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P1_Questionário I (Aulas 1 a 6) + respostas

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ALUNO: João Paulo Balloni (NºUSP 5146732)
EAE – 416
FORMAÇÃO ECONÔMICA E SOCIAL DO BRASIL I
Prof. Dr. José Flávio Motta
QUESTIONÁRIO I
(Aulas 1 a 6)
1. Discuta a afirmação seguinte, de Eric Hobsbawm: “Meu raciocínio supõe que, divorciada da história, a economia é um navio desgovernado e os economistas sem a história não têm muita noção de para onde o navio navega.”
A afirmação de Eric Hobsbawm faz parte da discussão que gira em torno da polêmica existente entre a questão da teorização econômica desvencilhada da perspectiva histórica. O conjunto de instituições, a questão cultural, a composição social, o nível de educação, o nível de renda bem como outros aspectos específicos relacionados à essa perspectiva histórica fazem parte do conjunto de fatores que na prática influenciam no sucesso ou não de determinada teoria, mas que muitas vezes, pelo fato de serem simplesmente ignoradas, acabam invalidando o carater universal dos modelos teóricos, mas que na praticam, são adotados com esse ar de universalidade.
As estratégias de desenvolvimento baseadas na teoria tradicional não têm sido bem sucedidas no intuito de levar à frente o processo de desenvolvimento. Ademais, em sua grande maioria, os casos de sucesso das últimas décadas do séc. XX reforça a idéia de que não há um receiturário único – e, portanto, de aplicação geral – para o alcance do sucesso econômico.
Levada mais ao fundo, essa questão chama a atenção quando políticas econômicas depositam seus fundamentos nessas “ciências”, que por justamente estarem desconectada da evolução histórica, acabam por desconsiderar aspectos importantes relacionadas ao contexto e fronteiras de atuação. Dessa forma, a “ciência” é utilizada como base teórica para decisões políticas, que no limite representam apenas a defesa de certos interesses, e não um modelo teórico problematizante.
Um exemplo disso é discutido no texto da Fernanda Cardoso, que coloca que de acordo com Chang nas últimas décadas a economia do desenvolvimento e a história econômica foram subjugadas pela predominância da teoria neoclássica, que não concede nenhuma relevância à perspectiva histórica. Para ao menos haver chances de uma estratégia de desenvolvimento ser bem-sucedida, as especificidades econômicas, sociais e culturais dos países onde serão implementadas devem ser levadas em conta
João Sayad chama a atenção para outra esfera desse problema: a economia, que deveria ser apresentada como uma interpretação, aparece como ciência. Como consequencia, aquele navio, que deveria navegar no sentido da racionalidade do homem e da maximização do bem-estar, constantemente se desgoverna, basta ver os reincidentes períodos de crise na história.
 
2. Elabore uma justificativa para a afirmação, feita por Jacob Gorender, de que a interpretação contida no Formação do Brasil Contemporâneo – Colônia, de Caio Prado Júnior, significou um “salto qualitativo” da perspectiva do evolver de nossa historiografia econômica.
Gorender enaltece Simonsen e sua teoria dos ciclos mas defende o “salto qualitativo” de CPJr., que ao invés atrelar as idéias dos ciclos à épocas/sistemas econômicos, descobriu neles a manifestação de algo mais profundo: o sentido da colonização, a estrutura exportadora da economia colonial.
Segundo Motta, a obra de CPJr. pode ser vista como um grande “salto qualitativo” na produção historiográfica brasileira pois foi a partir do estabelecimento de seu conceito sobre “sentido da colonização” que se pôde amalgamar os diversos episódios coloniais descritos geralmente em separado, ou seja, os ciclos econômicos bem descritos por Simonsen, mas que certamente careciam de uma inter-relação (“[...] tal concepção [a de Simonsen e dos ciclos econômicos] só tem favorecido uma visão estanque da história, como numa projeção de diapositivos: sai o pau-brasil, então o açúcar e assim por diante” [Linhares & Silva).
CPJr. olha para a colônia a partir do seu fim (primeira metade dos oitocentos) e, indo na direção do passado ele pretende construir a “linha mestra” da formação ecônomica do Brasil, o “sentido” da colonização. Prado sabe que a colonização faz parte de um todo maior, apesar de não detalhar esse todo (a colonização como parte do processo de formação do capitalismo moderno), já que para ele essa análise não aparece como o objetivo da obra.
No contexto da historiografia econônima brasileira, Prado pertence a uma geração de cientistas sociais brasileiros que Antonio Candido chama da geração de 30 - “Sopro de radicalismo intelectual e análise social que eclodiu depois da Revolução de 1930 e que não foi abafada pelo Estado Novo”. A evolução da historiografia econômica no Brasil, que se da a partir dos anos 30, foi resultado de uma conjuntura formada por um período de crise econômica (crash de 1929), agitação social (revolução de 1930), cisão oligárquica (elite cafeicultora) levando os intelectuais, em um “sopro de radicalismo”, a rever a análise social e questionar a abordagem ‘étnico-racial’ dominante, em um período em que a forma de se fazer história passava por uma transformação a partir dos novos conceitos historiográficos da Escola dos Annales, rompendo com os grandes fatos e abordando uma história mais problematizante, contextualizada e multidisciplinar.
Prado trabalhou com uma perspectiva marxista para entender como se configurou o processo de conformação do Brasil. É na vida material que vai buscar seu conceito metodológico para sua obra, baseado na superestrutura (aparato educacional, político, comercial) de Marx. O substrato é a infra-estrutura, explicando a vida política e os quantitativos étnicos.
 
 
4. Explicite os vínculos lógicos que Caio Prado Júnior estabelece entre: a) o sentido da colonização; b) os segmentos produtivos da economia colonial; e c) a organização interna das unidades produtivas exportadoras.
CPJr. vai olhar para a colônia a partir do seu fim (primeira metade dos oitocentos) e, indo na direção do passado ele pretende construir a “linha mestra” da formação ecônomica do Brasil, o “sentido” da colonização. CPJr. explica o econômico e o social a partir da exploração comercial: explorar os recursos naturais de um território virgem em proveito do comércio europeu. Para ele não é possível compreender o período colonial brasileiro se este não for inserido em um conjunto histórico maior: o da expansão comercial européia após o século XV.
Dessa forma, dado o “sentido da colonização”, os seguimentos produtivos da economia colonial possuíam características essenciais: relação exclusiva com o setor externo, atuando como fonte de exportação de produtos que a metrópole necessitasse não apenas para o consumo, mas, principalmente, para o comércio; subordinação da colonização e povoamento a este objetivo; admissão de produção interna do estritamente necessário e que não pudesse ser importado da metrópole.
Os segmentos produtivos da economia colonial estarão todos, sem excessão, atrelados à esse sentido: a agricultura, a mineração e o extrativismo estarão todos organizados de forma que atendam o interesse comercial da metrópole, voltados para a produção para o mercado externo.
CPJr. então deriva a interpretação a partir do conceito fundamental: “dado o sentido não há como ser diferente”. A exploração agrária é colocada como consequência natural e necessária desse sentido, tendo como pilares da sua organização interna o caráter tropical da terra (capaz de prover gêneros tropicais altamente lucrativos), a presença do colono (traficantes, empresários, e não povoadores/trabalhador - vêm para dirigir as grandes propriedades) e o trabalho escravo (já que ocorre falta de m-d-o). A pequena agricultura, a camponesa, não poderia desenvolver-se nas condições históricas então lançada.
Apesar das inegáveis distinções técnicas, a mineração surgia com os mesmos caracteres da agricultura colonial: a grande propriedade e a utilização de mão-de-obra escrava eram seus fundamentos. Faiscadores: apenas naquele período de decadência das minas.
O caráter “predatório” e os aspectos sazonais mantinham no extrativismoas características mais essenciais da colonização: a presença de um grande proprietário coordenador de força produtiva subjugada.
Todos os segmentos produtivos da colônia (agricultura, extrativismo e mineirão) estão atrelados ao “sentido” mercantil desejado pela metrópole e internamente organizados com base nos mesmos pilares: grande propriedade, monocultura e a escravidão.
 
5. Discuta, colocando-se no lugar de Caio Prado Júnior, o comentário seguinte, de Iraci Costa, que identifica um flanco aberto na formulação pradiana: “Parece-nos desnecessário lembrar que tratar tal povo como inexistente [à la Couty] ou categorizá-lo, sem mais, como composto de marginais sociais significa reproduzir as ideologias próprias das velhas elites dominantes e abrir as portas para teses simplistas como a que reduziu a questão social a uma questão de polícia.”
Amaral da Lapa, em seu texto, observa que a idéia de organicidade é um aspecto muito recorrente nas teorias sociais e é aplicado de modo especialmente interessante no pensamento de Caio Prado. Para ele, o organismo brasileiro era fundamentalmente inorgânico, “comprometido por uma série de anomalias”, o que remonta ao próprio nascimento de tal organismo, ou seja, sua fundação a partir do sistema colonial, que o forçava à perversa tarefa de servir apenas aos outros. Conforme observa, Prado deposita árdua crítica ao sistema escravista, instituição da qual, para ele, deriva a fonte da corrupção nacional, pervertendo caracteres morais e potencialidades. O resultado era o de que “pretos boçais e índios apáticos” só poderiam enfraquecer as bases econômicas e sociais do país. Para além do pólo de escravos e senhores havia um grupo social classificado como desclassificado (desqualificado), que na verdade atuava apenas como um ônus à nação.
Caio Prado, apesar de ser filho de família rica com fortes vínculos políticos, classificou-se posteriormente como comunista, quebrando a grande promessa da burguesia de São Paulo, rompendo-se com sua classe de origem. É na vida material que vai buscar seu conceito metodológico para sua obra (infra-estrutura), baseado na superestrutura (aparato educacional, político, comercial) de Marx. O substrato é a infra-estrutura, explicando a vida política e os quantitativos étnicos. Tudo é explicado pela vida material.
No livro “Formação do Brasil Contemporâneo”, dado o “sentido da colonização” e a consequente subordinação da colonização e povoamento a este objetivo (construir uma estrutura cuja função fosse prover para a metrópole), Prado identifica um processo de marginalização das formas inorgânicas, cujo resultado é a formação de um vácuo extremo entre senhores e escravos, preenchido por formas (indivíduos) secundários (geralmente marginalizados). Tornam-se atores inexistentes do cenário exportador, tomando como forma o sentido de um povo “inútil”: mendigos, interesseiros (“dependentes dos senhores”) e criminosos. Elementos que não estão relacionados diretamente à atividade comercial e que são geralmente classificados como secundários e auxiliares à exportação.
 
6. Fernando Novais, em artigo intitulado Caio Prado Júnior na historiografia brasileira, ao comentar o livro Formação do Brasil Contemporâneo – Colônia escreveu: “E aqui vamos nos aproximando das possíveis limitações, que mesmo as obras mais penetrantes acabam por revelar. (...) Nesse sentido, talvez se possa argüir que, no movimento de inserção [do objeto (colonização européia na América)] no conjunto [num todo maior] , isto é, no esforço por apresentar a categoria básica [o “sentido da colonização‟] , sua análise se deteve ao meio do caminho.” Explique, com fundamento nos conceitos de “sentido da colonização” e “sentido profundo da colonização”, esse comentário crítico do Prof. Novais.
Conceitualmente, o “sentido da colonização”, formulado por CPJr., trata a colonização como desdobramento da expansão comercial matítima européia, enquanto que o “sentido profundo”, formulado por Novais, coloca o antigo sistema colonial como fator de fomento da acumulação originária de capital na gênese do capitalismo da europa ocidental.
Para Novais, focar a análise apenas no aspecto comercial (como o faz CPJr., priorizando a relação entre colônia x metrópole) seria apenas superficial, ignorando a face mercantil de um processo mais profundo - a formação do capitalismo moderno. Para ele, a “expansão comercial europeia é, na realidade, a face mercantil de um processo mais profundo, a formação do capitalismo moderno”. Ou seja, talvez o Brasil não se resuma somente ao sentido da colonização, talvez fosse prudente inserir o país no conjunto do mundo colonial.
Não que CPJr. desconsidere esse plano de fundo (os acontecimentos no mundo metropolitano, a expansão comercial ultramarina e o processo de formação do capitalismo moderno), já que ele analisa que a colonização do Brasil é um pedaço de algo maior q acontece no mundo, mas para ele essa análise “mais profunda” não é foco, já que esta interessado nos aspectos comerciais da colonização e a partir dai desenvolver o “sentido” da colonização. CPJr. esta preocupado com o avanço comercial, “pinçando” o necessário para a definição de “sentido” e em alguns momentos “tangenciando o Sentido Profundo”.
Para Novais, faltou a Prado uma profundidade na analise. Para ele o Antigo Sistema Colonial era um dos pilares do Antigo Regime (estados nacionais absolutistas, sociedade estamental, capitalismo comercial, mercantilismo, colônia, expansão ultramarina) e sua função era, portanto, fomentar a acumulação de capital via exclusivo metropolitano e escravidão (e tráfico negreiro).
Dado isso, a análise da estrutura econômica da sociedade colonial que se segue em seu texto será sempre fundamentada na idéia do sentido profundo da colonização, explicado pelo autor: deve-se sempre considerar o sistema colonial como uma ferramenta fundamental do contexto do Antigo Regime (surgido a partir da crise feudal) para a determinação da acumulação primitiva de capital na sociedade capitalista em formação (então em sua fase de consolidação através do capitalismo mercantil).
 
7. Analise de uma perspectiva teórica, com base na argumentação desenvolvida por Fernando A. Novais, o episódio da montagem da Companhia das Índias Orientais (1602), tendo em vista a política econômica adotada, à época, pelos Países Baixos, política esta de cunho marcadamente liberal.
Desde os primórdios da Idade Média a Holanda destacava-se por sua condição de entreposto comercial, daí sua política econômica sempre pautada em um grande liberalismo. Entretando, as iniciativas privadas e isoladas de avançar no comércio com o oriente resultaram quase sempre em grandes perdas e fracassos econômicos, demonstrando a necessidade de centralismo.
Portugal, que ao longo do tempo havia criado instituições político-militares que lhe garantiam o monopólio das rotas comerciais com o oriente, frequentemente tinha que recorrer ao financiamento internacional, dada a sua debilidade de acumulação de capital, o que aos poucos foi resultando em concessões a estrangeiros (especialmente aos holandeses) no que tange ao comércio oriental.
Apesar disto, o governo português foi cauteloso na manutenção monopolista, ou seja, os benefícios podiam não se concentrar, em larga escala, apenas em Portugal, mas o sistema garantidor de altos lucros era mantido plenamente.
O episódio da montagem da Companhia das Índias Orientais (1602) esta inserido, na perspectiva teórica de Novais, no contextualização do “exclusivo” comercial como ferramenta das políticas mercantilistas.
A prática comercial mercantilista, onde o lucro era gerado como resultado do processo de circulação, baseava-se fundamentalmente na criação de monopólios comerciais com suas colônias, ou nesse caso específico, no monopólio das rotas comerciais com o oriente. O “exclusivo” comercial aparece como integrante do grupo de políticas protecionistas. Outras políticas são a balança comercial favorável e mesmo o sistema colonial.
As práticas mercantis tinham como objetivo promover a acumulação,e o monopólico comercial praticado pelas CIO colaborava nesse sentido, uma vez que à ela era garantia a exclusividade das operações mercantis no Oriente.
 
8. Discuta a afirmação seguinte, de Fernando Novais: na etapa em que se processou a gênese do capitalismo na Europa Ocidental, houve “... a necessidade de pontos de apoio fora do sistema, induzindo uma acumulação que, por se gerar fora do sistema, Marx chamou de originária ou primitiva. Daí as tensões sociais e políticas provocadas pela montagem de todo um complexo sistema de estímulos. O mercantilismo foi, na essência, a montagem de tal sistema, e o sistema colonial mercantilista, sua peça fundamental, a principal alavanca na gestação do capitalismo moderno”.
Conforme expõe o enunciado, para Novais o Antigo Sistema Colonial era um dos pilares do Antigo Regime (estados nacionais absolutistas, sociedade estamental, capitalismo comercial, mercantilismo, colônia, expansão ultramarina) e sua função era, portanto, fomentar a acumulação de capital via exclusivo metropolitano e escravidão (e tráfico negreiro).
Dado isso, a análise da estrutura econômica da sociedade colonial que se segue em seu texto será sempre fundamentada na idéia do sentido profundo da colonização, explicado pelo autor: deve-se sempre considerar o sistema colonial como uma ferramenta fundamental do contexto do Antigo Regime (surgido a partir da crise feudal) para a determinação da acumulação primitiva de capital na sociedade capitalista em formação (então em sua fase de consolidação através do capitalismo mercantil).
A prática comercial mercantilista, onde o lucro era gerado como resultado do processo de circulação se baseava fundamentalmente na criação de monopólios comerciais com suas colônias. Protecionismo, balança comercial favorável e mesmo o sistema colonial aparecem como políticas mercantilistas.
O capitalismo mercantil, sobretudo pela prática do sistema colonial, constituiu o elemento decisivo para a criação dos pré-requisitos do capitalismo industrial. Para o autor, o sistema colonial não se trata de simples denominador comum presente em todas as manifestações concretas do processo histórico, mas do determinante estrutural, componente a partir do qual é possível compreender o conjunto das manifestações, tornando-as inteligíveis, o elemento enfim que explica e define os demais, e não se define por ele”.
 
 
9. Trace um paralelo entre as formulações de Caio Prado Júnior e Celso Furtado em termos do binômio reforma – revolução, e levando em consideração as diferentes possibilidades oriundas das práticas políticas de ambos.
Caio Prado, apesar de ser filho de família rica com fortes vínculos políticos, classificou-se posteriormente como comunista, quebrando a grande promessa da burguesia de São Paulo, rompendo-se com sua classe de origem. No contexto da historiografia econônima brasileira, Prado pertence a uma geração de cientistas sociais brasileiros que Antonio Candido chama da geração de 30 - “Sopro de radicalismo intelectual e análise social que eclodiu depois da Revolução de 1930 e que não foi abafada pelo Estado Novo”. A evolução da historiografia econômica no Brasil, que se da a partir dos anos 30, foi resultado de uma conjuntura formada por um período de crise econômica (crash de 1929), agitação social (revolução de 1930), cisão oligárquica (elite cafeicultora) levando os intelectuais, em um “sopro de radicalismo”, a rever a análise social e questionar a abordagem ‘étnico-racial’ dominante, em um período em que a forma de se fazer história passava por uma transformação a partir dos novos conceitos historiográficos da Escola dos Annales, rompendo com os grandes fatos e abordando uma história mais problematizante, contextualizada e multidiciplinar.
Apesar de pertencer à burguesia paulistana, seus ideais marxistas com “sopro de radicalismo” faziam com que CPJr. não possuísse boa aceitação mesmo em seu próprio partido, e apesar da teoria norteando a práxis política, seus planos não serviam à burguesia, já que defendia uma solução revolucionária (que nunca aconteceu).
Oliveira não nega a importância que teve Caio Prado Jr. à compreensão histórica da nação brasileira, mas pelo caráter quase estritamente marxista de sua produção intelectual (que, portanto, não seria aceito sob qualquer hipótese pelas elites), apresenta uma aridez de aplicabilidade, o que não ocorrerá com a intelectualidade furtadiano-cepalina.
Uma das características pessoais de Furtado que mais se imprimiriam em suas obras era a capacidade de ação ligada ao pensamento teórico. Assim, toda sua produção intelectual, para a qual deve também ser considerada sua influente participação na CEPAL, possui tanto um substrato teórico bastante desenvolvido quanto digressões práticas. E é justamente essa relação entre teoria e prática que constituirá os pontos fortes e fracos de seu pensamento.
A contribuição intelectual de Furtado pode ser compreendida por oferecer uma alternativa às duas correntes de pensamento predominantes à época. De um lado, opõe-se à teoria neoclássica, que se fundamenta em uma perspectiva a-histórica, não temporal e espacialmente generalizada. De outro, não se coaduna perfeitamente com o arcabouço marxista (esta teoria considerada mais positivamente por Oliveira por, pelo menos, tratar das peculiaridades históricas na formação de realidades econômicas específicas), já que o posterior desenvolvimento simplista desta tendeu a classificar as economias desenvolvidas à margem das economias capitalistas centrais como simples continuações de colônias, o que de fato não era verdade (as alterações econômico-sociais por que passaram foram por demais amplas para que pudessem ser reduzidas a nada).
Desse modo, o desenvolvimento da idéia de uma teoria para o subdesenvolvimento das economias capitalistas periféricas constitui um grande marco à historiografia econômica, um projeto levado a cabo por Furtado e pela CEPAL e que certamente coloca o autor como uma das figuras centrais quanto ao estudo do Brasil: “[...] de suas mãos nascendo o pensamento sobre o Brasil moderno [...]”.
A teoria proposta por Furtado e pela CEPAL tinha por pressuposto básico, e isto a diferencia da marxista e da neoclássica simultaneamente, que o subdesenvolvimento não é apenas uma etapa de um processo linear pelos quais devam passar as nações até atingirem o capitalismo plenamente desenvolvido, mas é, na realidade, fruto de encadeamentos históricos específicos que devem ser tratados como tais. Havia a necessidade de uma explicação teórica para estes processos diferenciados de gestação e maturação capitalista e das conseqüências que possuíam
Ao invés de “importar uma teoria”, como cientista social que era Celso Furtado irá aprofundar na perspectiva histórica e buscar as peculiaridades do Brasil, “criando” o pensamento sobre o Brasil moderno: legitimidade para formar uma teoria específica para o CEPAL. Possui uma teoria que se mostra como uma forte arma ideológica e poderosa a serviço da burguesia industrial emergente nos países da América Latina (nova burguesia que não “mais quer ser primário exportador”).
 	É aqui que surge o ponto fraco de Furtado. Sendo sua teoria útil à prática, velava, no entanto, aspectos sociais importantes. Se é verdade que toda a desigualdade de distribuição de renda e pobreza no país não se deve, certamente, à sua teoria, é igualmente verdadeiro que as lacunas apresentadas pela aplicação de muitos de seus preceitos serviram de base à determinação de políticas que levaram a tanto. “O desenvolvimento não é pensado como um processo de luta social, de luta de classes, como um processo conflitivo. Ao contrário, é pensado em termos exclusivos dos interesses proeminentes em escala nacional”.
Para Oliveira, a obra de Celso Furtado “é um diálogo” com o pensamento autoritário brasileiro. CF era, antes de um importante teórico da CEPAL (desenvolvimentista), um cientista social preocupado com a historia e com o projeto nacional, e sua obra representava a “força do moderno pensamento social brasileiro, nascidocom os ares de 30 e o vigor da descoberta teórica do subdesenvolvimento”. Como exemplo, Oliveira cita que o próprio programa de metas de J.K. foi “decalcado, quase por inteiro” de um trabalho realizado por Furtado, na CEPAL, para o BNDE. Isto fez com que a força da teoria de Furtado fosse convertida em uma verdadeira ideologia das classes dominantes.

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