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A Sucessão Legítima A sucessão legítima será aquela a ser realizada mediante força do que prevê a Lei. Nesse sentido, esta será caracterizada enquanto obrigatória, diante da existência dos denominados herdeiros necessários (ou seja, frente aos ascendentes, descendentes, cônjuge/companheiro). Assim, diante desses casos, no mínimo 50% do conjunto patrimonial destinado à herança deverá ser disposto aos citados herdeiros necessários. Outrossim, a sucessão legítima ocorrerá obrigatoriamente quando o de cujus, falecendo, não deixa testamento. Existindo herdeiros necessários frente à disposição da herança, o falecido somente poderá dispor de 50% de todo o conjunto patrimonial para fins testamentários, ou seja, somente poderá entregar, via declaração de última vontade 50% de seus bens aos herdeiros testamentários. A sucessão legitima é uma imposição da solidariedade social e familiar, uma vez que se entende que falecendo uma pessoa, a lei exige que estes recebam patrimônio, a fim de dar continuidade à subsistência do núcleo familiar, tendo em vista que a legislação presume a dependência destes ao de cujus. A sucessão legítima deverá respeitar à chamada ordem de vocação hereditária, tal ordem se encontra disposta essencialmente nos artigos 1.790 e 1.829 do CC, que instituem, assim: Art. 1.790. A companheira ou o companheiro participará da sucessão do outro, quanto aos bens adquiridos onerosamente na vigência da união estável, nas condições seguintes: I - Se concorrer com filhos comuns, terá direito a uma quota equivalente à que por lei for atribuída ao filho; II - Se concorrer com descendentes só do autor da herança, tocar-lhe-á a metade do que couber a cada um daqueles; III - Se concorrer com outros parentes sucessíveis, terá direito a um terço da herança; IV - Não havendo parentes sucessíveis, terá direito à totalidade da herança. Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte: I - Aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens particulares; II - Aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge; III - ao cônjuge sobrevivente; IV - Aos colaterais. [estes podem ser afastados por força de disposição testamentária, não sendo a mesma premissa válida para as demais classes]. Ademais, além de tais artigos mencionados, as disposições do artigo 1829 ao 1856 versam acerca da sucessão legítima. Obs! deve-se salientar que, conforme a previsão do CC, os companheiros integrariam a última classe relativa à ordem de vocação hereditária, tendo os colaterais como precedentes a estes. Após decisões e julgados relativos à sistemática disposta pelo Códex de 2002, o STF declarou inconstitucional a integração do companheiro em última classe, tendo sido alçado à equiparação do cônjuge, passando a integrar a terceira classe da ordem de vocação, conjuntamente com o cônjuge. Ainda em relação à ordem de vocação hereditária, é importante mencionar-se que que esta respeita devidamente os graus mais próximos de parentalidade entre os herdeiros, dentro de uma mesma classe de vocação. Dessa forma, como exemplo, os filhos, que se encontram no primeiro grau e na classe mais próxima, precederão aos netos, que se encontram na mesma classe, porém em 2º grau. Nos casos em que não há a existência de herdeiros legítimos ou testamentários, o patrimônio relativo à herança será dirigido para a arrecadação da fazenda pública. Modalidades de Sucessão Legítima A sucessão legítima poderá ser configurada como: a) sucessão por direito próprio (por cabeça): é aquela em que cada sucessor receberá aquilo que lhe cabe na herança, em razão de compor, legitimamente, a respectiva classe sucessória. b) sucessão por representação (por estirpe): aqui, o sucessor de grau mais distante participa da sucessão representando um indivíduo de grau mais próximo, em decorrência de pré-moriência, indignidade ou deserdação. É importante salientar que tal espécie de sucessão por estirpe somente poderá será aplicada mediante a modalidade da sucessão legítima, não devendo ser aplicada em caso de sucessão testamentária. Nos casos em que os testamentários falecem antes da transmissão, haverá a denominada caducidade da herança. Obs! É ainda importante mencionar que não se admite a figura da sucessão por representação entre ascendentes ou demais classes hereditárias, sendo aceitável somente entre a classe dos descendentes. Ademais, nas linhas dos descentes, não haverá a limitação de grau para a representação. Quando os sobrinhos do falecido são chamados a suceder por representação, quando estes concorrerem com o irmão do falecido. Haverá também a incidência da sucessão por representação. No entanto, isso somente poderá ocorrerá nos casos em que não houver a existência de cônjuge/companheiro ou descendentes/ascendentes. Os efeitos que serão acarretados em decorrência da incidência da sucessão por representação serão: Há uma única transmissão e uma única incidência tributária, significando que a herança irá passar automaticamente para os representantes do herdeiro pré-morto, indigno ou deserdado. O quinhão do representado será repartido, por igual, entre os representantes, isto é, a totalidade dos representantes irão receber o quinhão que cabia ao representado, sendo este, posteriormente, dividido entre cada representante; A Sucessão dos Descendentes É importante pontuar que a sucessão dos descendentes se baseia no critério da proximidade, em que o grau mais próximo precede ao grau mais distante. Deve-se levar em consideração que há uma igualdade substancial entre os filhos, tendo em vista que os filhos adotivos, socioafetivos e biológicos são considerados em igual condição de parentalidade diante da sucessão. Tal prerrogativa fora alterada principalmente a partir da promulgação da Carta Constitucional de 1988 que propagou os princípios da isonomia e da igualdade entre os filhos. Sucessão dos Ascendentes Em relação aos ascendentes, também se considera a existência da igualdade substancial, considerando-se a regra da proximidade, em que se considera o ascendente mais próximo, em detrimento do mais antigo. Na linha de ascendentes não deverá haver a sucessão por representação, o que significa que, ao falecer, não possuindo descendentes, os ascendentes mais próximos vivos passarão a herdar o patrimônio. Por exemplo, se um indivíduo, que não possui descendentes, falece, o conjunto patrimonial da sua herança será transmitida para os seus ascendentes mais próximos (mãe e pai). No entanto, se um desses ascendentes se encontrarem pré-mortos em relação ao de cujus, os próximos ascendentes na linha sucessória a saber: os bisavós não poderão suceder o herdeiro pré-morto por representação. Estes sucederão por direito próprio. Havendo igualdade em grau e diversidade de linhas sucessórias, os ascendentes da linha paterna herdam a metade da herança, cabendo a outra metade aos ascendentes da linha materna. A Sucessão do Cônjuge Primeiramente, deve-se notar a diferença existente entre a meação e a herança. Quando o indivíduo falece, as primeiras providências a serem tomadas devem ser direcionadas à separação da meação que faz jus ao direito do cônjuge supérstite, haja vista que, dependendo do regime de casamento adotado pelos nubentes, metade do patrimônio adquirido pelos cônjuges passam a ser de propriedade recíproca entre eles. Nesse sentido, a meação é considerada como direito patrimonial próprio do cônjuge sobrevivente, não devendo integrar o conjunto de bens relativos à herança. A meação deve ser imediatamente retirada da herança do cônjuge antes mesmo da realização da transmissão automática da herança,uma vez que, a depender do regime de casamento, 50% do patrimônio será considerada, por lei, enquanto um bem próprio do cônjuge supérstite. No entanto, deve-se pontuar que, por ser um direito próprio, a meação não impede a sucessão do patrimônio da herança ao cônjuge, enquanto herdeiro inserido na ordem de avocação hereditária. O cônjuge poderá herdar o patrimônio da herança de duas formas possíveis, primeiramente em concorrência com os descendentes/ascendentes (uma vez que também integra a primeira e segunda classes vocatórias) e também como herdeiro universal. É importante mencionar que o direito à herança do cônjuge deixará de existir nas hipóteses de: Separação judicial, isto é, frente aos casos de divórcio entre os cônjuges, no momento de abertura da sucessão; Separação de fato durante o momento de abertura da sucessão; Obs! Conforme preleciona o Códex de 2002, é necessário que tal separação tenha ocorrido por no mínimo 2 anos, para a exclusão da herança a partir da constatação da separação de fato. No entanto, segundo interpretação do STJ, não existe tal exigência, pois, independente do prazo, basta apenas a separação de fato para que haja a exclusão da herança do cônjuge. Aula (27-07-2021) Concorrência do cônjuge com os descendentes Frente à concorrência do cônjuge com os descendentes, deve-se sempre ter em mente a regra que informa que: onde há meação, não há herança. Assim o cônjuge sobrevivente não receberá herança no caso em que for casado sob os seguintes regimes de casamento: Em comunhão universal na comunhão universal de bens haverá a meação de todo o patrimônio do indivíduo, uma vez que, neste regime de casamento, a meação incide sobre todos os bens adquiridos ates ou durante a constância do casamento. Nesse sentido, todo o patrimônio entrará no regime de bens e, assim, todo este fará parte da meação. O cônjuge sobrevivente terá direito próprio sobre a metade desses bens. Em comunhão parcial sem bens particulares significa que todo o patrimônio adquirido também deverá ser dividido meio a meio entre os cônjuges. Diante desses casos e do anterior, devido à integralidade da meação, não haverá a incidência do direito de herança, uma vez que somente pode-se falar em direito de herança na concorrência com os descendentes diante dos bens particulares do falecido. Em separação obrigatória de bens aqui, a herança não incidirá devido ao respeito ao regramento imposto pelo legislador que positiva não haver transmissão entre os cônjuges. A Cota-parte do Cônjuge O Código Civil traz a disposição acerca da cota- parte a ser transferida ao cônjuge por força da sucessão em seu artigo 1.832, que informa que: Art. 1.832. Em concorrência com os descendentes (art. 1.829, inciso I) caberá ao cônjuge quinhão igual ao dos que sucederem por cabeça, não podendo a sua quota ser inferior à quarta parte da herança, se for ascendente dos herdeiros com que concorrer. A primeira parte do aludido artigo informa que ao cônjuge quinhão igual ao dos que sucederem -se dizer que o cônjuge deverá herdar um quinhão exatamente igual ao que os outros descendentes herdaram. Assim, por exemplo, se existissem 4 descendentes, cada um herdando ¼ da herança, ao cônjuge também caberia herdar o quinhão de ¼. Por sua vez, em atendimento ao preceitua a segunda parte do referido artigo, nos casos em que o cônjuge sobrevivente se constituir também como ascendente dos herdeiros legítimos inclusos na primeira classe de vocação, este passará a herdar uma cota-parte um pouco maior que os demais herdeiros. Concorrência do Cônjuge com os ascendentes (art. 1.837) Na concorrência com os ascendentes, serão herdados bens particulares e bens comuns, não havendo a incisão da regra sobre a meação. Assim, em relação aos ascendentes, não haverá a regra de que onde há meação, não há herança, uma vez que todos os bens serão herdados. Quando o cônjuge concorrer com ambos os ascendentes vivos, este irá receber a mesma cota- parte que os ascendentes receberem, isto é, se estes receberem 1/3 do quinhão da herança, o quinhão direcionado ao cônjuge será na mesma quantidade. Diante dos demais casos, quando o cônjuge concorrer com apenas um dos ascendentes ou Aula (27-07-2021) com os demais ascendentes dos demais graus, será reservado obrigatoriamente ½ (ou seja, metade) da cota-parte da herança ao cônjuge. Obs! Quando o cônjuge não possuir qualquer tipo de concorrência, este se tornará um herdeiro universal e, assim, herdará todo o conjunto patrimonial relativo à herança, sem divisão de quinhões. O Direito Real de Habitação O cônjuge sobrevivente poderá continuar residindo no imóvel de natureza residencial que, durante a convivência, serviu de lar para o casal, independentemente de direito meatório ou sucessório sobre o bem. Assim, o cônjuge terá um direito vitalício e incondicionado, por mais que este não possua direito à herança ou meação sobre aquele bem determinado, uma vez que este não compõe a sua cota-parte. Obs! É importante mencionar que tal imóvel, ainda sim, será objeto da partilha na herança, no entanto, por mais que os demais herdeiros detenham a propriedade de uma parcela do imóvel, eles não poderão usufruir dos demais direitos de disposição do imóvel, haja vista que o cônjuge sobrevivente deterá o direito de habitação sobre a totalidade do imóvel residencial. Assim, os cônjuges terão direito à habitação de imóvel. A Sucessão do Companheiro A sucessão do companheiro está regulamentada pelo artigo 1.790 do CC, que preleciona que: Art. 1.790. A companheira ou o companheiro participará da sucessão do outro, quanto aos bens adquiridos onerosamente na vigência da união estável, nas condições seguintes: (Vide Recurso Extraordinário nº 646.721) (Vide Recurso Extraordinário nº 878.694). I - Se concorrer com filhos comuns, terá direito a uma quota equivalente à que por lei for atribuída ao filho; II - Se concorrer com descendentes só do autor da herança, tocar-lhe-á a metade do que couber a cada um daqueles; III - Se concorrer com outros parentes sucessíveis, terá direito a um terço da herança; IV - Não havendo parentes sucessíveis, terá direito à totalidade da herança. De acordo com o artigo citado do CC, o companheiro possuiria direito apenas aos bens adquiridos durante a constância da união estável, sendo este direito recaído sobre os bens particulares do falecido. Ademais, o companheiro terá direito sobre a meação. Na concorrência com os descendentes, haverá duas hipóteses: a) se o companheiro concorrer com os descendentes que possuírem filhos, o companheiro possuirá direito a uma cota- parte equivalente ao que por lei foi garantida ao filho; b) se concorrer com descendentes somente do autor da herança, irá concorrer apenas à metade do que couber a cada um dos descendentes. c) se possuir concorrência com demais ascendentes, inclusive em relação à colaterais, o companheiro somente poderá herdar 1/3 da herança. Apesar da ainda existência de tal dispositivo entre as linhas do Código Civil, este fora declarado inconstitucional, haja vista que introduzia sistemática de herança totalmente díspare em relação à sistemática voltada para o Aula (27-07-2021) casamento. Destarte, atualmente considera-se o mesmo regime relativo aos cônjuges também aos companheiros. A Sucessão dos Colaterais até o 4º grau Os colaterais que deterão direitos sobre a herança do de cujus serão: Os irmãos, os sobrinhos e os tios sobrinhos- netos (em 1º grau); Os tios, primos e tios-avós (em 2º, 3º e 4º grau); Principalmente em relação aos irmãos do de cujus, vigora a regra de que não se exige a dupla origem para que haja o direito sucessório dos colaterais. A dupla origem significa que não é necessário que os irmãos sejam filhos do mesmo pai e da mesma mãe do de cujus, bastando que este seja filho de um dos genitores,ou seja, os irmãos unilaterais também direito à herança como herdeiros colaterais. Apesar da existência da regra que não diferencia os irmãos unilaterais dos irmãos bilaterais, deve- se atentar para a diferenciação contida em relação à partilha do quinhão direcionada a eles. Os irmãos bilaterais terão uma cota-parte correspondente a duas vezes a cota-parte do irmão unilateral. Assim, o irmão unilateral herdará apenas metade da cota-parte que couber ao irmão bilateral. Importante evidenciar que também será aplicada a regra da proximidade em relação à herança dos colaterais, uma vez que os irmãos possuem prevalência sobre os tios, que possuem prevalência sobre os primos e etc.
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