Buscar

Processos Historiográficos

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 196 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 196 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 196 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

2012
Processos 
Historiográficos
Prof. Evandro André de Souza
Prof. Jó Klanovic
Copyright © UNIASSELVI 2012
Elaboração:
Prof. Evandro André de Souza
Prof. Jó Klanovicz
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
Impresso por:
907.2
S729p Souza, Evandro André de
 Processos historiográficos / Evandro André de Souza e Jó Klanovicz.
 Indaial : Uniasselvi, 2012. 
 184 p. : il 
 
 ISBN 978-85-7830- 558-1
 1.Historiografia; 2. Estudos históricos.
 I. Centro Universitário Leonardo da Vinci
 II. Núcleo de Ensino a Distância III. Título
III
APresentAção
Caro acadêmico!
Quando pensamos História, não podemos nos furtar à discussão 
sobre seu estatuto frente a outros campos do conhecimento humano. No 
final dos anos 1990, a discussão que começou a se colocar nos estudos de 
História parece ter forçado um retorno a preocupações iluministas sobre o 
conhecimento e as narrativas históricos. 
Voltamos a fazer perguntas sobre a existência ou possibilidade de 
existência de um conhecimento chamado histórico; sobre o que pode ou 
não ser denominado de fato histórico; quem é o historiador ou historiadora; 
sobre a possibilidade ou não de denominar a história de ciência; sobre os 
limites, encontros e desencontros da História com relação à Literatura; sobre 
a “História” com “H” maiúsculo ou as “histórias” com “h” minúsculos; sobre 
se é seu papel explicar ou interpretar, inventar ou resgatar um passado, ora 
entendido como entidade, ora como fragmento.
No final do século XX, passamos a nos preocupar, também, com a 
relação entre pesquisa e ensino de História (ou de histórias), de uma maneira 
renovada, não meramente instrumental, capaz de rediscutir velhas práticas 
de ensino, velhas fragmentações e divisões artificiais entre didática, teoria da 
história, historiografia, ensino. 
Passamos a encarar, cada vez mais, manuais de ensino como produções 
que são fruto de intenções, de escolhas, de propostas e sentidos defendidos 
por quem os escrevem talhados, seguindo orientações socioculturais. 
Quem trabalha com História foi e está sendo compelido a pensar múltiplas 
dimensões sobre o próprio conhecimento histórico, e a tarefa de historicizar as 
leituras, as abordagens, as interpretações, os pontos de vista e as intenções de 
historiadores e historiadoras anteriores na hora de elaborar um plano de ensino, 
um plano de aula, uma intervenção didático-pedagógica ou, simplesmente (ou 
seria melhor, amplamente?) pensar quaisquer temas a partir de uma mirada 
histórica tem exigido, cada vez mais, interação de interesses pessoais dos 
profissionais da História com uma área específica chamada Historiografia.
Durante algum tempo, tendemos a pensar a historiografia na acepção 
mais crua do termo: escrita da História. Contudo, à medida que esse campo 
foi se especializando, passamos a reposicionar a discussão na esfera da 
problematização das formas da escrita (estéticas, éticas, didáticas, científicas), 
das intencionalidades da escrita, dos seus sentidos, das disputas por espaços 
institucionalizados, de escolhas conceituais de historiadores e historiadoras, 
ou ainda, das implicações da adoção de determinados paradigmas de escrita 
da História para o ensino da História.
IV
Tornamos a análise da escrita da História algo mais complexo, mais 
profundo, mais produtivo, ligando-a com o mundo do ensino, com o mundo 
da sala de aula, principal espaço articulador da vivacidade da História e 
principal forma de reafirmar a importância da História para suprir nossas 
carências de orientação no tempo (RÜSEN, 2007).
Alguém pode se perguntar sobre o porquê dessas observações que se 
voltam para a discussão de processos historiográficos em meio à formação 
acadêmica voltada ao ensino de História em sentido amplo, argumentando 
que preocupações de ordem historiográfica não fazem sentido para o âmbito 
que excede a pesquisa. Certamente, essa questão, antes de ser respondida, 
ainda que negativamente, também carece de uma leitura, de uma historicidade, 
uma vez que, por si só, imprime uma divisão tácita entre um mundo chamado 
“pesquisa” e um mundo chamado “ensino”, que poderíamos derivar 
para outras divisões artificiais como “ciência” e “difusão”, “conhecimento 
aprofundado” e “manual de formação”, ou tantos outros binômios. 
Acontece que, de um ponto de vista prático, não há, não se sustenta 
e, em certa medida ética, não pode haver uma divisão tão radical, abrupta 
ou artificialista entre ambas as esferas, uma vez que cabe ao professor e à 
professora de História, no processo de formação de seus e suas estudantes, 
comunicar um saber atualizado, informado, de qualidade, politicamente 
consciente, problematizador e crítico; enquanto que cabe ao pesquisador 
e à pesquisadora em História não perder de vista a dimensão motivadora, 
propedêutica, sedutora, informativa e didática de seus estudos. 
Historiadores da historiografia (mais uma especialidade no seio de 
nossa profissão), como Jörn Rüsen (2007) enfatizam, nesse sentido, a dupla 
dimensão da Historiografia, tanto como necessidade para pesquisa, como 
necessidade para o ensino de História, na medida em que ela não é um fim, mas 
um meio de permitir comunicar melhor os mundos científico, pragmático e 
de ensino da História (RÜSEN, 2007). Enfim, permitir que possamos, a partir, 
muitas vezes, do parco material que temos à mão na escola, criticar posturas 
e modelos, desconstruir propostas anteriores, aprimorar suas virtudes, 
identificar seus defeitos, e, principalmente, ESCOLHER e DECIDIR pelas 
abordagens que julgamos, com base em nossa formação de historiadores, 
mais apropriadas do ponto de vista da qualidade do conhecimento que 
buscamos coelaborar com nossos estudantes.
O objetivo deste Caderno de Estudos é fazer com que possamos 
conhecer alguns dos meandros do processo de emergência da História como 
campo de conhecimento no mundo contemporâneo, partindo da própria 
historicidade do campo no mundo ocidental, desde uma antiguidade 
mediterrânea até o seu desenvolvimento em neo-Europas, as correntes ou 
estilos (muitas vezes autodenominações) historiográficos, sem perder de 
vista, a todo instante, o vínculo dessa discussão com o mundo da licenciatura.
V
Na Unidade 1, propomos discutir processos historiográficos e sua 
importância para a interpretação crítica da realidade sociocultural, para a 
determinação dos processos de escolha e tomada de decisões nas esferas 
pública e privada, para a melhoria das atividades profissionais de História. 
Para isso, elencamos alguns termos e conceitos que servem de baliza para a 
problematização do estatuto da História na atualidade, e da sua relação com 
outros campos do conhecimento.
A Unidade 2 está totalmente voltada à apresentação e discussão de 
formas de escrita da história que, de uma maneira ou de outra, tiveram e têm 
ainda relevância e reconhecimento científico em diversos países. Em certa 
medida, não deixamos de refazer questões sobre as razões de se aprender, 
pesquisar e ensinar, ainda hoje, autores gregos e romanos no Brasil do século 
XXI, ou historiadores da fronteira dos EUA do século XIX e suas implicações 
para a leitura do processo de desenvolvimento econômico do Brasil moderno 
do século XX. Traçamos, assim, uma linha do tempo que vai do século V a.C., 
até agora, tangenciando estilos, propostas, padrões e protocolos da pesquisa 
histórica, mutáveis no tempo.
Na Unidade 3, discutiremos a relação entre processos historiográficos 
e ensino de História, num sentido amplo, além de pontuarmos propostas de 
construção do conhecimento histórico em sala de aula a partir de pesquisas, 
de contato com textos históricos, com documentos primários e secundários.
Desejamos a todos uma ótima leitura e boas reflexões!
Prof. Evandro Andréde Souza
Prof. Jó Klanovicz
VI
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para 
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há 
novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova 
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também 
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade 
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto 
em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
NOTA
VII
VIII
IX
UNIDADE 1 – A IMPORTÂNCIA DO CONHECIMENTO HISTÓRICO .................................. 1
TÓPICO 1 – DISCUTINDO O CONHECIMENTO HISTÓRICO ................................................. 3
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3
2 QUANDO COMEÇA A HISTÓRIA? ................................................................................................ 6
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 9
3 RELATOS ................................................................................................................................................ 11
3.1 TIPOS DE RELATOS OU DOCUMENTOS .................................................................................. 16
3.1.1 Documentos escritos publicados e não publicados ........................................................... 17
3.1.2 Documentos visuais ............................................................................................................... 19
3.1.3 Documentos orais ................................................................................................................... 20
3.1.4 Documentos multimidiáticos ................................................................................................ 21
4 A HISTÓRIA E OS HISTORIADORES E HISTORIADORAS ................................................... 23
LEITURA COMPLEMENTAR II ........................................................................................................... 27
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 33
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 34
TÓPICO 2 – TEMPORALIDADES E HISTÓRIA .............................................................................. 35
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 35
2 TEMPORALIDADES E HISTÓRIA .................................................................................................. 36
3 HISTÓRIA E CONTEMPORANEIDADE ....................................................................................... 38
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 41
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 42
TÓPICO 3 – FUNÇÕES SOCIAIS DE HISTORIADORES E HISTORIADORAS ..................... 43
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 43
2 SOCIEDADES E AS FUNÇÕES DA HISTÓRIA ........................................................................... 44
3 O QUE ABRANGE A HISTÓRIA? .................................................................................................... 45
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 48
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 49
UNIDADE 2 – CONSTRUÇÕES DE DISCURSOS HISTORIOGRÁFICOS ............................... 51
TÓPICO 1 – ABORDAGENS HISTORIOGRÁFICAS ..................................................................... 53
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 53
2 O QUE SÃO ABORDAGENS HISTORIOGRÁFICAS ................................................................. 54
3 O IMPACTO DAS ABORDAGENS SOBRE A CONSTRUÇÃO DA PESQUISA ................... 56
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 57
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 58
TÓPICO 2 – HISTORIOGRAFIAS ATÉ O SÉCULO XIX ............................................................... 59
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 59
2 HISTORIOGRAFIAS ANTERIORES AO SÉCULO XVIII ........................................................... 59
2.1 A HISTORIOGRAFIA GRECO-ROMANA .................................................................................. 60
sumário
X
2.2 HISTORIOGRAFIAS ANTIGAS NO EXTREMO ORIENTE (CHINA E ÍNDIA) ................... 70
2.3 O MUNDO MEDIEVAL .................................................................................................................. 77
2.3.1 Historiografia medieval ......................................................................................................... 79
2.3.2 Reemergência da historiografia por meio do mundo islâmico ........................................ 81
2.4 O RENASCIMENTO E A HISTÓRIA ........................................................................................... 82
3 O SÉCULO XVIII .................................................................................................................................. 85
4 HISTORIOGRAFIAS EUROPEIAS DO SÉCULO XIX ................................................................. 87
4.1 HISTORICISMO ............................................................................................................................... 87
4.2 MATERIALISMO ............................................................................................................................. 88
4.3 POSITIVISMO .................................................................................................................................. 91
4.4 CORRENTES SOCIAIS, CULTURAIS, ECONÔMICAS ............................................................ 92
4.5 NO BRASIL ....................................................................................................................................... 94
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................99
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................100
TÓPICO 3 – HISTORIOGRAFIAS A PARTIR DO SÉCULO XX .................................................101
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................101
2 A ESCOLA DOS ANNALES .............................................................................................................101
2.1 DESDOBRAMENTO DA ESCOLA DOS ANNALES 1: FERNAND BRAUDEL .................103
2.2 A TERCEIRA GERAÇÃO DOS ANNALES ...............................................................................105
3 HISTÓRIA SOCIAL INGLESA .......................................................................................................106
4 HISTÓRIA CULTURAL ....................................................................................................................107
4.1 A NOVA HISTÓRIA CULTURAL ...............................................................................................109
4.2 OUTRAS HISTÓRIAS ...................................................................................................................110
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................118
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................120
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................121
TÓPICO 4 – HISTORIOGRAFIA BRASILEIRA NO SÉCULO XX .............................................123
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................123
2 A HISTORIOGRAFIA BRASILEIRA DO INÍCIO DO SÉCULO XX .......................................123
3 HISTORIOGRAFIA BRASILEIRA RECENTE .............................................................................128
RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................130
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................131
UNIDADE 3 – A PESQUISA HISTÓRICA E SUA RELAÇÃO COM O ENSINO DA 
 HISTÓRIA ....................................................................................................................133
TÓPICO 1 – O ENSINO DE HISTÓRIA A PARTIR DE PROJETOS DE PESQUISA .............135
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................135
2 O ENSINO DE HISTÓRIA NA CONTEMPORANEIDADE: DESAFIOS ..............................135
3 A IMPORTÂNCIA DOS PROJETOS DE PESQUISA .................................................................137
4 A PESQUISA HISTÓRICA E A DEFINIÇÃO DO OBJETO ......................................................138
5 AS FONTES HISTÓRICAS E A METODOLOGIA DA PESQUISA HISTÓRICA ...............141
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................144
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................146
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................147
TÓPICO 2 – A PESQUISA HISTÓRICA NA SALA DE AULA ....................................................149
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................149
2 A HISTÓRIA ESTÁ EM TODOS OS LUGARES .........................................................................149
3 A PESQUISA HISTÓRICA ESCOLAR ..........................................................................................151
XI
4 A FORMAÇÃO DO ALUNO PESQUISADOR.............................................................................154
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................155
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................158
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................159
TÓPICO 3 – CONSTRUINDO PROJETOS DE PESQUISA .........................................................161
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................161
2 A CONSTRUÇÃO DE UM PROJETO DE PESQUISA HISTÓRICA PASSO A PASSO ......161
3 SUGESTÕES DE PROJETOS DE PESQUISA...............................................................................164
4 SUGESTÕES DE PROJETOS DE PESQUISA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL ...........165
4.1 RECORTES DA HISTÓRIA E DA MEMÓRIA DA NOSSA ESCOLA ...................................165
4.2 SUGESTÕES DE PROJETOS DE PESQUISA PARA O ENSINO MÉDIO .............................169
4.2.1 A história da cidadania no contexto da redemocratização do Brasil ............................169
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................175
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................177
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................178
REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................179
XII
1
UNIDADE 1
A IMPORTÂNCIA DO 
CONHECIMENTO HISTÓRICO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
Ao final desta unidade, você será capaz de:
• entender o conhecimento histórico de forma crítica;
• relacionar a noção de tempo com o conhecimento histórico;
• refletir acerca da importância da História, bem como da função social do 
historiador.
Esta unidade está dividida em três tópicos, no decorrer dos estudos, você 
encontrará atividades que o ajudarão a fixar os conteúdos adquiridos.
TÓPICO 1 – DISCUTINDO O CONHECIMENTO HISTÓRICO
TÓPICO 2 – TEMPORALIDADES E HISTÓRIA
TÓPICO 3 – FUNÇÕES SOCIAIS DE HISTORIADORES E HISTORIADORAS
2
3
TÓPICO 1
UNIDADE 1
DISCUTINDO O CONHECIMENTO HISTÓRICO
1 INTRODUÇÃO
No mundo ocidental, seguindo a denominação dada à Europa e às 
neo-Europas da América pelos europeus desde o século XV, a História, com 
esse nome, emergiu na Grécia do período clássico. Heródoto escreveu nove 
livros intitulados Histórias, cada um deles levando o título de musas helênicas, 
e repletos de feitos e comportamentos tanto gregos, quanto bárbaros de um 
período não tão distante do autor.
Mas a História não pode ser resumida a livros escritos por alguns de seus 
pretensos e disputados pais. Ninguém pode negar a Heródoto seus méritos, mas 
há que se destacar que Tucídides também se apresenta como genitor do que hoje é 
esse campo institucionalizado, isso sem pensarmos em outros historiadores mais 
a leste, contemporâneos aos gregos do período clássico, tais como os chineses 
Confúcio (VI a.C.), Sima Qian (II a.C.) ou Ban Gu (I d.C.). Ela emerge não de 
livros, mas de uma necessidade mais existencial, que impele os humanos de 
diversas regiões do globo a querer buscar interpretações sobre sua orientação, 
seu sentido, no tempo (RÜSEN, 2007).
A esse aspecto, Rüsen (2007) designou como a utilidade do conhecimento 
histórico:suprir a carência que os humanos têm de orientar-se no tempo. Em 
outras palavras, de identificar mudanças e continuidades e permitir perceber-se 
no papel crítico de agente dessas escolhas.
A História, assim, engendra-se como prática cotidiana nos “causos”, nas 
anedotas, nas prosas ou em outros processos que apresentam a referencialidade 
como elemento aglutinador da necessidade de se organizar a narrativa, de 
hierarquizá-la (MUNSLOW, 2009); mas ela também e uma história como ciência, 
que impulsiona quem a conta ou replica a ter cuidado com a forma, com a 
cronologia, com alguns fatos ou ficções, com a ideia de origem e sentido (RÜSEN, 
2007; MUNSLOW, 2009). Ela é história como ciência na medida em que ordenamos 
nossas narrativas, para encadear uma explicação lógica do passado individual ou 
grupal. Por último, especialmente ao longo do século XIX, passamos a pensar 
a Ciência Histórica, marcada, aí sim, por protocolos de pesquisa, por uma 
racionalização institucionalizada, por cadeiras, por especialidades, por teorias e 
métodos, uma história metódica (RÜSEN, 2007).
UNIDADE 1 | A IMPORTÂNCIA DO CONHECIMENTO HISTÓRICO
4
Em pouco mais de 200 anos, deixamos de racionalizar a História de um 
ponto de vista filosófico, para adentrar ao regime acadêmico desse campo de 
conhecimento, com o surgimento e expansão de faculdades, institutos de pesquisa, 
laboratórios, todos eles nas mais refinadas áreas da História, divididas por 
abordagens, por períodos, por localização geográfica. Já no final do século XIX, o 
filólogo Friedrich Nietzsche, escrevendo na Suíça, traçou pesadas críticas à História, 
qualificando-a como um fardo e um excesso para a Europa daquele momento. 
Para aquele autor, um dos males do final do século XIX europeu seria a 
sobra de História ou, em outros termos, a obsessão por esse conhecimento, os 
abusos e apropriações feitas sobre ele no período, quer fosse pela classe operária, 
pelos nobres ou pela burguesia. 
Certamente Nietzsche escrevia em meio ao surgimento de uma série de 
revistas acadêmicas destinadas a discutir histórias políticas, histórias naturais, 
histórias econômicas que corroboravam ou negavam identidades nacionais, 
locais, moldavam comportamentos, justificavam o imperialismo europeu 
em outras regiões do globo, assustavam dirigentes de fábricas. Certamente 
o autor vislumbrava, com todos os seus preconceitos e problemas, um fim de 
século marcado pela luta incessante pela apropriação de um passado para a 
Europa, especialmente greco-romano (ideia que ele também compartilhava), 
percebendo que a História começava a incomodar nas esferas públicas e privadas, 
especialmente quando se pensa em manutenções ou reordenações do status quo 
econômico, político, social ou cultural.
A História do final do século XIX não era mais aquela baseada no ouvir 
contar ou no ver, tão característicos a Heródoto. E também não era mais apenas 
aquela baseada em narrativas de guerras amparadas em documentos dispostos 
cronologicamente, de Tucídides. Muito menos ela continuava sendo a narração 
da vida dos santos, marca de um mundo medieval. Por fim, ela também já estava 
apartada das preocupações filosóficas propostas por iluministas dos séculos XVII 
e XVIII. Agora ela era uma disciplina autônoma, com seus próprios recursos, 
modelos, autoridades, perspectivas, prerrogativas e abordagens.
E foi nesse processo de separação ou independência perante outros 
campos de conhecimento que a História passou a nomear-se como campo 
autônomo do conhecimento, como ciência, como domínio. Foi nesse período, 
também, que podemos dizer que a figura do historiador (depois, mais tarde, a 
de historiadora), emergiu. 
A História passou, então, a dizer que tinha uma origem grega, com 
Heródoto e Tucídides; passou a dizer que começou a ser melhor racionalizada 
por um italiano do século XVII, chamado Giambattista Vico; que foi reforçada por 
iluministas como Immanuel Kant ou Voltaire. Consolidou-se no início do século 
XIX com Leopold von Ranke a partir de sua insistência em metodizar o campo por 
meio da premissa de que a História deveria contar o “que realmente aconteceu”; 
por fim, começou a derivar-se no final do século XIX em História Política, História 
TÓPICO 1 | DISCUTINDO O CONHECIMENTO HISTÓRICO
5
Econômica, História da Arte, História Social, História Cultural, grande parte 
delas entremeadas por uma racionalidade científica inerente àquele tempo, com 
influências materialistas (de Charles Darwin ou de Karl Marx) (FOSTER, 2006), 
realistas e empiricistas (de Leopold von Ranke ou Auguste Comte), ou ainda de 
outras vertentes que acabaram por influenciar a História, tais como as escolas 
geográficas da França ou da Alemanha, ou os estudos da Fronteira Oeste, nos 
EUA (MUNSLOW, 2009).
Digamos, então, que a História espraiou-se no final do século XIX. No 
Brasil, uma das principais influências advinha, naquele momento, do positivismo 
francês, e do darwinismo social amplamente difundido na Europa, ao passo em que 
convivia com posturas objetivistas que tinham a finalidade de estabelecer preceitos 
e uma explicação coerente da origem e da situação contemporânea do país.
Se entre os séculos XVIII e XIX há toda uma gama de inversões, 
contestações, emergências de novas posições em torno do conhecimento histórico; 
se, na virada do século XIX para o XX há diversas reelaborações conceituais que 
vão separando, cada vez mais, a História de outros campos, buscando estabelecer 
algumas fronteiras entre os campos, processo inerente ao realismo científico 
típico da naturalização das ciências na sociedade contemporânea, é impossível 
buscar determinar caminhos gerais ou modelos específicos para o que acontecerá 
no século XX, embora possamos identificar algumas perspectivas amplamente 
reconhecidas mundialmente na comunidade de historiadores e historiadoras.
O processo de transformação do conhecimento histórico posto nesse 
período amplia-se ao longo do século XX e está em curso. Ele é impulsionado, 
simultaneamente, por mudanças nas concepções gerais de história, nos 
procedimentos de pesquisa e de ensino, na multiplicação de formas de escrita, 
na reelaboração de narrativas, nas mais variadas especializações da História, 
no debate sobre o que é e o que não é história, no conceito de documento, de 
periodização, nos jogos de escala, na ideia de arquivo e patrimônio, no uso 
de tecnologias. Isso implica uma atitude paradoxal por parte de quaisquer 
profissionais da História: parece que, quanto mais especializado, mais ele ou ela 
está dependente das áreas de pesquisa histórica vizinhas ao seu campo; quanto 
mais ligado ao ensino, mais dependente da pesquisa, e vice-versa. Quanto mais 
imbuído da crítica documental, mais escolhas individuais sobre documentos, 
sobre o que falar, estão em jogo. Parafraseando Alun Munslow, se os cientistas 
leem artigos uns dos outros “para testar fórmulas e dados”, historiadores leem 
os livros uns dos outros “para melhorar a sua escolha de objeto de pesquisa e de 
ensino”. (MUNLOW, 2009, p. 29).
Então, o que seria, a partir de todas as derivações apresentadas, o 
conhecimento histórico? O que é a História?
Peter Burke (1995), em A escrita da História, afirma que qualquer tentativa 
de delimitação categórica sobre a História implica problemas, e que poderíamos 
pensá-la mais a partir de uma descrição negativa, ou seja, poderíamos explicá-la 
a partir do que ela não pode ser. 
UNIDADE 1 | A IMPORTÂNCIA DO CONHECIMENTO HISTÓRICO
6
Essa obra, embora amplamente utilizada no Brasil, não nos auxilia muito 
no que diz respeito a pensar a História em sentido amplo, uma vez que o autor 
apenas organiza outros autores e autoras que discutem algumas formas de se 
fazer história a partir de capítulos individualizados. Uma definição positiva do 
conceito poderia advir da recente profissionalização do Historiador, aprovada 
pela Câmara dos Deputados em 3 de março de 2011. Contudo, o texto legal não 
expõe, também, quais seriam os elementos fundamentais da História,e que 
perpassam por quaisquer de suas especialidades.
Sobra apelar para a Teoria da História, com o objetivo de vislumbrar alguns 
elementos, características e processos “gerais” ou, pelo menos, circulantes entre 
historiadores e historiadoras, para dizer o que seria esse tipo de conhecimento. 
Ponderamos, contudo, que a todo o momento eles estão sendo debatidos, 
desconstruídos e reconstruídos, especialmente por meio de um recurso inerente 
ao profissional, que é sua autocrítica.
Veja o que Jörn Rüsen (2007, p. 169) nos fala sobre o que ele chamou de 
“plenitude da pesquisa na historiografia”, enfatizando o papel da autocrítica 
e da necessidade de exercitarmos, a todo o momento, o deslocamento entre o 
particular e o geral na História, visando à busca de um conhecimento histórico o 
mais completo possível:
A pesquisa histórica não é um fim em si mesmo, mas está determinada por 
critérios de constituição histórica (narrativa) de sentido, que orientam a pesquisa 
e que a conduzem, para além do trabalho com as fontes, à prática comunicativa 
do presente em que está em jogo a identidade histórica como fator da socialização 
humana. A pesquisa não está vinculada apenas externamente a essa comunicação 
formadora da identidade, não é apenas instrumentalizada por ela, mas insere-se 
nela por inteiro. Ela se transforma de pesquisa (e não poderia ser de outra forma) 
em historiografia (2007, p. 169).
Rüsen (2007) não perde de vista a característica não apenas complementar, 
mas integradora, que une e transforma o papel da pesquisa em historiografia, e 
poderíamos pensar, como ele, na aglutinação, também, entre as preocupações 
que se desenham no mundo da sala de aula (didática), e a função, o papel, as 
marcas e características do conhecimento histórico como um todo.
2 QUANDO COMEÇA A HISTÓRIA?
Convencionalmente, até a metade do século XX havia um consenso, na 
comunidade historiográfica, que a História surge a partir do momento em que os 
humanos inventaram a escrita. Daí a divisão entre História Natural (a sucessão de 
organismos na natureza) e História Humana (reiterada pelas esferas do cultural, 
do social, do econômico). 
TÓPICO 1 | DISCUTINDO O CONHECIMENTO HISTÓRICO
7
Por meio dessa premissa, gerações e gerações de escolares em diversas 
partes do globo, ontem e hoje, ainda usam termos consagrados como Pré-História 
e História, o que significava, no mundo ideal das divisões entre ciências, um 
domínio para arqueólogos e outro para historiadores, um para uma história da 
presença humana na Terra antes da escrita, outro para a leitura e interpretação de 
grupos sociais que contavam e, especialmente, registravam histórias.
Para contrapor essa percepção de que a História surgiu apenas quando 
os humanos estabeleceram códigos verbais e escritos que tinham a intenção de 
transmitir algumas informações para o futuro (SOUZA, 2007, p. 3), há vários 
historiadores que sugerem a substituição dos termos historicamente construídos 
de Pré-História e História para História Ágrafa e História Escrita, haja vista a 
quantidade de grupos sociais que vivem, na atualidade, sem escrita ou comunicam 
sua história por meio de “outras escritas”, tais como tranças, nós, tatuagens, 
pinturas corporais, totens ou homens-memória. Isso significa que há abordagens 
históricas que consideram outros registros para a interpretação das ações, das 
escolhas e dos legados humanos. 
FIGURA 1 – PEDRAS DE CALLANISH, na Ilha Lewis, na Escócia, instaladas por volta de 2600 a.C, 
são exemplo de uma forma de registro histórico, em época anterior à escrita na Europa 
FONTE: Autores
Em muitos trabalhos de História Ambiental (uma dessas tantas 
abordagens recentes), por exemplo, a história humana e seu legado é estudada 
a partir de outra escrita, tirada de empréstimo de áreas como a Biologia, da 
Ecologia ou a Economia, que vão desde a intervenção no mundo natural, até a 
“pegada ecológica” ou ecological footprint (BRANCO, 1999, p. 12). Desde que os 
humanos interagem com o mundo natural, fazendo parte e uso contínuo dele, 
a história se desenvolve a partir da ideia de transformação e mudança. É o caso 
da abordagem utilizada pelo historiador Warren Dean (2000), em A ferro e fogo: a 
história e a devastação da Mata Atlântica brasileira.
UNIDADE 1 | A IMPORTÂNCIA DO CONHECIMENTO HISTÓRICO
8
Souza (2007, p. 3) enfatiza que o homem, desde seu surgimento no 
planeta, é um ser histórico e o é, na medida em que promove modificações, 
“sofre influências do ambiente, estabelece-se como um ser bio-histórico capaz de 
produzir cultura ao mesmo tempo em que troca energia e matéria com o mundo 
exterior.” (BUELL, 2002). 
Resta considerar, então, que a autoimagem europeia especialmente da 
segunda metade do século XIX reforçou a presença da escrita convencional como 
o marco inicial da História no Ocidente, como um processo de consolidação 
do eurocentrismo, marcado por recortes políticos, econômicos e socioculturais 
inerentes à época do capitalismo industrial, depois imperialista, que se apropriou 
de noções como o darwinismo social para empreender a sujeição de povos não 
europeus, especialmente nas regiões coloniais. (SHOHAT; STAM, 2006). 
Coube à História científica do final do século XIX estabelecer cientificamente 
as divisões entre Pré-História, Proto-História e História, reafirmando essa 
visão de mundo, e elaborando um percurso de interpretação convencional do 
“ocidente” a partir da invenção da escrita no oriente médio (Suméria), que havia 
retransmitido tal herança, agora aperfeiçoada no mundo helênico, que seguiu 
fértil no mundo romano, instalando-se depois, no mundo medieval, chegando ao 
mundo contemporâneo, sempre por via “civilizadora”. (SHOHAT; STAM, 2006). 
No entanto, para toda e qualquer força de história tradicional, que ainda 
insiste, muitas vezes, em afirmar categoricamente o surgimento da escrita como 
o marco inicial da História, não é apenas a história ambiental que tem proposto 
interpretações diversas, mas a própria arqueologia tem trabalhado no sentido de 
redimensionar o limite entre o que seria e o que não seria escrita. 
O conhecimento histórico prescinde, contudo, de textos, de evidências, 
de escritas, para constituir-se, para transformar o feito em fato, para 
organizar fragmentos, indícios, discursos. Se há múltiplas dimensões sobre 
a escrita, outro elemento fundamental para os estudos históricos também é 
multifacetado, que é o documento.
TÓPICO 1 | DISCUTINDO O CONHECIMENTO HISTÓRICO
9
SOBRE AS ORIGENS DA ESCRITA
Origens mitológicas
Entre várias sociedades antigas, a escrita teve um papel extremamente 
importante. Frequentemente, ela esteve tão presente que mitos e deidades foram 
criados para explicar sua origem.
No Egito antigo, por exemplo, a invenção da escrita é atribuída ao deus 
Thoth (Dhwty, em egípcio), que não apenas era escriba, como também historiador 
dos deuses, mas também criou o calendário e inventou as artes e as ciências. Em 
alguns mitos egípcios, Thoth é também retratado como o criador dos discursos 
e tinha o poder de transformar palavras em coisas. Essa qualidade estava 
intimamente presa à crença egípcia de que a pessoa, para adquirir imortalidade, 
precisa que seu nome seja falado e inscrito em algum lugar para sempre.
Na Mesopotâmia, entre os sumérios, o deus Enlil foi o criador da escrita. 
Depois, durante os períodos babilônico e assírio, o deus Nabu teve o crédito de 
inventor da escrita e era o escriba dos deuses. Similar a Thoth, os deuses escribas 
mesopotâmicos também tinham o poder da criação por meio da palavra divina.
Entre os maias, Itzamna, a deidade suprema, foi a criadora, a xamã 
e a fonte do mundo (de fato, a raiz do seu nome itz pode ser traduzida como 
“substância mágica, usualmente secretada por algum objeto, que sustenta os 
deuses”). Itzamna foi também responsável pela criação da escrita e da medida 
do tempo. Estranhamente, não era escriba. Essa função recaía sobre um par de 
deuses macacos, como relata o livro épico maia Popol Vuh.Na China, a invenção da escrita não foi atribuída a um deus, mas 
a um ancestral mitológico chamado Ts’ang Chieh, que foi o ministro da corte 
do lendário Huang Ti (Imperador Amarelo). Não sendo divina, essa invenção 
ocorreu em tempos mitológicos, e serviu como uma ferramenta de comunicação 
entre o céu (lugar dos deuses e ancestrais) e a terra (local dos humanos), como foi 
demonstrado por inscrições oraculares em ossos usados para devoção durante os 
tempos históricos.
Quer seja como meio de comunicação com os deuses ou como um poder 
sobrenatural e mágico, a escrita tinha claramente uma natureza dividida em 
sociedades antigas. Por essa razão, a escrita tornou-se não apenas um modo de 
estender a memória, mas também um instrumento para que elites pudessem 
justificar seu controle sobre populações comuns, não letradas.
LEITURA COMPLEMENTAR
UNIDADE 1 | A IMPORTÂNCIA DO CONHECIMENTO HISTÓRICO
10
Monogenia? Evolução?
Pulando para o século XIX, estamos numa época de florescência das 
Ciências Sociais. Muito zelosos e eurocêntricos, pesquisadores europeus 
acreditavam que a escrita foi inventada na Mesopotâmia, e todos os sistemas 
subsequentes foram derivações do original. Eles sustentavam que os sistemas 
chineses e indianos tinham alguma ligação com os protótipos do Oriente Médio, 
e também que os maias não tinham necessariamente um sistema de escrita, e sim 
um sistema calêndrico e de memória.
Muito dessa concepção está vinculada ao uso e abuso da teoria da Evolução 
de Charles Darwin. Os cientistas começaram a separar os sistemas escritos pela 
função, o que ainda é um conceito validado cientificamente. Entretanto, eles 
passaram a acreditar que o sistema alfabético era o melhor. Sistemas logográficos, 
tais como o chinês, foram considerados primitivos, arcaicos, muito inferiores, 
enquanto que sistemas silábicos ficavam no meio caminho entre a logografia 
e o alfabeto. O argumento era o de que os alfabetos têm um pequeno número 
de símbolos (facilmente apreendidos na memória), e que permitem ao escritor 
especificar cada valor fonético na linguagem.
O grande problema com a teoria monogenética dos sistemas de escrita e 
sua subsequente difusão é que não se deixa levar por visões culturais. Ela está 
localizada na Europa como pilar da civilização, e relegou o resto do mundo à 
natureza “primitiva” de todos os outros continentes do mundo, o que ajudou a 
justificar o imperialismo europeu.
Essa teoria começou a ser quebrada quando evidências de origens indígenas 
do sistema chinês começaram a ter força com a descoberta de ossos oraculares e com 
o vácuo existente (em termos de escrita), entre o planalto do Irã e o Rio Amarelo. 
Outro ponto foi o deciframento dos hieróglifos maias que revelaram não só um 
sistema tão sofisticado como aqueles encontrados no Velho Mundo.
Visões atuais
Atualmente, há mais ou menos um consenso sobre alguns pontos ligados 
à origem da escrita. Primeiro, a escrita foi inventada independentemente no 
mínimo em três espaços: Mesopotâmia, China e América Central. Descobertas 
recentes podem ainda apresentar evidências de que a escrita foi inventada no 
Egito e no Indo, independentemente da Mesopotâmia.
O conceito prevalecente na teoria monogenética é refutado na atualidade. 
Não há tipos superiores ou inferiores de escrita, bem como o tipo é frequentemente 
dependente da linguagem que eles apresentam. Por exemplo, os sistemas 
silábicos funcionam perfeitamente bem no Japão porque podem reproduzir todas 
as palavras japonesas, mas não funcionaria no Inglês, porque na língua inglesa há 
mais encontros consonantais.
TÓPICO 1 | DISCUTINDO O CONHECIMENTO HISTÓRICO
11
A premissa de que o alfabeto é mais eficiente também não se sustenta. 
Sim, o número de letras é menor, mas quando você lê uma sentença em Inglês, 
você realmente pronuncia todas as letras para formar uma palavra? A resposta é 
não. Você lê a palavra inteira como um logograma.
E, finalmente, o sistema escrito não é uma marca de civilização. Há muitas 
culturas urbanas no mundo que não empregam sistemas escritos, tais como as 
culturas andinas (Moche, Chimu, Inca etc.), mas isso não os privou de construírem 
estados impressionantes e estados que rivalizariam, em termos de complexidade, 
com aqueles do Velho Mundo.
FONTE: Disponível em: ANCIENT SCRIPTS. <http://www.ancientscripts.com/ws_origins.html>. 
Acesso em: 10 abr. 2011.
UNI
Nas diversas regiões do mundo, as formas de escrita são diferentes. Visite o 
endereço <http://www.ancientscripts.com/ws_timeline.html>, para visualizar a linha do 
tempo dos sistemas de escrita, e observe quais são os sistemas mais antigos, os que se 
sustentaram por mais tempo, ou ainda, os mais recentes. Eles servem para relativizarmos, 
justamente, o papel da escrita convencionalmente construído pela história.
3 RELATOS
François Dosse lembra que, “se a história é, antes de tudo, relato, ela é 
também [...] uma prática que se refere ao lugar da enunciação, a uma técnica 
de saber ligada à instituição histórica” (DOSSE, 2003, p. 137). Nesse sentido, 
profissionais da História não podem sobreviver sem o “relato”, que é inerente a 
sua própria função em pesquisa e ensino, mas também é o elemento fundamental 
para problematizar sua prática.
Desde Heródoto, Sima Qian ou Tudícides, passando por Cícero, Marx 
ou Fernand Braudel, trabalhamos com o relato, oriundo de diversos tipos de 
documentos. Eles podem ser ouvidos, vistos, escritos, inscritos. Eles podem estar 
presentes numa anedota, num discurso, num documento escrito, numa pedra, 
na forma de arremesso de um objeto, na sensibilidade com relação a aromas, em 
tabelas de números.
Histórias são construídas por meio da articulação entre documentos, 
intenções do historiador ou da historiadora, escolhas de narrativas, e seleção, 
catalogação, reunião, organização e exposição dos fragmentos de um passado de 
forma a comunicar uma pretensão de verdade, reapresentando os pequenos trechos 
de passado impressos em registros diversos num todo orgânico e lógico, a ser 
UNIDADE 1 | A IMPORTÂNCIA DO CONHECIMENTO HISTÓRICO
12
denominado de passado propriamente dito. David Lowenthal (1998) afirmou, certa 
vez, que o “passado é um país estrangeiro”; essa metáfora é muito feliz na medida 
em que nos leva a uma premissa básica da pesquisa histórica sobre o passado, que é 
a limitação do profissional de História perante os documentos que ele pode dispor 
sobre esse mesmo passado, ou seja, geralmente são poucos fragmentos.
A expressão de Lowenthal reforça, nada mais nada menos, a observação de 
Fernand Braudel, de que a História se faz com documentos, mas que os sentidos e 
ideias de documentos mudam, também, no tempo histórico (BRAUDEL, 1992). Em 
definitivo, é claro que a História se faz com documentos. Mas, quais documentos?
No mundo antigo greco-romano, os documentos utilizados por Heródoto 
assemelhavam-se mais aos exercícios etnográficos da Antropologia emergente 
do século XIX, ou às fontes orais, trabalhadas desde o século XVIII em estudos 
folclóricos e históricos. No período de plena cientifização do trabalho do 
historiador (no século XIX), esses dados arrolados por Heródoto certamente não 
teriam espaço em correntes como o historicismo alemão, uma vez que houve um 
reforço significativo da ideia de que só teria valor histórico o documento oriundo 
de arquivos oficiais, e que, por conseguinte, também fosse oficial (DOSSE, 2003). 
Tucídides é quem começa a estabelecer a necessidade, para o pensamento histórico, 
de documentos escritos e relatos oficiais para dar organicidade à narrativa da 
História. Na A Guerra do Peloponeso, escrita pelo autor, notamos a emergência do 
uso de documentos escritos na constituição das histórias propostas. Ressaltamos, 
contudo, que esse processo é peculiar do mundo grego clássico, e não devemos 
generalizá-lo para período semelhante. Na Ásia, especialmente na China, o 
processo é diferente (vamos relatá-lo depois).
Devemos utilizar, também, precaução ao tratar das histórias escritaspor 
gregos no mundo antigo. Tucídides é uma exceção à regra das histórias daquele 
período, em sua insistência por documentos escritos. Com os romanos é diferente, 
mas com os gregos, devemos levar em conta que a escrita, em certa medida, e por 
um bom tempo, era considerada “negócio de bárbaros”, no caso, especialmente os 
egípcios (DOSSE, 2003). Eram os egípcios, por exemplo, que tinham uma fixação 
por documentar as suas realizações, em pedras, estelas, estátuas e, especialmente, 
documentos. Dos gregos, herdamos mais monumentos e textos filosóficos do que 
históricos, e sua história é mais estudada a partir de cultura material do que textual. 
Outra sociedade antiga que produzirá, sim, muitos documentos, será a 
romana, desde a república até o império. Diferentemente dos gregos, a história 
adquirirá papel didático, moral e de registro oficial de realizações militares e 
políticas, por meio de historiadores oficiais, com acesso a arquivos também oficiais 
ou privados. Se Heródoto estava mais interessado em relatar o que ouviu ou viu, 
num período não maior do que uma ou duas gerações anteriores a ele, Políbio, 
um escravo grego na função de historiador oficial romano, construirá narrativa 
de outra espécie, mais detalhada, datada, vinculada a um registro oficial para 
servir de exemplo, guia ou propedêutica para o futuro.
TÓPICO 1 | DISCUTINDO O CONHECIMENTO HISTÓRICO
13
A partir de Políbio, Roma inaugurará no ocidente algo que já havia, no 
mesmo período, na China, que é a figura que poderíamos chamar de “historiador 
oficial de estado” (que, no ocidente, será o historiador analista, aquele que, a cada 
ano, escreverá sobre as realizações do período). Tito Lívio é um dos exemplos 
desse tipo de historiador, ao escrever as vidas dos césares, com função educativa 
e moral, mas também com a função senatorial de registrar os procedimentos 
legais e a história político-administrativa romana. Documentos, para Roma, 
teriam, então, outro sentido e outras qualidades e propriedades. O ouvir contar 
perderia força, substituído pelos atos oficiais, não necessariamente escritos, 
porém chancelados por notáveis da sociedade. É claro que para a História escrita 
na época romana, porque hoje, ao escrevermos história do mundo romano, nos 
aproveitamos de uma infinidade de documentos deixados em todo esse mundo, 
que vão desde grafite em paredes de antigos prédios, bilhetes pessoais, contratos 
de casamento, até monumentos e instrumentos de trabalho.
Nem substituição, nem continuidade, nem declínio, apenas outra forma 
de entender a História ocorre a partir da emergência do cristianismo e de sua 
expansão dentro desse mundo romano que se espalha desde a África, passado 
por parte do Oriente Médio e abraçando todo o Mediterrâneo, adentrando, 
também o continente europeu. Para os cristãos, a História dos homens e mulheres 
é tão somente a revelação proposta pelo único documento verdadeiramente 
importante: a Bíblia, que vai, também, se formulando em sua versão latina ao 
longo da Pax Romana e da insustentabilidade da sociedade militarista romana. 
O cristianismo irá propor, a partir da leitura da vida de Jesus Cristo, o fim da 
História, e a proposta de desprendimento humano com relação a virtudes e 
morais pagãs, o que vai desarticular a ideia e a importância social da História, 
desde o fim da Idade Antiga, alcançando quase que a totalidade da época 
medieval (CAMBI, 1999). Por isso é que é possível dizer, em certa medida, que os 
estudos históricos não terão relevância no mundo medieval, na medida em que 
documentos produzidos com intenções humanas nada seriam em comparação 
com o único documento importante para o entendimento da existência humana.
Haverá, sim, documentos relevantes no mundo medieval, que serão 
usados em hagiografias, as escritas das vidas dos santos. Não significa, 
também, que o mundo medieval europeu não produziu documentos que hoje 
são utilizados por historiadores; o mundo medieval produziu uma quantidade 
extremamente volumosa de documentos dos mais variados gêneros, cobrindo 
os mais diferentes campos especulativos, desde aspectos comezinhos da vida 
cotidiana até tratados políticos, elementos que, no século XX, redundaram em 
histórias interessantíssimas das vidas pública e privada, e dos mundos urbano 
e não urbano medievais que seriam difíceis de serem estruturados levando-se 
apenas poucos fragmentos, como é o caso de algumas regiões do mundo antigo.
No mundo medieval, contudo, devemos levar em consideração a 
reemergência do uso de fontes orais em combinação com documentos escritos 
e imagéticos, quando pensamos nos historiadores muçulmanos que trafegavam 
entre o Oriente Médio, o Norte e o Centro da África, e partes da Europa. Ibn 
Kaldum, Ibn Batuta, Ibn Sina são alguns dos exemplos de historiadores 
importantes do período.
UNIDADE 1 | A IMPORTÂNCIA DO CONHECIMENTO HISTÓRICO
14
São esses historiadores que irão influenciar, em certa medida, um retorno 
da História no mundo medieval europeu. Ibn Kaldum, por exemplo, reintroduzirá 
o modelo de relato escrito que leva em conta rigor de datação e cronologia, 
critérios claros para a escolha de documentos, método para a organização lógica 
do argumento e da narrativa históricos, além de preocupação com didatismo e 
comunicabilidade textuais.
Grande parte da História do continente africano deve-se, também, 
à coleta de relatos por esses historiadores muçulmanos, caracterizados pela 
captação, análise e crítica de documentos oriundos de diferentes espaços públicos 
e privados, e dotados de características diferenciadas entre si. 
Até aqui estamos expondo, de maneira generalista, a multiplicidade do 
conceito de documento a partir de exemplos dispostos cronologicamente, do 
mundo antigo ocidental, para o mundo moderno. Percebe-se que o documento 
assume diferentes formas e usos segundo as abordagens escolhidas, e essas 
especificidades serão melhor discutidas quando adentrarmos a unidade que 
apresenta as principais abordagens históricas reconhecidas, na atualidade.
Nos alvores do mundo moderno, a partir de eventos inerentes à Revolução 
Científica, ou ao descobrimento da América, e o refinar das navegações, o encontro 
da Europa com seus “outros”, marcadamente no que os europeus dos séculos XV e 
XVI passaram a chamar de Novo Mundo, a necessidade de se construir narrativas 
históricas desses processos passou a orientar um retorno da imperiosidade do 
divino medieval, para a imperiosidade do mundano. Descobertas, viagens, 
aventuras, ambientes, eram cada vez mais registrados por documentos verbais e 
visuais, textos seguidos de desenhos, muitas vezes identificados como crônicas, 
histórias, relações ou cartas.
Muitas vezes, o conhecimento histórico utilizou-se do termo “fonte” para 
designar documento (e ainda o utiliza, dependendo da abordagem). Não há 
termo mais preso a sua época do que esse, quando pensamos na discussão do 
estatuto do documento na pesquisa e no ensino de História. A fonte emerge com 
esse designativo durante a apropriação e discussão da História pelos iluministas, 
entre os séculos XVII e XVIII.
O termo fonte ajudou, inclusive, a produzir uma falsa impressão de que 
os documentos jamais seriam manipulados, apropriados ou interpretados de 
maneira diferente do que seus objetivos iniciais. Fonte é alegoria da pureza, da 
fluidez, da limpidez, da saciedade do historiador. Os iluministas salientaram 
e reafirmaram o papel dos documentos históricos como “fontes”, na medida 
em que seria por meio de documentos “puros”, “imaculados”, “claros”, que a 
História poderia emergir matando a sede de curiosidade e, especialmente, de 
verdade dos acontecimentos passados.
TÓPICO 1 | DISCUTINDO O CONHECIMENTO HISTÓRICO
15
No início do século XIX, com arquivos públicos em processo de expansão 
e consolidação, as fontes históricas tiveram papel importante para o surgimento 
de um esforço crescente de uso de documentos para escrever histórias “do que 
realmente aconteceu”. 
Para escrever o que realmente aconteceu,alguns historiadores, como é 
o caso de Leopold Von Ranke, recorreram à legitimação da História por meio 
do uso de protocolos de pesquisa advindos da heurística documental e de uma 
racionalização objetiva, na qual a ideia de bom historiador estaria intimamente 
ligada com a sua capacidade de isentar-se das intenções discursivas dos 
documentos, na sua habilidade em apresentar-se por meio da imparcialidade e 
da neutralidade frente às fontes utilizadas. Uma boa história seria aquela capaz 
de ser contada pelo historiador, a partir das fontes em si.
No final do século XIX, com o projeto de objetivação do conhecimento 
histórico de vento em poupa, Charles Langlois e Charles Seignobos lançam, em 
1898, a obra Introdução aos estudos históricos.
Um dos aspectos essenciais no livro de Langlois e de Seignobos é a 
teorização sobre o documento e seus usos pela História. Entre as proposições 
desses dois autores estava a reafirmação de algumas qualidades do que seria ou 
não um documento histórico, a utilidade deles para a História, a sua localização, 
e sua validação. (LANGLOIS; SEIGNOBOS, 1946).
Para Langlois e Seignobos (1946), documento histórico seria oriundo, 
especialmente, da instituição chamada arquivo público. Esse documento, 
portanto, já seria fruto de um processo de seleção, catalogação e inventário 
por parte de arquivólogos e, desde sempre, sua vitalidade e importância seria 
ditada, numa primeira instância pelas autoridades. Os documentos oficiais de 
arquivo seriam a máxima expressão da objetividade dos interesses de estado, e 
das realizações político-administrativo-burocráticas, reafirmando, também, sua 
importância na vida pública de nações ou de grupos sociais. A esses documentos, 
caberia proceder a inquéritos de ordem interna e externa, para averiguação da 
sua autenticidade e validade (elementos positivos que permanecem na prática 
da História). Na Heurística interna, o historiador deveria buscar analisar 
pormenorizadamente a constituição do documento por si, sua forma, sua estética, 
seu discurso, sua construção em sentido restrito. Na Heurística Externa, a sua 
validade levando-se em conta a relação existente com outros documentos, com as 
instituições originárias, com a época e local de formulação. O que o Positivismo 
de Langlois e Seignobos propunha então, não seria de todo um procedimento 
ruim; pelo contrário, buscaria reverter certo desleixo propugnado por formas 
de se fazer história que não se detinham, antes deles, a desenvolver uma série 
de procedimentos de verificação da “fonte”. Contudo, não podemos nos deixar, 
também, embriagar pela máxima objetividade da verificação documental 
proposta por essa história quase ligada às Ciências Naturais do final do século 
XIX; as verificações são importantes, não por si, mas para depreendermos dos 
documentos os interesses, quem fala, de onde fala, para quem fala e o que pretende, 
UNIDADE 1 | A IMPORTÂNCIA DO CONHECIMENTO HISTÓRICO
16
em termos de exercício de uma relação de poder. Os documentos, dessa maneira, 
articulam uma vontade de veracidade, uma potencialidade de refutabilidade. 
(RÜSEN, 2007). A história, nesse sentido, é uma narrativa verídica, como Paul 
Veyne a descreveu, na obra Como se escreve a História.
Se Ranke tentou objetivar ao máximo a narrativa histórica, atribuindo uma 
capacidade autoexplicativa aos documentos com os quais o historiador poderia 
construir a história, e se Seignobos e Langlois propugnaram protocolos científicos 
para a História, todos eles dentro de uma tradição de uso e de favorecimento 
da documentação de arquivos públicos e oficiais, no entanto não se pode dizer 
que apenas essa forma de construção do conhecimento histórico era reconhecida 
no período. Julles Michelet, por exemplo, fez amplo uso de documentos não 
oficiais para discutir e reposicionar o mundo medieval no centro de uma cultura 
europeia cosmopolita e burguesa. Karl Marx, em capítulos de O Capital, tais como 
A Jornada de Trabalho não poupou análise sobre documentos públicos e privados, 
laudos médicos, denúncias de trabalhadores, manifestos e outros textos não 
necessariamente enquadrados no rol de documentos que iriam para arquivos 
públicos oficiais.
Entre o final do século XIX e as primeiras três décadas do século XX, a 
noção de História foi sacudida, construída e reconstruída a partir de preocupações 
teórico-metodológicas e temáticas. Frente ao objetivismo e à defesa exacerbada da 
história política, voltada à exaltação de indivíduos e laudatória, alguns pensadores 
como François Simiand, Marc Bloch, Lucien Febvre pejorativizavam a história 
que era baseada em três ídolos (expressão de Simiad): o indivíduo, a data e o fato. 
Foram eles que, lançando uma revista nova de história, intitulada Annales d’Histoire 
Économique et Social, acabaram por articular uma nova forma de se fazer história, a 
ser difundida pelo grupo designado, posteriormente, de Escola dos Annales.
As críticas sobre o documento, dentro desse grupo, seriam feitas por 
Fernand Braudel, que propunha a expansão ou dilatação do conceito, afirmando 
que o historiador não deveria apenas se pautar por documentos oficiais para 
construir seus enredos, mas por documentos diversos que emergiam do todo social. 
Civilização material, economia e capitalismo, uma coleção de três livros produzia por 
Braudel representa, certamente, um bom exemplo do que é o historiador, a partir 
dos Annales. Nela, Braudel faz isso de receitas, de anotações, mapas, croquis. 
Nada muito distante do que já outro historiador posteriormente inserido no clube 
da História Cultural, Gilberto Freyre, havia feito em Casa-Grande e Senzala (1936).
3.1 TIPOS DE RELATOS OU DOCUMENTOS
Quando profissionais da História utilizam relatos intermediados por 
documentos, passam a considerar qual é o tipo de documento que estão usando. 
Diferentes tipos de documentos existem por diferentes razões e conhecer a 
diferença de tipos de documentos pode nos auxiliar na melhor construção da 
crítica à história, bem como aos próprios documentos.
TÓPICO 1 | DISCUTINDO O CONHECIMENTO HISTÓRICO
17
Isso se deve ao uso de uma ampla quantidade de documentos para 
responder a questões que colocamos com relação ao passado. Para uma grande 
parte de historiadores e historiadoras empiricistas, há uma divisão básica entre 
fontes primárias e fontes secundárias, ou documentos primários e documentos 
secundários, que podem servir como arquivos e registros daquilo que sobreviveu 
do passado, tais como cartas, fotografias, artigos, roupas... Já fontes ou documentos 
secundários são aqueles que tratam do passado, mas criados por pessoas 
escrevendo sobre esses eventos em algum momento posterior a sua ocorrência.
Um exemplo disso é a apostila que ora vocês tem em mãos. Ela é uma 
fonte secundária sobre processos historiográficos, ao passo que também é uma 
das formas de documento que está registrando um momento de se fazer história, 
uma forma, uma perspectiva, nascida num lugar e tempo específicos, e pela mão 
de historiadores particulares.
3.1.1 Documentos escritos publicados e não publicados
Pessoas vivendo no passado deixaram muitas pistas sobre suas vidas. 
Essas pistas envolvem documentos primários e secundários na forma de livros, 
de artigos pessoais, de documentos governamentais, cartas, oralidade, diários, 
mapas, fotos, relatórios, romances e contos, artefatos, moedas, selos e outros. 
Muitos desses documentos foram publicados, o que significa que poderiam 
ter audiência e distribuição, como é o caso de livros, jornais, revistas, documentos 
governamentais e não governamentais, literatura de toda espécie, panfletos, mapas, 
anúncios, pôsteres, leis e processos.
Ao se trabalhar com documentos publicados, devemos lembrar que não é 
pelo simples fato de estarem publicados que os documentos podem ser confiáveis e 
acurados. Todo documento tem um ou vários criadores, e todo criador ou criadora 
tem um ponto de vista, visões de mundo e preconceitos. Também devemos levar 
em consideração que todae qualquer evidência documental que é intermediada 
por preconceitos ou opiniões contam-nos coisas importantes sobre o passado.
UNIDADE 1 | A IMPORTÂNCIA DO CONHECIMENTO HISTÓRICO
18
FIGURA 2 – EXEMPLO DE DOCUMENTO NÃO PUBLICADO É O DIÁRIO, QUE ACABOU POR 
SE TORNAR UM DOS PRINCIPAIS DOCUMENTOS DE UMA ORDEM SOCIAL QUE PASSOU A 
VALORIZAR A INTIMIDADE E A VIDA PRIVADA, COM A EMERGÊNCIA DA BURGUESIA 
FONTE: CORBIS, 2011.
Há, também, muitos tipos de documentos não publicados. Nesse rol 
encontramos cartas pessoais, diários, documentos familiares contendo histórias 
da família, boletins escolares, agendas, entre outros. Arquivos empresariais, tais 
como correspondências, boletins financeiros, informação sobre consumidores, 
pautas de reunião de direções, arquivos de desenvolvimento de produtos também 
nos servem como pistas do passado.
Documentos não publicados frequentemente advêm de organizações da 
comunidade, de igrejas, de clubes de serviço, partidos políticos, sindicados de 
trabalhadores. Governos em todos os seus níveis também criam uma série de 
documentos que não são publicados. Isso inclui relatórios de política, listas de 
taxas e votantes, além de documentos sigilosos.
Ao contrário dos documentos publicados, os registros não publicados 
são difíceis de serem encontrados e utilizados, especialmente porque têm poucas 
cópias. Por exemplo, cartas pessoais podem ser encontradas facilmente na posse 
de uma pessoa que foi a destinatária, desde que tenha interesse em arquivar 
tais evidências. Às vezes, as cartas de pessoas famosas podem ser arquivadas e 
publicadas. No entanto, devemos também pensar que, muitas vezes, o autor ou 
autora da carta nunca teria a intenção de publicá-la no futuro, ou que alguém 
pudesse lê-la não sendo o destinatário.
TÓPICO 1 | DISCUTINDO O CONHECIMENTO HISTÓRICO
19
3.1.2 Documentos visuais
Os documentos visuais incluem fotografias, filmes, pinturas e outras 
construções culturais. Devido ao fato de que esse tipo de documento captura 
momentos no tempo, eles podem, principalmente, fornecer evidências das 
transformações que ocorrem ao longo da história. Documentos visuais incluem 
evidências sobre a cultura em momentos específicos, tais como seus costumes, 
preferências, estilos, ocasiões especiais, trabalho e lazer.
FIGURA 3 – UM DOS ITENS MAIS COMUNS QUE ENCONTRAMOS COMO FONTES VISUAIS SÃO 
AS FOTOS DE FAMÍLIA, QUE OCUPAM LUGAR DE DESTAQUE NO MUNDO COTIDIANO
FONTE: CORBIS, 2011.
Esses documentos também têm um criador ou criadora, um ponto de vista 
(como o do pintor, do escultor, do diretor do filme). Mesmo fotografias foram 
criadas por fotógrafos usando filme e câmeras para criar os efeitos desejados.
Pensem sobre o ponto de vista do criador quando você visualiza esse tipo 
de documento. Qual é sua proposta? Qual a razão daquela pose mostrada no 
documento? Quais são as perspectivas? Qual é o enquadramento? Quais são as 
distâncias utilizadas? Qual é o assunto? O que foi incluído sobre o assunto? O que 
foi excluído?
Esses questionamentos são fundamentais, uma vez que a imagem, 
especialmente a fotografia, por exemplo, cumprem uma das funções essenciais 
que é a contiguidade com a realidade fotografada (NÖRTH; SANTAELLA, 1999). 
Essa característica essencial da fotografia muitas vezes sugere que esse tipo de 
documento retrate ou colete ou informe elementos fundamentais da realidade 
ou dos “fatos reais”. Contudo, devemos sempre mencionar que há um filtro 
fundamental ao pensarmos fotos, que é o dedo do fotógrafo, o tipo de máquina 
que ele usa, as técnicas de revelação ou digitalização, os softwares que são 
incorporados nesse processo, o momento do dia ou da noite, entre outros.
UNIDADE 1 | A IMPORTÂNCIA DO CONHECIMENTO HISTÓRICO
20
Em Testemunha ocular, o historiador Peter Burke (2004) trabalha 
fundamentalmente com a problematização do uso de imagens pela História, 
relembrando a todo o momento que, entre o produtor e o receptor da imagem 
há um caminho totalmente historicizável, que precisa ser criticado e analisado 
com acuidade pelos profissionais da História. Em certa medida, ele sugere que 
tenhamos filtros específicos para ler as imagens não apenas como ilustrações 
de textos, mas como textos em si, dotados, portanto, de todas as características 
inerentes a outros documentos, tais como o enunciado, o criador do enunciado, o 
sentido escolhido e dado a ele, a quem está direcionado etc.
3.1.3 Documentos orais
A oralidade é, sem dúvida, muito instigante do ponto de vista do seu 
uso como documento para fins históricos. Tradições orais e histórias orais 
proporcionam outro meio de aprender sobre o passado de pessoas que 
vivenciaram muitos eventos ou mudanças.
Esse tipo de documento começou a ganhar forma semelhante à atual nos 
anos 1930, quando uma série de medidas que envolviam história oral foi tomada 
para registrar a crise ocasionada pelas tempestades de terra no meio-oeste dos 
Estados Unidos, o fenômeno que ficou conhecido como Dust Bowl. Esse processo 
de migração forçada, pauperização da população de classe media rural que foi 
forçada a fugir da fome em direção à Califórnia acabou sendo retratada em um 
livro intitulado Vinhas da Ira, que também recebeu uma versão fílmica com o 
mesmo nome em 1941.
A História Oral, como campo do conhecimento, reforçou-se ainda mais 
na segunda metade do século XX, especialmente quando pensamos nos estudos 
históricos de minorias, tais como indígenas, ou outros grupos étnicos, que são, 
muitas vezes, excluídos dos principais produtos culturais e historiográficos.
Há inúmeras formas de se encarar a História Oral, bem como de se obter 
um depoimento que possa ser utilizado historicamente. Até a década de 1970, 
vigorava uma perspectiva de História Oral que preconizava a recorrência a ela 
somente quando o historiador não conseguia obter determinada informação em 
fontes escritas. Os documentos históricos orais seriam necessários, então, para 
“preencher lacunas” deixadas por outros tipos de registro. 
Contudo, essa forma de encarar a História Oral sofreu inúmeros ataques, 
o que repercutiu positivamente em tempos posteriores, e a trajetória particular 
desse campo é interessante, por mesclar teoria e método, bem como uso de novas 
tecnologias numa velocidade maior do que outros campos de estudo histórico.
TÓPICO 1 | DISCUTINDO O CONHECIMENTO HISTÓRICO
21
FIGURA 4 – O PROCESSO MAIS COMUM PARA A REALIZAÇÃO DE ENTREVISTAS É O USO DE 
GRAVADOR E DE UMA ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA 
FONTE: CORBIS, 2011. 
No Brasil, acostumamo-nos, durante muito tempo, em utilizar um saber 
manualístico e técnico de História oral, especialmente a partir de obras como 
Manual de História Oral, de Sebe Bom Meihy (1998). A partir desse manual, muitos 
historiadores e historiadoras ainda utilizam uma forma de fazer História Oral 
que compreende entrevista semiestruturada, a sua gravação, especialmente em 
áudio, a posterior transcrição da entrevista, e, então, um processo chamado de 
transcriação, ou seja, uma reelaboração do documento para fins científicos.
Mas há outros métodos, especialmente de coleta de informações, que não 
precisam, necessariamente, estar gravadas em áudio, mas registradas em vídeo 
ou caderno de campo. Nesse sentido, outros elementos entram em cena quando 
pensamos a História Oral, como é o caso dos critérios éticos na pesquisa histórica, 
a saber: até que ponto se pode utilizar um depoimento, sem manter anonimato ou 
garantias a sigilo e confidencialidade, entre outros.
3.1.4 Documentos multimidiáticos
Raphael Samuel (1996) enfatizou que a sua geração de historiadores 
representava uma geração não educada e não preparada para discutir imagens, 
e apenas textos. Não apenas esse autor pode servir de exemplo da autocrítica 
de historiadores.
Desde o final do século XIX, um importante documento entrou para a arena 
da História, não gerando preocupações teórico-metodológicas num primeiro 
momento, mas estabelecendo-se como uma realidade inexorável e indiscutível no 
que diz respeitoaos usos e à atração por parte de um público também moderno.
UNIDADE 1 | A IMPORTÂNCIA DO CONHECIMENTO HISTÓRICO
22
Foi desde o final do século XIX que passamos a conviver com outras 
formas midiáticas de documentos, que rapidamente passaram a envolver não 
apenas uma ou duas dimensões textuais (como as palavras e as fotografias), mas 
três ou mais (texto, imagem e som).
Levy (2000) foi um dos primeiros pesquisadores a discutir o uso de 
documentos multimídia para a História. Para ele, os documentos desse trio 
carregavam em si as identificações com os meios (aparelhos) usados para apresentar 
a mensagem, os modos de apresentação, e os sentidos implicados à recepção da 
imagem, que deveriam envolver dois ou mais sentidos para a decodificação.
Nesse sentido, esse tipo de documento tira partido de mais de um formato 
para sua apresentação, e, quando pensamos em discuti-los de um ponto de vista 
histórico devemos pensar que foram os filmes os primeiros exemplos desse tipo a 
serem trabalhados histórica e historiograficamente, ainda nos anos 1960.
Mas esses documentos não são apenas filmes, são vídeos que combinam 
formatos como os de hoje, os informáticos, e, nesse sentido, profissionais de 
história não podem desconsiderar, para fins de pesquisa e de ensino, relatos como 
aqueles que são postados em redes como o YOUTUBE, por exemplo.
Muitos desses documentos apresentam hoje não apenas a característica 
de serem decodificados a partir do uso de dois ou mais sentidos, mas de serem 
direcionados, repensados por meio de um conceito que emergiu no final dos anos 
1980, que é a interatividade. Um documento interativo é aquele que dá ao seu 
usuário o poder de controlar o tema, em certos sentidos, e isso também precisa ser 
pensado, por historiadores e historiadoras, do ponto de vista da pesquisa histórica.
Documentos multimídias têm alguns formatos. Um deles, denominado 
de unimídia modal apresenta-se como um documento que tem dois ou mais 
tipos de mídia envolvidos numa mesma produção. São exemplos disso alguns 
documentos que envolvem áudio, vídeo, animação, histórias em quadrinhos, 
gráficos e tabelas.
Quanto à organização desse tipo de documento, devemos pensar 
características topológicas, que condicionam o leitor ou usuário, e que podem 
construir um relato que pode variar entre sequencial, linear, hierárquico ou 
disposto em rede.
Documentos lineares apresentam uma organização da informação que 
tem uma sequência no modelo “anterior-próximo”. Há documentos dispostos 
na forma de grelha, ou documentos ortogonais, que apresentam dois níveis, e 
geralmente esses documentos permitem comparações, que são importantes 
para o trabalho da História. Outros documentos multimídia são construídos na 
forma de árvores, ou hierárquicos, nos quais os nós podem ter antecedentes e 
descendentes, mas sem apresentar, muitas vezes, ramificações. Já documentos 
dispostos em rede apresentam nós interconectados.
TÓPICO 1 | DISCUTINDO O CONHECIMENTO HISTÓRICO
23
Cabe a historiadores e historiadoras tecer perguntas sobre os componentes 
de um multimídia, ou seja, sobre o armazenamento, sobre o tipo de interatividade 
possível, entre outros problemas característicos de qualquer outro tipo de documento.
4 A HISTÓRIA E OS HISTORIADORES E HISTORIADORAS
Jörn Rüsen (2007, p. 11) afirma que a expressão “histórica” não se limita à 
ciência da história, mas “designa igualmente as operações elementares e gerais da 
consciência histórica humana”. A escrita da história, ou melhor, uma escrita histórica, 
“não necessariamente partiria do historiador, uma vez que está incluída no rol de 
preocupações de qualquer ser humano no que diz respeito à sua orientação no 
tempo”. Contudo, a razão histórica está vinculada ao processo de escrita da história, 
essa, sim, com o nome de historiografia, ofício do historiador. (RÜSEN, 2007, p. 12).
Nesse sentido, cada historiador ou historiadora tem características 
próprias, geralmente vinculadas a sua concepção específica de História, a sua 
forma de compreensão da historiografia ou a uma escola ou formação acadêmica 
que recebeu (SOUZA, 2007).
As conclusões dos historiadores nunca são definitivas, podendo variar 
segundo a localização, a cultura e a época. Ela pode variar, também, segundo 
os documentos que são utilizados na construção da narrativa, e esse elemento é 
significativo quando pensamos em novas abordagens sobre os antigos temas. Em 
certa medida, é isso que explica o porquê de uma ideia do século XIX ser, num 
dado momento, desconstruída por uma nova teoria no século XX. 
Já dissemos que, enquanto um cientista lê artigos de outros cientistas para 
provar suas premissas e testar elementos publicados por outrem, os historiadores 
costumam escrever a partir da leitura de outros historiadores. Esse fundamento 
baliza a construção do conhecimento histórico e sua mutabilidade no tempo. A 
constatação, ou melhor, a inerente admissão, por parte da pesquisa, da mudança 
de perspectiva já havia sido observada pelo historiador francês Georges Duby 
(2001, p. 7-8), ao afirmar que:
o campo de ação do historiador se desloca ao longo dos tempos, [...] a 
função da história na sociedade se transforma e temos absolutamente 
de ter em consideração, no trabalho dos historiadores que nos 
precederam, o meio em que viveram e a sua própria personalidade, 
para aproveitarmos ao máximo suas contribuições.
Essas palavras marcam a visão atual que os historiadores têm da 
construção da História, pois as análises de um mesmo objeto de estudo podem 
diferenciar de época para época, de espaço para espaço. Se a “história é filha 
do tempo”, expressão típica do início do século XX, sua produção atende às 
demandas ligadas ao presente do qual ela emerge. É o que afirma Jean Glenisson 
(1991, p. 142), quando fala dos fatos históricos no tempo:
UNIDADE 1 | A IMPORTÂNCIA DO CONHECIMENTO HISTÓRICO
24
fatos históricos são os fenômenos, as coisas que acontecem aos homens: os 
acontecimentos. Ora, estes são dificilmente previsíveis, jamais idênticos 
em seus detalhes e de importância infinitamente variada: acontece-lhe 
afetar todos os homens, mas podem, também, reduzir-se a um simples 
gesto, a uma palavra. São estritamente localizados no tempo e no espaço 
e, se muitas vezes o homem é seu autor consciente, com muito maior 
frequência é ele sua vítima ou seu beneficiário involuntário.
Os fatos se constituem na matéria-prima dos historiadores, na sua tarefa 
de reconstruir o passado, pois cada problemática investigativa deve ter como base 
a experiência em si. As informações utilizadas são peculiares, escolhidas e postas 
em locais e tempos peculiares. Muitas vezes elas têm caráter subjetivo e diverso, 
podendo beneficiar ou dificultar o trabalho de investigação (tarefa, também, 
baseada na oportunidade). É impossível reproduzir a experiência histórica em 
laboratório, e podemos apenas esperar da experiência, que ela se manifeste e 
venha a ser interpretada aos olhos da historiografia.
Nesse sentido é que Rüsen (2007, p. 12) enfatiza que:
o pensamento histórico só se torna especificamente científico quando 
segue os princípios da metodização, quando submete a regras todas 
as operações da consciência histórica, cujas pretensões de validade se 
baseiam nos argumentos das narrativas, nas quais tais fundamentos 
são ampliados sistematicamente.
O que Rüsen (2007) pontua para a operação de reconstrução do passado 
serve, também, para pensarmos a história como um todo.
Dessa forma, os historiadores contemporâneos tem o dever de valorizar 
as diversas fontes disponíveis para a condução de sua investigação. Pois a 
experiência histórica não pode e não deve ser vista e analisada apenas como 
um fenômeno isolado. A História é viva e ela se relaciona com as mais diversas 
formas de expressões temporais e espaciais. Nesse sentido, o contato e a análise 
do fato histórico exigem grande discernimento e postura ética.
Devemos nos lembrar a todo o momento que as conclusões de 
historiadores e historiadoras

Outros materiais