Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Bioquímica Juliana Almeida – Medicina UNIRIO Metabolismo do Glicogênio Glicogênio › Principal forma de armazenamento de polissacarídeos, de energia. › Tem uma estrutura ramificada – contém dois tipos de ligações glicosídicas: α-1,4 (glicose com glicose) e α-1,6 (ramificações). › Quebra e formação de glicogênio ocorrem no citosol. Por que armazenar glicogênio? › Energia armazenada para o funcionamentos dos músculos – metabolismos anaeróbico e aeróbico. › Fornecimento de glicose durante o período entre as refeições. Por que polissacarídeos? › Rápida mobilização. › Animais não conseguem converter gordura em precursores para a glicose. Eles precisam de açúcares. Como uma visão simplificada, até a aula de agora é razoável aceitar que não podemos depender de lipídios para gerar glicose. Por que polímeros? › Problema osmótico: Uma molécula de glicogênio pode conter até 55 mil moléculas de glicose. Se há muitas moléculas de soluto dentro da célula, há uma diminuição do número de moléculas de H2O. As moléculas de água vão tentar equilibrar sua concentração -> causa uma explosão da célula e sua consequente morte. Quebra de Glicogênio Tipos de Armazenamento • No fígado: órgão altruísta -> o glicogênio é convertido em glicose para os outros tecidos. o Quando há uma baixa de glicose na corrente sanguínea, o fígado para de usar glicose e utiliza a reserva de glicogênio para manter a glicemia. o Essa manutenção é feita principalmente para o nosso cérebro e alguns tecidos e células dependentes de glicose (como as hemácias). • No músculo: função essencial é fornecimento de glicose para produção de energia. Reações de Quebra de Glicogênio Glicogênio Fosforilase • Principal enzima da via de quebra. • Quebra as ligações α-1,4 até uma distância de 5 unidades da ligação α-1,6. • Remove uma glicose do glicogênio. • Há a primeira molécula formada: glicose-1-fosfato. o Através da ação da fosfoglicomutase, o grupo fosfato é mudado para a posição 6. o Aí há a formação da glicose-6-fosfato -> pode entrar na via glicolítica para gerar energia ou seguir outras rotas. • Qual a vantagem da remoção de uma molécula de glicose na forma fosforilada? o Pois quando o fosfato é adicionado, é adicionado carga -> uma vez com carga, a molécula não consegue mais sair da célula (passar pela barreira da membrana celular). o No músculo, a glicose não sai -> fica ali para ser utilizada para produzir energia (fica disponível caso o músculo precise). Fosfoglicomutase Glicose-1-fosfato <-------> glicose-6-fosfato. • Ela coloca um grupamento fosfato no carbono 6 e retira o grupamento fosfato do carbono 1. Enzima Desramificadora • Consegue quebrar a ligação α-1,4 das glicoses que a glicogênio fosforilase não quebrou. o Depois, ela transfere para a cadeia crescente (sem ramos). o Aí, ela quebra a ligação α-1,6. • Essa enzima libera a glicose livre. o No fígado, ela pode já sair da célula. o No músculo, ela necessariamente vai ser fosforilada. • Tem duas atividades: de transglicosilase (α-1,4) e glicosidase (α-1,6). o Transferase – remove 3 resíduos α-1,4 e os adiciona à cadeia crescente. o Glicosidase – quebra a ligação α-1,6, liberando a glicose livre. • As glicoses que ela transfere para a cadeia crescente são, posteriormente, liberadas pela glicogênio fosforilase. Glicose 6 Fosfatase • Enzima presente apenas nos hepatócitos. o Isso explica porque a glicose consegue sair deles e das células musculares não. • Catalisa a remoção do fosfato da glicose-6-fosfato. • Localizada na membrana do retículo endoplasmático -> sua região catalítica fica voltada para o lúmen do RE. o No entanto, a quebra do glicogênio ocorre no citosol! • É necessário um transportador na membrana do RE, o Transportador de G6P (T1), para levar a G6P do citosol para o lúmen do RE. • No lúmen, a G6P sofre a ação da glicose 6 fosfatase, tendo seu fosfato removido. • A glicose livre e o Pi são transportados por transportadores específicos do RE para o citosol. • Aí, na membrana celular das células hepáticas há um transportador de glicose, o GLUT2 -> tem um Km (alta concentração de glicose, a glicose sai da célula). o Com o aumento da glicemia, a glicose vai para os tecidos que vão utilizá- la. Síntese de Glicogênio › Para começar uma molécula de glicogênio, é preciso um iniciador -> de onde surge a molécula. Esse iniciador é uma proteína chamada glicogenina. › A glicogenina é glicosilada num aminoácido tirosina -> vai adicionar mais sete ou oito resíduos de glicose. Esses resíduos juntos são os iniciadores, os primers. › Estimulando a transcrição gênica da glicogenina há o estímulo da síntese de mais glicogênio. › De maneira oposta, se há uma diminuição da quantidade de glicogenina, há também a redução de glicogênio. › Para as glicoses serem adicionadas na sequência crescente de glicoses, é preciso que ela seja uma UDP-glicose. › Extremidade não redutora – onde novas glicoses vão sendo adicionadas com ligações α-1,4. › Adicionados de 12 a 14 resíduos é formada uma nova ramificação. Isso faz com que haja milhares extremidades não redutoras no glicogênio que podem, ou não, sofrer a ação da glicogênio fosforilase ou da glicogênio sintetase. Fosfoglicomutase • Transforma glicose-6-fosfato em glicose-1-fosfato. • A mesma enzima faz os dois caminhos – o que determina para que lado a reação vai é a disponibilidade de substrato e de produto. • Enzima michaeliana -> atinge o equilíbrio com dependência exclusiva da concentração de substrato e produto (e vice versa). Ativação da Glicose • Formação da UDP-glicose – forma ativa da glicose. Glicose-6-P + UTP -------> UDP-glicose + PPi • Ação da enzima UDP glicose pirofosfatase – gasto de 2ATP. • O Ppi é rapidamente quebrado pela pirofosfatase em 2Pi. • A glicose já possui um grupamento fosfato (G6P). o Aí a UDP glicose pirofosfatase tira dois grupamentos fosfatos do UTP; o Depois, junta o grupamento fosfato que sobrou (unido a uma uridina) com a G6P (que já tem um grupamento fosfato). o É formada a UDP-glicose – difosfato, pois vem um fosfato do UTP e o outro já estava na glicose-6-fosfato. • Se a glicose vem do sangue, ao adicionar o fosfato pela hexoquinase já há gasto de um ATP. o Ao todo, para armazenar uma glicose é necessário gasto de 3ATPs (se ela veio do sangue)! • UDP glicose = uracila + ribose + 2 fosfatos + glicose. • Quando o UDP sai, a glicose está livre para formar a ligação α-1,4 com outra glicose. Grânulos de Glicogênio • São tão grandes que podem ser vistos por microscopia. • São bem vistos quando está em período pós-alimentar. • Perto dos grânulos de glicogênio são encontradas muitas mitocôndrias -> pois para a sua síntese é necessário muita energia. Glicogênio Sintase • Atua a partir do iniciador. • Pega uma UDP glicose, remove o UDP e cria a ligação α-1,4. Enzima Ramificadora • Forma ramificações. • A enzima pega uma sequência de ~7 resíduos e coloca a 4 resíduos de uma outra ramificação – ligação α-1,6. • Assim, há um aumento das extremidades não redutoras. • Tem uma atuação mais lenta do que a da glicogênio sintase. >> carga de carboidratos – exercício físico até a exaustão (acaba com a reserva de glicogênio muscular) seguido de refeição rica em carboidratos -> resulta numa rápida síntese de glicogênio com menos pontos de ramificação (já tá pronto para próxima prova). A síntese é mais rápida e a quebra também! Controle do Metabolismo do Glicogênio › Principais enzimas: glicogênio sintase e glicogênio fosforilase. › Mecanismos regulatórios: controle alostérico e modificação covalente. Efeito da Adrenalina sobre a Glicogênio Fosforilase • Epinefrina ativa a enzima adenilil-ciclase -> que pega o ATP e produz AMPc (segundo mensageiro). o O AMPc é regulado pela ação da fosfodiesterase – quebra o AMPce forma 5’ AMP. • O AMPc ativa uma cinase dependente de AMPc – a PKA! o A PKA tem quatro subunidades – duas regulatórias e duas catalíticas. o O AMPc se liga às duas subunidades regulatórias, liberando as catalíticas. • A PKA ativa fosforila uma fosforilase cinase, ativando-a! o Essa enzima ativa fosforila a glicogênio fosforilase. o Ela tem sua atividade aumentada na presença de cálcio! • Fosforilase cinase -> usa o ATP para colocar um grupamento fosfato na glicogênio fosforilase, ativando-a. o A GF ativada quebra o glicogênio e libera a glicose-1-fosfato. • Ao mesmo tempo, a PKA fosforila e ativa o inibidor 1 -> quando ativo, inibe a proteína fosfatase 1 (PP1). o A PP1 ativa retira o fosfato da glicogênio fosforilase ativa, inativando-a. • Portanto, junto ao estímulo da glicogênio fosforilase, há a inibição da enzima que vai inativá-la! • A interrupção desse ciclo ocorre quando o AMPc deixa de enviar esses sinais que desencadeiam tudo. Efeito da Insulina sobre a Glicogênio Fosforilase • Insulina: período pós-prandial – glicemia alta. o Hormônio hipoglicemiante -> estimula a entrada de glicose nos tecidos adiposo, hepático e muscular. • Quando há maior absorção de glicose, há maior formação de glicose-6-fosfato. • A G6P é o modulador alostérico negativo da glicogênio fosforilase. o Essa regulação é muito mais forte no fígado. o No músculo, o potencial inibidor da glicogênio fosforilase é menor! Regulação da Epinefrina sobre a Síntese de Glicogênio • Epinefrina ---receptor beta---> adenilil ciclase ativa ------> AMPc. o PKA ativada. • É a mesma cascata de sinalização – uma rota controla, ao mesmo tempo, a quebra e a síntese de glicogênio. • PKA fosforila o inibidor 1 -> ativando-o. o O inibidor 1 ativo inibe a proteína fosfatase. • A proteína fosfatase inibida interrompe a síntese de glicogênio. o A glicogênio sintase fosforilada (pela GSK3) está inativa. o A PP1 quando remove o fosfato da glicogênio sintase, ela se torna ativa -> sintetiza glicogênio. • Cálcio liberado no músculo – ativa uma proteína cinase dependente de calmodulina -> induz a fosforilação do glicogênio e impede que a glicogênio sintase se torna ativa (se mantém inativa). >> glicogênio sintase fosforilada: inativa. >> glicogênio fosforilase fosforilada: ativa. Efeito da Insulina sobre a Síntese de Glicogênio • A insulina liberada gera um aumento de glicose-6-fosfato -> estimula uma proteína fosfatase (sem ser a PP1). • Remove o fosfato da glicogênio sintase -> ativando-a. o Estimulando a síntese de glicogênio. Obs. Se você acabou de comer (produzindo insulina) e sofre um alerta (produz epinefrina), a força da epinefrina supera a da insulina. >> mesmo estando cheio de glicose-6-fosfato, vai haver quebra de glicogênio -> o ciclo do produto-substrato não funciona; o hormônio modulador que comanda! Controle da Glicogênese e da Glicogenólise • Epinefrina – inibe a glicogênio sintase, porque inibe a PP1 (impede que a glicogênio sintase seja fosforilada e ativada). • Epinefrina age no fígado e nos músculos e glucagon age principalmente no fígado. o Esses dois hormônios ativam o AMPc -> que ativa a PKA. • Uma vez ativada, a PKA fosforila a fosforilase cinase, ativando-a. o A fosforilase cinase fosforila a glicogênio fosforilase. • A glicogênio fosforilase fosforilada fica ativa. o Há quebra de glicogênio com formação de glicose-1-fosfato. • Ao mesmo tempo, a PKA induz a fosforilação e a inibição da glicogênio sintase. o A sínte de glicogênio diminui. • Também, a PKA inibe a PP1 – pois ela ativa o inibidor 1. o O inibidor 1 bloqueia a PP1 -> bloqueia a síntese de glicogênio. >> o mesmo hormônio regula, ao mesmo tempo, duas vias pelo menos mecanismo (AMPc e PKA). Obs.: cortisol – hormônio hiperglicemiante contrarregulatório (atua contra os efeitos da insulina) -> induz a quebra de gordura e quebra de glicogênio. Amplificação da Cascata de Epinefrina e Glucagon • Uma única molécula de epinefrina e de glucagon é capaz de ativar cerca de 20 moléculas de AMPc. o 20 moléculas de AMPc são capazes de ativar 10 moléculas de PKA -> pois a PKA tem duas subunidades catalíticas. • PKAs ativas: fosforilam e ativam a fosforilase cinase (100 moléculas). • Essas 100 moléculas fosforilam e ativam 1000 moléculas de glicogênio fosforilase. • Essas moléculas juntas liberam 10 mil moléculas de glicose! >> variações mínimas nas concentrações dos hormônios têm efeitos drásticos! Regulação da Fosforilase Muscular • O glucagon e a epinefrina estimulam a fosforilase cinase. o Ela fosforila e ativa a glicogênio fosforilase – ativando. • A PP1 desfosforila a glicogênio fosforilase. o Isso torna a enzima menos ativa! Regulação da Fosforilase no Fígado • Além do mecanismo citado acima de fosforilação... • Quando está super ativa, a glicogênio fosforilase “esconde” os grupamentos fosfato. o Assim, a PP1 (estimulada pela insulina) não consegue quebrar a ligação do grupamento fosfato. • Ao aumentar a concentração de moléculas de glicose no fígado (estado pós- prandial). o É induzida uma alteração conformacional na glicogênio fosforilase. • Assim, a GF expõe seus grupamentos fosfato -> a PP1 consegue agir desfosforilando. • É como se no fígado houvesse uma dupla camada de regulação. Regulação da Glicogênio Sintase • GSK-3: glicogênio sintase quinase 3. o Adiciona 3 grupamentos fosfatos na glicogênio sintase. o Depende de uma caseína quinase 2 para atuar. • Glicogênio sintase fosforilada – conformação menos ativa. • Insulina estimula a síntese de glicogênio -> por isso, estimula a desfosforilação da glicogênio sintase. • A insulina ao mesmo tempo: o Inibe diretamente a GSK-3 – impede a fosforilação da glicogênio sintase, a mantendo ativa. o Estimula a PP1 -> retira os fosfatos da glciogênio sintase. • Moduladores alostéricos positivos estão em grande concentração: o Glicose e glicose-6-fosfato. o Substratos e sinalizadores da quantidade de glicose. • Glucagon e adrenalina – inibem a PP1 (têm o efeito oposto ao da insulina). >> insulina – estimula processos de desfosforilação. >> epinefrina e glucagon – estimulam processos de fosforilação. Regulação da Glicogênio Sintase pela Insulina • A insulina inibe a GSK-3 – segue aqui a cascata: • Quando a insulina se liga ao seu receptor, ativando-o, ela ativa o substrato 1 de resposta à insulina (IRS-1). o Fosforilado, o IRS-1 ativa a Pi-3K (proteína quinase 3-fosfato). • Isso gera o PIP3 -> que ativa a PDK-1 -> que ativa a PKB. • Epinefrina estimula a PKA, insulina estimula a PKB. o Proteína cinase B – também é chamada de AKT. • A PKB fosforila a GSK-3 -> tornando-a menos ativa. o Impede que ela fosforile a glicogênio sintase (deixando-a ativa). Regulação Glicogênio: microambiente celular • Dentro da célula, os mecanismos de regulação que atuam a nível da subcompartimentalização celular de maneira conjunta. • Grânulo de glicogênio = microambiente celular. o Glicogênio fosforilase, glicogênio sintase, fosforilase cinase, PP1. o Estão presentes todas as enzimas do metabolismo do glicogênio. Integração do Metabolismo do Glicogênio mecanismos de controle ➢ Glicemia – regulada pelo fígado. ▪ Insulina – glicose alta: glicólise glicogênese glicogenólise. ▪ Glucagon – glicose baixa: glicólise glicogênese glicogenólise. ➢ Níveis de glicose regulados pelo estresse. ▪ Epinefrina/Norepinefrina: ✓ Músculo – glicogenólise glicólise. ✓ Fígado – glicogenólise glicólise gliconeogênese. Manutenção da Glicemia › Insulina – produzida no pâncreas e liberada em resposta a hiperglicemia. Estimula o receptor GLUT4 em tecidos dependentes de insulina (adiposo e muscular). Diminui a concentração de AMPc. › Glucagon – produzido no pâncreas e liberado em resposta a hipoglicemia. Estimula seus receptores nos hepatócitos. Ativa a adenililciclase – aumenta o AMPc. Estimula a quebra do glicogênio em glicose-6-fosfato. Pela ação da glicose 6 fosfatase há a liberação de glicose no sangue.
Compartilhar