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1 Português Literatura Colonial 01 Aula 1C Apresentação Podemos dividir a Literatura Brasileira em dois mo- mentos mais amplos: • Literatura Colonial as manifestações literá- rias ocorridas no Brasil Colônia (1500-1822); • Literatura Nacional as manifestações literá- rias ocorridas no Brasil após a proclamação da Independência (1822 – dias atuais). Por sua vez, cada momento possui suas subdivisões, que veremos progressivamente. Literatura Colonial Entende-se por Literatura Colonial o conjunto de manifestações literárias ocorridas no Brasil Colônia, isto é, quando o Brasil ainda era dependente da Metrópole (Portugal). Esse período vai de 1500 – ano de Desco- brimento do Brasil – a 1822, quando foi proclamada a nossa independência. Podemos dizer que, de certo modo, a Literatura Colonial representa mais uma produção literária sobre o Brasil ou no Brasil do que uma literatura efetivamente brasileira. De modo geral, trata-se, portanto, de uma literatura transplantada para o Brasil. Divide-se a Literatura Colonial em três grandes momentos: • Quinhentismo (1500-1601); • Barroco (1601-1768); • Arcadismo (1768-1836). Quinhentismo (1500-1601) MEIRELES, Vítor. Primeira missa. 1860. 1 óleo sobre tela: color.; 270 cm x 357 cm. Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro. A rigor, não se pode falar de uma literatura como arte da palavra escrita produzida nessa época no Brasil. Não tivemos artistas escrevendo literatura com intenção ou valor artísticos. Na realidade, os textos escritos durante o Quinhentismo apresentaram pouquíssimo valor ar- tístico mas grande valor histórico, pois se constituíram em documentos valiosos para os futuros pesquisadores e em riquíssima fonte de consulta e inspiração para es- critores de outras estéticas literárias que surgiriam mais tarde, como o Romantismo e o Modernismo. Podemos dividir os textos do Quinhentismo em duas modalidades principais: 1. Literatura de informação Foi a literatura produzida pelos viajantes, aventureiros e cronistas que ao Brasil chegaram com as expedições exploradoras. Escritos em forma de cartas, crônicas de viagem, tratados descritivos e diários de navegação, esses textos tinham como finalidade descrever e narrar a nova terra, suas riquezas, potencialidades e seus habitantes, enfim, tudo aquilo que interessasse aos governantes d’além-mar, em especial, à metrópole portuguesa. Mesmo não possuindo um enfoque artístico-literário, a Literatura de Informação abordou temas que, poste- riormente, seriam bastante frequentes em nossa letras, como: as belezas naturais, o índio, as origens históricas e o choque de civilizações. Principais autores e obras: • Pero Vaz de Caminha – Carta do achamento do Brasil (1500) • Pero Lopes de Sousa – Diário de navegação (en- tre 1530 e 1532) • Hans Staden – Viagem ao Brasil (1557) • Pero de Magalhães Gândavo – História da Pro- víncia de Santa Cruz (1576) • Jean de Léry – Viagem à terra do Brasil (1578) • Gabriel Soares de Sousa – Tratado descritivo do Brasil (1587) • Padre Fernão Cardim – Tratados da terra e gente do Brasil (sem data) 2. Literatura de formação Foi a literatura produzida pelos padres jesuítas, en- viados ao Brasil em meados do século 16 com o propó- sito de catequizar os indígenas e de educar os colonos, transmitindo-lhes os conceitos cristãos. Como influência da Contrarreforma, os trabalhos dos jesuítas visavam à conquista espiritual da nova terra. No trabalho de evangelização dos silvícolas, os je- suítas produziram textos teatrais de cunho pedagógico (autos de devoção) e alguns poemas. Além disso produ- ziram ainda cartas, relatórios diversos e alguns estudos sobre as línguas indígenas. Principais autores e obras: • São José de Anchieta – o grande nome da literatura jesuítica; produziu uma obra diversificada: autos, poemas, relatórios, estudos linguísticos, etc. Em suas peças, nota-se a adaptação dos conceitos cristãos à realidade dos índios: personagens como Deus, Vir- gem Maria, Diabo e tantos outros são personificados em seres da mitologia e da vivência indígenas. • Padre Manuel da Nóbrega – obra de destaque: Diálogo sobre a conversão do gentio. Barroco (1601-1768): o homem em conflito VELÁZQUEZ, Diego. As meninas. Sevilha. 1656-1657. óleo sobre tela: 316 x 276 cm. Museu do Prado, Madri. Nesta tela de Diego Velásquez, notam-se perfeitamen- te algumas características da estética barroca, como o contraste entre luzes e sombras e a riqueza de detalhes. Contexto A Contrarreforma, os Tribunais de Inquisição reativados, o fim do glamour das Grandes Navegações e o consequente desprestígio de Portugal. Esses são apenas alguns dos fatos que marcaram o turbulento século 17, no qual o homem ocidental se via mergulhado nos seguintes dilemas: • O que buscar: o eterno ou o efêmero? • Gozar dos prazeres da carne ou almejar as virtudes do espírito? • Protestantismo ou Catolicismo? • Fé ou razão? A arte barroca expressa muito bem alguns desses im- passes vivenciados pelo homem seiscentista, o qual oscila- va entre a visão teocentrista medieval e o antropocentrismo renascentista. Logo, o Barroco é a expressão artística que atesta um momento de contradição e dualismo. Na pintura, destacaram-se gênios como Caravaggio, Velázquez e Rembrandt; na música, sempre merecem ser lembrados os nomes de Bach e Häendel. No Brasil, sempre que se menciona a arte barroca, destaca-se o nome de Antônio Francisco Lisboa, mais conhecido como o Aleijadinho (1730-1814). De fato, foi o artista que melhor desenvolveu no Brasil a escultura 2 Semiextensivo barroca, principalmente nas cidades mineiras de Ouro Preto, Sabará e Congonhas, mas com inovações e particularidades. Vale lembrar, porém, que Aleijadinho produziu a maior parte de sua obra num momento em que já estava em vigor, em nossa literatura, o Arcadismo. Características do estilo barroco De modo geral, as características mais representati- vas do Barroco são as seguintes: Arte de contrastes O Barroco se caracteriza por ser uma estética que aproxima os opostos, os elementos duais, como: Teocentrismo Antropocentrismo Espiritual Carnal Eterno Efêmero Salvação da alma Prazeres terrenos Morte Vida Céu Terra Também é muito comum o uso ostensivo de figuras de linguagem que demarcam oposições, como antíte- ses, paradoxos e oxímoros (essas e outras figuras serão estudadas nas aulas de Gramática e Redação). O trabalho com os elementos opostos atinge o seu ápice com o fusionismo, que consiste na tentativa de não mais, simplesmente, aproximar contrários, mas uni-los em um mesmo plano ou numa mesma obra. Há, portanto, no Barroco, a fusão de sons, de luz e treva, de paganismo com cristianismo (em alguns casos). Riqueza de detalhes, rebuscamento Tanto nas artes plásticas (pintura, escultura) como na música e na literatura, percebemos um ornamentalismo, uma riqueza de detalhes que, por muito tempo e por mui- tos críticos, foi vista de maneira negativa, como exageros desnecessários. Ocorre, porém, que esta é a marca do Barroco: o exagero, o requinte, a valorização do detalhe: • Na pintura, o trabalho com as linhas curvas e ousadas; • Na música, o grande número de notas por compas- so, além de floreios e trinados; • Na literatura, o uso de muitas figuras de linguagem, como metáforas, hipérboles, antíteses, paradoxos, entre outras, e a sintaxe rebuscada. Arte baseada na imaginação e nos sentidos Como consequência direta da tentativa de se conciliarem elementos contraditórios, há no Barroco a prevalência dos impulsos pessoais, subjetivos sobre as normas ditadas por modelos preestabelecidos. “Era pelos sentidos e pela imaginação, e não pela razão, que o Barroco conquistava o homem”, como dizia o crítico literário Afrânio Coutinho. Na literatura, duas linhas: Cultismo e Conceptismo O Cultismo (ou Gongorismo) caracteriza-se pela radica- lização na riqueza de detalhes: uso intensivo das figuras de linguagem, complexas inversões sintáticas,malabarismos verbais, repetições e, em muitos casos, certa prolixidade. De tendência descritiva e de apelo aos sentidos, esta linha procurou valorizar mais a forma e se mostrou mais presente na poesia. No Brasil, alguns poemas de Gregório de Matos demonstram tais traços cultistas, embora muitas vezes apareçam misturados a traços conceptistas. Já o Conceptismo (ou Quevedismo) se caracteriza por apresentar uma série de raciocínios lógicos, tal como um jogo de ideias e analogias, valendo-se tam- bém de uma retórica aprimorada. Vale ressaltar que, às vezes, nos textos com profunda influência concep- tista, percebe-se certa sinuosidade lógica, criada pela sobreposição de uma série de conceitos, que envolvem o ouvinte-leitor numa rede de argumentos, tentando levá-lo a concordar com as ideias defendidas. Logo, esta linha apresenta uma tendência mais racional e é mais recorrente na prosa. No Brasil, os sermões do Padre Antônio Vieira ilustram muito bem a linha conceptista. Principais autores do Barroco Bento Teixeira A publicação de Prosopopeia, em 1601, pode ser considerada o marco inicial do Barroco no Brasil. A obra é uma tentativa do autor de, imitando Camões, contar a história da capitania de Pernambuco. Autor de pouca expressividade literária. Gregório de Matos Guerra: É o escritor que melhor evi- denciou, no Brasil, o espírito bar- roco – o homem em conflito –, tanto em sua poesia quanto em sua vida. Seus poemas transitavam do sacro ao profano com uma habilidade incrível e paradoxal. O poeta contrito, transmudado em um eu lírico arrependido, em busca de um Deus perdoador, logo se D an ie l K le in . 2 01 5. D ig ita l. 1633-1693 Aula 01 3Português 1C transforma em um sátiro desbocado, atacando a tudo e a todos de seu tempo, muitas vezes com uma linguagem chula, repleta de palavrões, vindo daí o seu apelido de o Boca do Inferno ou, ainda, Boca de Brasa. Utilizou-se de praticamente todos os recursos estilísticos do Barroco – inversões, antíteses, paradoxos, reiterações, .... –, unindo muitas vezes cultismo e con- ceptismo. Toda a produção poética de Gregório de Matos pode ser dividida em três eixos principais: 1. Poesia religiosa É um dos poetas brasileiros que melhor conseguiu desenvolver a temática religiosa. Nesses poemas, há o estabelecimento de um eu lírico arrependido, que se coloca diante de um Deus perdoador e compreensivo. Os temas da poesia religiosa e filosófica de Gregório de Matos são baseados na religiosidade contrarreformis- ta, abordando normalmente: • a brevidade da vida e a fragilidade da formosura; • o sentimento de culpa por haver pecado; • o arrependimento e a busca do perdão perante a figura tolerante de Deus; • a vaidade e a inutilidade dos bens materiais. 2. Poesia lírico-amorosa Em oposição aos apelos de ordem espiritual, a lírica amorosa de Gregório de Matos – que às vezes traz marcas de uma linguagem mais sensual – prega o lema do carpe diem (aproveita o dia, a vida), próprio da filosofia pagã. Assim é que aconselha a busca dos prazeres da vida, ora de modo mais sutil, ora de modo mais explícito. Além disso, percebemos em seus versos um eu lírico dividido entre o desejo dos prazeres carnais e o senti- mento amoroso platônico, o que demonstra a marcante influência recebida do poeta do Classicismo português, o grande Luís Vaz de Camões. 3. Poesia satírica É na poesia satírica que percebemos a razão do apelido de Boca do Inferno – a sátira direta a tudo e a todos. É também na poesia satírica que conhecemos os versos mais originais de Gregório de Matos, pois fogem em parte dos padrões artísticos barrocos, voltando-se para a realidade de sua época. Com uma linguagem ferina e sarcástica, repleta de palavrões, ele notabilizou-se como um crítico impla- cável da vida social, política e econômica de Salvador, uma das cidades mais importantes do Brasil Colônia no século 17. Ninguém escapava de seus ataques; seus alvos preferidos eram: • o clero; • os governantes corruptos e incapazes; • a pretensa nobreza e seu comportamento ridículo e subserviente ao colonizador; • a cidade de Salvador, as fofocas, os mulatos ma- landros, a roubalheira disseminada; • mulheres adúlteras, maridos traídos, pessoas do povo,... Enfim, são inúmeros os alvos de crítica do Boca do Inferno. Isso lhe rendeu grande popularidade à época e muitos inimigos. Percebemos ainda nesses versos um certo sentimento nativista, na medida em que ele expõe os problemas e as desigualdades do pacto colonial. É um leve despertar de uma consciência crítica local. Padre Antônio Vieira O maior orador em Língua Portu- guesa: Padre Antônio Vieira é até hoje conhecido assim, tanto em Portugal como no Brasil. Figura de grande re- levância no século 17, tomou parte – por seus sermões e cartas – em várias questões religiosas, sociais, políticas e econômicas, tanto em Portugal como no Brasil, o que lhe rendeu alguns dissabores e alguns inimigos. Dotados de uma retórica aprimorada, totalmente enri- quecida por elementos até meio teatrais e várias citações em latim, os sermões de Vieira – o melhor de sua produção – possuem, normalmente, a seguinte estruturação: • Tema – O texto bíblico-chave, no qual se baseia o sermão. • Introito ou exórdio – Antecipação da estrutura sequencial das ideias a serem explanadas. • Invocação – Pedido de inspiração e sabedoria para expor suas ideias (pedido feito normalmente a Virgem Maria). • Desenvolvimento ou argumento – A defesa de suas ideias com base numa argumentação bastante sólida. • Peroração ou conclusão – A parte final, na qual normalmente convocava os fiéis à reflexão e à ação. Vale frisar que os sermões do Padre Vieira eram um instrumento muito eficiente para se formar a opinião dos colonos, entre tão poucos instrumentos disponíveis à época. Lembre-se de que o público não tinha a seu dispor jornais, revistas ou tantos outros meios de comu- nicação existentes hoje. O púlpito era, enfim, um centro irradiador de ideias; os sermões iam, portanto, muito além do mero discurso religioso. D an ie l K le in . 2 01 5. D ig ita l. 1608-1697 4 Semiextensivo São alguns temas desenvolvidos em seus sermões: • a defesa dos interesses da colônia, mesmo que sub- missa à metrópole; • a exposição das doutrinas cristãs fundamentais; • a condenação dos costumes desregrados e imorais dos cristãos; • a defesa dos índios; • o messianismo. A vasta obra do autor assim está dividida: • Profecias – Escritos exagerados, nos quais Vieira acreditava ser Portugal um dos cinco grandes impérios da humanidade, o que estaria segundo ele profetizado nas escrituras sagradas. • Cartas – Mais de 500, as quais tratam de assuntos diversos relacionados aos cristãos-novos, à situação da colônia e outros aspectos históricos. Textos de maior valor histórico do que artístico de fato. • Sermões – Cerca de 200, que consistem no melhor da produção de Vieira. Outros autores Manuel Botelho de Oliveira, Frei Vicente do Salvador e Sebastião da Rocha Pita – nomes de pouco valor artístico nos dias de hoje e de raríssima ocorrência nos exames vestibulares. Arcadismo (1768-1836): O homem em liberdade POUSIN, Nicolas. Pastores da lendária Arcádia (Et Arcadia ego). c. 1638-40. 1 óleo sobre tela: colo.; 85 cm x 121 cm. Tate Gallery, Londres. O Arcadismo rende um significativo tributo à cultura clássica. POUSIN Nicolas Pastores da lendária Arcádia (Et Arcadia ego) c 1638-40 1 óleo sobre tela: colo ; 85 cm x 121 cm Tate Gallery Londres Século 18: Século das Luzes Na Europa No Velho Mundo, a partir da segunda metade do século 18, começa a surgir o Iluminismo, uma corrente do pensamento que preconizava a razão e a ciência como bases para a explicação do universo e de tudo nele contido. Logo, a razão se sobrepõe à religiosidade e a tudo que se mostre obscuro. Tal mudança de men- talidade atingirá também as artes. O Barroco, arte tão ligada a valoresreligiosos e tão apoiada na imaginação e nos sentidos, passa a ser criticado por muitos artistas e estudiosos. Surgem, então, novas concepções artís- ticas, apoiadas em pressupostos mais racionais e mais sóbrios. Aula 01 5Português 1C E no Brasil? Por aqui, a descoberta de ouro nas Minas Gerais pro- move o desenvolvimento acelerado da região, transfor- mando Vila Rica (atual Ouro Preto) no centro econômico, político e cultural da colônia. É na cidade de Vila Rica (e adjacências) que os jovens intelectuais, regressando das universidades europeias, embebidos de ideias iluminis- tas e, portanto, mais liberais, vão iniciar um movimento (frustrado) contra a exploração de nossas riquezas pela Metrópole. Esse movimento denominou-se Inconfidên- cia Mineira. Esses jovens, porém, obtiveram êxito com a revolu- ção estética da qual foram protagonistas. Fundaram em nossas letras o Arcadismo, estética bastante influenciada pelos pressupostos iluministas e totalmente baseada na tradição clássica. A busca da clareza e da simplicidade, o ideal de um encontro harmonioso e equilibrado com a natureza, a valorização dos afetos comuns das pessoas, a busca de formas definidas a serem imitadas foram as tônicas do Arcadismo. O homem natural, esclarecido, em equilíbrio é a imagem do Arcadismo. No Brasil, misturando as paisagens clássicas com ele- mentos nacionais, o Arcadismo tem início com a publi- cação de Obras (também chamada Obras poéticas), de Cláudio Manuel da Costa, em 1768, estendendo-se até o início do século 19, quando nossas artes passam por um período de transição, até o surgimento do Romantismo, em 1836. Principais características Racionalismo Predomina, no Arcadismo, uma maior objetividade nos textos, além de uma visão mais racional do mun- do. O lirismo é controlado pela razão, pois um fluxo desenfreado de emoção, segundo os árcades, poderia comprometer a arte poética. Há emoção, mas com moderação; há em certos poemas um derramamento de subjetividade, mas com comedimento; fantasia e imaginação são elementos deixados em segundo plano. Simplicidade formal, em relação aos modelos barrocos Quanto ao aspecto formal, observam-se os seguintes traços marcantes na poesia árcade: • preferência pela métrica mais curta; • preferência pelos versos brancos (sem rimas); • linguagem marcada pela simplicidade, mas também pela correção e sobriedade; • uso de formas fixas como o soneto, a écloga (poema pastoril) e as liras. Convenções clássicas: daí o nome Neoclassicismo Os autores árcades espelhavam-se no estilo e nos princípios dos escritores clássicos, quer voltando à Antiguidade greco-romana, quer imitando os autores do Renascimento – considerados como modelos de equilíbrio, harmonia, correção, perfeição e sobriedade. O poeta-referência? O romano Horácio (65 a.C.-8 a.C.), um dos maiores poetas da cultura romana e também filósofo. Em sua obra Arte poética e em outros textos, Horácio formalizou os princípios fundamentais do bem escrever, consagrados como indispensáveis à literatura de feições clássicas. As principais convenções clássicas seguidas eram as seguintes: • Inutilia truncat – O que é inútil, corte. Para combater o excessivo verbalismo barroco e sua linguagem confusa e rebuscada, o Arcadismo propõe uma arte mais natural, numa linguagem e estilo mais simples (quando comparado ao Barroco). Clareza e ordem direta se sobrepõem ao rebuscamento e às inver- sões barrocas. Observe o texto a seguir: Que busco, infausta Lira, Que busco no teu canto, Se ao mal, que cresce tanto, Alívio me não dás? A alma que suspira, Já foge de escutar-te: Que tu também és parte De meu saudoso mal. Cláudio Manuel da Costa • Carpe diem – Colha o dia. Os árcades, assim como os barrocos, tinham a consci- ência sobre a brevidade da vida e das coisas deste mundo. Logo, não há tempo para desperdícios ou irracionalidades; se a vida é fugaz, o homem tem de vivê-la intensamente e da melhor forma possível, valorizando o tempo presente. Observe tal convenção no texto a seguir: Minha bela Marília, tudo passa; a sorte deste mundo é mal segura; se vem depois dos males a ventura, vem depois dos prazeres a desgraça. Tomás Antônio Gonzaga 6 Semiextensivo • Fugere urbem et locus amoenus quarere – Fugir da cidade e procurar um lugar ameno, agradável Para os árcades, a vida no meio urbano era incapaz de proporcionar ao homem a harmonia plena consigo mesmo e com a natureza. Qual a solução? A fuga da cidade, em busca de um local mais ameno, simples e agradável: o campo. Os arcadistas defendiam o bucolismo, ou seja, um estilo de vida em que personagens apaixonados e de espírito elevado passam a viver no ambiente tranquilo do campo, apropriado a um saudável isolamento e às expansões líricas. Há a valorização da natureza e até certa idealização da paisagem. Observe: Sou pastor, não te nego; os meus montados São esses, que aí vês; vivo contente Ao trazer entre a relva florescente A doce companhia dos meus gados; Cláudio Manuel da Costa • Aurea mediocritas – Equilíbrio de ouro Dentro da cosmovisão árcade, o “segredo” da vida está no comedimento, no equilíbrio, no bom senso. Logo, a estética árcade apregoa a vida simples, de posse não do luxo, mas sim do essencial para se viver bem. Observe: Eu, Marília, não sou algum vaqueiro, que viva de guardar alheio gado, de tosco trato, de expressões grosseiro, dos frios gelos e dos sóis queimado. Tenho próprio casal e nele assisto: dá-me vinho, legume, fruta, azeite; e mais as finas lãs de que me visto. Graças, Marília bela, graças à minha Estrela! Tomás Antônio Gonzaga Uso de pseudônimos: fingimento poético De acordo com a mitologia grega, a Arcádia era uma região da Grécia que, segundo a mitologia, era habitada pelo deus Pã e por pastores, todos em plena harmonia. Para melhor incorporarem essa atmosfera pastoril, dando maior verossimilhança aos ambientes retratados, os poetas árcades – que não eram pastores, frise-se bem – assumem uma identidade poética de pastores, adotando pseudônimos extraídos da mitologia greco-romana. Assim, temos uma espécie de “paradoxo” árcade: poetas intelectuais e sofisticados, entusiastas da civi- lização, criadores de eus líricos pastores, tão ligados à simplicidade e perfeição da natureza. A seguir, eis os principais pseudônimos do Arcadis- mo brasileiro: AUTOR PSEUDÔNIMO Cláudio Manuel da Costa Glauceste Satúrnio Tomás Antônio Gonzaga Dirceu Basílio da Gama Termindo Sipílio Silva Alvarenga Alcindo Palmireno Alvarenga Peixoto Alceu /Eureste Fenício Pré-Romantismo Em vários autores e obras, notam-se manifestações sentimentais que os aproximam do Romantismo. Essas manifestações se referem principalmente ao nativismo (certo prenúncio do indianismo), à valorização da natureza e a certo nacionalismo latente. O apelo à natu- reza, tornando-a confidente e testemunha dos pesares amorosos do eu lírico, está presente no Arcadismo, com predomínio da racionalidade, e também no Romantis- mo, quando a emotividade vai ser mais forte. Principais autores e obras Cláudio Manuel da Costa (Glauceste Satúrnio) Fundador do Neoclassicis- mo no Brasil, com a publicação de seu livro Obras (1768), Cláudio Manuel escreve poe- mas ainda muito próximos ao ideário Barroco: percebemos em seus versos o culto aos con- trastes e certo rebuscamento, características rejeitadas pelos árcades. Especializou-se em escrever sonetos – nítida influên- cia recebida de seu mestre Camões –, sendo conside- rado um dos melhores poetas em língua portuguesa a desenvolver essa modalidade poética. Mas é na temática que vai surgir, de fato, o árcade Cláudio Manuel da Costa: contemplou o amor, criando um eu lírico pastor, que vive numa paisagem campes- tre – uma espécie de refúgio para as dores do mundo – e tenta sensibilizar sua pastora amada, normalmente chamada de Nise. Às vezes, Cláudio canta o desencontro amoroso e o sofrimento provocado por ele. D an ie l K le in . 2 01 5. Dig ita l. 1729-1789 Aula 01 7Português 1C Além dos poemas líricos, Cláudio ainda escreveu o poema épico Vila Rica, no qual aborda fatos históricos da colonização mineira. Tomás Antônio Gonzaga Nascido em Portugal, lá também completou seus estu- dos de Direito, partindo para o Brasil para exercer em Vila Rica o cargo de Ouvidor. Ficou noivo de Maria Doroteia, com quem pretendia casar-se em 1789. En- tretanto, naquele ano, ocorreu a Inconfidência Mineira, e Gon- zaga, acusado de envolvimento na conspiração contra a Metrópole, acabou sendo preso e posteriormente exilado em Moçambique, onde veio a morrer. Deixou-nos duas obras representativas: Cartas chilenas (sátira) Escrita anônima sob a forma de cartas, cujo emissor seria Critilo e o receptor, Doroteu (prováveis pseudôni- mos para Tomás Antônio Gonzaga e Cláudio Manuel da Costa, respectivamente), relata os mandos e desmandos de um certo Fanfarrão Minésio, um suposto governador chileno. Entretanto, Chile, Fanfarrão Minésio são recur- sos para driblar a censura da época, pois tal governante chileno era, na realidade, Luís da Cunha Menezes, gover- nador da Província de Minas Gerais. A obra traz uma série de críticas a tudo aquilo que acontecia na cidade de Vila Rica; uma espécie de grito contra os desmandos, a desordem, a corrupção que se abatiam sobre a colônia. O livro é composto de vários poemas satíricos, escritos em versos decassílabos bran- cos (sem rimas), com uma acentuada e viva descrição dos costumes. Marília de Dirceu (lírico-amorosa) Obra-prima do Arcadismo brasileiro, na qual se percebem fortes traços autobiográficos: Dirceu, o eu poético que se dirige a sua amada Marília, tem muito do próprio Tomás, e Marília, da noiva Maria Doroteia. O livro é dividido em três partes: • PRIMEIRA – Gonzaga, transmudado em Dirceu, es- creve seus versos em liberdade. Logo, são inúmeras as liras que retratam o presente feliz e um futuro de realização total, ao lado da amada, mesmo quando a velhice chegar, estando Marília ainda jovem. • SEGUNDA – Escrita na prisão, antes de seguir exilado para Moçambique. Os poemas exprimem a solidão de Dirceu (Tomás), saudoso de Marília (Maria Do- roteia). Nesta parte, encontramos a melhor poesia de Tomás Antônio Gonzaga, pois as convenções árcades, embora ainda presentes, não sustentam todo um equilíbrio próprio do Neoclassicismo. O tom confessional, o sentimentalismo e o pessimismo (em alguns momentos) são traços considerados como pré-românticos. • TERCEIRA – Muitos autores colocam em dúvida al- guns versos desta parte. Além disso, não há nada de tão diferente em relação aos poemas apresentados na primeira e na segunda partes. Basílio da Gama O Uraguai, sua obra-prima, é a mais importante epopeia do Arcadismo. Escrito em 1769, este poema lírico-narrativo aborda os acontecimentos da Guerra das Missões ocorridos logo após o Tratado de Madri (1750). A tomada das Missões por uma expedição luso- -espanhola é narrada em versos brancos que se esten- dem longamente por 5 cantos. Seguidor do Iluminismo pombalino, Basílio da Gama, nesta obra, tece louvores a Pombal, destaca o heroísmo indígena e coloca os jesuítas como os vilões da história, inimigos do grande ministro e enganadores dos índios. Santa Rita Durão Escreveu Caramuru em 1781, obra épica de inspi- ração religiosa que segue o modelo camoniano. Como a lenda de Caramuru, náufrago recolhido pelos índios que passa a viver com eles e a catequizá-los, tem pouco assunto, o autor preenche os doze cantos com a História do Brasil desde o descobrimento até o século XVIII. Enquanto O Uraguai focaliza o presente histórico, Caramuru mostra o passado jesuítico e colonial que se opõe ao século das luzes e, por isso, é considerado mais nativista que o primeiro. Dentro de um esquema camo- niano modificado pela presença do maravilhoso cristão em lugar da mitologia pagã, Caramuru rende tributo à tradição colonial e barroca. OUTROS AUTORES Também citamos: Silva Alvarenga, autor do livro Glaura, composto de poemas eróticos, e Alvarenga Pei- xoto, nomes de pouquíssima relevância nos vestibulares. D an ie l K le in . 2 01 5. D ig ita l. 1744-1810 8 Semiextensivo Assimilação 01.01. (UDESC) – O movimento literário que retrata as manifestações literárias produzidas no Brasil à época de seu descobrimento, e durante o século XVI, é conhecido como Quinhentismo ou Literatura de Informação. Analise as propo- sições em relação a este período: I. A produção literária no Brasil, no século XVI, era restrita às literaturas de viagens e jesuíticas de caráter religioso. II. A obra literária jesuítica, relacionada às atividades cate- quéticas e pedagógicas, raramente assume um caráter apenas artístico. O nome mais destacado é o do padre José de Anchieta. III. O nome Quinhentismo está ligado a um referencial crono- lógico – as manifestações literárias no Brasil tiveram início em 1500, época da colonização portuguesa – e não a um referencial estético. IV. As produções literárias neste período prendem-se à literatura portuguesa, integrando o conjunto das chamadas literaturas de viagens ultramarinas, e aos valores da cultura greco-latina. V. As produções literárias deste período constituem um pai- nel da vida dos anos iniciais do Brasil colônia, retratando os primeiros contatos entre os europeus e a realidade da nova terra. Assinale a alternativa correta: a) Somente as afirmativas I, IV e V são verdadeiras. b) Somente a afirmativa II é verdadeira. c) Somente as afirmativas I, II, III e V são verdadeiras. d) Somente as afirmativas III e IV são verdadeiras. e) Todas as afirmativas são verdadeiras. 01.02. (UNIOESTE – PR) – Assinale a alternativa abaixo que diz respeito à poesia de Gregório de Matos Guerra: a) Exploração, na poesia sacra, do tema do pecador arrepen- dido; b) Sentimento de solidariedade pelos governantes da Bahia; c) Poesia revolucionária e social, a favor da independência política e literária; d) Extrema simpatia pelos negros e mulatos, oprimidos pelos senhores brancos; e) Valorização do indígena como elemento formador da nacionalidade brasileira. 01.03. (UPF – RS) – Leia as seguintes afirmações sobre o Padre Antônio Vieira e a sua obra: I. O autor é considerado, por vários escritores e críticos lite- rários posteriores a ele, como um dos maiores mestres da língua portuguesa. II. Seu espírito contemplativo e sua vocação religiosa impedi- ram-no de abordar, em seus escritos, as questões políticas e sociais de sua época. III. O Sermão da Sexagésima expõe a sua arte de pregar. Está correto apenas o que se afirma em a) I c) I e III e) III b) I e II d) II e III 01.04. (UNIOESTE – PR) – Assinale a alternativa cujo verso faz parte do soneto que alude a procedimento semelhante ao descrito a seguir: Malversações das verbas públicas, falta de ética, roubos, falcatruas, disfarces de conduta – práticas comuns na política brasileira, hoje denunciadas pela mídia –, já se faziam presentes no século XVII, nos poemas satíricos de Gregório de Matos Guerra. a) “Nos mares da vaidade, onde peleja”; b) “Se basta a vos irar tanto pecado”; c) “Incêndio em mares de água disfarçado”; d) “Estupendas usuras nos mercados”; e) “Em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada”. 01.05. (FAG – PR) – Assinale a alternativa que não se refere ao Arcadismo: a) Época do Iluminismo (século XVIII) – Racionalismo, clareza, simplicidade; b) Volta aos princípios clássicos greco-romanos e renascentistas (o belo, o bem, a verdade, a perfeição, a imitação da natureza); c) Ornamentação estilística, predomínio da ordem inversa, excesso de figuras; d) Pastoralismo, bucolismo, suaves idílios campestres; e) Apoia-se em temas clássicos e tem como lema: inutilia truncat (“corta o que é inútil”). Aperfeiçoamento 01.06. (PUCCAMP – SP) – Texto: (...) a pré-história das nossas letras interessa como reflexo da visão do mundo e da linguagem que nos legaram os primeiros observadores do país.É graças a essas tomadas diretas da paisagem, do índio e dos grupos sociais nascentes, que captamos as condições primitivas de uma cultura que só mais tarde poderia contar com o fenômeno da palavra-arte. Alfredo Bosi. História concisa da literatura brasileira. S. Paulo: Cultrix, 1970, p.15 O período caracterizado, no trecho acima, como a pré-história das nossas letras, representa-se sobretudo em textos a) dissertativos, que argumentam a favor do processo colonial. b) marcados por uma preocupação narrativa, de tom épico. c) dramatúrgicos, nos quais se encenam os anseios de uma emancipação. d) marcados por uma preocupação eminentemente descritiva. e) poéticos, nos quais a natureza é idealizada segundo os padrões clássicos. Testes Aula 01 9Português 1C 01.07. (UFV – MG) – Sobre a produção escrita sem o predomí- nio da imaginação poética e ficcional no Brasil do século XVI, é correto afirmar que a) constitui o acervo do Barroco brasileiro junto com os Ser- mões do Padre Antônio Vieira. b) faz parte dos denominados textos de informação, como a Carta de Pero Vaz de Caminha. c) possui caráter propriamente literário, a exemplo da poesia e do teatro de José de Anchieta. d) interessa ao estudioso da literatura como textos literários sem intenções práticas ou razões políticas. 01.08. (UCS – RS) – O século XVIII, na Europa, foi o berço do movimento árcade. O nome Arcadismo vem da “Arcádia”, que era uma região campestre do Peloponeso, na Grécia Antiga. Sobre o período árcade é correto afirmar que a) o escritor árcade busca a inspiração nos clássicos, por isso a linguagem usada nos seus textos é baseada no conceptismo barroco. b) uma das características do Arcadismo é seu espírito realista, acentuado pela busca de uma vida simples, na cidade. c) as ideias de liberdade, igualdade social e justiça constituem a temática da obra Marília de Dirceu, de Tomás Antônio Gonzaga. d) Cláudio Manuel da Costa, poeta lírico árcade, escreveu as obras Vila Rica e Cartas chilenas. e) o poema épico árcade O Uraguai foi escrito por Basílio da Gama e apresenta como temática a luta de portugueses e espanhóis contra índios e jesuítas. 01.09. (UEPA) – Texto: LXII Torno a ver-vos, ó montes; o destino Aqui me torna a pôr nestes oiteiros; Onde um tempo os gabões deixei grosseiros Pelo traje da Corte rico e fino. Aqui estou entre Almendro, entre Corino, Os meus fiéis, meus doces companheiros, Vendo correr os míseros vaqueiros Atrás de seu cansado desatino. Se o bem desta choupana pode tanto, Que chega a ter mais preço, e mais valia, Que da cidade o lisonjeiro encanto; Aqui descanse a louca fantasia; E o que ‘té agora se tornava em pranto, Se converta em afetos de alegria. O campo como locus amoenus, livre de mazelas sociais e morais, foi o grande tema literário à época neoclássica, quando a literatura também expressou uma resistência à Cidade, con- siderada então violento símbolo do poder monárquico e da corrupção moral. Interprete as opções abaixo e assinale aquela em que se sintetiza o modo de resistência expresso nos versos de Cláudio Manuel da Costa acima transcritos: a) Apego à metrificação tradicional; b) Bucolismo e paralelismo; c) Aurea mediocritas; d) Inutilia truncat; e) Fugere urbem. 01.10. (UNIPAR – PR) – Assinale a alternativa correta sobre Gregório de Matos: a) No seu esforço de criação da comédia brasileira, realiza um trabalho de crítica que encontra seguidores no Romantismo e mesmo no restante do século XIX. b) Sua obra é uma síntese singular entre o passado e o presente: ainda tem os torneios verbais do humanismo português, mas combina-os com a paixão das imagens pré-românticas. c) Dos poetas arcádicos eminentes, foi sem dúvida o mais liberal, o que mais claramente manifestou as ideias do Iluminismo. d) Sua famosa sátira à autoridade portuguesa nas Minas do chamado ciclo do ouro é prova de que seu talento não se restringia ao lirismo amoroso. e) Teve grande capacidade em fixar os vícios, os ridículos, os desmandos do poder local, valendo-se para isso do engenho artificioso que caracterizava o estilo da época. 01.11. (UCS – RS) – Observe a reprodução do quadro As me- ninas (1656), do artista espanhol Diego Velázquez, e o trecho do soneto Aos afetos, e lágrimas derramadas na ausência da dama a quem queria bem, de Gregório de Matos: Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/img/arte/ 219- arte-01.jpg Acesso: 04 abr. 2013 Ardor em firme coração nascido; Pranto por belos olhos derramado; Incêndio em mares de água disfarçado; Rio de neve em fogo convertido: ABAURRE, Maria Luiza; PONTARA, Marcela. Literatura Brasileira. São Paulo: Moderna, 2005, p. 172 10 Semiextensivo Baseado no trecho do poema e na reprodução do quadro de Velázquez, assinale a alternativa correta: a) A pintura pode ser considerada uma representação da arte barroca, tendo como característica principal o Cultismo. b) O fragmento do soneto de Gregório de Matos apresenta como figura de linguagem predominante a hipérbole. c) Tanto a pintura como o poema sugerem o conflito inte- rior pelo qual passa o homem do século XVI. d) O jogo claro/escuro, sugerido na pintura, e as antíteses, no trecho do poema, denotam os sentimentos contra- ditórios da época. e) O quadro de Velázquez ressalta a beleza das mulheres da época, idealizadas pelos poetas e pintores barrocos. 01.12. (UFPR) – Leia os dois poemas de Gregório de Matos: SONETO 1 O todo sem a parte não é todo, A parte sem o todo não é parte, Mas se a parte o faz todo, sendo parte, Não se diga, que é parte, sendo todo. Em todo o Sacramento está Deus todo, E todo assiste inteiro em qualquer parte, E feito em partes todo em qualquer parte, Em qualquer parte sempre fica o todo. O braço de Jesus não seja parte, Pois que feito Jesus em partes todo, Assiste cada parte em sua parte. Não se sabendo parte deste todo, Um braço, que lhe acharam, sendo parte, Nos disse as partes todas deste todo. SONETO 2 Carregado de mim ando no mundo, E o grande peso embarga-me as passadas, Que como ando por vias desusadas, Faço o peso crescer, e vou-me ao fundo. O remédio será seguir o imundo Caminho, onde dos mais vejo as pisadas, Que as bestas andam juntas mais ornadas, Do que anda só o engenho mais profundo. Não é fácil viver entre os insanos, Erra, quem presumir que sabe tudo, Se o atalho não soube dos seus danos. O prudente varão há de ser no mundo, Que é melhor neste mundo em mar de enganos Ser louco cos demais, que ser sisudo. Com base nos dois sonetos, considere as seguintes afirma- tivas: 1. A insistência numa das mais conhecidas formas de lirici- dade, que é o soneto, deixa explícita a influência clássica na obra do poeta. 2. Ambos os poemas ilustram a tonalidade sarcástica e pessimista típica do Barroco. 3. No poema 1, há um jogo simbólico de metonímias e paradoxos com os quais o eu lírico argumenta a aceitação da tradição religiosa com indagações renovadoras. 4. No poema 2, o eu lírico faz um balanço de sua experiência existencial, desdenhando de sua própria loucura. Assinale a alternativa correta: a) Somente a afirmativa 1 é verdadeira. b) Somente as afirmativas 1 e 3 são verdadeiras. c) Somente as afirmativas 3 e 4 são verdadeiras. d) Somente as afirmativas 1, 2 e 3 são verdadeiras. e) Somente as afirmativas 2, 3 e 4 são verdadeiras. Aprofundamento 01.13. (UFSM – RS) – A Carta de Pero Vaz de Caminha é o primeiro relato sobre a terra que viria a ser chamada de Brasil. Ali, percebe-se não apenas a curiosidade do europeu pelo nativo, mas também seu pasmo diante da exuberância da natureza da nova terra, que, hoje em dia, já se encontra degradada em muitos dos locais avistados por Caminha. Tendo isso em vista, leia o fragmento a seguir: Esta terra, Senhor, parece-me que, da ponta que mais contra o sul vimos, até outra ponta que contra o norte vem, de que nós deste ponto temos vista, será tamanha que haverá nela bem vinte ou vinte e cinco léguas por costa. Tem, ao longodo mar, em algumas partes, grandes barreiras, algu- mas vermelhas, outras brancas; e a terra por cima é toda chã e muito cheia de grandes arvoredos. De ponta a ponta é tudo praia redonda, muito chã e muito formosa. Pelo sertão nos pareceu, vista do mar, muito grande, porque a estender d’olhos não podíamos ver senão terra com arvoredos, que nos parecia muito longa. Nela até agora não pudemos saber que haja ouro, nem prata, nem coisa alguma de metal ou ferro; nem o vimos. Porém a terra em si é de muito bons ares, assim frios e temperados como os de Entre-Douro e Minho, porque neste tempo de ago- ra os achávamos como os de lá. As águas são muitas e infindas. E em tal ma- neira é graciosa que, querendo aproveitá-la, tudo dará nela, por causa das águas que tem. CASTRO, Sílvio (org.). A Carta de Pero Vaz de Caminha. Porto Alegre: L&PM, 2003, p. 115-6 Aula 01 11Português 1C Esse fragmento apresenta-se como um texto a) descritivo, uma vez que Caminha ocupa-se em dar um retrato objetivo da terra descoberta, abordando suas características físicas e potencialidades de exploração. b) narrativo, pois a “Carta” é, basicamente, uma narração da viagem de Pedro Álvares Cabral e sua frota até o Brasil, relatando, numa sucessão de eventos, tudo o que ocorreu desde a chegada dos portugueses até sua partida. c) argumentativo, pois Caminha está preocupado em apresentar elementos que justifiquem a exploração da terra descoberta, os quais se pautam pela confiabilidade e abrangência de suas observações. d) lírico, uma vez que a apresentação hiperbólica da terra por Caminha mostra a subjetividade de seu relato, carre- gado de emotividade, o que confere à “Carta” seu caráter especificamente literário. e) narrativo-argumentativo, pois a apresentação sequencial dos elementos físicos da terra descoberta serve para dar suporte à ideia defendida por Caminha de exploração do novo território. 01.14. (UNIFOR – CE) – No período colonial, verificaram-se os seguintes fenômenos de nossa vida literária: a) Constituição de um exigente público leitor e surgimento das primeiras editoras nacionais; b) Manifestação de sentimentos nacionalistas e consolidação do romance de temática urbana; c) Surgimento dos nossos primeiros grandes críticos literá- rios e consolidação de um público de leitores; d) Reflexos de princípios estéticos do Barroco e do Arcadismo europeus e manifestação de sentimentos nativistas; e) Surgimento dos primeiros manifestos românticos e ex- ploração de temas indianistas. 01.15. (UFPR) – Considerando a poesia de Gregório de Matos e o momento literário em que sua obra se insere, avalie as seguintes afirmativas: 1. Apresentando a luta do homem no embate entre a carne e o espírito, a terra e o céu, o presente e a eternidade, os poemas religiosos do autor correspondem à sensibilidade da época e encontram paralelo na obra de um seu con- temporâneo, Padre Antônio Vieira. 2. Os poemas erótico-irônicos são um exemplo da versati- lidade do poeta, mas não são representativos da melhor poesia do autor, por não apresentarem a mesma sofistica- ção e riqueza de recursos poéticos que os poemas líricos ou religiosos apresentam. 3. Como bom exemplo da poesia barroca, a poesia do autor incrementa e exagera alguns recursos poéticos, deixando sua linguagem mais rebuscada e enredada pelo uso de figuras de linguagem raras e de resultados tortuosos. 4. A presença do elemento mulato nessa poesia resgata para a literatura uma dimensão social problemática da socie- dade baiana da época: num país de escravos, o mestiço é um ser em conflito, vítima e algoz em uma sociedade violentamente desigual. Assinale a alternativa correta: a) Somente as afirmativas 1 e 2 são verdadeiras. b) Somente as afirmativas 1, 2 e 3 são verdadeiras. c) Somente as afirmativas 1, 3 e 4 são verdadeiras. d) Somente as afirmativas 2 e 4 são verdadeiras. e) Somente as afirmativas 3 e 4 são verdadeiras. 01.16. (UFSM – RS) – No Sermão do Bom Ladrão, Pe. Antônio Vieira, entre outros aspectos, critica a maneira como os exploradores portugueses agiam em suas viagens: Conjugam por todos os modos o verbo rapio (...). Tanto que lá chegam, começam a furtar pelo modo indicativo, porque a primei- ra informação que pedem aos práticos é que lhes apontem e mostrem os caminhos por onde podem abarcar tudo. Furtam pelo modo im- perativo, porque, como têm o mero e misto império, todo ele aplicam despoticamente às execuções da rapina. (...) Furtam pelo modo infinitivo, porque não tem fim o furtar com o fim do governo, e sempre lá deixam raízes em que se vão continuando os furtos. Estes mes- mos modos conjugam por todas as pessoas; porque a primeira pessoa do verbo é a sua, as segundas os seus criados e as terceiras, quantas para isso têm indústria e consciência. Furtam juntamente por todos os tempos, porque do presente (que é o seu tempo) colhem quanto dá de si o triênio; e para incluírem no presente o pretérito e o futuro, do pretérito desenterram crimes de que vendem os perdões, e dívidas esquecidas de que se pagam inteiramente; e do futuro empenham as rendas e antecipam os contratos (...) Finalmente, nos mesmos tem- pos não lhes escapam os imperfeitos, perfeitos, mais que perfeitos, e quaisquer outros, porque furtam, furtaram, furtavam, furtariam e have- riam de furtar mais se mais houvesse. (...) E quando eles têm conjugado assim toda a voz ativa, e o miserável povo suportado toda a pas- siva, eles, como se tiveram feito grandes servi- ços, tornam carregados de despojos e ricos; e elas ficam roubadas e consumidas. Considerando o fragmento, é correto afirmar sobre a prosa de Vieira: a) Apresenta poucos recursos expressivos, coerentemen- te com o estilo barroco. b) Joga com os possíveis sentidos das palavras, amplian- do o efeito crítico do sermão. c) Critica, apenas de forma indireta e tímida, os explora- dores portugueses. d) Tem como característica predominante o culto do contraste. e) Utiliza a nomenclatura gramatical no sentido próprio. 12 Semiextensivo Discursivos 01.19. (UFMG) – Leia estes trechos: TRECHO 1 Colombo sabe perfeitamente que as ilhas já têm nome, de uma certa forma, nomes naturais (mas em outra acepção do termo) as palavras dos outros, entretanto, não lhe interessam muito, e ele quer rebatizar os lugares em função do lugar que ocupam em sua descoberta, dar-lhes nomes justos a nomeação, além disso, equivale a tomar posse. TODOROV, Tzevetan. A conquista da América, São Paulo: Martins Fontes, 1993. p. 27 TRECHO 2 [...] e a quarta-feira seguinte, pela manhã, topamos aves a que chamam fura-buchos e neste dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra, a saber: primeiramente dum grande monte mui alto e redondo, e de outras serras mais baixas ao sul dele, e de terra chã com grandes arvoredos: ao qual monte alto o Capitão pôs nome o Monte Pascoal, e à terra a Terra da Vera Cruz. CAMINHA. Pero Vaz de. Carta ao Rei Dom ManueI. Belo Horizonte: Crisálida, 2002. p. 17. 01.18. (UPF – RS) – Antônio Cândido, em sua Formação da literatura brasileira, afirma que o Brasil careceu, do século XVI até meados do século XVIII, de um sistema literário, verificando-se, nesse período, tão somente a existência de manifestações literárias isoladas, mais ou menos efême- ras. Segundo Cândido, só se pode falar de uma literatura nacional propriamente dita, no país, quando se observa a emergência de um conjunto de obras ligadas por denomi- nadores comuns. Esses denominadores englobam, além das características internas das obras (língua, temas, imagens), os seguintes elementos: a) Um grupo de escritores com certa consciência de seu papel; um grupo de leitores com interesses variados; uma linguagem traduzida em estilos; b) Um grupo de escritores com certa consciência de seu papel; um grupo atuante de críticos literários; uma rede de bibliotecas públicas; c) Um grupo de leitores com interesses variados; um grupo atuante de críticos literários; uma rede de escolaspúblicas; d) Um grupo de leitores com interesses variados; uma rede de escolas públicas; um número significativo de editoras e livrarias; e) Um grupo atuante de críticos literários; uma linguagem traduzida em estilos; um número significativo de editoras e livrarias. 01.17. (UCS – RS) – O Barroco caracteriza-se pelo dualismo ideológico e estilístico, representado pelo conflito entre razão e fé. O maior expoente desse movimento no Brasil é Gregório de Matos, autor dos excertos abaixo, pertencentes ao poema “Aos vícios”: Eu sou aquele que os passados anos Cantei na minha lira maldizente Torpezas do Brasil, vícios e enganos. (...) Quantos há, que os telhados têm vidrosos, E deixam de atirar sua pedrada De sua mesma telha receosos. Seleção de obras poéticas de Gregório de Matos. Belém: UNAMA. p. 8-9. Disponível em: < http://www.dominiopublico.gov.br>. Acesso em: 28 mar. 14 Considere as seguintes afirmativas sobre o excerto de Gre- gório de Matos: I. O eu poético nos versos transcritos elogia o caráter da- queles que evitam apontar as falhas alheias. II. O eu lírico afasta-se da temática centralmente abordada pela poesia barroca, o conflito entre matéria e espírito, com uma preocupação em satirizar os vícios sociais. III. Os versos acima assumem um viés lírico, uma das facetas assumidas pelo poeta, ao preocupar-se com o futuro do Brasil. Das afirmativas acima, pode-se dizer que a) apenas II está correta. b) apenas III está correta. c) apenas I e II estão corretas. d) apenas I e III estão corretas. e) apenas II e III estão corretas. Aula 01 13Português 1C Explicite, comparando os dois trechos, a relação existente entre os atos de nomear e tomar posse. Instrução: leia o trecho do Sermão do Bom Ladrão, de Padre Vieira, para responder à próxima questão: O ladrão que furta para comer, não vai, nem leva ao inferno; os que não só vão, mas levam, de que eu trato, são outros ladrões de maior calibre e de mais alta esfera; os quais debaixo do mesmo nome e do mesmo predicamento distingue muito bem São Basílio Magno. Não só são ladrões, diz o santo, os que cortam bolsas, ou espreitam os que se vão banhar para lhes colher a roupa; os ladrões que mais própria e dignamente me- recem este título são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos e legiões ou o governo das províncias ou a administração das cidades, os quais já com mancha, já com forças roubam cidades e reinos: os outros furtam debaixo do seu risco, estes sem temor nem perigo: os outros se furtam, são enforcados, estes furtam e enforcam. 01.20. (UFTM – MG) – Com base na leitura, explique a) os tipos de ladrões apresentados por Vieira. Defina-os com exemplos do texto. b) em que medida o viés conceptista do Barroco está presente no texto. 14 Semiextensivo Gabarito 01.17. a 01.18. a 01.19. Além da acepção de “dar nome aos se- res”, o verbo “nomear” pode ser enten- dido como designar alguém para um cargo, dar direito de posse. É com este sentido que Todorov o utiliza para anali- sar o comportamento do colonizador ao apoderar-se das terras que pertenciam a povos com culturas e linguagens dife- rentes. Ao substituir os nomes originais dos aborígines pelos dos dominadores, impõe-se ao dominado a necessidade do ensino da nova língua que passa a ser usada como instrumento para posse do novo território. 01.20. a) No texto do Pe. Vieira, há dois tipos de ladrões: aquele que furta para comer, “que não vai nem leva ao in- ferno”; e aqueles de calibre maior, poderosos, “que não só vão como levam ao inferno”. b) Há uma argumentação bem concep- tista, na medida em que Padre Vieira, usando-se de comparações entre dois tipos de ladrões, procura explici- tar de forma contundente o pior dos ladrões: o governante corrupto ou tomado pelo mal. 01.01. c 01.02. a 01.03. c 01.04. d 01.05. c 01.06. d 01.07. b 01.08. c 01.09. e 01.10. e 01.11. d 01.12. b 01.13. a 01.14. d 01.15. c 01.16. b Aula 01 15Português 1C Contextualização Na virada do século 18 para o 19, surge, na Europa, uma nova estética, que ficou conhecida como Romantis- mo, fruto de uma série de transformações ocorridas àque- la época, nas quais a nova classe que surgia, a burguesia, teve um papel fundamental. A ligação entre a burguesia e o Romantismo foi bastante significativa, fato que levou o historiador Nelson Werneck Sodré a afirmar que “(...) burguesia e Romantismo, pois, são sinô- nimos, o segundo é a expressão literária da plena dominação da primeira”. Logo, para bem compreendermos esta estética, vamos observar alguns fatos históricos. Com a Revolução Francesa (1789), o poder acaba trocando de mãos na França; a nobreza, que vinha sistematicamente perdendo sua força e prestígio ao longo dos anos, vê-se subjugada pela burguesia, classe que ascendia rapidamente e impunha sua visão sobre a economia, a política e os costumes de sua época. Surge o Liberalismo, ideologia com uma série de des- dobramentos no contexto geopolítico e social e que, entre outros aspectos, preconizava um novo estilo de vida, que valoriza a livre iniciativa, os méritos pessoais de cada indi- víduo, independentemente de seus títulos ou da grandeza de seus antepassados. Os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade se espalham pelo mundo, servindo de ins- piração a movimentos de independência, principalmente nas Américas. Era evidente que a mudança de mentalidade nesse perí- odo iria desembocar nas artes. É a burguesia, fortalecida pela industrialização, que se torna causa e objeto do Romantismo. Embora tenha surgido primeiramente na Inglaterra e na Ale- manha, foi a partir da França que o Romantismo se espalhou por outros países da Europa e pelo mundo. No Brasil, o Romantismo teve como marco inicial a publicação da obra Suspiros poéticos e saudades, de Gonçalves de Magalhães, em 1836, e se estendeu até 1881, quando teria início o Realismo, com a publicação de Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis. Aspectos centrais Liberdade Como consequência direta do Liberalismo, o Romantismo mostra-se como uma arte libertária por excelência. A liberdade de pensamento e de criação faz do romântico um opositor natural do Classicismo, sobretudo nos momentos iniciais dessa nova estética. O artista procura desvencilhar-se das normas rígidas da arte clássica. E o ciclo se repete, da luta do novo contra o velho: o Romantis- mo se opõe ao Arcadismo ou Neoclassicismo. Deste modo, o Romantismo apresenta uma grande revolução formal, perceptível em todos os gêneros. Observe: • Na poesia (gênero lírico), surgem novas formas e novos temas, inclusive com o emprego frequente de versos brancos e, em alguns casos, de versos livres. Algumas formas fixas – como ode, canção, elegia, lira, balada e tantas outras – sofreram imensas transformações-desfigurações ou simplesmente deixaram de ser utilizadas. • Na prosa (gênero narrativo), surge o romance ou prosa de ficção, como conhecemos hoje. Aliás, se o romance – longa narrativa em prosa – é hoje o for- mato literário mais difundido no mundo ocidental, isso se deve em grande parte ao Romantismo, escola que o fundiu e dele extraiu o seu próprio nome (Romantismo vem de romance). • No teatro, os modelos clássicos da tragédia e da comédia vão tendo, cada vez mais, a companhia e a concorrência do drama, que é, basicamente, uma fusão das outras duas modalidades. ©S hu tte rst oc k/C arl os Cae tan o 1C Português 16 Semiextensivo Romantismo I: introdução e poesia Aula 02 Subjetividade O Liberalismo, como a própria palavra insinua, defende a liberdade sob vários enfoques. A liberdade de criação e de expressão torna a arte uma atividade essencialmente pessoal, produto da inspiração, da emoção, da imaginação e da individualidade do artis- ta. O escritor revela a realidade conforme seu ponto de vista e de acordo com a sua interpretação. Essa subjetividade faz com que o escritor românti- co enxergue tudo a partir de seu mundo pessoal e isto, muitas vezes,causa insatisfação, porque as coisas nem sempre são como ele gostaria que fossem. Resultado: ou ele se rebela, protesta, prega reformas sociais, luta por liberdade e justiça; ou então, sentindo-se desloca- do e marginalizado, fecha-se em si mesmo, viaja nas fantasias e cria um mundo ideal, onde tudo é como ele acha que deveria ser, desembocando numa atitude de escapismo, de evasão, enfim, de fuga da realidade. Sentimentalismo Como consequência da valorização da subjetivi- dade, há no Romantismo uma supervalorização do amor e de outros sentimentos afluentes. O coração é a medida da existência; a razão se subordina aos sentimentos. Assim, o amor justifica grandes renúncias, so- frimentos terríveis, privações, angústias, e sua falta ou não correspondência podem levar o indivíduo à loucura, ao tédio e até mesmo à morte. D ou gl as N og ue ira . 2 01 6. D ig ita l. Expressão dos valores burgueses A literatura romântica obedece à lei da oferta e da procura. É necessário que o leitor encontre nos livros uma resposta às suas fantasias e aos seus ideais. Como a grande maioria dos leitores são da classe alta, as obras românticas procuram corresponder aos anseios de luxo, conforto, aventura, exotismo, convívio social e realização plena de todos os sonhos da burguesia, so- bretudo dos jovens desta classe, que formam o grande público leitor das obras românticas. Por conta desta preocupação, a linguagem será acessível; os temas, populares; os enredos, fáceis; e as soluções, óbvias e ingênuas, para que nada perturbe a emoção nem impeça os suspiros e fantasias dos leitores. O moralismo e a religiosidade também fazem parte dos ideais burgueses e, por isso, são essenciais: o casa- mento religioso, a virgindade, a nobreza de caráter, a vitória do bem, entre outros. Agora, vale frisar que as obras românticas, tam- bém, em alguma medida, traziam uma reflexão crítica sobre a sociedade de sua época, pois o idealismo romântico não tolerava injustiças, crueldades ou maiores desvios ético-morais. Logo, há também, em algumas obras, críticas ao comportamento burguês, embora tais críticas não visassem à transformação radical da sociedade. E no Brasil... A proclamação de nossa Independência política em 1822 deu sustentação aos anseios nacionais de independência cul- tural, que vão se expressar através de um nacionalismo quase radical, sobretudo nos primeiros momentos. Irrompe um sentimento de lusofobia, com a rejeição de tudo o que lembra a colonização. Observação: Há uma diferença entre estado de alma romântico e o movimento literário denominado Romantismo. Vejamos: • Um estado de alma romântico é quase que uma constante universal, presente em praticamente todas as manifestações artísticas ao longo dos tempos. Caracteriza-se pela supervalorização dos sentimentos, pela idealização da realidade e por apoiar-se na imaginação e na fantasia. • O movimento literário denominado Romantismo representa a escola literária, o estilo de uma época, que teve um início (final do século 18 na Europa e início do século 19 no Brasil) e um fim (segunda metade do século 19, na Europa, e final do século 19, no Brasil). Vale dizer que, durante a vigência do movimento literário denominado Romantismo, houve também uma manifestação bastante intensa do estado de alma romântico. © S hu tte rst oc k/ Su sa nn a H ak ob kyo khvyan Aula 02 17Português 1C D ou gl as N og ue ira . 2 01 6. D ig ita l. © Sh ut te rs to ck /F ili pe F ra za o Quase que simultaneamente, nasce no povo e na arte um forte sentimento de ufanismo (orgulho patriótico). Tal sentimento valori- za as nossas coisas acima das de quaisquer outros países: nossas várzeas têm mais flores, nossos bosques têm mais vida, nossa vida mais amores. Esse patriotismo ardente leva ainda à valorização da origens da Pátria, enquanto os autores ro- mânticos se afirmam como arau- tos dos novos tempos, profetas das glórias futuras e modeladores da alma nacional. Tal nacionalismo se manifesta, principalmente, por duas caracte- rísticas importantes: Culto à natureza Na Europa, a natureza era vista pelos românticos como a antítese da civilização, sendo esta essencialmen- te opressora. Assim, um encontro com a natureza era, em última medida, um encontro consigo mesmo, além de fazer com que os indivíduos voltassem seus olhos para Deus, o criador de tão perfeita natureza. No Brasil, além de ser encarada da mesma forma, a natureza exótica, exuberante e riquíssima vai ser assunto constante nas obras românticas. Ela é fonte de inspiração, motivo de orgulho, refúgio onde o escritor busca confor- to e identidade, espelho que reflete o estado de alma do artista, além de uma inesgotável fonte de metáforas. A todos esses sentimentos, alia-se a religiosidade, que vê a natureza como expressão da força divina. Indianismo Na Europa, o Romantismo realiza a tendência nacio- nalista através dos romances históricos em que surgem os heróis da pátria: cavaleiros andantes, cruzados, conquistadores, guerreiros e outros. No Brasil, sem personagens históricos para serem transformados em heróis, os românticos encontram no índio a figura do herói nacional: valoroso, nobre, cortês, defensor e servidor da mulher amada. Essa idealização do índio torna-o um personagem legendário, irreal, mítico, com características de herói branco. Logo, o índio ro- mântico brasileiro às vezes mais parece um cavaleiro medieval do que propriamente um indígena. A poesia: 3 gerações © Sh ut te rs to ck /p at ric e6 00 0 © Sh ut te rs to ck /M ik ad un © W ik im ed ia C om m on s/ Ag ên ci a Br as il ©S hu tt er st oc k/ Bl ab lo 10 1 Pátria, índio, natureza e sentimentos: temas fundamentais da poesia romântica brasileira A diversidade de tendências e de maneiras de se expressar levou a crítica literária a dividir a poesia romântica em algumas fases ou gerações. A classificação que adotaremos é a divisão em 3 gerações, que se aplica à poesia mas, para os romances e romancistas, não é muito apropriada. Logo, as três gerações da poesia romântica brasileira são as seguintes: 1.ª geração: indianista A primeira fase romântica corresponde ao período de implantação do Romantismo em nossas letras, que vai de 1836, quando Gonçalves de Magalhães publica Suspiros poéticos e saudades, até 1851, quando Gonçalves Dias publica Últimos cantos, fechando o período mais produtivo de sua carreira literária. 18 Semiextensivo Notam-se, nesta fase, os seguintes traços caracterís- ticos: • Predomínio do nacionalismo e patriotismo: os elementos tipicamente nacionais – belezas natu- rais, índio, particularidades locais, nosso passado histórico – são exaltados e ampliados pelo prisma da idealização; daí o sentimento de ufanismo, o que é compreensível, pois era um novo país que estava nascendo, e a empolgação era inevitável. • Exaltação da natureza: as belezas naturais do país ocupam lugar de destaque na poesia desta geração, sempre retratadas em sua exuberância, grandio- sidade e exotismo, sendo uma constante fonte de metáforas nos textos. Vale lembrar que a exaltação da natureza também era uma forma de expressar um amor à terra natal, um patriotismo. © Sh ut te rs to ck /c el io m es si as si lv a • Indianismo: já que nascia uma nova nação, era necessário haver um símbolo, um herói que a repre- sentasse. O indígena será representado como tal: tomado como lenda e mito do passado colonial ou anterior à descoberta, é encarado como elemento genuinamente brasileiro e promovido à categoria de herói nacional; seria o equivalente nacional ao cavaleiro medieval europeu, o modelo de virtudes adotado pelos românticos do Velho Continente. • Forte religiosidade, que identifica as possibilidades da poesia romântica com o sentimento cristão, em oposição ao “paganismo” da poesia neoclássica, ligada à tradição greco-latina. • Poesia amorosa, idealizante e fortementesen- timental: marcada por certa influência da lírica medieval portuguesa. Em muitos versos, ressalta-se o amor belo, puro, santo e, muitas vezes, impossível. Os principais autores desta geração são: Gonçalves de Magalhães Médico, professor, deputado, Gonçalves de Maga- lhães permanece lembrado principalmente porque foi o introdutor do Romantismo no Brasil. Em 1836, publicou, na França, o livro de poemas intitu- lado Suspiros poéticos e saudades, obra que introduziu no Brasil a nova estética. Fundou nesse mesmo ano a Revista Niterói, que possuía a epígrafe “Tudo pelo Brasil e para o Brasil” e na qual expunha as novidades culturais eu- ropeias, divulgando sobretudo as ideias românticas. Logo depois, no afã de ser o primeiro também na epopeia e no teatro românticos, publica A confederação dos tamoios e a tragédia Antônio José ou O poeta e a Inquisição. Sua poesia é artificial, sem maior refinamento estéti- co significativo. Autor de importância mais histórica do que artística. Gonçalves Dias Principais obras publicadas • Primeiros cantos (1846); Segundos cantos (1848), Úl- timos cantos (1851) – lírica • Os timbiras (1857) – épica • Leonor de Mendonça (1846) – teatro Alguns poemas representativos de Gonçalves Dias • “Marabá”; “O canto do Piaga”; “Canção do Tamoio”; “Leito de folhas verdes”. Aspectos centrais da obra • A frustração amorosa, o amor impossível – Pas- sividade, subserviência, melancolia, desespero e desilusão são sentimentos constantes na poesia amorosa do autor, a qual traz íntima relação com os sentimentos vivenciados por ele em sua vida. • Saudosismo, nacionalismo – Gonçalves Dias esteve na Europa em várias ocasiões: a estudo, a trabalho ou a tratamento médico. As saudades dos amigos, da família, dos amores e da pátria inspiraram-lhe belos poemas saudosistas, dentre os quais o mais famoso ficou sendo a Canção do exílio, imitado e parodiado dezenas de vezes até os dias de hoje: CANÇÃO DO EXÍLIO Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá; As aves, que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá. Nosso céu tem mais estrelas, Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores. D an ie l K le in . 2 01 5. D ig ita l 1823-1864 Aula 02 19Português 1C Em cismar, sozinho, à noite, Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá. Minha terra tem primores, Que tais não encontro eu cá; Em cismar – sozinho, à noite – Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá. Não permita Deus que eu morra, Sem que eu volte para lá; Sem que desfrute os primores Que não encontro por cá; Sem qu’inda aviste as palmeiras, Onde canta o Sabiá. © Sh ut te rs to ck /L im Y ou ng H ria m • No indianismo de Gonçalves Dias, o elemento indígena é imaginado a partir do ideal cavalheiresco do Romantismo europeu. De espírito nobre, seus valores são sobretudo a honra, a coragem, a hones- tidade e a lealdade. Às forças morais da coragem, e do senso do dever alia-se uma força física imbatível, oriunda da perfeita harmonia entre o homem e a natureza. Leiamos alguns fragmentos do poema I-Juca Pirama, um dos nossos mais célebres poemas indianistas: IV Meu canto de morte, Guerreiros, ouvi: Sou filho das selvas, Nas selvas cresci; Guerreiros, descendo Da tribo tupi. Da tribo pujante, Que agora anda errante Por fado inconstante, Guerreiros, nasci: Sou bravo, sou forte, Sou filho do Norte. Meu canto de morte, Guerreiros, ouvi. 2.ª geração: ultrarromantismo Ao final da década de 1840, com jovens artistas que iniciavam suas breves carreiras literárias (a maioria morreria muito jovem), outros temas começam a ser desenvolvidos na poesia romântica brasileira. Os versos que cantavam a natureza, o índio e a pátria, de forma tão extrovertida, começam a ser sucedidos por poemas com uma acentu- adíssima subjetividade melancólica e pessimista. Nossos poetas da 2.ª Geração foram muito influen- ciados pela leitura de poetas europeus como Musset, Lamartine e, principalmente, Lord Byron (daí também o outro nome para esta geração: Byronismo). Portanto, são características marcantes: • Individualismo exacerbado, centrando-se numa temática emotiva de amor e morte, dúvida e ironia, que muitas vezes se mostra como um marcante egocentrismo. • Fuga da realidade (também chamada de evasão ou escapismo), que se mostra de algumas formas, como: idealização da infância, sonhos com virgens puras e inacessíveis e exaltação da morte. Forte tendência para o devaneio, o erotismo, a melancolia e o spleen (= tédio, insatisfação, desencanto pela vida, pessimismo). • Constantes alusões à ideia da morte e tudo rela- cionado a tal tema: morbidez, satanismo, poesia “cemiterial”, entre outros aspectos. • Exposição, nos versos, do medo de amar: os poetas cantavam um amor ao qual não podiam se lançar plenamente, por recearem tantos infortúnios. Álvares de Azevedo Este jovem poeta paulista- no deu início à sua atividade poética na Faculdade de Direito da cidade (hoje USP), casando as letras com as leis. Mas foi também nessa época que sentiu os primeiros sinto- mas da tuberculose, doença que o afligiria para o resto de sua curta vida, uma vez que morreu aos vinte anos. Toda a curta produção literária de Álvares de Aze- vedo foi publicada postumamente. Eis o melhor de sua produção: • Lira dos vinte anos – Poesias, o melhor da produção do autor. • Noite na taverna – Contos macabros, narrados por estudantes, que contam as suas bizarras aventuras: © Sh ut te rs to ck /a ji P ebr iana D an ie l K le in . 2 01 5. D ig ita l 1831-1852 20 Semiextensivo histórias marcadas pelo mistério, pela morte, pelo incesto e tantos outros temas escandalosos. • Macário – Drama teatral inacabado, com forte acento autobiográfico. Adolescente dilacerado por seus conflitos íntimos, Álvares de Azevedo representa a experiência humana e literária mais dramática no nosso Romantismo. Sua obra poética gira em torno da morte, do amor impotente e do tédio, temas abrandados somente quando fala a respeito de sua mãe, de sua irmã ou da infância. Também em muitos versos do poeta, percebe-se um acento irônico bastante representativo. Com relação à ideia da morte, Álvares dá a esse tema, em alguns mo- mentos, um tratamento macabro, povoado de imagens satânicas. Podíamos citar ainda, como autores desta geração: Casimiro de Abreu, Junqueira Freire e Fagundes Varela. 3.ª geração: condoreirismo Final da década de 1860: passara a empolgação ini- cial com o Brasil independente. Os brasileiros começam a perceber que nossa pátria possuía problemas muito mais complexos do que se imaginava, que não podiam ser resolvidos de forma tão simples. A literatura acompanha essa mudança de mentalida- de que se processa em nossa sociedade. Gradativamen- te, abandona-se o egocentrismo recorrente na geração anterior e a poesia se volta para os problemas humanos e universais ao seu redor. Surge a 3.ª Geração Romântica, que terá como características: • Inspiração no profetismo (tom grandiloquente) do escritor francês Víctor Hugo. • Também conhecida como Geração Condoreira ou Condoreirismo: poesia de estilo grandioso, retórico e de participação nas questões sociais de seu tempo – é a poesia social e libertária do Romantismo. • A abolição da escravidão, a igualdade entre os po- vos, o fim da miséria, a importância da educação, a implantação da República são temas abordados por nossos românticos, ainda que pintados com as tintas da emoção, dos sentimentos. © Fl ic kr .c om /v il. sa nd i • O Romantismo está desmoronando. O amor platô- nico perde espaços, que vão sendo ocupados por manifestações mais sensuais e até eróticas de amor: a mulher se apresenta mais real e palpável. Os principais nomes desta geração foram Tobias Barreto, Pedro Luís, Lúcio Mendonça, Sousândrade e... Castro Alves Aspectos centrais da obra Como legítimo poeta condoreiro, sua poesiapossui o tom altissonante típico do estilo; versos para serem lidos em voz alta, declamada, que se utilizam osten- sivamente das hipérboles, das alusões aos fenômenos visuais, do jogo de contrastes e de outros recursos retóricos. • “Poeta dos escravos” – ninguém cantou a causa abolicionista como Castro Alves. Suas armas de com- bate ao absurdo chamado escravidão foram os seus versos, que sensibilizaram muitos à causa abolicionis- ta. Castro morreu sem ver a abolição da escravatura tornar-se realidade, mas muito fez para que ela se concretizasse. Abraçou também os ideais da Repúbli- ca, ainda que de forma não muito frequente. • Poeta do amor idealizado, porém palpável e sensual – Castro Alves não foi apenas o “Poeta dos Escravos”. Ele foi muito além: cantou amores pos- síveis, que se concretizavam e não ficavam apenas no plano da idealização-frustração amorosa, como ocorria com outros poetas românticos. Seu caso – escandaloso para a época – com a atriz Eugênia Câmara provavelmente lhe serviu de inspiração para poemas ousados e sensuais. Principais obras publicadas • Espumas flutuantes (poesia) – 1870. Único livro publicado em vida pelo autor, a obra traz uma série de poemas que têm como temas: lirismo amoroso e sensual; exaltação de certos heróis da pátria, da natureza e de familiares; engajamento em questões sociais, como a valorização dos livros e a alfabetiza- ção. • Gonzaga ou A Revolução de Minas (teatro) – 1875 • A cachoeira de Paulo Afonso (poesia) – 1876 • Os Escravos (poesia) – 1883 D an ie l K le in . 2 01 5. D ig ita l 1847-1871 Aula 02 21Português 1C Testes Assimilação 02.01. (UNICISAL – AL) – A literatura brasileira teve um longo proces- so de formação. Um importante momento desse processo está relacionado a um movimento artís- tico-literário que ocorreu no País, após a Procla- mação da Independência, e foi muito influencia- do por esse fato histórico, como se pode perceber nas obras de seus primeiros autores, que visavam elaborar uma literatura genuinamente nacional e exaltavam as belezas brasileiras. O texto evidencia o a) Barroco c) Modernismo e) Parnasianismo b) Arcadismo d) Romantismo 02.02. (UEG – GO) – Texto: LEMBRANÇA DE MORRER [...] Eu deixo a vida como deixa o tédio Do deserto o poento caminheiro, – Como as horas de um longo pesadelo Que se desfaz ao dobre sineiro [...] AZEVEDO, Álvares de. Poesias completas de Álvares de Azevedo Este fragmento mostra uma atitude escapista típica do Romantismo. O eu lírico idealiza a) a vida como um ofício de prazer, destinado à fruição eterna. b) a morte como um meio de libertação do terrível fardo de viver. c) o tédio como a repetição dos fragmentos belos e signifi- cativos da vida. d) o deserto como um destino sereno para quem vence as hostilidades da vida. 02.03. (ESPM – SP) – Leia: No plano estético, presencia-se a reação vio- lenta contra os clássicos: recusando as regras, os modelos, as normas... Aos gêneros estanques opõem a sua mistura, conforme o livre arbítrio do escritor, à ordem clássica, a aventura, ao equi- líbrio racional, a anarquia, o caos, ao universalis- mo estético, o individualismo, ao Cosmos, o “eu” particular...a Natureza se lhe afigura mera proje- ção do seu mundo interior. Massaud Moisés, Dicionário de Termos Literários, Cultrix. P. 463 O autor está discorrendo sobre o: a) Barroco b) Arcadismo ou Neoclassicismo c) Romantismo d) Naturalismo e) Modernismo 02.04. (UNIOESTE – PR) – Com base no poema “Canção do exílio”, de Gonçalves Dias, assinale a alternativa improcedente: a) Escrito em Coimbra, à época em que o poeta lá estudava, o poema apresenta certa lusofobia. b) A valorização da pátria e da natureza faz de Gonçalves Dias e Olavo Bilac parceiros do mesmo estilo de época. c) Mesmo sendo um texto de louvor e exaltação à pátria, obser- va-se, no poema, a total ausência de adjetivos qualificativos. d) Produzido na primeira fase do Romantismo brasileiro, o poema deixa evidente uma época marcada por um forte sentimento nativista. e) Entre os recursos rítmicos usados estão a redondilha maior (verso de sete sílabas) e a utilização de rimas oxítonas, com vogais abertas. 02.05. (INSPER – SP) – Texto: Oh! nos meus sonhos, pelas noites minhas Passam tantas visões sobre meu peito! Palor de febre meu semblante cobre, Bate meu coração com tanto fogo! Um doce nome os lábios meus suspiram (...). Álvares de Azevedo, Lira dos vinte anos Nessa passagem, há marcas textuais típicas da função emoti- va da linguagem. Essas marcas estão associadas a uma carac- terística fundamental da poesia byroniana brasileira, que é o a) egocentrismo; c) medievalismo; e) nativismo. b) indianismo; d) nacionalismo; Aperfeiçoamento 02.06. (UNIFESP) – Leia o poema de Almeida Garrett: SEUS OLHOS Seus olhos – se eu sei pintar O que os meus olhos cegou – Não tinham luz de brilhar, Era chama de queimar; E o fogo que a ateou Vivaz, eterno, divino, Como facho do Destino. 22 Semiextensivo Divino, eterno! – e suave Ao mesmo tempo: mas grave E de tão fatal poder, Que, um só momento que a vi, Queimar toda alma senti... Nem ficou mais de meu ser, Senão a cinza em que ardi. Da leitura do poema, depreende-se que se trata de obra do a) Barroco, no qual se identifica o escapismo psicológico. b) Arcadismo, no qual se identifica a contenção do sentimento. c) Romantismo, no qual se identifica a idealização da mulher. d) Realismo, no qual se identifica o pessimismo extremo. e) Modernismo, no qual se identifica a busca pela liberdade. 02.07. (FGV – RJ) – Caracteriza o Romantismo, na literatura brasileira, I. o desejo de exprimir sentimentos como orgulho patrió- tico, considerado, então, algo de primordial importância. II. a intenção de criar uma literatura independente, diversa, de identidade bem marcada. III. a percepção da atividade literária como parte indispen- sável da tarefa patriótica de construção nacional. Está correto o que se afirma em a) I, II e III; b) II e III, somente; c) II, somente; d) I, somente; e) I e II, somente. 02.08. (ESPM – SP) – Leia: Hora do pôr do sol? – hora fagueira, Qu’encerras tanto amor, tristeza tanta! Quem há que de te ver não sinta enlevos, Quem há na terra que não sinta as fibras Todas do coração pulsar-lhe amigas, Quando desse teu manto as pardas franjas Soltas, roçando a habitação dos homens? Há i prazer tamanho que embriaga, Há i prazer tão puro, que parece Haver anjos dos céus com seus acordes A mísera existência acalentado! Gonçalves Dias, trecho de “A tarde” Os versos acima exemplificam a característica romântica a) do sentimentalismo romântico que aponta para a desi- lusão amorosa; b) do nacionalismo que exalta a beleza exótica da natureza brasileira; c) do escapismo em que a morte representa a libertação da vida material; d) da projeção do estado de espírito do poeta nos elementos da natureza; e) do pessimismo e da melancolia, configurando o chamado “mal do século”. 02.09. (UCS – RS) – Os excertos abaixo são cantados por Lulu Santos e fazem parte da música “O último romântico”: Talvez eu seja o último romântico Dos litorais desse oceano Atlântico Só falta reunir a zona norte à zona sul Iluminar a vida já que a morte cai do azul [...] Tolice é viver a vida assim sem aventura Deixa ser Pelo coração Se é loucura então melhor não ter razão SANTOS, Lulu. O último romântico. Composição de: Lulu Santos, Antonio Cícero e S. Souza. Álbum Tudo azul. 1984. Disponível em: < http://www.vagalume.com.br/lulu-santos/o-ultimo-romantico. html#ixzz396NxiaEM>. Acesso em: 10 out. 14 Como o título da canção indica, é correto afirmar que a composição recupera traços do Romantismo ao a) satirizar os costumes e valores burgueses, marcando as distinções sociais, expressas na divisão entre a zona norte e a zona sul. b) enfatizar o conflito entre corpo e alma, expresso na relação entre as palavras coração e razão, nos últimos versos. c) explorar a antítese como recurso para exprimir
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