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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS CCSA – Centro de Ciências Sociais Aplicadas DPCS – Departamento de Política e Ciências Sociais Curso de Graduação em Ciências Sociais Tamires Clei Nunes1 Disciplina optativa: Analise de Políticas Sociais I – Profª Janikelle Bessa BEHRING, E. R.; BOSCHETTI, I. B. Política Social: Fundamentos e História. 6ª ed. São Paulo: Cortez, 2009. Biblioteca Básica de Serviço Social: v.2. Resenha do capítulo 3: KEYNESIANISMO-FORDISMO E A GENERALIZAÇÃO DA POLÍTICA SOCIAL Neste capítulo as autoras trazem os fundamentos da expansão e consolidação da política social no período pós-crise de 1929-1932, sobretudo, após a Segunda Guerra Mundial, quando se adentrou a fase madura do capitalismo. Elas propõem uma visita ao keynesianismo e ao fordismo como fundamentos para esses processos, de modo a entender as configurações da questão social, da luta de classes e as possibilidades e limites das políticas sociais nesse período. Este capitulo está estruturado em três subcapítulos: Fundamentos sócio histórico dos “anos de ouro”; As políticas sociais e a experiência do Welfare State; e O Brasil após a grande depressão e as características da politica social. No primeiro sobre “os anos de ouro”, segundo a analise Keynesiana, a atuação da mão invisível, conceito do economista Adam Smith, do mercado não necessariamente produziria o equilíbrio entre o interesse monetário dos agentes econômicos e o bem-estar global, como o demonstram a grande depressão e a guerra. o fato é que são grande relevância as decisões de investimento dos empresários, pelo volume de recursos que mobilizam, adquirindo fortes impactos econômicos e sociais. Entretanto, essas decisões foram tomadas visando o retorno imediato do capital investido, e não de uma visão global e de conjunto da economia da sociedade, o que gera instabilidade nas expectativas para o futuro e o risco de recessão e do emprego. Nessa perspectiva, o bem-estar ainda deve ser buscado individualmente no mercado, mas se aceitam intervenções do Estado em áreas econômicas, para garantir a produção e na área 1 Bacharel em ciências sociais social, sobretudo para as pessoas consideradas incapazes para o trabalho: idosos, deficientes e crianças. Nessa intervenção global, cabe, portanto, o incremento das políticas sociais. Além das condições econômicas, eram necessárias condições politicas culturais como sustentação da onda longa expansiva na fase do capitalismo tardio ou maduro. Daí podemos observar uma polarização de interesses de classes, para a burguesia, a manutenção das altas taxas de lucro, fundadas numa superexploração dos trabalhadores durante um intervalo estável de tempo, pressupunha concessões e acordos. Já para o movimento operário organizado, essa possibilidade histórica implicou abrir mão de um projeto mais radical, em prol de conquistas e reformas imediatas, incluindo-se aí os direitos sociais, viabilizados pelas politicas sociais. No que diz respeito aos trabalhadores, é preciso prestar atenção em alguns processos que, combinados, geraram essa atitude mais imediatista e corporativista, contentando-se com os acordos coletivos em torno dos ganhos de produtividade e da expansão das políticas sociais, por vias dos salários indiretos assegurados pelo futuro público. Houve naquele momento, uma melhoria efetiva das condições de vida dos trabalhadores fora da fábrica, com acesso ao consumo e ao lazer que não existiam no período anterior, bem como uma sensação de estabilidade no emprego, em contexto de pleno emprego Keynesiano, diluindo a radicalidade das lutas e levando a crer na possibilidade de combinar acumulação excertos níveis de desigualdade. Dessa forma, houve um incremento tecnológico também na esfera da reprodução, visando acelerar o conjunto do processo capitalista de produção através do estímulo nas esferas da circulação e do consumo. Porém, esse setor, a partir de um certo período, também expulsa força de trabalho. Diante disso o Estado, na sua condição totalizadora, mesmo tendo à sua disposição parcela considerável do valor socialmente criado, na forma de impostos e contribuições que constitui o fundo público, e um controle maior dos elementos do processo produtivo e reprodutivo, perdeu gradualmente a efetividade prática de sua ação. Isso porque eles depararam com a contraditória demanda pela extensão de sua regulação, por um lado, e com a pressão da super capitalização fortalecida pela queda da taxa de lucro por outro. Para o capital, a regulação estatal só faz sentido quando gera um aumento da taxa de lucros, intervindo como um pressuposto do capital em geral. Dentro disso é que se torna aceitável certa redistribuição horizontal e limitada na forma de salários indiretos, assegurados pelas políticas sociais. A demanda contraditória sobre o Estado, por sua vez, é a expressão da contradição interna do capitalismo entre desenvolvimento das forças produtivas e as relações de produção. Não é inexplicável, portanto, o ataque do discurso neoliberal, na década de 1970, às políticas sociais, como argumento do excesso de paternalismo do Walfare State, dentre outros. Quando e regulação estatal cede aos interesses do trabalho, interferindo em alguma medida nas demais ações reguladoras em benefício do capital, multiplicam-se as reclamações do empresariado. Com a crise fiscal, decorrente da ampliação das demandas sobre orçamento público e da diminuição dos recursos, expressão da antinomia mais profunda do capitalismo no final do século XX, “guerra” em torno da destinação dos recursos políticos é cada vez mais acirrada. Para a política social, esse conjunto de tendências e contra tendências que constituem o capitalismo na sua fase madura traz consequências importantes. À luz dessa leitura dos desdobramentos expansivos do capitalismo após a crise de 1929-1932 e a Segunda Guerra, e seu processamento contraditório que verá à nova estagnação a partir do fim dos anos 1960. As políticas sociais e a experiência do Welfare State. A crise marcou uma mudança substantiva no desenvolvimento das políticas sociais nos países capitalistas da Europa ocidental. No segundo subcapitulo sobre as políticas sociais e a experiência do Welfare State, BEHRING e BOSCHETTI (2009) enunciam, que a primeira grande crise do capital com a depressão de (1929-1932), seguida dos efeitos da segunda Guerra Mundial, consolidou a convicção sobre a necessidade de regulação estatal para seu enfrentamento que só foi possível pela conjugação de alguns fatores como a). estabelecimento de políticas Keynesianas com vistas a gerar pleno emprego e crescimento econômico num mercado capitalista liberal; b). instituição de serviços e políticas sociais com vistas a criar demandas e ampliar o mercado de consumo; c). um amplo acordo entre esquerda e direita, entre capital e trabalho (BEHRING e BOSCHETTI, 2009, p. 92). Ao analisar as origens e desenvolvimento do Welfare State, foram apontados três elemento que marcaram esse período como a “idade de ouro” das políticas sociais, podemos elencar como o primeiro sendo, o crescimento do orçamento social em todos os países da Europa; o segundo, crescimento incremental de mudança demográfica, expresso pelo aumento da pessoa idosa nos países capitalistas centrais, que ampliou os gastos com aposentadorias e saúde, e pelo aumento da taxa da população economicamente inativa que mudou a relação contribuinte e usuários das pensões; e o terceiro, crescimento sequencial de programas sociais no período. Ao datar histórica e geograficamente o surgimento do fenômeno que passa a ser designado como Welfare State, as autoras buscam distingui-lo da compreensão genérica de política social. Segundo as autoras, não são todase quaisquer formas de política social que pode ser designada de Welfare State. Os princípios que estruturam o Welfare State, são aqueles apontados no Plano Beveridge 1) responsabilidade estatal na manutenção das condições de vida dos cidadãos, por meio de um conjunto de ações em três direções: regulação da economia de mercado a fim de manter elevado nível de emprego; prestação pública de serviços sociais universais como educação, segurança social, assistência médica e habitação; é um conjunto de serviços sociais pessoais; 2) universalidade dos serviços sociais; 3) implantação de uma “rede de segurança” de serviços de assistência social (BEHRING e BOSCHETTI, 2009, p. 94). O trabalho de formulação de proposta relativas aos três pilares que constituem o Welfare State: educação, seguros e saúde. Contudo foi confiado a três comissões que apresentaram, cada um, um plano para estas áreas. A Lei de Educação; A Lei de Seguros; e, A Lei de Serviço Nacional de Saúde. Das quais constituíam as três vigas-mestras do Estado de bem-estar social britânico. Desse modo, é importante reconhecer que o termo Welfare State se origina na Inglaterra e é comumente utilizado na literatura anglo-saxônica. Mas a outras designações, que nem sempre se referem ao mesmo fenômeno e não podem ser tratadas como sinônimo de Welfare State. O que se pode depreender dessas análises é que as políticas sociais vivenciaram forte expansão após a Segunda Guerra Mundial, tendo como fator decisivo a intervenção do estado na regulação das relações sociais e econômicas. Especialmente no que se refere à política social, a questão é levada para o centro do debate político, econômico e sociológico, fornecendo argumentos importantes em sua defesa, mas pouco consistentes do ponto de vista explicativo. Contudo o conceito de direito social de cidadania pode ou não um elemento de crítica e de proposição das políticas sociais na perspectiva de sua ampliação. No terceiro e último subcapitulo, sobre o Brasil após a grande depressão e as características da política social, aborda-se sobre a economia e a política foram fortemente abalada pelos acontecimentos mundiais das três primeiras décadas do século XX, e mais ainda depois da crise (1929-1932), quando se abre uma época de expansão acelerada das relações capitalistas, com interesse repercussões para as classes sociais, o Estado e as respostas à questão social. Desde a primeira década do século, houve expressões de organização sindical no país, com as primeiras greves. Com a paralisia do mercado mundial em função da crise, as oligarquias agroexportadoras cafeeiras ficaram extremamente vulneráveis econômico e politicamente. E aquelas oligarquias do gado, do açúcar e outras, que estavam fora do núcleo duro do poder político, aproveitaram as circunstancias para alterar a correlação de forças e diversifica a economia brasileira. Assim chegam ao poder político a outra oligárquica outras oligarquias agrárias e também um setor industrialista, quebrando a hegemonia do café e com uma agenda modernizadora. O movimento de 1930 não foi a Revolução Burguesa no Brasil, com o incremento da indústria, como interpretaram muitos intelectuais e historiadores, mas foi sem dúvida um momento de reflexão no longo processo de constituição de relações sociais tipicamente capitalistas no Brasil. Resgatando a cronologia dos avanços nas políticas sociais brasileiras podemos ordenar: Em 1930, foi criado o Ministério do Trabalho; também foi criado o Ministério da Educação e Saúde Pública, bem como o Conselho Nacional de Educação e o Conselho consultivo de Ensino Comercial. Até os anos 1930, não existia uma política nacional de saúde, sendo que a intervenção efetiva do Estado se inicia naquele momento, a partir de dois eixos: a saúde pública e a medicina previdenciária, ligada aos IAPs, para as categorias que tinham acesso a eles. Em 1932, a carteira de Trabalho, a qual passa a ser o documento da cidadania no Brasil. Em 1937, foi criado o Departamento Nacional de Saúde, onde era conduzida a saúde pública por meio de campanhas sanitárias. Há também o desenvolvimento da saúde privada e filantrópica, no que se refere ao atendimento médico-hospitalar. Apesar dos objetivos declarados de proteção a esse segmento, pela ausência de financiamento e pela cultura da época, prevalecera na coerção e os maus- tratos os jovens pobres delinquentes, o que são irá ter perspectivas de alteração com a promulgação do Estatuto da criança e do Adolescente. Esse período de introdução da política social brasileira teve seudesfecho com a Constituição de 1937, a qual ratificava a necessidade de reconhecimento das categorias de trabalhadores pelo Estado. Em 1943, é finalmente a Consolidação das Leis Trabalhistas - CLT, promulgada, que sela o modelo corporativista e fragmentado do reconhecimento dos direitos no Brasil, que caracterizou como “cidadania regulada”. Cabe reter, portanto, que o Brasil acompanha as tendências internacionais de incremento de intervenção do Estado diante das expressões da questão social, mas com características muito populares. A Constituição de 1946 foi uma das mais democráticas do país, chegando até a retirar o Partido Comunista da ilegalidade. O período de 1946-1964 foi marcado por uma forte disputa de projetos e pela intensificação da luta de classe. O golpe de 1964 instaurou uma ditadura que durou 20 anos e impulsionou um novo momento de modernização conservadora no Brasil, com importantes consequências para a política social, as quais serão tratadas no próximo capitulo.
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