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ECONOMIA DOS PRODUTOS FLORESTAIS NÃO MADEIRÁVEIS APOSTILA Prof. ANADALVO J. DOS SANTOS 2010 _______________________________________________________________ UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ CURSO DE ECONOMIA DOS PRODUTOS FLORESTAIS NÃO MADEIRÁVEIS 1 Capítulo 1 Apresentação Conceitos sobre Produtos Florestais não Madeiráveis – PFNM Classificação e descrição dos PFNM _______________________________________________________________ APRESENTAÇÃO Ao longo da história, as florestas têm sido valorizadas pela variedade de produtos e benefícios que delas provêm, tanto para a subsistência, quanto para o comercio, tais como alimentos, produtos medicinais, especiarias, resinas, gomas, látex, vida selvagem, combustível, e obviamente madeira e outros produtos madeireiros. A literatura é rica em exemplos de comércio internacional feito a partir de produtos florestais. Entretanto, na maior parte da era moderna, o desenvolvimento das perspectivas florestais tem–se limitado a apenas um produto: a madeira. Essas perspectivas resultam em um uso intensivo dos recursos madeireiros, em detrimento da constante desconsideração do restante do ecossistema florestal. Os habitantes das florestas têm sido particularmente atingidos, pois se por um lado são freqüentemente beneficiados com a extração de madeira, por outro, dependem dos outros recursos florestais que são depredados. Mais recentemente, entretanto, acredita-se que essa valorização apenas da produção madeireira, em um contexto macroeconômico, vem sendo gradualmente modificada. Torna-se cada vez mais claro que as florestas proporcionam uma gama enorme de outros produtos e benefícios, muito dos quais largamente conhecidos e utilizados pelos habitantes locais e em alguns casos ainda essenciais à sua sobrevivência. O desafio é a correta quantificação e estimativa do valor dos produtos não madeireiros, e dessa forma transformar muito desses produtos em alternativas comerciais, sociais e ecológicas viáveis, sendo para alguns de subsistência e para outros de desenvolvimento. Na prática, esse aumento da utilização dos produtos não madeireiros é entendido como um processo que resulta na sua destruição. As culturas e as comunidades movendo-se em direção à economia de mercado fazem como UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ CURSO DE ECONOMIA DOS PRODUTOS FLORESTAIS NÃO MADEIRÁVEIS 2 que o uso de subsistência desses produtos tenda a desaparecer. Infelizmente, esse decréscimo normalmente não ocorre em paralelo, ou na mesma proporção, que o acréscimo do manejo e seleção dos produtos não madeireiros, e que faz parte do processo de desenvolvimento. Como conseqüência, o conhecimento tradicional a respeito desses produtos pode se perder. Normalmente o conhecimento do verdadeiro valor desses produtos para a comunidade e a nação só é compreendido, quando os recursos já desapareceram. A contribuição dos produtos não madeireiros para o setor florestal é significativa para a maior parte dos países, e estudos mostram que estes produtos foram subvalorizados no passado. As florestas, com os seus produtos representam importantes recursos sócios econômicos através dos potenciais alimentícios, oportunidades de emprego, turismo e outros produtos, além dos madeireiros. CONCEITO Faz parte da natureza humana a necessidade de rotular, classificar e conceituar os termos adequadamente. Entretanto, tratando-se especificamente dos produtos da floresta, ocorrem alguns problemas e divergências de opiniões. Inicialmente, o termo produtos menores da floresta era adotado, mas este termo denota o caráter físico, de tamanho, e o seu uso não é apropriado. A variedade e volume dos produtos da floresta ultrapassam, em muito, os chamados produtos madeireiros tradicionais, bem como o seu valor, quando corretamente avaliados, a ponto de exceder o valor dos produtos madeireiros. Para alguns autores o termo produto não madeireiro é insatisfatório porque pode excluir importantes recursos, como combustível da madeira e madeira de pequenos diâmetros para construção. Por outro lado, pode haver má interpretação desse conceito e serem incluídos na definição produtos como a polpa da madeira. Dessa forma o termo produtos não madeireiros da floresta e termos similares, como “menores”, “secundários” e “non timber” (no sentido de madeira UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ CURSO DE ECONOMIA DOS PRODUTOS FLORESTAIS NÃO MADEIRÁVEIS 3 para a construção), surgiram como expressões para o vasto aparato de produtos, animais e vegetais, que não se refiram à madeira derivada das espécies arbóreas da floresta. Assim, como os produtos não madeireiros podem ser coletados da floresta, produzidos como plantas semi-domesticadas em plantios ou em esquemas agroflorestais, ou produzidos em graus variados de domesticação. O seu status de selvagem ou semi-domesticado os distinguem dos plantios agrícolas estabelecidos, tais como cacau, borracha ou café. Entretanto, para CHERKASOV (1988), todos os produtos que crescem e são colhidos em áreas florestais, e que são resultantes das atividades agrícolas (cereais, forragem, etc...), horticultura, criação de gado, produção de peixes em açudes ou represas na floresta, deveriam representar uma categoria especial, de manejo especializado, ainda que sejam obtidos a partir de recursos não madeireiros (por exemplo, plantio de sementes). Segundo WICKENS (1991), produtos não madeireiros da floresta podem ser definidos como todo o material biológico (que não madeira roliça de uso industrial e derivados de madeira serrada, placas, painéis e polpa de madeira) que podem ser extraídos do ecossistema natural, de plantios manejados, etc., e serem utilizados para uso doméstico, terem mercado, ou significância social, cultural ou religiosa. A tendência atual é a aplicação do termo “produtos florestais não madeireiros”, utilizados pela FAO. Finalmente, a dificuldade em determinar um conceito para os produtos não madeireiros da floresta que seja aceito por todos, somente será resolvida quando forem desenvolvidas e aplicadas práticas e políticas de desenvolvimento ajustadas para as áreas florestais, de forma a dar esses produtos a atenção merecida. Somente assim o termo produtos não madeireiros da floresta pode ser apropriadamente aplicado e estendido como sendo a totalidade dos benefícios derivados dos recursos florestais (UNASYLVA, 1991). UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ CURSO DE ECONOMIA DOS PRODUTOS FLORESTAIS NÃO MADEIRÁVEIS 4 CLASSIFICAÇÃO E DESCRIÇÃO DOS PRODUTOS NÃO MADEIRÁVEIS Uma bem definida classificação de produtos é a base para uma eficiente coleta de dados e informações. Entretanto, encontram-se diferentes abordagens e classificações na literatura. MOK (1991) classifica os produtos não madeireiros, oriundos de plantas, em: 1. Comestíveis: frutas, sementes, palmito, sagu, açúcar e especiarias; 2. Medicinais; 3. Materiais estruturais: fibras, bambus e ratam; 4. Químicos: óleos essenciais, látex, resinas, gomas, taninos e corantes; e 5. Plantas ornamentais: orquídeas, e outras. Para WICKENS (1991), os produtos não madeireiros as floresta incluem plantas usadas para: 1. Alimentos comestíveis; 2. Forragens; 3. Medicinais; 4. Fibras; 5. Bioquímicos; 6. Combustíveis; e 7. Animais: Pássaros, répteis, peixes, insetos, etc., para a obtenção de alimentos, peles, penas e etc... Segundo este autor, o uso do ecossistema para a recreação, reservas naturais, manejo de várzeas, etc., são considerados como serviços da floresta. No sudeste Asiático, os produtos não madeireiros mais importantes são classificados por BEER (1996): 1. Alimentos: caça, pesca, nozes, cogumelos, especiarias, mel e ninho de pássaros; 2. Materiais estruturais: ratame bambu; 3. Ervas medicinais; 4. Químicos: resinas, óleos essenciais, gomas, látex, tanino e corantes; 5. Forragens; e 6. Combustível: lenha. UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ CURSO DE ECONOMIA DOS PRODUTOS FLORESTAIS NÃO MADEIRÁVEIS 5 Já para CHERKASOV (1988), os recursos florestais deveriam ser divididos de modo geral, em madeireiros, não madeireiros e recursos especiais. A proposta deste autor para a classificação dos produtos não madeireiros, a qual inclui os serviços da floresta é a seguinte: Vegetais: a – alimentos: frutos selvagens e cogumelos; b – plantas medicinais; c – plantas melíferas; d – plantas para uso industrial; e – forragem. Vida selvagem: a – vertebrados: caça (pássaros, animais e peixes); b – invertebrados. Conservação ambiental e uso social a – Conservação ambiental: - regulação climática; - regulação e conservação da água; - proteção do solo. b – Uso social: - saúde; - recreação. Desta forma, os usos não madeireiros incluem principalmente as plantas comestíveis (frutos selvagens, nozes, bagos, cogumelos), plantas usadas pelas abelhas e indústria (tanino, corantes, óleos voláteis) e plantas para a forragem. A vida selvagem inclui vertebrados (principalmente pássaros, animais e peixes) e invertebrados, que desempenham importante papel na vida da floresta. Usos não produtivos podem ser subdivididos em conservação ambiental e uso social. O primeiro inclui a regulação do clima e da água, funções de preservação da água e proteção do solo florestal. O uso social inclui saúde, recreação, defesa, etc. Musgo e junco são grupos especiais de recursos não UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ CURSO DE ECONOMIA DOS PRODUTOS FLORESTAIS NÃO MADEIRÁVEIS 6 madeireiros, os quais são coletados em florestas e extensamente utilizados em construção, indústria de papel, etc. Resinas e seivas açucaradas são recursos difíceis de classificar, pois fazem parte dos recursos da madeira, são produtos das árvores, mas podem ser considerados como produtos não madeireiros. Até o presente, o sangramento da resina é considerado como um tipo independente de uso florestal, enquanto que a coleta de seiva se relaciona aos usos da floresta. De acordo com a classificação do IBGE, que utiliza o termo produtos extrativos da floresta, estes compreendem: 1. Borrachas: hevea e caucho; 2. Gomas não elásticas: sorva, maçaranduba e balata; 3. Ceras: carnaúba; 4. Fibras: piaçava, e buriti; 5. Tanantes: barbatimão e angico; 6. Oleaginosos: Copaíba, amêndoa de cumaru, babaçu, licuri, tucum, oiticica, pequi e outros; 7. Alimentícios: mangaba, castanha de caju, umbu (fruto), pinhão, palmito, castanha do Pará, erva mate cancheada, açaí (fruto); 8. Aromáticos: raiz poaia, folha de jaborandi e semente de urucum; e 9. Subprodutos da silvicultura: resina, folhas de eucalipto, casca de acácia negra e nó de pinho. Silva (1996) identificou nove grupos de produtos não madeireiros explorados no Brasil. Estes grupos foram diferenciados da seguinte forma: - Oleaginosas (andiroba, babaçu, copaíba, cumaru, ucuri, macaúba, oiticica, pequi, tucum, ucuuba, e outros); - Alimentícios (açaí, castanha de caju, castanha do Pará, erva mate, mangaba, palmito, pinhão, umbu); - Aromáticos , medicinais tóxicos e corantes (ipecacunha, jaborandi, jatobá, quina, timbó, uruçu e outros) - Pinheiro (nó de pinho); - Borracha (cauchu, hevea – coagulada e líquida – e mangabeira); UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ CURSO DE ECONOMIA DOS PRODUTOS FLORESTAIS NÃO MADEIRÁVEIS 7 - Gomas (balata, maçaranduba e sorva); - Cera (carnaúba – cera e pó – e licurí); - Fibras (buriti, carnaúba, caroá, cipó-imbé, butiá, guaxima, malva, paina, piaçava, taboa, tucum) e - Tanantes (angico, barbatimão, mangue e outros). Para finalizar este primeiro capítulo leia o texto “Viabilidade Econômica da Extração de Produtos Florestais Não Madeiráveis”, do pesquisador Homma do Centro de Pesquisas Agropecuárias dos Trópicos Úmidos - Embrapa - Belém. _______________________________________________________________ SUGESTÃO DE SITES PARA OUTRAS INFORMAÇÕES Forest Stewardship Council www.fsc.org Instituto de manejo e Certificação Florestal e Agrícola www.imaflora.org NON WOOD FOREST PRODUCTS – SUSTAINABLE FOREST http://www.rainforestweb.org/Rainforest_Protection/Green_Business/Non- Timber_Forest_Products/ www.undp.org.in/Programme/Environment/nwfp/toc.htm http://rainforests.mongabay.com/1011.htm http://www.arengga.com/arengga%20web/Non- wood%20forest%20products%20for%20rural%20income%20and%20sustainabl e%20forestry.htm www.rcfa-cfan.org/english/issues.12-7.html http://www.fsc.org/ http://www.imaflora.org/ http://www.rainforestweb.org/Rainforest_Protection/Green_Business/Non-Timber_Forest_Products/ http://www.rainforestweb.org/Rainforest_Protection/Green_Business/Non-Timber_Forest_Products/ http://www.undp.org.in/Programme/Environment/nwfp/toc.htm http://rainforests.mongabay.com/1011.htm http://www.arengga.com/arengga%20web/Non-wood%20forest%20products%20for%20rural%20income%20and%20sustainable%20forestry.htm http://www.arengga.com/arengga%20web/Non-wood%20forest%20products%20for%20rural%20income%20and%20sustainable%20forestry.htm http://www.arengga.com/arengga%20web/Non-wood%20forest%20products%20for%20rural%20income%20and%20sustainable%20forestry.htm http://www.rcfa-cfan.org/english/issues.12-7.html UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ CURSO DE ECONOMIA DOS PRODUTOS FLORESTAIS NÃO MADEIRÁVEIS 8 FAO www.fao.org/forestry/ Bolsa Amazônia http://www.bolsaamazonia.com/ Imazon http://www.imazon.org.br/ The Soil Association www.soilassociation.org/ Scientific Certification Systems www.scscertified.com/ SCS Forest Conservation Program www.scscertified.com/forestry/ Planet -- Product Certification www.planetinc.com/certification.htm The Forest Trust www.theforesttrust.org/ The Tropical Forest Trust (TFT) www.tropicalforesttrust.com/ The Rainforest Alliance www.rainforest-alliance.org/ The Silva Forest Foundation www.silvafor.org/ http://www.fao.org/forestry/ http://www.bolsaamazonia.com/ http://www.imazon.org.br/ http://www.soilassociation.org/ http://www.scscertified.com/ http://www.scscertified.com/forestry/ http://www.planetinc.com/certification.htm http://www.theforesttrust.org/ http://www.tropicalforesttrust.com/ http://www.rainforest-alliance.org/ http://www.silvafor.org/ UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ CURSO DE ECONOMIA DOS PRODUTOS FLORESTAIS NÃO MADEIRÁVEIS 9 Capítulo 2 Valoração de PFNMs Análise da Rentabilidade econômica de atividades produtivas - Metodologia de Análise de Rentabilidade - Renda Líquida - Formação de Fluxos de Caixa - Valor Presente Líquido (VPL) - Relação benefício-custo (R B/C) - Taxa Interna de Retorno (TIR) - Taxa Mínima de Atratividade (TMA) - Horizonte de Investimento _______________________________________________________________ VALORAÇÃO DOS PRODUTOS FLORESTAIS NÃO MADEIRÁVEIS De acordo com GODOY et allii (1993), a determinação do valor dos produtos não madeireiros de uma floresta, quando a extração é sustentada, pode ser obtida através de: Onde: Qi: quantidade dos bens extraídos; Pi: Preço do bem (deve ser equivalente ao preço num mercado competitivo, sem nenhuma externalidade); Ci: Custo da extração; l: Produtos não madeireiros. Em geral, a análise econômica do desenvolvimento florestal se depara com dois problemas. Primeiro: muitos dos benefícios das florestas são difíceis de valoração. E segundo, os benefícios frequentemente ocorrem alguns anos n Σ Qi (Pi - Ci) I = 0 UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁCURSO DE ECONOMIA DOS PRODUTOS FLORESTAIS NÃO MADEIRÁVEIS 10 após os custos. Isso, aliado ao fato dos custos serem mais facilmente estimados que os benefícios, significa que a floresta normalmente mostra um baixo retorno. A valoração dos produtos não madeireiros da floresta também é bastante dificultada pelas medições inadequadas dos custos, quantidades extraídas e preços. Apesar dos pesquisadores estarem produzindo importantes estudos de caso, os resultados destes não podem ser diretamente comparados devidos aos diferentes métodos que tem sido utilizados. É preciso maior atenção aos problemas de metodologia se futuros estudos de valoração pretendem produzir resultados generalizáveis (GODOY et allii, 1993). Segundo este autor, não existe substituto para a observação direta por vários anos. O melhor método para os estudos de valoração econômica irá depender da base cultural das pessoas estudadas e acordos estabelecidos entre as partes. Os recursos financeiros e o tempo disponível também influenciam na escolha do método. ANÁLISE DA RENTABILIDADE ECONÔMICA DE ATIVIDADES PRODUTIVAS A rentabilidade econômica pode ser medida através da relação benefício/custo (R B/C) ou índice de lucratividade (IL). Também se pode utilizar os critérios do Valor Presente Líquido (VPL) e o da Taxa Interna de Retorno (TIR). No cálculo da R B/C e a VPL, normalmente utiliza-se a taxa de juros pagos pela poupança, que seria a taxa mínima a ser considerada. - METODOLOGIA DE ANÁLISE DE RENTABILIDADE - Renda Líquida A renda líquida é considerada por RÊGO (2003) como o primeiro critério de eficiência econômica. Segundo o autor, esta renda é considerada como o valor excedente apropriado pela unidade de produção familiar, ou seja, a parte do valor do produto que permanece depois de serem repostos os valores dos meios de produção, dos meios de consumo e dos serviços (Inclusive salários) UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ CURSO DE ECONOMIA DOS PRODUTOS FLORESTAIS NÃO MADEIRÁVEIS 11 prestados à produção. Neste sentido, segundo o autor, ela não consiste em todo o acréscimo de valor que o produtor familiar faz aos meios de produção e de consumo, uma vez que a maior parte deste é apropriada por intermediários na comercialização dos produtos e na compra de insumos e bens de consumo. As receitas totais são obtidas a partir dos preços de mercado multiplicados pela quantidade comercializada. Portanto: n Σ RTttn = (P1*Qativ1t1 + P2*Qativ2t2 +...+Pn*Qativ ntn) j = 0 Onde: RT = Somatório da receita anual da unidade de produção; P1, P2, Pn = Preço do produto de cada atividade; Qativ1, Qativ2, Qativn = Quantidade anual produzida de cada atividade. t = Ano de ocorrência da venda do produto. Conforme RÊGO (2003), os custos totais (CT) podem ser definidos como todos os encargos ou sacrifícios econômicos suportados pelo produtor para criar o valor total do produto. Referidos a um sistema de produção de uma unidade de produção, os custos equivalem ao valor monetário das entradas econômicas do sistema. Os custos totais compreendem a soma dos custos fixos (CF) e dos custos variáveis (CV). Os primeiros têm a sua magnitude independente do volume de produção, os segundos variam com o volume da produção. Os custos fixos podem ser de dois tipos: comuns e específicos. Os custos fixos comuns referem-se a fatores aplicáveis a várias linhas de exploração, enquanto que os custos fixos específicos são os relacionados apenas com uma linha de exploração. Os custos variáveis são, por definição, específicos. Numa análise financeira, além dos custos acima devem ser considerados os custos iniciais de investimentos, como aqueles necessários para garantir a execução das atividades no instante t0. UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ CURSO DE ECONOMIA DOS PRODUTOS FLORESTAIS NÃO MADEIRÁVEIS 12 Assim, para obter a renda líquida da pequena unidade de produção, deve-se considerar a diversidade das atividades familiares na comunidade. Seu cálculo dá-se a partir da seguinte fórmula: n j tn n j tntn CTRTRL 00 Onde: RL = Receita líquida; RT = Receita total; CT = Custo total. - Formação de Fluxos de Caixa Para o INCAE (1993) os objetivos de uma análise financeira são ordenar e sistematizar a informação de caráter monetário, elaborando quadros analíticos e antecedentes adicionais para a avaliação financeira de um projeto e por sua vez, avaliar os antecedentes para, desta maneira, determinar sua rentabilidade. Uma análise financeira é constituída de três elementos básicos: 1. Declaração de ingressos financeiros, usada para registrar os insumos e produtos dos projetos medidos a preço de mercado; 2. Fluxo de caixa líquido, derivado de um procedimento contábil padrão. É igual ao fluxo de caixa bruto (benefícios da operação antes de impostos e atratividade, mais a parte tomada em conta pela depreciação) menos as inversões em capital; 3. Balanço financeiro, subtrair os custos de capital dentro de várias categorias que podem ser úteis para o sistema de preços em inversões de capital, que se usaram nas etapas posteriores. - Valor Presente Líquido (VPL) BENTLEY (1984), afirma que, “o VPL é um método de comparação de custos e receitas através do desconto de cada um ao tempo presente. UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ CURSO DE ECONOMIA DOS PRODUTOS FLORESTAIS NÃO MADEIRÁVEIS 13 Assim, interpreta-se as receitas, diretamente comparáveis no tempo, aos custos. Todos os custos descontados são somados e subtraídos das vendas descontadas, obtendo-se, assim, o VPL para um investimento”. Já para LEUSCHNER (1990), o VPL é a soma algébrica dos custos e receitas, descontada a uma taxa específica de juros, gerada por uma particular alternativa de investimento. Ainda segundo LEUSCHNER (1990), os critérios econômicos geralmente aceitos e mais amplamente usados, são todos alguma variação do VPL. Limitações do VPL a ) O VPL é extremamente sensível à taxa de juros empregada. Quanto maior a taxa, menor o valor obtido para um dado fluxo de produção. b ) O VPL é sensível ao período ou ocorrência dos custos e receitas, por isso devem ser estimados com precisão. Devido o VPL ser um valor absoluto, a comparação de situações com diferentes períodos de vida ou com diferentes fluxos de caixa não pode ser feita diretamente. KASSAI et al., (2001) também afirma que a análise financeira pode ser realizada através do Método de Valor Presente Líquido (VPL) tido por como um dos instrumentos sofisticados mais utilizados para se avaliar propostas de investimentos de capital. Reflete a riqueza em valores monetários do investimento medida pela diferença entre o valor presente das entradas e saídas de caixa, a uma determinada taxa de desconto. Para RESENDE; OLIVEIRA (2001), o Valor Presente Líquido pode ser definido como a soma algébrica dos valores descontados do fluxo de caixa a ele associado. Assim: )) 1(1( 00 t n j t t n j t iiVPL CR UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ CURSO DE ECONOMIA DOS PRODUTOS FLORESTAIS NÃO MADEIRÁVEIS 14 Em que: Ct = custo no final do ano j ou do período de tempo considerado; Rt = receita no final do ano j ou do período de tempo considerado; i = taxa de desconto; n = duração do projeto em anos, ou em número de períodos de tempo; t = ano ou período de tempo considerado. Os autores consideram um projeto economicamente viável através do VPL se o fluxo de caixa descontado a uma taxa mínima de atratividade apresentar um resultado maior ou igual a zero e quanto maior o VPL, mais atrativo será o projeto. CONTADOR (2000) considera a importância deste método para escolha entre projetos alternativos, afirmando que a preferência recai sobre aquelecom maior VPL positivo. - Relação benefício-custo (R B/C) A Relação Benefício-Custo não difere muito do VPL. Esta relação nos fornece o quanto de receita, em determinado período de tempo se obtém, para cada unidade monetária de custo realizado, no mesmo período. O VPL dá a diferença monetária entre o valor atual dos retornos e o investimento inicial e a relação benefício-custo (R B/C) fornece o retorno para cada unidade monetária investida. Segundo WOILER e MATHIAS (1991), ao se comparar projetos utilizando os resultados dos respectivos VPL’s, não se tem nenhuma referência quanto ao valor investido em cada projeto. Assim, a relação benefício-custo, tenta resolver essa deficiência, medindo a relação entre os benefícios (receitas) e despesas (custos), ou seja: R B/C = Receitas / Despesas. - Taxa Interna de Retorno (TIR) Segundo BENTLEY (1984) e BUONGIORNO & GILLESS (1987) a taxa interna de retorno (TIR) é o mais popular procedimento para análise de rentabilidade de projetos de investimento. É de fácil uso pela (1) escolha entre alternativas e (2) classificação de projetos de investimento. É mais fácil UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ CURSO DE ECONOMIA DOS PRODUTOS FLORESTAIS NÃO MADEIRÁVEIS 15 escolher entre alternativas com base na taxa de retorno do que no VPLs, apesar das dificuldades existentes. A TIR é a taxa de retorno onde o VPL se iguala a zero. De outra forma, a taxa interna de retorno é a taxa de desconto que faz o valor presente líquido (VPL) de um fluxo de caixa antecipado igualar-se aos custos do projeto e representa o retorno intrínseco do projeto, independente das taxas de juros do mercado. A taxa interna de retorno (TIR) é definida por CONTADOR (2000) como aquela taxa de juros que iguala o valor presente líquido a zero. Logo, é a taxa de desconto que iguala o valor presente dos benefícios de um projeto ao presente de seus custos. A TIR indica ainda o valor máximo da taxa de um possível financiamento para atividades produtivas. Deve ser comparada a uma outra alternativa de renda. Para viabilidade de um projeto, seu resultado não deve ser inferior a uma alternativa de investimento, representada por uma taxa mínima de atratividade (TMA). A TIR é calculada a partir da fórmula: 0)1(1(( )) 00 t n j t t n j t iiVPL CR Onde: i = Taxa interna de retorno do investimento. Ct = custo no final do ano j ou do período de tempo considerado; Rt = receita no final do ano j ou do período de tempo considerado; i = taxa de desconto; n = duração do projeto em anos, ou em número de períodos de tempo; t = ano ou período de tempo considerado. LEUSCHNER (1990) afirma que a taxa interna de retorno apresenta alguns problemas, pois alternativas de investimento com a maior TIR nem sempre produzirão o maior retorno descontado. A TIR é uma taxa de crescimento e muitos produtores preferem otimizar o valor total ao invés da taxa de crescimento. UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ CURSO DE ECONOMIA DOS PRODUTOS FLORESTAIS NÃO MADEIRÁVEIS 16 - Taxa Mínima de Atratividade (TMA). A Taxa de Juros ou Taxa Mínima de Atratividade na determinação dos indicadores econômicos utilizados para avaliação do projeto, fez-se referência à necessidade prévia de explicitar a taxa mínima de atratividade para obtenção do valor do VPL. Essa taxa também é necessária para efeito de comparação com os valores da TIR obtidos. A taxa mínima de atratividade deve representar o que se deixa de ganhar pela não aplicação do capital a ser investido em outra alternativa disponível (KASSAI, 2002). Alguns autores utilizaram como custo de oportunidade de capital a taxa de juros real praticada pelo sistema financeiro para fins de financiamento do setor relativo àquela atividade. - Horizonte de Investimento Há necessidade ainda de definir um horizonte de investimento, período de análise, fundamental porque é neste período que serão alocados capital e mão-de-obra para geração dos benefícios econômicos e analisá-lo sob um fluxo de caixa. O propósito primário da demonstração de Fluxo de Caixa é prover informação sobre os recebimentos e pagamentos de caixa de uma entidade, durante um período. Um objetivo secundário é prover informação aproximada das atividades operacionais, atividades de investimento e atividades de financiamento da entidade durante o período (DALBELLO, 1999). _______________________________________________________________ Finalizando esse capítulo e para reforçar alguns conceitos, sugerimos a leitura dos textos: a) Análise financeira do shiitake em comparação com a taxa mínima de atratividade do setor florestal b) Avaliação econômica das ilhas de alta produtividade: plantio de seringueira em floresta natural UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ CURSO DE ECONOMIA DOS PRODUTOS FLORESTAIS NÃO MADEIRÁVEIS 17 c) Valoração econômico-ambiental de uma alternativa produtiva na reserva extrativista “Chico Mendes” d) A competitividade da erva mate no Brasil e Argentina e as novas tendências do Mercado e) Custo de produção e rentabilidade do cultivo da seringueira no estado de São Paulo. _______________________________________________________________ SUGESTÃO DE SITES PARA OUTRAS INFORMAÇÕES SHIITAKE www.aao.org.br/shiitake.asp http://www.agr.unicamp.br/conbea04/posprod/htmls2/queiroz/conbea04_shitake .pdf SERINGUEIRA (Hevea brasilienses) www.cpafac.embrapa.br/seringueira.html http://www.iac.sp.gov.br/Centros/Centro_cafe/seringueira/Programa%20Sering uiera.htm www.ceplac.gov.br/pesquisa.htm www.cpaa.embrapa.br/aunidade/unidade.htm www.ipef.br/tecprodutos/gomaeoleos.asp www.cirad.org.br/br/recherche.html www.agr.feis.unesp.br/mrv/acaros.htm www.nepci.ufam.edu.br/embrapa.htm ERVA-MATE (Ilex paraguariensis) www.ipef.br/publicacoes/stecnica/nr34.asp http://www.ufsm.br/cienciaflorestal/artigos/v11n2/art11v11n2.pdf http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/91/91131/tde-29072004- 162128/publico/raquel.pdf _______________________________________________________________ http://www.aao.org.br/shiitake.asp http://www.agr.unicamp.br/conbea04/posprod/htmls2/queiroz/conbea04_shitake.pdf http://www.agr.unicamp.br/conbea04/posprod/htmls2/queiroz/conbea04_shitake.pdf http://www.cpafac.embrapa.br/seringueira.html http://www.iac.sp.gov.br/Centros/Centro_cafe/seringueira/Programa%20Seringuiera.htm http://www.iac.sp.gov.br/Centros/Centro_cafe/seringueira/Programa%20Seringuiera.htm http://www.ceplac.gov.br/pesquisa.htm http://www.cpaa.embrapa.br/aunidade/unidade.htm http://www.ipef.br/tecprodutos/gomaeoleos.asp http://www.cirad.org.br/br/recherche.html http://www.agr.feis.unesp.br/mrv/acaros.htm http://www.nepci.ufam.edu.br/embrapa.htm http://www.ipef.br/publicacoes/stecnica/nr34.asp http://www.ufsm.br/cienciaflorestal/artigos/v11n2/art11v11n2.pdf http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/91/91131/tde-29072004-162128/publico/raquel.pdf http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/91/91131/tde-29072004-162128/publico/raquel.pdf UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ CURSO DE ECONOMIA DOS PRODUTOS FLORESTAIS NÃO MADEIRÁVEIS 18 Capítulo 3 Mercado dos PFNMs - Introdução - Conceitos e Pressuposições - Mercados para os PFNMs Conceito e Formas de Comercialização dos PFNM Cálculos de Margens e Markups de Comercialização _______________________________________________________________ MERCADO DE PRODUTOS FLORESTAIS NÃO MADEIRÁVEIS - INTRODUÇÃO Um caminho para agregar valores para o manejo sustentado de florestas é a identificação de uma cadeia marginal de produtos com valor comercial na floresta, e posterior demonstração à comunidade das enormes possibilidades de uso dos recursos naturais através de técnicas aprimoradas de mercado. Isto é de fundamental importância para o estabelecimento depolíticas de mercado baseado nas oportunidades oferecidas por produtos não madeireiros para permitir harmonia entre o desenvolvimento e a conservação dos recursos (Lintu, 1995). Os produtos não madeireiros representam hoje um dos grupos mais desafiadores do ponto de vista mercadológico graças a seu número, versatilidade, variedade de usos e diferenciação de outros produtos básicos. Anderson (1992) afirma que os produtores poderiam ter ganhos pessoais, incluindo pequenos agricultores e agricultura de subsistência, ou plantadores de larga-escala de produtos industriais, se passassem a fornecer bens e matéria prima para o posterior processamento pela indústria. O mesmo autor cita que o mercado de produtos florestais é um bom nicho de mercado tanto para países desenvolvidos como para aqueles ainda em desenvolvimento. As principais características do mercado de não madeireiros são: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ CURSO DE ECONOMIA DOS PRODUTOS FLORESTAIS NÃO MADEIRÁVEIS 19 - Práticas de mercado Segundo Lintu (1995), as descrições disponíveis de práticas de mercado são muito limitadas para retratar as atividades como as formas de beneficiamento, empacotamento, seleção de material, entre outras. Descrições de práticas de mercado são raras a despeito do fato dos consumidores estarem, ultimamente, muito mais dispostos a adquirir produtos advindos de atividades mais naturais. O mercado de produtos não madeireiros que são utilizados como matéria prima para a indústria é normalmente qualificado em duas categorias principais: o mercado da matéria bruta, não beneficiada, e o mercado dos produtos semi-manufaturados, tanto para o consumidor final como o fornecimento para a utilização em outras indústrias. - Informações de mercado Para Lintu (1995) o marketing é baseado em um amplo sistema de informações. Um marketing eficiente requer informações com qualidade e quantidade regularmente, continuamente e com o menor custo possível. São necessárias informações de mercado (oferta e demanda) que descrevam fatores de mercado, competitividade, marketing ambiental e instituições envolvidas no processo. Sistematicamente coletadas, analisadas e disseminadas as informações são essenciais. Grande parte dessas informações são coletadas em pesquisas de diferentes níveis. Entretanto, essas informações nem sempre são facilmente usadas. Uma atenção crescente deve ser dada para a coleta de informações de mercado, no uso pela indústria ou pelo consumidor final. Paralelamente, a coleta de informações e fatores de mercado precisa ser aprimorada. Uma correta classificação de produtos e uma eficiente forma de coleta de dados são essenciais. A FAO deu um primeiro passo na classificação e sistema de definição, apresentando para discussão uma tentativa de classificação de mercado. A demanda de alguns produtos não madeireiros é derivada da atitude do consumidor final. Para melhor entender as atuais necessidades do mercado UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ CURSO DE ECONOMIA DOS PRODUTOS FLORESTAIS NÃO MADEIRÁVEIS 20 consumidor, valores específicos que o consumidor associa com os produtos devem ser largamente difundidos. Parte dos estudos relacionados ao mercado primário e de processamento de produtos deve ser conduzido para mercados não só interno, mas principalmente externo. Porém, devido aos altos custos para o desenvolvimento de pesquisas de mercado externo, para conduzir este processo é necessária a associação dos produtores em cooperativas agrícolas, associação de indústrias e outros arranjos institucionais. Em alguma instância, organizações internacionais podem assistir no planejamento e financiamento dos estudos. - Capacidade de mercado Entende-se por capacidade de mercado um conhecimento básico do mercado, experiência para colocar o conhecimento em prática e atitudes corretas para reconhecer e apreciar os valores de mercado como uma das funções básicas no negócio de produtos não madeireiros. A capacidade de mercado é necessária em todos os níveis, desde o produtor de matéria prima até a indústria. Membros do mercado e dos canais de distribuição que estão especificamente envolvidos no processo devem ter esta capacidade para suas atividades do dia-a-dia. Órgãos oficiais do governo em todos os níveis de decisão, bem como as autoridades envolvidas com fiscalização, necessitam ter uma compreensão básica do mercado. Existem diversas pessoas em vários níveis de governo e na iniciativa privada, envolvidas na promoção e difusão dos produtos não madeireiros que carecem de um conhecimento mínimo das capacidades de mercado (LINTU 1995). Hoje existe uma grande carência de informações no que se refere ao mercado de produtos não madeireiros. Alguma difusão de informação e oferta de cursos relacionados a produtos não madeireiros têm sido oferecidos aos países em desenvolvimento, mas não por iniciativas governamentais. Esforços em diversos âmbitos através de ONGs e outras fundações têm sido realizados com o objetivo de oferecer treinamentos aos interessados em trabalhar com produtos não madeireiros, em função de um manejo sustentado. UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ CURSO DE ECONOMIA DOS PRODUTOS FLORESTAIS NÃO MADEIRÁVEIS 21 Relevantes materiais para treinamento têm sido produzidos pela FAO e pelo ITC (International Trade Center), e por outras organizações, para seminários e workshops de marketing de produtos não madeireiros. - Suporte institucional Wickens (1991) descreve que o apoio institucional para o mercado é providenciado basicamente em dois níveis. Num nível superior é formado pelas políticas governamentais e pela implementação de sistemas de regulação do governo. Em nível operacional, o suporte institucional compreende os vários arranjos de cooperativas de produtores, serviços florestais, organizações de padronização de produtos, monitoramento de qualidade e desenvolvimento de pesquisas. Outro fator importante é o financiamento e abertura de créditos para os produtores e comerciantes de produtos não madeireiros. O trabalho de várias entidades públicas e privadas contribui no incremento das oportunidades oferecidas pelo mercado de produtos não madeireiros, em concordância com o uso sustentável e desenvolvimento racional dos recursos florestais. O mercado de produtos florestais é ainda recente e tem muito a ser desenvolvido e explorado. Hoje, este se apresenta de forma bastante instável, concentrando-se ora em alguns produtos, ora em outros. Isto se deve basicamente a falta de política de mercado desses produtos. Essa deficiência tem conduzido o mercado a oscilar de acordo com a simples e total vontade do consumidor final. Sem uma estratégia fixa, bem determinada e com a falta de informações disponíveis para o aprimoramento do processo, o mercado hoje está sujeito a não crescer em volume e a ficar num nível pequeno. Com o advento da globalização e a ampliação de mercados há uma grande possibilidade que ocorra o desaparecimento deste nicho tão valioso para o desenvolvimento sustentado das florestas tropicais. - CONCEITO E PRESSUPOSIÇÕES DE MERCADO Mercados nada mais são do que as forças de oferta e demanda atuando conjunta e simultaneamente, com o objetivo de se determinar o preço de UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ CURSO DE ECONOMIA DOS PRODUTOS FLORESTAIS NÃO MADEIRÁVEIS 22 mercado e, portanto, a quantidade de um produto a ser negociado. Então, a formação de preço de mercado é um resultado direto das condições de oferta e demanda (MMEENNDDEESS,, 11999988)).. MMaass ppaarraa ssee aannaalliissaarr aa iinntteerraaççããoo ddee ooffeerrttaa ee ddeemmaannddaa,, eexxiisstteemm ttrrêêss pprreessssuuppoossiiççõõeess qquuee ddeevveemm sseerr ccoonnssiiddeerraaddaass:: - Existênciade livre mercado (sem forças externas atuando); - Que os empresários objetivem a maximização do lucro; - Que os consumidores objetivem a maximização da sua satisfação (Preço x Qualidade). Assim, com base nestas pressuposições defini-se o conceito de mercado como sendo: “Uma área geográfica na qual vendedores e compradores realizam transferência de propriedades de bens e serviços”. - MERCADO MUNDIAL DE PFNM De acordo com BROAD (2001) apud FAO (2007), pelo menos 150 Produtos Florestais Não Madeiráveis – PFNM apresentam significativa participação no comércio internacional atingindo a cifra de 11 bilhões de dólares no ano de 2001. TONIN (2009) et alli cita que, de acordo com FAO (2006), PFNMs em geral somaram cerca de 4,7 bilhões de dólares no mercado internacional, sendo que os produtos de origem vegetal foram responsáveis por três quartos desse valor. Atualmente, este valor apresenta-se bastante superior, uma vez que apenas a Europa movimenta em termos de PFNM’s um valor aproximado de 5,4 bilhões de euros. (Maiores detalhes serão vistos posteriormente). Ainda de acordo com a FAO (2007) a China atualmente é o maior exportador de produtos florestais não madeiráveis, seguido da Índia, Indonésia, Malásia, Tailândia e Brasil. De maneira geral, o fluxo da comercialização se dá a partir de países em desenvolvimento para países desenvolvidos, sendo que aproximadamente 60% de toda a produção/extração de PFNM é importada pelos Estados Unidos, União Européia e Japão. UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ CURSO DE ECONOMIA DOS PRODUTOS FLORESTAIS NÃO MADEIRÁVEIS 23 Segundo a Secretaria da Convenção sobre Diversidade Biológica os PFNMs podem ser agrupados de maneira geral conforme demonstra a Tabela 1. TABELA 1 – CATEGORIAS DE PRODUTOS MAIS IMPORTANTES DERIVADOS DE PRODUTOS FLORESTAIS NÃO MADEIRÁVEIS. Categoria Produtos importantes (lista não exaustiva) Produtos alimentícios Nozes e castanhas: castanha-do- pará, pinhão, nozes, castanhas portuguesas Frutas: jujuba, sapoti, gingo, manga- do-mato Fungos comestíveis: erva-moura, trufas e outros cogumelos Vegetais: brotos de bambu, musgos- do-brejo, várias folhagens “verdes”, palmitos, cebolas selvagens Amidos: sagu Ninhos de pássaros Óleos: manteiga de carité, óleo de babaçu, óleo de illipe (tengkawang) Seivas e resinas: xarope de bordo, seiva de vidoeiro Especiarias, condimentos e ervas de uso culinário Noz moscada e macis, canela, cássia, cardamomo, folhas de louro, orégano, etc. Óleos vegetais industriais e ceras Óleo de tungue, óleo de neem, óleo de jojoba, óleo de kemiri, akar wangi, óleo de babaçu, de oiticica e de capoque Cera de carnaúba Gomas vegetais Gomas utilizadas em alimentos: goma arábica, tragacanta, goma de caraiá e de alfarroba Gomas utilizadas em tecnologia especial: talha e combreto Pigmentos vegetais naturais Sementes de urucum, pau campeche, índigo Oleorresinas Oleorresina de pinho Copal, dâmar, goma-guta, benjoim, resina de drago e óleo de copaíba Âmbar Fibras e sedas Fibras: bambu, ratan, xateattap, aren, UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ CURSO DE ECONOMIA DOS PRODUTOS FLORESTAIS NÃO MADEIRÁVEIS 24 vime, ráfia, produtos de palha toquila, cortiça, esparto, Érica e outros tipos de capim. Sedas: capoque Folhagem floral Beargrass (tipo de gramínia da América do Norte), ramos, musgos, galax (galax urceolata, gramínea encontrada nos Estados Unidos), heras, licopódio, visco, rododendro, salal (gaultheria shallon, pequeno arbusto da costa pacífica da América do Norte), casca do vidoeiro branco. Materiais vegetais para curtimento Carvalho, mimosa, castanha e catha (arbusto perene africano). Látex Borracha natural, gutta percha (borracha esbranquiçada derivada do látex da árvore chamada gutta percha), jelutong (dyera costulata, encontrada na Ásia), sorva e chicle. Produtos de insetos Mel natural, cera de abelha, laca e tintura de laca, sedas de amoreira ou não, cochinilha, fel de Meca, quermes. Madeiras para incenso Sândalo, gaharu Óleos essenciais Eucalipto, óleo de canaga (ylang- ylang), pau-rosa, óleo de sândalo Inseticidas vegetais Pyrethrum, Derris, Medang e Peuak Bong, Neem Plantas medicinais De 5000 a 6000 espécies botânicas entram em todos os anos no mercado mundial Animais e produtos animais Marfim, troféus, ossos, penas e plumas, borboletas, animais e pássaros vivos, carne de caça, etc. Fonte: Secretaria da Convenção sobre Diversidade Biológica (2001). Os frutos silvestres, cogumelos e suplementos fitoterápicos têm também importância nos países desenvolvidos, como por exemplo o mercado mundial para suplementos fitoterápicos, que foi estimado em 1997 como aproximadamente 16,5 bilhões de dólares, e vem passando por taxas de crescimento consideráveis (Gruenwald, 1998). Os cogumelos selvagens coletados no oeste dos Estados Unidos foram avaliados em 40 milhões de dólares em 1992 (Best e Jenkins, 1999). Entre 1991 e 1998, os 12 principais UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ CURSO DE ECONOMIA DOS PRODUTOS FLORESTAIS NÃO MADEIRÁVEIS 25 países importadores adquiriram 340.000 toneladas de plantas medicinais e aromáticas, a maioria obtida de fontes nativas e selvagens, no valor de 1 bilhão de dólares. Os principais países exportadores desse material foram China, Índia, Alemanha, Estados Unidos da América, Chile, Egito, Cingapura, México, Bulgária, Paquistão, Albânia e Marrocos (Lange, 2002). Consumidores nos Estados Unidos e na Europa cada vez mais optam por cosméticos naturais e por medicamentos fitoterápicos. A Europa possui um mercado melhor regulado e estabelecido, sendo a Alemanha o principal país consumidor, seguida pela França e pela Itália. Desde o século XIX as autoridades nos Estados Unidos viram o interesse dos consumidores por esses tipos de produtos e iniciaram a regulamentação do seu comércio como suplementos dietéticos nas décadas de 1970 e 1980. Como resultado, verificou-se crescimento exponencial das vendas até o final da década de 1990, quando o mercado experimentou queda drástica. Entre os principais fitoterápicos comercializados no mundo, estão o Ginko Biloba, a Erva de São João, o Saw Palmetto (serenoa repens), a Equinácea, o Ginseng e a Valeriana (Blumenthal, 1999). Por outro lado, é preciso lembrar que apesar da maior parte dos fitoterápicos seja classificada como produto florestal não madeireiro (extrativismo), o seu sucesso comercial em parte estimulou o seu cultivo e produção através de sistemas agrícolas. Isso tem possibilitado a garantia de sua disponibilidade em grandes volumes exigidos pelo mercado, além da composição homogênea dos ingredientes vegetais (Gruenwald, 1998). Por outro lado, essa afirmação não pode ser tomada universalmente, pois algumas espécies como a Erva de São João, são muito mais acessíveis e podem afetar o mercado de modo diferente de outras menos endêmicas, como é o caso do Ginseng. - Mercado asiático O continente asiático é sem sombra de dúvidas o maior produtor e consumidor de Produtos Florestais Não madeiráveis – PFNM do mundo. Isso UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ CURSO DE ECONOMIA DOS PRODUTOS FLORESTAIS NÃO MADEIRÁVEIS 26 não se deve apenas ao tamanho da população deste continente, mas também devido ao conhecimento advindo do uso tradicional de uma vasta gama de produtos utilizados para alimentação, construção e para fins culturais (FAO, 2002). Este continente é o único que vem fornecendo informações sobre a produção de PFNM no seu anuário estatístico por muitos anos e tem desenvolvido suas próprias definições, terminologias e classificação para os seus PFNM’s. Dentre os países asiáticos a China e a Índia destacam-se como os principais produtores e consumidores de PFNM, sendo que a China produz e processa mais produtos da natureza quequalquer outro país no mundo, ou seja, domina o comércio global de produtos florestais não madeiráveis. Outros países também se destacam como o Vietnã, Malásia, Filipinas e Tailândia. (FAO, 2002) Ainda de acordo com a FAO (2002) os principais produtos variam de um país para outro, entretanto os principais PFNMs em nível mundial são: ratam, bambu, plantas medicinais e aromáticas; ervas, resinas, cogumelos, frutas silvestres, nozes e folhagens. Assim como no resto do mundo, a grande maioria do consumo dos PFNM é destinada a subsistência e ao comércio local, não existindo dados oficiais nas estatísticas dos países. Comparando-se com outras regiões do mundo, porém, na Ásia cada vez mais produtos tem ganhado importância e participação na lista oficial dos produtos com estatísticas de comércio internacional. O comércio internacional de PFNMs contribui significativamente para geração de renda e divisas através da exportação. Na tabela 2 são apresentadas, em ordem decrescente de comercialização, as categorias com maior participação no mercado asiático no ano de 2005. UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ CURSO DE ECONOMIA DOS PRODUTOS FLORESTAIS NÃO MADEIRÁVEIS 27 TABELA 2. DADOS DE COMERCIALIZAÇÃO DO CONTINENTE ASIÁTICO EM 2005. Mercado Mundial de PFNM em 2005 – ÁSIA categoria PFNMs Valor (US$ 1.000,00) % Quantidade unidade Alimentos 817.774,00 47,24 3.563.791 toneladas Químicos (resina e gomas) 316.359,00 18,27 1.495.663 toneladas Outros produtos florestais 279.052,00 16,12 607.282 toneladas Outros (origem animal comestíveis) 118.747,00 6,86 23.686 toneladas Matéria prima para utensílios, artesanatos e construção 86.663,00 5,01 2.912.958 toneladas Forragem 53.679,00 3,10 4.123.141 toneladas Medicinais e aromáticos 30.167,00 1,74 90.881 toneladas Melíferos e apícolas 18.755,00 1,08 1.197 toneladas Químicos (matéria prima para corantes) 7.725,00 0,45 51.011 toneladas Outros (origem animal não comestíveis) 1.530,00 0,09 238 toneladas Couros e peles 599,00 0,03 6.700 unidades TOTAL 1.731.111,00 No referido ano, o continente Asiático apresentou maior comercialização de PFNMs utilizados como forragem, porém a maior participação na receita foi obtida com a comercialização de PFNMs utilizados como alimentícios (quase metade do valor total arrecadado). Os PFNMs de origem animal não- comestíveis apresentaram a menor quantidade comercializada, também apresentando a menor participação na arrecadação total (mercado de Couros e Peles). No gráfico 1 são apresentados os PFNMs da Tabela 1 conforme sua participação na receita total do mercado Asiático em 2005. UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ CURSO DE ECONOMIA DOS PRODUTOS FLORESTAIS NÃO MADEIRÁVEIS 28 0,00 5,00 10,00 15,00 20,00 25,00 30,00 35,00 40,00 45,00 50,00 A lim en to s Q uí m ic os (r es in a e go m as ) O ut ro s pr od ut os f lo re st ai s O u tr o s (o ri g e m a n im a l co m es tí ve is ) M a té ri a p ri m a p a ra u te n sí lio s, ar te sa n at os e c o n st ru çã o Fo rr ag em M e d ic in a is e a ro m á ti co s M el íf er os e a pí co la s Q uí m ic os (m at ér ia p ri m a pa ra co ra nt es ) O u tr o s (o ri g e m a n im a l n ã o co m es tí ve is ) Co ur os e p el es P ar ti ci p aç ão ( % ) categoria do PFNM Mercado asiático de PFNMs em 2005 Participação (%) na Receita Total de PFNMS no Mercado Asiático Gráfico 1. Participação dos PFNMs mais representativos do continente asiático em ordem decrescente. - Mercado europeu É freqüente a afirmação de que a produção de PFNMs e de serviços florestais são tão importantes quanto à produção de madeira na Europa e que esta importância vem crescendo. Em razão disto, na última década políticas públicas complexas trataram dos PFNMs e dos serviços da floresta (FAO, 2005). A tabela 3 apresenta, de forma resumida, informações acerca da comercialização dos principais PFNMs das florestas européias no ano de 2005. Os dados dos principais PFNMs são apresentados em termos de produção e valor de produção em alguns países que compõem a União Européia. UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ CURSO DE ECONOMIA DOS PRODUTOS FLORESTAIS NÃO MADEIRÁVEIS 29 TABELA 3 – PRINCIPAIS PFNMS EM PRODUÇÃO E VALOR NA EUROPA. Mercado Mundial de PFNM em 2005 – EUROPA Produto Valor Anual (Bilhões de EUR) % Quantidade (mil toneladas) Castanha 3,00 55,4 2.000 Mel silvestre 0,52 9,57 350 Carne e pele de caça 0,47 8,61 - Árvores de Natal 0,44 8,2 - Frutas silvestres 0,35 6,45 211 Cogumelos 0,26 4,84 77 Cortiça 0,21 3,86 300 Plantas medicinais 0,12 2,18 43 Plantas ornamentais 0,05 0,9 45 Total 5,415 100 3.026 Observa-se que no continente Europeu, a maior participação na receita arrecadada com PFNMs foi a da Castanha, responsável por 55,4% do total. Observa-se também que a menor participação na receita refere-se às plantas ornamentais, com uma das menores quantidades comercializadas. As principais castanhas produzidas na Europa são “almonds”, “walnuts”, “chestnuts” a “hazelnuts”. Outras castanhas também são consumidas, como por exemplo pistaches e nozes. Algumas destas castanhas são coletadas nas florestas, mas a maioria da produção provém de áreas destinadas especificamente para a produção deste PFNM. De acordo com a FAO (2005) a produção e o consumo de castanha mais que dobrou desde 1960, sendo que muito desse crescimento se deve a apenas um país, a Turquia. Mesmo assim a produção também tem crescido em outras regiões da Europa, mas em menor proporção. Ainda de acordo com a FAO (2005) apenas 10% da produção européia de castanhas é exportada e grande parte desta é exportada para outros países da comunidade européia. Logo após as castanhas em termos de importância econômica no mercado europeu de PFNMs aparece o mel, as carnes e peles provenientes da caça e árvores de natal, respectivamente com 9,5%, 8,6% e 8,2% do valor comercializado. Na Europa a pele e o couro dos animais caçados são utilizados UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ CURSO DE ECONOMIA DOS PRODUTOS FLORESTAIS NÃO MADEIRÁVEIS 30 na fabricação de cobertores, tapetes, calçados e roupas e movimenta um mercado anual de 466 milhões de euros. A produção de árvores de natal totaliza aproximadamente 43 milhões de árvores ao ano e representa a maior cultura sazonal da Europa, sendo as exportações deste produto importantes para diversos países, como a Dinamarca (FAO, 2005). Frutas silvestres, cogumelos, cortiça e plantas medicinais e ornamentais completam a lista dos principais PFNMs da Europa. Na produção/extração de frutas silvestre destacam-se a Grécia, Espanha, Portugal, Hungria e Turquia e países escandinavos além da Albânia e a República Tcheca. A produção de cogumelos e musgos difere em importância e volume produzido de país para país, dependendo das tradições regionais, condições climáticas e a intensidade do manejo. Destaca-se na produção de cogumelos a Finlândia, com aproximadamente 10% do mercado. A Itália apresenta-se como um dos principais países consumidores de plantas medicinais, entretanto, são contabilizadas apenas importações da Alemanha e Bulgária, indicando um mercado de plantas medicinais subestimado. A cortiça apresenta diversos usos, sendo o principal a produção de rolhas para garrafas de vinhos. A cortiça natural é produzida apenas em alguns países mediterrâneos como a França, Itália, Espanha e Portugal. Este último é o principal produtor e exportador de cortiça, representando mais de 50% do mercado mundial. O quantum e os valores de mercado apresentados permitem concluir que a Europa constitui-se um continente importante nomercado mundial de produtos florestais não madeiráveis. No gráfico 2 são apresentados os PFNMs da Tabela 3 conforme sua participação na receita total do mercado Europeu em 2005. UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ CURSO DE ECONOMIA DOS PRODUTOS FLORESTAIS NÃO MADEIRÁVEIS 31 0,00 10,00 20,00 30,00 40,00 50,00 60,00 C as ta n h a M e l s ilv e st re C ar n e e p e le d e c aç a Á rv or es d e N at al Fr ut as s ilv es tr es Co gu m el os C o rt iç a P la n ta s m e d ic in ai s P la n ta s o rn am e n ta is P ar ti ci p aç ão ( % ) PFNMs Mercado Europeu de PFNMs em 2005 Participação (%) na Receita Total de PFNMs no Mercado Europeu Gráfico 2. Participação dos PFNMs mais representativos do continente europeu em ordem decrescente. - Mercado africano De acordo com a FAO (2003) a produção madeireira da África alcançou 699 milhões de metros cúbicos de madeira em tora, participando com 20,2% do mercado mundial. Assim como a produção madeireira, a produção de PFNMs neste continente também se faz importante em todas as regiões. Os PFNMs são geralmente utilizados como meio de subsistência e para a geração de renda, entretanto, as informações estatísticas são bastante escassas. As exportações de PFNMs na África acontecem basicamente entre mercados regionais, mas tem crescido o comércio internacional. Dentre os exemplos de produtos exportados para outros países aparece a cortiça e óleos provenientes do norte da África, animais e produtos da apicultura do leste e sul do continente assim como PFNM`s alimentícios. Outros PFNM’s tem sido exportados para a Europa como a goma arábica (Acacia spp), castanhas (Vitellaria paradoxa), castanha cola (Cola nitida) e iame (Dioscorea spp) (FAO, 2003). UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ CURSO DE ECONOMIA DOS PRODUTOS FLORESTAIS NÃO MADEIRÁVEIS 32 Ainda de acordo com FAO (2003) um dos principais PFNM’s comercializados na África é a goma arábica que durante os anos 70 apresentou uma exportação de aproximadamente 70.000 toneladas mas que vêm decrescendo desde então, ao mesmo tempo em que aumentou a sua substituição, resultando em uma produção atual de 40.000 toneladas. A exportação de produtos alimentícios da floresta e plantas medicinais ocorre extensivamente entre o Oeste e Sul da África. Em 2005, os PFNMs que tiveram maior contribuição na receita total obtida neste mercado foram os classificados nas categorias de animais vivos e seus sub-produtos (couro e peles), responsáveis por quase 90% do arrecadado naquele ano. Observam-se dados de comercialização destes e de outros PFNMs na tabela 4. UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ CURSO DE ECONOMIA DOS PRODUTOS FLORESTAIS NÃO MADEIRÁVEIS 33 TABELA 4. DADOS DE COMERCIALIZAÇÃO DO CONTINENTE AFRICANO EM 2005. Mercado Mundial de PFNM em 2005 – ÁFRICA Categoria PFNMs Valor (US$ 1.000,00) % Quantidade Unidade Animais vivos 681.666 81,72 1.404.712 Unid. Forragem 69.536 8,34 738.200 Ton. Medicinais e aromáticos 31.948 3,83 20.400 Ton. Couros e peles 28.155 3,38 1.388.865 Unid. Melíferos e apícolas 16.135 1,93 13.185 Ton. Outros produtos florestais 15.965 1,91 11.175 Ton. Químicos (resina e gomas) 5.597 0,67 12.757 Ton. Outros (origem animal comestíveis) 4.530 0,54 799 Ton. Carne de caça 3.064 0,37 1.704 Ton. Químicos (matéria prima para corantes) 3.030 0,36 454 Ton. Alimentos 1.353 0,16 88.823 Ton. Utensílios, artesanatos e construção 531 0,06 99.720 Ton. Plantas ornamentais 70 0,01 14 Ton. Total 861.580 Os dados da tabela 4 também demonstram que PFNMs como Artesanatos e Plantas Ornamentais são os menos participativos na receita total obtida, contribuindo com apenas 0,06% e 0,01% do total arrecadado. No gráfico 3, a seguir, são apresentados os dados de comercialização de PFNMs do mercado africano, conforme a tabela 4. UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ CURSO DE ECONOMIA DOS PRODUTOS FLORESTAIS NÃO MADEIRÁVEIS 34 0,00 10,00 20,00 30,00 40,00 50,00 60,00 70,00 80,00 90,00 A n im ai s vi vo s Fo rr ag em M e d ic in a is e a ro m á ti co s Co ur os e p el es M el íf er o s e ap íc o la s O u tr o s p ro d u to s fl o re st a is Q u ím ic o s (r es in a e go m as ) O u tr os (o ri ge m a ni m al c om es tí ve is ) Ca rn e de c aç a Q uí m ic os (m at ér ia p ri m a pa ra co ra nt es ) A li m e n to s U te n sí li o s, a rt e sa n a to s e c o n st ru çã o P la n ta s o rn am en ta is P ar ti ci p aç ão ( % ) Categoria PFNMs Mercado Africano de PFNMs em 2005 Participação (%) na Receita Total do Mercado Africano de PFNMs Gráfico 3. Participação dos PFNMs mais representativos do continente africano em ordem decrescente. - Mercado americano Na tabela 5 são apresentados os PFNMs do mercado Americano comercializados no ano de 2005, bem como suas produções e receita obtida. UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ CURSO DE ECONOMIA DOS PRODUTOS FLORESTAIS NÃO MADEIRÁVEIS 35 TABELA 5. DADOS DE COMERCIALIZAÇÃO DO CONTINENTE AMERICANO EM 2005. Mercado Mundial de PFNM em 2005 – AMÉRICAS Categoria PFNMs Valor (US$ 1.000,00) % Quantidade Unidade Alimentos 130.586 48,56 354.702 Ton. Utensílios, artesanatos e construção 61.492 22,87 111.818 Ton. Outros produtos florestais 49.991 18,59 441.197 Ton. Químicos (resina e gomas) 16.940 6,30 56.048 Ton. Carne de caça 4.099 1,52 520 Ton. Medicinais e aromáticos 3.102 1,15 4.357 Ton. Químicos (matéria prima para corantes) 2.102 0,78 13.365 Ton. Outros (origem animal não comestíveis) 613 0,23 18.400 Ton. TOTAL 268.925 No gráfico 4 são apresentados os dados do mercado americano de PFNMs, conforme a tabela 5. 0,00 10,00 20,00 30,00 40,00 50,00 60,00 A lim e n to s U te n sí lio s, a rt e sa n at o s e co n st ru çã o O u tr o s p ro d u to s fl o re st ai s Q u ím ic o s (r e si n a e g o m as ) C ar n e d e c aç a M e d ic in ai s e a ro m át ic o s Q u ím ic o s (m at é ri a p ri m a p ar a co ra n te s) O u tr o s (o ri ge m a n im al n ão co m e st ív e is ) P ar ti ci p aç ão ( % ) categoria PFNMs Mercado Americano de PFNMs em 2005 Participação na Receita Total do Mercado Americano de PFNMs UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ CURSO DE ECONOMIA DOS PRODUTOS FLORESTAIS NÃO MADEIRÁVEIS 36 Gráfico 4. Participação dos PFNMs mais representativos do continente americano em ordem decrescente. Com base na tabela 5 e no gráfico 4, observa-se que os PFNMs com maior arrecadação no mercado americano são da categoria Alimentos, responsáveis por quase 50% da receita total. A carne de caça, apesar de ser o menos comercializado entre os PFNMs listados, não possui a menor receita, sendo esta referente aos PFNMs de origem animal não-comestíveis. - Mercado norte americano Os Estados Unidos da América apresentavam em 1995 aproximadamente 9,1% do mercado mundial de PFNM estimado em US$ 11 bilhões. A Tabela 3 apresenta a lista destes produtos. UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ CURSO DE ECONOMIA DOS PRODUTOS FLORESTAIS NÃO MADEIRÁVEIS 37 TABELA 5 - PRINCIPAIS PFNMs IMPORTADOS PELOS EUA NO ANO DE 1995. Principais PFNM's importados pelos Estados Unidos Categoria dos PFNMs USA (US$ 1.000.000,00) % Fitoterápicos 88,59 8,8 Frutas silvestres 51,3 5,1 Látex bruto 84,08 8,3 Óleos essenciais e resinas 108,54 10,7Raízes de ginseng 11,1 1,1 Esteiras, Tapetes e cortinas de material vegetal 17,13 1,7 Animais 43,48 4,3 Mel silvestre 53,92 5,3 Alimentos de origem animal 4,02 0,4 Âmbar, castoreum, almíscar 3,02 0,3 Castanha do Brasil 16,78 1,7 Castanha – Chestnuts 10,46 1 Outras castanhas 91,68 9,1 Mucilagem, espessantes derivados de alfarroba, de sementes de alfarroba ou de outras sem. 45,35 4,5 Flor e Fruto do Cinamomo 28,91 2,9 Outras epíceas 20,85 2,1 Raízes licorosas 9,39 0,9 Laca 9,37 0,9 Goma arábica 18,89 1,9 Outras gomas naturais, resinas e bálsamos 11 1,1 Licor de seiva vegetal 15,48 1,5 Bambus 3,13 0,3 Ratam 5,44 0,5 Outros vegetais e materiais para artesanato 4,73 0,5 Materiais vegetais para escovas 8,59 0,9 Raw veg. materials esp. for dyeing, tanning 2,03 0,2 Outros produtos vegetais (farinha de palmeira , cortiça do Panama, etc.) 11,49 1,1 Óleo de Tung e suas frações 9,36 0,9 Oleo de Jojoba 2,29 0,2 Outros vegetais fixadores de gorduras 8,67 0,9 Graxas vegetais 13,08 1,3 Ceras de abelhas e de outros insetos 2,38 0,2 Acucar e xarope de bordo 28,09 2,8 Extrato de Quebracho 6,36 0,6 Wattle extract 8,07 0,8 Taninos extraídos de origem vegetal 7,59 0,8 Pigmentos coloridos de origem vegetal e animal 31,8 3,1 Resinas 34,88 3,5 Óleos essenciais concentrados em gordura 7,3 0,7 Gomas, madeira ou óleo de sulfato torpentino 2,12 0,2 Balata, guta persa 4,87 0,5 Cortiça e rolhas para bebidas de cortiça 59,26 5,9 Outros materiais a base de cortiça 3,05 0,3 TOTAL 1.010,43 100 Fonte: Iqbal (1995) UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ CURSO DE ECONOMIA DOS PRODUTOS FLORESTAIS NÃO MADEIRÁVEIS 38 Destaque para os óleos essenciais e resinas que representaram aproximadamente 10% de toda a importação norte americana de PFNM no ano de 1995. Em seguida em ordem de importância aparecem as castanhas com 9,1% e os produtos fitoterápicos e o látex respectivamente com 8,8% e 8,3%. - Mercado brasileiro As informações apresentadas a seguir dizem respeito ao mercado brasileiro dos principais produtos florestais não madeiráveis e foram obtidas junto ao IBGE por meio da publicação Produção da Extração Vegetal e da Silvicultura de 2007 e 2008. Essa é a principal fonte de dados da produção e da extração vegetal no Brasil. A produção florestal brasileira somou R$ 12, 7 bilhões em 2008. Desse total, 69,3% provieram da silvicultura (cultivo de florestas com espécies exóticas ou nativas), e 30,7%, do extrativismo vegetal (produtos simplesmente coletados em áreas florestais naturais e espontâneas). Neste segmento, a produção madeireira totalizou R$ 3,3 bilhões, ao passo que o valor da extração vegetal não madeireira somou apenas R$ 635,7 milhões. Dentre os produtos florestais não madeiráveis, durante o ano de 2008, destacaram-se os coquilhos de açaí totalizando 21,03% de participação (R$ 133,7 milhões). Na sequência aparecem as amêndoas de babaçu com 18,18% de participação, a piaçava (fibra) com 16,37%, a erva-mate nativa com 16,14%, o pó cerífero de carnaúba com 9,8%, a castanha-do-pará com 7,19% e a cera de carnaúba com 2,9% de participação. Quanto aos demais produtos florestais não madeiráveis originários do extrativismo, 9 tiveram aumento de produção entre 2007 e 2008; e 17, declínio. O maior incremento foi da Jaborandi (folha), com um aumento de 36%. Também apresentaram crescimento as seguintes categorias: outras fibras (como a buriti, carnaúba, etc), 52,6% e outros oleaginosos, 58,0%. A nível de produtos, os maiores crescimentos apresentados são: Buriti (fibra) com 22%, açaí (fruto) com 11,9% e umbu (fruto) com 7,5%. UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ CURSO DE ECONOMIA DOS PRODUTOS FLORESTAIS NÃO MADEIRÁVEIS 39 Por outro lado, entre os produtos com acentuadas reduções de produção, destacaram-se oititica (-91,2%), urucu (semente) com -37,3%, e outros aromáticos, medicinais, corantes e tanantes (31,3%). A seguir são apresentadas informações sobre os 7 principais PFNMs do país, conforme IBGE (2008), em ordem de importância. – Açaí Em 2008, foram coletadas no país 120.890 toneladas de frutos ou coquilhos de açaí, e o Pará, principal produtor nacional, respondeu por 88,5% desse total. No ranking dos dez maiores municípios produtores de açaí, todos são paraenses: Limoeiro do Ajuru, Ponta de Pedras, São Sebastião da Boa Vista, Muaná, Oeiras do Pará, Igarapé-Miri, Mocajuba, Afuá, São Miguel do Guamá e Inhangapi. Em conjunto, eles detiveram cerca de 66,4% da produção nacional. Vale também destacar que dentre os 20 maiores municípios produtores de frutos de açaizeiros nativos do país, 17 encontram-se no Pará. – Babaçu (amêndoa) O Maranhão é o grande produtor de amêndoa de Babaçu, com 94,4% da produção nacional, que, em 2008, alcançou 110.636 toneladas. No ranking dos 20 municípios maiores produtores deste PFNM, todos dão do estado do Maranhão. Os principais municípios produtores são Vargem Grande e Pedreiras, que, juntos, responderam por cerca de 10% da produção nacional. – Piaçava (Fibras) A Piaçava sofreu um decréscimo de produção entre os anos de 2007 e 2008. Neste ano, a maior produção ocorreu no estado da Bahia (87,6%), que detém 17 dos 20 municípios maiores produtores deste PFNM no país. O maior produtor destes, o município de Cairu, produz sozinho quase 30% da produção nacional. UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ CURSO DE ECONOMIA DOS PRODUTOS FLORESTAIS NÃO MADEIRÁVEIS 40 – Erva Mate O total de Erva mate explorada em 2008 chegou a 219.773 ton. de folhas. Seu principal produtor é o estado do Paraná, com uma produção de 154.701 ton. (70,4% do total nacional), e que possui o município que é o maior produtor nacional (São Mateus do Sul), com 14,5% do total produzido. Em seguida, os estados que mais produzem são Santa Catarina (18,03%) e Rio Grande do Sul com 11,45% da produção nacional. – Pó cerífero de Carnaúba A exploração da carnaubeira para a produção de pó cerífero ocorre predominantemente no Piauí e Ceará, que tiveram, respectivamente, 67,4% e 29,7% da produção nacional, de 19.273 toneladas. Dentre o ranking dos 20 maiores municípios produtores, 11 são piauienses e 8 cearenses, sendo que o 1º colocado (Campo Maior) pertence ao estado do Piauí e sozinho responde por aproximadamente 7% da produção nacional. – Cera de Carnaúba Conforme apresentado no item anterior, o Ceará é um dos maiores produtores de Carnaúba. Do total de cera de carnaúba produzido, este estado conta com a produção de 81,4% (2477,6 t). Dos 5 municípios maiores produtores deste PFNM, 4 são cearenses (Russas, Granja, Morada Nova e Aracati) e 1 pertence ao Rio Grande do Norte (Apodi), sendo Russas o 1º colocado. – Castanha-do-pará O principal produtor de castanha-do-Brasil, em 2008, foi o estado do Acre, com 11.524 toneladas ou 37,4% do total coletado no país. Os principais municípios produtores do estado foram Rio Branco, Brasiléia, Xapuri e Sena Madureira que, em conjunto, responderam por 26,9% da produção nacional. O Amazonas foi o 2º maior produtor do país (29,6%), vindo em seguida o Pará (20,1%). UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ CURSO DE ECONOMIA DOS PRODUTOS FLORESTAIS NÃO MADEIRÁVEIS 41 COMERCIALIZAÇÃO – Uma abordagem teórica - Conceitos Segundo BRANDT, citado por MENDES (1994), "entende-se por comercialização o desempenho de todas as atividades necessárias ao atendimento das necessidades e desejos dos mercados, planejando a disponibilidade da produção, efetuando transferência de propriedade de produtos, prevendo meios para a sua distribuição física e facilitando a operação de todo o processo de mercado". Em outras palavras, é o desempenho de todas as funções ou atividades envolvidas na transferência de bens e serviços do produtor ao consumidor final. Para que os bens e serviços reflitam apreferência do consumidor, a comercialização começa antes da produção. Dessa maneira, o termo "transferência" não significa apenas transporte, mas todas as demais operações físicas e envolve as ações desde a aquisição dos insumos para a produção. De acordo com BARROS (1987), temos duas definições de comercialização: Comercialização compreende "o conjunto de atividades realizadas por instituições que se acham empenhadas na transferência de bens e serviços desde o ponto de produção inicial até que eles atinjam o consumidor final..." (PISA & WELSH, 1968); Comercialização é o "processo social através do qual a estrutura de demanda de bens e serviços econômicos é antecipada e satisfeita através da concepção, promoção, intercâmbio e distribuição física de tais bens e serviços". A comercialização realiza, conforme se depreende das definições apresentadas, uma série de atividades ou funções através das quais bens e serviços são transferidos dos produtores aos consumidores. Essas atividades resultam na transformação dos bens, mediante utilização dos recursos produtivos - capital e trabalho - que atuam sobre a matéria prima. A comercialização trata-se, portanto, de um processo de produção e como tal pode ser analisada valendo-se dos instrumentos proporcionados pela teoria econômica. UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ CURSO DE ECONOMIA DOS PRODUTOS FLORESTAIS NÃO MADEIRÁVEIS 42 As alterações que as atividades de comercialização exercem sobre a matéria-prima são de três naturezas: alterações de forma, tempo e espaço. No primeiro caso é mais fácil visualizar o processo de produção envolvido: através do processamento combinam-se recursos produtivos para alterar a forma do bem. Nos outros dois casos também se tem um processo de produção que emprega recursos na criação de serviços de armazenamento (transferência do bem ao longo do tempo) e transporte (transferência do bem no espaço). De uma forma geral, a comercialização é um processo social que envolve interações entre agentes econômicos através de instituições apropriadas. Uma importante instituição no sistema de comercialização é o mercado. MARGENS DE COMERCIALIZAÇÃO Em MENDES (1998), a Margem (M) de comercialização é definida como a diferença entre preços a diferentes níveis do sistemas de comercialização. A margem total (Mt) é a diferença entre o preço pago pelo consumidor e o preço recebido pelo produtor. BARROS (1987) afirma que, comumente se apontam a oferta dos produtores e a demanda dos consumidores como sendo os determinantes do preço de mercado. Como já se mostrou, no entanto, consumidores e produtores estão separados por muitos intermediários (transportadores, processadores e armazenadores) que se encarregam da condução da produção da região produtora até os consumidores finais. Na verdade, o contato direto entre produtores e consumidores só ocorre significativamente em economias primárias. Em economias modernas, produção e consumo estão separados no espaço e no tempo tornando, assim, necessário que os intermediários transportem, armazenem e transformem o produto antes que o consumidor final tenha acesso a ele. Dessas atividades dos intermediários resulta um custo de comercialização que será incorporado ao preço do produto para o consumidor. Margem e custo de comercialização são dois conceitos interrelacionados e, por isso, às vezes, confundidos entre si. UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ CURSO DE ECONOMIA DOS PRODUTOS FLORESTAIS NÃO MADEIRÁVEIS 43 À exceção das funções de comercialização corresponde um custo incorrido pelos comerciantes na forma de salários, aluguéis, insumos diversos, depreciação, juros, impostos, etc. A determinação do custo de comercialização envolve o levantamento desses vários itens, o que é, sem dúvida, mais difícil do que o levantamento de preços dos produtos nos diversos níveis de mercado. A partir desses preços é que se determina a margem de comercialização. A margem corresponde às despesas cobradas ao consumidor pela realização das atividades de comercialização. É fácil, pois, constatar que: M C L Onde: M = Margem C = Custo L = Lucro ou Prejuízo dos intermediários. A margem é dada pela diferença entre o preço pelo qual um intermediário (ou um conjunto de intermediários) vende uma unidade de produto e o pagamento que ele faz pela quantidade equivalente que precisa comprar para vender essa unidade. Perdas devido ao amassamento, podridão, processamento fazem com que as unidades de venda e compra difiram entre si. A ocorrência de subprodutos deve ser levada em devida conta no cômputo da margem, conforme será ilustrado a seguir. A Margem Total (MT) procura medir as despesas do consumidor devidas a todo o processo de comercialização. Corresponde, pois, à diferença entre preço do varejo (Pv) de um produto qualquer e o pagamento recebido pelo produtor pela quantidade equivalente na fazenda (Pp) (após ajuste para os subprodutos). Assim: MT = Pv - Pp que corresponde a margem total absoluta. UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ CURSO DE ECONOMIA DOS PRODUTOS FLORESTAIS NÃO MADEIRÁVEIS 44 A margem total relativa é expressa como proporção do preço no varejo, ou seja: MT’= (Pv - Pp) / Pv A margem pode ainda se referir a níveis específicos de mercado. Assim, a margem absoluta do varejista (Mv) será a diferença: Mv = Pv - Pa onde Pa é o preço no atacado da quantidade equivalente à unidade vendida no varejo. A margem relativa do varejo será: Mv’= (Pv - Pa) / Pv Fala-se também em margens absoluta e relativa do atacadista, que são, respectivamente: Ma = Pa - Pp Ma’= (Pa - Pp) / Pv - Margem Bruta de Comercialização (MB) A Margem Bruta de comercialização é mensurada pela diferença de preços nos diferentes agentes que participam do processo de comercialização. Assim, tem-se apresentado na tabela 6: TABELA 6 – MARGEM DE COMERCIALIZAÇÃO Margem Valor Absoluto Valor relativo Total (Mt) Pv – Pp [(Pv – Pp) / Pv] 100 Fábrica (Mf) Pf-Pp [(Pf – Pp) / Pv] 100 Atacado (Ma) Pa – Pf [(Pa – Pf) / Pv] 100 Varejo (Mv) Pv – Pa [(Pv – Pa) / Pv] 100 Fonte: Comercialização Agrícola, MENDES (1998) UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ CURSO DE ECONOMIA DOS PRODUTOS FLORESTAIS NÃO MADEIRÁVEIS 45 Sendo: Pv = preço em nível de varejo, ou seja, preço pago pelo consumidor; Pf = preço em nível fábrica, ou seja, preço de venda ao atacadista; Pa = preço em nível de atacadista, ou seja, preço de venda do atacadista; Pp = preço recebido pelo proprietário (área nativa) - Markup de Comercialização (Mk) Para a conceituação do Markup MENDES (1998) define da seguinte forma: “O Markup (Mk) é a diferença entre o preço de venda e o preço de compra ( ou de custo). Em termos absolutos, markup é igual à margem. Em termos relativos mostra o percentual de aumento entre os preços de venda e de compra relativamente ao preço de compra, ou , entre o preço de venda e o custo de produção relativamente ao custo de produção”, como é apresentado na tabela 7 a seguir. Tabela 7 – MARKUP DE COMERCIALIZAÇÃO Markup Valor Absoluto Valor relativo Total (Mt) Pv – Pp [(Pv – Pp) / Pp] 100 Fábrica (Mf) Pf-Pp [(Pf – Pp) / Pp] 100 Atacado (Ma) Pa – Pp [(Pa – Pp) / Pp] 100 Varejo (Mv) Pv – Pa [(Pv – Pa) / Pa] 100 Fonte: Comercialização Agrícola, MENDES (1998) Para finalizar este capítulo leia os artigos: a) Exploração e potencial de Produtos Florestais Não Madeiráveis na Amazônia b) Parcerias comerciais entre empresas e comunidades amazônicas: oportunidades, problemas e desafios c) Aspectos produtivos e comerciais do pinhão no estado do Paraná UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ CURSO DE ECONOMIA DOS PRODUTOS FLORESTAIS NÃO MADEIRÁVEIS
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