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discursivas e linguagem expositiva próprias, tomando-as de Hegel e
de Feuerbach. Do primeiro, os giros dialéticos e a concepção teleológica
da história humana. Do segundo, o humanismo naturista. A novidade
residia na introdução de um terceiro componente, que seria o fator
mais dinâmico da evolução do pensamento do autor: a idéia do comu-
nismo e do papel do proletariado na luta de classes.
O passo seguinte dessa evolução foi assinalado por um conjunto
de escritos em fase inicial de elaboração, que deveriam resultar, ao
que parece, em vasto ensaio. Este ficou só em projeto e Marx nunca
fez nenhuma alusão aos textos que, sob o título de Manuscritos Eco-
nômico-Filosóficos de 1844, teriam publicação somente em 1932, na
União Soviética.
Sob o aspecto filosófico, tais textos contêm uma crítica incisiva do
idealismo hegeliano, ao qual se contrapõe a concepção materialista ainda
nitidamente influenciada pela antropologia naturista de Feuerbach. Mas,
ao contrário deste último, Marx reteve de Hegel o princípio dialético e
começou a elaborá-lo no sentido da criação da dialética materialista.
Sob o aspecto das questões econômicas, os Manuscritos reprodu-
zem longas citações de vários autores, sobretudo, Smith, Say e Ricardo,
acerca das quais são montados comentários e dissertações. No essencial,
Marx seguiu a linha diretriz do Esboço de Engels e rejeitou a teoria
do valor-trabalho, considerando-a inadequada para fundamentar a ciên-
cia da Economia Política. A situação do proletariado, que representa
o grau final de desapossamento, tem o princípio explicativo no seu
oposto — a propriedade privada. Esta é engendrada e incrementada
mediante o processo generalizado de alienação, que permeia a sociedade
civil (esfera das necessidades e relações materiais dos indivíduos).
Transfigurado ao passar de Hegel a Feuerbach, o conceito de
alienação sofria nova metamorfose ao passar deste último a Marx.
Pela primeira vez, a alienação era vista enquanto processo da vida
econômica. O processo por meio do qual a essência humana dos ope-
rários se objetivava nos produtos do seu trabalho e se contrapunha a
eles por serem produtos alienados e convertidos em capital. A idéia
abstrata do homem autocriado pelo trabalho, recebida de Hegel, con-
cretizava-se na observação da sociedade burguesa real. Produção dos
operários, o capital dominava os produtores e o fazia cada vez mais,
à medida que crescia por meio da incessante alienação de novos pro-
dutos do trabalho. Evidencia-se, portanto, que Marx ainda não podia
explicar a situação de desapossamento da classe operária por um pro-
cesso de exploração, no lugar do qual o trabalho alienado constitui,
em verdade, um processo de expropriação. Daí a impossibilidade de
superar a concepção ética (não-científica) do comunismo.
Nos Manuscritos, por conseguinte, alienação é a palavra-chave.
Deixaria de sê-lo nas obras de poucos anos depois. Contudo, reformu-
MARX
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