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Bizu prova ESTADO DIREITO e CIDADANIA

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O direito se funda basicamente em relações bilaterais ou até multilaterais. Abaixo segue uma a tradução de uma passagem do livro da filósofa Simone Weil, que explica a ideia de que o direito não se concebe sem um par garantia.
A noção de obrigação premia a de direito, que lhe é subordinada e relativa. Um direito não é eficaz por si próprio, mas somente pela obrigação à qual ele corresponde; o desempenho efetivo de um direito não provém daquele que o possui, mas dos outros homens que se reconhecem obrigados com relação a ele. A obrigação é eficaz desde que é reconhecida. Uma obrigação não reconhecida por ninguém, não perde nada da plenitude de seu ser. Um direito que não é reconhecido por ninguém, não é grande coisa.
Com isso, não faz sentido dizer que os homens têm, de uma parte direitos, de outra parte deveres. Essas palavras apenas exprimem diferenças de opinião. Sua relação é a do objeto e do sujeito. Um homem, considerado em si mesmo, tem somente deveres, entre os quais estão alguns deveres para com ele mesmo. Os outros, considerados de seu ponto de vista, têm somente direitos. Ele tem os direitos a seu lado quando ele é considerado do ponto de vista dos outros, que se reconhecem obrigados com relação a ele. Um homem que estivesse sozinho no universo não teria direito, mas tão somente obrigações.
A noção de direito, enquanto ordem objetiva, não é separável da de existência e realidade. Ela aparece quando a obrigação se insere no domínio dos fatos; por conseguinte ela se encerra sempre, em certa medida, a situações e fatos particulares. Os direitos aparecem sempre ligados a certas condições. A obrigação única pode ser incondicional. Ela se localiza em um domínio que está acima de todas as condições, porque está acima deste mundo.
Os homens de 1789 [refere-se aos revolucionários franceses] não reconheceram a realidade desse domínio. Eles só reconheceram aquela das coisas humanas. E por isso que começaram pela noção de direito, mas, ao mesmo tempo, queriam possuir princípios absolutos. Essa contradição os fez cair em uma confusão de linguagem e ideias que está para muitos dentro da confusão política e social atual. O reino do que é eterno, universal, incondicional, é outra coisa que essas das condições reais, e que habitam noções diferentes ligadas a parte mais secreta da alma humana.
(WEIL, Simone. L'enracinement [Enraizamento]. 1949)

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