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Gestão da Educação Débora Hradec Artigo científico A GESTÃO ESCOLAR DEMOCRÁTICA E PARTICIPATIVA Débora Hradec1 RESUMO O presente artigo tem como intuito prioritário discutir os conceitos, funções e princípios básicos da Gestão Educacional Democrática e participativa, relevando aspectos da função administrativa da unidade escolar e sua gestão, dentro de uma dimensão pedagógica do cotidiano escolar, frente ao papel do gestor escolar, tecendo considerações sobre o Projeto Político-Pedagógico como fator de democratização da escola. O artigo comenta, ainda, aspectos do Projeto Político- Pedagógico como fator de democratização da instituição, mencionando o regimento escolar e o plano de direção, assim como o planejamento participativo, incluindo os órgãos colegiados da escola, relevando aspectos legais relacionados à Gestão Educacional. Palavras-chave: Gestão Educacional. Democratização. Participação. Gestão Pedagógica. Administração. Relações escolares. INTRODUÇÃO Várias são as discussões sobre o tema “escola”, dentre elas está a questão da gestão escolar, que a cada dia atinge mais legitimidade e mais autonomia. Com a democratização e a busca por uma maior autonomia decorrentes da promulgação da Constituição de 1988 (BRASIL, 1988), bem como do processo de eleição para diretores, a identidade do gestor escolar mudou na década de 90, uma vez que foram atribuídas exigências renovadas à função. Advinda originalmente do latim, a palavra gestão envolve um conceito que se refere ao efeito e à ação de administrar ou gerir. É muito comum que o significado de gestão englobe somente a administração de atribuições burocráticas, sem uma perspectiva humanística, uma ação ligada meramente ao planejamento, logística de bens e produtividade. No entanto, a palavra gestão vai além disso, pois expressa o ato de dirigir a vida, destinos, capacitação de pessoas, entre outras funções importantes. Todos os sistemas organizacionais são operacionalizados por meio da gestão e apresentam processos políticos que evidenciam relações de poder. De acordo com Garay (2001), o processo de gestão consiste em dirigir uma organização, tomando decisões que considerem demandas relacionadas ao ambiente e aos recursos que estão disponíveis. A autora comenta também que a gestão está relacionada ao processo administrativo de organizar, dirigir, planejar e saber controlar os recursos para atingir objetivos pré-determinados. Os estudos sobre a administração do trabalho educativo surgem por volta da década de 30, marcados pelo cunho tecnicista e burocrático, muito parecido com a gestão empresarial, de forma estritamente planejada, regulada e controlada. Somente na década de 80, a gestão educacional passa por uma visão mais crítica, relevando aspectos socioculturais. Desse modo, a gestão da escola passou por 1Bacharel em Letras, Tradutores e Intérpretes, Licenciada em Inglês e Português, especialista em Língua Inglesa e Mestre em Tecnologia da Educação e Gestão Educacional. fases, tais como a mais burocrática, crítica, técnico-científica, a autogestão e uma fase democrática e participativa. Administrar e gerir são termos que diferem. A administração relaciona-se ao planejamento e controle da direção de recursos materiais, humanos e financeiros. Já a gestão, por sua vez, envolve a responsabilidade, o incentivo e a participação dos envolvidos no processo coletivo de autonomia educacional. A escola é um espaço importante de sociabilização dos aprendizes que têm seu cotidiano ligado às práticas formativas. Para o efeito do presente estudo, o termo administração será substituído, preferencialmente, por gestão escolar, visto que, na educação, não há lugar para uma concepção meramente técnica, segmentada e hierarquizada. O que há é a necessidade de uma concepção que inclua o compartilhamento das ideias, a participação dos envolvidos no processo organizacional e no funcionamento da instituição em si. De acordo com Bordignon (2000), gerir uma instituição educacional é diferente de administrar outras organizações, devido à visão mais sociocrítica, democrática e sua estruturação pedagógica envolvida no processo e as relações específicas entre pessoas envolvidas interna e externamente, e o processo de tomada de decisões que precisa ser mediante decisões coletivas, por discussão e deliberação conjunta. 1. GESTÃO EDUCACIONAL DEMOCRÁTICA E PARTICIPATIVA 1.1 Escola, ensino e aprendizagem A escola consiste em um conjunto diversificado de elementos estruturais, individuais, políticos e culturais. Nesse tipo de organização, o bom funcionamento depende da interação desses fatores. Em outras palavras, o comportamento dessa organização resulta da relação dinâmica de todos os elementos que a compõem; ainda mais especificamente, seu sucesso decorre do entrosamento e interação da cultura, política, estrutura, indivíduos envolvidos e ambiente. As escolas são entidades de serviços com o compromisso com a aprendizagem e o ensino, e a qualidade desses é o elemento fundamental da melhoria contínua da instituição. Sendo assim, mudanças duradouras só podem advir do que os docentes e as equipes dos demais colaboradores fazem dentro e fora da sala de aula, e em todas as áreas da escola em que exista espaço para aprendizagem. O objetivo derradeiro da escola é a aprendizagem dos discentes, de modo que a existência da escola se baseia nessa premissa. Como organizações de aprendizagem, é necessário que os participantes sejam capazes e estimulados a criar, participar e realizar, incentivando ideias, concretizando aspirações da coletividade e permitindo que todos possam aprender conjuntamente de forma inovada e focada na resolução de problemas. O gestor escolar deve, prioritariamente, eleger o princípio da autonomia, exigindo vínculos estreitos com a comunidade educacional, pais e organizações paralelamente relacionadas à escola, e esta é a fundamentação do seu principal papel, ao garantir a relação eficaz entre a gestão e a comunidade escolar, de forma que todos possam se mobilizar para participar das decisões a serem tomadas na escola. Esse é o conceito esperado da gestão participativa e democrática. Gestão escolar é, portanto, entendida como a atividade em que são mobilizados procedimentos e meios para chegar a objetivos dentro de uma escola, sem deixar de lado aspectos gerenciais-padrão e técnico-administrativos. Gerir uma escola é muito mais que simplesmente administrar. Como visto, a gestão da escola difere da administração, pois a gestão é estratégica muito mais do que somente organizacional. A gestão da escola abrange questões da rotina educacional e garante que a instituição tenha condições de cumprir o papel de ensinar com a qualidade adequada e formar cidadãos atendendo à formação com competências e habilidades para a vida profissional e pessoal. Segundo Bordignon (2004), entende- se por “gestão da educação o processo político administrativo contextualizado, por meio do qual a prática social da educação é organizada, orientada e viabilizada”. De acordo com Borges (2004 p. 78), as duas últimas décadas têm observado um movimento de dimensão mundial em direção aos padrões de descentralização da gestão educacional, tanto nos países em desenvolvimento quanto nos desenvolvidos, com a participação da comunidade. Segundo o mesmo autor, na América Latina até alguns agentes de financiamento cobraram ajustes na estrutura educacional, o que demonstra uma tendência em direção à gestão mais democrática e autônoma. Essa autonomia não é feita somente com políticas que criam espaços e modos de organizar a escola, na qual será instituída a Gestão Democrática. É necessário buscar uma redefinição dos conceitos e formatos democráticos na escola, discutindo-se a forma de atuação democrática desejada, oportunizando a participação de vários segmentosdo contexto da instituição. No Brasil, a autonomia nessa forma iniciou ao final da década de 80, com o reforço da Constituição de 1988 (BRASIL, 1988), além da Nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996 (LDB/96) (BRASIL, 1996) que trouxe à tona a Gestão Democrática como princípio. 1.2 Conceitos, funções e princípios básicos da Gestão Democrática O princípio básico da Gestão Democrática, garantindo a qualidade do ensino, deve incluir a ativa participação dos docentes e da comunidade. Essa forma de lidar com a escola apresenta benefícios aos alunos, professores e aos próprios gestores, fazendo com que os alunos fiquem mais engajados com o processo, levando a uma sociedade de mais compromisso com a cidadania. A gestão enquanto processo deve estabelecer procedimentos de coordenação entre as dinâmicas do sistema de ensino ajustados à coordenação interna da escola, relevando a importância das diretrizes e das políticas públicas educacionais e sua relação com as ações de implementação das políticas e projetos pedagógicos internamente à instituição. Isso deve acontecer de forma democrática, com ambiente educacional autônomo, contando com o compartilhamento e a participação, bem como garantindo a tomada de decisões de forma conjunta para resultados efetivos, assegurando o acompanhamento, avaliação do processo e feedback de informações. Derradeiramente, de acordo com Lück (2007), esse tipo de gestão deve ter transparência por meio da demonstração pública dos resultados e processos. A gestão escolar participativa apresenta ideal inspirado na cooperação com reciprocidade. A escola precisa de agentes que defendam o coletivo, gerida em decorrência de um trabalho essencialmente cooperativo de todas as pessoas envolvidas no processo escolar para chegar a objetivos realmente educacionais. Cabe ao gestor fazer uma administração a contento, que não seja meramente burocrática e administrativa, mas sim uma tarefa articulativa, de intenções de coordenação de partes (embora suponha aspectos administrativos), não se esquecendo do cunho pedagógico dessa gestão. Na Gestão Democrática e participativa, as instituições são grupos sociais que tentam se adaptar e subsistir, e as necessidades individuais são fatores motivadores do desempenho organizacional. Nesse tipo de gestão, os indivíduos, que se organizam com base em seus interesses e da coletividade, têm mais importância do que a estrutura, para que a eficácia seja atingida, pois a tomada de decisão, quando compartilhada, promove a eficiência dos processos. Na Gestão Democrática, normas e procedimentos devem ser adaptáveis, flexíveis, mesmo que normas formais ainda tenham que ser mantidas para fins administrativos específicos. A ampla abrangência dos controles aumenta a eficiência e autonomia dos docentes, uma vez que o trabalho feito em equipe é a chave para o sucesso da organização em geral. As estruturas informais passam, então, a ter mais relevância que as formais. As responsabilidades das pessoas desenvolvidas nesse processo devem congregar todos os membros da equipe da escola nas decisões, metas, objetivos e compromissos em comum. Esse é o caráter democrático que deve determinar as relações de gestão da escola democrática, em que se defende que a coletividade tenha o poder de se manifestar pela efetiva participação na tomada de decisões da escola. Autonomia e participação são fatores que caminham juntos na administração escolar eficaz para a construção do espaço democrático. O gestor passa a ser o líder democrático e organizacional, conciliador das opiniões divergentes e anseios do grupo. A gestão democrática escolar se baseia na orientação de atos e ações que viabilizam uma participação mais social no dia a dia da unidade escolar. Nesta forma de gestão, a comunidade é sujeito ativo, o que quer dizer que os docentes, alunos, responsáveis pelos alunos (pais), gestor, equipe pedagógica e outros colaboradores dos diversos segmentos da escola devem ser considerados conscientes de sua participação e importância nas decisões escolares, cada um com seu respectivo papel. Essa postura faz com que o objetivo seja trazer para o contexto da educação a eficiência de processos, de forma a melhorar a qualidade do ensino, otimizando esses processos, indubitavelmente. Na Gestão Democrática, como objeto prioritário, a rotina da gestão escolar deve estar envolvida com a oferta de condições para que a instituição possa cumprir com seu papel prioritário, que é ensinar com qualidade e, acima de tudo, formar cidadãos devidamente preparados para a vida profissional e também pessoal. Para isso, a gestão escolar deve direcionar a equipe com a qual conta, para ações que levem a resultados palpáveis. Isso pode ser feito valorizando-se o potencial de liderança que os membros da comunidade escolar possuem. A gestão escolar conta com seis pilares que são interdependentes: a Gestão Pedagógica, a Gestão Administrativa, dos Recursos Humanos, a Financeira, das Comunicações e a Gestão de Tempo e Eficácia de Processos. Esses pilares devem ser fundamentados na participação ativa da comunidade, princípio da Gestão Democrática da instituição escolar. Uma gestão autocrática, ou seja, centrada vertical e unicamente no gestor, pode afastar os alunos, os docentes e os pais, pois, por mais que o gestor conheça as necessidades dos demais níveis da pirâmide de hierarquia, esse tipo de gestão não é desejável. Todos os pilares são igualmente importantes e devem integrar-se na gestão escolar. Alguns estão mais relacionados, mas um afeta o outro no geral, podendo levar a reações em cadeia, de forma positiva ou negativa, dependendo da forma como são gerenciados, sobretudo se o gestor não tiver uma visão ampla e geral, desmembrando-os de forma a definir metas e mensurar os resultados. A gestão pedagógica diz respeito ao planejamento dos métodos, dos conteúdos e das finalidades relacionadas diretamente ao processo educativo, definindo os parâmetros de aprendizagem e ensino que a escola deve adotar. Na gestão pedagógica é necessário analisar as etapas que antecedem e sucedem a aprendizagem, considerando os propósitos e as metodologias voltadas à experiência, materiais, treinamento de professores e demais demandas pedagógicas necessárias para atingir os objetivos pedagógicos. O engajamento dos alunos deverá ser um reflexo desse esforço. No que tange à gestão democrática, portanto, trata-se do estabelecimento da manutenção das necessidades estruturais da escola que inclui recursos físicos, materiais, patrimoniais, financeiros, rotinas de secretaria, entre outros. Inclui manter a ambientação organizada por diretrizes que otimizem a gestão pedagógica. Os alunos devem ser os maiores interessados no uso dos recursos que atendam os objetivos educacionais. A gestão financeira viabiliza a gestão administrativa, incluindo controle de contas, transparência nos gastos, custeio das necessidades estruturais, entre outros. A gestão de pessoas diz respeito aos recursos humanos direta e indiretamente envolvidos em todos os processos de articulação educacional. A gestão de recursos humanos inclui os docentes, os coordenadores, colaboradores em geral, pais, fornecedores e alunos e a gestão de seus respectivos papéis de forma eficaz e de modo que mantenha o entrosamento e o respeito necessário ao trabalho em equipe, dando ênfase ao incentivo e orientação pessoal. A gestão da comunicação está ligada à de recursos humanos porque relaciona-se à transmissão de mensagens entre as pessoas, de forma a incentivar o alinhamento, foco e engajamento das pessoas na promoção do aprendizado. Para o gestor é imprescindível saber ouvir e considerar possíveis opiniões e retorno de práticas, com objetividade. O tempo é um recurso que deve ser considerado para o estabelecimento de prioridades, levando à eficiência dos processos. O foco do gestor deve ser dedicar seutempo em tarefas operacionais, mas esse tempo deve ser bem planejados, visando gerir o tempo de forma eficaz, aumentando a produtividade e garantindo a previsibilidade dos processos e potenciais adversidades. O gestor deve expor os problemas, necessidades e expectativas, ampliando no compartilhamento, sua chance de achar soluções eficazes, descentralizando a tomada de decisão, viabilizando a participação do coletivo (professores, funcionários, comunidade e alunos). No modelo de gestão democrática e participativa, todos os envolvidos na comunidade escolar têm voz e vez, mediante o suporte da instituição e diálogo horizontal, ou seja, sem relevância para a hierarquia administrativa. Esse modelo de gestão, no qual a escola é um espaço participativo, tem o amparo da Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988), com apoio da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9.394/96) e pelo Plano Nacional de Educação – PNE, uma vez que a lei brasileira determina e entende que a gestão democrática da educação deve ser um fator prioritário para que seja alcançado um nível de educação de qualidade, fortalecendo a instituição por meio da participação comunitária, oferecendo maior aproximação e suporte ao aluno corroborando com sua aprendizagem e desenvolvimento. Não são todos os membros da comunidade escolar que são conscientes de seu papel na reflexão em relação à prática social educativa pelo viés democrático. Quanto maior a interação comunitária, maior a possibilidade de concretizar uma educação inclusiva e democrática. A gestão democrática tem que ser discutida, compreendida e efetivada na prática por todos os alunos, professores colaboradores e responsáveis pelos alunos e pelas associações de bairro. Não é algo que deve ser relevante somente para a direção da escola. 1.3 Dificuldades da Gestão Democrática Há desafios para a Gestão Democrática, a começar pela Lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9.394/96), que indicam o rumo a ser seguido, mas não fazem o detalhamento de como isso deve ou pode ser feito, não apontando, nem estabelecendo as diretrizes desse tipo de gestão. Outro fator adverso para a gestão democrática é que os gestores precisam se adaptar às alterações e às mudanças sociais dentro de um contexto histórico e social, analisando a realidade, pois sua tarefa é, subjetivamente, transformadora do momento. Outra dificuldade para a gestão democrática é o fato de as pessoas desconhecerem plenamente o conceito de autonomia contínua, tanto individual quanto coletivamente. As pessoas têm a tendência de delegar responsabilidades a outros sem vislumbrar a coparticipação nos processos e resultados como uma troca enriquecedora de experiências. Assim, a escola tem que se adaptar à nova formação social nas vertentes sociais, políticas e econômicas, com suas novas necessidades, problemas e expectativas. Por isso a sociedade tem que ser conscientizada, pelo gestor democrático, de que a gestão participativa é a maneira mais eficaz para oferecer os novos conhecimentos, os quais essa nova sociedade precisa. É também desafio para o gestor implementar os conceitos de inovação, produtividade e competitividade, que devem estar alinhados com os interesses da nova conformação da sociedade. No entanto, a transformação, considerando esses conceitos, não pode ser unilateral, somente pela gestão, para um resultado positivo. Para ampliar conhecimentos, investindo na inovação e criatividade, a participação dos pais é absolutamente indispensável para assegurar que a demanda de desenvolvimento de habilidades e competências seja garantida aos alunos, possibilitando se tornar um cidadão pleno. Os familiares, por outro lado, devem crer no trabalho do gestor educacional. Assim, a instituição escolar deve reconstruir seus conceitos agindo muito mais do que, unicamente, como executora de todas as tarefas educacionais e única responsável pela formação dos alunos, convocando a comunidade para a reflexão e tomada de decisões. A educação estrutura o processo educativo em função dos interesses sociais e comunitários. A participação dos pais e responsáveis na rotina da escola é indispensável para atingir os objetivos sociais, uma vez que a sociedade cria as necessidades e demandas aos alunos, futuros cidadãos. Vencer essa unilateralidade atribuída ao gestor é um desafio ao suprir as necessidades sociais do processo educacional. Outro desafio é combater a segmentação e o caráter estático dos modelos padrão e não participativos de gestão, focado na figura unicamente do gestor. Os modelos menos democráticos são direcionados unicamente ao cumprimento de determinações, regulamento e normas de forma estrita, sem relevar as necessidades sociais que demandam a participação de várias frentes. A participação da comunidade na gestão é estratégica, visando ações de curto, médio e longo prazo. Já a demora em se adaptar à realidade das pessoas é aumentada quando não há comunicação entre as partes envolvidas. Os alunos, por outro lado, apreciam a gestão democrática de forma positiva visto que enxergam que o poder decisório é compartilhado com todos que são interessados. A participação na democratização da gestão da escola é uma escolha, não é obrigatória, mas recomendável face à realidade do cerne educacional. Essa conscientização deve envolver a mobilização coletiva e individual, visando incentivar o trabalho em equipe para o bem comum. É o contato frequente das partes que permite a geração das melhores condições e ações para atender as necessidades da comunidade escolar. 1.4 Benefícios da Gestão Democrática Como comentado, para estar alinhado ao conceito da gestão democrática nas instituições de ensino, o gestor precisa prezar pela transparência, descentralização decisória e pela participação nas atividades do dia a dia da escola, com base no consenso e na discussão não autoritária, com um trabalho conjunto focado nas soluções educacionais. O gestor passa a ser um mediador, referência no diálogo advindo dos encontros necessários para que os integrantes da comunidade possam participar mais ativamente no dia a dia da instituição. Essa postura gera muitos benefícios frente à gestão democrática, como alunos mais politizados e responsáveis, por exemplo. Os alunos, atualmente, fazem parte de um contexto de oportunidades e liberdades, e dão valor ao momento presente. Pela gestão participativa, é possível o exercício das virtudes políticas, identificação de problemas, busca de soluções, implementação de ações, ações de consenso, assegurando o cumprimento das melhores práticas educativas. Na gestão participativa e democrática horizontal, os alunos percebem que possuem uma parcela de responsabilidade no cumprimento das ações educacionais e aprendem que a organização é baseada na necessidade de compreensão das necessidades de todos. Essa prática é levada para a vida, gerando senso de responsabilidade, participação com a opinião e voto, de forma mais consciente para que os alunos sejam mais ativos nos processos sociais. Outro benefício é a minimização da quantidade de indivíduos insatisfeitos, como existe em gestões autoritárias e unilaterais, não baseadas nas expectativas e necessidades dos envolvidos no processo e por ele impactados. A gestão participativa permite que os alunos fiquem mais satisfeitos com as regras, ações e metodologias baseadas no consenso que atendem melhor as expectativas. Na gestão democrática e participativa, as ações e decisões se baseiam na opinião coletiva em encontros e reuniões na busca das soluções por consenso, reduzindo a insatisfação dando oportunidade para que todos possam se expressar, propondo ações e melhorias aprovadas pela maioria. Portanto, as escolhas se sobrepõem às insatisfações, já que todos participam abertamente do processo decisório. 1.5 A Função Administrativa da Unidade Escolar e do Gestor A gestão participativae democrática corrobora com o aumento da quantidade de soluções criativas, dando voz e vez para todos opinarem sobre o que é melhor para a maioria. Disso decorre a descentralização decisória que passa a ser feita por um grupo seleto e o aumento das soluções dotadas de maior criatividade e mais suscetíveis à realidade dos envolvidos no processo educativo. Cabe ainda relevar, nesse tipo de gestão, a valorização da interação das diferentes gerações e diferentes perspectivas de vida, sem nivelar as vivências dos envolvidos nas decisões. Esse tipo de gestão leva a uma melhora visível no rendimento escolar pelo próprio incentivo à participação dos alunos, maximizando o interesse deles pelos aspectos do cotidiano da escola. Os alunos vislumbram a escola como um espaço sob a responsabilidade de todos pela educação, muito mais do que meramente um espaço onde se tem a obrigação de estudar. Neste modelo de gestão democrática e participativa é necessário ouvir a comunidade escolar, já que a instituição é dedicada a suprir necessidades comunitárias, portanto, é necessário conhecer a existência de demandas por meio do diálogo, abrindo as portas da instituição a todos da comunidade, ouvindo críticas, elogios e sugestões para a melhoria de processos e ações. Trata-se de um tipo de condução administrativa que culmina por constituir um laço de confiança com os alunos, pais e com os responsáveis para saber lidar com diferentes demandas e assuntos. É fundamental fazer um planejamento eficiente dos processos e ações na escola para que a gestão escolar democrática seja factível e funcional de forma plena. O planejamento dessa gestão é o primeiro passo para seu sucesso e transformação dos processos e ações. Por outro lado, é necessário promover a união das partes, não ficando a participação restrita a reuniões, mas sim a toda ação do cotidiano da escola. É necessário um denso diálogo e tempo para conscientizar as pessoas de que elas têm um papel importante, senão fundamental, na instituição. Assim, a união entre as pessoas envolvidas no processo educativo deve ser incentivada, com participação no cotidiano da escola e não ficar restrita a reuniões. Sendo assim, o gestor democrático fortalece os laços e incentiva a comunidade escolar a trazer sua participação desde a implementação desse tipo de gestão. As decisões, mesmo que tomadas coletivamente, nem sempre são claras a todos, e aí reside a importância do gestor mediador, oferecendo o máximo de transparência nesse processo, fornecendo informações por todos os meios de divulgação possíveis, desde murais a recursos digitais, portais e redes sociais. O mais relevante é que todos tomem conhecimento das ações e suas consequências após deliberação conjunta. O gestor democrático dá mais ênfase às soluções que agreguem pontos, que desenvolvam o projeto pedagógico da instituição, motivando as pessoas e incentivando o crescimento. Vale lembrar que a gestão democrática cria líderes e prepara os envolvidos nas necessidades futuras da sociedade. 1.6 A Gestão Democrática como instrumento da qualidade O sucesso da gestão democrática reside no fato de compreender alguns elementos norteadores que determinam o gerenciamento e desenvolvimento dos processos que caracterizam a instituição escolar. Essa é a função do líder que sabe desenvolver processos com base na opinião da coletividade, conduzindo grupos envolvidos no processo educativo. É por isso que as ações e proposições devem ser motivadoras, provocativas e carregadas de compromisso social, oferecendo segurança e confiança para despertar o desejo de participação e o apoio de todos, garantindo processos de qualidade. Para isso é necessário garantir que todos estejam cientes de seu compromisso com o processo, resultando na efetivação das práticas que levam ao favorecimento do desenvolvimento do exercício democrático e da cidadania. A sociedade só é democrática ao firmar valores e constituir a prática desses valores no cotidiano, ou seja, pelos meios que os reafirmam e instauram. A construção da democracia decorre do trabalho educativo com qualidade, constituído desde a escola. Para que a gestão democrática da escola se concretize, é importante que sejam desenvolvidas ações, tanto administrativas quanto pedagógicas, baseadas nos princípios de autonomia, participação e cooperatividade. Por meio da gestão democrática, o diretor ainda é o responsável pela gestão da escola, mas, nesse sistema, representa a comunidade interna e externa à escola. A gestão democrática garante a formação de cidadãos ativos e participantes, assim como, futuramente, profissionais que sejam comprometidos e não sejam alheios a ações coletivas onde o poder é dividido. No entanto, há sempre a chance do diretor ou gestor escolar vir a ser a figura central na hierarquia ao invés do mediador, já que esses precisam realizar diversas tarefas como lidar com parceiros da instituição, fornecedores etc., atém de lidar com os professores, com os pais, alunos e demais membros da comunidade escolar. Tudo isso pode, na falha de um procedimento democrático de gestão, sobrecarregar o gestor, sobretudo se o planejamento não for sólido. Portanto, se a escola deseja o desenvolvimento de valores democráticos como a liberdade, a solidariedade, a justiça e o respeito, deve democratizar seus processos pedagógicos e métodos, e, principalmente, a relação entre professor e aluno, uma vez que são os docentes que estão na relação horizontal da gestão, viabilizando o diálogo sobre vivências e conteúdo. Essa prática respeita as possibilidades e condições de cada participante da gestão democrática e contribui para uma sociedade mais justa. Segundo Lück (2007), ter autonomia não significa simplesmente ter vontade própria, apesar de estar relacionada ao autogoverno, mas é um princípio a ser desenvolvido pelos envolvidos no processo educativo evitando demasiada espontaneidade ou anarquia. A autonomia ocorre pela constituição de um ambiente adequado à participação comunitária nas decisões, visando encontrar soluções criativas e com responsabilidade por meio da negociação para chegar aos objetivos planejados. No entanto é preciso sempre estar de acordo com as normas e diretrizes instituídas pela legislação em vigência. Desse modo, a autonomia escolar passa a ser um processo interdependente. A participação de todos é fundamental para a gestão democrática. No contexto educacional a participação da comunidade nas ações pedagógicas diz respeito à transparência decisória e representatividade, já que a escola tem como objetivo um processo educacional que conduza à cidadania, organizando-se por relações horizontais de solidariedade e cooperação entre todos os envolvidos no processo pedagógico. Participar é poder definir práticas sociais conjuntamente. 2. A GESTÃO DEMOCRÁTICA PARTICIPATIVA E A AUTONOMIA Ao falar de gestão escolar é necessário compreender o conceito de administração e a história dela em geral, pois as transformações na economia e tecnologia, assim como nos princípios, maneiras e funções ao gerir, chegam a interferir nas práticas educacionais e sociais. Administrar é o processo de planejamento, direção e controle de materiais, finanças, recursos humanos e informações visando objetivos planejados. Administrar envolve eficiência, produtividade e controle, conceitos de produção capitalista. Entretanto, o conceito de administração é anterior ao do capitalismo. Uma forma mais próxima da definir a administração em relação à gestão escolar seria o uso racional de recursos visando realizar fins determinados. O fato é que tanto as funções da administração quanto seus princípios estão relacionados à sociedade em toda e qualquer realidade em que a administração aconteça. A administração é subjacente às demandas da sociedade. Exemplificando o significado de administrar de forma geral: em uma empresa essencialmente capitalista, cujafunção é acumular capital, a função da administração é organizar os meios, recursos e trabalhadores, entre outros, dentro de um processo de produção, visando o controle dos processos produtivos. 2.1 Escolas de administração As escolas da administração geral são: a escola de administração científica (também chamada de clássica ou sistema racional), a escola de relações humanas, a escola behaviorista e a escola estruturalista. 2.1.1 Escolas de administração científica A escola clássica foi trabalhada por Jules Henry Fayol (1841-1925), Lyndall Urwick (1891-1983), Luther Gulick (1892-1993) e Max Weber (1864-1920) e Frederick W. Taylor (1856-1915), sendo o último seu principal expoente. Esse sistema abrange um conjunto de ações para chegar a metas pré-planejadas, com base em um tempo programado para a máxima eficiência. A fundamentação básica da escola de administração científica é no taylorismo de Frederick Taylor, considerado pai da gestão científica que visava a eficácia máxima para a indústria. Taylor achava que o ser humano poderia ser programado, como as máquinas, para chegar à eficiência máxima. Ele criou métodos de organização racional do trabalho, linhas de montagem para produção em massa, maximizando o tempo, recursos materiais e humanos, reduzindo gastos e aumentando os lucros. Os princípios básicos dessa administração científica baseada no sistema de organização racional, cunhada ao final do século XIX, mas que ainda perdura no sistema de administração das indústrias, inclui, mas não se limita, ao conceito de que as empresas existem para chegar a objetivos planejados. Dentro desses princípios básicos, as organizações existem em função de seus próprios objetivos, a divisão do trabalho geral leva à especialização e esta leva à expertise. Padronizar tarefas leva à eficiência e a hierarquia promove a conformidade com disciplina. O estreito controle administrativo leva a uma melhor supervisão e é essencial para obter a eficiência e na tomada de decisão, a racionalidade e a organização formal promovem a eficiência. O princípio dessa escola é, resumidamente, de acordo com Mota (1973), “alguém será um bom administrador à medida que planejar cuidadosamente seus passos, que organizar e coordenar racionalmente as atividades de seus subordinados e que souber comandar e controlar tais atividades”. Assim, nessa abordagem, o homem e seus valores são tidos como econômicos. Como o homem é um ser dotado de racionalidade, ao tomar decisões, busca familiarizar-se com todas as possibilidades de ação possíveis e as consequências dessas opções, podendo escolher a melhor forma de tratar das questões do trabalho e melhorar os resultados de suas decisões. A análise e os estudos envolvidos no processo produtivo visam o máximo de produtividade, por meio também, da intervenção do gestor desde a seleção e treinamento até a implantação de sistemas de incentivos econômicos devidamente supervisionados. Para essa escola de administração, somente os resultados são determinantes do modo correto e eficiente de realização do trabalho. Quanto mais dividido o trabalho e quanto mais as tarefas forem agrupadas em departamentos com objetivos semelhantes, maior a eficácia produtiva da empresa. Por outro lado, a escola também defende que cada chefia tenha um número limitado de subordinados para centralizar melhor as decisões. 2.1.2 Escolas de Relações Humanas (ou Sistema Natural) As relações sociais no capitalismo, de certa forma, são dualistas ou antagônicas, pois de um lado estão os detentores dos meios de produção e de outro lado está a força de trabalho; os trabalhadores. Os autores do sistema natural são Firtz Roethlisberger (1898-1974), Douglas MacGregor (1906-1964), Mary Follett (1868-1933) e Elton Mayo (1880-1949) como expoente. Essa abordagem contrasta com o sistema racional, já que oferece uma visão diferente da organização. Nesse sistema, as empresas se assemelham aos organismos mais do que à máquina. O foco do interesse desse tipo de sistema são os grupos informais. Os problemas humanos, do relacionamento do grupo, são relevantes se consideradas as necessidades de autorrealização e participação, uma vez que o ser humano além de racional é social em sua essência. Esse sistema considera que o comportamento humano não pode ser reduzido a esquemas, pois é regido por diferenças individuais e condições sociais. Os gestores desse sistema dão ênfase para a motivação e satisfação dos colaboradores, bem como para a moral da equipe. No entanto, assim como na gestão científica, esta também é um sistema fechado, porque ambas desconsideram o ambiente externo. Os princípios básicos desse tipo de gestão são: as necessidades individuais são aspectos de motivação fundamental do desempenho da organização que são, antes de tudo, grupos sociais que tentam se adaptar na busca pela sobrevivência. Para chegar à eficiência, os indivíduos são mais relevantes do que a estrutura. Os recursos humanos se organizam de modo informal, baseados em seus interesses pessoais e procedimentos; e normas não oficiais podem, às vezes, ser mais relevantes do que as formais. A eficácia é atingida por intermédio da tomada compartilhada de decisões. A abrangência ampliada do controle aumenta a autonomia dos recursos humanos, sua autonomia e eficiência. A cultura da organização estabelece a mediação dos efeitos na estrutura empresarial. O trabalho em equipes é fundamental para o sucesso do sistema. Neste sistema, além do incentivo financeiro para que o ser humano atinja a satisfação e a eficiência, são necessárias diversas outras motivações, como a participação na tomada de decisões. 2.1.3 Escola Behaviorista Seu enfoque é na organização informal, nas relações sociais que não são previstas em organogramas, normas e regulamentos. Nessa escola, os expoentes são Chester Bernard, Herbert Simon, Chris Argyris e Elliot Jacques. De modo que os princípios de administração podem ser usados em qualquer tipo de organização, se tratados com objetividade, uma vez que a linha psicológica do Behaviorismo em que se baseia estuda o comportamento dando ênfase ao estudo objetivo das reações e estímulos identificados. Trata-se de uma escola que se baseia, também, na teoria dos aspectos relativistas e subjetivista, o que significa que não existe verdade absoluta, pois todo ponto de vista é válido e a existência é reduzida ao pensamento do indivíduo. Desse modo, a tomada de decisão para essa abordagem exige uma tratativa especial, pois tudo que se relaciona à autoridade é motivo para estudos especiais, já que a autoridade passa a ser um fenômeno psicológico e não simplesmente legal. A organização é vista como um sistema cooperativo e racional, pois a satisfação e a realização dos objetivos individuais são obtidas pela vivência cooperativa nos sistemas informais. 2.1.4 Escola Estruturalista Segundo esta escola, a organização deve exigir do homem uma personalidade flexível, que resista às frustrações e com forte desejo de realização pessoal. Difere das escolas anteriores, que admitiam a harmonia de interesses (clássica e de relações humanas) e a existência possível de conflitos superáveis pela integração das necessidades dos indivíduos com as da organização (behaviorista). Os estruturalistas indicam que conflitos são necessários e inerentes à vida em sociedade e as tensões e dilemas que acontecem nas empresas são naturais, sendo que os incentivos para o bom desempenho no trabalho não podem ser somente financeiros, mas além desses, de natureza psicossocial, já que se influenciam de forma mútua. 2.2 Tipos de gestão escolar, características e princípios 2.2.1 A Gestão escolar técnico-científica De acordo com Libâneo (2008), a gestão escolar técnico-científica (também denominada tradicional) se baseia na modalidade de gestão que tem como fundamento a hierarquização de funçõese cargos, dando valor para a racionalização sob uma visão conservadora de gestão, muito tradicional, burocrática e clássica. Nesse sistema administrativo, há uma segmentação técnica das funções trabalhistas, o poder é totalmente centralizado no diretor da instituição de ensino, a comunicação é feita de forma vertical e as interações pessoais são baseadas nas tarefas burocráticas. Uma versão contemporânea atualizada da gestão técnico- científica é a administração baseada na Qualidade Total. 2.2.2 A Gestão escolar autogestionária Novamente, de acordo com Libâneo (2008), na administração cujo princípio é a autogestão e descentralização, a característica principal é a responsabilidade da coletividade, dos indivíduos envolvidos, sem uma direção centralizadora, já que o grupo é o gestor que institui as próprias regras. Esse sistema valoriza mais a relação pessoal do que as tarefas de cunho burocrático. 2.2.3 A Gestão escolar interpretativa Libâneo (2008) também indica que a gestão interpretativa segue o princípio da subjetividade na forma de gerir, ou seja, nada está pronto, fechado e dá menor importância ao ato de organizar em detrimento da ação organizacional. Essa modalidade de gestão inclui as interações sociais garantidas pelas práticas compartilhadas. 2.2.4 A Gestão escolar democrático-participativa e a autonomia Para Libâneo (2008), essa modalidade de gestão apresenta como característica a tomada de decisão com base na organização coletiva, tendo como fundamento objetivos assumidos por todos os envolvidos no processo educacional. Em outras palavras, a gestão democrática escolar tem como meta a implementação de modos de descentralização administrativa, pedagógica e financeira, sob a sustentação da eleição para diretor ou concurso público (que, por sua vez, atende processos de formação continuada), participação efetiva do Conselho Escolar, garantindo a autonomia escolar, visando atender às necessidades da comunidade. A regulamentação desse tipo de gestão é determinada pelo sistema de ensino. Nessa modalidade de gestão, o mais importante é a descentralização, pois as decisões e ações do gestor devem ser realizadas sem hierarquização, com participação e transparência. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de n° 9.394/96 no artigo 14, determina que a gestão democrática necessita da “I – participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola; II – participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes” (BRASIL, 1996). As comunidades escolares interna e externa (colaboradores, pais alunos, docentes, associações, conselhos etc.) devem ter participação nos processos de planejamento, decisão e execução do trabalho de gestão, com total transparência, sendo conhecidos por todos e amplamente divulgados a todos os envolvidos. Participar é poder definir meios e fins na prática social, e esta participação pode ser por delegação, representação, mandato etc. A participação tem que ser traduzida como estratégia para fazer valer os fatores culturais, políticos e econômicos das pessoas. A participação é, portanto, definir e redefinir de forma permanente os meios e os fins nas ações desenvolvidas. Participar também é aprender em todas as vivências e atuações. Uma gestão de escola estruturada em bases democráticas, fundada na participação da comunidade, terá maiores facilidades de conseguir a adesão de parcelas significativas dos pais de alunos, para atividades culturais que visem à reflexão mais profunda dos problemas educacionais de seus filhos, e que lhes propiciem, ao mesmo tempo, a apreensão de uma concepção de mundo mais elaborada e critica. (PARO, 2008, p. 155) Segundo Catani e Gutierrez (2013 p. 38), a relação entre participação e gestão escolar é íntima. Participar é equivalente a promover a construção de um consenso em relação a um plano de ação coletivo, em que a gestão se fundamenta e legitima por meio dessa participação, que exercita a democracia como fruto de valores da contemporaneidade, como tolerância, relações igualitárias, flexibilidade, cidadania e justiça, valores essenciais para a sociedade. Ainda, a participação é fundamentada no exercício de um diálogo contínuo entre as partes que apresentam diferentes habilidades e formações, ou seja, pessoas envolvidas com diferentes competências para a viabilização de um plano que atenda a coletividade de forma consensual. A participação é o principal meio de assegurar a gestão democrática, possibilitando o envolvimento de todos os integrantes da escola no processo de tomada de decisões e no funcionamento da organização escolar. A participação proporciona melhor conhecimento dos objetivos e das metas da escola, de sua estrutura organizacional e de sua dinâmica, de suas relações com a comunidade, e propicia um clima e trabalho favorável a maior aproximação entre professores, alunos e pais. (LIBÂNEO, 2008, p. 450-451) Daí a relevância da instituição de ensino ao garantir um espaço adequado para a manifestação de ideias e para a diversidade, tornando possível que segmentos diferentes da comunidade possam refletir e participar de decisões que corroborem com a melhor formação para todos os alunos. A participação significa, portanto, a intervenção dos profissionais da educação e dos usuários (alunos e pais) na gestão da escola. Há dois sentidos de participação articulados entre si: a) a de caráter mais interno, como meio de conquista da autonomia da escola, dos professores, dos alunos, constituindo prática formativa, isto é, elemento pedagógico, curricular, organizacional; b) a de caráter mais externo, em que os profissionais da escola, alunos e pais compartilham, institucionalmente, certos processos de tomada de decisão. (LÜCK, 2007, p. 66) A cooperação com o próximo e em prol dessa gestão participativa é para contribuir para a emancipação dos envolvidos, já que a escola tem como objetivo a integral formação dos alunos e a cooperação entre os que convivem na escola. Esse é um valor a ser praticado por todos. Essa gestão é baseada no sistema horizontal de hierarquia. É também importante valorizar e respeitar os saberes dos alunos, afinal a aprendizagem se dá pelo encontro de saberes diferentes manifestados nas relações sociais. As manifestações de diversidade advêm de pessoas com diferentes culturas, histórias de vivência, diferenças econômicas etc., veiculados por meio da linguagem, roupas, tradições, concepções morais e religiosas, tipo de interação com o meio ambiente entre vários outros fatores que definem os processos sociais e a relação entre os cidadãos. Nesse contexto, a desigualdade também é fator de aprendizagem e a concretização da gestão escolar democrática tem como pressuposto lidar com a perspectiva intercultural, por meio de um projeto educativo, que promove a relação sadia de diferentes culturas, implicando em efetivar a prática pedagógica que traga oportunidades educativas para todos, respeitando essa diversidade. Portanto, a gestão por participação democrática é voltada para a qualidade de ensino, assim como para o processo organizacional, visando os objetivos da instituição de forma autônoma. A autonomia da escola exige um maior controle social por parte da comunidade, ela só pode tornar-se efetiva se contar com o empenhamento e participação dos que vivem o dia a dia da escola, assegurando com o seu trabalho o cumprimento da sua missão. São eles os professores (bem como o pessoal não docente e outros adultos que prestam serviço na escola ou colaboram na realização de tarefas educativas) e os alunos (vistos não como “cliente” ou “consumidores”, mas sim como “trabalhadores” e coprodutores da ação educativa). (BARROSO, 2013, p. 40) A autonomia revela que é possível construir uma escola com identidade própria, fazendo da comunidade escolar coautora desse processo. Paratal, Paro (2008) determina que quando a gestão escolar é realmente democrática, com a participação efetiva de todos nos processos escolares, promovendo a transformação social e atendendo a tudo que possa ser de interesse para a classe trabalhadora. Tem-se um processo de participação consciente, ligado à identidade da coletividade e de cada um. De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (no.9.294/96), os sistemas de ensino assegurarão às unidades escolares públicas de educação básica que os integram progressivos graus de autonomia pedagógica e administrativa e de gestão financeira, observadas as normas gerais do direito financeiro público. (BRASIL, 1996, art. 15) Um bom exemplo de participação é a construção do Projeto Político- Pedagógico e o exercício das reflexões continuadas sobre o processo de ensino- aprendizagem. Toda escola deve promover um ambiente que vise propiciar condições de igualdade participativa de todos, oferecendo oportunidades e meios para que a gestão democrática possa se concretizar. Agir em cooperação significa acabar com as relações autoritárias e de centralização do poder, características da escola tradicional, favorecendo relações democráticas e a emancipação de todos os que estão envolvidos. Segundo Libâneo (2008), a participação é um caminho democrático para alcançar os objetivos da instituição escolar por meio da intervenção comunitária e dos profissionais que atuam na educação. O trabalho do diretor de escola é pleno de encontros e desencontros, conflitos, desafios e realizações. É muito comum que a realidade do cotidiano e exigências diversas o afastem daquilo que tinha em princípio, como propósito. Por isso, possível perceber como as equipes escolares anseiam por presença, atenção, sugestões decisões e encaminhamentos por parte do diretor. Os muitos problemas existentes no dia a dia das unidades escolares, entre os quais se destacam a falta de diálogo entre os colegas, os conflitos pessoais e as relações de poder que se estabelecem, todos prejudicam e provocam sentimentos de desencanto em relação à escola. O grande desafio hoje é (...) conseguir recriar um novo sentido para a condição humana. (LIMA, 2007, p. 37-38) Assim, a escola tem na participação e na gestão democrática o amparo do projeto político-pedagógico como o “conjunto articulado de propostas e programas de ação, delimitados, planejados, executados e avaliados em função de uma finalidade previamente delineada pela representação simbólica dos valores a serem efetivados” (SEVERINO, 2001, p.153). Para construir a identidade da escola é necessária muita reflexão e estudo sobre a intenção e pertinência para a instituição escolar. Com relação à missão da escola, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (no.9.294/96) institui: Art. 12. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de: I – elaborar e executar sua proposta pedagógica; II – administrar seu pessoal e seus recursos materiais e financeiros; III – assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas-aula estabelecidas; IV – velar pelo cumprimento do plano de trabalho de cada docente; V – prover meios para a recuperação dos alunos de menor rendimento; VI – articular-se com as famílias e a comunidade, criando processos de integração da sociedade com a escola; VII – informar os pais e responsáveis sobre a frequência e o rendimento dos alunos, bem como sobre a execução de sua proposta pedagógica; VIII – notificar ao Conselho Tutelar do Município, ao juiz competente da Comarca e ao respectivo representante do Ministério Público a relação dos alunos que apresentem quantidade de faltas acima de cinquenta por cento do percentual permitido em lei. Art. 13. Os docentes incumbir-se-ão de: I – participar da elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento de ensino; II – elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a proposta pedagógica do estabelecimento de ensino; III – zelar pela aprendizagem dos alunos; IV – estabelecer estratégias de recuperação para os alunos de menor rendimento; V – ministrar os dias letivos e horas-aula estabelecidos, além de participar integralmente dos períodos dedicados ao planejamento, à avaliação e ao desenvolvimento profissional; VI – colaborar com as atividades de articulação da escola com as famílias e a comunidade. Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios: I – participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola; II – participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes. (BRASIL, 1996, art.12 – art.14) 2.3 O projeto político-pedagógico como fator de democratização escolar A democracia é um conceito da política que tem como base um conjunto de direitos que todos os indivíduos devem ter, incluindo direitos e deveres de acordo com a faixa e também o compartilhamento do poder. Democracia significa, também, em certa interpretação, “autogoverno”, o que quer dizer, idealmente, que sociedades, associações, grupos e Estados podem se autogovernar, resolvendo seus próprios problemas de forma coletiva e participativa. Ao falar em democracia, logo somos remetidos à política. Historicamente, temos as transformações sociais abarcando novos direitos, novos indivíduos e, consequentemente, novas demandas, conforme a sociedade se transforma e essas transformações se dão justamente pelas ações políticas. Com base nesse pressuposto, a democracia é, além de um regime de governo, um modo de vida orientado pelo diálogo, participação e respeito mútuo pelo bem comum nas relações do dia a dia. Esse tipo de exercício político é vivenciado por todos diariamente, implicando não somente no diálogo, mas na tomada de decisão comunitária. Aos educadores fica relegada a missão de ensinar o aluno a aprender democracia, de forma coletiva por meio de práticas e atitudes. Na escola, a gestão democrática e participativa promove a mobilização, a organização e a participação dos envolvidos no processo educativo e no planejamento e execução das ações de gestão, mas apesar de ser instituída por lei, ainda não é realidade prática em muitas instituições. Os gestores precisam de empenho para inovar e mudar, dando ênfase à construção de um bom Projeto político-pedagógico, à formação continuada de todos os colaboradores, fortalecendo o grêmio estudantil, respeitando a diversidade, democratizando as relações de poder e o conselho escolar e a associações de pais e mestres, entre outros fatores. O Projeto Político-Pedagógico (PPP) é fundamental para a organização e administração do ano letivo. Gerir uma escola exige conhecimento, colaboração, tempo, planejamento e participação das várias pessoas envolvidas com o ambiente educativo. Trata-se de um documento legal e político que visa enfrentar desafios e que determina a organização escolar. Configura-se uma ferramenta de planejamento e avaliação que precisa ser completo e flexível e indica qual a direção a seguir. O Projeto Político-Pedagógico contempla dados sobre aprendizagem, recursos, missão, relação com a família, clientela, as diretrizes pedagógicas e requer uma gestão democrática, pois engloba gestores, professores, funcionários, alunos e família. Assim, ele deve ser articulador, norteador, desafiador e construído e vivenciado por todos os membros da instituição. A gestão democrática e participativa e a autonomia são parte da ação pedagógica e são exigências do próprio projeto político-pedagógico. Este, por sua vez, tem ligação estreita com a qualidade de ensino e é uma prática do dia a dia da escola. Lembrando que o fundamento da gestão democrática é a participação. Como visto, é pela participação que os envolvidos nos assuntos da escola tomamparte na ação. A verdadeira democracia decorre da confluência de diferentes pontos de vista, visões de mundo e diferentes papéis, assim como da possiblidade de desenvolvimento de uma conscientização individual e coletiva, no envolvimento e compromisso de pessoas da comunidade externa e interna da escola, bem como da participação governamental e no produto do projeto escolar. Sempre que algo é constituído pelo coletivo, há um compromisso ampliado e descentralizado, assumido pela comunidade. O Projeto Político-Pedagógico é fruto do esforço assumido pela comunidade escolar, e deve ser construído tendo como cerne o processo educativo integral do aluno, incluindo aspectos cognitivos, físicos, culturais, sociais e afetivos. Os elementos que constituem um Projeto Político-Pedagógico incluem, mas não se restringem ao histórico da escola, ou seja, o registro do resgate de elementos do passado para entender o presente e planejar o futuro da instituição; o contexto sociocultural que visa caracterizar o status cultural e social da comunidade onde a escola está inserida; os conceitos de ação educativa, em que é exposta a visão social, educativa, do currículo e do ensino e aprendizagem; os objetivos que indicam o motivo da existência da instituição, sempre colocando o discente como cerne do processo; e ainda, a gestão e organização do trabalho. A gestão e a organização do trabalho devem ser divididas em recursos materiais (material didático e pedagógico, jogos, mobiliário, brinquedos etc.); estrutura física (onde são descritos os espaços escolares, como salas, estrutura de áreas internas em geral); recursos humanos (descrição dos profissionais que fazem parte do quadro funcional da instituição de ensino); corpo docente e discente (descrição de quem são esses alunos e professores); e recursos financeiros (importante para que se possa determinar o escopo de ação dentro de uma realidade financeira plausível). O Projeto Político-Pedagógico também inclui a estrutura pedagógica que abrange a metodologia de ensino adotada pela instituição, demonstrando a prática do trabalho que se desenvolve junto aos alunos; inclui a relação entre docentes, discentes e comunidade (no Projeto Político-Pedagógico deve haver a descrição da forma como a relação entre as partes será feita para garantir a qualidade); inclui a avaliação do ensino que vislumbra como será a avaliação na escola; inclui os horários institucionais e de entrada e saída dos alunos e inclui, ainda, a avaliação do próprio Projeto Político-Pedagógico (incluindo como e quando será feita essa autoavaliação). Assim, o Projeto Político-Pedagógico reúne as propostas que devem ser executadas durante um período determinado, considerando a escola como espaço para formar cidadãos conscientes, críticos, responsáveis e que deverão atuar de forma individual e coletiva na sociedade, modificando seus rumos. O projeto é pedagógico também porque organiza e visa definir atividades educativas necessárias ao processo de ensino e aprendizagem. Não deixa de ser um guia que determina a direção que deve ser seguida pelos gestores, docentes, comunidade, colaboradores, alunos e suas famílias. Tem que ser completo, de forma a não deixar dúvida sobre os rumos, mas tem que ter flexibilidade para adaptar-se às necessidades dos alunos em termos de sua aprendizagem. Em outras palavras, o Projeto Político-Pedagógico, em suas três dimensões (projeto, político e pedagógico), deve contemplar a missão da instituição de ensino, descrição da clientela, os dados sobre a aprendizagem, as relações esperadas com as famílias, os recursos, as diretrizes pedagógicas e o plano de ação. Devido à sua extrema relevância, ele se configura como uma ferramenta de planejamento e de avaliação que deve ser consultada pelas equipes de gestão e pedagógica ao tomar decisões, embora muitos gestores o vejam, simplesmente, como formalidade exigida legalmente pela Lei de Diretrizes e Bases (no. 9.294/96). O Projeto Político-Pedagógico é um dos pilares na construção da gestão democrática, por meio do qual os gestores podem reconhecer e concretizar a participação de todos ao definir metas e implementar ações, além da equipe administrativa e docente assumir a responsabilidade pelo cumprimento do que é planejado, ficando também aberto a cobranças. Envolver a comunidade na elaboração do Projeto Político-Pedagógico, compartilhando a responsabilidade pelos rumos da instituição é um dos desafios dos gestores. Um projeto bem estruturado dá identidade clara à instituição e transparência, mesmo que, no início, poucos participem das discussões com opiniões e sugestões. Os membros da comunidade passam a ser os próprios multiplicadores, conquistando mais colaboração para, pelo menos, participar das revisões do projeto. 2.3.1 Falhas comuns com relação ao Projeto Político-Pedagógico A eficácia do Projeto Político-Pedagógico pode ser comprometida quando houver algumas falhas na sua elaboração, tais como quando a gestão compra modelos prontos de consultorias externas, fazendo com que o projeto não tenha a identidade da instituição. Além disso, há casos em que o projeto só é revisado para envio à Secretaria da Educação, sem análise profunda das mudanças ocorridas na instituição nem observância às necessidades atualizadas dos alunos, ou ainda, quando o Projeto Político-Pedagógico é engavetado ou arquivado em computador sem ser acessível para todos os interessados, tornando-se um documento estático ao invés de uma ferramenta viva, atualizável e amplamente utilizável. Outra falha é ignorar ideias que são levadas aos debates, desconsiderando também todas as decisões sujeitas a voto democrático. Há, ainda, a falha da comunidade em participar e se interessar devido à pouca experiência democrática do povo brasileiro. Assim, a finalidade do Projeto Político-Pedagógico é propor a formação organizacional do trabalho pedagógico para superar conflitos, eliminando, inclusive, relações de competitividade corporativa e autoritarismo, transformando as rotinas internas da instituição. Portanto, o Projeto Político-Pedagógico vislumbra a escola em sua totalidade, sob uma perspectiva estratégica e não somente pedagógica. Consiste em uma ferramenta de gerenciamento que ajuda a instituição a definir prioridades estratégicas, convertendo as prioridades em metas concretas, decidindo o que deve ser feito para atingir as metas de aprendizagem e mensurar se os resultados esperados foram atingidos, avaliando o próprio desempenho. O Projeto Político-Pedagógico não é o mesmo que planejamento pedagógico. Ele norteia a elaboração e execução dos planejamentos envolvendo diretrizes de longo prazo, abrangendo conceitos antropológicos (relativos à existência do ser humano), epistemológicos (conceitos sobre a forma de aquisição do conhecimento), valorativos (conceitos éticos, morais, pessoais) e políticos (regras, hierarquias etc.). 3. PLANEJAMENTO PARTICIPATIVO, OS ÓRGÃOS COLEGIADOS DA ESCOLA, O REGIMENTO ESCOLAR E O PLANO DE DIREÇÃO 3.1 O Planejamento participativo O Planejamento participativo é o processo em que se realiza a organização do trabalho do grupo na escola, e tem como base a coletividade, visando solucionar problemas existentes. Nesse processo, os envolvidos podem decidir, discutir, refletir e questionar, participando de forma transformadora. Ele foi constituído, originalmente, para intuições sem fins lucrativos, visando somente à construção de uma nova realidade e a transformação dela. Em suma, a ideia é que todos participem da reflexão sobre a realidade escolar de forma transformadora. A participação, sem seu sentido pleno caracteriza-se por uma força de atuação consciente, pelo qual os membros de uma unidade social reconhecem e assumem seu poder de exercer influência na determinação da dinâmica dessa unidade social, de sua cultura e de seus resultados, poder esse resultante de sua competênciae vontade de compreender, decidir e agir em torno de questões afetivas. (LÜCK, 2007 p.18) O planejamento participativo tem como cerne o processo e não somente o resultado. Atentar para as diferentes opiniões dentro da escola permite que sejam criados vínculos entre funcionários, docentes, alunos e pais. Ele é extremamente importante para buscar o aperfeiçoamento do que deve ser feito e ajuda muito na condução do trabalho coletivo. Ao oferecer a oportunidade para uma participação democrática, é possível elaborar critérios coletivos para a orientação do processo de planejamento. Além disso, é possível agregar significados que possam ser comuns aos diferentes agentes envolvidos em prol de um melhor trabalho a ser realizado na instituição. Se não existe participação, há a fragmentação das diferentes opiniões e formas de ver as coisas na escola. O planejamento participativo serve para que os envolvidos no processo também se sintam responsáveis por tudo que ocorre na instituição, e esses sujeitos integram o objeto de reflexão, tornando-se mais sensíveis frente às necessidades da instituição escolar. Sempre que há oportunidade para todos participarem, surgem oportunidades por meio das diferentes experiências e visões sobre o assunto abordado. Acompanhar o planejamento permite que sejam realizadas alterações estratégicas e ações pensadas durante a execução dos planos, corrigindo o curso do processo alcançando os objetivos, uma vez que o planejamento participativo é flexível e deve ser feito continuamente, acompanhado, avaliado e replanejado para transformar realidades. Ferreira (1979) identifica três fases para o processo de constituição do planejamento participativo, que compreendem o preparo do plano escolar, o acompanhamento da realização prática do que foi refletido durante a elaboração e a revisão da implementação. Coombs (1970) enfatiza que planejar não é um processo meramente teórico e não é também um ideal abstrato, mas principalmente, uma prática que envolve circunstâncias factíveis do dia a dia. São necessários os conhecimentos práticos sobre o que é tratado, para que não seja um processo meramente empírico, mas devidamente ajustado às necessidades escolares reais. Se vislumbrado somente como um processo teórico, há o risco de deixar de fora agentes relevantes para a prática. Não basta estabelecer fatos intangíveis, ideias fechadas e inflexíveis, já que deve haver a necessidade prioritária de flexibilidade para contemplar mudanças que envolvam não somente os docentes ou a gestão, mas toda a equipe escolar que deve sempre ser consultada durante a elaboração e a efetivação prática do plano. Quaisquer mudanças no planejamento não devem fugir das regras gerais nele estabelecidas, mas deverá haver a flexibilização de alguns tópicos, facilitando e resolvendo situações eventualmente não atendidas pelo plano. Os dados devem ser colhidos pela comunidade escolar e por ela devem ser oportunamente reavaliados Segundo Lück (2008), as necessidades educacionais, os planos de aulas e o planejamento participativo devem caminhar juntos para o melhor aproveitamento e desenvolvimento da escola. O planejamento participativo é um recurso de extrema importância para que a escola possa organizar-se e funcionar de forma eficaz, cumprindo todas as funções educacionais e sociais, além de garantir a plena realização de um trabalho coletivo. Ao implementar o planejamento participativo, o gestor se desvincula da centralização na tomada de decisão, dando voz à coletividade e alinhando-se às possibilidades de um trabalho coletivo, evitando até mesmo, improvisações. Devemos entender o planejamento como a articulação constante e incessante da estratégia e da tática que guia nossa ação no dia-a-dia. A essência desse planejamento é a mediação entre o conhecimento e a ação. Essa estratégia e essa tática são necessárias porque o sistema social em que eu existo compreende outros sujeitos que também planejam com objetivos distintos dos meus. (MATUS, 1996, p. 285) Embora a participação democrática no Brasil ainda não seja um hábito plenamente instituído, a partir da década de 80, a democratização de espaços tem se avolumado por meio do respaldo legislativo e das reformas educacionais. Nessa época, a participação começou a ampliar-se. A participação sem seu sentido pleno caracteriza-se por uma força de atuação consciente, pelo qual os membros de uma unidade social reconhecem e assumem seu poder de exercer influência na determinação da dinâmica dessa unidade social, de sua cultura e de seus resultados, poder esse resultante de sua competência e vontade de compreender, decidir e agir em torno de questões afetivas. (LÜCK, 1996, p.18) Ainda segundo Lück (1996), a gestão participativa é uma forma de envolver todo o pessoal da instituição escolar, uma vez que não tem característica essencialmente técnica, mas, ao contrário, é um instrumento crítico que não exclui as opiniões da coletividade, respeitando a participação de todos como requisito para que se concretize o desenvolvimento educacional, trazendo consigo um aspecto coletivo com compromisso de transformação educacional e social. Mas, como em qualquer processo que envolve gestão, a burocracia pode impedir que os envolvidos nos processos educativos se manifestem. Por vezes, alguns participantes do processo podem se sentir isolados, pouco ouvidos, de forma incapacitante, impedidos de assumir um trabalho com êxito. Essa ruptura pode desestimular a comunidade, os docentes e demais envolvidos. De acordo com Lück et. al. (2008, p.21), na concepção de planejamento participativo existem teorias que se baseiam na psicologia para servir de modelo afetivo e cognitivo, ajudando a entender melhor o próprio ato do planejamento, facilitando o desenvolvimento e a participação através da exploração das capacidades cognitivas na prática dos educadores. Segundo a autora, a teoria cognitiva propõe que a produtividade é aumentada através da participação uma vez que disponibiliza informações e estratégias mais qualificadas para a tomada de decisões. Já a teoria afetiva é possível encontrar o encorajamento e engajamento entre os participantes que interagem visando um objetivo. O termo se refere à capacidade do ser humano de ser afetado positiva ou negativamente tanto por sensação interna como externa, a afetividade é um dos conjuntos funcionais da pessoa e atua, juntamente com a cognição e o ato motor, no processo de desenvolvimento e construção do conhecimento. (WALLON apud SALLA, 2011, p.108) O planejamento participativo dinamiza a escola, uma vez que toda a comunidade escolar fica integrada mutuamente. Os alunos participam das atividades que são propostas pela escola e esta, por sua vez, oferece qualidade aos pais e à comunidade. Este planejamento objetiva destinar os recursos e ideias a seus devidos lugares, decidindo conjuntamente as tarefas, adotando práticas educativas coletivas visando à melhoria contínua da qualidade pedagógica, servindo de motivação e apoio aos interessados no processo educacional. O planejamento participativo auxilia a tratar do convívio e da solução de adversidades atendendo às diferenças entre as pessoas em consideração, inclusive, ao meio, ao desenvolvimento afetivo dos colaboradores, motivando a todos para as tarefas que são propostas na escola. A escola que tem um planejamento participativo busca a qualidade do ensino, abre-se à comunidade, os responsáveis têm conhecimento do que ocorre na escola, opinam, aceitam ou criticam mudanças, resgatando o papel educativo da comunidade. Esse movimento incorpora a cultura de emancipação, transparência e democracia com reforço no diálogo. A escola passa a ser centrada no processo de estímulo de responsabilidade e decisão que são experiências libertárias. Tomando decisões, o cidadão aprende a decidir, e é na escola participativa, pormeio da execução do projeto, que são levados em conta todos os conhecimentos dos educandos. Sendo assim, a elaboração do planejamento participativo na instituição de ensino deve se caracterizar, essencialmente, por ações da coletividade, envolvendo todos que fazem parte da instituição. É necessário, então, que o gestor empreenda as melhores práticas democráticas, fazendo a distribuição de tarefas e de decisões, visando que todos os envolvidos desejem comprometer-se com o sucesso qualitativo por consenso. Desse modo, o planejamento deve ser visto como um processo contínuo de planejamento, acompanhamento, avaliação e replanejamento, visando transformar a realidade. Para elaborar o planejamento participativo, os problemas a serem tratados por ele devem, preferencialmente, partir da comunidade escolar e após levantar os dados relacionados aos problemas, estes devem ser elencados e hierarquizados, dando prioridade para os que são especificamente voltados à comunidade escolar. Os problemas devem ser internos à escola, estabelecidos de forma objetiva e muito clara para garantir proposições para a solução através de método cooperativo. A avaliação é contínua. A ideia é que o crescimento seja conjunto, transformando de forma coordenada a realidade de todos. Docentes, pais, alunos e todos os envolvidos devem articular teorias e práticas na produção de novos conhecimentos com base na realidade interna e local. O ato de planejar não pode ser neutro. A ideia é abrir o leque de oportunidades por meio de experiências diferentes sobre o mesmo assunto abordado. A capacidade de ação é assim ampliada, bem como a resolução dos problemas que são tratados sob diferentes pontos de vista, aumentando o engajamento, a proatividade e o respeito de todos, eliminando a apatia e o desânimo dos docentes e equipes da escola. 3.2 A figura do gestor no planejamento participativo e na melhoria da qualidade de desempenho escolar As políticas públicas passam a dar cada vez mais destaque à figura do gestor como indivíduo chave para a melhoria da qualidade do ensino em todo o país. No Brasil, essa ênfase toma forma a partir da década de 80, de maneira não muito rápida após a Constituição Federal de 1988 (quando os diretores começaram a deixar de ser indicados politicamente por ligações partidárias substituídos por gestores com formação acadêmica) e após a publicação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº. 9394, aprovada em 20 de dezembro de 1996, como já mencionado anteriormente. Mas é a partir do Plano Nacional de Educação (PNE) lei nº. 10.172 de 9 de janeiro de 2001, amplia-se o destaque para a gestão educacional. A LDB de 1996 e o PNE de 2001 oferecem as determinações que se referem à formação do profissional gestor com metas para melhorar ainda mais a formação acadêmica dos gestores em 2011. A LDB nº. 9394/96 estabeleceu a formação dos profissionais de administração, inspeção, planejamento e supervisão, bem como orientação educacional, e a partir de então muitos cursos passaram a ser oferecidos para a formação desses gestores, sobretudo após o PNE/01. Sobretudo na década de 90, as universidades passaram a despertar para a importância dos gestores democráticos para a educação de qualidade, passando a oferecer vários cursos e programas sobre gestão educacional. Porém, apesar das políticas educacionais, os problemas relacionados à nomeação de gestores ainda não estão totalmente resolvidos, havendo aperfeiçoamentos práticos a serem realizados nos processos. Os cursos de formação de gestores foram planejados visando mudanças qualitativas, viabilizando a análise e discussão de conceitos, ferramentas de análise, opções que envolvam políticas educacionais, que frente à globalização ofereceram a solução para as necessidades, usando os recursos disponíveis, bem como identificam mudanças exigidas, problemas, linhas de ação e educação de qualidade para todo cidadão. Além disso, o objetivo também é discutir questões que são fundamentais para oferecer suporte nos processos que visam superar problemas ligados à oferta (sobretudo para a educação básica), relacionadas à própria gestão, financiamento dos sistemas educacionais, avaliação, formação docente e dos próprios gestores, melhoria dos processos de ensino e aprendizagem, uso de tecnologias educacionais, educação do campo. Igualmente, discutir, analisar e avaliar objetivos, condições e opções estratégicas para implantar reformas educacionais que melhorem a qualidade, eficácia e equidade. Esses cursos também visam saber valer a observação e discussão das experiências e dos projetos educacionais, que oferecem um ensino de qualidade mais ampla, promovendo a inserção social e cultural e a formação integral da cidadania. Os cursos de gestão passaram a montar e apresentar projetos educacionais que expressassem as mudanças na perspectiva da melhoria da oferta da educação com qualidade. Por exemplo, a educação é dependente também da política no que tange às prioridades orçamentárias, expansão da infraestrutura dos serviços em educação. Já a política, por sua vez, depende da educação, porque possibilita o acesso à informação, difusão de proposições políticas, formação de propostas partidárias etc. Portanto, esses fatores políticos são também atributo do gestor. Por melhor que seja o preparo do gestor, há muitas vertentes a serem consideradas para oferta da educação de qualidade, sendo necessário um amplo conjunto de ações do governo que ampliem ainda mais as possiblidades do sistema de ensino competente e ciente da capacidade de preparação da nação para os desafios complexos dos tempos modernos. Quanto mais a educação da nação se torna democrática e participativa, mais organiza seu sistema de ensino e melhor a organização das instituições educacionais, aumentando a necessidade de pesquisa, estudos, programas e experiências sobre o melhor modo de gerir tudo isso de forma democrática e participativa. 3.3 Os Órgãos Colegiados na gestão participativa Os órgãos colegiados (conselho escolar, associação de pais e mestres e grêmio estudantil) são entidades fundamentais para a gestão democrática, porque garantem que a participação e a descentralização do poder colaborem sobremaneira com uma educação de qualidade. A gestão democrática deve investir na autonomia dos participantes na tomada de decisão e na promoção de um trabalho coletivo para a construção da cidadania e efetivação do processo de democracia. A associação de pais e mestres exerce funções como a representação dos desejos da comunidade e dos pais de alunos, e colabora com a gestão escolar para chegar aos objetivos educacionais; pode mobilizar, frente à comunidade, recursos humanos, financeiros, materiais para dar auxílio à escola, manter e preservar a infraestrutura da escola, instalações e equipamentos, fazer a programação de atividades relacionada à cultura e lazer envolvendo a participação de todos, fortalecendo o caráter democrático e da qualidade da escola. O grêmio estudantil, formado por alunos, pode ser a primeira oportunidade dos discentes de participar organizadamente das decisões da escola, adotando uma perspectiva política frente à qualidade do ensino. Por meio do grêmio, os alunos adquirem voz nas decisões da instituição, oferecendo ideias e opiniões de forma responsável. A participação desses segmentos representados na escola resulta em uma gestão mais democrática, e desenvolve a conscientização social dos envolvidos que desejam uma escola de qualidade, uma vez que a gestão democrática e participativa nada mais é do que enfatizar a participação de todos. Os alunos devem se sentir apoiados e motivados a prosseguir nos estudos com toda qualidade e sucesso pessoal e social. Sentir-se parte de algo organizado e próspero é também um processo de exercício democrático. O gestor deve conhecer os anseios de todos (alunos, docentes, pais, responsáveis
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