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Apostila Policiamento Comunitário

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ESTADO DA BAHIA 
POLÍCIA MILITAR 
ACADEMIA DE POLÍCIA MILITAR 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 POLICIA MILITAR 
 DO ESTADO DA BAHIA 
 
 
 
CURSO DE FORMAÇÃO DE OFICIAIS AUXILIARES 
POLICIAIS MILITARES 
CFOA - 2020 
 
 
 
 
 POLICIAMENTO COMUNITÁRIO 
 
 
 
 
Salvador 
2020 
 
 
 SUMÁRIO 
 
 
1 INTRODUÇÃO 03 
2 CENÁRIO HISTÓRICO 05 
3 CONCEITUAÇÃO DE POLICIAMENTO COMUNITÁRIO 14 
4 PRINCÍPIOS DA POLICIA COMUNITÁRIA 19 
5 O QUE NÃO É POLICIAMENTO COMUNITÁRIO 22 
6 PRINCÍPIOS DO POLICIAMENTO COMUNITÁRIO À IMPLANTAÇÃO 25 
7 DIFERENÇAS: POLICIA TRADICIONAL E POLICIA COMUNITÁRIA 27 
8 OBJETIVOS DA POLÍCIA COMUNITÁRIA 29 
9 POLÍCIA COMUNITÁRIA – EXPERIÊNCIAS INTERNACIONAIS 30 
10 EXPERIÊNCIAS DO MUNDO POLICIAL 41 
11 OS SEIS GRANDES GRUPOS DO POLICIAMENTO COMUNITÁRIO 43 
12 PERFIL DO POLICIAL COMUNITÁRIO 46 
13 AÇÕES PROATIVAS DO POLICIAMENTO COMUNITÁRIO 49 
14 MOBILIZAÇÃO SOCIAL 56 
15 O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO 62 
16 OS FATORES DA CRIMINALIDADE E A PREVENÇÃO 64 
17 AS COMPETÊNCIAS DAS POLICIAIS MILITARES DO BRASIL 67 
Referências 75 
3 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
 
A violência é um fenômeno que tem atingido incisivamente as grandes 
capitais do País. Sinalizadores como desemprego, falta de condições adequadas 
de saúde e saneamento básico, deficiências no ensino público e mau distribuição 
de renda culminam com a exacerbação do quadro social brasileiro e têm 
inexoravelmente como consequência o acréscimo das estatísticas policiais. 
Diante dos fatos, o sistema de Segurança Pública é exigido pela sociedade a 
manter níveis aceitáveis de convivência social. 
Não obstante a esses óbices sociais, o fenômeno da exclusão gera o 
máximo da efemeridade humana, ou seja, a sua condição de ser no mundo. 
Para Rocha, Kogachi e Leite (2011, p.11), mesmo com a enumeração 
dessas problemáticas sociais para a consolidação da democracia no Brasil, os 
conceitos de vida na sociedade se transformam e a consciência de cidadania 
passou a substituir as armas. 
Na conclusão do artigo intitulado “Sociedade civil e sociedade civil 
organizada”, Marx (2006), publicado na Revista Jus Navigandi, ano 11, nº 1019, 
afirma: 
 
[...] que a sociedade civil é à base das relações econômicas, sociais e 
ideológicas de onde emanam os conflitos que demandam soluções 
políticas e, ao mesmo tempo, emanam alternativas para a solução de 
conflitos surgidos na órbita política, sendo a parte de um todo, voltado 
para o bem comum. (MARX, 2006, p.3). 
 
 
Portanto, a eficiência da organização de uma sociedade traduz impactos 
positivos para a sua evolução. 
Materializando essa máxima, quando os cidadãos passam a se relacionar, 
seus conflitos, problemas em comum, são estudados para uma construção 
racional de compreensão e soluções, obstruindo a apatia e o conformismo. 
Nesse diapasão, a Carta Magna do país introjeta na sociedade brasileira a 
consciência cidadã, revelando que o sistema de segurança pública existe para 
manter em níveis aceitáveis a convivência social, cabendo às polícias militar e civil 
essas responsabilidades constitucionais no âmbito do território das unidades 
federativas. Concretizando essa proposição de responsabilidade, substanciada no 
4 
 
direito positivo, expressa-se na Constituição Federal vigente, Art. 144, parágrafo 
quinto o seguinte: 
 
Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e 
responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem 
pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos 
seguintes órgãos: [...] V – polícias militares e corpos de bombeiros 
militares. [...] § 5º - às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a 
preservação da ordem pública; aos corpos de bombeiros militares, 
além das atribuições definidas em lei, incumbe a execução de atividades 
de defesa civil (BRASIL, 1988). 
 
 
No contexto do território baiano a competência da Polícia Militar se aduz no 
texto da Constituição Estadual, quando diz que: 
 
Art. 148. A Polícia Militar, força pública estadual, instituição permanente, 
organizada com base na hierarquia e disciplina militares, competem, 
entre outras, as seguintes atividades: I – polícia ostensiva de 
segurança, de trânsito urbano e rodoviário, de floresta e mananciais e a 
relacionada com a prevenção criminal, preservação e restauração da 
ordem pública; IV – a polícia judiciária militar, a ser exercida em relação 
a seus integrantes, na forma da lei federal; V – a garantia ao exercício do 
poder de polícia dos órgãos públicos, especialmente os da área 
fazendária, sanitária, de proteção ambiental, de uso e ocupação do solo 
e do patrimônio cultural (BAHIA, 1989). 
 
 
Observando-se as definições das competências Constitucionais das Polícias 
Militares do Brasil, a filosofia de Polícia Comunitária, reconceituada como Polícia de 
Proximidade, já se fazia presente no bojo Constitucional, ensejando o fortalecimento 
desse pensar, nas corporações policiais, entretanto ainda se encontram distantes de 
ser plenamente percebido no dia-a-dia do serviço policial, pois o pensar sedutor do 
modelo reativo de enfrentamento ainda é muito utilizado para responder a 
incidentes. 
Assim, esta apostila com várias referências bibliográficas pesquisadas, 
concebe o policiamento adotado pela Polícia Militar da Bahia, através da filosofia e 
de procedimentos aplicados à Polícia Comunitária, cujas ações estão vinculadas 
aos propósitos do policiamento comunitário, mudando o marco de atuação do 
conceito de combate ao inimigo para a de proximidade com a comunidade, 
firmando-se como uma estratégia e cultura organizacional. 
 
5 
 
2 CENÁRIO HISTÓRICO 
 
2.1. Décadas de 70/80 
Na Bahia os ensaios sobre a Filosofia de Polícia Comunitária remontam aos 
anos 1970, quando a equipe do 7º Batalhão, instituía o Plano de Policiamento 
Ostensivo Integrado (POI), consolidado na Lei nº 3.406, de 26 de setembro de 1975, 
Lei de Organização Básica, através de 3 dimensões: território, organização e 
homem. 
Na vanguarda de políticas públicas de segurança no Estado da Bahia, o 
então Ten Cel PM Alberto Salles Paraíso, capitaneado pelo então Cap PM Pedro 
Nascimento Boaventura, consolidaram o marco gerador do policiamento comunitário 
na cidade de Salvador, nos anos de 1983 a 1985, através do sistema do emprego 
operacional do Policiamento Ostensivo Integrado (POI), sendo empregado ao nível 
de Batalhão ou de Companhia na sua área de atuação, demonstrando, logo, uma 
visão do futuro. 
Dentro da trilogia do Sistema Integrado de Policiamento Ostensivo (POI), 
destacando-se o espaço, organização e homem policial-militar, foram 
correlacionados atributos para a consecução do POI: (1) Território Policial-Militar; (2) 
Região Policial-Militar; (3) Micro Região Policial-Militar; (4) Área Policial-Militar; (5) 
Subárea Policial-Militar; (6) Setor Policial-Militar; (7) Subsetor Policial-Militar 
(Quarteirão); e (8) Posto de Serviço Policial-Militar. Consolidando o Sistema POI, 
foram agregadas duas vertentes importantíssimas para a excelência da qualidade 
do serviço prestado pelo policial militar: (1) Valorização do Policial-Militar; e (2) 
Integração com a Comunidade. Com a comunidade, a interface da trilogia 
constituía-se “no destino do PM em caminhar lado a lado com a comunidade, 
acompanhando as suas necessidades e resolvendo com eficácia aquelas ligadas à 
segurança, garantindo os direitos individuais a cada cidadão” (POLICIAMENTO 
OSTENSIVO INTEGRADO / Alberto Salles Paraíso Borges e Pedro Nascimento 
Boaventura, 2009). Aduz ainda: 
 
01) Respeitar os direitos do cidadão. 
02) Não ter o cidadão como bandido. 
03) Não ter preconceito de qualquer natureza. 
04) Não haver violência e manter-se no restrito cumprimento ao 
dever. 
05) Conscientizar o policial-militar no sentido de que ele vive para 
servir à comunidade. 
6 
 
06) Abrir o quartelao público sem formalidades e restrições. 
07) Mostrar à comunidade a importância da missão da Polícia Militar 
e o difícil papel do policial-militar. 
08) Fazer reuniões com grupos representativos da comunidade. 
09) Visitar escolas, blocos de carnaval, centros sociais urbanos, 
centro de saúde e outros órgãos públicos. 
10) Consultar sempre a comunidade sobre a sua segurança e 
proteção. 
11) Convidar a comunidade para participar em todas as solenidades 
cívicas e sociais realizadas nos quartéis. 
12) Realizar pesquisas junto à comunidade para avaliar o trabalho 
realizado 
13) Manter a comunidade constantemente informada das atividades 
do Batalhão, através de boletins informativos, publicados por cada 
UOp de área.” 
 
 
As ações do policiamento ostensivo integrado eram menos sujeitas à 
especialização profissional já que era uma forte característica da atuação policial 
militar daquele período. 
 
2.2. Década de 90 
Com a abertura política no Brasil, a partir de 1985, consubstanciada com a 
promulgação da Constituição Brasileira, em 1988, as polícias militares reformularam 
a sua cultura de atuação, pois a presença do estado de direito democrático era 
legítimo e real. O Estado não mais seria submetido a um regime de exceção. O 
cidadão não seria tratado apenas como um usuário das políticas públicas de 
segurança. O foco dessas políticas públicas direcionava todos os esforços para, 
agora, reconhecido como cidadão-cliente (grifo nosso). 
Aliás, segundo Bresser-Pereira (1998) “o termo cidadão-cliente é utilizado até 
mesmo como forma de aproximar administração pública da lógica de mercado.” 
Nesse contexto, o dito processo se refere à adaptação das ideias e ferramentas de 
gestões mais recentes do setor privado no setor público, como, por exemplo, os 
programas de qualidade, a reengenharia organizacional, a administração 
participativa e outros instrumentos da administração gerencial (grifo nosso). 
No ano de 1995, no Brasil, lançava o Plano Diretor da Reforma do Aparelho 
do Estado e considerando essa mesma ótica, o Programa de Qualidade e 
Participação na Administração Pública (QPAP). 
No ente Estadual, com iniciativa idêntica, criou-se o Programa de Qualidade 
do Serviço Público Estadual (PROQUALI), o qual visava aperfeiçoar a qualidade dos 
serviços prestados pela administração pública estadual. 
7 
 
O Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH), instituído através do 
Decreto nº 1.904, de 13 de maio de 1996, pelo governo federal, já direcionava a 
necessidade de reforma das polícias. 
No fervor das mudanças nacionais no âmbito da segurança pública e de 
forma pioneira, na Bahia, iniciaram a partir do ano de 1995, com a celebração de um 
convênio entre a Polícia Militar e a Universidade Federal da Bahia, mais 
especificamente com a Escola de Administração, cujo convênio foi intitulado 
Programa PM-UFBA, nasceu, assim, o Programa de Modernização da PMBA, que 
realizou uma série de estudos e projetos, conforme se segue: 
 Planejamento estratégico da PM; 
 Reestruturação organizacional; 
 Estudo emergencial para elevação dos salários; 
 Reestruturação de processos da Diretoria de Pessoal; 
 Projeto de informatização; 
 Projetos de capacitação gerencial de dirigentes; 
 Revisão curricular dos cursos de formação policial; 
 Projeto de redefinição dos níveis hierárquicos; 
 Projeto de implantação de qualidade em serviços de segurança pública 
(Projeto Polícia Cidadã). 
 
Em 1998, nesse cenário de inovação da Administração Pública, surge o 
Projeto Polícia Cidadã (PPCid), estratégia institucional de atuação, baseada em dois 
pilares básicos: a integração com a comunidade e a adoção das ferramentas 
preconizadas pela Gestão Contemporânea pela Qualidade. O PPCid, através da 
Nota se Serviço nº 001/99, publicada na Separata ao BGO nº 61, de 30 de março de 
1999, disciplinou a sua operacionalização no terreno das ações de polícia, adotando 
a Companhia Independente como referência de organização menos burocrática em 
relação ao Batalhão PM, atuando em uma área de responsabilidade de menor 
extensão em cidades, bairros ou comunidades com identidade social, cultural e 
geográfica, facilitando, dessa forma, a personalização do policiamento, 
salvaguardando as peculiaridades locais. No bojo do PPCid as definições 
estratégicas de Visão, Missão e Objetivos estavam concretizadas (grifo nosso) 
da seguinte forma: 
 
8 
 
VISÃO: Transformar a Polícia Militar da Bahia, num referencial de 
excelência entre as instituições prestadoras de serviços ostensivos 
de segurança pública, através do aporte de conhecimento e 
mudança no comportamento dos seus servidores, utilizando-se dos 
modernos conceitos de gestão contemporânea e policiamento 
comunitário. 
MISSÃO: Fornecer aos Comandantes, Diretores e Chefes da 
Corporação e seus respectivos auxiliares o referencial básico para 
execução e desenvolvimento da doutrina de Polícia Cidadã, na 
esfera de suas responsabilidades e competência. 
OBJETIVO GERAL: Desenvolver uma metodologia específica de 
implantação da qualidade em serviço de segurança pública, 
transformando o modelo tradicional de atuação num modelo inovador 
de policiamento comunitário, capaz de satisfazer às reais 
necessidades da população, e que possa ser reproduzido em toda a 
Corporação. 
 
Diante das definições estratégicas, o PPCid foi operacionalizado mediante as 
6 (seis) linhas de ação assim disciplinadas: 
 Linha de ação 1 (integração com a comunidade) 
Criação de um canal de comunicação que possibilitasse a interação da 
Unidade Operacional com o cidadão-cliente, através dos Conselhos 
Comunitários de Segurança, sendo uma entidade de direito privado e 
sem fins lucrativos. 
 Linha de ação 2 (reestruturação da unidade operacional) 
As Unidades seriam dotadas de processos mais leves com o foco no 
atendimento à comunidade, agilidade no atendimento das demandas de 
segurança pública. Surgem, então, as Companhias Independentes 
(CIPM) que seriam gestadas pelos Batalhão-Gestor, sendo um órgão de 
suporte administrativo-financeiro a fim de administrar os recursos 
materiais e a regularização da vida funcional das CIPM. 
 Linha de ação 3 (motivação) 
Implantação de elementos incentivadores capazes de motivar o policial 
militar a participar do novo modelo de melhorias no ambiente de trabalho, 
aperfeiçoamento das relações interpessoais, o estabelecimento de 
recompensas para as metas de produtividade alcançadas e a utilização 
de equipamentos modernos para eficácia, eficiência e efetividade da 
atividade policial. 
 Linha de ação 4 (indicadores) 
Estabelecimento de indicadores para aferição da produtividade das 
Unidades, criando uma cultura de reconhecimento das ações 
desenvolvidas pela Unidade, através do acompanhamento interno de 
processos produtivos e respectivos resultados. 
 Linha de ação 5 (educação continuada) 
Visava a amplitude da capacitação dos policiais militares, de forma 
continua nas suas Unidades, utilizando redes de multiplicadores com 
base na competência, habilidades e atitudes dos policiais militares. 
9 
 
 Linha de ação 6 (núcleo de memória) 
O armazenamento de documentos desenvolvidos pelas ações de 
policiamento fomentava a memória da Unidade, pois facilitava o 
acompanhamento e a evolução dos processos, bem assim, a ações 
necessárias de correção para a efetividade do serviço policial militar em 
prol da sociedade, 
 
2.3. Anos 2000 
O PPCid experimentou uma evolução de bons resultados, contudo, após 
esse lastro temporal e pela inobservância de compromisso da esfera governamental 
estadual, no campo das prioridades, o PPCid enfrentou dificuldades para a 
culturalização organizacional, resultando no seu retrocesso. A retomada (grifo 
nosso) na nova visão de importância governamental do PPCid, agora Programa de 
Governo, ocorreu em fevereiro de 2003, quando, através de um seminário de polícia 
comunitária para comandantes deOPM, capital e interior, resgatou-se a 
aplicabilidade da filosofia de polícia comunitária, tendo como marco Institucional a 
Nota de Serviço DQPDT- 001/2003. 
 Em 24 de outubro de 2007, através da Lei nº 11.530, publicado no Diário 
oficial da União, de 25/10/2007, instituiu-se o Programa Nacional de Segurança 
Pública com Cidadania (PRONASCI) com o propósito de ser executado pela União, 
por meio da articulação dos órgãos federais, em regime de cooperação com 
Estados, Distrito Federal e Municípios e com a participação das famílias e da 
comunidade, mediante programas, projetos e ações de assistência técnica e 
financeira e mobilização social, visando à melhoria da segurança pública. Destaca-
se que no seu artigo 8º o Programa, sem prejuízo de outros programas, projetos e 
ações integrantes do PRONASCI, agregou os seguintes projetos: (1) Reservista-
Cidadão; (2) Proteção de Jovens em Território Vulnerável; (3) Mulheres da Paz; e 
(4) Bolsa-Formação. Referencialmente, o Bolsa-Formação, mediante a Lei nº 
11.707, de 19 de junho de 2008, que alterou a Lei nº 11.530, declinou no seu artigo 
2º, o seguinte: 
 
“Art. 8o-E. O projeto Bolsa-Formação (grifo nosso) é destinado à 
qualificação profissional dos integrantes das Carreiras já existentes 
das polícias militar e civil, do corpo de bombeiros, dos agentes 
penitenciários, dos agentes carcerários e dos peritos, contribuindo 
com a valorização desses profissionais e consequente benefício da 
sociedade brasileira. 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/Lei/L11530.htm#art8e.
10 
 
§ 1o Para aderir ao projeto Bolsa-Formação, o ente federativo deverá 
aceitar as seguintes condições, sem prejuízo do disposto no art. 
6o desta Lei, na legislação aplicável e do pactuado no respectivo 
instrumento de cooperação: 
I - viabilização de amplo acesso a todos os policiais militares e civis, 
bombeiros, agentes penitenciários, agentes carcerários e peritos que 
demonstrarem interesse nos cursos de qualificação; 
II - instituição e manutenção de programas de polícia comunitária; e 
III - garantia de remuneração mensal pessoal não inferior a R$ 
1.300,00 (mil e trezentos reais) aos membros das corporações 
indicadas no inciso I deste parágrafo, até 2012.” 
 
Com o advento do Plano Plurianual Participativo 2008-2011 o Governo do 
Estado empreendeu esforços no sentido de implementar a participação da 
sociedade na formatação de políticas públicas. Nesse diapasão, as propostas 
populares, após a devida análise, geraram projetos entre eles o PLANESP (Plano 
Estadual de Segurança Pública) na versão 2008-2011 e na versão 2012-2015, 
sendo o marco de visão governamental para o campo da Política de Segurança 
Pública do Estado da Bahia. Nesse instrumento gerencial surgiram as Áreas 
Integradas da Segurança Pública (AISP), além de outras ações como o incremento 
do policiamento comunitário mediante projetos como o Ronda nos Bairros, Sistema 
de Ações Preventivas, da investigação e dos trabalhos periciais, que passaram 
atuar de forma integrada nas suas AISP. 
No biênio de 2009-2010, iniciou-se a preocupação de reduzir a tendência 
crescente dos crimes violentos letais intencionais (CVLI). Após esse período, novos 
rumos foram perseguidos para a redução das taxas, também, dos crimes violentos 
contra o patrimônio (CVP), além de retomar (grifo nosso) de maneira definitiva o 
modelo de policiamento comunitário. Como gênese dessa retomada, através da Lei 
nº 12.357, de 26 de setembro de 2011, criou-se o “Pacto pela Vida (PPV)”, 
programa de Estado no âmbito do Sistema de Defesa Social cujo objetivo principal é 
a promoção da paz social, com ênfase na diminuição dos índices de CVLI e CVP no 
âmbito policial. A política do PPV está baseada com a sociedade sendo articulada e 
integrada com o Poder Judiciário, Assembleia Legislativa, o Ministério Público, a 
Defensoria Pública, os municípios e a União. 
Nesse novo modelo de gestão foram fomentadas as seguintes características 
(PROGRAMA PACTO PELA VIDA/2011): 
. 
 
 
 
11 
 
“Criação de diversas instâncias que se relacionam: 
 Um Comitê de Governança – integrado pelos dirigentes máximos dos 
Poderes e Instituições do Estado, responsável pela definição das 
diretrizes estratégicas e acompanhamento das ações; 
 Um Comitê Executivo – presidido pelo Governador e integrado por 
representantes dos Poderes e Instituições do Estado, com a finalidade de 
promover a articulação entre os processos de formulação, implantação, 
monitoramento e avaliação de suas ações; 
 Cinco Câmaras Setoriais para propor e definir diretrizes e políticas 
setoriais que contribuam para a redução das taxas de Crimes Violentos 
Letais Intencionais – CVLIs, na sua respectiva área de atuação. 
 O Núcleo de Gestão, que é uma unidade de monitoramento e avaliação 
dos resultados do Programa. 
 Nova distribuição territorial para executar e monitorar o Programa: 
 Criação de Regiões Integradas de Segurança Pública – RISP 
compostas por Áreas Integradas de Segurança Pública – AISP, 
dentro do território do Estado da Bahia; 
 O direcionamento de recursos e esforços policiais e sociais para 
áreas consideradas prioritárias para o Programa, mediante a 
adoção dos indicadores CVLI e CVP como parâmetros. 
 Ações integradas com unidades do sistema de segurança pública: 
 Intensificação da repressão qualificada, mediante o uso da 
inteligência policial; 
 Ações policiais preventivas mediante a aproximação da polícia 
com a comunidade. 
 Implantação de Bases Comunitárias de Segurança Pública – 
BCS (grifo nosso), que são estruturas físicas em áreas 
consideradas críticas em termos de criminalidade violenta, 
funcionando como instrumento de polícia comunitária, que 
aproxima a polícia dos moradores e aumenta a sensação de 
segurança nestas áreas. Além disso, as BCS são referência para 
a execução de ações sociais transversais em seu entorno. ” 
(grifo nosso). 
. 
 
No Seminário de Gestão Estratégica, cujo trabalho multidisciplinar tornou-se 
o fato gerador do Plano Estadual de Segurança Pública (PLANESP), versão 2004-
2007, direcionou como estratégica de Missão, Visão e Valores para a Secretaria de 
Segurança Pública as seguintes definições: 
 
“MISSÃO: Garantir segurança pública à sociedade e às instituições, 
contribuindo para a promoção da paz social. 
VISÃO: Ser, até 2015, um referencial comparativo, para os demais 
Estados da Federação, quanto ao percentual de redução das taxas 
de CVLI e CVP. 
VALORES: Os valores não são criados, eles têm que ser percebidos, 
apurados, sentidos... Na Secretaria da Segurança Pública, 
identificamos como valores dedicados à comunidade: SERVIR e 
PROTEGER. ” 
 
12 
 
Construindo uma estratégia de pensamentos fortes para a plenitude de 
execução do PLANESP 2012-2015, foram definidos indicadores a partir dos 
objetivos estratégicos do referido Plano de Segurança Pública para alinhar a 
comunicação das estratégias entre as Organizações e os rumos delas em relação 
às definições estratégias do atual PLANESP. Foram delineados os seguintes 
indicadores estratégicos: (1) Percentual de incremento de captação de recursos; (2) 
Quantidade de ações sociais; (3) Clima organizacional; (4) Percentual de 
homenagens/elogios; (5) Percentual de servidores treinados; (6) Percentual de 
apuração; (7) Custo médio dos resultados das operações padronizadas; (8) 
Quantidade de não conformidade de dados estatísticos; (9) Itens incorporados à 
biblioteca virtual de Segurança Pública; (10) Percentual de disponibilização do 
pacote básico para unidades finalísticas; (11) Aderência ao MEGP; (12) Quantidade 
de inovações introduzidas; (13) Redução de taxas de CVLI; (14) Redução de taxas 
de CVP; (15) Percentual de população atendida com ações de proximidade; (16) 
Percentual de indiciamento; (17) Incremento de oferta de ações de defesa social; 
(18) Percentual de satisfação do cliente; (19) Percentual de sensação de segurança.A partir de 2012 com o Decreto nº 13.561, de 02 de janeiro de 2012, foram 
agregados os conceitos de Regiões Integradas de Segurança Pública (RISP) e suas 
respectivas Áreas Integradas de Segurança Pública (AISP) como forma de integrar 
e sistematizar as ações e informações sobre Polícia Militar, Polícia Judiciária e 
Departamento de Polícia Técnica, bem como as ocorrências favorecendo a análise 
da mancha criminal dentro de cada território. No dito decreto, através do seu Art. 2º, 
conceituou-se AISP como agrupamentos de segmentos territoriais, formadas por 
municípios, distritos municipais e bairros, consideradas para a definição de 
princípios, métodos e procedimentos nas ações de polícia judiciária, polícia 
ostensiva e perícia, com o objetivo de aumentar a eficiência policial, mediante a 
prestação de serviços de segurança pública com qualidade e custos adequados. 
Implementando as ações de Segurança pública do Estado, foi instituído o 
Plano Estratégico do Sistema Estadual de Segurança Pública 2016-2025, através 
da Portaria nº 1.026 de 28 de dezembro de 2016, publicada no DOE nº 22.090, de 5 
de janeiro de 2017, inspirado numa nova Visão de Futuro para a efetiva contribuição 
na redução dos índices de criminalidade, agregando pressupostos de qualidade e 
excelência na prestação dos serviços de segurança pública cidadã, na Bahia, nos 
próximos dez anos. 
13 
 
A Polícia Militar da Bahia, através das premissas do Programa de Governo, 
intitulado “Pacto pela Vida”, institucionalizou a implantação de Bases Comunitárias 
de Segurança (BCS), através da Portaria n° 106-CG/12, publicada em BGO nº 244, 
de 27 de dezembro de 2012. Posteriormente, o dito diploma legal foi atualizado 
através da Portaria n° 058-CG/15, publicada na LJNG nº. 11, de 25/06/2015, cuja 
matéria dispõe sobre as normas e procedimentos necessários para implantação, 
estruturação e funcionamento das BCS no âmbito da PMBA. 
O modelo de policiamento comunitário instituído às BCS na Bahia tem como 
raízes o modelo de policiamento conhecido como Koban, que significa troca de 
vigilância (ko=troca; ban=vigilância), é uma estrutura organizacional de polícia. No 
Japão os kobans são instalados em áreas urbanas e geralmente, contam com um 
efetivo de 12 (doze) policiais, divididos em três turnos de 24 horas. Esse modelo de 
policiamento comunitário, conforme aduz a Cartilha de Policiamento Comunitário da 
PMESP, 2007, possui três pilares de sustentação para a realização do policiamento: 
(1) integrar a comunidade para a realização das atividades de policiamento, 
adequando este à realidade da comunidade através do atendimento das 
expectativas da população; (2) tornar o policiamento visível à população, mantendo 
diuturnamente uma postura de vigilância; e (3) atender todas as ocorrências 
policiais de forma indistinta, ou seja, o policiamento não prioriza a aplicação da lei 
em detrimento de problemas de manutenção da ordem ou problemas não 
emergenciais. Nos Kobans são desenvolvidas atividades internas e externas 
conforme quadro explicativo a seguir: 
Tabela 1 
Atividades Externas Atividades Internas 
Patrulhamento Vigilância em pé 
Abordagens Vigilância sentada 
Visitas Comunitárias residenciais e comerciais Informações de utilidade pública 
Visitas a órgãos públicos e privados Registros de Ocorrências 
Conhecimento da área Registro de declaração de achados e perdidos 
Atendimento de ocorrências Atendimento à comunidade 
Projetos diversos Outras consultas 
Fonte: PMESP, Cartilha de Policiamento Comunitário, 2007. 
 
As BCS na Bahia estão subordinadas funcionalmente a um Batalhão 
Operacional ou Companhia Independente de Polícia Militar e a assessoria técnica, 
14 
 
atualmente, ao Departamento de Polícia Comunitária e Direitos Humanos. As BCS, 
conforme preconiza a Portaria instrumental, devem realizar visitas comunitárias e 
atividades de assistência às vítimas além de outras de maneira rotineira. A BCS é 
comandada por um Oficial, quer no posto de Capitão ou de Tenente. Outro aspecto 
interessante é que fazendo um comparativo das BCS paulistas para as baianas, a 
primeira a área total é de no máximo 2 Km2 com uma média de 16 policiais militares; 
já a BCS baiana corresponde a área máxima de 4 Km2 com uma média de 70 
policiais militares. Outro aspecto a revelar diz respeito as diretrizes políticas 
seguidas pelas BCS através da Superintendência de Prevenção à Violência 
(SPREV), órgão da estrutura da Secretaria de Segurança Pública (SSP) e cuja 
finalidade é elaborar, apoiar e executar ações de prevenção da violência. 
O Plano Estratégico da PMBA (2017-2025), aprovado em Portaria nº 37-
CG/2017, conforme o publicado em BGO nº 061, de 28 mar 2017, redefiniu a 
missão desta Corporação, estabelecendo-a como “Preservar a vida, a ordem 
pública e a cidadania”, além de definir os seguintes valores: hierarquia, disciplina, 
ética, profissionalismo e dignidade humana. No seu Objetivo Estratégico nº 08 
(Fomentar a Polícia Comunitária) implementa a percepção do papel de cada 
integrante da Corporação diante dos propósitos organizacionais que devem ser 
conquistados em relação a gestão da filosofia de polícia comunitária mediante as 
ações de policiamento comunitário operacionalizados pelas OPM desta PMBA. 
 
3 CONCEITUAÇÃO DE POLICIAMENTO COMUNITÁRIO 
 
No entendimento doutrinário de Policiamento Comunitário existe um rol 
sistemático de pesquisadores, especialistas, estudiosos que conceituam esse 
fundamento. Destaca-se a conceituação de Trojanowicz e Bucquerox (1994), a 
seguir, devido a sua clarividência de compreensão para a estrutura 
organizacional: 
 
Policiamento Comunitário é uma filosofia e estratégia organizacional que 
proporciona uma nova parceria entre a população e a polícia. Baseia-se 
na premissa de que tanto a polícia quanto a comunidade devem trabalhar 
juntas para identificar, priorizar e resolver problemas contemporâneos 
tais como crime, drogas, medo do crime, desordens físicas e morais, e 
em geral a decadência do bairro, com o objetivo de melhorar a qualidade 
geral da vida na área (TROJANOWICZ e BUCQUEROX, 1994, p. 4). 
 
15 
 
Nota-se que a conceituação envolve o aparato policial e a comunidade 
sendo elementos construtivos da filosofia de policiamento comunitário. Uma não 
subsiste sem a outra. Para que ocorram os resultados aprazíveis às expectativas 
de um ambiente de convivência melhor, necessário se faz a participação ativa da 
comunidade no processo de construção da paz social. 
 Outros pesquisadores, Bondaruk e Souza (2012), perpassam por essas 
premissas, destacando-se a inevitável prestação de serviço da polícia, 
particularmente creditando bons resultados à filosofia de Polícia Comunitária no 
campo da prevenção, integração e a confiança da comunidade, tornando mais 
favorável à segurança: 
 
A confiabilidade e a importância social do trabalho de polícia dependem 
de como as pessoas se sentem atendidas e integradas ao processo de 
prevenção, destarte, o Policiamento Comunitário e o emprego da filosofia 
de Polícia Comunitária, despertam na sociedade uma série de efeitos 
benéficos que geram segurança (BONDARUK; SOUZA, 2012, p. 105). 
 
Na sua afirmativa, Bondaruk e Souza (2012) revelam uma relação de 
empatia, ou seja, um processo psicológico conduzido por mecanismos afetivos, 
cognitivos e comportamentais na relação entre polícia e comunidade. A polícia 
reconhecida pela sua importância e a comunidade atendidas nos seus anseios com 
participação decisiva na plenitude dos bons resultados nas ações integradas para 
inibição da violência e do crime. Assim, a efetividade procedente da percepção do 
cidadão-cliente revela que a sua expectativa foi atendida, mediante uma ação 
programada e planejada que supra os seus desejos, sendo comprovados, pelo 
próprio cliente, os resultados alcançados. 
3.1. Elementos da conceituação 
 
Na Portaria nº 43, de 12/04/2019, da Secretaria Nacional de SegurançaPública (SENASP), publicada no D.O.U., de 18/04/2019, que instituiu as Diretrizes 
Nacionais e o Manual de Polícia Comunitária, foram examinados os elementos 
constitutivos da dita conceituação: 
Filosofia. Pode ser definida como o estudo geral sobre a natureza das coisas 
e suas relações entre si, ou ainda, como uma forma de compreender e pensar sobre 
determinado assunto. É resultado de um conjunto de princípios que representa uma 
maneira de pensar, uma forma de perceber e de se relacionar com a realidade. 
16 
 
 Estratégia. É a arte de usar os meios disponíveis ou as condições que se 
apresentam para atingir determinados objetivos, ou também, forma de fazer, de 
utilizar recursos para atingir certa finalidade. É operacionalizada a partir de um 
processo de planejamento que visa a melhor aplicação dos meios. 
Organizacional. Da organização, podendo se aplicar a qualquer estrutura 
que possua uma função policial, de fiscalização ou de atendimento à comunidade. 
Parceria. É a reunião de duas ou mais pessoas para um fim de interesse 
comum, ou ação de mais de um ator para alcançar um objetivo comum a todos os 
atores sociais. 
Problema. Definido basicamente como uma questão levantada para 
consideração, discussão, decisão ou busca de solução. 
Qualidade de vida. Conjunto de condições ou situações que delineiam o 
viver e o conviver do cidadão na comunidade. Ainda, de acordo com Cerqueira, 
qualquer organismo com uma função policial faz parte, na realidade, da sociedade. 
A estratégia comunitária vê o controle e a prevenção do crime como resultado da 
parceria com outras atividades. Isto significa dizer que os recursos do policiamento, 
articulados com os novos recursos comunitários, são agora os instrumentos 
essenciais para a prevenção do crime; em outras palavras, os membros da 
comunidade assumem seu real papel de cidadãos que atuam junto da polícia para o 
bem comum. 
3.2. Outros conceitos 
 
Outros pesquisadores, Bondaruk e Souza (2012), perpassam por essas 
premissas, destacando-se a inevitável prestação de serviço da polícia, 
particularmente creditando bons resultados à filosofia de Polícia Comunitária no 
campo da prevenção, integração e a confiança da comunidade, tornando mais 
favorável à segurança: 
 
A confiabilidade e a importância social do trabalho de polícia dependem 
de como as pessoas se sentem atendidas e integradas ao processo de 
prevenção, destarte, o Policiamento Comunitário e o emprego da filosofia 
de Polícia Comunitária, despertam na sociedade uma série de efeitos 
benéficos que geram segurança (BONDARUK; SOUZA, 2012, p. 105). 
 
Na sua afirmativa, Bondaruk e Souza (2012) revelam uma relação de 
empatia, ou seja, um processo psicológico conduzido por mecanismos afetivos, 
17 
 
cognitivos e comportamentais na relação entre polícia e comunidade. A polícia 
reconhecida pela sua importância e a comunidade atendidas nos seus anseios 
com participação decisiva na plenitude dos bons resultados nas ações integradas 
para inibição da violência e do crime. Assim, a efetividade procedente da 
percepção do cidadão- cliente revela que a sua expectativa foi atendida, mediante 
uma ação programada e planejada que supra os seus desejos, sendo 
comprovados, pelo próprio cliente, os resultados alcançados. 
No entendimento de Souza (2005, p. 9), “O policiamento comunitário amplia 
o leque de atividades preventivas que vão desde ações de caráter puramente 
assistencial a atividades de caráter preventivo convencional”. Nesse contexto, a 
filosofia de policiamento comunitário praticado pelos profissionais de segurança 
pública é facilmente identificável quanto se percebem as ações de visitas às 
residências, visitas às organizações comerciais, às escolas, ao trabalho com a 
comunidade em iniciativas de curto e longo prazo que visam reduzir os problemas 
e melhoria da qualidade de vida e outros encargos que o policial comunitário 
exercita com a sua comunidade. 
Já David Bayley e Jerome Skolnick (2001), os primeiros estudiosos sobre 
policiamento comunitário nos Estados Unidos, indicam quatro principais 
características desse tipo de policiamento: 1) relação de reciprocidade entre a 
polícia e a população; 2) descentralização do comando por área; 3) reorientação da 
patrulha de modo a engajar a comunidade na prevenção do crime; 4) emprego de 
civis na polícia e no trabalho de policiamento. Ao refinarem essas definições, 
passaram a dar maior ênfase aos seguintes aspectos: 1) trabalho voltado para a 
prevenção do crime com base na comunidade; 2) reorientação das atividades do 
trabalho policial para ênfase aos serviços não-emergenciais; 3) responsabilização 
da polícia em relação à comunidade; 4) descentralização do comando. Mais 
recentemente, entretanto, Bayley (1998) redefiniu seu conceito de policiamento 
comunitário a partir de quatro características fundamentais: 1) realização de 
consultas à população sobre problemas, prioridades e estratégias de resolução; 2) 
estratégia policial voltada para áreas e problemas específicos; 3) mobilização da 
comunidade para autoproteção e para resolução de problemas que geram crimes; 
4) foco das ações na resolução de problemas geradores de crime e desordem 
(prevenção). 
Outra definição, bastante prática, é adotada pela Fundação da Polícia - Police 
18 
 
Foundation, organização voltada para pesquisa e difusão de conhecimento sobre 
temas relacionados à polícia, sediada em Washington DC, Estados Unidos, 
segundo a qual o policiamento comunitário é baseado em três elementos: 1) o 
trabalho da polícia é resolver problemas e não apenas responder a incidentes; 2) a 
polícia deve se preocupar com problemas relacionados à desordem e à incivilidade 
tanto quanto se ocupa com crimes graves; 3) a redução do crime e da desordem 
implica que a polícia trabalhe cooperativamente com a população de cada bairro 
para identificar suas preocupações e resolver seus problemas. 
Na América Latina e Brasil, por sua vez, os autores enfatizam o policiamento 
comunitário como um trabalho realizado em parceria com a população, através da 
prevenção dos crimes. O livro “Policiamento comunitário: como começar? ”, no 
original, “Community policing: how to get started”, de Robert Trojanowicz e Bonnie 
Bucqueroux, um dos primeiros trabalhos estrangeiros traduzidos para o português, 
oferece conceitos e definições mais operacionais a respeito do policiamento 
comunitário. Conceitualmente, policiamento comunitário é definido como filosofia e 
estratégia organizacional que proporcionam uma nova parceria entre a população e 
a polícia, baseada na premissa de que ambos devem trabalhar, conjuntamente, na 
construção da segurança pública. Operacionalmente, definem o policiamento 
comunitário como a filosofia de policiamento adaptado às exigências do público que 
é atendido, em que o policial presta um serviço completo. Isso significa que o 
mesmo policial realiza patrulhas e trabalha em uma mesma área, em uma base 
permanente, atuando em parceria com a população desse entorno. 
Comum a todos os autores é a associação entre policiamento comunitário e 
policiamento orientado para problemas. O que varia é a ênfase que cada autor dá a 
uma ou outra característica em sua definição de policiamento comunitário. Enquanto 
para alguns autores o foco inicial do trabalho é a aproximação da polícia com a 
comunidade de uma determinada área para, a partir disso, identificar os problemas 
e buscar soluções, para outros o processo é inverso. A partir da identificação de 
problemas e da busca de soluções é que ocorre essa aproximação sendo, portanto, 
um trabalho mais orientado para problemas. 
Sherman é o autor que aponta importantes diferenças na origem dos dois 
tipos de policiamento. Apresenta que o policiamento comunitário foi uma resposta à 
crise de legitimidade pela qual passou a polícia norte-americana durante os 
períodos de conflito com grupos minoritários e raciais, na décadade 1960. Em 
19 
 
razão disso, sua ênfase é a reaproximação e o estabelecimento de um novo padrão 
de relacionamento com a comunidade. O policiamento orientado para problemas, 
por sua vez, surge como uma estratégia para superar outra crise na polícia, que 
dizia respeito aos seus resultados. Durante os anos 70 percebeu-se que as formas 
tradicionais de policiamento não estavam sendo eficientes na prevenção do crime. 
O trabalho policial passou então a incorporar atividades para a resolução de 
problemas que tinham relação com o aumento da criminalidade e, dessa forma, 
começou a apresentar resultados positivos. Apesar das diferentes origens, essas 
duas modalidades, quando combinadas, têm melhores resultados do que quando 
aplicadas isoladamente. 
Por fim, é importante salientar que o policiamento comunitário não é apenas 
um conjunto particular de programas operacionais desenvolvidos pela polícia ou 
uma forma de gerir as organizações policiais. É, sobretudo, uma nova filosofia, 
estratégia ou estilo de policiamento que pode ser efetuado de diversas formas, sob 
os mais variados programas e tipos de gestão organizacional, dependendo do 
contexto específico no qual é implementado. 
 
4 PRINCÍPIOS DA POLÍCIA COMUNITÁRIA 
 
Para a implantação da filosofia de Polícia Comunitária é necessário que todos 
na instituição conheçam os seus dez princípios, praticando-os permanentemente e 
com total honestidade de propósitos, pois funcionam como guia ao desenvolvimento 
da política, procedimentos e práticas associadas ao policiamento comunitário. São 
eles (Portaria SENASP nº 43, de 12/04/2019, publicada no D.O.U., de 18/04/2019): 
 
Filosofia e Estratégia Organizacional 
Como a filosofia e a estratégia são da organização, compreende-se que toda a 
Corporação pensa e age da mesma forma, com base na comunidade. No lugar de 
buscar ideias pré-concebidas, a Polícia deve buscar, junto às comunidades, os 
anseios e as preocupações dessas, a fim de traduzi-los em procedimentos de 
segurança, em processos de decisão compartilhados. Com base em uma 
compreensão sistêmica da defesa social e da segurança pública e na gestão 
compartilhada das políticas públicas, as instituições aumentam a sua capacidade de 
responsabilização pela segurança pública e o policial passa a atuar como 
20 
 
planejador, solucionador de problemas e coordenador de reuniões para troca de 
informações com a população. Esse exercício de responsabilidade depende de um 
estilo de administração baseado em valores prévia e claramente estabelecidos, 
fundamentados na responsabilidade social do Estado. Da mesma forma, é 
necessário o estabelecimento de um estilo de processo decisório fundamentado em 
estreita parceria dos órgãos da segurança pública com a comunidade, na 
identificação dos problemas que lhes afetam, na sua discussão compartilhada e na 
busca de soluções conjuntas; 
Comprometimento da Organização de concessão de poder à Comunidade 
Uma vez compreendido o funcionamento do Estado Democrático de Direito, 
fica claro que o país vive uma situação em que as normas que regulam o convívio 
são definidas pela maioria da população por meio de representantes eleitos. Como 
a Constituição Federal prevê, no art. 144, que a segurança pública é dever do 
Estado, direito e responsabilidade de todos, e é a própria Constituição Federal, 
vontade do povo brasileiro, que define as funções das instituições de segurança 
pública, é inequívoco o raciocínio de que, na realidade, o povo é que outorga 
autoridade à Polícia. Logo, dentro da comunidade, os cidadãos têm o direito e a 
responsabilidade de participarem, como plenos parceiros da Polícia, na 
identificação, priorização e solução dos problemas afetos à mesma comunidade; 
Policiamento Descentralizado e Personalizado 
Para que a Polícia Comunitária exista e funcione adequadamente, é 
fundamental uma descentralização da estrutura dos órgãos de segurança pública, 
de forma a possibilitar a integração e interação entre eles e a comunidade. É 
necessário, ainda, um policial plenamente envolvido com a comunidade, presente e 
conhecido pela mesma e conhecedor de suas realidades, o que traduzir-se-á na 
agilidade nas respostas de qualidade às necessidades de proteção e socorro da 
comunidade. Evidente, ainda que esta atuação seja beneficiada pelo emprego do 
policiamento no processo a pé, mais próximo e em contato mais estreito com as 
pessoas; 
Resolução Preventiva de Problemas a curto e a longo prazo 
Entende-se como prioritária a atuação preventiva da Polícia como atenuante 
de seu emprego repressivo, fortalecendo a ideia de que o policial não precise ser 
acionado pelo rádio, mas que se antecipe à ocorrência. Com isso, o número de 
21 
 
chamadas das centrais de emergência tende a diminuir, facilitando a resposta ao 
maior número possível de acionamentos, tendentes à sua totalidade; 
Ética, Legalidade, Responsabilidade e Confiança 
A prática da Polícia Comunitária pressupõe um novo contrato entre a polícia e 
os cidadãos aos quais ela atende, com base no rigor do respeito à ética policial, da 
legalidade dos procedimentos, da responsabilidade e da confiança mútua que 
devem existir. Esta sensação é fortalecida sobremaneira pela transparência das 
atividades desempenhadas pela polícia, de forma a permitir um maior controle pela 
população, o que é seu direito por definição. 
Extensão do Mandato Policial 
O policial passa a ampliar sua atuação, auxiliando a comunidade a solucionar 
problemas que afligem a qualidade de vida local e que, numa visão tradicional, não 
seriam “problemas de polícia”. Cada policial passa, então, a atuar como um chefe 
de polícia local, com autonomia e liberdade para tomar iniciativa, dentro de 
parâmetros rígidos de responsabilidade. Para que o policial assuma tal 
responsabilidade é preciso que se pergunte: 
- Isto está correto para a comunidade? 
- Isto está correto para a segurança da minha região? 
- Isto é ético e legal? 
- Isto é algo que estou disposto a me responsabilizar? 
- Isto é condizente com os valores da Instituição? 
Se a resposta for “SIM” a todas essas perguntas, a possibilidade de êxito 
cresce de forma expressiva. 
Ajuda às pessoas com Necessidades Específicas 
Valorização da vida de pessoas mais vulneráveis: jovens, idosos, minorias, 
pobres, pessoas com deficiência, entre outros. Esse deve ser um compromisso 
inalienável do policial. O ponto de partida é o conceito de justiça e de segurança 
como sinônimo de equidade: é justa a sociedade em que todos os membros 
desfrutem de modo pleno e igual, de um conjunto de liberdades fundamentais 
claramente especificadas - os direitos humanos sem discriminação e no grau 
máximo compatível com as liberdades alheias. 
Criatividade e apoio básico 
Os gestores, nos diversos níveis hierárquicos da instituição, devem exercitar a 
confiança nos profissionais que estão na linha de frente da atuação policial, 
22 
 
acreditar no seu discernimento, sabedoria, experiência e, sobretudo, na formação 
que recebeu. Tal ambiente propiciará abordagens mais criativas para os problemas 
contemporâneos da comunidade por meio da investidura de autoridade decisória, de 
fato e de direito, nos profissionais de segurança pública que atuam em interface 
direta com a comunidade. 
Mudança interna 
O exercício da Polícia Comunitária exige uma abordagem plenamente 
integrada, envolvendo toda a organização. São fundamentais a atualização e o 
aprimoramento de seus cursos e respectivos currículos, bem como de todos os seus 
quadros de pessoal, materializando um projeto de mudanças para curto, médio e 
longo prazo. 
Construção do Futuro 
Deve-se oferecer à comunidade um serviço policial descentralizado e personalizado, 
com endereço certo. A ordem não deve ser imposta de fora para dentro, mas as pessoas 
devem ser encorajadas a pensar na polícia como um serviço a ser utilizado para ajudá-las a 
resolver problemas atuaisde sua comunidade, criando um ambiente propício para o exercício 
pleno da cidadania. Quando a comunidade é composta por verdadeiros cidadãos, o equilíbrio 
entre os direitos e deveres é natural e o funcionamento desta comunidade tende a se 
aproximar do ideal. 
 
5 O QUE NÃO É POLICIAMENTO COMUNITÁRIO 
 
Na praticidade da filosofia de Polícia Comunitária ou agente de segurança 
pública começa a perceber que há distorções que deveriam ser evitadas, pois 
quando se desconhece ou não se prática a dita filosofia é comum se afirmar que 
esta nova forma de pensar e agir como polícia estaria na classificação errônea de 
uma “polícia light”, ou de uma “polícia assistencialista” ou mesmo de uma “polícia 
impedida de agir”. Na verdade, Polícia Comunitária é uma forma inteligente, 
estratégica e profissional de atuação diante das problemáticas de segurança pública 
numa época em que a tecnologia, qualidade no serviço e o adequado preparo são 
exigidos em qualquer ramo profissional. Entretanto, no nosso cotidiano policial 
militar há resistências e desconhecimento. Robert Trojanowicz no livro “Policiamento 
Comunitário: Como Começar”, procura mostrar as interpretações errôneas sobre o 
que não é Policiamento Comunitário: 
23 
 
1. Policiamento Comunitário não é uma tática, nem um programa e nem 
uma técnica: não é um esforço limitado para ser tentado e depois abandonado, e 
sim um novo modo de oferecer o serviço policial à comunidade; 
2. Policiamento Comunitário não é apenas relações públicas: a melhoria 
das relações com a comunidade é necessária, porém não é o objetivo principal, pois 
apenas o “QSA” (significa intensidade do sinal em comunicações conforme código 
Q) não é suficiente para demonstrar a comunidade seriedade, técnica e 
profissionalismo. Com o tempo os interesseiros ou os “QSA 5” são desmascarados 
e passam a ser criticados fortemente pela sociedade. É preciso, portanto, ser 
honesto, transparente e sincero nos seus atos. 
3. Policiamento Comunitário não é anti-tecnologia: o policiamento 
comunitário pode se beneficiar de novas tecnologias que podem auxiliar a melhora 
do serviço e a segurança dos policiais. Computadores, celulares, sistemas de 
monitoramento, veículos com computadores, além de armamento moderno 
(inclusive não letal) e coletes protetores fazem parte da relação de equipamentos 
disponíveis e utilizáveis pelo policial comunitário. Aquela ideia do policial 
comunitário “desarmado” é pura mentira, pois até no Japão e Canadá os policiais 
andam armados com equipamentos de ponta. No caso brasileiro a nossa tecnologia 
muitas vezes é adaptada, ou seja, trabalhos muito mais com criatividade do que 
com tecnologia. Isto com certeza favorece o reconhecimento da comunidade local. 
4. Policiamento Comunitário não é condescendente com o Crime: os 
policiais comunitários respondem às chamadas e fazem prisões como quaisquer 
outros policiais: são enérgicos e agem dentro da lei com os marginais e os 
agressores da sociedade. Contudo atuam próximos a sociedade orientando o 
cidadão de bem, os jovens e buscam estabelecer ações preventivas que busquem 
melhorar a qualidade de vida no local onde trabalham. Parece utópico, mas 
inúmeros policiais já vêm adotando o comportamento preventivo com resultados 
excepcionais. Outro ponto importante é que como está próximo da comunidade, o 
policial comunitário também é uma fonte de informações para a polícia de 
investigação (Polícia Civil) e para as forças táticas, quando forem necessárias ações 
repressivas ou de estabelecimento da ordem pública. 
5. Policiamento Comunitário não é espalhafatoso e nem camisa “10”: 
as ações dramáticas narradas na mídia não podem fazer parte do dia a dia do 
policial comunitário. Ele deve ser humilde e sincero nos seus propósitos. Nada pode 
24 
 
ser feito para aparecer ou se sobressair sobre seus colegas de profissão. Ao 
contrário, ele deve contribuir com o trabalho de seus companheiros, seja ele do 
motorizado, a pé, trânsito, bombeiro, civil, etc. O Policiamento Comunitário deve ser 
uma referência a todos, polícia ou comunidade. Afinal, ninguém gosta de ser tratado 
por um médico desconhecido, ou levar seu carro em um mecânico estranho. 
6. Policiamento Comunitário não é paternalista: não privilegia os mais 
ricos ou os “mais amigos da polícia”, mas procura dar um senso de justiça e 
transparência à ação policial. Nas situações impróprias deverá estar sempre ao lado 
da justiça, da lei e dos interesses da comunidade. Deve sempre priorizar o coletivo 
em detrimento dos interesses pessoais de alguns membros da comunidade local. 
7. Policiamento Comunitário não é uma modalidade ou uma ação 
especializada isolada dentro da Instituição: os policiais comunitários não devem 
ser exceção dentro da organização policial, mas integrados e participantes de todos 
os processos desenvolvidos na unidade. São parte sim de uma grande estratégia 
organizacional, sendo uma importante referência para todas as ações desenvolvidas 
pela Polícia Militar. O perfil desse profissional é também o de aproximação e 
paciência, com capacidade de ouvir, orientar e participar das decisões comunitárias, 
sem perder a qualidade de policial militar forjado para servir e proteger a sociedade. 
8. Policiamento Comunitário não é uma Perfumaria: o policial comunitário 
lida com os principais problemas locais: drogas, roubos e crimes graves que afetam 
diretamente a sensação de segurança. Portanto seu principal papel, além de 
melhorar a imagem da polícia, é o de ser um interlocutor da solução de problemas, 
inclusive participando do encaminhamento de problemas que podem interferir 
diretamente na melhoria do serviço policial (uma rua mal iluminada, horário de saída 
de estudantes diferenciado, etc.). 
9. Policiamento comunitário não pode ser um enfoque de cima para 
baixo: as iniciativas do policiamento comunitário começam com o policial de 
serviço. Assim admite-se compartilhar poder e autoridade com o subordinado, pois 
no seu ambiente de trabalho ele deve ser respeitado pela sua competência e 
conhecimento. Contudo, o policial comunitário também adquire mais 
responsabilidade já que seus atos serão prestigiados ou cobrados pela comunidade 
e seus superiores. 
 
10. Policiamento Comunitário não é uma fórmula mágica ou panaceia: o 
25 
 
policiamento comunitário não pode ser visto como a solução para os problemas de 
insegurança pública, mas uma forma de facilitar a aproximação da comunidade 
favorecendo a participação e demonstrando a sociedade que grande parte da 
solução dos problemas de insegurança depende da própria sociedade. Sabemos 
que a filosofia de Polícia Comunitária não pode ser imediatista, pois depende da 
reeducação da polícia e dos próprios cidadãos que devem ver a polícia como uma 
instituição que participa do dia a dia coletivo e não simples guardas patrimoniais ou 
“cães de guarda”. 
11. O Policiamento Comunitário não deve favorecer ricos e poderosos: a 
participação social da polícia deve ser em qualquer nível social: os mais carentes, 
os mais humildes, que residem em periferia ou em áreas menos nobres. Talvez 
nestas localidades é que está o grande desafio da Polícia Comunitária. Com certeza 
os mais ricos e poderosos têm mais facilidade em ter segurança particular. 
12. Policiamento Comunitário não é uma simples edificação: construir ou 
reformar prédios da Polícia não significa implantação de Polícia Comunitária. A 
Polícia Comunitária depende diretamente do profissional que acredita e pratica esta 
filosofia muitas vezes com recursos mínimos e em comunidades carentes. 
13. Policiamento Comunitário não pode ser interpretado como um 
instrumento político-partidário, mas uma estratégia da Corporação: muitos 
acham que acabou o Governo “acabou a moda”, pois vem outro governante e cria 
outra coisa. Talvez isto seja próprio de organizações não tradicionais ou 
temporárias. A PolíciaComunitária além de filosofia é também um tipo de ideologia 
policial aplicada em todo o mundo, inclusive em países pobres com características 
semelhantes às do Brasil. 
A natureza do policial sempre foi comunitária. Nascida entre o final do séc. 
19 e início do séc. 20 com o objetivo de proteger o cidadão de bem dos malfeitores, 
anos depois, ao final deste mesmo século, busca-se este retorno às origens. 
 
 
6 PRINCÍPIOS DO POLICIAMENTO COMUNITÁRIO PARA IMPLANTAÇÃO 
 
Para que o policiamento comunitário seja implantado, é imprescindível que o 
modelo se amolde às características que o define universalmente. Os Princípios 
aqui apontados estabelecem os parâmetros que garantam o sucesso do desafio a 
ser enfrentado: 
26 
 
1. Redefinição estratégica - O policiamento comunitário não é mais um 
modelo de policiamento implantado na organização policial ou em uma área 
definida, trata-se, na verdade, de uma nova maneira de pensar Segurança Pública, 
que envolve todo o efetivo policial, independentemente do posto de serviço. A nova 
maneira de pensar exige uma transformação da metodologia aplicada, que 
atualmente privilegia as técnicas reativas e o isolamento do policial militar em 
relação às pessoas em razão do uso da radiopatrulha. 
2. Comprometimento - O policiamento comunitário exige o engajamento de 
todo efetivo policial militar da Organização Policial Militar (OPM) e dos cidadãos na 
resolução de problemas da comunidade. Enquanto os policiais militares 
desenvolvem atividades proativas de segurança pública, a comunidade se mobiliza 
para auxiliar a polícia como agente de segurança e, através de liderança, na 
resolução de problemas, através do acionamento de órgãos públicos ou dos 
próprios munícipes. 
3. Policiamento gerencial - O modelo gerencial também atinge a Segurança 
Pública e encontra no policiamento comunitário o modelo adequado. O modelo 
gerencial descentraliza a decisão e busca responder ao anseio do cidadão, na 
condição de cliente. 
4. Parceria - Os cidadãos devem participar como parceiros da polícia na 
resolução dos problemas e na prevenção da violência e criminalidade. Portanto, 
deve-se construir uma parceria que quebre o isolamento que o radiopatrulhamento 
instiga, de modo que os policiais possam manter contato diário e direto com as 
pessoas da comunidade para solidificar uma parceria de sucesso. 
5. Confiabilidade - O policiamento comunitário sugere um novo 
relacionamento entre a comunidade e a Polícia Militar, baseado na ética e respeito 
mútuo. A confiança que a Polícia Militar conquistará ante a comunidade será 
consequência de um relacionamento ético e fiel em que os sucessos e fracassos 
também sejam compartilhados. 
6. Setorização - O policiamento comunitário exige a delimitação de uma área 
geográfica e a permanência de policiais militares para que possam ter a 
oportunidade de desenvolver uma nova parceria e conhecer as características do 
setor. A descentralização havida sobre a área geográfica deve ser compatível à 
menor fração de policiamento, que é a guarnição de RP. A permanência dos 
mesmos policiais militares que patrulham uma mesma área propicia um ganho 
27 
 
considerável na eficiência em razão da oportunidade de captação de informações 
que poderá subsidiar as decisões descentralizadas. 
 
 
7 DIFERENÇAS: POLÍCIA TRADICIONAL E POLÍCIA COMUNITÁRIA 
 
Os aspectos funcionais da polícia comunitária necessitam de uma estrutura 
organizacional diferenciada da polícia tradicional, pois a premissa central da filosofia 
de polícia de proximidade no tocante o trabalho de polícia estar justamente na 
parceria com a comunidade. Já o modelo tradicional caracteriza-se pela ação 
centralizadora e distante do cidadão. 
Desde 1930 o policiamento tradicional ou policiamento profissional de 
combate à criminalidade é a estratégia de policiamento moderno, tendo como 
característica principal o foco direto sobre o controle do crime como sendo a missão 
central exclusiva da polícia. Assim, a relação desses policiais com os cidadãos na 
maioria das vezes se limita às situações pontuais tensas e adversas, gerando 
desconfiança, conflitos acirrados e preconceitos. 
É nesse diapasão que se observa algumas diferenças entre a concepção de 
polícia tradicional e da polícia comunitária: 
 
7.1 Polícia Tradicional 
* A polícia é uma agência governamental responsável, principalmente, pelo 
cumprimento da lei; 
* Na relação entre a polícia e as demais instituições de serviço público, as 
prioridades são muitas vezes conflitantes; 
* O papel da polícia é preocupar-se com a resolução do crime; 
* As prioridades são, por exemplo, roubo a banco, homicídios e todos 
aqueles envolvendo violência; 
* A polícia se ocupa mais com os incidentes; 
* O que determina a eficiência da polícia é o tempo de resposta; 
* O profissionalismo policial se caracteriza pelas respostas rápidas aos 
crimes sérios; 
* A função do comando é prover os regulamentos e as determinações 
que devam ser cumpridas pelos policiais; 
* As informações mais importantes são aquelas relacionadas a certos crimes 
28 
 
em particular; 
* O policial trabalha voltado unicamente para a marginalidade de sua área, 
que representa no máximo 2 % da população residente ali onde “todos são 
inimigos, marginais até prova em contrário”; 
* O policial é o do serviço; 
* Emprego da força como técnica de resolução de problemas; 
* Presta contas somente ao seu superior; 
* As patrulhas são distribuídas conforme o pico de ocorrências. 
 
 7.2 Polícia Comunitária 
* A polícia é o público e o público é a polícia: os policiais são aqueles 
membros da população que são pagos para dar atenção em tempo integral às 
obrigações dos cidadãos; 
* Na relação com as demais instituições de serviço público, a polícia é 
apenas uma das instituições governamentais responsáveis pela qualidade de vida 
da comunidade; 
* O papel da polícia é dar um enfoque mais amplo visando à resolução de 
problemas, principalmente por meio da prevenção; 
* A eficácia da polícia é medida pela ausência de crime e de desordem; 
* As prioridades são quaisquer problemas que estejam afligindo a 
comunidade; 
* A polícia se ocupa mais com os problemas e as preocupações dos 
cidadãos; 
* O que determina a eficácia da polícia são o apoio e a cooperação do 
público; 
* O profissionalismo policial se caracteriza pelo estreito relacionamento com a 
comunidade; 
* A função do comando é incutir valores institucionais; 
* As informações mais importantes são aquelas relacionadas com as 
atividades delituosas de indivíduos ou grupos; 
* O policial trabalha voltado para os 98% da comunidade devem ser tratados 
como cidadãos e clientes da organização policial; 
* O policial emprega a energia e eficiência, dentro da lei, na solução dos 
problemas com a marginalidade, que no máximo chega a 2% dos moradores de sua 
29 
 
localidade de trabalho; 
* O policial presta contas de seu trabalho ao superior e à comunidade; 
* As patrulhas são distribuídas conforme a necessidade de segurança da 
comunidade; 
* O policial é da área. 
 
8 OBJETIVOS DA POLÍCIA COMUNITÁRIA 
 
A Polícia Comunitária visa à participação social, ou seja, o envolvimento de 
todos os cidadãos que residem, estudem ou trabalham na comunidade e que 
possam, voluntariamente, auxiliar a instituição policial na busca de soluções que 
atuem sobre as causas da violência e da criminalidade, proporcionando desta 
forma mais segurança e uma maior qualidade de vida. Assim, destacam-se: 
 
Prevenir o crime 
A essência da segurança pública é a prevenção do crime e o que busca o 
policiamento comunitário quando insere os policiais militares do quadrante no 
processo de resolução de problemas. É bom lembrar que os problemas na 
segurança pública tem origem nas causas sociais. As atividades proativas, na 
verdade, são aquelas voltadas ao combate às causas daviolência e da 
criminalidade, que já foram tratadas como “ações extraoficiais realizadas pela 
policia, universalmente designadas como peace officers (oficial de polícia)”. No 
entanto, as ações policiais de caráter preventivas também englobam a categoria de 
proativas porque figuram como serviço público e não uso do poder de polícia 
exclusivamente. 
 
Aprimorar a relação entre a comunidade e a polícia 
O policiamento comunitário tem um caráter democrático porque alcança as 
minorias e busca atendê-las na satisfação das suas necessidades. A prestação de 
serviços, como produto, possui uma característica própria que é o consumo do 
produto no momento da consecução, o que exige a aproximação do produtor ao 
consumidor. Por outro lado, a prevenção do crime será mais eficiente com a 
contribuição do cidadão. Independentemente da redução da violência é finalidade 
do policiamento comunitário melhorar o relacionamento entre a Polícia Militar e a 
30 
 
comunidade. 
 
Resolver problemas comunitários 
O policiamento comunitário deve utilizar a criatividade de seus policiais para a 
resolução de problemas diversos que incomodam a comunidade. O processo de 
resolução de problemas implica, primeiramente, na análise das informações 
contidas nos relatórios para a identificação desses processos. Muitos problemas, 
após identificados, podem ser solucionados com a intervenção policial com 
medidas proativas, bem como podem ser combatidos com mudança de 
comportamento das pessoas, a partir da mobilização comunitária ou com 
acionamento de outros órgãos públicos. 
 
9 POLÍCIA COMUNITÁRIA – EXPERIÊNCIAS INTERNACIONAIS 
 
A discussão de novos modelos para emprego operacional e jurídico das 
polícias mundiais é global. Inúmeros países têm-se mostrado insatisfeitos com as 
metodologias adotadas pelas suas instituições, fazendo com que aumente a 
discussão em todo o mundo. 
Um dos temas mais atuais, o policiamento comunitário, tem mostrado a 
grande possibilidade de ampliar essa discussão, pois aproxima a comunidade das 
questões de segurança pública. 
Para efeito de estudos, foram analisadas as experiências nos Estados Unidos 
da América. Canadá, Japão e a introdução da Polícia de Proximidade nos países 
latinos da Europa, mormente Espanha e França, além da província canadense de 
Quebec e as experiências de alguns países da América do Sul. 
 
1.1. Os EUA 
 Com base em estudos realizados recentemente, verificou-se que com o 
advento do automóvel, o policial foi se afastando paulatinamente de um convívio 
mais estreito com as pessoas. Abrigado contra intempéries, patrulhando 
ligeiramente ruas e logradouros, sem observar detalhes e sem colher in formações 
preciosas, o policial passou muito mais a reprimir do que a prevenir delitos. Assim, a 
ação policial estava vinculada ao atendimento rápido (tempo-resposta). Em diversas 
experiências realizadas em cidades americanas, constatou-se que o aumento ou 
31 
 
diminuição dos recursos policiais, tanto humanos quanto tecnológicos, não 
influenciava decisivamente na queda dos índices de criminalidade e mesmo na 
melhora da sensação de segurança pela população. A técnica criada na década de 
70, conhecida como tempo resposta (tempo que uma patrulha, depois de acionada 
pelo rádio, demorava para chegar ao local do fato), mostrou-se insuficiente para 
prevenir a criminalidade, determinando, ao contrário, um aumento no número de 
ocorrências atendidas pela polícia. 
Assim, mesmo sendo um país adiantado e rico, os EUA levaram cerca de 40 
anos para se aperceberem das necessidades de mudanças, pois a polícia era vista 
também como um dos principais instrumentos políticos do Governo. 
A partir de 1992 com os fatos havidos em Los Angeles, em virtude da 
excessiva violência policial, e a alta corrupção das Polícias, com destaque para 
Nova Iorque, o governo Bill Clinton, destinou recursos anuais da ordem de US$ 8 
bilhões, voltados ao treinamento, tecnologia e aproximação da comunidade, no 
programa chamado de Policiamento Comunitário. Criou um organismo denominado 
COPS – Community Oriented Police Services, vinculado ao Departamento de 
Justiça, com a missão de reformular as polícias estaduais e municipais, introduzindo 
programas comunitários, motivando a participação do cidadão e estimulando a 
valorização do serviço policial. 
Os principais programas comunitários desenvolvidos nos E.U.A foram: 
- Tolerância Zero – programa desenvolvido dentro do critério de que 
qualquer delito (de menor ou maior potencial ofensivo) deve ser coibido com o rigor 
da lei”. Não apenas os delitos, mas as infrações de trânsito e atos antissociais como 
embriaguez, pichações, comportamentos de morado res de rua, etc. 
O programa exigiu a participação integrada de todos os órgãos públicos 
locais, fiscalizados pela comunidade. Não foi uma ação apenas da polícia. A cidade 
que implementou este programa com destaque foi Nova Iorque que, devido o 
excepcional gerenciamento reduziu quase 70% a criminalidade na cidade. 
Broken Windows Program – baseado na Teoria da Janela Quebrada, de 
George Kelling – O programa estabelece como ponto crucial a recuperação e 
estruturação de áreas comuns, comunitárias, ou mesmo a comunidade assumir o 
seu papel de recuperação social. Um prédio público preservado, o apoio para 
recuperação de um jovem drogado são mecanismos fortes de integração e 
participação comunitária. É a confirmação da teoria de Robert Putnam (engajamento 
32 
 
cívico). Este programa também preconiza formas de prevenção criminal, 
reeducando a comunidade. Quanto à Teoria da Janela Quebrada apregoa tal 
teoria que, se não forem reprimidos os pequenos delitos ou contravenções 
conduzem, inevitavelmente, a condutas criminosas mais graves, em vista do 
descaso estatal em punir os responsáveis pelos crimes menos graves. Torna-se 
necessária, então, a efetiva atuação estatal no combate à criminalidade, seja ela a 
microcriminalidade ou a macrocriminalidade: 
 
Há alguns anos, a Universidade de Stanford (EUA), realizou uma 
interessante experiência de psicologia social. Deixou dois carros 
idênticos, da mesma marca, modelo e cor, abandonados na rua. Um no 
Bronx, zona pobre e conflituosa de Nova York e o outro em Palo Alto, 
zona rica e tranquila da Califórnia. Dois carros idênticos abandonados, 
dois bairros com populações muito diferentes e uma equipe de 
especialistas em psicologia social estudando as condutas das pessoas 
em cada local. Resultado: o carro abandonado no Bronx começou a ser 
vandalizado em poucas horas. As rodas foram roubadas, depois o 
motor, os espelhos, o rádio, etc. Levaram tudo o que fosse aproveitável 
e aquilo que não puderam levar, destruíram. Contrariamente, o carro 
abandonado em Palo Alto manteve-se intacto. A experiência não 
terminou aí. Quando o carro abandonado no Bronx já estava desfeito e o 
de Palo Alto estava há uma semana impecável, os pesquisadores 
quebraram um vidro do automóvel de Palo Alto. Resultado: logo a seguir 
foi desencadeado o mesmo processo ocorrido no Bronx. Roubo, 
violência e vandalismo reduziram o veículo à mesma situação daquele 
deixado no bairro pobre. Por que o vidro quebrado na viatura 
abandonada num bairro supostamente seguro foi capaz de desencadear 
todo um processo delituoso? Evidentemente, não foi devido à pobreza. 
Trata-se de algo que tem a ver com a psicologia humana e com as 
relações sociais.Um vidro quebrado numa viatura abandonada transmite 
uma ideia de deterioração, de desinteresse, de despreocupação. Faz 
quebrar os códigos de convivência, faz supor que a lei encontra-se 
ausente, que naquele lugar não existem normas ou regras. Um vidro 
quebrado induz ao "vale-tudo". Cada novo ataque depredador reafirma e 
multiplica essa ideia, até que a escalada de atos cada vez piores torna-
se incontrolável, desembocando numa violência irracional. 
Baseada nessa experiência e em outras análogas foi desenvolvida a 
"Teoria das JanelasQuebradas". Sua conclusão é que o delito é maior 
nas zonas onde o descuido, a sujeira, a desordem e o maltrato são 
maiores. Se por alguma razão racha o vidro de uma janela de um 
edifício e ninguém o repara, muito rapidamente estarão quebrados todos 
os demais. Se uma comunidade exibe sinais de deterioração, e esse 
fato parece não importar a ninguém, isso fatalmente será fator de 
geração de delitos. (LUIZ PELLEGRINI, 2014). 
Policing Oriented Problem Solving – O Policiamento Orientado ao 
Problema é mais um meio de engajamento social. A premissa baseia-se no 
conceito de que a polícia deixa de reagir ao crime (crime fighting policing) e passa a 
mobilizar os seus recursos e esforços na busca de respostas preventivas para os 
33 
 
problemas locais (problem-oriented policing); ao invés de reagir contra incidentes, 
isto é, aos sintomas dos problemas, a polícia passa a trabalhar para a solução dos 
próprios problemas. A noção do que constitui um problema desde uma perspectiva 
policial expande-se consideravelmente para abranger o incrível leque de distúrbios 
que levam o cidadão a evocar a presença policial. A expectativa é de que ao 
contribuir para o encaminhamento de soluções aos problemas, a polícia atrairá a 
boa vontade e a cooperação dos cidadãos, além de contribuir para eliminar 
condições propiciadoras de sensação de insegurança, desordem e criminalidade. 
 
 1.2. Canadá 
A Polícia Comunitária no Canadá teve seus primeiros passos há 
aproximadamente 20 anos, quando o descrédito na instituição policial obrigou as 
autoridades e a população a adotarem providências para a reversão do quadro de 
insatisfação. 
A implantação durou 8 anos e demandou medidas de natureza administrativa, 
operacional, mas principalmente a mudança na filosofia de trabalho com nova 
educação de todos os policiais. 
As cidades são divididas em distritos policiais e os distritos em peque nas 
vizinhanças. Transmite-se à população a ideia de que a polícia está sempre perto. 
Em muitos bairros o policial circula de bicicleta. 
O Policial deve conhecer as pessoas e todos os problemas do bairro. A 
população e as empresas fazem parceria com a Polícia, doam prédios e 
equipamentos, fora o aperfeiçoamento dos serviços. A divisão territorial está ligada 
a questões geográficas e aos tipos de crimes em determinadas regiões. Quando 
uma modalidade criminosa chama a atenção, os policiais fazem curso a res peito e 
são treinados a enfrentar e solucionar os problemas resultantes da ação criminosa 
detectada. Na sua ronda o policial visita casa e empresas e demonstra estar 
trabalhando por prazer. Quando um problema é identificado, o município, a 
população e a polícia se unem para solucioná-lo imediatamente. Exemplo: em um 
bairro notou-se que os orelhões (telefones) tradicionais, serviam para esconder 
drogas. A população informou a polícia e em menos de 30 dias todas as cabinas 
telefônicas foram envidraçado ficando transparente o que impedia a ocultação das 
drogas. Outras providências que demonstram a participação da população referem-
se a iluminação de praças e ruas para evitar ambientes que favorecem o crime. 
34 
 
 
 1.3. Japão 
Possuindo características de um Estado moderno, com um alto grau de 
participação social, muito diferente do modelo brasileiro, o Japão possui um sistema 
de policiamento fardado baseado na estrutura da Polícia Nacional Japonesa. 
Desenvolve um dos processos mais antigos de policiamento comunitário no mundo 
(criado em 1874), montado numa ampla rede de postos policiais, num total de 
15.000 em todo o país, denominados Kobans e Chuzaishos. 
Para se ter uma avaliação da importância dada ao sistema de policiamento 
comunitário fardado no Japão, a partir de 1998 o efetivo policial passou a contar 
com 263.600 pessoas , sendo: 
* Agência Nacional de Polícia com 7.600 pessoas (1.400 policiais; 900 
Guardas Imperiais e 5.300 funcionários civis). 
* 47 Províncias (como se fossem Estados) com 256.000 pessoas 
(226.000 policiais e 30.000 funcionários civis). 
Dos 226.000 policiais, cerca de 40% estão destinados ao policiamento 
comunitário fardado, sendo que, destes, 65% estão prestando serviços nos Kobans 
e Chuzaishos, 20% no policiamento motorizado e 15% no serviço administrativo do 
Sistema, incluindo o staff de comando, sistema de atendimento e despacho de 
viaturas para ocorrências e comunicação como um todo. 
O Policial japonês através de suas atitudes demonstra claramente sua 
formação cultural, ou seja, extremamente educado, polido e disciplinado, cumprindo 
integralmente suas obrigações com determinação e zelo. Possuindo, no mínimo, 
formação de 2º grau e até mesmo universitária, sentindo-se perfeitamente à vontade 
quando da utilização dos mais avançados recursos tecnológicos, na área de 
comunicações e informática, o que aliado a sua formação técnica policial lhe 
possibilita alcançar resultados positivos em seu serviço, agindo na maior parte das 
vezes isoladamente. 
O Policiamento Comunitário é o centro das atividades policiais de segurança 
no Japão. Como já foi exposto 40% do efetivo da polícia é destinado ao 
Policiamento Comunitário. Os outros 60% estão exercendo suas funções em 
atividades administrativas, investigações criminais, segurança interna, escolas, 
bombeiros, trânsito, informações e comunicações, bem como para a Guarda 
Imperial. 
35 
 
A importância dada ao Policiamento Comunitário pela Polícia Japonesa a 
qual é seguida à risca se deve a algumas premissas tidas como imprescindíveis: 
 A impossibilidade de investigar todos os crimes pressupõe um 
investimento de recursos na prevenção de crimes e acidentes, para aumentar a 
confiança da população nas leis e na polícia. 
 Impedir o acontecimento de crimes e acidentes é muito mais importante do 
que prender criminosos e socorrer vítimas acidentadas. 
 A polícia deve ser levada onde está o problema, para manter uma resposta 
imediata e efetiva aos incidentes criminosos individuais e às emergências, com o 
objetivo de explorar novas iniciativas preventivas, visando à resolução do problema 
antes que eles ocorram ou se tornem graves. Para tanto descentralizar é a solução, 
sendo que os maiores e melhores recursos da polícia devem estar alocados na linha 
de frente dos acontecimentos. 
 As atividades junto às diversas comunidades e o estreitamento de relações 
polícia e comunidade, além de incutir no policial a certeza de ser um “mini-chefe” de 
polícia descentralizado em patrulhamento constante, gozando de autonomia e 
liberdade de trabalhar como solucionador dos problemas da comunidade, também é 
a garantia de segurança e paz para a comunidade e para o seu próprio trabalho. 
Seguindo estas ideias básicas, a Polícia Japonesa descentralizou 
territorialmente sua bases de segurança em mais de 15.000 bases comunitárias de 
segurança, denominados Koban ou Chuzaisho, funcionando nas 24 horas do dia. 
Os Kobans e os Chuzaishos são construídos pelas prefeituras das cidades 
onde estão localizados, responsabilizando-se também pela manutenção do prédio, 
pagamento da água, luz, gás, etc. O critério para sua instalação e localização é 
puramente técnico e é estabelecido pela Polícia de tal forma que garanta o 
atendimento cuidadoso e atencioso às pessoas que procurem a polícia. Estes 
postos policiais (Kobans e Chuzaishos) estão subordinados aos “Police Stations”. 
No Chuzaishos o policial é instalado numa casa, juntamente com sua 
família. Esta casa, fornecida pela Prefeitura, é considerada um posto policial, 
existindo mais de 8.500 em todo o Japão; cada Chuzaisho está vinculado 
diretamente a um “Police Station” (Cia) do distrito policial onde atua. O policial 
trabalha no horário de expediente, executando suas rondas fardados. Na ausência 
do policial, sua esposa auxiliará em suas atividades, atendendo ao rádio, telefone, 
36 
 
telex e as pessoas, sem que, para isso, seja considerada funcionária do Estado,

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