar a realidade brasileira nos seus aspectos político, econômico e social. O problema educacional passa a ser uma questão escolar e técnica. A ênfase recai no ensinar bem, mesmo que a uma minoria. Devido à predominância da influência da Pedagogia Nova na legislação educacional e nos cursos de formação para o magistério, o professor absorveu o seu ideário. Conseqüentemente, nesse momento, a Didática também sofre a sua influência, passando a acentuar o caráter prático-técnico do processo ensino-aprendizagem, onde teoria e prática são justapostas. O ensino é concebido como um processo de pesquisa, partindo do pressuposto de que os assuntos de que tratam o ensino são problemas. Para CANDAU (1982, p. 22), os métodos e técnicas mais difundidos pela Didática renovada são: “centros de interesse, estudo dirigido, unidades didáticas, métodos dos projetos, a técnica de fichas didáticas, o contrato de ensino, etc...”. A Didática é entendida como um conjunto de idéias e métodos, privilegiando a dimensão técnica do processo de ensino, fundamentada nos pressupostos psicológicos, psicopedagógicos e experimentais, cientificamente validados na experiência e constituídos em teoria, ignorando o contexto sócio-político-econômico. A Didática, assim concebida propiciou a formação de um novo perfil de professor: o técnico. 2.2. O período de 1945/1960: o predomínio das novas idéias e a Didática Esta fase corresponde à aceleração e diversificação do processo de substituição de importações e à penetração do capital estrangeiro. O modelo político é baseado nos princípios da democracia liberal com crescente participação das massas. É o Estado populista – desenvolvimentista, representando uma aliança entre empresariado e setores populares, contra a oligarquia. No fim do período, começa a delinear uma polarização, deixando entrever dois caminhos para o desenvolvimento: o de tendência populista e o de tendência antipopulista. Neste contexto, insere-se a educação. A política educacional, que caracteriza essa fase, reflete muito bem a “ambivalência dos grupos no poder” como destaca FREITAG (1979, p. 54). Em 1946, o Decreto-Lei no 9053 desobrigava o curso de Didática e, já sob a vigência da Lei Diretrizes e Bases, Lei 4024/61, o esquema de três mais um foi extinto pelo Parecer no 242/62, do Conselho Federal de Educação. A Didática perdeu seus qualificativos geral e especial e introduz-se a Prática de Ensino sob a forma de estágio supervisionado. Entre 1948-1961, desenvolvem-se lutas ideológicas em torno da oposição entre 5 escola particular e defensores da escola pública. A disseminação das idéias novas ganha mais força com a ação do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP). As escolas católicas se inserem no movimento renovador, difundindo o método de Montessori e Lubienska. Outros indícios renovadores começam a ser disseminados nessa década, entre os quais se destacam o Ginásio Orientado para o Trabalho (GOT), os Ginásios Pluricurriculares, os Ginásios Vocacionais. Paralelamente a essas iniciativas renovadoras que começaram a ser implantadas, um outro redirecionamento vinha sendo dado à escola renovada, fortemente marcada pela ênfase metodológica, que culminou com as reformas promovidas no sistema escolar brasileiro no período de 1968/1971. Por força do convênio celebrado entre o MEC/Governo de Minas Gerais – Missão de Operações dos Estados Unidos (PONTO IV) criou-se o PABAEE (Programa Americano Brasileiro de Auxílio ao Ensino Elementar), voltado para o aperfeiçoamento de professores do Curso Normal. Nesses cursos, começaram a ser introduzidos os princípios de uma tecnologia educacional importada dos Estados Unidos. Dado o seu caráter multiplicador, o ideário renovador-tecnicista foi-se difundindo. É importante frisar que, nesta fase, o ensino de Didática também se inspirava no liberalismo e no pragmatismo, acentuando a predominância dos processos metodológicos em detrimento da própria aquisição do conhecimento. A Didática se voltava para as variáveis do processo de ensino sem considerar o contexto político-social. Acentuava-se, desta forma, o enfoque renovador-tecnicista da Didática na esteira do movimento escolanovista. 2.3. O período pós-1964: os descaminhos da Didática O quadro que se instalou no país com o movimento de 1964 alterou a ideologia política, a forma de governo e, conseqüentemente, a educação. O modelo político-econômico tinha como característica fundamental um projeto desenvolvimentista que buscava acelerar o crescimento sócio-econômico do país. A educação desempenhava importante papel na preparação adequada de recursos humanos necessários à incrementação do crescimento econômico e tecnológico da sociedade de acordo com a concepção economicista de educação. O sistema educacional era marcado pela influência dos Acordos MEC/USAID, que serviram de sustentáculo às reformas do ensino superior e posteriormente do ensino de 1o e 2o graus. Por influência, também, dos educadores americanos foi implantada, pelo Parecer 252/69 e Resolução no 2/69 do Conselho Federal de Educação, a disciplina “Currículos e Programas”, nos cursos de Pedagogia, o que, de cerca forma, provocou a superposição de conteúdos da nova disciplina com a Didática. O período compreendido entre 1960 e 1968 foi marcado pela crise da Pedagogia Nova e articulação da tendência tecnicista, assumida pelo grupo militar e tecnocrata. O pressuposto que embasou esta pedagogia está na neutralidade científica, inspirada nos princípios de racionalidade, eficiência e produtividade. Buscou-se a 6 objetivação do trabalho pedagógico da mesma maneira que ocorreu no trabalho fabril. Instalou-se na escola a divisão do trabalho sob a justificativa de produtividade, propiciando a fragmentação do processo e, com isso, acentuando as distâncias entre quemplaneja e quem executa. A Pedagogia Tecnicista está relacionada com a concepção analítica de Filosofia da Educação, mas não como conseqüência sua. SAVIANI (1984, p. 179), explica que a concepção analítica “(...) não tem por objeto a realidade. Refere-se, pois, à clareza e consistência dos enunciados relativos aos fenômenos eles mesmos. (...) A ela cabe fazer a assepsia da linguagem, depurá-la de suas inconsistências e ambigüidades. Não é sua tarefa produzir enunciados e muito menos práticas”. A afinidade entre as duas encontra-se, não no plano das conseqüências, mas no plano dos pressupostos de objetividade, racionalidade e neutralidade. O enfoque do papel da Didática a partir dos pressupostos de Pedagogia Tecnicista procura desenvolver uma alternativa não psicológica, situando-se no âmbito da tecnologia educacional, tendo como preocupação básica a eficácia e a eficiência do processo de ensino. Essa Didática tem como pano de fundo uma perspectiva realmente ingênua de neutralidade científica. Neste enfoque, os conteúdos dos cursos de Didática centram-se na organização racional do processo de ensino, isto é, no planejamento didático formal, e na elaboração de materiais instrucionais, nos livros didáticos descartáveis. O processo é que define o que professores e alunos devem fazer, quando e como o farão. Na Didática Tecnicista, a desvinculação entre teoria e prática é mais acentuada. O professor torna-se mero executor de objetivos instrucionais, de estratégias de ensino e de avaliação. Acentua-se o formalismo didático através dos planos elaborados segundo normas pré-fixadas. A Didática é concebida como estratégia para o alcance dos produtos previstos para o processo ensino-aprendizagem. A partir de 1974, época em que tem inicio a abertura gradual do regime político autoritário instalado em 1964, surgiram estudos empenhados em fazer a crítica da educação dominante, evidenciando as funções reais da política educacional, acobertada pelo discurso político-pedagógico oficial. Tais estudos foram agrupados e denominados por SAVIANI (1983, p. 19) de “teorias crítico-reprodutivistas”, que, apesar de considerar a educação a partir dos seus aspectos sociais, concluem que sua função primordial é a de reproduzir as condições sociais vigentes. Elas se empenham em fazer a denúncia do caráter reprodutor da escola. Há uma predominância dos aspectos políticos, enquanto as questões didático-pedagógicas são minimizadas. Em conseqüência, a Didática passou também a fazer o discurso reprodutivista, ou seja, a apontar o seu conteúdo ideológico, buscando sua desmistificação de certa forma relevante, porém relegando a segundo plano sua especificidade. CANDAU (1982, p. 28) afirma que: “(...) junto com esta postura de denúncia e de explicitação do compromisso com o ‘status quo’ do técnico aparentemente neutro, alguns autores chegaram à negação da própria 7 dimensão técnica da prática docente”. Sob esta ótica, a Didática nos cursos de formação de professores passou a assumir o discurso sociológico, filosófico e histórico, secundarizando a sua dimensão técni- ca, comprometendo, de certa forma, a sua identidade, acentuando uma postura pessimista e de descrédito relativo à sua contribuição quanto à prática pedagógica do futuro professor. Contudo pode-se perceber que se, de um lado, a teoria crítico-reprodutivista contribuiu para acentuar uma postura de pessimismo, por outro lado, a atitude crítica passou a ser exigida pelos alunos e os professores procuraram rever sua própria prática pedagógica a fim de torná-la mais coerente com a realidade sócio-cultural. A Didática é questionada e os movimentos em torno de sua revisão apontam para a busca de novos rumos. 2.4. A década de 80: momento atual da Didática Ao longo dos anos 80, a situação sócio-econômica do país tem dificultado a vida do povo brasileiro com a elevação da inflação, elevação do índice de desemprego, agravado mais com o aumento da dívida externa e pela política recessionista, orientada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Na primeira metade da década de 80, instala-se a Nova República, iniciando-se, desta forma, uma nova fase na vida do país. A ascenção do governo civil da Aliança Democrática assinala o fim da ditadura militar, porém conserva inúmeros aspectos dela, sob formas e meios diferentes. (FALCÃO, 1986, p. 27). A luta operária ganha força, passando a se generalizar por outras categorias profissionais e, dentre elas, os professores. É nessa década que os professores se empenham para a reconquista do direito e dever de participarem na definição da política educacional e na luta pela recuperação da escola pública. A realização da I Conferência Brasileira de Educação foi um marco importante na história da educação brasileira. Constituiu um espaço para se discutir e disseminar a concepção crítica de educação, pois, como afirma SAVIANI (1984, p. 24), “a preocupação com a perspectiva dialética ultrapassa, na filosofia da educação, aquele empenho individual de sistematização e se torna objeto de um esforço coletivo”. A concepção dialética ou crítica não foi dominante no nosso contexto educacional. Ela se organizou com maior nitidez a partir de 1979. Para a concepção dialética de Filosofia da Educação, não existe um homem dado “a priori”, pois não coloca como ponto de partida uma determinada visão de homem. Interessa-se pelo ser concreto. A tarefa da filosofia é explicitar os problemas educacionais e compreendê-los a partir do contexto histórico em que estão inseridos (SAVIANI, 1984, p. 24). A educação não está centrada no professor ou no aluno, mas na questão central da formação do homem. A educação está voltada para o ser humano e sua realização em sociedade. Nesse sentido, GADOTTI afirma que, no bojo de uma Pedagogia Crítica, “a educação se identifica com o processo de hominização. A educação é o que se pode fazer 8 do homem de amanhã”. (1983, p. 149) É uma pedagogia que se compromete com os interesses do homem das camadas economicamente desfavorecidas. A escola se organiza como espaço de negação de dominação e não mero instrumento para reproduzir a estrutura social vigente. Nesse sentido, agir no interior da escola é contribuir para transformar a própria sociedade. Ora, no meu entender a Didática tem uma importante contribuição a dar em função de clarificar o papel sócio-político da educação, da escola e, mais especificamente, do ensino. Assim, o enfoque da Didática, de acordo com os pressupostos de uma Pedagogia Crítica, é o de trabalhar no sentido de ir além dos métodos e técnicas, procurando associar escola-sociedade, teoria-prática, conteúdo-forma, técnico-político, ensino-pesquisa, professor-aluno. Ela deve contribuir pata ampliar a visão do professor quanto às perspectivas didático-pedagógicas mais coerentes, com nossa realidade educacional, ao analisar as contradições entre o que é realmente o cotidiano da sala de aula e o ideário pedagógico calcado nos princípios da teoria liberal, arraigado na prática dos professores. Na década de 80, esboçam-se os primeiros estudos em busca de alternativas para a Didática, a partir dos pressupostos da Pedagogia Crítica. A Didática no âmbito desta pedagogia auxilia no processo de politização do futuro professor, de modo que ele possa perceber a ideologia que inspirou a natureza do conhecimento usado e a prática desenvolvida na escola. Neste sentido, a Didática crítica busca superar o intelectualismo formal do enfoque tradicional, evitar os efeitos do espontaneísmo escolanovista, combater a orientação desmobilizadora do tecnicismo e recuperar as tarefas especificamente pedagógicas, desprestigiadas a partir do discurso reprodutivista. Procura, ainda, compreender e analisar a realidade social onde está inserida a escola. É preciso uma Didática que proponha mudanças no modo de pensare agir do professor e que este tenha presente a necessidade de democratizar o ensino. Este é concebido como um processo sistemático e intencional de transmissão e elaboração de conteúdos culturais e científicos. É evidente que a Didática, por si, não é condição suficiente para a formação do professor critico. Texto 2 AS CARACTERÍSTICAS DO PROCESSO DE ENSINO José Carlos Libâneo A atividade de ensinar é vista, comumente, como transmissão da matéria aos alunos, realização de exercícios repetitivos, memorização de definições e fórmulas. O professor “passa” a matéria, os alunos escutam, respondem o “interrogatório” do professor para reproduzir o que está no livro didático, praticam o que foi transmitido em exercícios de classe ou tarefas de casa e decoram tudo para a prova. Este é o tipo de ensino existente na maioria de nossas escolas, uma forma peculiar e empobrecida do que se costuma chamar 9 de ensino tradicional. Vejamos quais são as limitações pedagógicas e didáticas desse tipo de ensino. O professor passa a matéria, o aluno recebe e reproduz mecanicamente o que absorveu. O elemento ativo é o professor que fala e interpreta o conteúdo. O aluno, ainda que responda o interrogatório do professor e faça os exercícios pedidos, tem uma atividade muito limitada e um mínimo de participação na elaboração dos conhecimentos. Subestima- se a atividade mental dos alunos privando-os de desenvolverem suas potencialidades cognitivas, suas capacidades e habilidades, de forma a ganharem independência de pensamento. O ensino deve ser mais do que isso. Compreende a’’coes conjuntas do professor e dos alunos pelas quais estes são estimulados a assimilar, consciente e ativamente, os conteúdos e métodos, de assimilá-los com suas forças intelectuais próprias, bem como a aplicá-los, de forma independente e criativa, nas várias situações escolares e na vida prática. É dada excessiva importância à matéria que está no livro, sem preocupação de torná-la mais significativa e mais viva para os alunos. Muitos professores querem, a todo custo, terminar o livro até o final do ano letivo, como se a aprendizagem dependesse de “vencer” o conteúdo do livro. São idéias falsas. O livro didático é necessário, mas por si mesmo ele não tem vida. É um recurso auxiliar cujo uso depende da iniciativa e imaginação do professor. Os conteúdos do livro didático somente ganham vida quando o professor os toma como meio de desenvolvimento intelectual, quando os alunos conseguem ligá-los com seus próprios conhecimentos e experiências, quando através deles aprendem a pensar com sua própria cabeça. Além disso, é mais importante uma aprendizagem sólida e duradoura daquilo que se ensina do que adquirir um grande volume de conhecimentos. Por essa razão, é fundamental que o professor domine bem a matéria para saber selecionar o que é realmente básico e indispensável para o desenvolvimento da capacidade de pensar dos alunos. O ensino somente transmissivo não cuida de verificar se os alunos estão preparados para enfrentar matéria nova e, muitas vezes, de detectar dificuldades individuais na compreensão da matéria. Com isso, os alunos vão acumulando dificuldades e, assim, caminhando para o fracasso. O verdadeiro ensino, ao contrário, busca a compreensão e assimilação sólida das matérias; para isso, é necessário ligar o conhecimento novo com o que já se sabe, bem como prover os pré-requisitos, se for o caso. A avaliação deve ser permanente, de modo que as dificuldades vão sendo diagnosticadas aula a aula. O trabalho docente fica restrito às paredes da sala de aula, sem preocupação com a prática da vida cotidiana das crianças fora da escola (que influem poderosamente nas suas condições de aprendizagem) e sem voltar os olhos para o fato de que o ensino busca resultados para a vida prática, para o trabalho, para a vida na sociedade. O trabalho docente, portanto, deve ter como referencia, como ponto de partida e como ponto de chegada, a prática social, isto é, a realidade social, política, econômica, cultural da qual tanto o professor como os alunos são parte integrante. Devemos entender o processo de ensino como o conjunto de atividades organizadas do professor e dos alunos, visando alcançar determinados resultados (domínio de conhecimentos e desenvolvimento das capacidades cognitivas), tendo como ponto de partida o nível atual de conhecimentos, experiências e de desenvolvimento mental dos 10 alunos. Consideremos algumas características desse processo: a) O ensino é um processo, ou seja, caracteriza-se pelo desenvolvimento e transformação progressiva das capacidades intelectuais dos alunos em direção ao domínio dos conhecimentos e habilidades, e sua aplicação. Por isso, obedece a uma direção, orientando-se para objetivos conscientemente definidos; implica passos gradativos, de acordo com critérios de idade e preparo dos alunos. O desdobramento desse processo tem um caráter intencional e sistemático, em virtude do qual são requeridas as tarefas docentes de planejamento, direção das atividades de ensino e aprendizagem e avaliação. b) O processo de ensino visa alcançar determinados resultados em termos de domínio de conhecimentos, habilidades, hábitos, atitudes, convicções e de desenvolvimento das capacidades cognoscitivas dos alunos. Na história da Didática e na prática escolar presente tem existido uma propensão em acentuar unilateralmente ora os conteúdos de ensino, ora o desenvolvimento de capacidades e habilidades, separando o que se costuma chamar de aspecto material e aspecto formal do ensino. Na verdade, o ensino une os dois aspectos, pois a formação das capacidades e habilidades somente se efetiva em relação a conteúdos da matéria, ao mesmo tempo que a assimilação dos conteúdos requer o desenvolvimento dessas capacidades e habilidades. Por exemplo, o professor auxilia os alunos a desenvolverem sua capacidade de observação, não em si mesma, mas em relação a fatos a serem observados e que fazem parte do conteúdo da matéria de ensino; mas, para observar, os alunos precisam dispor de conhecimentos, informações, procedimentos, ou seja, de conteúdos. O ensino tem, portanto, como função principal assegurar o processo de transmissão e assimilação dos conteúdos do saber escolar e, através desse processo, o desenvolvimento das capacidades cognoscitivas dos alunos. Que são os conteúdos do saber escolar? São os conhecimentos sistematizados, selecionados das bases das ciências e dos modos de ação acumulados pela experiência social da humanidade e organizados para serem ensinados na escola; são habilidades e hábitos, vinculados aos conhecimentos, incluindo métodos e procedimentos de aprendizagem e de estudo; são atitudes e convicções, envolvendo modos de agir, de sentir e de enfrentar o mundo. Tais elementos dos conteúdos são interdependentes, um atuando sobre o outro; entretanto, o elemento unificador são os conhecimentos sistematizados. Que são capacidades cognoscitivas? São as energias mentais disponíveis nos indivíduos, ativadas e desenvolvidas no processo de ensino, em estreita relação com os conhecimentos. O desenvolvimento das capacidades se verifica no decorrer do processo de transmissão-assimilação de conhecimentos e é, ao mesmo tempo, condição para a aquisição e aplicação dos conhecimentos. Do complexo de capacidades cognoscitivas podemos destacar: a exercitação dos sentidos, a observação, a percepção, a compreensão, a generalização, o raciocínio, a memória, a linguagem, a motivação, a vontade. c) O ensino tem um caráter bilateral em virtude de que combina a atividade do professor (ensinar) com a atividade do aluno (aprender). O processo de ensino faz 11 interagir dois momentos indissociáveis: a transmissão e aassimilação ativa de conhecimentos e habilidades. Na transmissão o professor organiza os conteúdos e os torna didaticamente assimiláveis, provê as condições e os meios de aprendizagem, controla e avalia; entretanto, a transmissão supõe a assimilação ativa, pois ensina-se para que os alunos se apropriem de forma ativa e autônoma dos conhecimentos e habilidades. Ou seja, de um lado, a transmissão é inseparável das condições sócio-culturais e psíquicas dos alunos para a assimilação ativa; de outro, não há assimilação se não houver um sistema de conhecimentos a serem assimilados. Podemos dizer, assim, que não há separação entre a aquisição da bagagem de conhecimentos e o desenvolvimento de capacidades intelectuais. A escola deve prover aos alunos conhecimentos sistematizados que, contribuindo para o seu desenvolvimento intelectual, sejam úteis para a atividade permanente de estudo e para a vida prática. Sem o domínio dos conhecimentos não se desenvolvem as capacidades intelectuais, não é possível a assimilação de conhecimentos de forma sólida e duradoura. Dizendo de outra maneira: na medida em que são assimilados conhecimentos, habilidades e hábitos, são desenvolvidas as capacidades cognoscitivas (observação, compreensão, análise e síntese, generalização, fazer relações entre fatos e idéias, etc), indispensáveis para a independência de pensamento e o estudo ativo. Bibliografia: Didática. José Carlos Libâneo. PLANEJAMENTO DE ENSINO Texto 3 O QUE É PLANEJAMENTO E QUAL SUA IMPORTÂNCIA CLAUDINO PILETTI Hoje, em todos os setores da atividade humana, fala-se muito em planejamento. Vejamos, através de um texto de Paulo Freire, em que consiste o planejamento e qual a sua importância. “Tinha chovido muito toda noite. Havia enormes poças de água nas partes mais baixas do terreno. Em certos lugares, a erra, de tão molhada, tinha virado lama. Às vezes, os pés apenas escorregavam nela, às vezes, mais do que escorregar, os pés se atolavam na lama até acima dos tornozelos. Era difícil andar. Pedro e Antonio estavam a transportar, numa camioneta, cestos cheios de cacau, para o sítio onde deveriam secar. Em certa altura perceberam que a camioneta não atravessaria o atoleiro que tinham pela frente. Pararam, desceram da camioneta, olharam o atoleiro, que era um problema para eles. Atravessaram a pé uns dois metros de lama, defendidos pelas suas botas de cano longo. Sentiram a espessura do lamaçal. Pensaram, discutiram como 12 resolver o problema. Depois, com a ajuda de algumas pedras e de galhos secos de árvores, deram ao terreno a consistência mínima para que as rodas da camioneta passassem sem atolar. Pedro e Antonio estudaram. Procuraram compreender o problema que tinham de resolver e, em seguida, encontraram uma resposta precisa. Não se estuda apenas nas escolas, Pedro e Antonio estudaram enquanto trabalhavam. Estudar é assumir uma atitude séria e curiosa diante de um problema”. (LEITE, L. C. L. “Encontro com Paulo Freire”. Revista Educação e Sociedade. São Paulo, Cortez e Moraes (3): 68-9, maio 1979.) Podemos dizer que planejar é estudar. Planejar é, portanto, “assumir uma atitude séria e curiosa diante de um problema”. Diante de um problema eu procuro refletir para decidir quais as melhores alternativas de ação possíveis para alcançar determinados objetivos a partir de certa realidade. Foi isso que fizeram Pedro e Antonio. Analisaram a realidade, discutiram como resolver o problema, decidiram qual seria a melhor alternativa e agiram. O planejamento é, hoje, uma necessidade em todos os campos da atividade humana. Aliás, sempre foi. Só que hoje adquiriu maior importância por causa da complexidade dos problemas. Quanto mais complexos forem os problemas, maior é a necessidade de planejamento. No processo de planejamento procuramos responder às seguintes perguntas: O que pretendo alcançar? Em quanto tempo pretendo alcançar? Como posso alcançar isso que pretendo? O que fazer e como fazer? Quais os recursos necessários? O que e como analisar a situação a fim de verificar se o que pretendo foi alcançado? PLANEJAMENTO EDUCACIONAL, DE CURRÍCULO E DE ENSINO Se qualquer atividade exige planejamento, a educação não foge dessa exigência. Na área da educação temos os seguintes tipos de planejamento: Planejamento educacional Planejamento de currículo Planejamento de ensino Planejamento educacional – consiste na tomada de decisões sobre a educação no conjunto do desenvolvimento geral do país. A elaboração desse tipo de planejamento requer a proposição de objetivos a longo prazo que definam uma política da educação. Planejamento de currículo – já o que é planejamento de currículo. O problema central do planejamento curricular é formular objetivos educacionais a partir daqueles 13 expressos nos guias curriculares oficiais. Nesse sentido, a escola não deve simplesmente executar o que é prescrito pelos órgãos oficiais. Embora o currículo seja mais ou menos determinado, cabe à escola interpretar e operacionalizar estes currículos. A escola deve procurar adaptá-los às situações concretas, selecionando aquelas experiências que mais poderão contribuir para alcançar os objetivos dos alunos, das suas famílias e da comunidade. Planejamento de ensino – podemos dizer que o planejamento de ensino é a especificação do planejamento de currículo. Consiste em traduzir em termos mais concretos e operacionais o que o professor fará na sala de aula, para conduzir os alunos a alcançar os objetivos educacionais propostos. Um planejamento de ensino deverá prever: Objetivos específicos (ou instrucionais) estabelecidos a partir dos objetivos educacionais. Conhecimentos a serem adquiridos pelos alunos no sentido determinado pelos objetivos. Procedimentos e recursos de ensino que estimulam as atividades de aprendizagem. Procedimentos de avaliação que possibilitem verificar, de alguma forma, até que ponto os objetivos foram alcançados. ETAPAS DO PLANEJAMENTO DE ENSINO São quatro as etapas do planejamento de ensino: a) Conhecimento da realidade. b) Elaboração do Plano. c) Execução do Plano. d) Avaliação e Aperfeiçoamento do Plano. Podemos visualizar as etapas do planejamento de ensino através do seguinte gráfico: Replanejamento Avaliação Feedback Etapa de Aperfeiçoamento Seleção de procedimentos de avaliação Seleção dos recursos Seleção e organização dos procedimentos de ensino Seleção e organização dos conteúdos Determinação dos objetivos Conhecimento da realidade Etapa de Elaboração Etapa de Execução 14 (TURRA, C. M. G. e outros. Planejamento de ensino e avaliação. Porto Alegre, Sagra, 1982. p. 26.) Conhecimento da realidade – para poder planejar adequadamente a tarefa de ensino e atender às necessidades do aluno é preciso, antes de mais nada, saber quem se vai planejar. Por isso, conhecer o aluno e seu ambiente é a primeira etapa do processo de planejamento. É preciso saber quais as aspirações, frustrações, necessidades e possibilidades dos alunos. Fazendo isso, estaremos fazendo uma Sondagem, isto é, buscando dados. Uma vez realizada a sondagem deve-se estudar cuidadosamente os dados coletados. A conclusão a que chegamos, após o estudo dos dados coletados, constitui o Diagnóstico. Sem a sondagem e o diagnóstico corre-se o risco de propor o que é impossível alcançar ou o que não interessa ou, ainda, o que já foi alcançado. Esquematizando essa primeira etapa, temos o seguinte: Elaboração do plano - A partir dos dados fornecidos pela sondagem e interpretados pelo diagnóstico, temos condições de estabelecer oque é possível alcançar, como fazer para alcançar o que julgamos possível e como avaliar os resultados. ‘‘Que venho eu fazer aqui? E o que vêm eles, eles todos e cada um por seu lado? Que espero eu deles? Que esperam eles de mim?” (GUSDORF, G. In: Turra, C. M. G. Op. Cit. P. 29.) Por isso, passamos a elaborar o plano através dos seguintes passos: Determinação dos objetivos. Seleção e organização dos conteúdos. Seleção e organização dos procedimentos de ensino. Seleção de recursos. Conhecimento da realidade Sondagem Diagnóstico Ambiente Escolar Comunitário Aluno Aspirações Frustrações Necessidades Possibilidades 15 Seleção de procedimentos de avaliação. Estruturação do plano de ensino. Execução do plano – ao elaborarmos o plano de ensino, antecipamos, de forma organizada, todas as etapas do trabalho escolar. A execução do plano consiste no desenvolvimento das atividades previstas. Na execução, sempre haverá o elemento não plenamente previsto. Às vezes, a reação dos alunos ou as circunstâncias do ambiente exigirão adaptações e alterações no planejamento. Isto é normal e não dispensa o planejamento, pois, uma das características de um bom planejamento deve ser a flexibilidade. Avaliação e aperfeiçoamento do plano — Ao término da execução do que foi planejado, passamos a avaliar o próprio plano com vistas ao replanejamento. Nessa etapa, a avaliação adquire um sentido diferente da avaliação do ensino-aprendizagem e um significado mais amplo. Isso porque, além de avaliar os resultados do ensino-aprendizagem, procuramos avaliar a qualidade do nosso plano, a nossa eficiência como professor e a eficiência do sistema escolar. COMPONENTES BÁSICOS DO PLANEJAMENTO DE ENSINO Vejamos, agora, cada um dos componentes básicos do planejamento de ensino. Objetivos — é a descrição clara do que se pretende alcançar como resultado da nossa atividade. Os objetivos nascem da própria si tuação: da comunidade, da família, da escola, da disciplina, do professor e principalmente do aluno. Os objetivos, portanto, são sempre do aluno e para o aluno. Os objetivos educacionais são as metas e os valores mais amplos que a escola procura atingir, e os objetivos instrucionais são proposições mais específicas referentes às mudanças comportamentais esperadas para um determinado grupo-classe. Para manter a coerência interna do trabalho de uma escola, o primeiro cuidado será o de selecionar os objetivos instrucionais que tenham correspondência com os objetivos gerais das áreas de estudo que, por sua vez, devem estar coerentes com os objetivos educacionais do planejamento de currículo. E os objetivos educacionais, conseqüentemente, devem estar coerentes com a linha de pensamento da entidade à qual o plano se destina. Vejamos, agora, alguns exemplos de objetivos educacionais e instrucionais. Na área de Estudos Sociais, podemos ter os seguintes objetivos educacionais: Criar situações de aprendizagem para que a criança adquira conhecimentos que facilitem a localização de sua comunidade e de seu município, possibilitando-lhe a compreensão das características naturais, culturais, sociais e econômicas do ambiente em que vive. Desenvolver o hábito de observação do meio ambiente. Estimular no aluno o ideal de consciência grupal. 16 Para alcançar esses objetivos educacionais, podemos estabelecer os seguintes objetivos instrucionais: Identificar na comunidade os seus diferentes aspectos naturais, culturais, sociais e econômicos. Utilizar os recursos da comunidade como fonte de informações. Identificar matéria-prima e produto. Identificar os centros comerciais e industriais. Usar adequadamente os serviços públicos. Reconhecer o mapa do município e a sua configuração. Localizar o país, o Estado e o município, no mapa-múndi. Os objetivos educacionais e instrucionais se relacionam entre si da seguinte maneira: Conteúdo — refere-se à organização do conhecimento em si, com base nas suas próprias regras. Abrange também as experiências educativas no campo do conhecimento, devidamente selecionadas e organizadas pela escola. O conteúdo é um instrumento básico para poder atingir os objetivos. Em geral, os guias curriculares oficiais oferecem uma relação de conteúdos das várias áreas que podem ser desenvolvidos em cada série. Pode-se selecionar o conteúdo com base nesses guias. Não devemos esquecer, no entanto, de levar em conta a realidade da classe. Outros cuidados que devem ser observados na seleção dos conteúdos: O conteúdo selecionado precisa estar relacionado com os objetivos definidos. Devemos escolher os conhecimentos indispensáveis para que os alunos adquiram os comportamentos fixados. Um bom critério de seleção é a escolha feita em torno de conteúdos mais importantes, mais centrais e mais atuais. O conteúdo não importa tanto. O mais importante é o fato de o mestre estar apto a levantar a idéia central do conhecimento que deseja trabalhar. Para que tal ocorrência se verifique, é indispensável que o professor conheça em profundidade a natureza do fenômeno que pretende que seus alunos conheçam. O conteúdo precisa ir do mais simples para o mais complexo, do mais concreto para o mais abstrato. No plano de currículo Objetivos educacionais Resultados finais que a escola procura atingir EXEMPLO: Adquirir conceitos e generalização. Comportamentos amplos a serem atingidos numa área de estudos. EXEMPLO: Adquirir conceito de comunidade (Estudos Sociais). Mudanças específicas e gradativas do comportamento. No plano de ensino Objetivos instrucionais EXEMPLO: Identificar grupo social. Identificar os diferentes tipos de grupos sociais. Relacionar grupo social e comunidade. 17 Para alcançar os objetivos propostos no último tópico, por exemplo, podemos desenvolver o seguinte conteúdo: Comunidade no Município: — localização da comunidade no município; — localização do município no Estado; — localização do Estado no país. Aspectos naturais do município: — Hidrografia, relevo, clima, recursos naturais, etc. Influência dos aspectos naturais na vida da comunidade e do município. Aspectos culturais, aproveitamento e modificações nos aspectos naturais. Aspectos econômicos: — Tipos de matérias-primas que o município fornece, sua atividade industrial e comercial. Procedimentos de ensino — “Procedimentos de ensino são ações, processos ou comportamentos planejados pelo professor para colocar o aluno em contato direto com coisas, fatos ou fenômenos que lhes possibilitem modificar sua conduta, em função dos objetivos previstos’’. (TURRA, G. M. G. Op. cit. p. 36.) O professor, ao organizar as condições externas favoráveis à aprendizagem, utiliza meios ou modos organizados de ação, conhecidos como técnicas de ensino. As técnicas de ensino são maneiras particulares de provocar a atividade dos alunos no processo de aprendizagem. Ao planejar os procedimentos de ensino, não é suficiente fazer uma listagem de técnicas que serão utilizadas, como aula expositiva, trabalho dirigido, excursão, trabalho em grupo, etc. Devemos prever como utilizar o conteúdo selecionado para atingir os objetivos propostos. As técnicas estão incluídas nessa descrição. Os procedimentos, portanto, não são apenas uma coletânea de técnicas isoladas. Eles têm uma abrangência bem mais ampla, pois envolvem todos os passos do desenvolvimento da atividade de ensino propriamente dita. Os procedimentos de ensino selecionados pelo professor devem: ser diversificados; estar coerentes com os objetivos propostos e com o tipo de aprendizagem previsto nos objetivos; adequar-se às necessidades dos alunos; servir de estímulo à participação do aluno no que se refere a descobertas; apresentar desafios.Recursos de ensino – os recursos de ensino são os componentes do ambiente da aprendizagem que dão origem à estimulação para o aluno. Podemos classificar os recursos em: Humanos Materiais Professor Aluno (colegas de outras classes) Pessoal escolar (diretor e outros profissionais) Comunidade (pais, profissionais, autoridades, etc.) Do ambiente Natural (água, folha, pedra, etc.) Escolar (quadro, giz, cartazes, etc.) 18 A mesma observação que fizemos com relação aos procedimentos de ensino é válida também para os recursos necessários, como giz, gráficos, mapas, etc. Deve-se prever também como serão utilizados esses recursos. Avaliação — avaliação é o processo pelo qual se determinam o grau e a quantidade de resultados alcançados em relação aos objetivos, considerando o contexto das condições em que o trabalho foi desenvolvido. No planejamento da avaliação é importante considerar a necessidade de: Avaliar continuamente o desenvolvimento do aluno. Selecionar situações de avaliação diversificadas, coerentes com os objetivos propostos. Selecionar e/ou montar instrumentos de avaliação. Registrar os dados da avaliação. Aplicar critérios aos dados da avaliação. Interpretar resultados da avaliação. Comparar os resultados com os critérios estabelecidos (feedback). Utilizar dados da avaliação no planejamento. O feedback deve ser encarado como retroinformação para o professor sobre o andamento de sua atuação. Dessa forma, a avaliação desloca-se do plano da competição entre professor e aluno, para significar a medida real do conhecimento, tornando-se assim menos arbitrária. TIPOS DE PLANEJAMENTO DE ENSINO O planejamento de ensino é desdobrável em três tipos, diferenciados por seu grau crescente de especificidade: a) Planejamento de curso. b) Planejamento de unidade. c) Planejamento de aula. Vejamos em que consiste e como se elabora cada um desses três tipos de planejamento de ensino. Plano de curso — é a previsão de um determinado conjunto de conhecimentos, atitudes e habilidades a ser alcançado por uma turma, num certo período de tempo. O plano de curso traz muitas vantagens. Vejamos algumas: 19 Dá oportunidade ao professor para adequar o programa à realidade de sua classe. Permite a distribuição da matéria pelo número de aulas disponíveis. Permite melhor orientação da aprendizagem. Permite que o professor avalie previamente a profundidade com que vai tratar cada assunto. Serve de base para as conclusões quanto à eficiência dos métodos utilizados. Vejamos, agora, algumas normas para a elaboração de um plano de curso: Fazer uma sondagem inicial para conhecer o nível e as características dos alunos. Estabelecer, após a sondagem, os objetivos da disciplina e os objetivos gerais de cada um dos capítulos ou unidades. Adequar as atividades a serem desenvolvidas com os objetivos estabelecidos e com o tempo disponível. Descrever de forma determinada os métodos, as técnicas e os recursos a serem adotados. Prever as formas gerais de avaliação, bem como alguns critérios para o desenvolvimento das atividades dos alunos. Esquema de um plano de curso – para facilitar o trabalho de planejamento, apresentamos um esquema de plano de curso. (Ver anexo) Planejamento de unidade — o planejamento de unidade é uma especificação maior do plano de curso. Uma unidade de ensino é formada de assuntos inter-relacionados. O planejamento de unidade também inclui objetivos, conteúdo, etc. Em princípio, cada unidade deve ser planejada ao final da que a antecede, pois esta lhe servirá de base ou apoio. Isto significa que as unidades serão planejadas ou replanejadas ao longo do curso. Podemos distinguir três etapas no plano de unidade: a) Apresentação — nesta etapa o professor procurará identificar e estimular os interesses dos alunos, relacionando-os com o tema da unidade. Para tanto, poderá desenvolver as seguintes atividades: Pré-teste oral ou escrito, para sondagem das experiências anteriores dos alunos, contendo os conceitos que eles deverão aprender na unidade. Diálogo com a classe a propósito do tema. Comunicação aos alunos dos objetivos da unidade. Utilização de material ilustrativo, tais como jornais, revistas, cartazes, objetos históricos, etc., que permitam introduzir o tema. Aula expositiva com a mesma finalidade. b) Desenvolvimento — nesta etapa, os alunos deverão chegar à compreensão do tema. Aqui o professor poderá lançar mão das seguintes atividades: Estudo de textos. Estudo dirigido. 20 Solução de problemas. Projetos. Trabalho em grupo. c) Integração — nesta etapa, os alunos deverão chegar a uma síntese dos temas abordados na unidade. Isso poderá ser alcançado através das seguintes atividades: Organização de resumos. Relatório oral que sintetize os aspectos mais importantes da unidade. Veja agora o esquema para o planejamento de unidade: (ver anexo) Planejamento de aula – é a seqüência de tudo o que vai ser desenvolvido em um dia letivo. É a especificação dos comportamentos esperados do aluno e dos meios — conteúdos, procedimentos e recursos — que serão utilizados para sua realização. Assim, o planejamento de aula é a sistematização de todas as atividades que se desenvolvem no período de tempo em que o professor e o aluno interagem, numa dinâmica de ensino- aprendizagem. O plano de aula deve prever estímulos adequados aos alunos, a fim de motivá-los, e criar uma atmosfera de comunicação entre professor e alunos que favoreça a aprendizagem. Como elaborar um plano de aula? (ver anexo) IMPORTÂNCIA DO PLANEJAMENTO DE ENSINO Planejar as atividades de ensino é importante pelos seguintes motivos: Evita a rotina e a improvisação. Contribui para a realização dos objetivos visados. Promove a eficiência do ensino. Garante maior segurança na direção do ensino. Garante economia de tempo e energia. CARACTERÍSTICAS DE UM BOM PLANEJAMENTO DE ENSINO Um bom planejamento de ensino deve ter as seguintes carac- terísticas: Ser elaborado em função das necessidades e das realidades apresentadas pelos alunos. Ser flexível, isto é, deve dar margem a possíveis reajustamentos sem quebrar sua unidade e continuidade. O plano pode ser alterado quando se fizer necessário. Ser claro e preciso, isto é, os enunciados devem apresentar indicações bem exatas e sugestões bem concretas para o trabalho a ser realizado. Ser elaborado em íntima correlação com os objetivos visados. Ser elaborado tendo em vista as condições reais e imediatas de local, tempo e 21 recursos disponíveis. Necessidade de planejamento para a educação 22 Qualquer atividade sistemática, para ter sucesso, necessita ser planejada. O planejamento é uma espécie de garantia dos resultados. E sendo a educação, especialmente a educação escolar, uma atividade sistemática, uma organização da situação de aprendizagem, ela necessita evidentemente de planejamento muito sério. Não se pode improvisar a educação, seja qual for o seu nível. A própria escola carece de planejamento, para atender ao que dela se espera. Dentro da escola, todas as atividades, sejam as administrativas, sejam as educativas, ou qualquer outra, têm mister de planejamento sério e científico. Não só os currículos e programas, mas também as atividades docentes têm necessidade absoluta de planejamento. Muitas vezes acontece que o currículo vem mais ou menos prescrito pelos órgãos oficiais, e a escola simplesmente executa o prescrito. Embora as orientações gerais venham do sis- tema, ainda resta muito por fazer à escola. Embora o currículo seja mais ou menos determinado, cabe à escola interpretar, implantar e operacionalizar estes currículos, especialmente adaptando-osàs situações concretas, selecionando aquelas experiências que mais poderão contribuir para alcançar os objetivos da escola, e com isso os objetivos dos alunos, das suas famílias, da comunidade e da nação. Infelizmente se usa muita improvisação ou então se executam tarefas impostas de fora, sem a escola se envolver no estabelecimento dos objetivos do ensino em termos de escola. Os professores, não raro, recebem os programas mais ou menos organizados, e procuram explicitá-los um pouco mais, eximindo-se com isso da obrigação de procurar os objetivos de sua disciplina e especialmente os de seus alunos. As aulas necessitam de planejamento para não se transformarem em simples execução de tarefas mecânicas, sem sentido e sem vida. Todas as atividades precisam tornar-se significativas para os alunos, para os quais é feito o planejamento, e que deveriam por isso mesmo participar desse planejamento. As atividades científicas são superiormente planejadas. A partir de um problema que necessite de solução, estabelecem-se as hipóteses, levantam-se os dados, interpretam-se esses mesmos dados e fazem-se as generalizações ou aplicações. O mesmo deveria acontecer com o planejamento educacional. O planejamento da educação terá de percorrer as mesmas etapas do planejamento científico, se quiser produzir resultados sistemáticos, consideráveis e duradouros. Parte-se de um problema: as necessidades de os alunos se educarem. Estabelecem-se as hipóteses, que são os planos de atividade. Executa-se o planejamento, trabalhando todos os elementos que entram no processo da aprendizagem. Faz-se a interpretação dos dados, procedendo à avaliação que fornecerá os elementos necessários para julgar se o pretendido foi alcançado, se o problema foi resolvido, isto é, se houve aprendizagem e em que medida houve. A partir dessa análise se poderá ou concluir a atividade, porque já houve aprendizagem, ou retomá-la através do replanejamento, se a aprendizagem não tiver ocorrido ou se se tiver efetuado apenas parcialmente. Procedendo deste modo, cientificamente, o planejamento transforma-se de fato na garantia do sucesso da educação e da aprendizagem. (SCHMITZ, E. F. Op. Cit.p. 94-5) PILETTI, C. Didática Geral. 23a ed. São Paulo: Ática, 2004. 23 CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO AMAPÁ – CEAP CURSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA 4 O SEMESTRE. PROFESSOR: JARI KARDEC P. OLIVEIRA DISCIPLINA: Didática Texto 4 Os objetivos de ensino Claudino Piletti Vimos que um dos componentes básicos do planejamento do ensino são os objetivos. Vimos também que os objetivos consistem em uma descrição clara dos resultados que desejamos alcançar com nossa atividade. Vejamos agora, outros aspectos relacionados com os objetivos. IMPORTÂNCIA DOS OBJETIVOS DE ENSINO Podemos compreender a importância dos objetivos de ensino lendo esta fábula criada por Robert Mager: “Certa vez um Cavalo-Marinho pegou suas economias e saiu em busca de fortuna. Não havia andado muito, quando encontrou uma Águia que lhe disse: ‘Bom amigo. Para onde vai?’ “Vou em busca de fortuna’, respondeu o Cavalo-Marinho com muito orgulho. ‘Está com sorte’, disse a Águia. ‘Pela metade do seu dinheiro deixo que leve esta asa, para que possa chegar mais rápido’. ‘Que bom!’, disse o cavalo-Marinho. Pagou-lhe, colocou a asa e saiu como um raio. Logo encontrou uma Esponja, que lhe disse: ‘Bom amigo. Para onde vai com tanta pressa?’ ‘Vou em busca de fortuna’, respondeu o Cavalo-Marinho. ‘Está com sorte’, disse a Esponja. ‘Vendo-lhe este scootter de propulsão por muito pouco dinheiro, para que chegue mais rápido’. Foi assim que o Cavalo-Marinho pagou o resto do seu dinheiro pelo scootter e sulcou os mares com velocidade quintuplicada. De repente encontrou um Tubarão que lhe disse: ‘Para onde vai, meu bom amigo?’ ‘Vou em busca de fortuna’, respondeu o Cavalo-Marinho. ‘Está com sorte. Se tomar este atalho’ disse o Tubarão, apontando para a sua imensa boca, ‘ganhará muito tempo’. ‘Está bem, eu lhe agradeço muito’, disse o cavalo-Marinho, e se lançou ao interior do Tubarão, sendo devorado”. (MAGER, R. F. Objetivos para o ensino efetivo. Rio de Janeiro, Senai – Departamento Nacional – Divisão de Ensino, 1972.p. XI.) Segundo Mager, a moral desta fábula é a seguinte: Se você não tem certeza para onde vai, pode acabar indo para onde não pretendia. Assim, o professor precisa determinar de início o que o aluno será capaz de fazer ao final do aprendizado. A isso chama-se definir objetivos. Se o professor não define os objetivos, não pode avaliar de maneira objetiva o 24 resultado de sua atividade de ensino e não tem condições de escolher os procedimentos de ensino mais adequados. TIPOS DE OBJETIVO Os objetivos podem ser gerais ou específicos Os objetivos gerais são proposições gerais sobre mudanças comportamentais desejadas. Decorrem de uma filosofia da educação e surgem do estudo da sociedade contemporânea e do estudo sobre o desenvolvimento do aluno e sobre os processos de aprendizagem. Os objetivos específicos consistem numa maior especificação dos objetivos gerais e numa operacionalização dos mesmos. Os objetivos específicos, portanto, são proposições específicas sobre mudanças no comportamento dos alunos, que serão atingidos gradativamente no processo de ensino-aprendizagem. FUNÇÕES DO GERAL E ESPECIFICO Segundo Bloom “a formulação de objetivos tem por finalidade classificar para o professor, em sua própria mente, ou comunicar a outros as mudanças desejadas no aprendiz”. (BLOOM, B. S. In: SALDANHA, L. E. Educação Brasileira Contemporânea: Organização e Funcionamento. São Paulo, McGraw-Hill, 1978. p. 37.) Outra função dos objetivos é orientar o professor na escolha dos demais componentes de um sistema de organização de ensino. “Os conteúdos, por exemplo, embora já venham sendo pensados e selecionados pelo professor durante a atividade de formulação dos objetivos, serão organizados, seqüencialmente em função dos objetivos, ou seja, serão trabalhados pelo professor e pelos alunos na medida em que forem um recurso indispensável para levar ao comportamento final previsto. O mesmo ocorre com as experiências de aprendizagem e com o processo de avaliação”. (SALDANHA, L. E. Educação Brasileira Contemporânea: Organização e Funcionamento. São Paulo, McGraw-Hill, 1978. p. 37.) COMO DEFINIR OBJETIVOS INSTRUCIONAIS Para a definição adequada de objetivos instrucionais, Robert Mager sugere as seguintes normas: a) Os objetivos devem referir-se aos comportamentos dos alunos e não aos do professor. Uma sugestão para atender a essa característica é iniciar a formulação dos objetivos com a frase: “O aluno, ao final do curso (unidade ou aula), deverá ...” b) Os objetivos devem indicar claramente a intenção do professor e não podem dar margem a muitas interpretações. Para evitá-las devemos usar verbos que não permitam que isso ocorra. 25 Verbos Verbos Compreender Saber Entender Desenvolver Aprender Melhorar Aperfeiçoar Julgar Conhecer Adquirir Familiarizar-se Identificar Diferenciar Escrever Resolver Enumerar Comparar Contrastar Justificar Escolher Criticar Verbalizar Distinguir Construir Selecionar Localizar c) Os objetivos devem especificar o que o aluno deve realizar. Para verificar se o objetivo atende a essa característica, devemos fazer a seguinte pergunta: Que fará o aluno para demonstrar que alcançou o objetivo? Se o objetivo responde a essa pergunta, ele está bem enunciado. O objetivo acima, por exemplo, poderia ser definido da seguinte maneira: “Levar o aluno a identificar as doenças, seus sintomas e suas causas e a adotar hábitos de higiene e alimentação saudáveis”. d) Os objetivos podem estabelecer também as condições (tempo, uso ou não de instrumentos,livros e outros recursos, por exemplo) em que o aluno deverá demonstrar ser capaz de realizar – no final do curso, da unidade ou da aula – o que está previsto no objetivo. No exemplo acima, o objetivo teria a seguinte formulação: “Ao final de um trabalho de pesquisa conduzido na sala de aula, o aluno deverá ser capaz de identificar as principais doenças contagiosas, seus sintomas e suas causas, além de adotar hábitos de higiene e alimentação saudáveis”. e) Para que fiquem ainda melhor enunciados, os objetivos podem especificar o grau de perfeição que se espera do aluno. Exemplo: “Ao final de um trabalho de pesquisa realizado em sala de aula, o aluno deverá ser capaz de identificar 80% das doenças contagiosas, suas causas e seus sintomas, além de adotar três novos hábitos de higiene e alimentação saudáveis”. PILETTI, C. Didática Geral. 23a ed. São Paulo: Ática, 2004. 26 texto 5 PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO DA ESCOLA: UMA CONSTRUÇÃO COLETIVA Ilma Passos Alencastro Veiga Introdução O projeto político-pedagógico tem sido objeto de estudos para professores, pesquisadores e instituições educacionais em nível nacional, estadual e municipal, em busca da melhoria da qualidade do ensino. O presente estudo tem a intenção de refletir acerca da construção do projeto político- pedagógico, entendido como a própria organização do trabalho pedagógico da escola como um todo. A escola é o lugar de concepção, realização e avaliação de seu projeto educativo, uma vez que necessita organizar seu trabalho pedagógico com base em seus alunos. Nessa perspectiva, é fundamental que ela assuma suas responsabilidades, sem esperar que as esferas administrativas superiores tomem essa iniciativa, mas que lhe dêem as condições necessárias para levá-la adiante. Para tanto, é importante que se fortaleçam as relações entre escola e sistema de ensino. Para isso, começaremos, na primeira parte, conceituando projeto político-pedagógico. Em seguida, na segunda parte, trataremos de trazer nossas reflexões para a análise dos princípios norteadores. Finalizaremos discutindo os elementos básicos, da organização do trabalho pedagógico, necessários à construção do projeto político-pedagógico. Conceituando o Projeto Político-Pedagógico O que é projeto político-pedagógico No sentido etimológico, o termo projeto vem do latim projectu, particípio passado do verbo projicere, que significa lançar para diante. Plano, intento, desígnio. Empresa, empreendimento. Redação provisória de lei. Plano geral de edificação (Ferreira 1975, p. 1.144). Ao construirmos os projetos de nossas escolas, planejamos o que temos intenção de fazer, de realizar. Lançamo-nos para diante, com base no que temos, buscando o possível. É antever um futuro diferente do presente. Nas palavras de Gadotti: Todo projeto supõe rupturas com o presente e promessas para o futuro. Projetar significa tentar quebrar um estado confortável para arriscar-se, atravessar um período de instabilidade e buscar uma nova estabilidade em função da promessa que cada projeto contém de estado melhor do que o presente. Um projeto educativo pode ser tomado como promessa frente a determinadas rupturas. As promessas tornam visíveis os campos de ação possível, comprometendo seus atores e autores. (1994, p. 579) Nessa perspectiva, o projeto político-pedagógico vai além de um simples agrupamento de 27 planos de ensino e de atividades diversas. O projeto não é algo que é construído e em seguida arquivado ou encaminhado às autoridades educacionais como prova do cumprimento de tarefas burocráticas. Ele é construído e vivenciado em todos os momentos, por todos os envolvidos com o processo educativo da escola. O projeto busca um rumo, uma direção. É uma ação intencional, com um sentido explícito, com um compromisso definido coletivamente. Por isso, todo projeto pedagógico da escola é, também, um projeto político por estar intimamente articulado ao compromisso sociopo1ítico com os interesses reais e coletivos da população majoritária. É político no sentido de compromisso com a formação do cidadão para um tipo de sociedade. “A dimensão política se cumpre na medida cm que ela se realiza enquanto prática especificamente pedagógica” (Saviani 1983, p. 93). Na dimensão pedagógica reside a possibilidade da efetivação da intencionalidade da escola, que é a formação do cidadão participativo, responsável, compromissado, crítico e criativo. Pedagógico, no sentido de definir as ações educativas e as características necessárias às escolas de cumprirem seus propósitos e sua intencionalidade. Político e pedagógico têm assim uma significação indissociável. Neste sentido é que se deve considerar o projeto político-pedagógico como um processo permanente de reflexão e discussão dos problemas da escola, na busca de alternativas viáveis à efetivação de sua intencio- nalidade, que “não é descritiva ou constatativa, mas é constitutiva” (Marques 1990, p. 23). Por outro lado, propicia a vivência democrática necessária para a participação de todos os membros da comunidade escolar e o exercício da cidadania. Pode parecer complicado, mas trata-se de uma relação recíproca entre a dimensão política e a dimensão pedagógica da escola. O projeto político-pedagógico, ao se constituir em processo democrático de decisões, preocupa-se em instaurar uma forma de organização do trabalho pedagógico que supere os conflitos, buscando eliminar as relações competitivas, corporativas e autoritárias, rompendo com a rotina do mando impessoal e racionalizado da burocracia que permeia as relações no interior da escola, diminuindo os efeitos fragmentários da divisão do trabalho que reforça as diferenças e hierarquiza os poderes de decisão. Desse modo, o projeto político-pedagógico tem a ver com a organização do trabalho pedagógico em dois níveis: como organização da escola como um todo e como organização da sala de aula, incluindo sua relação com o contexto social imediato, procurando preservar a visão de totalidade. Nesta caminhada será importante ressaltar que o projeto político-pedagógico busca a organização do trabalho pedagógico da escola na sua globalidade. A principal possibilidade de construção do projeto político-pedagógico passa pela relativa autonomia da escola, de sua capacidade de delinear sua própria identidade. Isto significa resgatar a escola como espaço público, lugar de debate, do diálogo, fundado na reflexão coletiva. Portanto, é preciso entender que o projeto político-pedagógico da escola dará indicações necessárias à organização do trabalho pedagógico, que inclui o trabalho do professor na dinâmica interna da sala de aula, ressaltado anteriormente. Buscar urna nova organização para a escola constitui uma ousadia para os educadores, pais, alunos e funcionários. E para enfrentarmos essa ousadia, necessitamos de um referencial que fundamente a construção do projeto político-pedagógico. A questão é, pois, saber a qual referencial temos que recorrer para a compreensão de nossa prática pedagógica. Nesse sentido, temos que nos alicerçar nos pressupostos de uma teoria pedagógica crítica viável, que parta da prática social e 28 esteja compromissada em solucionar os problemas da educação e do ensino de nossa escola. Uma teoria que subsidie o projeto político-pedagógico e, por sua vez, a prática pedagógica que ali se processa deve estar ligada aos interesses da maioria da população. Faz-se necessário também, o domínio das bases teórico-metodológicas indispensáveis à concretização das concepções assumidas coletivamente. Mais do que isso, afirma Freitas que: As novas formas têm que ser pensadas em um contexto de luta, de correlações de força às vezes favoráveis, às vezes desfavoráveis. Terão que nascer no próprio “chão da escola”, com apoio dosprofessores e pesquisadores. Não poderão ser inventadas por alguém, longe da escola e da luta da escola. (Grifos do autor) (Freitas 1991, p. 23) Isso significa uma enorme mudança na concepção do projeto político-pedagógico e na própria postura da administração central. Se a escola nutre-se da vivência cotidiana de cada um de seus membros, co-participantes de sua organização do trabalho pedagógico à administração central, seja o Ministério da Educação, a Secretaria de Educação Estadual ou Municipal, não compete a eles definir um modelo pronto e acabado, mas sim estimular inovações e coordenar as ações pedagógicas planejadas e organizadas pela própria escola. Em outras palavras, as escolas necessitam receber assistência técnica e financeira decidida em conjunto com as instâncias superiores do sistema de ensino. Isso pode exigir, também, mudanças na própria lógica de organização das instâncias superiores, implicando uma mudança substancial na sua prática. Para que a construção do projeto político-pedagógico seja possível não é necessário convencer os professores, a equipe escolar e os funcionários a trabalhar mais, ou mobilizá-los de forma espontânea, mas propiciar situações que lhes permitam aprender a pensar e a realizar o fazer pedagógico de forma coerente. O ponto que nos interessa reforçar é que a escola não tem mais possibilidade de ser dirigida de cima para baixo e na ótica do poder centralizador que dita as normas e exerce o controle técnico burocrático. A luta da escola é para a descentralização em busca de sua autonomia e qualidade. Do exposto, o projeto político-pedagógico não visa simplesmente a um rearranjo formal da escola, mas a uma qualidade em todo o processo vivido. Vale acrescentar, ainda, que a organização do trabalho pedagógico da escola tem a ver com a organização da sociedade. A escola nessa perspectiva é vista como uma instituição social, inserida na sociedade capitalista, que reflete no seu interior as determinações e contradições dessa sociedade. Princípios norteadores do projeto político-pedagógico A abordagem do projeto político-pedagógico, como organização do trabalho da escola como um todo, está fundada nos princípios que deverão nortear a escola democrática, pública e gratuita: a) Igualdade de condições para acesso e permanência na escola. Saviani alerta-nos para o fato de que há uma desigualdade no ponto de partida, mas a igualdade no ponto de chegada deve ser garantida pela mediação da escola. O autor destaca: Portanto, só é possível considerar o processo educativo em seu conjunto sob a condição de se 29 distinguir a democracia como possibilidade no ponto de partida e democracia como realidade no ponto de chegada. (1982, p. 63) Igualdade de oportunidades requer, portanto, mais que a expansão quantitativa de ofertas; requer ampliação do atendimento com simultânea manutenção de qualidade. b) Qualidade que não pode ser privilégio de minorias econômicas e sociais. O desafio que se coloca ao projeto político-pedagógico da escola é o de propiciar uma qualidade para todos. A qualidade que se busca implica duas dimensões indissociáveis: a formal ou técnica e a política. Uma não está subordinada à outra; cada uma delas tem perspectivas próprias. A primeira enfatiza os instrumentos e os métodos, a técnica. A qualidade formal não está afeita, necessariamente, a conteúdos determinados. Demo afirma que a qualidade formal: “(...) significa a habilidade de manejar meios, instrumentos, formas, técnicas, procedimentos diante dos desafios do desenvolvimento” (1994, p. 14). A qualidade política é condição imprescindível da participação. Está voltada para os fins, valores e conteúdos. Quer dizer “a competência humana do sujeito em termos de se fazer e de fazer história, diante dos fins históricos da sociedade humana” (Demo 1994, p. 14). Nesta perspectiva, o autor chama atenção para o fato de que a qualidade centra-se no desafio de manejar os instrumentos adequados para fazer a história humana. A qualidade formal está relacionada com a qualidade política e esta depende da competência dos meios. A escola de qualidade tem obrigação de evitar de todas as maneiras possíveis a repetência e a evasão. Tem que garantir a meta qualitativa do desempenho satisfatório de todos. Qualidade para todos, portanto, vai além da meta quantitativa de acesso global, no sentido de que as crianças, em idade escolar, entrem na escola. É preciso garantir a permanência dos que nela ingressarem. Em síntese, qualidade “implica consciência crítica e capacidade de ação, saber e mudar” (Demo 1994, p. 19). O projeto político-pedagógico, ao mesmo tempo em que exige dos educadores, funcionários, alunos e pais a definição clara do tipo de escola que intentam, requer a definição de fins. Assim, todos deverão definir o tipo de sociedade e o tipo de cidadão que pretendem formar. As ações específicas para a obtenção desses fins são meios. Essa distinção clara entre fins e meios é essencial para a construção do projeto político-pedagógico. c) Gestão democrática é um princípio consagrado pela Constituição vigente e abrange as dimensões pedagógica, administrativa e financeira. Ela exige uma ruptura histórica na prática administrativa da escola, com o enfrentamento das questões de exclusão e reprovação e da não-permanência do aluno na sala de aula, o que vem provocando a marginalização das classes populares. Esse compromisso implica a construção coletiva de um projeto político-pedagógico ligado à educação das classes populares. A gestão democrática exige a compreensão em profundidade dos problemas postos pela prática pedagógica. Ela visa romper com a separação entre concepção e execução, entre o pensar e o fazer, entre teoria e prática. Busca resgatar o controle do processo e do produto do trabalho pelos educadores. A gestão democrática implica principalmente o repensar da estrutura de poder da escola, 30 tendo em vista sua socialização. A socialização do poder propicia a prática da participação coletiva, que atenua o individualismo; da reciprocidade, que elimina a exploração; da solidariedade, que supera a opressão; da autonomia, que anula a dependência de órgãos intermediários que elaboram políticas educacionais das quais a escola é mera executora. A busca da gestão democrática inclui, necessariamente, a ampla participação dos representantes dos diferentes segmentos da escola nas decisões/ações administrativo- pedagógicas ali desenvolvidas. Nas palavras de Marques: A participação ampla assegura a transparência das decisões, fortalece as pressões para que sejam elas legítimas, garante o controle sobre os acordos estabelecidos e, sobretudo, contribui para que sejam contempladas questões que de outra forma não entrariam em cogitação. (1990, p. 21) Neste sentido, fica claro entender que a gestão democrática, no interior da escola, não é um princípio fácil de ser consolidado, pois trata-se da participação crítica na construção do projeto político-pedagógico e na sua gestão. d) Liberdade é outro princípio constitucional. O princípio da liberdade está sempre associado à idéia de autonomia. O que é necessário, portanto, como ponto de partida, é o resgate do sentido dos conceitos de autonomia e liberdade. A autonomia e a liberdade fazem parte da própria natureza do ato pedagógico. O significado de autonomia remete-nos para regras e orientações criadas pelos próprios sujeitos da ação educativa, sem imposições externas. Para Rios (1982, p. 77), a escola tem uma autonomia relativa e a liberdade é algo que se experimenta em situação e esta é uma articulação de limites e possibilidades. Para a autora, a liberdade é uma experiência de educadores e constrói-se na vivência coletiva, interpessoal. Portanto, “somos livres com os outros, não, apesar dos outros” (grifos da autora) (1982, p. 77). Se pensamos na liberdade
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