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Questão agrária e questão racial no Brasil _ Passa Palavra

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20/08/2018 Questão agrária e questão racial no Brasil | Passa Palavra
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Questão agrária e questão racial no Brasil
04/03/2011
Impasses e potencial conexão de dois elementos constituintes da forma de
exploração brasileira. A idéia de que o desenvolvimento do capitalismo no
Brasil teve como motor o trabalho escravo é fato consolidado na historiogra�a
o�cial, mas o mesmo não ocorre diante da a�rmação de que a atual
desigualdade social brasileira tem no racismo um de seus eixos estruturantes.
Por Rafael Litvin Villas Bôas [*]
Por dentro e por fora é uma série de artigos de debate sobre as lutas e os movimentos
sociais, da iniciativa conjunta de Paulo Arantes e do coletivo Passa Palavra. Série aberta a
um amplo leque de colaboradores individuais, convidados ou espontâneos, mais ou
menos empenhados (ou ex-empenhados) nas lutas concretas, que ajude a aprofundar
diagnósticos sobre a sociedade que vivemos, a cruzar experiências, a abrir caminhos – e
cujos critérios seletivos serão apenas a relevância e a qualidade dos textos propostos.
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As condições de reorganização das lutas sociais no período de
redemocratização do país, após duas décadas de ditadura militar,
potencializaram as lutas setoriais. No �nal da década de 1970 e início da de
1980 surgem o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o
Movimento Negro Uni�cado (MNU), a Central Única dos Trabalhadores (CUT),
o Partido dos Trabalhadores, etc.
Duas décadas após o “retorno à democracia”
podemos dizer que ainda são exceções à regra as
iniciativas de cruzamento das bandeiras de luta e a
incorporação de questões, em princípio não
prioritárias, às bandeiras de origem dos movimentos.
Por exemplo, nos movimentos sociais do campo são
raras as iniciativas de discussão sobre racismo, assim
como no movimento negro a reforma agrária não é
um ponto chave da agenda de lutas.
O paradoxo é que, com exceção de iniciativas esparsas de articulação em
fóruns nacionais de discussão e intervenção, o combate à forma monopolista e
segregacionista do Estado brasileiro, operado pela classe dominante, ocorre
em campos de batalha separados, embora a origem das causas que dão vazão
às bandeiras dos movimentos sociais seja comum.
O propósito do texto é re�etir sobre as conexões entre as questões agrária e
racial, re�etindo sobre impasses – como os pontos coincidentes da análise
dessas organizações com a posição da classe dominante -, caracterizando a
estratégia comum da classe dominante para o ataque aos dois �ancos e
mapeando perspectivas de articulação entre movimentos negro e de luta
contra o racismo com os movimentos do campo.
Estranhamento como providência política
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É compreensível que a posição da classe dominante brasileira sobre a questão
de classe e o racismo à brasileira seja refratária, no sentido de recusar a
legitimidade das lutas e reivindicações dos explorados e oprimidos, omitindo
ou relativizando a causalidade histórica do processo de discriminação e
extermínio sistemático.
O dado destoante é o fato de parte das organizações de esquerda utilizar, por
vezes, a mesma artilharia para justi�car seus receios em relação às
consequências do aprofundamento dessa discussão, como a evocação do risco
de que o a�oramento da discussão sobre racismo vá incitar a divisão e o ódio
racial entre os pobres. Por uma questão de princípio de segurança, essas
organizações deveriam descon�ar de todo e qualquer argumento da esquerda
que seja semelhante aos utilizados pela classe dominante.
Esse exercício de discernimento exige dos movimentos sociais um processo de
análise sobre as semelhanças e diferenças de suas estratégias e táticas,
situando as experiências historicamente e buscando pontos de convergência
que fortaleçam os enfrentamentos em comum contra a classe dominante. Esse
conhecimento articulado e comparado de nossas experiências é que pode nos
levar a ver com nitidez a estratégia e as táticas de combate do poder
hegemônico.
Desigualdade social, racismo e meritocracia
A idéia de que o desenvolvimento do capitalismo no Brasil teve como motor o
trabalho escravo, ou a mercantilização da vida de seres humanos, é fato
consolidado na historiogra�a o�cial. Entretanto, o mesmo não ocorre diante
da a�rmação de que a atual desigualdade social brasileira tem no racismo um
de seus eixos estruturantes.
Logo após a abolição da escravatura, o Estado e a intelectualidade brasileira
tentaram sistematicamente apagar as marcas e os impasses estruturais que
nos foram impostos pela adoção do sistema escravista na periferia para
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modernizar o centro do sistema mundial produtor de mercadorias, na época
situado na Europa. Na memória coletiva não persiste a incômoda informação
de termos sido o último país do mundo a abolir a escravidão.
A meritocracia, o discurso ideológico calcado na
premissa da livre iniciativa, se consolida no Brasil
por meio da importação do trabalho assalariado
branco europeu como providência de substituição
da mão-de-obra negra em condição escrava e
depois “recém liberta” pela abolição. Portanto, o projeto de adaptação da
ideologia do mérito no Brasil ocorreu no mesmo compasso em que se
consolidava a iniciativa de embranquecimento do país, posto que a mão-de-
obra “livre” fora importada majoritariamente de países europeus.
Até há pouco tempo prevalecia no imaginário coletivo o sentimento
imperativo do orgulho diante da promessa de novidade que teríamos a
oferecer ao mundo, diante da idéia de que a formação de nossa população teria
ocorrido pela suposta integração harmônica entre brancos, negros e índios. É
certo que a leitura romantizada do passado nefasto já não persiste como
outrora. A ação do movimento negro em prol da implementação das ações
a�rmativas para afro-descendentes quebrou as pernas do mito da democracia
racial, pois obrigou o Estado brasileiro a reconhecer a existência do racismo no
Brasil, e mais do que isso, que o Estado tem responsabilidade no problema e
que por isso tem que intervir para resolver o impasse.
De resvalo, a batalha pela implementação das ações a�rmativas abalou a
ideologia do mérito, pois no caso das cotas para afro-descendentes nas
universidades públicas brasileiras, por exemplo, a média geral do desempenho
dos cotistas afro-descendentes é superior à dos alunos não cotistas, ao
contrário do que pregava o argumento racista de que a política de cotas
rebaixaria o nível de qualidade das universidades.
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No âmbito da disputa ideológica, a luta pela reforma agrária não logrou o
mesmo êxito. A despeito das pesquisas acadêmicas que comprovam o caráter
estratégico da agricultura familiar para a soberania alimentar, para a
diversidade dos gêneros alimentícios e para a saúde e economia da população,
a grande imprensa mantém intensa campanha de propaganda sobre o setor do
agronegócio brasileiro como a ponta de lança do desenvolvimento nacional. Os
governos, por sua vez, concedem linhas de crédito para os grandes negócios
agrícolas proporcionalmente muito maiores do que aquelas direcionadas aos
pequenos produtores. A divisão da propriedade da terra é uma ameaça ao
projeto da terra como reserva de valor e do alimento como mercadoria, por
isso a reforma agrária é encarada como uma opção regressiva, uma ameaça ao
futuro.
Vínculo entre latifúndio e racismo
Existe uma articulação entre racismo, agronegócio e indústria cultural, e a
análise das conexões entre esses fatores é necessáriapara a abordagem da
realidade contemporânea que tenha em perspectiva a idéia de totalidade da
experiência histórica.
O poder da classe dominante brasileira é
sustentado pelo tripé “monopólio da terra +
controle dos meios de comunicação + poder
político eleitoral”. Apesar da irregularidade
perante a lei, é comum que os políticos de maior in�uência no Congresso
Nacional sejam proprietários de cadeias de meios de comunicação em suas
regiões, e com isso se mantenham em evidência permanente e ataquem seus
inimigos. O domínio dos meios de comunicação é um instrumento de coação e
um instrumento de acumulação de riqueza e in�uência, a despeito do sistema
de uso dos serviços de comunicação ser supostamente regulado pelo Estado
por meio do sistema de concessão pública.
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Não é mera coincidência que no parlamento brasileiro os políticos brancos da
bancada ruralista sejam fortes protagonistas da reação às políticas de ação
a�rmativa para população afro-descendente brasileira. Com frequência, por
exemplo, o senador Demóstenes Torres, do partido Democratas de Goiás, é
requisitado para dar entrevistas pelas emissoras familiares que, não por acaso,
integram associações do agronegócio no Brasil.
A despeito da maioria da população do campo brasileiro ser negra e viver em
condição de miséria ou pobreza, não há volume signi�cativo de pesquisas que
articule questão agrária e questão racial, agronegócio e racismo, como
conexões atuais do problema estrutural, que engrena um modo de produção
agrícola voltado eminentemente para exportação, ao legado escravocrata
brasileiro. A conjunção entre e�ciência mercantil do modo de produção e
barbárie social, esta movendo aquela, suprindo a modernidade do centro sob o
ônus da fratura exposta do sistema, não é novidade dos dias atuais, pelo
contrário, data do período colonial.
Para além dos limites corporativos e departamentais da academia brasileira,
são os movimentos sociais de trabalhadores do campo que denunciam a face
arcaica e brutal da promessa de modernidade brasileira, o agronegócio, dando
visibilidade aos índices de criminalidade das cidades de fronteira agrícola do
agronegócio, explicitando o caráter danoso para a natureza e humanidade
(desmatamento e exportação ilegal de madeira, monocultivo até o
esgotamento da terra, criação de pastagens para pecuária extensiva) desse
modelo de produção, chamando atenção para a libertação de trabalhadores em
condições análogas à escravidão em fazendas-modelo do setor agrícola, e
expondo a crescente internacionalização das terras dos países do hemisfério
sul.
Entretanto, mesmo com a intensa movimentação há limites no plano da
formulação de estratégia, em função do não reconhecimento no plano
histórico, teórico, e como providência de articulação da classe trabalhadora
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brasileira, das conexões explosivas entre terra, raça e classe. Florestan
Fernandes, um dos principais intérpretes da formação do Brasil, pensador
reconhecido e homenageado por diversos movimentos sociais brasileiros
(embora seus estudos sobre classe e raça sejam, paradoxalmente, pouco
lidos), questiona a invisibilidade dos vínculos explosivos entre classe e raça no
Brasil: o fato nu e cru é a existência de uma imensa massa de trabalhadores
livres e semilivres, na cidade e no campo. É, portanto, entre os de baixo, onde a
luta de classes crepita com oscilações, mas com vigor crescente, que a raça se
converte em forte fator de atrito social. Há problemas que poderiam ser
resolvidos “dentro da ordem”, que alcançam a classe mas estão fora do âmbito
da raça. A raça se con�gura como pólvora do paiol, o fator que em um contexto
de confrontação poderá levar muito mais longe o radicalismo inerente à classe
(1989, p. 42).
A pauta dos movimentos, a despeito de sua
legitimidade, é em geral reativa ao avanço do
modelo hegemônico e não organizativa. A maioria
negra do campo é vista pelos movimentos somente
sob o crivo da condição de trabalhadores rurais,
sem que 350 anos de escravidão façam diferença na compreensão do problema
e na formulação de estratégias para lidar com a questão. De modo geral, a
interpretação política da esquerda brasileira expropriou a historicidade da
classe trabalhadora, a saber: quando os negros em condição escrava foram
libertos pela abolição da escravidão eles perderam a sua cor, sua memória
afro-descendente, e entraram para a história como os despossuídos, os
pobres, desempregados, mão-de-obra desquali�cada para o trabalho,
trabalhadores rurais, rurícolas.
Outra dinâmica de anulação dos vínculos emancipatórios entre classe e raça é
o discurso homogeneizante da diversidade, que não reconhece a contradição
na diferença, porque nega o caráter dialético do curso do processo histórico e
se recusa a reconhecer os vínculos estabelecidos pela condição de classe entre
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os trabalhadores, a despeito de suas diferenças regionais, étnicas e de modo de
trabalho. O discurso da diversidade inclui a todos no universo da cidadania,
mas mantém os segmentos populares isolados uns dos outros, como adornos
de um país miscigenado, pressuposto para a propaganda de nossa
especi�cidade formativa. Nessa perspectiva, a questão racial não é negada,
pelo contrário, ela é anulada ao ser a�rmada como um elemento entre outros
de nossa diversidade, e não como um dado estruturante da con�guração das
classes sociais no Brasil.
A dinâmica do capital nas terras brasileiras estabeleceu na relação entre
exploradores e explorados, isto é, na questão de classe, especi�cidades que
não podem ser ignoradas, como a desigualdade étnica e racial e de gênero, pois
essas formas de discriminação são pressupostos para a re�exão sobre a
consistência da desigualdade de classe no Brasil. Isto quer dizer que não se
trata de categorias paralelas, se trata de problemas constituintes da forma de
exploração brasileira e, por isso, devem ser pensadas de forma integral.
Há ainda, para além da existência dos espaços protocolares de articulação
entre os movimentos sociais de diversos segmentos populares, a resistência ao
debate sobre classe, raça e terra, sob a alegação de que esse debate pode incitar
a segregação e a desarticulação das bases sociais. Sem perceber, esse medo é
parente, ou herdeiro da “síndrome do pânico” [1] manifestado pelas elites
brancas do país desde o período escravocrata; é a manifestação da introjeção
de um preconceito sócio-racial que tem efeito regressivo perante a
organização das classes populares brasileiras.
Outra causa possível do afastamento entre trabalhadores brancos e negros é a
competição pelo trabalho, pelas mínimas condições materiais de reprodução
da existência, no Brasil pós-abolição, que contrapôs negros livres sem recurso
a colonos brancos e amarelos.
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Não se faz hoje associação de causa e consequência diante do fato de sermos o
país recordista na concentração de terras (46% das terras nas mãos de 1% de
proprietários), o último a abolir a escravidão, e termos a maioria da população
negra em condição de pobreza. A Lei de Terras, promulgada em 1850, é um
marco para a compreensão do destino articulado da questão agrária e da
questão racial do país. Quando a elite percebeu que a escravidão teria um �m
datado na história mundial – haja vista que a revolução dos negros haitianos
já tinha ocorrido (1804) e amedrontava os senhores de escravo brasileiros, e
que a produção excedente de mercadorias exigia a expansão do mercado
consumidor na periferia mundial –, adiantou-se e decretou que as terras
poderiam ser compradas (aaltos custos), herdadas ou concedidas pelo poder
do Estado. Então, trinta e oito anos depois dos braços negros tornarem-se
livres, as terras já eram mercadoria, com preços inacessíveis para a população
negra ex-escrava, que até à abolição em geral não era remunerada pelo fruto
do seu trabalho.
Latifúndio e racismo são desdobramentos do
mesmo problema, embora hoje sejam tratados
como problemas de ordem distinta. O poder
hegemônico omite os elos históricos entre a
questão agrária e a questão racial e aborda a luta
dos trabalhadores rurais sem terra e do movimento negro como manifestações
de ordem conjuntural, local, especí�ca – coisa de desocupados e baderneiros,
para a primeira questão, e da ordem do ressentimento individual ou de grupo
minoritário para a segunda – e não pela dimensão estrutural que envolve
ambos.
Os sistemáticos ataques da direita (com o ex-PFL na linha de frente e PSDB
logo atrás) às bandeiras e conquistas dos movimentos sociais do campo e
movimentos negros evidenciam duas questões: 1º) Que ao contrário do que
pregam críticos de extrema-esquerda, as ações desses movimentos
confrontam diretamente o poder hegemônico, daí as manifestações reativas
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da direita. Não se trata, portanto, de ações pontuais e fragmentadas, pois
tocam na estrutura da propriedade no país e na questão da distribuição de
renda, ambas ligadas diretamente ao princípio de acumulação desigual da
sociedade capitalista. 2º) A observação da estratégia de resistência da elite às
tentativas de políticas civilizatórias dos grupos subjugados leva a ver a
falsidade das premissas que legitimam a república (universalidade, mérito,
etc.). Argumentos como “negros vão piorar a qualidade do ensino superior”,
“política de cotas vai quebrar a meritocracia” e “a ação dos movimentos sem
terra é terrorista”, constantemente propalados pelos veículos da imprensa
burguesa, se con�guram na versão moderna da “síndrome do pânico”.
Unidade construída a partir da luta conjunta
A uni�cação da estratégia de vários movimentos sociais de massa em torno do
objetivo de construção de um projeto popular para o país tem permitido
alianças entre movimentos sociais que desde suas origens, com a
redemocratização do país, vinham atuando em torno de bandeiras
corporativas e por demais especí�cas. A pauta da educação, por exemplo,
permitiu a convergência de movimentos negros de luta contra o racismo e de
movimentos camponeses; isso pode ser veri�cado no artigo “Luta,
organização e unidade dos jovens pela educação no Brasil”, escrito por dois
dirigentes, Douglas Belchior e João Paulo Rodrigues, respectivamente da
Uneafro e do MST.
O casamento da luta contra o racismo e contra o agronegócio, em torno da
educação e de um projeto popular, tem um grande potencial de resistência à
expansão do capital na cidade e no campo. É o mesmo capital que impõe a
desigualdade racial para aumentar a exploração do trabalho da juventude
negra e avança, por meio do agronegócio, sobre terras que deveriam ser
destinadas à reforma agrária. Paralelamente, ambos têm que lutar para
garantir o acesso à educação, uma vez que o Estado não foi capaz de
universalizar esse direito fundamental para a sociedade (2010, p. 02).
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Essa articulação em torno de uma pauta comum de
lutas gera indagações ao passado, em busca de
conexões, de causalidades, capazes de elucidar
impasses do presente e projetar perspectivas
radicais para o futuro. Trata-se do esforço de
reconstrução de pontes com o passado, de encontro dos sobreviventes com a
tradição de expropriação que condicionou a situação abissal de desigualdade
contemporânea. No mesmo artigo, Belchior e Rodrigues destacam:
A herança latifundiária brasileira (de propriedade jurídica) tem raízes na Lei
de Terras de 1850, editada para perseguir os quilombos e estabelecer quem
deveria ser dono das terras e quem não deveria. Essa ação do Estado, junto
com outras intervenções, tornaram intrínsecas as lutas camponesas e a luta da
população e da juventude negra das cidades. Num país onde a Independência
manteve a escravidão e a abolição do escravismo manteve o latifúndio,
podemos a�rmar que os desa�os dos negros e sem terra são duas faces da
mesma moeda (Idem, Ibidem).
Notas
[*] Professor do curso de Licenciatura em Educação do Campo da Universidade
de Brasília, pesquisador do grupo “Modos de produção e antagonismos
sociais” e integrante do Coletivo de Cultura do MST.
[1] Expressão cunhada pelo sociólogo Clóvis Moura em Sociologia do negro
brasileiro (São Paulo: Ática, 1988), para denominar a dimensão do pavor que
a�igia as famílias escravocratas diante da possibilidade de um levante
insurgente da população negra em condição escrava no Brasil.
Referencial bibliográ�co
FERNANDES, Florestan. Signi�cado do protesto negro. São Paulo: Cortez:
Autores Associados, 1989.
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RODRIGUES, João Paulo; BELCHIOR, Douglas. Luta, organização e unidade dos
jovens pela educação no Brasil. São Paulo: Jornal Brasil de Fato, ano 8, nº 369,
25 a 31 de março de 2010.
As fotogra�as são, evidentemente, de Sebastião Salgado.

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