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Poliana Alves Pereira 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESPONSABILIDADE CIVIL POR ABANDONO AFETIVO 
 
 
 
 
 
 
 
 
Centro Universitário Toledo 
Araçatuba 
2018 
Poliana Alves Pereira 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESPONSABILIDADE CIVIL POR ABANDONO AFETIVO 
 
Monografia apresentada como requisito parcial 
para obtenção do grau de bacharel em direito á 
Banca Examinadora do Centro Universitário 
Toledo sob a orientação do Prof. Me. Renato 
Alexandre da Silva Freitas 
 
 
 
 
 
Centro Universitário Toledo 
Araçatuba 
2018 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
 
 
Araçatuba, 05 de março de 2018. 
 
 
_____________________________________________ 
Prof. Moacyr Miguel de Oliveira 
 
 
______________________________________________ 
 Prof. Me. Paulo Roberto Cavasana Abdo 
 
 
______________________________________________ 
Prof. Me. Renato Alexandre da Silva Freitas 
 (Orientador) 
 
 
Nota: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho primeiramente a Deus, 
por ter me concedido forças e estar ao meu 
lado todo momento. Aos meus pais pelo 
incentivo e por me inspirarem nessa luta 
para a concretização dos meus sonhos e por 
nunca me deixarem desistir, e acreditavam 
quando eu desacreditei. A minhas amigas de 
infância Nathany, Pamella, Grazielle e Ana 
Laura que mesmo não convivendo sempre e 
com o tempo sempre escasso se fizeram 
presentes em minha vida ao longo desses 
cinco anos, e as amigas que esse curso me 
deu de presente Raissa, Gabriela, Flávia, 
Tamires, Daiane, Andreia, Meiriele, Bruna, 
Lana, Juliana, por durante esses cinco anos 
de faculdade, terem demonstrado o 
verdadeiro significado da palavra 
cumplicidade, que as levarei pra sempre em 
meu coração. Aos meus familiares que 
torceram por mim. Por fim, ao meu 
orientador Me Renato Freitas, por ter 
aceitado de prontidão me auxiliar na 
realização deste trabalho, sempre de forma 
prestativa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Ninguém vai bater tão forte como a vida, 
mas não se trata de bater forte. E sim do 
quanto você aguenta apanhar e seguir em 
frente. O quanto você é capaz de aguentar e 
continuar tentando. É assim que se consegue 
vencer. “ 
 (Rocky Balboa) 
RESUMO 
 
 
O presente trabalho tem como objetivo efetuar análise dos requisitos e possibilidades de 
configuração por responsabilidade civil afetivo pelos progenitores, assunto polemizado 
nos tribunais. Será exposto um sucinto embasamento histórico do conceito “família” e a 
mudança constante no âmbito familiar. Serão investigados os princípios básicos que 
conduzem o direito de família e os artigos na legislação brasileira que tencionam a 
proteção da criança e do adolescente. Será asseverada a relevância da presença dos pais 
no desenvolvimento e educação de seus filhos e a eventualidade do não cumprimento 
legal de proteção e cuidado acarretará indenização por danos morais. Serão 
exemplificadas decisões jurisprudenciais favoráveis e desfavoráveis relativas ao tema 
abordado. 
 
Palavras-chave: Indenização; Responsabilidade Civil; Abandono afetivo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
 
The present work has the objective of analyzing the requirements and configuration 
possibilities for affective civil responsibility by the parents, a controversial issue in the 
courts. It will be exposed a succinct historical background of the concept "family" and a 
constant change not familiar. The basic principles that lead to family law and articles in 
Brazilian legislation that intend to protect children and adolescents will be investigated. 
It will ensure a relevance of the presence of parents without development and education 
of their children and an eventuality is not legally legal protection and care will entail 
compensation for moral damages. Will be exemplified, favorable and unfavorable 
jurisprudential with the subject addressed. 
 
Keywords: Indemnity; Civil Liability; Emotional abandonment. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 9 
 
I – FAMILIA ........................................................................................................................... 11 
1.1. Evolução histórica da família ........................................... Erro! Indicador não definido.2 
1.2. Noções gerais sobre a família ........................................... Erro! Indicador não definido.4 
1.3. Do poder familiar.............................................................. Erro! Indicador não definido.5 
1.4. Princípios do Direito de família ...................................... Erro! Indicador não definido.8 
1.4.1. Principio da Dignidade da Pessoa Humana ................... Erro! Indicador não definido.0 
1.4.2. Princípio da Afetividade ................................................ Erro! Indicador não definido.1 
1.4.3. Princípio da Convivência Familiar ................................ Erro! Indicador não definido.2 
1.4.4. Princípio do Pluralismo Familiar ................................... Erro! Indicador não definido.2 
1.4.5. Princípio da Igualdade entre os Filhos .......................... Erro! Indicador não definido.3 
1.4.6. Princípio do Melhor Interesse da Criança e do AdolescenteErro! Indicador não definido.4 
1.4.7. Princípio da Paternidade Responsavel e do Planjamento FamiliarErro! Indicador não definido.4 
1.4.8. Princípio da Solidariedade Familiar .............................. Erro! Indicador não definido.5 
1.4.9. Princípio da Liberdade .................................................. Erro! Indicador não definido.5 
1.5. Da importância dos pais em relação aos à formação dos filhosErro! Indicador não definido.6 
 
II- RESPONSABILIDADE CIVIL .......................................... Erro! Indicador não definido.8 
2.1. Pressupostos da responsabilidade civil ............................. Erro! Indicador não definido.9 
2.1.1. Da conduta comissiva e omissiva .................................. Erro! Indicador não definido.9 
2.1.2. Responsabilidade objetiva e subjetiva ............................................................................ 30 
2.1.3. Nexo Causal .................................................................................................................... 31 
2.1.4. Dano Moral ..................................................................................................................... 32 
2.1.5. Responsabilidade Contratual e Extracontratual ............. Erro! Indicador não definido.4 
2.2. Indenização ....................................................................... Erro! Indicador não definido.5 
 
III- RESPONSABILIDADE CIVIL POR ABANDONO AFETIVOErro! Indicador não definido.8 
3.1. Responsabilidade dos pais para com os filhos.................. Erro! Indicador não definido.8 
3.2. Abandono afetivo e suas consequências ............................................................................ 39 
3.3. Decisões desfavoráveis acerca do tema ............................ Erro! Indicador não definido.1 
3.4. Decisões favoráveis acerca do tema ................................. Erro! Indicador não definido.3 
 
CONCLUSÃO ............................................................................ Erro! Indicador não definido.7 
 
REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS ................................................................................. 50 
9 
 
INTRODUÇÃO 
 
O tema deste presente trabalho prestará uma análise que atualmente induz a diversas 
discussões na esfera judiciária brasileira, nada mais que a possibilidade de punição de 
genitores que descumprirem os deveres legais perante seus filhos. 
A chance de puni-los, transgrediu de uma perspectiva na qual busca não trivializar da 
necessidade dos pais em educar, proteger e efetuar todos os cuidados dos seus filhos, sendo 
insuficientea proveniência de seus alimentos e encargos materiais. 
É de extrema importância a presença física dos provedores na geração de seus filhos, 
concebendo um alicerce para a vida dos menores, de modo que o desenvolvimento seja 
configurado de forma saudável e estruturado. 
De modo que a explanação e a compreensão do tema abordado, o presente trabalho foi 
dividido em três capítulos, de maneira que cada capítulo tenha foco detalhado do que pretende 
ser explicito. 
O capítulo primeiro será levantado uma sucinta análise dos princípios históricos das 
famílias, corroborando as transformações nesse modelo, alterada com o decorrer do tempo 
progressivamente, e tais mudanças vem alterando o panorama familiar diante a sociedade, 
instaurando ao modelo familiar novos conceitos e formações. Ainda serão abordadas as 
diretrizes não só do direito de família, como do direito em uma forma geral. 
O capítulo segundo abordará as conjecturas para a definição da responsabilidade civil, 
sendo eles o ato ilícito, nexo causal e dano moral fundamentais para que ocorra a 
configuração de responsabilidade civil. É palpável o estudo do tema, para melhor percepção, 
exprimindo quais os elementos primordiais para que seja fixado o dever de indenizar. 
Também abordará quais os fatores adotados pelo juiz para a mensuração da indenização caso 
seja certificada, os estorvos que o legislador encontra, pois, nossa estruturação jurídica não 
faz alusão sobre o assunto em tela. 
Por fim, o capítulo terceiro, abordará de maneira exclusiva o tema estudado, 
dissertando sobre as responsabilidades dos genitores perante seus filhos, ratificando através de 
artigos do ordenamento jurídico brasileiro que atestam aos menores os direitos básicos e 
fundamentais, como cuidado, educação, respeito e o direito de desenvolver-se amparados em 
seio familiar, e que não é basta aos pais o suplemento de alimentos, sendo a presença física e 
o cuidado suma importância para que o menor cresça com integridade. Será analisado o 
10 
 
abandono afetivo e as implicações que poderão causar no menor caso esse se desenvolva sem 
o amparo de um dos genitores, como consequência a progressão de danos psicológicos na 
maioria das vezes irreversíveis, abalando suas vidas tanto na infância, quando ao alcançarem a 
fase adulta. 
Após a demonstração da relevância dos genitores em relação aos filhos, serão 
verificadas as probabilidades da negligencia dos pais, salientar a responsabilidade civil por 
abandono afetivo. Serão notados entendimentos jurisprudenciais favoráveis e desfavoráveis 
relativo ao tema. 
Por fim, o estudo tem propósito de asseverar a importância dos cuidados e da presença 
dos genitores no crescimento e desenvolvimento de seus filhos, e o que o singelo pagamento 
em quantia a título de alimentos, não minora as necessidades dos menores. A omissão pelos 
genitores poderá afetar a evolução dos filhos, ocasionando danos que poderão ser perpétuos. 
Desta maneira, serão apontadas as carências de que seja atribuída aos genitores omissos, uma 
maior participação, por meio de indenização, restaurar os danos morais causados aos seus 
filhos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
I – FAMÍLIA 
 
Família é a unidade social mais antiga do ser humano, sendo ela considerada por 
grande parte da doutrina brasileira, um grupo de pessoas ligadas não somente através do 
sangue, mas também através da afetividade. Porém, visando um entendimento em sentido 
estrito nos dias atuais, família é definida como conjunto familiar advinda do casamento ou 
união estável, e consequentemente pelos genitores advém os filhos, estes que podem ser 
criados por ambos ou apenas um deles. 
Em relação ao tema, Venosa (2012, p. 02) define: 
Em conceito restrito família compreende somente o núcleo formado por pais e filhos 
que vivem sobre o pátrio poder ou poder familiar. Nesse particular a Constituição 
Federal estendeu sua tutela inclusive para a entidade familiar formada por apenas 
um dos pais e seus descendentes, a denominada família monoparental. 
Os genitores são responsáveis por promover a formação, educação e necessidades 
básicas dos filhos, que vão ser influenciados pelos seus comportamentos sociais e perpetuadas 
ao longo de suas gerações. Neste pensamento, Maria Helena Diniz salienta: 
 
Deve-se, portanto, vislumbrar na família uma possibilidade de convivência, marcada 
pelo afeto e pelo amor, fundada não apenas no casamento, mas também no 
companheirismo, na adoção e na monoparentalidade. É ela o núcleo ideal do pleno 
desenvolvimento da pessoa. É o instrumento para a realização integral do ser 
humano. (2007, p.13). 
 
No entendimento da professora Giselda Maria Fernandes Novaes Hironaka, cada 
membro tem sua individualização dentro do núcleo familiar: 
Na ideia de família, o que mais importa – a cada um de seus membros e a todos a 
um só tempo – é exatamente pertencer ao seu âmago, é estar naquele idealizado 
lugar onde é possível integrar sentimentos, esperanças e valores, permitindo, a cada 
um, se sentir a caminho da realização de seu projeto pessoal de felicidade. (2008, 
p.6). 
Dessa forma, temos que o papel da família no desenvolvimento do indivíduo como 
pessoa é de suma importância, é baseado no modelo familiar que a criança cresce, nele 
construirá sua família no futuro. É neste ambiente familiar harmônico, afetivo e protegido que 
são transmitidos valores éticos e morais que servirão como base no processo de 
desenvolvimento para vida adulta. 
 
12 
 
1.1 Síntese da evolução história da família 
 
Na era do direito romano, existia a figura do homem em destaque que se de dominou 
pater famílias (pai de família), ao qual exercia absoluto controle sobre a mulher e filhos, 
podendo ele inclusive, em relação aos filhos mata-los, vende-los e impor-lhes a pena que se 
achava cabível, neste sentido escreve Carlos Roberto Gonçalves (2014, p. 31): 
No direito romano a família era organizada sob o princípio da autoridade. O pater 
famílias exercia sobre os filhos direito de vida e de morte (ius vitae ac necis). Podia, 
desse modo, vendê-los, impor-lhes castigos e penas corporais e até mesmo tirar-lhes 
a vida. A mulher era totalmente subordinada à autoridade marital e podia ser 
repudiada por ato unilateral do marido. 
A família era segundo Gonçalves (2014, p.31), “simultaneamente, uma unidade 
econômica, religiosa, política e jurisdicional”. Isto porque, ainda segundo Gonçalves (2014, p. 
31) “o ascendente comum vivo mais velho era, ao mesmo tempo, chefe político, sacerdote e 
juiz. Comandava, oficiava o culto dos deuses domésticos e distribuía justiça”. 
No mesmo sentido, como nos explica Paulo Nader (2006, p.12) “Internamente, perante 
todos, o pater é sacerdote e magistrado. O patrimônio familiar se concentrava em suas mãos.” 
Ainda na noção antiga da família, Paulo Nader (2010, p. 12) pontua: 
Quando falecia o pater, seus filhos varões adquiriam personalidade e passavam a 
constituir outras famílias, chamadas próprio jure, nas quais assumiam a condição de 
pater famílias. O conjunto destas famílias, compostas por descentes de um ancestral 
comum, criava a família communi jure, constituída por ágnatos, ou seja, parentes por 
linha masculina. O parentesco materno não produzia efeitos jurídicos. 
Os canonistas, na antiguidade, entendiam que não poderia haver a dissolução do 
casamento já que a união era realizada por Deus, e a dissolução só se dava pela morte de um 
dos cônjuges, reforçando essa ideia nos trás Gonçalves (2014, p.32) “os canonistas, no 
entanto, opuseram-se à dissolução do vinculo, pois considerava o casamento um sacramento, 
não podendo os homens dissolver a união realizada por Deus: quod Deus conjunxit homo non 
separet.” 
Somente no século IV, na constância do reinado do Imperador Constantino é que foi 
adotada uma concepção cristã da família, restringiu os poderes do pater famílias e assim 
dando mais autonomia as mulheres e aosfilhos. 
Neste sentido, nos traz Carlos Roberto Gonçalves (2014, p. 31): 
Com o Imperador Constantino, a partir do século IV, instala-se no direito romano a 
concepção cristã de família, na qual predominam as preocupações de ordem moral. 
Aos poucos foi então a família romana evoluindo no sentido de se restringir 
13 
 
progressivamente a autoridade do pater, dando-se maior autonomia à mulher e aos 
filhos. 
Pode-se dizer que o cristianismo teve papel importante na restrição dos poderes 
atribuídos ao pater de forma a dar maior autonomia à mulher e aos filhos, é o que escreve 
Paulo Nader (2006, p. 13): 
Como as relações de família se revelaram injustas na fase do patriarcado, por 
influência do cristianismo a autoridade do pater foi perdendo substância 
progressivamente, até desaparecer a sua superioridade em relação à esposa. Quanto 
aos filhos, estes deixaram a condição alieni juris, adquirindo personalidade jurídica. 
A ideia de família foi influenciada pela religião, a exemplo, do Código Civil de 1916 
que não considerava o filho havido fora do casamento e nem as uniões extraconjugais. 
Entendimento alterado, com a promulgação da Constituição Federal de 1988, como Paulo 
Nader (2006, p.15) explica: 
Em nosso país, especialmente por influência religiosa, vigorou, até a promulgação 
da Constituição Federal de 1988, um conceito de família centrado exclusivamente 
no casamento. O Código Civil de 1916 não considerava as uniões extraconjugais, 
nem os filhos nascidos fora do matrimônio. 
Essa nova constituição, trouxe como principio básico o da dignidade da pessoa 
humana, entendendo como a entidade familiar as varias formas de constituição e não mais a 
singular (formada através do casamento), proibindo ainda, a discriminação entre os filhos, 
dando tratamento igualitário sejam eles concebidos ou não no casamento. Por fim, como 
principal feito desta constituição foi a consagração do principio da igualdade entre homens e 
mulheres, determinando tratamento igual a ambos. 
Sobre a condição jurídica dos filhos, principalmente os havidos fora do casamento, 
Carlos Roberto Gonçalves (2014, p.20) pontua: 
A condição jurídica dos filhos assume também significativo relevo no direito de 
família. O instituto da filiação sofreu profunda modificação com a nova ordem 
constitucional, que equiparou, de forma absoluta, em todos os direitos e 
qualificações, os filhos havidos ou não da relação de casamento, ou por adoção, 
proibindo qualquer designação discriminatória. 
A Constituição de 1988, ainda consagrou o dever do Estado de assistência à família a 
cada um dos membros da entidade familiar de modo a coibir a violência no âmbito de suas 
relações, de modo, que caberá ao Estado medidas que visem a atender as necessidades da 
entidade familiar. 
Neste pensamento, Paulo Nader (2006, p.20) nos trás: 
14 
 
Atualmente, a razão de ser da família não se limita “à propagação da espécie, à 
permanência da raça e à educação dos filhos”, como preconizava Louis Josserand 
na metade do século. O que dá corpo à instituição, fundamentalmente, é a comunhão 
de interesses. 
Desta forma, diante da Carta Magna de 1988 e juntamente com o Código Civil de 
2002, o tratamento entre homem e mulher tornou-se igualitário, sem qualquer discriminação, 
um avanço muito grande que vem sendo conquistado nos dias atuais. Tendo eles as mesmas 
responsabilidades, dividindo suas obrigações e deveres com a unidade familiar. 
 
1.2 Noções gerais sobre a família 
A família pode ser formada com ou sem laços sanguíneos, ou por vinculo matrimonial 
que uniu ambas as vontades da parte. De acordo com o entendimento de Carlos Roberto 
Gonçalves (2007, p.22) “Lato sensu, o vocábulo família abrange todas as pessoas ligadas por 
vínculo de sangue e que procedem, portanto, de um tronco ancestral comum, bem como as 
unidas pela afinidade e pela adoção”. 
Melhor explicando sobre o direito de família, Paulo Nader (2006, p.23) escreve: 
Direito de Família é o sub-ramo do Direito Civil, que dispõe sobre as entidades 
formadas por vínculos de parentesco ou por pessoas naturais que se propõem a 
cultivar entre si uma comunhão de interesses afetivos e assistenciais. 
Sendo assim, o direito de família constitui: 
O ramo do direito civil que disciplina as relações entre pessoas unidas pelo 
matrimônio, pela união estável ou pelo parentesco, bem como os institutos 
complementares da tutela e curatela, visto que, embora tais institutos de caráter 
protetivo ou assistencial não advenham de relações familiares, têm, em razão de sua 
finalidade, nítida conexão com aquele. (GONÇALVES, 2014, p.19). 
 Já para Maria Helena Diniz (2010,p.17) que define o direito de família como: 
[...] o complexo de normas que regulam a celebração do casamento, sua validade e 
os efeitos que dele resultam, as relações pessoais e econômicas do matrimônio, a 
dissolução deste, a união estável, as relações entre pais e filhos, o vínculo do 
parentesco e os institutos complementares da tutela e curatela. 
Nos termos do artigo 226 da Constituição Federal de 1988: “A família, base da 
sociedade, tem especial proteção do Estado” (BRASIL, 1988). 
O Código Civil de 2002 em seu texto seguiu os mesmos ditames da Constituição 
Federal de 1988, em relação à proteção ou assistência, alimentos e união estável. Sendo assim 
15 
 
os pais tem igualdade de direito sobre seus filhos menores, tudo isso em consequência do 
poder família. 
Para Paulo Nader (2006, p.37) “Se os pais, que detêm o chamado poder familiar em 
relação aos filhos, possuem o dever de lhes dar instrução, as gestões que visam à efetivação 
de tal objetivo não emanam de um direito subjetivo correlato ao dever jurídico, mas de sua 
potestade”. 
Da mesma forma, entende Carlos Roberto Gonçalves (2014, p.21) que “a proteção da 
pessoa dos filhos subordinados à autoridade paterna constitui dever decorrente do poder 
familiar, expressão esta considerada mais adequada...”. 
É certo que o Código Civil prevê o direito aos alimentos, porém, estes não são devidos 
entre pais e filhos, ou seja, também são devidos a todos os parentes em linha reta, ou aqueles 
que possuem melhores condições para prestar alimentos. Assim, expõe: 
No tocante aos alimentos, o Código Civil de 2002 traça regras que abrangem os 
devidos em razão do parentesco, do casamento e também da união estável, trazendo, 
como inovação, a transmissibilidade da obrigação aos herdeiros [...] A obrigação 
alimentar alcança todos os parentes na linha reta. Na linha colateral, porém, limita-se 
aos irmãos. (GONÇALVES, 2014, p.20). 
Assim, podemos compreender que o Direito de família não está previsto apenas no 
Código Civil, mas sim, abrangido por diversas normas que compõe o direito brasileiro, como 
por exemplo, normas religiosas de condutas aos membros familiares, bem como regras de 
cooperação mutua entre eles. Sendo a participação do Estado de suma importância para que 
cada individuo que constitua a família, tenha uma contribuição para instituição familiar. 
Conforme o que foi exposto, é certo que o dever do Estado não é somente garantir o 
direito de família, mas também, de instituir normas de proteção ao patrimônio desta. Sendo 
assim, este interfere diretamente nas relações familiares por meio do direito de família, com o 
objetivo de impor um mínimo de regras para os membros da unidade familiar, para que estes 
tenham um mínimo de direitos resguardados pelo Estado. 
 
 
1.3. Do poder familiar 
O poder familiar é um conjunto de direitos e deveres que são atribuídos aos pais, em 
igualdade de condições, ao sustento, guarda, educação em relação à pessoa dos filhos menores 
de 18 anos, bem como dos seus bens. Não basta aos genitores somente dar a vida e alimenta-
16 
 
los, é também de suma importância que eles sejam responsáveis pela educação, proteção, 
afeto, zelo e cuidado dos seus filhos menores até que eles completem a maior idade. 
Em relação ao poderfamiliar, Maria Helena Diniz (2008, p.537) define: 
Conjunto de direitos e obrigações, quanto a pessoa e bens do filho não emancipado, 
exercido em igualdade e condições, por ambos os pais, para que possam 
desempenhar os encargos que a norma jurídica lhes impõe, tendo em vista o 
interesse e a proteção do filho. 
Pelo poder igualitário possuído entre si pelos pais em relação à criação, educação e 
decisão sobre os filhos menores e não emancipados, havendo qualquer conflito de interesses 
entre eles, poderão solicitar a intervenção do juiz para resolver o litígio pautando-se no bem-
estar e benefício do filho. 
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) em seu artigo 21,regulamenta a 
respeito da questão sobre o poder hierárquico entre os pais em relação aos filhos: 
Artigo 21- O pátrio poder será exercido em igualdade de condições, pelo pai e pela 
mãe na forma do que dispuser a legislação civil, assegurando a qualquer deles o 
direito de, em caso de discordância, recorrer a autoridade judiciária competente para 
a solução da divergência. 
O poder familiar tem como características: Irrenunciabilidade; que significa que os 
pais jamais poderão renunciar. Porém, há casos em que essa irrenunciabilidade não é absoluta, 
podendo ser o poder familiar renunciado, estão elencadas tais hipóteses do artigo 166 do 
ECA, no qual trata da possibilidade do menor ser colocado em família substituta, in verbis: 
Art. 166. Se os pais forem falecidos, tiverem sido destituídos ou suspensos do poder 
familiar, ou houverem aderido expressamente ao pedido de colocação em família 
substituta, este poderá ser formulado diretamente em cartório, em petição assinada 
pelos próprios requerentes, dispensada a assistência de advogado. 
§ 1
o
 Na hipótese de concordância dos pais, esses serões ouvidos pela autoridade 
judiciária e pelo representante do Ministério Público, tomando-se por termo as 
declarações. 
§ 2
o
 O consentimento dos titulares do poder familiar será precedido de orientações e 
esclarecimentos prestados pela equipe interprofissional da Justiça da Infância e da 
Juventude, em especial, no caso de adoção, sobre a irrevogabilidade da medida. 
§ 3
o
 O consentimento dos titulares do poder familiar será colhido pela autoridade 
judiciária competente em audiência, presente o Ministério Público, garantida a livre 
manifestação de vontade e esgotados os esforços para manutenção da criança ou do 
adolescente na família natural ou extensa. 
§ 4
o
 O consentimento prestado por escrito não terá validade se não for ratificado na 
audiência a que se refere o § 3
o
 deste artigo. 
§ 5
o
 O consentimento é retratável até a data da publicação da sentença constitutiva 
da adoção. 
§ 6
o
 O consentimento somente terá valor se for dado após o nascimento da criança. 
§ 7
o
 A família substituta receberá a devida orientação por intermédio de equipe 
técnica Inter profissional a serviço do Poder Judiciário, preferencialmente com apoio 
dos técnicos responsáveis pela execução da política municipal de garantia do direito 
à convivência familiar. 
17 
 
Essa hipótese de transferência da criança para família substituta ocorre a partir do 
momento em que a criança ou adolescente se encontra em uma situação degradante ou de 
vulnerabilidade, na qual se torna impossível que continue sobre o domínio dos pais. Para 
concretizar a colocação do menor em uma família substituta, devem-se ser esgotadas todas as 
medidas possíveis, sendo estas pautadas na reeducação dos pais e na tentativa de solução para 
que o menor não perca a família de origem. 
Outra característica do poder familiar é a imprescritibilidade, significando que os 
genitores não perderão a responsabilidade sob os filhos por simples deixar de cuidar e cumprir 
com seu papel. Para Carlos Roberto Gonçalves, o poder familiar significa: 
O poder familiar é também imprescritível, no sentido de que dele o genitor não decai 
pelo fato de não exercita-lo, somente podendo perdê-lo na forma e nos casos 
expressos em lei. E ainda incompatível com a tutela, não podendo nomear tutor a 
menor cujos pais não forem suspensos ou destituídos do poder familiar (2009, p. 
374). 
Uma ressalva sobre o direito de correção dos pais para com seus filhos, não deveram 
estes ser feitos de maneira exagerada, bem como os castigando com violência e agressões 
físicas, fato que coloque o menor em situação de risco. Deve os genitores corrigir seus filhos, 
porém que seja uma correção moderada. 
No mesmo entendimento, Maria Helena Diniz (2007, p.519) diz: 
Podem ainda usar, moderadamente seu direito de correção, como sanção do dever 
educacional, pois o poder familiar não poderia ser exercido, efetivamente, se os pais 
não pudessem castigar seus filhos para corrigi-los. 
As possibilidades de extinção do poder familiar se dão pelas hipóteses elencadas no 
artigo 1.635 do Código Civil: 
Art. 1.635. Extingue-se o poder familiar: 
I - Pela morte dos pais ou do filho; 
II - Pela emancipação, nos termos do art. 5º, parágrafo único; 
III - pela maioridade; 
IV - Pela adoção; 
V - Por decisão judicial, na forma do artigo 1.638. 
 
A primeira hipótese como exposto no inciso I, é sobre o falecimento de um dos 
genitores, que passa automaticamente ao genitor sobrevivente. Já no inciso II, a extinção 
ocorrerá pela emancipação, ou seja, quando o filho menor adquirir a capacidade civil antes da 
idade legal. O inciso III, ocorrera quando o menor completar dezoito anos e adquirir de forma 
natural a maioridade civil e penal. 
18 
 
No inciso IV, a adoção citada ocorrera à transferência do pátrio poder, para o adotante 
de forma irrevogável e definitiva, não se falando nesse caso de extinção. 
O ultimo inciso refere-se as decisões judiciais tratadas no artigo 1.638 desse código: 
Artigo 1.638-Perderá por ato judicial o poder familiar o pai ou a mãe que: 
I - Castigar imoderadamente o filho; 
II - Deixar o filho em abandono; 
III - praticar atos contrários à moral e aos bons costumes; 
IV - Incidir, reiteradamente, nas faltas previstas no artigo antecedente. 
 
A suspensão do poder familiar possui caráter temporário, ou seja, é exercido quando 
se mostrar necessário, quem o determina é o juiz com base nas causas suspensivas, que 
poderão ser apresentadas pelos familiares do menor, pelo Ministério Público ou de oficio pelo 
juiz. Sua previsão legal encontra-se no artigo 1.637 do Código Civil: 
Art. 1.637. Se o pai, ou a mãe, abusar de sua autoridade, faltando aos deveres a eles 
inerentes ou arruinando os bens dos filhos, cabe ao juiz, requerendo algum parente, 
ou o Ministério Público, adotar à medida que lhe pareça reclamada pela segurança 
do menor e seus haveres, até suspendendo o poder familiar, quando convenha. 
Parágrafo único - Suspende-se igualmente o exercício do poder familiar ao pai ou à 
mãe condenados por sentença irrecorrível, em virtude de crime cuja pena exceda a 
dois anos de prisão. 
Cessando as causas que estabeleceram a suspensão familiar, os genitores poderão 
voltar a exercer o poder familiar para com seus filhos, pois a suspensão exclui apenas o 
exercício, deixando intacto o direito. 
Desta forma, temos que o poder familiar é um importante instituto jurídico tanto do 
direito público e do direito privado, pois tem diversos direitos e deveres dos pais explícitos e 
implícito no texto constitucional, e é do interesse do Estado a proteção das crianças e dos 
adolescentes, o qual são eles que darão seguimentos às gerações na sociedade. 
 
1.4. Princípio do Direito de Família 
 
 
São aqueles considerados um ponto de partida para analise do caso, funcionando 
como alicerces para qualquer operação jurídica que diga em respeito à unidade familiar, seja 
ela constituída pelo meio comum ou não. 
[...]significa as normas elementares ou os requisitos primordiais instituídos como 
base, como alicerce de alguma coisa. E assim princípios relevam o conjunto de 
regras ou preceitos,que se fixam para servir de norma a toda espécie de ação 
jurídica, traçando, assim a conduta a ser tida em qualquer operação jurídica. Desse 
modo, exprimem sentido mais relevante que o da própria norma ou regra jurídica. 
19 
 
Mostram-se a própria razão fundamental de ser das coisas jurídicas, convertendo-as 
em perfeitos axiomas. (PLACIDO SILVA, 1.998, p.639) 
Considerando que a sociedade vive em constante construção, onde o conceito 
familiar é discutido todos os dias, uma vez que historicamente pode-se observar um 
continuo progresso na busca de espaço econômico-social pelas mulheres, tornando elas em 
muitas ocasiões provedoras familiares, ou então as conquistas fincadas pela classe LGBT, 
fazendo com que a família possa ser caracterizada como comum, constituída de homem, 
mulher e prole, ou não comum constituída de mulher, mulher e prole ou então homem, 
homem e prole, dessa forma o principio do direito familiar fica responsável por assegurar 
um lugar na comunidade à aquela pessoa além da necessidade de endossar a igualdade onde 
não haverá então discriminação nem por condição sexual ou qualquer outra característica 
que venha ocasionar um pré julgamento. 
Nesse sentido vem Maria Berenice Dias dizer: 
O princípio da interpretação conforme a Constituição é uma das mais importantes 
inovações, ao propagar que a lei deve ser interpretada, sempre, a partir da lei maior. 
Assim, os princípios constitucionais passaram a informar todo o sistema legal de 
modo a viabilizar o alcance da dignidade da pessoa humana em todas as relações 
jurídicas. (2011, p. 57/58) 
A constituição federal de 1988 preleciona em seu artigo 1º, in verbis: 
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos 
Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de 
Direito e tem como fundamentos: 
I - A soberania; 
II - A cidadania; 
III - A dignidade da pessoa humana; 
IV - Os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; 
V - O pluralismo político. 
Considerando às garantias fundamentais e os princípios do ordenamento jurídico 
Maria Berenice Dias (2011, p. 57/58) dispõe: 
 
O princípio da interpretação conforme a constituição é uma das mais importantes 
inovações, ao propagar que a lei deve ser interpretada, sempre, a partir da lei maior. 
Assim, os princípios constitucionais passaram a informar todo o sistema legal de 
modo a viabilizar o alcance da dignidade da pessoa humana em todas as relações 
jurídicas. 
Os direitos fundamentais têm como finalidade a proteção e igualdade do individuo e 
da comunidade utilizando além dos direitos e princípios de família todo sistema jurídico 
brasileiro, sendo evidenciado nas teias a seguir. 
 
20 
 
1.4.1. Princípio da Dignidade da Pessoa Humana 
 
É resultado de mudança gerada pela Constituição federal de 1988, fazendo com que 
o ser humano fosse prioridade, onde o alicerce é a igualdade e o respeito, sendo assim lhe 
assegurando direitos individuais, difusos e coletivos perante a sociedade, dessa forma o 
principio é capaz de garantir a dignidade. 
Maria Berenice Dias (2009, p.61) define que: 
Na medida em que a ordem constitucional elevou a dignidade da pessoa humana a 
fundamento da ordem jurídica, houve uma opção expressa pela pessoa, ligando 
todos os institutos a realização de sua personalidade. Tal fenômeno provocou a 
despatrimonialização e a personalização dos institutos, de modo a colocar a pessoa 
humana no centro protetor do direito. 
O legislador deixou claro sua intenção em destacar no artigo 1º da Constituição 
Federal, a dignidade da pessoa humana, sendo tal instituto o princípio norteador de todas as 
áreas do direito. Nesse sentido, vem o posicionamento do seguinte autor: 
O texto da constituição de 1988, afirma ser a dignidade da pessoa humana 
fundamento da república Federativa do Brasil e, sendo o homem fim em si mesmo, 
conclui-se que o Estado existe em função de todas as pessoas e não as pessoas em 
função do Estado. (GARCIA, 2003, p.45) 
Este princípio trouxe a valorização do individuo dentro da própria família, protegendo 
a vida e a integridade dos membros de sua família, levando em conta o respeito à pessoa e 
assegurando seus direitos de personalidade. 
O mesmo é responsável por garantir a titularidade de direitos fundamentais de toda 
pessoa humana, direitos esses que reconheçam, assegurem e promovam a sua condição de 
pessoa no âmbito de uma comunidade. Em relação ao liame dos direitos fundamentais ao 
direito de família, Maria Berenice Dias (2009, p.22) ressalta que: 
O direito das famílias este umbilicalmente ligado aos direitos humanos, que tem por 
base o princípio da dignidade da pessoa humana, versão axiológica da natureza 
humana. O princípio da dignidade humana, significa em última análise, igual 
dignidade para todas entidades familiares. Assim, é indigno dar tratamento 
diferenciado as várias formas de filiação ou aos vários tipos de constituição de 
família com o que se consegue visualizar a dimensão do espectro desse princípio, 
que tem contornos cada vez mais amplos. 
Por fim, pelo direito de família ter como base o princípio da dignidade da pessoa 
humana, na qual o objetivo é assegurar as entidades familiares, o respeito e a dignidade. 
Deverá ele ser pautado em respeito toda e qualquer forma de constituição de família com a 
21 
 
modernidade e respectivas mudanças, cada vez mais diversificadas, contudo, 
independentemente da forma de constituição da família, ela terá como base tal princípio. 
 
1.4.2. Princípios da Afetividade 
 
A construção familiar ocorre constantemente pela interação afetiva entre os 
indivíduos, desta forma a construção de lares se dá por meio do amor parental. 
Este princípio atua de forma oculta na legislação vigente por meio de adjetivos como 
a proteção e cuidado que indiretamente é designado por afeto. Para Gagliano (2012, p.89) 
“todo o moderno Direito de Família gira em torno do princípio da afetividade”. 
Para Maria Berenice Dias (2009, p.33) o princípio da afetividade é o que rege o 
direito de família e diz que: 
O afeto não é somente um laço que envolve os integrantes de uma família. Também 
tem um viés externo, entre as famílias, pondo humanidade em cada família, 
compondo, no dizer de Sérgio Resende de Barros, a família humana universal, cujo 
lar é a aldeia global, cuja base é o globo terrestre, mas cuja origem sempre será, 
como sempre foi, a família. 
Muitos doutrinadores do direito de família entendem a constante mudança no 
conceito de família como uma crise baseada na desorganização e falta de segurança no 
quesito familiar. Em relação ao caso em tela, descreve Maria Helena Diniz (2012, p.39): 
Na realidade tal não ocorre, a tão falada crise e mais aparente que real. O que 
realmente acorre é uma mudança nos conceitos básicos, imprimindo uma feição 
moderna à família mudanças estas que atende as exigências da época atual, 
indubitavelmente diferente das de outrora, revelando a necessidade de um 
questionamento e de uma abertura para pensar e repensar todos os esses efeitos. 
O que acontece na realidade sobre essa tão falada crise, é uma mudança nos conceitos 
básicos, imprimindo neles uma forma moderna à família, que atendem exigências da época 
atual, diferindo-se dos conceitos de outrora. 
Por fim, verifica-se que o afeto deu um novo rumo ao direito de família, mesmo que 
seja ele um principio implícito, trata-se da forma mais possível de se constatar a afinidade 
entre as pessoas dentro da mesma estrutura familiar (seja ela consanguínea ou não), sendo 
essa uma característica das famílias contemporâneas. 
 
 
22 
 
1.4.3. Princípio da Convivência familiar 
 
Assegura que todos os entes tenham direito de desfrutar do lar como ambiente 
afável, fortalecendo e gerando todos os dias laços que venham a consolidar o âmbito 
familiar. Sendo a casa um ambiente privativo que não deve ser violado a não ser queocorram casos previstos em lei. 
A Constituição Federal em seu artigo 227, caput, expõe: 
Art. 227 - É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao 
adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à 
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao 
respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a 
salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade 
e opressão. (BRASIL, 1988) 
É direito da prole a convivência com os pais, mesmo quando eles são divorciados, 
desta forma a ideia de guarda compartilhada, onde os pais compartilham a convivência e 
todas as responsabilidades que envolvam o menor, garantindo o direito das crianças, esse 
conceito se estende também aos demais membros da família do menor, para que haja 
interação e constante construção de laços afetivos para melhor inserção do mesmo no 
ambiente familiar. 
 
1.4.4. Princípio do Pluralismo Familiar 
 
O pluralismo familiar é aquele principio pelo qual o Estado reconhece a existência das 
várias composições de famílias. O artigo 226, §§3º e 4º da Constituição Federal, considera-
se família, a matrimonial, união estável entre homens e mulheres e as monoparentais 
(aquelas formadas por apenas um dos genitores e seus descendentes), as socioafetivas onde 
o vínculo que liga os pais ao filho é o afetivo, não o biológico. Entre as famílias citadas, 
temos hoje em dia uma nova família a homoafetiva (genitores do mesmo sexo com seus 
descendentes ou adotados), tendo estes casais os mesmos direitos assegurados pelo artigo 5º 
da Constituição Federal aos casais heterossexuais: 
Art. 5°. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, 
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade 
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade [...] 
23 
 
Nos dias atuais é reconhecida a afetividade como um novo modelo familiar, conforme 
expõe Maria Berenice Dias (2009, p.42): 
Agora, o que identifica a família não é nem a celebração do casamento nem a 
diferença de sexo do par ou envolvimento de caráter sexual. O elemento distintivo 
da família, que a coloca sob o manto da juridicidade, é a presença de um vínculo 
afetivo a unir as pessoas com identidade de projetos de vida e propósitos comuns, 
gerando comprometimento mútuo. 
No mesmo sentido, o Código Civil dispõe no seu artigo 1.723: “É reconhecida como 
entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher, configurada na convivência 
pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família”. 
Desta forma, temos com esse principio a pluralidade de famílias existentes nos dias 
de hoje e que já foram reconhecidas pelo ordenamento jurídico brasileiro. Não há entre elas 
o modelo de entidade familiar prevalecente, o que se usa no caso concreto é a afinidade 
encontrada entre os integrantes da família ao forma-la. 
 
 
1.4.5. Princípio da Igualdade entre os filhos 
 
A Constituição Brasileira de 1988 assegura que todos os filhos sejam iguais, sendo 
concebidos fora do matrimônio e adotados, neste molde ambos têm os mesmos direitos e 
impedindo qualquer forma de discriminação. 
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao 
adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à 
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao 
respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a 
salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade 
e opressão. 
§ 6º Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os 
mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias 
relativas à filiação. (BRASIL,1988). 
Pode-se considerar que esse discurso tem muito em comum com a igualdade, uma vez 
que todos são iguais perante a lei e devem estar inclusos no laço afetivo do ambiente familiar. 
Levando em consideração que a principal diferença existente entre a prole é a maneira 
em que a criança entre em contato com a família, sendo essa concebida em união estável, 
sendo adotada por pais vistos como comuns, ou provenientes de famílias homoafetivas ou 
então gerada de um ato extraconjugal. 
Neste sentido para Cristiano Chaves de Farias e Nolson Rosenvald : 
24 
 
 
Todo e qualquer filho gozará dos mesmos direitos e proteção, seja em nível 
patrimonial, seja mesmo na esfera pessoal. Com isso, todos os dispositivos legais 
que, de algum modo, direta ou indiretamente, determinam tratamento 
discriminatório entre os filhos terão de ser repelidos do sistema jurídico. (2008, 
p.41). 
É necessário tato e constante observação sobre como a criança é tratada, quando 
proveniente ao lar por meios que não são considerados pela grande maioria comuns, uma vez 
que a discriminação pode levar a danos que são irreparáveis. 
 
1.4.6. Princípio do Melhor Interesse da Criança e do Adolescente 
 
Diante da constante reforma da escala da sociedade em relação à família, a criança 
passa a ocupar um espaço que outrora não era atribuído a ela, as decisões passam a ser 
tomadas de acordo com o que será melhor para a mesma, diferenciando do tempo onde ela 
dependia exclusivamente das decisões tomadas pelos pais. 
Para Velério Pocar e Paola Ronfani (2001, p.207): 
Em lugar da construção piramidal e hierárquica, na qual o menor ocupava a escala 
mais baixa, tem-se a imagem de círculo, em cujo centro foi colocado o filho, e cuja 
circunferência é desenhada pelas recíprocas relações com seus genitores, que giram 
em torno daquele centro. 
A criança então por esse princípio ocupa o centro, onde as necessidades dela levadas 
em consideração e respeitadas, e os pais devem orbitar em torno da prole para que ela possa 
ser criada da melhor forma possível e dentro de um ambiente em que a mesma se sinta 
protegida. 
 
1.4.7. Princípio da Paternidade Responsável e do Planejamento familiar 
Esses princípios partem do pressuposto onde os progenitores devem ser responsáveis 
por preencher toda e qualquer necessidade do menor, fisicamente, economicamente, 
afetivamente e mentalmente, eles devem suprir qualquer carência que seja demonstrada pelo 
mesmo, sendo inteiramente responsáveis pela formação do individuo. 
Para Rodrigo da Cunha Pereira: 
25 
 
Independente da convivência ou relacionamento dos pais, a eles cabe a 
responsabilidade pela criação e educação dos filhos, pois é inconcebível a ideia de 
que o divórcio ou término da relação dos genitores acarrete o fim da convivência 
entre os filhos e seus pais. ( 2012, p. 120) 
Desta forma é necessário que os pais se atentem que a assistência psicológica deve 
ser mais efetiva que a material e que a ausência de relação entre os pais não deve acarretar 
de nenhuma forma a ausência de algumas das partes na vida da criança, visto que a 
dissolução do matrimonio nada tem a ver com a cessação dos deveres paternos ou maternos, 
é necessário manter os vínculos e fortalecer a relação afetiva para que qualquer impacto que 
tenha sido ocasionado por meio do fim do matrimônio ou qualquer outra ocasião traumática 
tem uma mínima importância na formação do menor. 
 
1.4.8. Princípio da Solidariedade Familiar 
É um princípio que tem origem nos vínculos afetivos, e no âmbito jurídico tem como 
significado uma obrigação entre as partes, ou seja, devem compromissos umas com as 
outras. 
Trata-se de um dos objetivos da Republica, e tem previsão legal no artigo 3º, da 
Constituição Federal de 1988, “ Constituem objetivos fundamentais da República Federativa 
do Brasil: I - construir uma sociedade livre, justa e solidária. ” 
Para o doutrinador Rolf Madaleno, principio da solidariedade é: 
A solidariedade é o princípio e oxigênio de todas relaçõesfamiliares e afetivas, 
porque esses vínculos só podem se sustentar e se desenvolver em ambiente recíproco 
de compreensão e cooperação, ajudando – se mutuamente sempre que se fizer 
necessário. (2013, p.93) 
Dessa forma, temos que esse princípio ambos os integrantes da unidade familiar tem o 
dever de cuidarem entre si, pais tem o dever legal de cuidado com os filhos até completarem a 
maioridade, e os filhos na velhice dos pais também possuem o dever legal de cuidares de seus 
pais em sua velhice. 
 
1.4.9. Princípio da Liberdade Familiar 
É um princípio que vem expor os novos modelos de família, onde o individuo exerce 
de maneira livre a escolha de casar, exercer o poder familiar, administrar o patrimônio 
26 
 
familiar, separar, divorciar, bem como a opção do regime de bens que deseja unir-se a outra 
pessoa, neste caso exceto as pessoas que tem pela lei determinado o regime de comunhão de 
bens, que por força do artigo 22, § 7º da Constituição é de “livre decisão do casal” não 
cabendo interferência do Estado ou da sociedade. 
Paulo Luiz Netto Lobô expõe que: 
O princípio da liberdade diz respeito não apenas à criação, manutenção ou extinção 
dos arranjos familiares, mas à sua permanente constituição e reinvenção. Tendo a 
família se desligado de suas funções tradicionais, não faz sentido que ao Estado 
interesse regular deveres que restringem profundamente a liberdade, a intimidade e a 
vida privada das pessoas, quando não repercutem no interesse geral. (2011, p.70). 
Posto isso, temos que o princípio da liberdade tem que ser respeitado pelo Estado, pois 
cada entidade familiar tem o seu jeito de criar e educar os filhos; devendo o Estado intervir 
somente em casos específicos. 
 
1.5. Importância dos pais na criação dos seus filhos 
Os filhos requerem cuidados especiais dos seus genitores desde o primeiro respirar, 
como alimentação, higienização, atenção, e o principal o amor. A educação dos filhos 
possui grande destaque como uma obrigação dos pais, podendo ser dividida em educação 
formal e informal: A educação formal trata-se da cientifica, é o incentivo aos menores ao 
estudo, apoio e o fornecimento de meios para a concretização do conhecimento. A segunda 
é pautada no conhecimento hierárquico de princípios, valores e o discernimento do que é 
certo e do que é errado, como afirma Zimerman (1999, p.104): 
Uma família bem estruturada requer algumas condições básicas, como é a 
necessidade de que haja uma hierarquia na distribuição de papéis, lugares, posições 
e atribuições, com a manutenção de um clima de liberdade e de respeito recíproco 
entre os membros. 
Outra grande influência que os pais possuem sobre seus filhos é na formação civil 
deles, os que com seus filhos tenham um dialogo restrito possuem estabelecidas uma 
relação limitada e assim uma educação pelo silencio. Já os pais que com seus filhos 
possuem um relacionamento com diálogos, estabelecem entre si uma relação de confiança e 
liberdade, tenderá a ser um adulto com mais dialogo, e mais preparado para encarar seu 
futuro na vida adulta. 
Neste entendimento, Lizete Peixoto Xavier cita Monagle: 
27 
 
Um dos maiores desafios do século XXI é assegurar que as crianças cresçam 
transformando-se em adultos sábios, corretos e capazes; e são os pais responsáveis 
por essa árdua tarefa. Se a família é vista como alicerce do grupo social, os pais são, 
portanto como os primeiros professores das crianças, o tijolo essencial para a 
construção de uma pessoa saudável e equilibrada que por sua vez exercerá a 
parentalidade com tranquilidade e segurança no futuro. (2006, p.61) 
É claro que os genitores são os responsáveis pelo desenvolvimento de sua prole, são 
como um espelho a eles e refletindo a forma como são tratados pelos seus pais, e assim fica 
demonstrada na sociedade a educação dada pelos genitores aos seus filhos. 
Por fim, educação, diálogo, atenção e amor, auxiliam a criança tanto na vida social 
como na escolar, concedendo mecanismos para a prole buscarem sempre uma melhor atitude 
a tomar nas situações que depararem na vida. E assim, prestando os pais os devidos cuidados 
aos filhos, não descumprindo assim as leis, não incorrerão para serem responsabilizados 
civilmente como vai ser explicado no próximo capitulo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
28 
 
II- RESPONSABILIDADE CIVIL 
 
Responsabilidade civil é um dever jurídico sucessivo que surge para restaurar um dano 
causado pela violação do dever jurídico originário, em outras palavras, é a obrigação 
pecuniária de reparar um dano causado a outrem, seja ele por ação ou omissão, através da 
indenização. 
Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho (2013, p.47) conceituam 
responsabilidade como: 
Responsabilidade, para o Direito, nada mais é, portanto, que uma obrigação derivada 
– um dever jurídico sucessivo – de assumir as conseqüências jurídicas de um fato, 
conseqüências essas que podem variar (reparação dos danos e/ou punição pessoal do 
agente lesionante) de acordo com os interesses lesados. 
 No mesmo sentido, o doutrinador Carlos Alberto Bittar (1994, p. 561) diz: 
O lesionamento a elementos integrantes da esfera jurídica alheia acarreta ao agente a 
necessidade de reparação dos danos provocados. É a responsabilidade civil, ou 
obrigação de indenizar, que compele o causador a arcar com as consequências 
advindas da ação violadora, ressarcindo os prejuízos de ordem moral ou patrimonial, 
decorrente de fato ilícito próprio, ou de outrem a ele relacionado. 
 Há três elementos incidentes da responsabilidade civil trazidos pelo Código Civil, em 
seus artigos 186 e 937, in verbis 
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, 
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato 
ilícito. 
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (artigos 186 e 187), causar dano a outrem, fica 
obrigado a repará-lo. 
 O dano pode ser o que é ocasionado pela própria pessoa ou por um terceiro 
dependente desta relação, como descreve Maria Helena Diniz (2015, p.33) “A 
responsabilidade civil é a obrigação que pode incumbir uma pessoa a reparar o prejuízo 
causado a outra, por fato próprio ou por fato de pessoa ou coisas que dela dependam”. 
Por fim, a responsabilidade civil é a garantia e segurança que o lesado terá de que o 
seu direito violado será reparado, e que o culpado sofrerá uma punição, seja uma sanção civil, 
para que não volte a infringir direito de outrem novamente. 
 
 
29 
 
2.1. Pressupostos da responsabilidade civil 
Para a ocorrência da responsabilidade civil deve-se a pessoa praticar um ato ilícito, e 
a partir dele ocorrer um dano que tenha conectividade entre eles. Assim, toda pessoa que 
causar ato ilícito a outrem fica obrigado a repará-lo. 
O artigo 186, caput, do Código Civil dispõe: 
Artigo 186 - Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligencia ou 
imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, 
comete ato ilícito. 
Em conformidade com o artigo acima citado, presentes esses quatro requisitos: ação 
ou omissão, ato ilícito, dano e nexo causal, quando verificada, estará configurada a 
responsabilidade civil, imputando ao autor do dano, o dever de reparação. 
 
 
2.1.1. Da conduta comissa e omissiva 
 
A ação trata-se de uma conduta comissiva, ou seja, um fazer, um agir, uma conduta 
positiva, já a omissão se caracteriza por uma prática omissiva, sendo assim, um deixar de 
fazer, uma conduta negativa. Do mesmo modo, a conduta é uma ação ou uma omissão 
humana, possuem natureza ilícita e que podem atingir algum bem jurídico tutelado causando 
certos danos ou prejuízos. 
Maria Helena Diniz define sobre o tema (2005, p.22): 
 
A ação, fato gerador da responsabilidade, poderá ser lícita ou ilícita. A 
responsabilidade decorrente de ato ilícito baseia-se na ideia de culpa, e a 
responsabilidade sem culpa funda-se no risco,que se vem impondo na atualidade, 
principalmente ante a insuficiência da culpa para solucionar todos os danos. O 
comportamento do agente poderá ser uma comissão ou uma omissão. A comissão 
vem a ser a prática de um ato que não se deveria efetivar, e a omissão, a não 
observância de um dever de agir ou da prática de certo ato que deveria realizar-se. 
No mesmo sentido, é certo que a responsabilidade civil pode surgir por meio de uma 
conduta de terceiros e, para que essa responsabilidade recaia será necessário que aja um 
vínculo jurídico entre o causador do dano e entre o indivíduo que arcará com a 
responsabilização civil. 
Sendo assim, importante observar que: 
A responsabilidade do agente pode defluir de ato próprio, de ato de terceiro que 
esteja sob-responsabilidade do agente, e ainda de danos causados por coisas que 
30 
 
estejam sob a guarda deste. A responsabilidade por ato próprio se justifica no 
próprio princípio informador da teoria da reparação, pois se alguém por sua ação, 
infringindo dever legal ou social, prejudica terceiro, é curial que deva reparar esse 
prejuízo. (RODRIGUES, 2002, p.16). 
 
Uns dos principais exemplos práticos para essa situação: aos pais recai a 
responsabilidade pelas condutas, seja comissivas ou omissivas dos seus filhos menores e 
incapazes, ou ao empregador que responde pelos atos de seus empregados; assim tal 
responsabilidade se dá de forma objetiva e independe de culpa. 
Assim, podemos perceber que da ação ou omissão recai o dever indenizatório, 
respondendo por ele o agente responsável por reparar os danos causados. 
 
 
2.1.2. Responsabilidade objetiva e subjetiva 
 
A responsabilidade civil surge quando ocorre o descumprimento de uma obrigação, 
ocasionando assim uma consequência jurídica ou patrimonial, que decorre de lei ou de um 
contrato. 
Deste modo, são duas as espécies de responsabilidade civil, ou seja, a responsabilidade 
civil subjetiva e a responsabilidade civil objetiva. 
A responsabilidade civil subjetiva se dá quando estiverem presentes quatro elementos, 
ou seja, o fato, dano, nexo causal e culpa. Aqui, o elemento da culpa é indispensável para que 
a pessoa tenha o dever de reparar o dano. 
Na responsabilidade civil subjetiva, é obrigatório provar para o juiz a existência de um 
fato que gerou um dano e, que entre o fato e o dano há a existência de um nexo de 
causalidade, ou seja, uma conexão entre a conduta e o resultado, além da prova de que o 
agente agiu com culpa em sentido amplo, seja dolo, negligência, imprudência ou imperícia. 
Nesse sentido, define Carlos Roberto Gonçalves (2006, p.52): 
Diz-se, pois, ser “subjetiva” a responsabilidade quando se esteia na ideia de culpa. A 
prova da culpa do agente passa a ser pressuposto necessário do dano indenizável. 
Nessa concepção, a responsabilidade do causador do dano semente se configura se 
agiu com dolo ou culpa. 
A responsabilidade civil objetiva se dá com a necessidade de que a vítima comprove 
três elementos como: o fato, o dano e o nexo causal, para que só assim tenha direito a 
indenização. No entanto, não será imprescindível o elemento da culpa, já que esta 
responsabilidade independe da culpa. 
31 
 
Para o autor Carlos Roberto Gonçalves (2014, p.56): “Na responsabilidade objetiva 
prescinde-se totalmente da prova da culpa. Ela e reconhecida, como mencionado, 
independente de culpa. Basta, assim que haja relação de causalidade entre a ação e o dano”. 
Já para o autor Silvio Rodrigues (2002, p.10) define: 
 
Na responsabilidade objetiva, a atitude culposa ou dolosa do agente causador do 
dano é de menor relevância, pois desde que existia relação de causalidade entre o 
dano experimentado pela vítima, e o ato do agente, surge o dever de indenizar, quer 
tenha este último agido ou não culposamente. 
Na definição do autor em relação a responsabilidade objetiva, não há relevante 
importância na atitude do agente, pouco importando se sua conduta foi dolosa ou culposa, 
pois assim não excluirá a responsabilidade do agente de reparar o dano causado. 
Sendo assim, podemos concluir que ambas as responsabilidades, ou seja, subjetiva e 
objetiva, tem o dever de recair sobre o agente causador do dano o direito de indenização, 
porém, é importante distinguir qual delas recaíra sobre a pessoa. E assim, é insignificante a 
presença da culpa para o pagamento do título de uma indenização. 
 
 
2.1.3. Nexo causal 
 
 Para a concretização da responsabilidade civil é necessária a presença do nexo causal. 
Assim com a prática da conduta pelo o agente, que deve ter uma conexão com o resultado, ou 
seja, com o dano que recai sobre a vítima. Sem essa conexão ou qualquer relação entre a 
conduta e o dano, não há o que se falar em nexo causal. No entanto, responderá pelo dano o 
agente infrator, devendo ressarcir os prejuízos causados, sejam eles materiais ou até morais. 
Na visão de Carlos Roberto Gonçalves (2010, p.613): 
 
Um dos pressupostos da responsabilidade civil é a existência de um nexo causal 
entre o fato ilícito e o dano por ele produzido. Sem essa relação de causalidade não 
se admire a obrigação de indenizar. [...] O dano só pode gerar responsabilidade 
quando seja possível estabelecer um nexo causal entre ele e seu autor. 
Já para Sílvio de Salvo Venosa (2003, p.39) o nexo de causalidade: 
 
O conceito de nexo causal, nexo etimológico ou relação de causalidade deriva das 
leis naturais. É o liame que une a conduta do agente ao dano. É por meio do exame 
da relação causal que concluímos quem foi o causador do dano. Trata-se de 
elemento indispensável. A responsabilidade objetiva dispensa a culpa, mas nunca 
dispensará o nexo causal. Se a vítima, que experimentou um dano, não identificar o 
nexo causal que leva o ato danoso ao responsável, não há como ser ressarcida. 
32 
 
Sendo assim, para que decorra o direito de indenização não é apenas necessário que a 
vítima tenha sofrido um prejuízo, é indispensável que o dano tenha recaído posteriormente a 
conduta lesiva, além de que deve haver a comprovação de tal dano, seja ele proveniente de 
uma conduta comissiva ou omissiva. Assim, devidamente comprovado, subsistirá o direito à 
indenização. 
É preciso frisar que há diversos motivos que retiram o elemento do nexo causal da 
composição da responsabilidade civil. Para Carlos Roberto Gonçalves “As excludentes da 
responsabilidade civil, como a culpa da vítima e o caso fortuito e força maior (CC, artigo 
393), rompem o nexo de causalidade, afastando a responsabilidade do agente”. 
O Código Civil de 2002 prevê o nexo causal no artigo 403, e destaca que sua presença 
está atrelada a duas funções: verificar a pessoa que recairá o resultado danoso e analisar a 
extensão do direito de indenização. 
É certo que se deve frisar a importância da existência e da comprovação do nexo de 
causalidade nas hipóteses de responsabilidade civil, sendo este indispensável, já que 
impossibilita uma responsabilização injusta além de buscar apenas a reparação de um dano 
existente. 
 
 
2.1.4. Dano moral 
 
Não há que se falar em responsabilidade civil, sem que haja devidamente a 
comprovação do prejuízo, ou seja, do dano causado pelo agente. Assim, o dano trata-se de um 
elemento importante e indispensável para que decorra o direito de indenização ou reparação 
de fato. Para Maria Helena Diniz (2003, p.112) o dano é como uma “lesão (diminuição ou 
destruição) que, devido a certo evento, sofre uma pessoa, contra sua vontade, em vontade, em 
qualquer bem ou interesse jurídico, patrimonial ou moral”. 
Nesse sentido, uma das espécies de dano se institui como o dano moral, que é aquele 
que atinge a personalidade e ofende a moral, a dignidade humana da pessoa. Portanto, o dano 
moral atinge o animus psíquico, intelectual, moral de uma pessoa, ou seja, afeta sua honra, 
intimidade, privacidade, imagem, nome e até mesmo o corpo físico. 
Nas palavras de Carlos Roberto Gonçalves (2009, p.359),que define: 
Dano moral é o que atinge o ofendido como pessoa, não lesando seu patrimônio. É 
lesão de bem que integra os direitos da personalidade, como a honra, a dignidade, 
intimidade, a imagem, o bom nome, etc., como se infere dos art. 1º, III, e 5º, V e X, 
33 
 
da Constituição Federal, e que acarreta ao lesado dor, sofrimento, tristeza, vexame e 
humilhação. 
 
Com a definição do dano moral, também é importante mencionar que este também 
recai sobre as pessoas jurídicas, definidos e imputados como os direitos da personalidade e da 
dignidade. 
É certo que para a concretização do dano moral é preciso que ocorra um grande e 
intenso constrangimento, a ofensa deve atingir bruscamente a vítima para que possa haver 
realmente a reparação do dano de forma pecuniária. Sendo assim, meros constrangimentos, 
aborrecimentos ou incômodos não configuram o direito a indenização, pois não atingem a 
pessoa de forma tão forte e intensa. Deste modo, como já exposto no tópico anterior, que se 
faz necessário a comprovação do resultado, ou seja, do dano, para que de fato seja analisado 
um abalo significativo sobre a vítima ofendida. 
Maria Helena Diniz (2008, p. 93), destaca sobre o tema: 
 
O dano moral direto consiste na lesão a um interesse que visa a satisfação ou o gozo 
de um bem jurídico extrapatrimonial contido nos direitos da personalidade (como a 
vida, a integridade corporal e psíquica, a liberdade, a honra, o decoro, a intimidade, 
os sentimentos afetivos, a própria imagem) ou nos atributos da pessoa (como o 
nome, a capacidade, o estado de família). Abrange, ainda, a lesão à dignidade da 
pessoa humana (CF/88, art. 1º, III). 
Nas palavras de Sergio Cavalieri Filho (2008, p.78): 
Nessa linha de princípio, só deve ser reputado como dano moral a dor, vexame, 
sofrimento ou humilhação que, fugindo à normalidade, interfira intensamente no 
comportamento psicológico do indivíduo, causando-lhe aflições, angústia e 
desequilíbrio em seu bem-estar. Mero dissabor, aborrecimento, mágoa, irritação ou 
sensibilidade exacerbada estão fora da órbita do dano moral, porquanto, além de 
fazerem parte da normalidade do nosso dia-a-dia, no trabalho, no trânsito, entre os 
amigos e até no ambiente familiar, tais situações não são intensas e duradouras, a 
ponto de romper o equilíbrio psicológico do indivíduo. Se assim não se entender, 
acabaremos por banalizar o dano moral, ensejando ações judiciais em busca de 
indenizações pelos mais triviais aborrecimentos. 
 
 O dano moral possui duas espécies: o dano moral compensatório e o dano moral 
punitivo; os dois são defendidos pela jurisprudência que estipula que em sua aplicação 
devem-se ponderar critérios de proporcionalidade e de razoabilidade, além das condições 
entre ofensor e ofendido sobre o bem jurídico tutelado e que foi lesado. 
É nesse sentido: 
 
O dano ou interesse deve ser atual e certo, não sendo indenizável a princípio, danos 
hipotéticos. Sem danos, ou sem interesse violado, patrimonial ou moral, não se 
34 
 
corporifica a indenização. A materialização do dano ocorre com a definição do 
efetivo prejuízo suportado pela vítima. (VENOSA, 2003, p.28) 
 
É perceptível o avanço do nosso ordenamento jurídico brasileiro, sendo que o dano 
moral vem apresentando certos crescimentos, pois o número de pedidos de indenizações em 
ações no Brasil vem crescendo cada dia mais, isso é um reflexo importante e significativo, já 
que se percebe que a sociedade vem cada vez mais se preocupando com seus próprios 
direitos. 
Assim é essencial que haja sempre mecanismos de proteção aos direitos da 
personalidade, que defendem a honra, a intimidade, a privacidade além da integridade física, 
moral e intelectual da sociedade. Deste modo, com mecanismos eficazes de proteção não há 
que se falar em dever de indenização, já que os direitos são devidamente protegidos, porém 
como nenhum direito é absoluto é preciso que a reparação seja grande e que gere 
enriquecimento sem causa para o ofendido, pois só assim haverá uma diminuição das 
condutas, dos danos, pois ocorre a desestimularão do ofensor para a prática de novos danos. 
 
 
2.1.5. Responsabilidade contratual e extracontratual 
 
 A responsabilidade civil também possui espécies, são elas a responsabilidade 
contratual e a responsabilidade extracontratual. O que define a classificação de qual deve ser 
aplicada será o caso concreto, tendo como direcionamento a natureza do dever jurídico que foi 
lesionado. 
Em relação à responsabilidade civil contratual esta se caracteriza com a presença de 
um vínculo jurídico entre as partes, o que gera obrigação perante os contratantes, obrigações 
esta pactuada entre ambos. Nas relações contratuais a culpa passa a ser presumida, assim 
dispõe sobre o tema: Na responsabilidade contratual a culpa, em regra, é presumida, 
invertendo-se o ônus da prova. Destarte, ao pleitear indenização o credor não precisará prová-
la, basta constituir o devedor em mora (DINIZ, 2007, p.34). 
 Já em relação à responsabilidade extracontratual, que é conhecida na doutrina como 
aquiliana, esta possui derivação de um ato ilícito extracontratual, e sua principal função é 
garantir os direitos previstos no nosso ordenamento jurídico brasileiro, ou seja, aqui não há 
que se falar em um vínculo contratual anterior. 
 Assim, Maria Helena Diniz (2009, p.525) dispõe que: 
35 
 
 
A responsabilidade extracontratual, delitual, ou aquiliana, decorre de violação legal, 
ou seja, de lesão a um direito subjetivo ou da prática de um ato ilícito, sem que haja 
nenhum vínculo contratual entre lesado e lesante. Resulta, portanto, da 
inobservância da norma jurídica ou de infração ao dever jurídico geral de abstenção 
atinente aos direitos reais ou de personalidade, ou melhor, de violação à obrigação 
negativa de não prejudicar ninguém. 
Por derradeiro, como já exposto, na responsabilidade extracontratual também haverá a 
necessidade de comprovação dos danos mencionados pela vítima. Sendo que, essa 
comprovação se faz indispensável para que o juiz forme sua convicção sobre cada caso 
concreto. 
Por fim, para a responsabilidade contratual e extracontratual, o que realmente importa 
é o dever de reparação dos danos que recairá sobre o lesante para com o lesionado, sem, no 
entanto que haja um vínculo jurídico entre as partes. 
 
 
2.2. Indenização 
 
 O conceito de indenização se dá por um meio de compensação para com o sujeito 
lesado. Assim, na responsabilização civil tal compensação se dá de forma pecuniária, ou até 
por meio de uma reparação natural. 
No mesmo sentido menciona Coelho (2012, p.413): 
Embora a obrigação de indenizar possa ser cumprida mediante a reposição pelo 
devedor da coisa à condição anterior ao evento danoso (reparação natural ou in 
natura), o mais comum é que tenha a natureza pecuniária e cumpra-se pela entrega 
ao credor do dinheiro compensador do prejuízo patrimonial e extrapatrimonial 
sofrido. 
O texto na lei civil, mais especificamente em seu artigo 186 dispõe: “Aquele que por 
ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a 
outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”. 
Sendo assim, o doutrinador Humberto Theodoro Junior (2001, p.6), especifica: 
Para, no entanto, chegar-se à configuração do dever de indenizar, não será suficiente 
ao ofendido demonstrar sua dor. Somente ocorrerá a responsabilidade civil se 
reunirem todos os elementos essenciais: dano, ilicitude e nexo causal. 
Em relação à indenização, Maria Helena Diniz expõe que: 
A reparação pecuniária teria, no dano moral, uma função satisfatória ou 
compensatória e, concomitantemente, penal, visto ser encargo suportado por quem 
causou o dano moral (RTJ, 67:182). Não procede, portanto, essa objeção, pois nem 
mesmo na seara da responsabilidade por dano patrimonial se teria uma real 
36 
 
equipolência entre o valor do objeto danificadoe a quantia da sua indenização. 
(DINIZ, 2007, p.94). 
No entanto, a doutrina e a jurisprudência enfatizam a relevância do dever de 
indenização sobre os danos, porém é perceptível que em alguns casos o judiciário encontra 
dificuldades para que se faça cumprir esse instituto civil, um grande exemplo é em relação ao 
cálculo da indenização, principalmente em face nos danos morais, pois, não há nenhuma 
previsão concreta e nem ao menos uma regra a ser seguida pelos juízes. Sendo que o principal 
obstáculo recai sobre o método de fixação da indenização, como deve ser ponderado e 
estabelecido o direito aos danos lesados, até que ponto a vítima se encontra fragilizada, 
atingida, qual o bem jurídico foi violado, tendo como pressuposto que todos esses exemplos 
são analisados em cada caso concreto. 
 Tal entendimento é reforçado pelo doutrinador Silvio de Salvo Venosa (2009, p.43): 
 
Temos que levar em conta, por outro lado, além da situação particular de nosso país 
de pobreza endêmica e má e injusta distribuição de renda, que a indenização não 
pode ser de tal monta que acarrete a penúria ou pobreza do causador do dano, pois 
certamente, outro problema social seria criado. Os julgados devem buscar o justo 
equilíbrio no caso concreto. 
 [...] 
Deverá ser levada em conta também, para estabelecer o montante da indenização, a 
condição social e econômica dos envolvidos. O sentido indenizatório será mais 
amplamente alcançado á medida que economicamente fizer algum sentido tanto para 
o causador do dano como para a vítima. O montante da indenização não pode ser 
caracterizado como esmola ou donativo, nem como premiação. 
 
Portanto, para que a vítima seja indenizada de forma justa, se faz necessário que o juiz 
analise o caso de forma objetiva e subjetiva, ou seja, as partes devem apresentar fatos e provas 
que devem ser demonstrado ao juiz para que este fixe uma indenização. 
Na analise do caso de forma objetiva o juiz deve se ater para a forma como os danos 
atingiram a vítima, ou seja, a sua intensidade e também como este dano atingiu o lesionado. Já 
a analise de forma subjetiva, deverá ser estabelecido conforme cada caso concreto, buscando 
apurar o prejuízo da parte ofendida, as condições financeiras e emocionais do autor. 
Como exposto que não há nenhuma regra estabelecida pelo nosso ordenamento 
jurídico brasileiro para fixação do valor indenizatório, importante mencionar que a 
Constituição Federal também não traz nenhum critério para a fixação da indenização por 
danos morais, apenas ressaltando que quando se caracterizar a o direito de indenização, que o 
juiz deve analisar o caso concreto e com base nos critérios de necessidade e adequação, fixar 
o valor de reparação do dano causado de forma justa. 
37 
 
Sobre o caso discutido, o doutrinador Sergio Cavalieri filho (2015, p.33) dispõe que: 
 
Não há realmente outro modo de se fixar o dano moral a não ser pelo arbitramento 
judicial. Cabe ao juiz, de acordo com o seu prudente arbítrio, atentando para a 
repercussão do dano e a possibilidade econômica do ofensor, estimar uma quantia a 
título de reparação pelo dano moral. 
Deste modo, o juiz faz jus ao livre arbítrio, decidindo conforme sua convicção, que é 
formada pelas provas presentes no processo. No entanto, este não é totalmente livre para 
decidir, sempre deve agir nos moldes da lei para que não ocorram ilegalidades ou desrespeito 
aos ditames jurídicos, devendo fixar a indenização de acordo com a extensão do resultado 
danoso. 
Podemos observar que na jurisprudência há dois tipos entendimentos a respeito da 
indenização por abandono afetivo, uma é não possibilidade e um julgamento que trouxe uma 
mudança nesse posicionamento ao contrario, sendo possível a configuração como vamos 
observar no capitulo abaixo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
38 
 
III – REPONSABILIDADE CIVIL POR ABANDONO AFETIVO 
 
3.1. Responsabilidade dos pais para com os filhos 
Nas unidades familiares de acordo com o princípio da responsabilidade os pais são 
responsáveis pela criação, educação, sustento material e afetivo, bem como do 
desenvolvimento e formação social deles. Ao longo dos anos, os filhos começam a criar 
relações de afeto, constituindo formas de como relacionar-se com outras pessoas. 
Os pais são as figuras responsáveis para que a sua relação com seus filhos seja a mais 
harmônica possível, pois somente assim será formada a identidade destes, pois é através desta 
relação que os filhos têm o primeiro contato com os seres humanos. É automático de a criança 
seguirem os exemplos de seus pais, sendo de suma importância terem presentes a figura 
materna e a paterna em sua formação. 
Reforçando a ideia da importância dos pais no desenvolvimento dos filhos, Maria 
Berenice Dias cita Maria Isabel Pereira da Costa: 
A grande evolução das ciências que estudam o psiquismo humano veio a encarar a 
decisiva influência do contexto familiar para o desenvolvimento sadio de pessoas 
em formação. Não mais se podendo ignorar essa realidade, passou-se a falar em 
paternidade responsável. Assim, a convivência dos filhos com os pais não é direito 
do pai, mas direito do filho. Com isso, quem não detém a guarda, temo dever de 
conviver com ele. Não é direito de visita-lo, é obrigado a visita-lo. O distanciamento 
entre pais e filhos produz sequelas de ordem emocional e reflexos no seu sadio 
desenvolvimento. (2007, p.407). 
De acordo com a Constituição Federal de 1988 e o ordenamento jurídico brasileiro, 
estão resguardados e amparados os direitos e garantias de todos os indivíduos. Sendo tais 
garantias transformadas em princípios, como por exemplo, o princípio da dignidade da pessoa 
humana. 
Quando aos direitos e garantias das crianças e adolescentes mesmo tendo uma lei 
específica, a constituição não foi omissa, resguardando a estes sujeitos os mesmo direitos 
garantidos aos adultos. Nesse sentido, vem o artigo 227 da Constituição Federal nos afirmar: 
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao 
adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à 
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao 
respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a 
salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade 
e opressão. 
39 
 
Em outras palavras, o que esse artigo nos diz que é obrigação tanto da família, como 
do Estado, garantir de forma ampla a criança e adolescente os direitos básicos fundamentais, 
sendo eles a saúde, educação, proteção, alimentação, lazer, dignidade, convivência familiar e 
o respeito, devendo proteger-lhes de todas as formas de violência, negligência, exploração. 
Importante destacar nesse sentido, o princípio da paternidade responsável previsto no 
artigo 226, §7 da Constituição Federal, onde os progenitores devem ser responsáveis por 
preencher toda e qualquer necessidade do menor, fisicamente, economicamente, 
afetivamente e mentalmente, eles devem suprir qualquer carência que seja demonstrada pelo 
mesmo, sendo inteiramente responsáveis pela formação do indivíduo. Também tem esse 
princípio como objetivo a garantia de convivência familiar aos filhos que possuem filiação 
diversa da unidade familiar, ou seja, sendo filho de apenas um dos genitores. 
A ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) estabelece em seu artigo 19 in verbis: 
É direito da criança e do adolescente ser criado e educado no seio de sua família, e, 
excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, 
em ambiente que garanta seu desenvolvimento integral. 
Portanto, é notório o direito do menor em ser criando do seio da unidade familiar, 
sendo imprescindível para o desenvolvimento saudável deste. Ocorrendo descumprimento 
deste direito ocorrerão danos que no decorrer da

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