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1 ESCOLA SUPERIOR DE CRICIÚMA CURSO DE DIREITO O TRATAMENTO JURÍDICO DAS FAKE NEWS: A VIOLAÇÃO DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE Raoni Pagani Araranguá, 11 de junho de 2020. 2 1 IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO 1.1 TÍTULO: O TRATAMENTO JURÍDICO DAS FAKE NEWS 1.2 AUTOR: Raoni Pagani Email: raonepagani@outlook.com Telefone: 48-9.9613-5019 1.3 CURSO: Direito 1.4 DISCIPLINA: Trabalho de Conclusão de Curso I 1.5 SUGESTÕES PARA ORIENTAÇÃO: Keite Wieira Juliana Paganini 2 OBJETO 2.1 Tema O tratamento jurídico das fake news. 2.2 Delimitação do Tema A violação dos direitos da personalidade. 2.3 Problema A propagação de notícias falsas pode violar os direitos da personalidade e gerar responsabilidade civil para quem as divulga? 2.4 Hipótese Os países democráticos possuem, no geral, ferramentas de proteção à imagem, intimidade e honra do cidadão. Evidentemente, as fake news ou notícias com matérias 3 imprecisas que posteriormente se revelem falsas, são frequentes nos meios tradicionais de imprensa e podem atingir os direitos de personalidade de um indivíduo. Dessa forma, se algum indivíduo produz uma notícia falsa, disseminando, por exemplo, que o senador de uma cidade cometeu o crime de corrupção e essa notícia tiver repercussão direta na honra e na imagem do político, este pode, portanto, buscar a identificação do autor e buscar a responsabilização do mesmo. 2.5 Variáveis Notícias falsas. Direitos da personalidade. Danos morais. Provedores de Conteúdo. 3. JUSTIFICATIVA A disseminação de notícias falsas violadoras dos direitos de personalidade estão cada vez mais frequentes no cenário brasileiro, sobretudo no ambiente virtual. O extenso alcance que as notícias falsas atingem na web é muito preocupante, uma vez que o dano ao indivíduo pode ser tornar severo e de difícil reparação. A liberdade de expressão se compreende em um direito respaldado pelo texto constitucional de 1988 e em outras leis infraconstitucionais, sendo algo que deve ser assegurado a todos os indivíduos. No entanto, a liberdade de expressão, muitas vezes, entra em rota de colisão com outros direitos fundamentais como, por exemplo, a dignidade da pessoa humana, que é o alicerce para a compreensão dos direitos personalíssimos, tais como: direito à imagem, à honra e à intimidade. Diante dessa conjuntura de colisão de direitos e de severas violações por fake news propagadas no ambiente virtual, demonstra-se necessário verificar a responsabilidade civil dos provedores de redes sociais diante de notícias falsas violadoras de direitos personalíssimos que forem disseminadas na sua plataforma através de terceiros. 4. OBJETIVOS 4.1 Objetivo Geral O objetivo geral do estudo consiste em analisar como a propagação de fake news tem sido tratada pela legislação brasileira e como sua disseminação pode atingir os direitos de personalidades do indivíduo. 4 4.2 Objetivos Específicos a) Apresentar o processo histórico do conceito de fake news; b) Investigar os direitos de personalidade; c) Analisar como as notícias falsas podem violar os direitos de personalidade; d) Verificar a controvérsia entre fake news e o direito à liberdade de expressão; 5. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA INICIAL 5.1 FAKE NEWS A definição de fake news não é necessariamente recente, tendo em vista que é – de modo bastante simplório – uma forma de desinformação com a finalidade de desorganizar as estruturas de poder. Todavia, incluído no âmbito da Era da Informação aqui exposto, o referido fenômeno possui a capacidade de intensificar reestruturações no direito à informação e, também, nas próprias dinâmicas institucionais que integram o Estado. Evidentemente, a propagação de fake news é longínqua, mesmo que a periodicidade e proporção que estas podem alcançar atualmente é reflexo da elevação dos meios e veículos de comunicação, sobretudo a internet, mas sua origem provavelmente advém desde o início da comunicação entre os indivíduos. Como elucida Braga (2018, p. 203), em seu estudo, o surgimento da internet propiciou, e muito, a reincidência de casos de fake news: Se uma mentira repetida mil vezes se torna verdade, com o advento da internet uma mentira pode ser repetida, cantada, recitada, filmada e fotografada um milhão de vezes, atraindo a atenção de um grupo incontável de usuários que buscam informações na internet. Na sociedade da informação, a qual se observa, a existência e a facilidade da divulgação e propagação de informações, dados ou notícias pela sociedade em geral influencia exponencialmente na elevação da disseminação de fake news e boatos. Isso acontece, pois, as informações disseminadas, não passam por nenhuma análise, verificação ou filtro, não sendo estas submetidas a análises em torno de sua veracidade. A propagação, em sua maior parte, é feita por indivíduos sem vínculos com a imprensa ou meios de comunicação o que eleva, por conseguinte, a frequência do 5 fenômeno denominado fake news, em alusão à expressão cunhada na língua inglesa. As notícias falsas em sua maioria possuem tons apelativos e assustadores, sobre algum assunto em relevância, o que as tornam chamativas para a disseminação em massa no ambiente virtual, podendo ir muito além de um mero boato, surtindo reflexos no âmbito civil e penal. O direito de informar e ser informado, consagrados como base da comunicação social, quando utilizados de modo equivocado, gera a constituição de um ambiente não democrático, uma vez que o pensamento crítico é influenciado e manipulado parar servir a interesses relativos a terceiros. Nesse sentido, os ensinamentos de Sleiman (2018, p. 45) apontam quatro possíveis razões que ensejariam a disseminação de fake news: (i) receitas publicitárias, ou seja, busca-se gerar acessos reiterados a determinadas páginas; (ii) concorrência desleal, prática utilizada entre empresas que querem de alguma forma derrubar seu oponente; (iii) consumidor descontente, em que ao efetivar reclamações de empresas cria notícias falsas a fim de denegrir a imagem do estabelecimento; e, por último, porém, não menos importante, (iv) concorrência política, nesse caso, as notícias falsas são utilizadas como ferramenta ilícita de campanha. Todas as razões expostas pela autora têm em comum uma única finalidade, qual seja impactar, através de notícias falsas, uma marca ou um indivíduo, atingindo diretamente sua honra e reputação, negócios ou carreira. O maior obstáculo encontrado no tocante a esse fenômeno é a identificação do indivíduo que realiza a primeira publicação, dando origem à fake news. Desse modo, se ocorre adversidades na identificação do autor, evidentemente se demonstra inviável extirpar tais notícias, sendo provável apenas controlá- las após efetivada sua publicação. Ademais, é preciso analisar que a divulgação de notícias falsas está sujeita a custos e benefícios a todos os indivíduos incluídos no processo de propagação, independentemente da finalidade envolvida, “o que nem de longe é obstáculo para inibir o autor a não divulga-la, inclusive porque, dependendo da notícia, ele terá lucros que compensarão a realização do erro.” (PINHEIRO, 2016, p. 253) Dessa forma, os incentivos privados para a elaboração de notícias falsas dependem dos possíveis custos e benefícios englobados na atividade. Por um lado, o disseminador de notícias poderá obter vantagens econômicas e não econômicas (como o contentamento de sua ideologia política) com a propagação de fake news. Por outro lado, a elaboração e gestão de informações socialmente indesejadas acarretarão custos para o disseminador, assim como o risco de imposição de sanções, no âmbito civil e criminal. Segundo Braga 6 (2018, p. 198) “em inúmeros cenários, os benefícios tendem atranspassar os custos da disseminação de fake news.” Desse modo, vale destacar que a propagação de notícias falsas se encontra, na maioria das vezes, diretamente atrelada a uma consequência econômica, isto é, o referido fenômeno, apesar de demandar gastos para ser concretizado, pode acarretar lucros ao disseminador ou fazer com que o indivíduo ou marca por ele atingido deixe de obter lucros. Assim, partindo-se para uma análise jurisprudencial do tema, um dos casos mais famosos sobre fake News no Brasil trata-se da difamação do veterinário Luiz Lauriano, no canil municipal de Piracicaba, em São Paulo. As rés do caso, Mônica Rodrigues e Monique Denadai foram condenadas ao pagamento de indenizações por danos morais no montante de R$ 10.000,00 reais cada ao profissional, uma vez que Monique publicou em uma rede social fotos de uma cadela castrada pelo veterinário com suas vísceras à mostra após complicações pós-cirúrgicas. A disseminação da história foi fortalecida quando Mônica, uma conhecida ativista protetora de animais em Piracicaba, que nem ao menos conhecia Monique, divulgou a publicação, assim, o Desembargador José Roberto Neves Amorim eludia no acórdão do caso: A partir do momento em que uma pessoa usa sua página pessoal em rede social para divulgar mensagem inverídica ou nela constam ofensas a terceiros, como no caso em questão, por certo são devidos danos morais. Há responsabilidade dos que ‘compartilham’ mensagens e dos que nelas opinam de forma ofensiva, pelos desdobramentos das publicações, devendo ser encarado o uso deste meio de comunicação com mais seriedade e não com o caráter informal. (BRASIL, 2013) Os desembargadores do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo mantiveram a decisão que havia condenado as rés pelo acontecido, a primeira por ter elaborado a publicação e a segunda por ter divulgado. O magistrado do primeiro grau ressaltou também que, embora a liberdade de expressão seja um direito constitucional, não é absoluto e deve ser exercido com cautela e responsabilidade, em respeito aos demais valores protegidos constitucionalmente, como, por exemplo, a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem dos indivíduos. Desse modo, é possível destacar que o entendimento jurisprudencial, apesar de não haver extensas quantidade de julgados, tem sido conivente com o dano indenizável no tocante à disseminação de fake news no ambiente virtual. 5.2 DIREITOS DA PERSONALIDADE 7 Inicialmente, verifica-se que os denominados direitos da personalidade são amparados pelo texto constitucional de 1988 que determina que todos os indivíduos são iguais perante a lei, sem qualquer diferenciação, a fim de assegurar à sociedade pátria e aos estrangeiros residentes, direitos como: intimidade, honra e imagem. Sendo, também, assegurado o direito de pleitear danos materiais ou morais por qualquer um destes. (BRASIL, 1988) Nesse contexto, Sehreiber (2013, p. 05) assevera acerca dos direitos da personalidade: A expressão foi concebida por jusnaturalistas franceses e alemães para designar certos direitos inerentes ao homem, tidos como preexistentes ao seu reconhecimento por parte do Estado. Eram, já então, direitos considerados essenciais à condição humana, direito sem os quais todos os outros direitos subjetivos perderiam qualquer interesse para o indivíduo, ao ponto de se chegar a dizer que, se não existissem, a pessoa não seria mais pessoa. No que tange à legislação infraconstitucional, cabe ao Código Civil a competência para regular a matéria pois, apenas com a promulgação do referido Código, que o legislador ordinário aferiu devido amparo jurídico ao tema. Uma vez que aferiu onze artigos voltados para os direitos de personalidade, são destacados os direitos ao próprio corpo da norma, ao nome, à honra e à privacidade. 5.2.1 Direito à honra A honra pode ser compreendida de duas maneiras: objetiva e subjetiva. A primeira delas se refere à reputação do indivíduo, o que dispõe sobre o nome e a fama no âmbito familiar, profissional e/ou comercial. A honra subjetiva compreende o sentimento pessoal de estima, isto é, a consciência da própria dignidade humana. A palavra honra está ligada à boa fama que o indivíduo detém mediante a sociedade, isto é, compreende-se em seu prestígio social e está relacionada com a reputação do indivíduo mediante o meio social em que se encontra inserido. O direito à honra busca resguardar todos os fatos inverídicos que possam atentar contra a personalidade do indivíduo, seja na forma como é vista socialmente, bem como contra fatos verídicos, mas que não podem ser comprovados. (FARIAS, 2000) A honra se trata de um dos direitos de personalidades mais importantes à sociedade pois, na chamada "Era da Informação", a todo momento são dispostos juízos de valores sobre a personalidade, ações e/ou omissões dos indivíduos. Por este viés, o direito à honra 8 possui papel fundamental na contemporaneidade. Nesse contexto, Farias (2000, p. 109) explana duas características inerentes à honra: Tem-se como primeira característica que a honra é inerente a todos os seres humanos, independente de ração, religião, cor, sexo, isto é, ela tem como fundamento a própria dignidade da pessoa humana e a segunda dispõe que ela existe sobre dois aspectos distintos: o objetivo e o subjetivo. Em análise ao entendimento do supracitado autor, verifica-se que a honra objetiva compreende uma definição externa, ou seja, aquilo que determinada coletividade pensa sobre um indivíduo. Por seu turno, a honra objetiva consiste no juízo de valor aferido pela sociedade a quem está inserido a ela, de modo geral, consiste na reputação do indivíduo mediante àqueles com quem convive. (FARIAS, 2000) No tocante ao caráter subjetivo, o conceito mostra-se interno, isto é, trata-se do que o indivíduo pensa sobre si próprio, o sentimento permeado em sua cabeça sobre sua dignidade moral e/ou sua autoestima. Assim, cumpre evidenciar que os dois aspectos podem ser passíveis de violação, cabendo assim, uma possível reparação pelo dano sofrido. 5.2.2 Direito à imagem No que versa acerca do direito de imagem, compreende-se que o mesmo encontra disposição legal no artigo 5°, X e XXVIII da Carta Magna de 1988 dentro do título que abrange os direitos e as garantias fundamentais ao cidadão. Insta frisar que o mesmo também é abarcado pela legislação infraconstitucional, sendo disposto no artigo 11 e seguintes do Código Civil pátrio. (BRASIL, 1988) Dessa forma, dentre os direitos de personalidades constantes na integridade moral, encontra-se também o direito à imagem. Em consonância à doutrina de Gagliano e Pamplona Filho (2014, p. 167) "a imagem, em definição simplificada, constitui a expressão exterior sensível da individualidade humana, digna de proteção jurídica." O referido autor expõe que não se trata apenas da integridade física do indivíduo, mas também da proteção elencada aos componentes identificadores da pessoa como, por exemplo, a fisionomia, sensações, personalidade e características do comportamento. Nesse diapasão, Farias (2000, p. 120) elucida que: 9 A proteção constitucional não se limite ao semblante ou a rosto, estende-se a qualquer parte do corpo humano, como a reprodução de um pé, de um braço, de uma mão, de um busto. Em suma, o direito à imagem abrange não só a face do indivíduo, alcança também qualquer parte distinta de seu corpo. Dessa forma, o autor evidenciou que a proteção no tocante à imagem não engloba apenas determinas partes do corpo, mas sim, o mesmo como um todo. Importante mencionar que o CCB tutelou o direito à imagem em seu artigo 20°. Vejamos: Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou autilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se destinarem a fins comerciais. Apesar dessa disposição na legislação pátria, a doutrina majoritária destaca uma falha no dispositivo em sua parte final, no momento em que acaba por restringir à retratação pelo dano à imagem apenas nos casos onde forem afrontadas "a honra, a boa fama, a respeitabilidade ou se destinarem a fins comerciais". Isto ocorre, pois, o direito à imagem é caracterizado como autônomo, possuindo sua tutela independente da configuração de lesão à honra, intimidade ou de a imagem ter sido usada para fins comerciais, bastando apenas, ocorrer sem o consentimento do indivíduo para que haja devida indenização. 5.2.3 Direito à vida privada O direito à vida privada encontra-se intrínseco ao direito à intimidade, sendo entendido por muitos como sinônimo deste, todavia, os mesmos não devem se confundir. Por este viés, o referido direito encontra respaldo no texto constitucional, que dispõe expressamente e de modo separado ambos os direitos. Vejamos: Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação. Tecendo distinção à intimidade e a vida privada do indivíduo, Silva (2014, p. 210) alega que "a intimidade integra a esfera íntima do indivíduo, os seus pensamentos, desejos e convicções, enquanto a vida privada significa o direito do indivíduo de ter e viver a própria 10 vida." De modo oposto como ocorre no direito à intimidade, que engloba a esfera íntima do indivíduo, informações que não deseja compartilhar com os outros, até mesmo pessoas próximas, a vida privada encontra-se correlacionada com as informações que interessam apenas ao indivíduo e àqueles que fazem parte do seu âmbito privado, pessoas que denotam confiança ao mesmo, razão pela qual devem ser protegidas da curiosidade alheia e divulgação ao público. Por este viés, na atual sociedade da informação, tais direitos ganharam destaque, uma vez que se torna cada vez mais difícil se proteger e resguardar sua vida privada e intimidade da curiosidade alheia, informações estas que diz respeito apenas ao indivíduo e àqueles a quem confia. Importante destacar que o direito à vida privada encontra disposição no artigo 21 do Código Civil, que denota: "ser a vida privada da pessoa inviolável, podendo o magistrado adotar medidas a fim de impedir ou cessar sua violação." (BRASIL, 2002) 5.3 LIBERDADE DE EXPRESSÃO VS. FAKE NEWS Com o advento das leis de acesso à informação observado na última década, novos caminhos têm sido almejados em busca de um Estado Democrático de Direito, muitas vezes, por meio do acesso à informação e da garantia de publicidade dos atos. A título de exemplo, em consonância ao censo comparativo legal evidenciado por Souza (2018, p. 135): “até o ano de 2008, mais de setenta países haviam adotado leis de acesso à informação, demonstrando uma relevante mudança de paradigma sobre sua importância”. Na seara jurídica, Souza (2016, p. 136) ressalta que: A informação é objeto de dois direitos distintos: o direito de informação como direito ativo de liberdade; e como direito social passivo consistente em uma expectativa positiva (direito ao livre acesso às informações). Ambos sentidos – o direito de liberdade de expressão e o direito a receber informações – verificam-se como direitos autônomos e coletivos que pertencem a todos e a cada um simultaneamente. Sendo assim, o referido direito carece de garantias explícitas constitucionais, quais sejam: as garantias primárias, que se traduzem nas obrigações relativas ao Poder Público de prestar informações e garantir uma imprensa livre; e as garantias secundárias, que se relevam na possibilidade de exigi-las em juízo. Em resumo, a informação e sua proteção foram regulamentadas como bases da 11 democracia contemporânea. Contudo, do mesmo modo que definições políticas e jurídicas se modificam e evoluem, a sociedade também muda, exigindo que com ela se modifique a nossa relação de busca e proteção da informação. No tocante ao cenário brasileiro, no qual “crise” pare ser a expressão chave do momento e tensões ideológicas se originam constantemente em distintas mídias, não é preciso muito para desequilibrar as relações entre indivíduo e instituição – analisadas aqui em uma acepção ampla –, “que inclui administração pública, organizações civis, partidos políticos, etc.” Daí decorre a essencialidade de se buscar a segurança cognitiva. (ALMEIDA, 2015, p. 188) Assim, é possível aferir que a busca pela segurança cognitiva se trata de uma preocupação com o bem-estar psicológico da sociedade, a qual atualmente e de modo contínuo sofre bombardeios de diversos tipos de informação, seja por televisores, internet ou até mesmo pela propagação de boatos. Assim, o referido cenário possui a capacidade de elaborar (ou pelo menos dar margem) aos receios e medos do cidadão, viabilizando premissas contextuais de vulnerabilidades que, segundo Salles (2018, p. 39): “podem ser facilmente exploradas por indivíduos ou grupos interessados.” Por essa razão, emerge a preocupação com as denominadas fake news. A criação e a propagação de notícias falsas se tratam de atos atentatórios ao Estado Democrático de Direito, como já exposto, e acarretam a necessidade de limites dos direitos à liberdade de expressão, assim como seus desdobramentos (liberdade de informar e ser informado), “além de atentar também contra a credibilidade da imprensa, que detém como finalidade o alcance e a divulgação de notícias verídicas.” (PINHEIRO, 2016, p. 260) A grande satisfação dos direitos referidos aconteceu após um período nebuloso na história brasileira. Após a ditadura militar, que teve início com o golpe de 1964, em que aconteciam censuras políticas e ideológicas, se fez essencial garantir, no texto constitucional, a liberdade de expressão, um direito garantido pela Constituição Federal de 1988, assim como o direito à informação. Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...] IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato; [...] IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença. Dessa maneira, compreende-se que a liberdade de expressão consiste no direito de 12 se expor, externar suas ideologias, pensamentos e acepções, não passando, necessariamente, a ideia de compromisso com a veracidade que a liberdade de informação detém, por exemplo. Nos dizeres do ministro Gilmar Mendes (2016, p. 264), o direito à liberdade de expressão “é um dos mais relevantes direitos fundamentais, correspondendo a uma das mais antigas reivindicações dos homens de todos os tempos.” Assim, a liberdade de expressão consiste em um relevante instrumento democrático, uma vez que assegura a todos o direito de se expressarem, não apenas com informações, mas com outros tipos de manifestações, sejam estas artísticas, científicas, políticas, etc. Segundo Marmelstein (2019, p. 127) “é na exposição de pensamentos, no diálogo, no confronto de ideias que reside a importância da democracia, em que todos podem participar por todos os meios possíveis.” Evidentemente,contudo, apesar da liberdade de expressão apresentar posição de preferência, esta não é um direito absoluto, isto é, não se pode confundir liberdade com abuso, portanto, o referido direito possui limitações. Por vezes, a manifestação de ideias pode ferir um direito fundamental de outrem como, por exemplo, a imagem e a honra. Por essa razão, a identificação do propagador é essencial, permitindo a sua identificação para possível responsabilização pelos danos causados à vítima. Nesse sentido, cumpre ressaltar que é vedado também o anonimato na provação de informações ou opiniões, como bem elucida Vasconcellos (2019, p. 159): Veda-se, entretanto, o anonimato, manifestações apócrifas – aquilo que não tem nome – no sentido de que toda a divulgação do pensamento deve ser nominada, a fim de se atribuir eventual responsabilidade àquele que a manifestou. É que eventual ultrapassagem dos limites no momento da divulgação do pensar pode ensejar responsabilidades de cunho civil e/ou penal. Para tanto, a liberdade de expressão se consiste em uma relevante ferramenta no alcance da democracia, pois incentiva a apresentação de informações, fatos, assim como ideias, desde que não depreenda em danos prejudiciais à possíveis vítimas, sendo prevista, nessa situação, a censura repressiva ou punitiva. Portanto, tendo em vista que o texto constitucional de 1988 defende a liberdade de expressão, o Poder Judiciário, desse modo, não poderia intervir para afastar a propagação de fake news lesivas aos direitos de personalidade. Nesse cenário, possível desrespeito haveria de solucionar-se em perdas e danos, assim, após a violação do direito constitucional, poderá a vítima pedir reparação pelo dano sofrido. No entanto, isso pouco representa a garantia de proteção judicial efetiva contra lesão ou ameaça de lesão a direito 13 se a intervenção apenas ocorrer após a realização do ato. 6. CONCEITOS OPERACIONAIS a) Fake news: a expressão é utilizada para se referir à propagação de notícias falsas ou imprecisas. b) Direitos da personalidade: são os direitos irrenunciáveis e intransmissíveis que todo cidadão tem de controlar a utilização de seu corpo, nome, imagem, aparências e quaisquer outros elementos constitutivos de sua identidade. c) Liberdade de expressão: é o direito que permite os indivíduos manifestarem sua opinião sem o receio de retaliações, de modo a permitir que as informações sejam acessadas por inúmeros meios, de maneira independente e sem censura. d) Informação: é o emaranhado de dados e conhecimentos organizados, a fim de elaborar referências sobre um estabelecido fato ou fenômeno. 7. METODOLOGIA No que se refere ao método de abordagem, a pesquisa será qualitativa, pois compreende um método de investigação científica que se intensifica na acepção subjetiva do objeto analisado, sendo esmiuçadas suas particularidades. O método de procedimento será bibliográfico-documental, o mesmo almeja capturar e analisar a realidade para que o pesquisador obtenha êxito em seus objetivos delineados. Assim, o referido método é regido pela transparência e objetividade da pesquisa, sendo definido, portanto, como o método que desenvolve investigações a partir de trabalhos e estudos já realizados por outros indivíduos. A pesquisa será básica e descritiva, a mesma que se desenvolve por meio da elaboração de conhecimento científico e de interesses coletivos, isto é, sem denotar um efeito prático direto. A pesquisa básica possui como finalidade o aprofundamento em um conhecimento científico, o qual já foi estudado, almejando complementar algum elemento ou particularidade da pesquisa feita anteriormente. 8. ESTRUTURA BÁSICA DO ARTIGO CIENTÍFICO RESUMO 14 INTRODUÇÃO 1. NOÇÕES INTRODUTÓRIAS SOBRE FAKE NEWS 1.1 BREVE HISTÓRICO E CONCEITO 1.2 OS REFLEXOS NO CENÁRIO ELEITORAL BRASILEIRO 2. OS DIREITOS DE PERSONALIDADE E A RESPONSABILIZAÇÃO PELAS FAKE NEWS 2.1 OS DIREITOS DA PERSONALIDADE VS. FAKE NEWS 2.2 RESPONSABILIDADE CIVIL 3. A LIBERDADE DE EXPRESSÃO E FAKE NEWS 3.1 O CONTROLE JUDICIAL NO CONTEXTO TECNOLÓGICO 3.2 A CONTROVÉRSIA ENTRE FAKE NEWS E O DIREITO À LIBERDADE DE EXPRESSÃO CONCLUSÃO REFERÊNCIAS 9. CRONOGRAMA ATIVIDADES AGOSTO SETEMBRO OUTUBRO NOVEMBRO DEZEMBRO Levantamento bibliográfico X Leituras e fichamentos X Pesquisas X X Redação X X Revisão X Defesa Pública X 10. REFERÊNCIAS ALMEIDA, Juliana Evangelista de. Responsabilidade civil dos provedores de serviços de Internet. Revista de Direito Privado, v. 62. 2015. BRAGA, Renê Morais da Costa. A indústria das fake news e o discurso de ódio. In: PEREIRA, Rodolfo Viana (Org.). Direitos políticos, liberdade de expressão e discurso de ódio. Volume I. Belo Horizonte: IDDE, 2018. p. 203-220. ISBN 978-85-67134-05-5. Disponível em: https://goo.gl/XmUwkd. Acesso em 07/05/2020. Acesso em 07/05/2020. BRASIL. Constituição Federal da República Federativa do Brasil. 1988. 15 BRASIL. Código Civil brasileiro. Lei. 10.406, de janeiro de 2002. BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. AP nº 4000515-21.2013.8.26.0451. Disponível em: https://www.migalhas.com.br/arquivos/2013/12/art20131204-08.pdf Acesso em 01 de jun. 2020. FARIAS, Edilsom Pereira de. Colisão de direitos: a honra, a intimidade e a vida privada e a imagem versus a liberdade de expressão e informação. 2ª Ed. Atual. Porto Alegra. 2000. GAGLIANO, Pablo Stolze. PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Direito civil: parte geral. 16 Ed. Rev. e Atual. São Paulo: Saraiva. 2014. MARMELSTEIN, George. Curso de direitos fundamentais. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2019. MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Bonet. Curso de Direito Constitucional. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. PINHEIRO, Patrícia Peck. Direito digital. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. SALLES, Fernanda Mazzafera. Fake news: muito além do campo moral da autoria. In: PINHEIRO, Patrícia Peck. Direito digital aplicado 3.0. São Paulo: Ed. RT, 2018. SILVA, Virgílio Afonso da. Direitos Fundamentais: conteúdo essencial, restrições e eficácia. 2. ed. 2. tiragem, São Paulo: Malheiros editores, 2014. SOUZA, Carlos Affonso; LEMOS, Ronaldo. Marco civil da internet: construção e aplicação. Juiz de Fora: Editar Editora, 2016. SCHREIBER, Anderson. Direitos da personalidade. 2° Ed. Rev. e Atual. São Paulo: Editora Atlas, 2013. SLEIMAN, Cristina Moraes. Fake news: o que está por trás dessa prática. In: PINHEIRO, Patricia Peck. Direito digital aplicado 3.0. São Paulo: Ed. RT, 2018. VASCONCELLOS, Clever. Curso de direito constitucional. 6. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2019. 11. BIBLIOGRAFIA A SER CONSULTADA CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de responsabilidade civil. 13. ed. – São Paulo: Atlas, 2019. GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil: responsabilidade civil. Vol. 3. 19. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2019. GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. Vol. 4: responsabilidade civil. 14. ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2019. LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 20. ed. rev., atual. e ampl. – São 16 Paulo: Saraiva, 2016. MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 33. ed. rev. e atual. até a EC nº 95, de 15 de dezembro de 2016 – São Paulo: Atlas, 2017. PARISER, Eli. O filtro invisível: o que a internet está escondendo de você. 1 ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2012. 2021-09-07T02:07:12-0300 Raoni da Silva Pagani Elias
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