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Hiperaldosteronismo primário · Causa mais comum de hipertensão arterial secundária · Produção excessiva e relativamente autônoma de aldosterona (independentemente do sistema renina-angiotensina e não supressível por sobrecarga de sódio), com supressão da APR, hipertensão arterial e, em cerca de 30% dos casos, hipocalemia e alcalose por acometimento unilateral ou bilateral das adrenais Etiologia · As duas principais etiologias do HAP são: · Adenoma produtor de aldosterona (APA ou aldosteronoma; também denominado síndrome de Conn) · Hiperplasia adrenal ou adrenocortical bilateral (HAB) ou hiperaldosteronismo idiopático · Adenoma produtor de aldosterona · quase sempre é unilateral (98%) e, em geral, mede menos de 3 cm de diâmetro · Hiperplasia adrenal bilateral ou hiperaldosteronismo idiopático · HAB da zona glomerulosa · resposta aumentada da aldosterona à estimulação pela angiotensina II e por apresentar menor supressão da APR, assim como menor produção de aldosterona em comparação com o APA · Hiperplasia adrenal primária · comportamento bioquímico autônomo, independente de angiotensina · Carcinoma adrenal produtor de aldosterona · secretam outros esteroides associados, resultando em quadros clínicos mistos; podem se acompanhar de invasão local ou metástases a distância · Produção ectópica de aldosterona · HAP pode originar-se da secreção de aldosterona por tumores do ovário, sobretudo o arrenoblastoma Aspectos clínicos · maioria dos pacientes com HAP é assintomática · Podem apresentar sintomas relacionados com hipertensão (p. ex., cefaleia, palpitações), hipocalemia (poliúria, nictúria, cãibras, tetania, parestesias, fraqueza muscular etc.) ou ambas. · Nos casos de hipocalemia grave, podem ocorrer fibrilação ventricular, quadriparesia e rabdomiólise, inclusive como manifestação inicial do HAP. Sinais de Trousseau e/ou Chvostek podem também estar presentes, devido à alcalose metabólica gerada pela grave depleção de potássio · não apresentam edema, exceto se houver nefropatia ou insuficiência renal associadas. Isso se deve a um “escape”, no qual os efeitos retentores de sódio do excesso crônico de mineralocorticoides são contrabalançados pelo aumento da produção do hormônio atrial natriurético. · A hipertensão arterial (HAS) no HAP em geral é moderada a grave, com níveis médios de pressão arterial de 184±8/112±16 mmHg. · Pacientes com HAP costumam ser refratários ao tratamento com fármacos hipotensores, bem como tendem a apresentar hipocalemia manifesta após a ingestão de diuréticos tiazídicos · Obesidade abdominal e outras manifestações da síndrome metabólica são frequentes, implicando risco cardiovascular aumentado · Distúrbios de ansiedade e estresse são mais frequentes nos pacientes com HAP quando comparados a indivíduos saudáveis ou com hipertensão essencial Alterações bioquímicas · Níveis séricos baixos de potássio (frequentemente entre 2 e 3,2 mEq/ℓ) e na faixa normal alta de sódio (entre 142 e 145 mEq/ℓ) são alterações bioquímicas “clássicas” do HAP · Para que hipocalemia clínica e manifesta possa efetivamente ser notada, decorre um tempo mais longo – em geral, meses ou anos – do que o necessário para ocorrer expansão de volume e supressão da renina (semanas a meses), após o início do hiperaldosteronismo. Isso ocorre porque o potássio, por ser um íon predominantemente intracelular, tem uma reserva corporal substancial, capaz de manter seus níveis sanguíneos normais por um tempo relativamente prolongado. · A hipocalemia é menos comum na HAB do que no APA, pois neste último os níveis de aldosterona são, em geral, mais elevados · Pacientes com HAP podem ter uma alteração na liberação de insulina, devido à ação da hipocalemia nas células beta pancreáticas e por impacto direto do excesso de aldosterona sobre a secreção de insulina. · A aldosterona também aumenta a resistência à insulina por inibir a captação de glicose induzida por meio da degradação das proteínas do substrato do receptor de insulina (IRS), além de induzir estresse oxidativo · A prevalência de diabetes melito (DM) no HAP varia de 7 a 59%, e a hiperglicemia pode potencializar os efeitos celulares da aldosterona · Pacientes com HAP podem desenvolver ainda hiperparatireoidismo secundário, pois a aldosterona aumenta a excreção renal e fecal de cálcio e magnésio, que é precoce e sustentada (começa já na fase pré-clínica), estimulando a secreção de PTH. A excreção renal de cálcio é sódio-dependente: quanto maior a ingestão de sódio, maior a perda urinária de cálcio. Há maior incidência a nefrolitíase e perda de massa óssea na tíbia e no fêmur Condições associadas · possibilidade de o APA vir acompanhado, na glândula contralateral, de outros tumores adrenais, como adenoma não funcionante, adenoma secretor de cortisol, mielolipoma ou feocromocitoma · tumores adrenais, funcionantes ou não, podem ser ocasionalmente observados na MEN-1, justificando a concomitância de doenças hipofisárias (acromegalia ou prolactinoma) e/ou hiperparatireoidismo primário com HAP, existem relatos de hiperparatireoidismo secundário à ação calciúrica da aldosterona, os quais podem estar associados a nefrolítiase e osteoporose Diagnóstico · Rastreamento: · pacientes com hipertensão sustentada > 180/> 110 mmHg · hipertensão associada à hipocalemia, espontânea ou induzida por diuréticos · hipertensão resistente ao tratamento com 3 classes de anti-hipertensivos, incluindo um diurético, ou controlada (< 140/90) com mais de 4 fármacos anti-hipertensivos · hipertensão com apneia obstrutiva do sono · pacientes hipertensos com história familiar de hipertensão de início precoce ou AVC em idade jovem (< 40 anos) · todos os parentes de primeiro grau de pacientes com HAP · pacientes hipertensos com incidentalomas adrenais · Confirmação do hiperaldosteronismo primário: · sobrecarga oral de sódio · infusão de solução salina · administração oral de fludrocortisona · teste do captopril · Diferenciação entre os subtipos de HAP: · Características clinicolaboratoriais · Em comparação aos casos de HAB, pacientes com APA são, em geral, mais jovens (idade < 45 anos), têm hipertensão mais grave, hipocalemia mais intensa (< 3 mEq/ℓ) e níveis mais elevados de aldosterona plasmática (> 25 ng/dℓ) e urinária (> 30 μg/24 h). · Considera-se que os pacientes com essa descrição têm alta probabilidade de albergarem um APA. · Na nossa casuística, RAR > 100 e CAP > 20 ng/dℓ tornaram possível a discriminação entre APA e HAB com sensibilidade de 84% e especificidade de 82,6%. · Cerca de 20% dos pacientes com HAB tinham uma RAR < 20. Em contrapartida, a RAR foi > 40 em todos os casos de APA Localização do adenoma ou da fonte produtora de aldosterona · Exames de imagem · Tomografia computadorizada · todo paciente com diagnóstico de HAP seja submetido à TC de adrenais a fim de iniciar a diferenciação entre os subtipos e, principalmente, para excluir grandes massas adrenais compatíveis com carcinoma · Esse procedimento só deve ser feito, contudo, após o diagnóstico bioquímico de HAP, para evitar que um incidentaloma adrenal seja confundido com um aldosteronoma. · maioria dos carcinomas adrenocorticais apresenta um fenótipo de imagem fortemente suspeito à TC: margens irregulares, áreas de necrose ou hemorragia e densidade > 10 UH e clareamento lento do contraste intravenoso. · Na HAB, classicamente observam-se adrenais aumentadas bilateralmente ou de tamanho normal · Ressonância magnética · casos com contraindicação à TC · Cateterismo das veias adrenais · Padrão-ouro para diferenciar secreção hormonal adrenal unilateral de bilateral; portanto, o melhor exame para diferenciar APA de HAB Tratamento · Morbidade e a mortalidade associadas à hipertensão, ao próprio excesso de aldosterona e à hipocalemia. · Cirurgia (adrenalectomia unilateral) é a opção de escolha para os adenomas produtores de aldosterona (APA e APA-RA) e para a hiperplasia adrenal primária (HAPr). · A hiperplasia adrenal bilateral (HAB) e o HASD ou HF-I devem ser tratados clinicamente · Tratamento farmacológico do aldosteronomae da hiperplasia adrenal primária · Se houver contraindicação cirúrgica, ou se esta for recusada pelo paciente, o tratamento continuado com espironolactona costuma ser eficaz · Se necessário, pode-se adicionar outros fármacos, como bloqueadores dos canais de cálcio, inibidores da ECA ou antagonistas do receptor da angiotensina II · Tratamento farmacológico da HAB · antagonistas do receptor de mineralocorticoide (espironolactona ou eplerenona).
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