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Gestao Rita de Cássia Borges de Magalhães Amaral Educacional G esta o Rita de Cássia Borges de M agalhães Am aral Código Logístico 59254 Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6601-8 9 7 8 8 5 3 8 7 6 6 0 1 8 Esta obra tem como principal objetivo possibilitar a reflexão sobre a gestão escolar. Com este livro, o leitor será instigado à pesquisa e a outros diálogos produtivos e qualificados, sendo constantemente convidado a integrar-se a uma prática educativa crítica, original e efetiva, com base em uma análise mais reflexiva sobre os contextos internos e externos das escolas. Com a leitura deste livro, espera-se que o leitor seja capaz de debater e refletir, entre outros temas, sobre a aplicação de algumas teorias administrativas empresariais no contexto escolar, as responsabilidades do gestor como transformador e instigador do desenvolvimento social e a importância de um modelo de gestão democrática como algo possível e necessário para as instituições escolares. Gestão Educacional Rita de Cássia Borges de Magalhães Amaral IESDE BRASIL 2020 Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br © 2020 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito da autora e do detentor dos direitos autorais. Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: ChiccoDodiFC/fizkes/Shutterstock CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ B734g Amaral, Rita de Cássia Borges de Magalhães Gestão educacional / Rita de Cássia Borges de Magalhães Amaral - 1. ed. - Curitiba [PR] : IESDE, 2020. 84 p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-387-6601-8 1. Educação. 2. Escolas - Organização e administração. 3. Administra- dores escolares. 4. Gestão da qualidade total na educação. I. Título. 20-63316 CDD: 371.2 CDU: 37.091-057.17 Rita de Cássia Borges de Magalhães Amaral Doutora em Engenharia de Produção pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Mestre em Sociologia e Antropologia pela UFRJ. Especialista em Planejamento, Implementação e Gestão da EaD pela Universidade Federal Fluminense (UFF), em Metodologia do Ensino na Educação Superior e em Pedagogia Empresarial pela Uninter e em Design Instrucional pelo Instituto de Desenho Instrucional (IDI). Licenciada em Pedagogia pelas Faculdades Integradas Simonsen. Professora no ensino superior, ministrando as disciplinas de Didática, Gestão Educacional, Avaliação Educacional, Planejamento e Projeto Pedagógico, Pedagogia Empresarial, Projetos de Educação a Distância e Currículos e Programas. Atua como assessora de projetos educacionais e coordenadora universitária. SUMÁRIO 1 Concepções de administração e sua aplicação na escola 9 1.1 Concepções sobre administração 9 1.2 A gestão da escola 16 1.3 Função social da educação e da escola 18 2 A gestão em diferentes espaços educativos e o papel do gestor 22 2.1 A gestão da educação em diferentes espaços educativos 22 2.2 Campos de atuação do gestor educacional nos sistemas de ensino 27 2.3 O papel do gestor educacional 31 3 Democratização da gestão escolar 35 3.1 Gestão democrática na escola: compartilhamento de responsabilidades 35 3.2 Participação e autonomia das unidades escolares 40 3.3 Profissionais da educação e seu papel na gestão escolar 41 3.4 Projeto político pedagógico: uma proposta educacional participativa 45 3.5 O papel da equipe no desenvolvimento de um projeto educacional participativo 50 4 Gestão estratégica nas escolas e qualidade na educação 54 4.1 O perfil do diretor de escola 54 4.2 Legislação para o cargo de diretor de escola 56 4.3 Planejamento estratégico 58 4.4 Qualidade na educação 63 5 Políticas educacionais e financiamento da educação básica 67 5.1 Políticas educacionais: o direito à educação básica 67 5.2 Financiamento da educação escolar 70 5.3 Políticas de avaliação do sistema educacional 77 6 Gabarito 81 Esta obra tem como principal objetivo possibilitar a reflexão sobre a gestão escolar. Com esta leitura, você será instigado à pesquisa e a outros diálogos produtivos e qualificados, sendo constantemente convidado a integrar-se a uma prática educativa crítica, original e efetiva, com base em uma análise mais reflexiva sobre os contextos internos e externos das escolas. No Capítulo 1, conceituamos o que é administração e como se dá a aplicação de algumas teorias administrativas empresariais no contexto escolar. Para tanto, abordamos as teorias de administração científica, organizacional e moderna. Já no Capítulo 2, conhecemos os possíveis campos de atuação do gestor, assim como sua responsabilidade em agir como transformador e instigador do desenvolvimento social. Procuramos, no Capítulo 3, compreender o modelo de gestão democrática como algo possível e importante para a administração escolar, além de estudar o Projeto Político Pedagógico e a participação de cada membro das equipes pedagógicas. No Capítulo 4, vamos conhecer a fundo o perfil e as atividades próprias ao cargo de diretor escolar e estudar a legislação que rege essa posição. Por fim, no Capítulo 5, apresentamos os mecanismos que possibilitam a gestão democrática – como o conselho escolar e a implementação de políticas públicas educacionais –, que visam democratizar o acesso à educação, além dos meios de financiamento da educação básica da rede pública. Esperamos que você, ao concluir a leitura deste livro, seja capaz de debater e refletir sobre essa área profissional, que se faz tão presente no dia a dia da escola e dos profissionais da educação, que é a gestão educacional. Desejamos que você aproveite ao máximo essa proposta de formação. Bons estudos! APRESENTAÇÃO Concepções de administração e sua aplicação na escola 9 O que você conhece sobre administração geral e escolar? Neste capítulo, abordaremos a concepção do que é administração e a aplicação dela no âmbito escolar, com base em algumas teorias de administração empresarial, localizando-as no tempo e contexto educacional. Para isso, analisaremos o papel da escola em nossa sociedade e conceitos como os de administração científica, teoria organizacional e teoria moderna da administração. Concepções de administração e sua aplicação na escola 1 1.1 Concepções sobre administração Vídeo Para que tenhamos uma compreensão das ideias que permeiam as ações dos gestores escolares, ou gestores de espaços educativos em geral, nesta seção, apresentaremos de modo sucinto algumas manei- ras de caracterizar a administração das organizações que exerceram, e ainda exercem, influência no modo de propor os sistemas educativos e as relações a eles inerentes. A administração tradicional foi inspirada nas formas de organi- zação das indústrias. Frederick Winslow Taylor, nascido nos Estados Unidos, criou a denominada administração científica. A teoria de Tay- lor estava centrada no trabalho e propunha uma organização racio- nal do trabalho, separando as funções próprias dos administradores, como planejamento e supervisão, das funções próprias dos operá- rios, como atividades de execução. 10 Gestão Educacional Para saber mais sobre a administração científica e seu idealizador, leia o artigo Administração científica de Taylor: o homem do tempo, dos autores José Márcio Coelho e Ricardo Martins Gonzaga. Acesso em: 6 mar. 2020. https://storage.googleapis.com/adm-portal.appspot.com/_assets/modules/academicos/academico_318_190226_174335.pdf?mtime=20190226144332 Artigo Além dessa separação de tarefas, outros aspectos podiam ser obser- vados, como a proposta de um tempo padrão para a execução de cada tarefa com base na análise de alguns fatores presentes nessa ação; a se- leção dos trabalhadores, colocando cada um na função mais adequada ao seu interesse e à suaaptidão; a remuneração compatível, com oferta de prêmios por produção; a divisão da tarefa em subtarefas, para promo- ver a especialização do funcionário e, consequentemente, o aumento da eficiência de sua produção; a padronização de tarefas; o estabelecimento de boas condições para o trabalho, promovendo o bem-estar do traba- lhador; a supervisão por áreas, para controle rígido dos trabalhadores. Outro grande teórico foi o engenheiro francês Henri Fayol, que am- pliou o estudo dos processos da administração para uma estrutura maior e não centrada apenas no trabalho. Fayol definiu alguns princí- pios gerais para a administração, que têm bastante semelhança com as ideias de Taylor. São eles: Pela especialização nas tarefas, para aumentar a produtividade e a eficiência. Divisão do trabalho Aos supervisores ou chefes era reconhecido o direito de dar ordens, e aos operários ou funcionários de escalões hierarquicamente inferiores cabia o dever da obediência. Nessa ótica, quanto maior o poder de autoridade, maior a responsabilidade sobre os resultados. Autoridade e responsabilidade A existência de normas de conduta e a necessidade de cada coisa e cada pessoa no seu lugar. Disciplina e ordem O filme Tempos Modernos, dirigido e estrelado por Charles Chaplin, mostra um operário na linha de produção. O longa é uma sátira bem-humorada que retrata uma situação difícil de se suportar por muito tempo. Ao assistir ao filme, procure refletir sobre a teoria clássica da admi- nistração projetada por Henri Fayol, caracterizada pela ênfase na estrutura organizacional e pela busca da máxima eficiência. Essa questão é muito bem retratada no filme. Direção: Charles Chaplin. EUA: United Artists, 1936. Filme https://storage.googleapis.com/adm-portal.appspot.com/_assets/modules/academicos/academico_318_190226_174335.pdf?mtime=20190226144332 Concepções de administração e sua aplicação na escola 11 A remuneração deve ser justa, prevalecendo a justiça no trato com os funcionários. Esse princípio aponta, também, que a estabilidade é fator de interesse para o progresso da organização, além de uma iniciativa no estabelecimento e cumprimento de planos. Remuneração justa Crença de que grupos informais podem influenciar positivamente a organização. Esse princípio trouxe como consequência a usual espionagem entre as empresas e o uso das informações levantadas pelos grupos de trabalhadores para uso do administrador. Grupos informais Para esse princípio o trabalhador é uma pessoa integrada ao ambiente e plenamente satisfeita. Visão idealizada do trabalhador Interesses que devem estar acima dos interesses individuais. Interesses coletivos Apenas uma pessoa dá ordens a um grupo de funcionários para que não apareçam contradições; cada grupo tem um mesmo objetivo a alcançar e a autoridade fica concentrada nas funções mais elevadas da organização; e a autoridade se estabelece do nível mais alto para o mais baixo da escala hierárquica. Unidade de comando, unidade de direção, centralização e hierarquia No artigo Henri Fayol – pai da teoria clássica da administração, de Jeniffer Elaina, você pode conhecer mais sobre a história de Henri Fayol e suas icônicas fra- ses, como “administrar é prever, organizar, comandar, coordenar e controlar”. Acesso em: 10 mar. 2020. https://www.portal-gestao.com/artigos/6886-henri-fayol-pai-da-teoria-clássica-da-administração.html Artigo Considerando que estamos estudando as concepções sobre administração, é importante refletir sobre a forma como as indústrias e os serviços eram organizados, e como essas indústrias influencia- ram na organização dos sistemas escolares e das próprias escolas. Com base nas leituras prelimi- nares, vamos pensar na escola atualmente. Você identifica as características das duas teorias – de Taylor e de Fayol – nas nossas escolas? Como você analisa essa forma de organizar a administração? Essa organiza- ção atende às necessidades da escola de hoje? Desafio https://www.portal-gestao.com/artigos/6886-henri-fayol-pai-da-teoria-clássica-da-administração.html 12 Gestão Educacional 1.1.1 Teoria X e teoria Y Continuando nesse breve percurso histórico, abordaremos outras duas teorias, um pouco mais próximas de nossa atualidade, para com- preender a estrutura das organizações. Na década de 1930, o estudioso Douglas McGregor cria duas teorias contrastantes: a teoria X, na qual a autoridade determina a direção e o controle, e a teoria Y, que propõe a legitimação da autoridade pela integração. Na teoria X, o homem é apresentado como um ser carente, que faz somente o necessário para sua subsistência e não se importa com a realização pessoal. Algumas suposições dessa teoria assu- mem o trabalho como algo desagradável para a maioria das pes- soas, as quais não são ambiciosas, não desejam responsabilidade e preferem ser orientadas por terceiros. Para McGregor, as necessidades de ordem inferior dominam as pes- soas. A maioria não tem muita capacidade para criar e encontrar solu- ções para os problemas da organização. Como exemplo, podemos citar a questão da motivação, que, nessa teoria, ocorre apenas nos níveis fisiológico e de segurança. Para a realização dos objetivos da empresa, a maioria das pessoas precisa ser estritamente controlada e, muitas vezes, obrigada a bus- car esses objetivos, sem, no entanto, sentir-se motivada a realizá-los. É tudo uma questão de obediência às ordens. Na teoria Y, a questão da integração é a base, pois é ela que assegura e valida a autoridade. Essa teoria encoraja os colabora- dores a aceitarem responsabilidade nas funções mais inferiores da empresa, e a eles são oferecidas oportunidades para saciar as ne- cessidades sociais e individuais, ainda que seja sabido o quão difícil é integrar os interesses pessoais e organizacionais. O trabalho, nessa teoria, é concebido como algo tão natural quanto a participação em um jogo, desde que as condições possam ser favoráveis ao autocontrole. Além disso, o trabalho é frequente- mente indispensável para que possam ser realizados os objetivos da empresa. Pode-se perceber, também, que a capacidade para criar soluções e resolver problemas da empresa, na teoria Y, está mais enraizada pelos colaboradores. Concepções de administração e sua aplicação na escola 13 Sendo assim, desde que sejam motivadas e reconhecidas, as pessoas podem se orientar e ser criativas no ambiente de trabalho, pois dessa forma são consideradas competentes e responsáveis nas tarefas que realizam. 1.1.2 Teorias mais recentes de administração A partir da década de 1950, outras teorias acrescentaram possibilida- des à administração das organizações. Esses estudos apresentam ligação com a mudança de contexto das relações sociais e políticas nos países – sobretudo do mundo ocidental –, tanto interna como externamente, sem desconsiderar, no entanto, as contribuições tradicionais que continuam a alimentar as discussões sobre o tema e que trazem a marca da originalida- de, a partir do momento que introduzem esse tipo de debate. A teoria sistêmica, que se destaca na década de 1960, propõe o intercâmbio entre as várias áreas do conhecimento, já que as organi- zações devem ser comparadas aos organismos vivos, que mantêm, na- turalmente, uma interdependência. Para que possamos entender a teoria sistêmica, é importante com- preendermos o que vem a ser um sistema. Systema, do grego, significa um conjunto de elementos inter-relacionados. Saviani (1973, p. 3) com- preende o termo como “a unidade de vários elementos intencional- mente reunidos, de modo a formar um conjunto coerente e operante”. Sander (1985) classifica como principais elementos componen- tes de um sistema: o fluxo de entrada (insumos); o fluxo de produ- ção (processamento ou transformação); o fluxo de saída (produtos); a administração; e os objetivos. Com base nesses conceitos, é possível entendermos que um sistema é constituído de uma pluralidade de elementos quese inter-relacionam dinamicamente e possuem um objetivo comum. Os sistemas podem, ainda, ser compostos de subsistemas, que se constituem em unidades independentes, mas, ao mesmo tem- po, inter-relacionadas. Strehl e Réquia (2000) consideram que os sistemas podem ser abertos ou fechados. Os sistemas fechados, como o nome sugere, não mantêm intercâmbio com o ambiente externo. Já os sistemas 14 Gestão Educacional abertos se relacionam com esse ambiente. A educação, por exem- plo, é um sistema aberto. Esse modelo foi proposto inicialmente pelo biólogo alemão Ludwig von Bertalanffy e pressupõe os parâmetros a seguir. • Entrada (input): o ambiente oferece insumos em forma de mate- rial ou energia para o funcionamento do sistema. • Saída (output): o sistema envia, ao ambiente, produtos e serviços que são resultado do processamento dos insumos recebidos. • Processamento: tecnologias e procedimentos que resultam de competências utilizadas pela organização para a transformação do input. • Feedback ou retroalimentação: informações, sobre os produtos e serviços, que retornam ao sistema e o alimentam. • Ambiente: tudo que envolve externamente o sistema. A teoria pressupõe o conceito de ser humano funcional, aquele cujo papel na organização é desempenhado na relação com os demais su- jeitos do sistema aberto. Em 1954, Peter Drucker publicou a obra A prática da administração de empresas. Com ela, surgiram novas teorias, que pretendiam focali- zar a administração com outros sentidos que não apenas aquele da hierarquia e da burocracia. Certamente, tanto a hierarquia quanto a burocracia continuam existindo, mas como uma dimensão a serviço da administração, e não como a razão de sua existência. Observamos, então, uma abertura na visão e no debate sobre administração quando consideradas as interferências do ambiente externo e as trocas possí- veis com o ambiente interno. Para finalizar esta subseção, analisaremos algumas abordagens mais recentes sobre administração. 1.1.2.1 Administração por objetivos A teoria da administração por objetivos se apoia nos seguintes prin- cípios de organização: necessidade de mudança no comportamento dos gestores; descentralização da administração baseada na avaliação e no diagnóstico dos problemas; gestão considerada uma tarefa criati- va, com a capacidade de oferecer oportunidades de evolução e eficiên- Concepções de administração e sua aplicação na escola 15 cia; e, por fim, a ideia de autocontrole, substituindo a ideia de controle pela dominação, e a possibilidade de desenvolvimento pessoal. 1.1.2.2 Administração estratégica A teoria da administração estratégica envolve a integração dos se- tores da organização, visando à sua manutenção. Além disso, propõe atividades de análise do contexto, o estabelecimento de diretrizes, a proposta e implementação de estratégias organizacionais e o controle estratégico. Essa proposta considera o estabelecimento de objetivos; o conhecimento dos objetivos e das estratégias vigentes; a análise do ambiente e dos recursos existentes; a identificação dos fatores que re- presentam oportunidade ou ameaça à organização; a percepção das mudanças necessárias e do grau em que elas deverão acontecer; a es- colha e implementação das estratégias; e o controle dos resultados. Observamos que, nas teorias mais recentes, os gestores não são olhados como os donos da verdade ou aqueles que detêm a autoridade total, a quem todos apenas obedecem. Começa a ser esboçada a ideia de que todos, gestores e trabalhadores, são res- ponsáveis pela organização. É claro que essas teorias provocaram muitas críticas, sobretudo por os objetivos da organização e os objetivos dos trabalhadores gerarem conflitos muitas vezes insuperáveis. Além disso, a pers- pectiva de realizar mudanças, sempre que necessário, parece tra- zer certa insegurança à gestão. 1.1.2.3 Administração participativa A teoria da administração participativa apresenta a possibilida- de de presença dos trabalhadores nas decisões da empresa. Essa participação pode acontecer, por exemplo, por meio de represen- tantes, escolhidos pelos vários setores, que são a voz dos trabalha- dores nas decisões colocadas em discussão. Nesse tipo de gestão, almeja-se diminuir os conflitos, ampliar a sa- tisfação dos trabalhadores, aumentar a produtividade pelo melhor uso do potencial humano presente na empresa, equilibrar interesses e es- tender a responsabilidade social das empresas. 16 Gestão Educacional 1.2 A gestão da escola Vídeo As teorias apresentadas até aqui já mostram como o pensamento sobre a administração foi se constituindo, trazendo novas perspectivas e se adequando ao contexto social de cada época, o que, certamente, trouxe necessidades diferentes. Agora, abordaremos como se dá essa prática administrativa nos sistemas de ensino. Podemos dizer que a lógica assumida pelas reformas estrutu- rais que a educação pública vem vivenciando no Brasil em todos os âmbitos (administrativo, financeiro, pedagógico) e níveis (básico e superior) tem um mesmo ponto de origem e que os conceitos de produtividade, eficácia, excelência e eficiência foram importados das teorias administrativas vistas anteriormente. Podemos, também, afirmar que se observa a transposição de teorias e modelos de organização e administração empresariais e burocráticos para a escola, especialmente na administração esco- lar, e que os debates e críticas dos especialistas na década de 1990 não foram capazes de evitar que as tendências mais recentes em administração educacional, e mesmo as direções tomadas pelas políticas públicas para a gestão da educação, resgatassem as teo- rias administrativas como teorias políticas. As bases em que se apoia a administração da educação provêm de outras ciências e estão sujeitas a mudanças que podem determinar al- terações na concepção da função administrativa. Essas alterações, por sua vez, acarretam mudanças nos papéis do gestor educacional. É importante observar que, segundo Silva e Silva (2011), o termo administração tem suas origens nas teorias da administração empresa- rial, pois concebemos a administração como uma atividade universal, racional e desenvolvida para a realização de objetivos relacionados à organização em qualquer realidade em que está inserida. Já o termo gestão surge da necessidade de inovar o conceito de administrar, permitindo expressar as mudanças que acontecem no âmbito de uma ação administrativa que possa superar a visão tec- nicista da administração e ir além das tarefas: coordenar, planejar, Concepções de administração e sua aplicação na escola 17 organizar, dirigir e controlar. Em nosso entender, não há diferen- ças em termos práticos; o que se tem observado é que o termo gestão tem um enfoque mais moderno. Segundo Silva e Silva (2011), a teoria administrativa que manteve mais influencia na gestão educacional brasileira teve como funda- mentos os princípios das teorias de Taylor e Fayol. Ao discutir sobre a administração, a preocupação central de Taylor era com o controle do colaborador e, com os postulados de Fayol, passamos a identificar a es- cola como uma grande empresa e a administração como algo aplicável tanto às instituições escolares, quanto às intituições empresariais. Para o teórico, a administração é fundada em três elementos básicos: • na racionalização do trabalho; • na divisão do trabalho; • no interesse no trato pela administração (SILVA; SILVA, 2011, p. 26). A gestão escolar atual é baseada em um processo de articulação para o desenvolvimento da proposta político-pedagógica das escolas. Esse pro- cesso é fundamentado e dirigido de acordo com uma ideia de educação e de sociedade, que não se dá de maneira neutra e descontextualizada. Por- tanto, “é preciso compreender que pensar um processo administrativo da educação significa definir um projeto de cidadania e atribuir uma finalida- de à escola que seja coerente com esse projeto” (SILVA; SILVA, 2011, p. 28). Ao enfatizarparticularmente a gestão da escola, esse foco inicial fica demasiadamente restrito. Atualmente, quando pensamos na gestão es- colar, nós a concebemos como uma ação compartilhada, mesmo porque na escola não há apenas um gestor. É preciso conceber a gestão como um elemento decisivo na eficácia escolar, na educação e no ensino. A prática da gestão na escola deve estar a serviço do trabalho pedagógico. Para que você entenda ainda mais as concepções da gestão escolar, leia o artigo Gestão escolar: revendo conceitos, de Myrtes Alonso. A autora trata das características discutidas até aqui e que marcam os conceitos de administra- ção e de gestão. Acesso em: 11 mar. 2020. http://www.eadconsultoria.com.br/matapoio/biblioteca/textos_pdf/texto06.pdf Artigo http://www.eadconsultoria.com.br/matapoio/biblioteca/textos_pdf/texto06.pdf 18 Gestão Educacional 1.3 Função social da educação e da escola Vídeo A escola é um espaço de formação de sujeitos, e esse espaço pre- cisa permitir, de maneira significativa, a construção e a socialização do conhecimento produzido. Cabe aqui entendermos que o conhecimento ao qual nos referimos é um conhecimento vivo e que está sempre em construção. Frigotto et al. (1999) afirmam que a educação, como prática social, é desenvolvida no seio das relações estabelecidas entre os grupos, tanto na escola quanto em outros espaços da vida em sociedade. No que concerne o campo social, existe uma disputa considerada hegemônica que ocorre na organização dos processos e dos conteú- dos educativos na escola. Consideramos que o projeto de educação desenvolvido nas escolas precisa estar alinhado à realidade, visando à sua transformação, pois compreendemos que a realidade não é algo pronto, mas que está sempre em processo de mudança. Cada vez mais o papel da escola é questionado em nosso meio so- cial. Esses questionamentos não pedem pela extinção dessa instituição, mas por uma reconfiguração do papel desempenhado por ela em uma sociedade na qual muitas ações sociais acabam estando presentes no contexto escolar e, muitas vezes, não são tratadas ou internalizadas pela escola adequadamente. É preciso um olhar mais atento sobre a internalização das ações no cotidiano escolar. Por essa razão, há mui- tos debates em torno da escola do século XXI e das transformações que ela precisa promover. Precisamos refletir sobre a função social da educação e da institui- ção escolar e problematizá-la, para de fato construirmos a escola que queremos. Essas transformações precisam acontecer em função das necessidades criadas pela rápida evolução tecnológica e científica, da mudança nas relações interpessoais – principalmente pelo uso da in- ternet e das redes sociais – e da nova percepção da relação espaço/ tempo, tendo em vista a nova configuração do conhecimento. Não podemos entender isso como uma crítica ao que é tradicional, pois a tradição faz parte da cultura de um povo e de uma nação. Entre- tanto, a escola trabalha com a formação de pessoas, sobretudo para sua inserção na sociedade como cidadãos e como profissionais. Desse O livro Gestão democrática da escola pública é uma leitura muito interessante para ampliarmos nossos conhecimentos sobre a eficiência e a produtivi- dade da escola, sendo ela entendida como uma organização. PARO, V. H. São Paulo: Ática, 2001. Livro Concepções de administração e sua aplicação na escola 19 modo, a tradição deve ser respeitada, conhecida e agregada, mas não pode ser o foco da organização dos trabalhos da escola, pois esta pre- cisa se projetar no futuro. Imagine que você é o responsável por uma turma formada por crian- ças com idade entre sete e nove anos; agora, tente imaginar o que essas crianças precisarão aprender para viver em sociedade daqui a dez ou quinze anos. Essa é a tarefa da escola ao fazer o projeto pedagógico: en- tender que as ações de hoje na vida das crianças irão interferir no futuro. Sabemos que a escola desenvolve várias atividades e que algumas delas não se relacionam diretamente com as atividades de caráter pe- dagógico, mas sim com as de caráter social, levando à sociabilidade dos alunos. Assim, falar sobre função social da escola não é tarefa tão simples, mas necessária pelo grau de importância que possui. Ao pensarmos no que os alunos fazem na escola na maior parte do tempo, provavelmente diremos que estudam, aprendem e socializam. A tarefa primordial da escola, então, dirige-se aos estudos, à aprendiza- gem e ao ensino. Com base nesse pressuposto, outros questionamen- tos trazem uma variedade de debates. Por exemplo, como lidar com a diversidade cultural sem desconsiderá-la no trabalho pedagógico, já que ela traz pontos de vista e percepções diferentes sobre um mesmo objeto de conhecimento? Em relação à aprendizagem, de que maneira os alunos aprendem? Qual o significado das aprendizagens para os alunos? Como tratar as diferenças na aprendizagem? No que diz respeito à escola, quais objetivos se pretende alcançar? Quais metas serão alcançadas ao longo do tempo, em tempos diversos (metas de curto, médio e longo prazo)? A resposta a todas essas questões passam pelas concepções que as pessoas construíram ao longo de sua vida por meio de suas experiên- cias profissionais e pessoais, sua formação, sua capacidade de refletir, debater, conhecer e intervir nos contextos singulares em que atua e sua disposição em ler e aprofundar seus conhecimentos sobre os te- mas que ajudam a tomar decisões e agir. Sabemos que é função da escola acolher e incluir todo aluno, inde- pendentemente de cor, classe social, gênero e orientação sexual. Ainda assim, trabalhar com a pluralidade entre os alunos é uma tarefa desa- 20 Gestão Educacional fiadora. Uma outra questão que se mostra como um desafio no dia a dia do gestor escolar e do professor é a existência de diferentes formas de ensinar e aprender um determinado conteúdo em uma disciplina, apesar do aprendizado e da construção do conhecimento serem únicos e individuais. No contexto abordado, com todas as demandas que ele implica, constata-se que a presença da gestão é de suma importância para a coordenação e organização dos trabalhos, considerando desde os re- cursos materiais até as relações humanas que se estabelecem. Precisamos compreender, portanto, que a função social da educa- ção e da escola deve ser entendida em seu sentido mais amplo. É im- portante lembrar que a escola decorre das práticas que estão no seio das relações sociais determinadas entre pessoas, nas diversas institui- ções e movimentos sociais. CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste capítulo, conhecemos as teorias que mostram como o pensamen- to sobre a administração foi se constituindo, trazendo novas perspectivas e se adequando ao contexto social de cada época, o que, certamente, trouxe diferentes necessidades. Estudamos também a função social da escola e da educação, obser- vando que elas são de extrema importância na formação de cidadãos. O conceito de gestão aumenta a amplitude das ações dos gestores, pois o eles devem pensar a instituição em todas suas áreas, respeitando a im- portância de cada setor. Com esse olhar mais amplo, o gestor consegue alcançar bons resultados, tanto no funcionamento de um estabelecimen- to escolar quanto na eficiência e na qualidade do ensino. ATIVIDADES 1. Reflita sobre a escola em que você estudou no ensino médio. Procure se lembrar de como eram estabelecidas as relações entre as pessoas que lá trabalhavam. Com base nessa experiência: a) Escreva as características que a aproximam mais de uma das teorias apresentadas. b) Essa forma de organização atende às necessidades do mundo contemporâneo? Concepções de administração e sua aplicação na escola 21 2. As instituições escolares procuram conhecer e trabalhar todos os setores de atuação e estar conectadas às mudanças e inovações. O gestor escolar deve ser capaz de atuar na evolução e no desenvolvimento das organizações; além disso, deve ter uma formação humanística,visando à consolidação contínua do processo de autodesenvolvimento em busca da interatividade com seus colegas. Pensando na função social da escola, correlacione os conceitos de administração na atuação dessas instituições. 3. Atualmente, a função social da escola tem sido cada vez mais diversificada, fundamentando-se na necessidade de acompanhamento, por parte das instituições de ensino, das mudanças que se processam de maneira muito rápida, em função dos avanços que vêm ocorrendo na ciência, na tecnologia e no mundo do trabalho. Nesse sentido, como você percebe a reconfiguração do papel social da escola em uma sociedade que acumula necessidades presentes no contexto escolar resultantes dos avanços da ciência e da tecnologia? REFERÊNCIAS FRIGOTTO, G. et al. Educação e crise do trabalho: perspectivas de final de século. Rio de Janeiro: Vozes, 1999. SILVA, H, C.; SILVA, M. N. Gestão dos sistemas e instituições de ensino. Montes Claros: Unimontes, 2011. SANDER, B. Sistemas na educação: solução ou falácia. Rio de Janeiro: Saraiva, 1985. SAVIANI, D. Educação brasileira: estrutura e sistema. São Paulo: Saraiva, 1973. STREHL, A.; RÉQUIA, I. R. Estrutura e funcionamento da Educação Básica. São Paulo: Sagra Luzzatto, 2000. 22 Gestão Educacional Neste capítulo, vamos conhecer a gestão em diferentes es- paços educativos, bem como os diversos campos de atuação do gestor educacional nos sistemas de ensino. Compreenderemos também o papel do gestor como provedor da transformação e do desenvolvimento de uma sociedade. A gestão em diferentes espaços educativos e o papel do gestor 2 2.1 A gestão da educação em diferentes espaços educativos Vídeo Buscaremos, nesta obra, caracterizar a gestão da educação nos di- ferentes espaços educativos, iniciando por sua generalidade para, em seguida, configurar a sua especificidade. É interessante entendermos que a gestão da educação ocorre atendendo às particularidades do contexto ao qual ela está inserida. A gestão educacional é fundamentada na organização dos sistemas de ensino federal, estadual e municipal e nas delegações desses siste- mas, inclusive nas formas de articulação entre os órgãos que instituem as normas, de modo a executarem e deliberarem para os setores da educação, tanto para o público quanto para o privado. Os sistemas de ensino possuem um papel a representar no contexto da educação. Cabe aos estados, aos municípios e ao Distrito Federal, em regime de colaboração, organizar e assegurar o acesso à educação bá- sica. É responsabilidade dos estados e do Distrito Federal ofertar, priori- tariamente, o ensino médio e, juntamente com os municípios, o ensino A gestão em diferentes espaços educativos e o papel do gestor 23 fundamental. Já os municípios são responsáveis por ofertar a educação infantil e, com prioridade, o ensino fundamental (BRASIL, 1996). Segundo Lück et al (2002), entre outros autores, no que concerne a questão da gestão no campo da educação, é importante observar que essa se estabelece, primordialmente, como um processo de articulação para o desenvolvimento da proposta político-pedagógica das institui- ções de ensino. Porém, é igualmente importante que você entenda que esse processo de gestão se fundamenta e é conduzido de acordo com uma determinada concepção de educação e de sociedade e que ele não ocorre de maneira neutra e descontextualizada. Com o tempo, os gestores educacionais perceberam a necessidade de que haja sempre um envolvimento mútuo da gestão e da comuni- dade em que a escola está inserida, para que seja possível alcançar os objetivos elencados para formação dos alunos efetivamente. Para isso, a gestão educacional precisa ser profissionalizada, o que requer formação continuada e um olhar sobre as necessidades educa- cionais dos alunos e sobre a expectativa que pais e responsáveis pos- suem em relação ao processo de ensino e aprendizagem. Para realizarmos uma boa gestão educacional, precisamos entender que cada escola possui sua especificidade e, por isso, a gestão precisará se adequar aos espaços em que ela está inserida. Por exemplo, se em determinada instituição um gestor tivesse que lidar com justificativas de ausências e abandono escolar por alunos que precisam trabalhar para ajudar na renda familiar, esse gestor poderia promover palestras de conscientização para alunos e pais, visando mantê-los mais ativos nos processos de aprendizagem e contribuir para que, mesmo ajudan- do os pais na renda familiar, não se desviem da escola. Em outras palavras, o gestor precisa entender que existe uma com- plexa relação teórica e prática em seus mecanismos de gestão e que uma participação mais efetiva da comunidade escolar pode contribuir para uma gestão mais eficaz. Devemos entender por espaços educativos aqueles em que a edu- cação se constitui, ou seja, os espaços escolares, que vão desde a edu- cação infantil até o ensino médio, passando também pela educação de jovens e adultos, a educação inclusiva, entre outros. 24 Gestão Educacional É interessante destacarmos que, atualmente, o papel do gestor educa- cional vem se ampliando significativamente. Esse profissional deve estar focado em manter a instituição escolar em pleno funcionamento por meio dos aspectos físico, sociopolítico, relacional, material, financeiro e, sobre- tudo, pedagógico, visando sempre à qualidade de ensino oferecida. A gestão da educação manifestou-se no universo escolar recente- mente, intensificando, na década de 1980, a necessidade de mudança na concepção de gestão e sua aplicabilidade na educação, o que levou as escolas a trilharem novos caminhos, pois era certo que o modelo tra- dicional de administrar não atendia às necessidades atuais de formação. A relevância dada à realidade escolar, no seio da problemática educa- cional, fez avançar o movimento das escolas eficazes, originado nos anos 1960, que marcou o debate educacional brasileiro nos anos 1980 e 1990, e estimulou uma produção acadêmica em uma perspectiva descritiva e explicativa, e não mais apenas em uma perspectiva normativa e prescri- tiva, isto é, sem se basear somente em normas, mas sobretudo de ma- neira didática e explicativa sobre os processos de gestão na educação. Alguns estudos da década de 1990 passaram a indicar a neces- sidade de um olhar que incluísse fatores intraescolares bem como extraescolares na análise das organizações educacionais e, com essa perspectiva, a gestão educacional assumiu novos contornos e ganhou espaço de destaque. Além disso, os avanços científicos e sociais impulsionaram a forma de gerir uma instituição educativa, um exemplo foi a educação infantil, que passou a ser mais valorizada, o que incentivou a profissionalização da área e, consequentemente, a ampliação dos serviços educacionais destinados as crianças na faixa etária de 0 a 5 anos. A educação básica também passou por grandes mudanças e é sa- bido que, conforme estabelecido pela Constituição e pela Lei de Di- retrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), a gestão da educação é constituída por meio da organização dos sistemas de ensino federal, estadual e munici- pal; das incumbências da União, dos Estados e dos Municípios; das diferentes formas de articulação entre as instâncias norma- tivas, deliberativas e executivas do setor educacional; e da oferta de educação escolar pelo setor público e privado. (VIEIRA, 2007, p. 60-63 apud MOREIRA, 2015, p. 68). A gestão em diferentes espaços educativos e o papel do gestor 25 A educação básica, segundo a LDB (BRASIL,1996), deve prezar pelo desenvolvimento do discente, assegurar a formação comum ao exercí- cio da cidadania e dar oportunidade ao estudante para que ele possa progredir no trabalho e no estudo, posteriormente. A educação infantil é a primeira etapa da educação básica e tem como objetivo “o desenvolvimento integral da criança de até cinco anos, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, comple- mentando a ação da família e da comunidade”(BRASIL, 1996). O ensino fundamental é a segunda etapa da educação básica. Tem duração de nove anos, sendo obrigatório e gratuito nas escolas públi- cas. Essa etapa visa: I – o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo; II – a compreensão do ambiente natural e social, do sistema polí- tico, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamen- ta a sociedade; III – o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em vista a aquisição de conhecimento e habilidades e a forma- ção de atitudes e valores; IV – o fortalecimento dos vínculos da família, dos laços de solida- riedade humana e de tolerância recíproca em que se assenta a vida social. (BRASIL, 1996) Já o ensino médio, que é a última etapa da educação básica, tem duração de, no mínimo, três anos e objetiva: I – a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos ad- quiridos no ensino fundamental, possibilitando o prosseguimen- to de estudos; II – a preparação básica para o trabalho e a cidadania do edu- cando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores; III – o aprimoramento do educando como pessoa humana, in- cluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia in- telectual e do pensamento crítico; IV – a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria com a prática, no ensino de cada disciplina. (BRASIL, 1996) A LDB ainda contempla algumas modalidades de ensino, dentre elas: a educação de jovens e adultos (EJA), a educação profissional e tecnológica e a educação especial. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira é a legislação que regulamentou o sistema educacional, tanto no âmbito público quanto no privado, desde a educação básica até a superior. No Brasil, essa é a segunda vez que existe uma Lei de Diretrizes e Bases da Educação que regu- lamenta todos os seus níveis. A primeira LDB foi instituída e promulgada em 1961. A Lei n. 9.394 (BRASIL, 1996) divide a educação em dois níveis: a educação básica (que engloba a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio) e a educação superior. Importante 26 Gestão Educacional O nível de atuação da gestão educacional deve ser de acordo com cada modalidade. A educação de jovens e adultos prevê atendimento escolar gratuito para aqueles que não tiveram acesso ou não consegui- ram terminar na idade regular o ensino fundamental e/ou médio. A educação profissional e tecnológica destina-se a jovens e adultos, tendo um desenvolvimento articulado com o ensino re- gular e com os demais níveis de ensino e “no cumprimento dos objetivos da educação nacional, integra-se aos diferentes níveis e modalidades de educação e às dimensões do trabalho, da ciência e da tecnologia” (BRASIL,1996). Quanto à educação especial, a LDB reforçou o conceito de in- clusão, pois é dever do Estado o atendimento a Pessoas com Defi- ciência (PcD), sendo, portanto, ofertada preferencialmente na rede regular de ensino. Atualmente, quando necessário atenção espe- cializada aos alunos nas classes comuns, exige-se a capacitação de profissionais para esse atendimento. Além da organização da educação em níveis, etapas e modalida- des, há dois tipos de categorias administrativas para organização das instituições de ensino, são elas: as públicas, mantidas e administradas pelo Poder Público; e as privadas, mantidas e administradas por pes- soas físicas ou jurídicas de direito privado. Em ambos os setores, no modelo burocrático da gestão educa- cional, as decisões eram tomadas de maneira centralizada sob as determinações do gestor. Já na passagem para o modelo democráti- co, passaram a ser criadas estruturas que servem como meio para a descentralização das decisões, as quais, a partir de então, passaram a ser tomadas pelo conjunto dos segmentos da escola, não mais se restringindo à figura do gestor. Considerou-se que na passagem do modelo tradicional (burocrático) para o moderno (democrático), as mudanças propostas se consolidaram paulatinamente na prática escolar. Passou-se a explorar os diferentes níveis de participação, bem como algumas de suas expressões na orga- nização escolar. Essas mudanças na gestão escolar possibilitaram que o ato educativo estivesse mais próximo da realidade escolar. Para Nóvoa (1991, p. 53), a escola é uma espécie de “espaço entre dois onde se exprime o espaço educativo e se realiza a ação pedagó- Para um completo entendimento sobre essas ideias, vale a pena conhecer a Declaração de Salamanca, um documen- to que mudou o curso da educação especial. ONU. Espanha, 1984. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/ arquivos/pdf/salamanca.pdf. Acesso em: 11 mar. 2020. Leitura A gestão em diferentes espaços educativos e o papel do gestor 27 gica”, transitando entre um olhar micro e macro de compreensão e in- tervenção na organização escolar. Valoriza-se a autonomia relativa, a capacidade estratégica dos atores, a pluralidade de projetos, objetivos e interesses, a produção de regras, símbolos e rituais (dimensões cul- turais e simbólicas das estruturas e das regras organizacionais), sem perder de vista as determinações contextuais. É importante que a gestão educacional tenha preocupações constantes com o atingimento dos objetivos educacionais e com a aprendizagem dos alunos para uma gestão efetiva, considerando sempre trabalhar a realidade da comunidade escolar, isto é, tendo em vista a realidade em que o aluno está inserido, em seus aspec- tos formativos e comportamentais. A LDB associada à gestão educacional nos sistemas de ensino é re- levante para que possamos entender a educação como garantia fun- damental dos cidadãos, assegurada pela Constituição Federal. Essa gestão, nos diferentes espaços educativos, deve ter uma proposta de inovação como princípio articulador e propulsor do conhecimento. 2.2 Campos de atuação do gestor educacional nos sistemas de ensino Vídeo Para iniciarmos esta seção, é de suma importância considerarmos que o gestor educacional é uma figura central nas instituições de ensi- no, pois ele é o principal articulador dos processos e da comunicação do ambiente educativo. Como a educação vem se modernizando cada vez mais, o gestor precisa reunir competências e habilidades para saber lidar com os desafios de ordem tecnológica, pedagógica e administrativa, além de estar sempre atento ao comportamento das novas gerações. É neces- sário, também, que o gestor tenha o domínio de metodologias que possam favorecer o aprendizado efetivo dos alunos. Esse trabalho é instigador e impulsiona a sempre buscar fazer o me- lhor por uma aprendizagem efetiva e mais significativa. A atuação de um gestor educacional se define em função dos objetivos e da missão dos sistemas de ensino. Seu fazer administrativo deve ser competente, 28 Gestão Educacional para que o sistema promova a eficiência e a produtividade necessárias para uma escola democrática. Toda gestão educacional possui um núcleo gestor em uma insti- tuição de ensino, o qual visa à organização e devida orientação dos profissionais para que tal instituição consiga atingir seus objetivos. É importante observar que “os sistemas de ensino constituem-se, essencialmente, como um processo de articulação para o desen- volvimento da proposta político-pedagógica das escolas” (BORDIG- NON; GRACINDO, 2004, p. 149). É importante percebermos que o processo de gestão inclui: determina- ção de objetivos; garantia de recursos; determinação de política de ação; padrões de serviço; distribuição de recursos em conformidade com o pla- no de trabalho; manutenção da operacionalização de modo a produzir a quantidade e qualidade desejada de serviços; e, ainda, avaliação e contabi- lidade para uso dos recursos financeiros destinados à educação. Os processos de gestão desenvolvidos em nossos sistemas edu- cacionaispautam-se em outros aspectos relevantes para uma gestão democrática e cidadã da educação, que são os determinantes econô- micos e sociais. Segundo Félix (1984), à medida que a prática da administração es- colar for tratada de modo técnico, serão omitidas as suas articulações com as estruturas socioeconômicas e políticas. Com certeza, isso obs- curecerá a análise dos condicionantes da educação, dos quais fazem parte as normas técnico-administrativas propostas para o funciona- mento do sistema escolar. Sander (1995), por sua vez, objetivando a realização de uma análise da administração da educação, propõe uma divisão em quatro dimensões articuladas dialeticamente: • dimensão econômica; • dimensão pedagógica; • dimensão política; • dimensão cultural. Segundo o autor, para cada uma dessas dimensões analíticas há, respectivamente, um critério de desempenho administrativo: eficiência, eficácia, efetividade e relevância, para uma gestão efeti- va dos sistemas de ensino. O processo de gestão se fundamenta e se conduz de acordo com uma determinada percepção de educação e de sociedade e não ocorre de maneira neutra e descontextua- lizada. Assim sendo, é preciso compreender que pensar um processo administrativo da educação significa definir um projeto de cidadania e atribuir uma finalidade à escola que seja coerente com esse projeto. Importante O vídeo O pedagógico na gestão escolar, publica- do pelo canal Secretaria de Estado de Educação de MG, trará a você uma compreensão maior dos espaços de atuação do gestor educacional e seu papel nas práticas peda- gógicas e administrativas. Disponível em: https://www. youtube.com/watch?v=j6IB4Ca5b- fA. Acesso em: 11 mar. 2020 Vídeo https://www.youtube.com/watch?v=j6IB4Ca5bfA https://www.youtube.com/watch?v=j6IB4Ca5bfA https://www.youtube.com/watch?v=j6IB4Ca5bfA A gestão em diferentes espaços educativos e o papel do gestor 29 Vamos conhecer cada dimensão? Sander (1995) propõe a seguinte análise das quatro dimensões da gestão educacional: a. Dimensão econômica “A dimensão econômica da gestão da educação, como já é pos- sível observar pelo uso do termo, envolve: recursos financei- ros e materiais, estrutura, normas burocráticas e mecanismos de coordenação e comunicação” (SANDER, 1995, p.14). Nessa dimensão, a administração da educação prevê e controla os recursos, organiza estruturalmente a instituição, fixa papéis e cargos, divide o trabalho, determina como o trabalho deve ser realizado e por qual tipo de incumbências e estabelece, ainda, normas de ação. O critério definidor da dimensão econômica é a eficiência na utilização dos recursos e instrumentos tecnoló- gicos sob o império da lógica econômica. b. Dimensão pedagógica “A dimensão pedagógica da administração da educação se refere ao conjunto de princípios, cenários e técnicas educacionais intrin- secamente comprometidas com a consecução eficaz dos objetivos do sistema educacional e de suas escolas” (SANDER, 1995, p.15). Pode-se dizer que a dimensão pedagógica da administração da educação se relaciona com as demais dimensões oferecendo elementos e instrumentos necessários para a consecução eficaz dos objetivos da educação. Observe que o estudo da dimensão pedagógica da administração educacional fundamenta-se em uma ampla gama de contribuições disciplinares, em que a filosofia e a ciência política impõem-se como disciplinas centrais para esse es- tudo, pois o sistema educacional, mais do que um plano pedagógi- co, deve encerrar uma filosofia e uma estratégia política. c. Dimensão política “A dimensão política da administração da educação engloba as estratégias de ação organizada dos participantes do sistema edu- cacional e das escolas” (SANDER, 1995, p. 15). A importância des- sa dimensão se encontra nas responsabilidades específicas do sistema educacional e de suas escolas para com a sociedade. Isso se deve ao fato de que os aspectos envolvidos na administração 30 Gestão Educacional da educação, associados às dimensões cultural e pedagógica, são fortemente influenciados pelas variáveis externas. Observe que essa dimensão política da administração da edu- cação busca a efetividade, critério essencialmente político de acordo com o qual o sistema educacional deverá atender às necessidades e às demandas sociais da comunidade a qual pertence. Assim sendo, “a administração da educação será tan- to mais efetiva quanto maior for sua capacidade estratégica para atender às necessidades sociais e às demandas políticas da comunidade em que o sistema educacional estiver inserido” (SANDER, 1995, p. 63). d. Dimensão cultural “A dimensão cultural da administração da educação envolve va- lores e características filosóficas, antropológicas, biopsíquicas e sociais das pessoas que participam do sistema educacional e de sua comunidade” (SANDER, 1995, p.42). Perceba que a característica básica desta dimensão é a visão de totalidade que permite compreendermos os mais variados as- pectos da vida humana e que, em uma visão global, a adminis- tração da educação deve ser responsável por coordenar a ação das pessoas e grupos que participam, direta ou indiretamente, no processo educacional. Nessa perspectiva, você pode observar que a relevância cul- tural é o critério básico de um paradigma de administração educacional comprometido com a promoção da qualidade de vida e do desenvolvimento humano. Assim, a administração da educação somente será considerada relevante à medida que oferecer condições propícias para promover a qualidade de vida humana no sistema educacional, nas escolas e na socie- dade como um todo. Observe que a antropologia, a filosofia, a psicologia e a sociologia são ciências que oferecem bases teóricas para se compreender a dimensão cultural da administração da educação, assim como de outros temas sociológicos, tendo implicações evidentes para a administração de sistemas e de instituições de ensino. A gestão em diferentes espaços educativos e o papel do gestor 31 2.3 O papel do gestor educacional Vídeo Precisamos considerar que os gestores lidam com grandes desafios e responsabilidades, no dia a dia nas escolas, como: acompanhar as metodo- logias de ensino aplicadas em sala de aula; obser- var a execução dos processos internos com todos os colaboradores; lidar com as questões financei- ras – tais como inadimplência, controle financeiro etc. –; atuar de maneira assertiva na área adminis- trativa; acompanhar o desenvolvimento e o de- sempenho escolar dos estudantes; avaliar o desempenho da instituição através da avaliação institucional e das propostas pedagógicas; e bus- car estratégias a partir de projetos que melhorem a qualidade do ensino ofertado. Para compreendermos melhor, é necessário dis- cutir o papel do gestor educacional e a necessidade do desenvolvimento de competência profissional na atuação como diretor, nesse caso sendo condi- ção sine qua non para o sucesso da educação ofere- cida pela escola cidadã. Na sequência, você observará que nos termos do paradigma multidimensional da gestão educacional, a “eleição e prepa- ração de administradores educacionais, leva em consideração quatro tipos de competência: econômica, pedagógica, política e cultural, o que condiz com as dimensões apresentadas” (SANDER, 1995, p. 68-69). Para compreendê-las melhor, Sander (1995) as descreve da se- guinte maneira: a. Competência econômica do administrador A competência econômica do administrador da educação é de- finida de acordo com sua eficiência em maximizar a captação e utilização dos recursos econômicos e financeiros e dos elemen- tos técnicos e materiais para a obtenção dos objetivos do sistema educacional e de suas escolas. sine qua non: ação ou condi- ção que é imprescindível. Glossário O livro Supervisão e gestão na escola: conceitos e práti- cas de mediação ajudará a compreender o papel e as formas de atuação do gestor da educação nas escolas de educação básica. RANGEL, M. (org.). Campinas,SP: Papirus, 2009. Livro 32 Gestão Educacional b. Competência pedagógica do administrador A competência pedagógica reflete a eficiência do administrador em formular e obter objetivos educacionais de acordo com os devidos cenários e meios pedagógicos. c. Competência política do administrador A competência política se refere à capacidade do adminis- trador em perceber a influência do ambiente externo sobre o sistema educacional, revelando sua efetividade ao adotar estratégias de ação organizadas para a satisfação das neces- sidades das demandas sociais e políticas da comunidade local e de seu sistema educacional. d. Competência cultural do administrador A competência cultural do administrador revela sua capacidade para conceber soluções e sua capacidade de liderança para implantá-las. De acordo com Colombo et al (2004), ao gestor (diretor) cabe uma postura em consonância com os fundamentos da proposta da escola, pois de nada adianta pregar dogmaticamente uma ideia que não seja de fato vivenciada. Um gestor competente deve ser capaz de envolver todos os professores, colaboradores e estudantes em uma gestão que leve em consideração aspectos po- líticos, sociais e econômicos de todos os envolvidos no processo, inclusive os pais dos alunos. Para tanto, é preciso que ele seja capaz de iden- tificar como se dá a interação entre esse contexto, as atividades e os objetivos da escola; seja capaz de identificar as características das pessoas que traba- lham na escola; e, por fim, seja capaz de identificar os recursos materiais, financeiros e humanos de que dispõe para a gestão. Veja que gerir os sistemas de ensino é, essencial- mente, administrar em diferentes níveis a elabora- ção e o acompanhamento do projeto de qualidade Atenção Observe que as discussões apontam para um ditado popular muito comum no meio educacional: “a escola tem a cara do diretor”. Assim sendo, pode-se dizer que a administração escolar é a força ou o fracasso da organização da escola. Nesse sentido, a estratégia para a excelência dos serviços desenvolvidos na edu- cação depende da filosofia e do compromisso da administração. Com base nesses princípios, o gestor educacional deve ser um grande líder, ter plena consciência de si e do sentido de sua função e deve, acima de tudo, sentir a nobreza de seu trabalho e ter a competência de executá-lo com maestria. Luíza, em sua primeira experiência como gestora de uma escola pública no Rio de Janeiro que atende da educação infantil até o ensino médio, foi designada a criar estratégias para melhorias no ensino, bem como nas relações interpes- soais, pois havia grande vulnerabilidade e problemas dessa natureza. Como gestora, Luíza precisaria lidar com esses conflitos. Os maiores problemas percebidos por ela foram os choques de ideias, as divergências profissionais – até mesmo de ordem política –, a dificuldade de adaptação a propostas de mudanças e temperamentos diversificados. Diante dos conflitos mencionados, a estratégia tomada pela gestora educacional foi a de aproximar os colaboradores e professores das ações pedagógicas e administrativas instituídas pela escola, o que tornou o trabalho escolar mais dinâmico, compartilhado e eficaz, em atendimentos aos objetivos propostos. Estudo de caso A gestão em diferentes espaços educativos e o papel do gestor 33 da educação que se deseja, ou seja, acompanhar uma proposta edu- cacional, fundamentada em um paradigma de homem e sociedade. Ao tratar da gestão educacional, não devemos esquecer de que sua es- pecificidade deverá ser identificada a partir da leitura de questões da sociedade, observando sempre as possíveis lacunas presentes na LDB. Nessa perspectiva, a gestão dos sistemas de educação requer um enfoque que implique no trabalho de decisões a respeito de onde se quer chegar, rumo à qualidade pretendida, fundamentando-se na fi- nalidade da educação e nos limites e possibilidades do momento histórico-social em que a comunidade educacional está inserida. Assim, faz-se necessário que o gestor faça uma boa análise das propostas educacionais que deverão estar presentes nos planos esta- duais ou municipais de educação, antes de encaminhar a elaboração do projeto político-pedagógico da escola, pois são elas que apontarão a direção da prática social educacional que se desenvolverá em todas as etapas da educação que serão oferecidas pela escola, visando, efeti- vamente, a uma escola cidadã de qualidade. O gestor educacional deve ter competência técnica, política e humana. Mas o que isso quer dizer? Leia o capítulo e procure refletir sobre o significado dessas competências no fazer do gestor educacional elaborando uma pequena resenha das competências necessárias para uma gestão de qualidade. Desafio CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesse capítulo, foi possível refletirmos sobre a gestão da educação nos diferentes espaços educativos, conhecendo sua generalidade para, em seguida, entendermos a sua configuração e especificidade nos espa- ços escolares. Foi possível também constatar que o gestor educacional atuante nos sistemas de ensino precisa trabalhar com enfoque para to- mada de decisões assertivas a respeito do futuro. Sabemos o quanto é complexo os problemas relacionados ao dia a dia na escola e ao fazer pedagógico e administrativo do gestor edu- cacional e de todos os colaboradores envolvidos nesse processo. Para tanto, é preciso um bom trabalho de equipe, integrando os diferentes setores e seus níveis administrativos, inclusive as secretarias e conse- lhos municipais, estaduais e federal. 34 Gestão Educacional ATIVIDADE 1. Durante este capítulo, pudemos conhecer uma situação ocorrida em uma escola no Rio de Janeiro. Releia a situação e apresente sugestões para que a gestora da escola modifique determinados aspectos de sua gestão, favorecendo, com isso, a organização democrática do trabalho da escola. Justifique sua proposta. 2. O gestor educacional precisa ter preocupações constantes com o atingimento dos objetivos educacionais para uma gestão efetiva. Considerando isso, imagine-se como gestor de uma escola e reflita: como você poderia auxiliar na organização de uma reunião de pais? Quais assuntos você entende que seriam pertinentes, considerando a reunião de pais como um espaço para debates e decisão coletiva com enfoque participativo? 3. O diretor é a figura central nas instituições de ensino e o principal articulador dos processos e da comunicação no ambiente educativo. O que ele deve fazer? Que competências e habilidades são necessárias no fazer do gestor educacional? REFERÊNCIAS BRASIL. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 23 dez. 1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394. htm. Acesso em: 11 mar. 2020. COLOMBO, S. S. et al. Gestão Educacional: uma nova visão. Porto Alegre: Artmed, 2004. FÉLIX, M. F. C. Administração Escolar: um problema educativo ou empresarial? - Análise da proposta do estado capitalista brasileiro para burocratização do sistema escolar. 3. ed. São Paulo: Cortez, 1984. MOREIRA, J. A. S. Políticas de financiamento e gestão da educação básica (1990-2010): os casos Brasil e Portugal. Maringá: Eduem, 2015. NÓVOA, A. Concepções e práticas de formação contínua de professores. In: Tavares, J. (coord.). Realidades e perspectiva - Formação contínua de professores. Aveiro: Universidade de Aveiro, 1991. SANDER, B. Gestão da educação na América latina: construção e reconstrução do conhecimento. Campinas, São Paulo: Autores Associados, 1995. BORDIGNON, G.; GRACINDO, R. V. Gestão da Educação: o Município e a Escola. In: FERREIRA, N. S. C.; AGUIAR M. Â. S. (orgs.). Gestão da Educação – impasses, perspectivas e compromissos. 4ª Ed. SP: Cortez, 2004. LÜCK, H. et al. A escola participativa: o trabalho do gestor escolar. 6 ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2002. Democratização da gestão escolar 35 Democratização da gestão escolar 3Neste capítulo, abordaremos a gestão democrática do ensino como princípio legal, formativo e fundamental, sustentado em prá- ticas e processos que conduzem o trabalho coletivo nas escolas. Além disso, conheceremos a constituição de um Projeto Político Pedagógico (PPP) e o papel da equipe pedagógica no desenvolvi- mento de projetos educacionais participativos. Compreenderemos também as formas de provimento de car- gos e funções na administração pública e a forma de admissão na rede particular de ensino, bem como o conceito e as formas de autonomia no contexto escolar. Por fim, refletiremos sobre o processo de tomada de decisões no âmbito da escola e o papel dos trabalhadores da educação frente à gestão escolar. 3.1 Gestão democrática na escola: compartilhamento de responsabilidades Vídeo Gestão democrática é o trabalho coletivo que pressupõe a partici- pação direta, ou por meio de representantes, de todos os segmentos da escola. Trata-se de um princípio associado à perspectiva de demo- cratização das relações que são estabelecidas entre os diferentes ato- res das instituições educacionais (pais, alunos, professores, diretores, coordenadores pedagógicos e pessoal de apoio) no campo da autono- mia nas escolas, principalmente do poder público. É importante entendermos que quando nos referimos à gestão democrática, nos referimos, também, ao acesso à educação, que é uma das formas de se realizar concretamente o ideal democrático. 36 Gestão Educacional Esses preceitos básicos da educação democrática necessitam de esco- las de qualidade e de professores capacitados. O artigo 206 da Constituição Federal (CF) estabelece os seguintes princípios sobre o ensino: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensa- mento, a arte e o saber; III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexis- tência de instituições públicas e privadas de ensino; IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; V - valorização dos profissionais da educação escolar, garantidos, na forma da lei, planos de carreira, com ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos, aos das redes públicas; VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei; VII - garantia do padrão de qualidade. (BRASIL, 1988) Inova-se, nesse documento, a gratuidade assegurada em todos os níveis, ampliando-a para o ensino médio, que era tratado nas consti- tuições anteriores como exceção, e para o ensino superior, nunca con- templado anteriormente. A gestão democrática para o ensino público na educação básica foi sinalizada, não se referindo, entretanto, às insti- tuições de ensino privado e ao ensino superior. De acordo com Caldas (1999), a ideia de gestão democrática tem sido trabalhada pelos órgãos oficiais (Secretarias de Estado de Educa- ção e Secretarias Municipais de Educação) responsáveis pela elabo- ração das políticas na educação. Essa concepção resulta em a gestão deixar de ser democrática (substancial) para ser compartilhada. Mas por que isso ocorre? A ideia de compartilhar a gestão, no sentido de repartir, participar ou tomar parte em, é considerada, conforme Caldas (1999), de maneira subs- tancial e acaba diferindo da noção de democratização da gestão como for- ma de controle da autoridade e dos poderes de decisão e execução. A gestão democrática é um método de administração em que todos os colaboradores são considerados pares e não há chefia, todos são motivados a pensar estrategicamente e podem tomar decisões, entre- tanto devem responsabilizar-se por elas. Entre 1995 e 1998, o governo de Jaime Lerner, no estado do Paraná, introduziu a ideia de gestão compartilhada, que passou a fazer oposição Democratização da gestão escolar 37 às demais formas de gestão dos governos anteriores, os quais se utiliza- vam da gestão democrática. O primeiro documento que fez, efetivamente, referência sobre a gestão compartilhada foi do governo do Paraná. Continuando com nossas reflexões a respeito da gestão democráti- ca na escola, quando reconhecemos a educação e as instituições de en- sino como um lugar central que contribui para o futuro da sociedade, a gestão democrática não acaba, pois ela está interligada aos interesses que conduzem uma sociedade capitalista, apoiada nas desigualdades sociais e no poder. A gestão democrática, assegurada na forma da lei pela Constituição, no artigo 206, inciso VI, ocorreu no contexto de reabertura política do Brasil, marcado pelo fim do regime militar. Vieira (2006) analisa que a gestão democrática é compreendida como uma conquista das forças civil-democráticas, ao mesmo tempo que é marcada pelos movimentos populares e por manifestações pela abertura política brasileira, na década de 1980. Dentre os segmentos que constituem a escola, os de professo- res e alunos têm, por princípio, caráter de permanência institucio- nal invariável. Destacamos a importância do papel do professor no modelo decisório adotado na escola democrática contemporânea, pois suas intervenções tendem a ser valorizadas na condução da vida no trabalho pedagógico. No entanto, o papel atribuído aos diversos segmentos que com- põem a organização escolar neste modelo diverge do papel atribuído no modelo burocrático, que valoriza outros segmentos na composição escolar, como a direção e o corpo técnico-pedagógico. As divergências acontecem, em parte, devido à articulação entre a gestão e os modelos organizacionais de escolas. E o que isso pode nos dizer? No modelo burocrático, as decisões são resolvidas de modo centralizado, sob as deliberações do gestor. Já no modelo demo- crático, são concebidas estruturas que auxiliam na descentraliza- ção dessas decisões, as quais são tomadas pela equipe pedagógica como um todo, não apenas pelo gestor. Ainda assim, devemos perceber que as estratégias continuam as mesmas, pois as estruturas são democráticas, mas as estraté- gias são centralizadoras. 38 Gestão Educacional Portanto, na passagem do modelo tradicional (burocrático) para o modelo moderno (democrático), as mudanças sugeridas são efetivadas na prática escolar, e até ocorrem divergências, mas a equipe já vai se adequando ao novo regime. Desse modo, passamos a explorar os di- ferentes níveis de participação e suas expressões no ambiente escolar. Refletir sobre o trabalho coletivo e a gestão democrática nos sugere uma participação mais integrada entre todos os participantes da equi- pe pedagógica, principalmente da equipe gestora da escola. Compreen- demos que existe, no cenário educacional, uma maior e real conexão entre áreas da supervisão escolar, a gestão, a coordenação pedagógica, a orientação educacional e os docentes, pois, atualmente, estudantes, famílias e professores precisam do apoio dessa equipe para esclarecer e conscientizar a todos sobre as transformações que a sociedade vem passando de modo a contribuir para uma melhor interpretação por parte desses agentes escolares (família e estudantes) e a possibilitar uma ação conjunta visando à qualidade do ensino. A gestão democrática é, portanto, aquela que permite superar a limi- tação da fragmentação e construir uma abordagem participativa dos seg- mentos que compõem a instituição escolar e, conforme Lück (2006), se constituem em uma ação conjunta de trabalho participativo em equipe. É importante refletirmos que uma gestão democrática implica no entendimento da cultura que rege a escola, na gestão de processos que desenvolvem o fazer pedagógico e, ainda, na articulação desses com relações sociais mais amplas. É necessário compreendermos que os processos culturais que circulam na escola envolvem diretamente os diferentes segmentos escolares e a própria comunidade local, a partir de seus valores, atitudes e comportamentos. Consideramos, também, que o processo de democratização da es- cola e da sociedade partem de um processo histórico que depende da ação organizada das pessoas (RODRIGUES,1985). Esta ainda não é uma ação pronta e acabada, pois depende do comprometimento de todos os membros da comunidade escolar. Para que as decisões sejam tomadas de maneira compartilhada, na gestão democrática, se faz necessária a implementação de vários mecanismos de participação, tais como: aprimoramento dos processos Democratização da gestão escolar 39 para cargo de direção, criação e consolidação de órgãos colegiados na escola (como conselhos escolares), fortalecimento da participação dos alunos nos órgãos colegiados por meio de grêmios estudantis e cons- trução coletiva e participativa do projeto pedagógico da escola. 3.1.1 Processos de escolha do conselho escolar Sobre a questão do conselho da escola, é preciso entender que an- tes da redemocratização do país, na década de 1980, esse órgão tinha caráter consultivo, ou seja, o grupo de pessoas que o compunha ape- nas opinava sobre questões do interesse da escola quando era consul- tado. A partir da implantação de um governo democrático, o conselho passou a ter caráter deliberativo, podendo debater sobre as questões internas da escola e votando a respeito delas. O ideal é sempre chegar a um consenso, mas alcançá-lo nem sem- pre é fácil. Porém, admite-se que mecanismos sejam criados para che- gar o mais próximo possível da expressão da vontade de todos. Assim, a tendência é de que haja maior envolvimento e comprometimento das pessoas com os projetos, as decisões e os objetivos que a escola pro- põe. Sabemos que o caminho da construção das relações democráticas no conselho escolar e em outros espaços colegiados não é fácil, nem rá- pido, mas é possível quando pensamos em uma gestão compartilhada. Os conselhos escolares são regidos por regras próprias em cada sistema de ensino. Há modelos em que o diretor é membro e presi- dente nato do conselho, em outros, o diretor é membro, mas o pre- sidente é eleito pelos membros do conselho e, nesse caso, pode ou não ser o diretor. No conselho escolar, todos os segmentos da escola estão represen- tados. O número de membros para cada segmento é regido por nor- mas próprias. Em cada segmento escolar o representante do conselho deve ser eleito por seus pares. Desse modo, os professores, os pais e os alunos elegem seus representantes. Geralmente, por ter caráter democrático, os conselhos são abertos à participação geral, contudo os participantes não eleitos têm direito à voz, mas não ao voto – que é exclusivo aos membros eleitos. 40 Gestão Educacional 3.2 Participação e autonomia das unidades escolares Vídeo Atualmente as escolas vivem um momento de busca por autono- mia. Alguns aspectos são considerados fundamentais para isso, como a elaboração do PPP, em que todos os membros da escola podem participar, pois se trata de uma responsabilidade individual e coletiva. A gestão democrática, nos estabelecimentos escolares, é dirigida conforme o Plano Nacional da Educação (PNE) (BRASIL, 2014), que nos traz os seguintes princípios: • Descentralização: a gestão e as decisões e ações passam a ser editadas e executadas de maneira não hierarquizada. • Participação: as pessoas que participam do cotidiano escolar de- vem fazer parte da gestão. • Transparência: todas as decisões e ações na escola precisam ser transparentes e a implantação dessas deverá ser de conhecimen- to de todos os envolvidos no processo escolar. É importante darmos ênfase à análise desses princípios, pois eles nos permitem perceber a relevância dos conselhos escolares na proposta da gestão democrática, uma vez que eles representam a comunidade educativa e, com isso, devem se constituir como um grande instrumen- to de expressão, representatividade e participação da comunidade. 3.2.1 Conceitos, dimensões, formas de autonomia e tomada de decisões na escola O exercício da autonomia e a tomada de decisões nas escolas arti- culam as dimensões pedagógica, administrativa, financeira e jurídica. Vamos conhecer e refletir sobre essas dimensões? a. Administrativa: essa dimensão admite tomada de decisões através da elaboração de planos, programas e projetos que são elaborados pela comunidade escolar e que conhecem a realidade dela. Nesse sentido, consideramos a importância do conselho escolar, que contribui positivamente no tocante à participação efetiva da comunidade escolar de maneira democrática. b. Financeira: essa dimensão constitui os recursos financeiros e os desenvolve, visando à execução dos planos e projetos. Essa O caderno Conselhos Escolares: uma estratégia de gestão democrática da educação pública traz sub- sídios pertinentes sobre a formação de conselhos escolares. Disponível em: http://portal.mec. gov.br/seb/arquivos/pdf/Consescol/ ce_gen.pdf. Acesso em: 11 mar. 2020. Leitura Democratização da gestão escolar 41 autonomia pode ser total ou parcial, quando total, a escola tem a responsabilidade de administrar todo recurso a ela repassado pelo Poder Público. Quando é considerada parcial, a escola só terá autonomia para administrar parte dos recursos destinados, incumbidos ao órgão central do sistema educativo a responsabilidade pela gestão de pessoas (dos colaboradores) e o restante das despesas do estabelecimento escolar. c. Jurídica: nessa dimensão, a escola organiza suas normas escolares com base nas legislações educacionais, como: processos de transferência de alunos, concursos e admissão de professores. É importante destacar também que as normas de funcionamento de um estabelecimento escolar são constituídas a partir de um regime organizado pelos diversos segmentos que pertencem à escola, e não de um regimento geral que é estendido a todos os estabelecimentos escolares. d. Pedagógica: essa dimensão define o desenvolvimento das ações escolares e do Projeto Político Pedagógico da escola. É na dimensão pedagógica que efetivamente percebemos a identidade e a função social da escola. É importante percebermos que a autonomia a que nos referimos é vista como uma forma de inserir a comunidade escolar no processo de decisão. Nesse sentido, a gestão democrática passa a ser uma prática presente no cotidiano das escolas, que não praticam mais as conven- ções autoritárias que vigoram na sociedade, adotando, assim, um cará- ter de participação e emancipação. O PPP é o plano geral da escola e deve ser visto como uma sistematização de um processo de planejamento que busca melhorias e tem como objetivo definir o tipo de educação e ensino a seguir, a partir de um posicionamento quanto à sua intencionalidade e sempre à par- tir de uma leitura da realidade (VASCONCELLOS, 2006). Importante 3.3 Profissionais da educação e seu papel na gestão escolar Vídeo Vamos, agora, compreender o papel dos profissionais que atuam na educação e o papel deles na gestão escolar. Quando nos referimos à escola e seus contextos, precisamos pensar nas funções do gestor, como: planejar, organizar e liderar. Mas o que significa cada uma des- sas funções? Observe: • Planejar: o responsável pela gestão na escola deve realizar um planejamento estratégico para definir metas, prazo para alcance e como efetivamente trabalhar com elas. Trata-se, portanto, de um 42 Gestão Educacional processo decisório no qual o líder do estabelecimento escolar, no caso o gestor, precisará atuar para o alcance e desenvolvimento dos objetivos. É importante considerarmos que o planejamento parte do presente e projeta o futuro da organização escolar. • Organizar: depois de idealizar as metas, se faz necessária a distri- buição das tarefas entre os colaboradores e a previsão dos recur- sos que a organização possui para atingir tais metas. É chegada a hora de definir o que poderá ser feito, como será feito e quem fará. Portanto, organizar é um processo que, junto aos recursos que são disponibilizados em uma dada estrutura, é organizado de modo que facilite o alcance dos objetivos. • Liderar: envolve o poder que o líder possui em influenciar seus colaboradores para atingir os objetivos
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