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Resenha crítica sobre o texto “Concepções da metamorfose metropolitana – Sandra Lencioni” Priscila Ribeiro de Carvalho de Medeiros Bacharelanda em Geografia priscilardcm@gmail.com A autora inicia o texto trazendo concepções de 2011 do autor Soja, quando ele afirma que sem dúvidas nos últimos 30 anos há a ocorrência de uma mudança no processo de urbanização. A dinâmica urbana que acontecia de forma concentrada, com o desenvolvimento de regiões metropolitanas e metrópoles, agora acontece de forma dispersa com o desenvolvimento de “policentralidades”. Para Soja, “transitamos de uma urbanização metropolitana para uma urbanização regional policêntrica.” (Lencioni, S. pág.32) A autora cita três pontos relativos a colocação de Soja, são eles: que ao perceber o processo de dispersão, Soja o faz a partir da metrópole que se desconcentra, ou seja, ele tem como referência as regiões metropolitanas; a mudança radical da produção de novas formas e novos conteúdos não faz com que os antigos conteúdos e formas não façam mais parte daquele contexto; e, também, que essa nova fase da urbanização é uma dinâmica tão radical que os ela diz “preferimos denomina-la de metropolização”. (Lencioni, S. pág.32) Ela aborda que o termo metropolização só tratado como conceito de forma significativa nas duas últimas décadas do séc.XX. Em especial na década de 1990 que a discussão desse conceito passa a ser central nas reflexões sobre o processo de urbanização, que antes dava-se maior importância aos termos de metrópole e de região metropolitana. Lencioni fala que “a preocupação com a ideia de metropolização do espaço é, portanto, bastante e significativa na busca pela compreensão das mudanças em curso, especialmente desde o último terço do século XX”. A autora cita Ghorra-Gobin (2010) que traz o termo “metropolização” como parte de um novo paradigma que possibilita “apreender as dinâmicas espaciais e territoriais relacionadas à cidade”, ela não é exclusiva dos espaços metropolitanos e das grandes aglomerações (Lencioni, S. pág.33). Lencioni mailto:priscilardcm@gmail.com 2 também cita Ascher (1995) que traz a metropolização como fenômenos que ocorre no cotidiano das grandes aglomerações, das cidades e cidades pequenas mais interioranas e que concebe novos tipos de morfologias urbanas. Sendo assim, também ocorre em espaços rurais, espaços vazios e demais espaços. A autora cita Pereira (2008) que diz que a metropolização apesar de ser mais percebida nas cidades maiores, é uma mudança no processo de urbanização que não pode ser só considerada em relação à questão da escala ou tamanho da aglomeração ou quantitativo populacional. Ela conclui que “é sobre os espaços regionais de grande centralidade que a metropolização é mais visível.” (Lencioni, S. pág.34). Ela traz João Rua (2015) para entender a relação do urbano e do rural nesse cenário, já que fica muito difícil de separá-los. Rua (2015) vai chamar de “urbanidades no rural” os espaços da área rural com características da área urbana. Para ele “as urbanidades no rural seriam todas as manifestações materiais e imateriais em área rurais, sem que, por isso, essas fossem identificadas como urbanas.” Com isso, cada vez mais essa “separação” entre espaços urbanos e espaços rurais vão se tornando cada vez mais opacas. Lencione fala que, por outro lado, a metropolização incide cada vez sobre os espaços naturais tornando-os parte da lógica da aglomeração dispersa, como o turismo, por exemplo. Também cita formas conteúdos anteriores que recebem novos significados, tanto quanto os fragmentos do ultramoderno e contemporâneo. A autora chama a atenção para que, dizer que a metropolização estar relacionada ao processo de dispersão não significa dizer que esse processo seja infinito. Seus limites são provenientes da integração entre os elementos que constituem o aglomerado, o que importa é a integração que se estabelece dos processos. Esses processos são dinâmicos e o recorte regional pode ser alterado. Lencioni traz como exemplo o esquema da evolução da cidade de Lefebvre (1989) (figura 1), que ela não pontuou profundamente, mas que traz consigo uma análise sobre “transição de uma urbanização metropolitana para uma metropolização regional”. O esquema trata-se de uma síntese que permite entender as mudanças. 3 Figura 1 Esquema da evolução da cidade de Lefebvre, trazido no texto de Sandra Lencioni. Assim, como já apontado por ela com referências de outros autores, a era da metrópole acabou e o que estamos vivenciando agora é uma “postmetropolis”. Essa ideia é desenvolvida pela autora no decorrer do texto, através de suas colocações e contribuições de outros autores, como foi feito desde o início para introduzir suas ideias. O termo metropolização regional policêntrica, trazido por Lencioni (2017), está relacionado aos conceitos de cidade-região, metrópole-região, megalópole, megarregião e metápole. Esses conceitos se interligam pela relação cidade e região e para exemplificar a cidade como centro regional, Lencioni traz como exemplo a teoria dos lugares centrais de Christaller (1966). A cidade-região, desta forma representada – com o hífen – será trabalhada por Geddes em “Cidades em evolução”, com a primeira edição em 1915. Décadas mais tarde esse conceito é retomado como conceito fundamental para se compreender as modificações na urbanização. A autora cita Scott et al. (2001), que no final do 4 século XX, conceituaram cidade-região com o uso do hífen os fazendo atribuir o sentido global ao conceito. Esse sentido global traz que algumas cidades-regiões são uma teia de relações globais as tornando centrais. Scott et.al, trazido pela autora, procuraram em outros trabalhos embasamento para iniciar a construção da ideia. Os trabalhos de cidades mundiais de Hall (1966), Friedmann e Wolff (1982) e o de cidade global de Sassen (1991), foram alguns reafirmando essa relação entre globalização e as transformações das atividades produtivas e dos serviços. Assim, as cidades globais são “motores regionais da economia global.” (Lencioni, S. pág.37), se tornando centrais para a vida moderno. Sandra Lencioni (pág. 37) traz a seguinte interrogação, “em que diferiria fundamentalmente, as cidades-regiões globais das cidades globais?” Para os construtores do conceito de cidade-região, uma cidade-região pode ou não ter características de uma cidade global, pode ser uma metrópole ou um conjunto de cidades, sem que o porte dessa cidade seja influenciei. No caso de cidades- regiões globais, a autora cita a contribuição de Moura (2016, p.79), que a considera como uma das principais redes estruturais da nova economia global, sendo essas economias e regiões ligadas em redes flexíveis de firmas que cooperam e competem em um crescente e extenso mercado. (Lencioni, pág. 38) As cidades-regiões globais pode ser uma das principais redes da nova economia global. Lencioni cita Sassen (2007) que diz que é exclusivo das cidades globais a relação com a constituição de uma rede estruturante da economia global. A autora traz outros dois aspectos apontados por Sassen (2007), que são: relativo a escala, porque na escala territorial da região é muito mais provável acontecerem várias atividades econômicas que na escala das cidades; o outro é que os aspectos da competição e competividade, se apresentam muito mais intensos nas cidades-regiões globais, decorrendo-se na opinião das autoras, que cidade-região global constitui-se numa região que condensa várias atividades produtivas, se tornando uma verdadeira plataforma global da produção e competindo no mercado mundial. 5 Lencioni cita os estudos de Firkowski (2018) que traz o conceito de cidade-região global no Brasil, para ele esse conceito está vinculado ao fato de ser discutido no país esse conceito em 2001 pela Revista Espaço e Debates,porém, publicações sobre o conceito de metápoles nunca ocorreu no país. Outro conceito muito próximo de cidade-região, Lencioni trabalha metrópole-região que foi concebido por De Mattos (1999) que foi aplicado em Santiago no Chile, trabalha com uma metrópole extensiva para uma metrópole-região. O nome é próximo, mas o sentido difere do de cidade-região formulado por Scott et al. (2001), já trabalhado pela autora. O conceito de cidade-região ou de cidade-região global é muito próximo com o de megarregião e o de metápole e todos eles têm origem teórica com o conceito de megalópole (Lencioni, S. pág.40). Os conceitos de macrometrópole, megarregião, metápole e megalópole tem em comum o prefixo mega, que indica algo com dimensão maior que a metrópole. Porém, a diferença não está no tamanho, mas sim, nas propriedades particulares. Lencioni explica a origem base dos conceitos de megarregião e de metápole, que foram desenvolvidas a partir de “megalópole”, formulada por Gottmann (1961). Megalópole se refere a uma região urbana com presença de metrópoles, algumas apresentando fusão entre as áreas urbanas. Gottmann (1961) vai elaborar estudos e concluir que a representação de uma megalópole só acontece através da integração entre os elementos, pois é ela que reúne e dá unidade ao que é disperso. (Lencioni, S. pág. 41). A megalópole necessita conter diversas centralidades (polinucleadas) que se apresentam heterogênea, ter descontinuidade de territórios, ter ou não áreas florestais e, também, ter áreas rurais. Não se pode confundir uma metrópole com uma megalópole, pelos seguintes motivos: uma megalópole se desenvolve de forma linear do que a metrópole, que se desenvolve de forma arredondada; sendo, também bem mais polinucleada e ter uma extensão territorial e população mais elevada. Para Gottmann (1961) uma megalópole acontece em um lugar, em uma região urbana, onde acontece um estágio de desenvolvimento social superior ao da metrópole. 6 Sobre os meio de comunicação e informação, Sandra Lencioni menciona Sassen (2001) que diz que hoje, se comparado ao passado, “a intensidade da complexidade e extensão global das redes, a extensão em que porções significativas das economias são agora desmaterializadas e digitalizadas e, portanto, a extensão pelas quais podem viajar em grandes velocidades por meio de algumas dessas redes e das cidades que fazem parte de redes transfronteiriças operando em vastas escalas geográficas.” A autora diz que na literatura atual sobre o urbano e o regional, a expressão utilizada é megalópole que reside no conceito de megarregião. A megarregião engloba a financeirização, a globalização e a explosão e implosão do urbano em processos presentes, seria equivocada compará-la com região com grandes dimensões, somente. Ela está presente nos espaços urbanos, metropolitanos, áreas rurais e naturais, dentro das premissas estabelecidas, combinando lógicas de aglomeração e lógicas de dispersão. Lencioni cita Florida como um dos principais autores, quando se trata do conceito de megarregião. Ela diz que “ele considera que o verdadeiro poder da economia global é emanada das megarregiões e afirma, claramente, que a economia mundial é dirigida pelas megarregiões. (...) Hoje em dia, o poder não advém de “um Estado-nação, mas de megarregiões”. (pág.43) Ele chegou a definir 40 megarregiões e seus critérios, foram: área de luz contínua identificada por imagens de satélite, possuir pelo menos duas áreas metropolitanas, apresentar população de, pelo menos, 5 milhões de habitantes e gerar uma economia de mais de 300 bilhões de dólares. Por último, a autora discorre sobre o conceito de metápole citando Ascher (1995), que define esse conceito como “um conjunto de espaços em que todos ou parte de seus habitantes, das atividades econômicas ou dos territórios são integrados no funcionamento cotidiano (habitual) de uma metrópole.(...) Consiste em uma única bacia de emprego, hábitat e atividades.(...) Seus espaços são profundamente heterogêneos e não necessariamente contíguos.” (pág. 44) Ascher (1995) traz as metápoles como mono ou policêntricas que se formam a 7 partir de metrópoles preexistentes que vai integrar novos espaços e variado conjunto heterogêneo. Sandra Lencioni faz algumas indagações: qual é o lomite da região, seja da cidade-região, metrópole-região, megalópole, megarregião e o de metápole? Onde a região começa e onde termina? Até onde ela se estende? A resposta para essas perguntas, trazida pela autora, é que o limite provem da integração interna que o conjunto regional traz. Isso, requer uma posição em relação aos procedimentos de investigação, partindo de um recorte espacial, mais amplo possível e, então, o restringir partindo de uma análise dos dados e elementos do espaço. Deduz, então, que a região é ao mesmo tempo ponto de partida e ponto de chegada. “É a análise que busca perceber a integração interna do conjunto que orienta o recorte regional”. (pág.45) A autora, então, traz uma análise com base em outro autores para tratar de conceitos que na sua completude são diferentes, mas também se completam em alguns momentos. O texto de Sandra Lencioni busca compreender as recentes metamorfoses no urbano associada a estudos de outros autores com a finalidade de articular as ideias e dialogar sobre o tema proposto, que foi discorrer sobre os conceitos de cidade-região, macrometrópole, metrópole- região, megalópole, megarregição e metápole, associados ao novo processo de urbanização que acontece atualmente no mundo, chamada de postmetropolis.
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