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© IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais. Todos os direitos reservados. IESDE Brasil S.A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482 • Batel 80730-200 • Curitiba • PR www.iesde.com.br B446d Bello Filho, Ney de Barros. / Direito Ambiental. / Ney de Barros Bello Filho. 2. ed. — Curitiba : IESDE Bra- sil S.A. 128 p. ISBN: 978-85-387-1107-0 1. Direito Ambiental. 2. Meio Ambiente – Legislação. 3. Pro- teção Ambiental. 4. Recursos Naturais – Legislação. 5. Ecologia – Legislação. I. Título. CDD 341.347 Crimes contra o meio ambiente Crimes ambientais E xistem atitudes que agridem o ambiente sem que se constituam em atos ilícitos. São atos que, embora danosos ao ambiente, não são rejeitados pelo direito e não ofendem as leis e o ordena-mento jurídico. Existem outras condutas humanas que se enquadram na categoria de atos ilícitos, mas que ge- ram apenas responsabilidades civis ou administrativas, não gerando como consequência a aplicação de uma penalidade, que é uma sanção de natureza criminal. Bem jurídico é aquele que recebe proteção do ordenamento jurídico. Dentro do universo do Direito, bem jurídico será a expressão de um interesse, da pessoa ou da comunidade, na manutenção ou integridade de um certo estado, objeto ou bem em si mesmo socialmente relevante e por isso juridicamente reconhecido como valioso. Será tudo aquilo que puder ser objeto do Direito e por ele protegido, podendo ter natureza material ou imaterial. A ideia de bem jurídico e de sua necessária tutela estatal fundamenta a teoria do Direito penal. Os estudos mais modernos, influenciados pelo poder dado pelos ordenamos às Constituições, considera o bem jurídico a expressão de um valor constitucional que deve ser protegido de modo ativo, em virtude de sua importância ético-social, constituindo-se, assim, no objeto ou no objetivo da norma penal. A determinação do bem jurídico - fato, valor social, pessoa ou objeto que são protegidos pela norma penal – limita a função punitiva do Estado, uma vez que a norma penal sancionadora só será acionada para a proteção daquele bem cuja proteção foi expressamente estabelecida, e, assim, nem todos os bens jurídicos são protegidos pelo Direito Penal. A princípio, os bens jurídicos protegidos eram matérias, tais como a vida, a propriedade etc. Com a evolução do Direito Penal, porém, bens difusos, de caráter indivisível e coletivo, transindividuais (aqueles que pertencem, de modo concomitante, a diversos indivíduos; ultrapassam os interesses de uma única pessoa, espalhando-se no grupo social), pertencentes a um grupo indeterminado de pessoas, passaram a ser tutelados por normas de caráter sancionador, de tal modo que se deu uma expansão da tutela penal. No aspecto formal, será considerado como crime o ato previsto na norma como tal, e cuja conduta recebe uma sanção. Contradiz factualmente a norma penal, e assim se refere às condutas, de caráter ativo ou omissivo, que sejam proibidas por lei, sob ameaça de pena (SALIM e AZEVEDO, 2017, 7ª. edição, pág.143). No aspecto material, a definição de crime depende do conteúdo do ilícito penal; seria ou é o comportamento humano que causa lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico (SALIM e AZEVEDO, pág.143). É a conduta que viola o bem jurídico tutelado pela norma penal. Direito Ambiental No aspecto analítico, também chamado de dogmático ou formal analítico, o enfoque principal se dá nos elementos ou requisitos do crime. Algumas correntes teóricas (minoritárias) tratam do conceito bipartido de crime, que considera que o crime é um fato típico e antijurídico (ilícito); outras teorias, mais predominantes, por sua vez, trabalham o conceito tripartido de crime, no qual o crime é um fato típico, antijurídico (ilícito) e culpável. De forma ampla, podemos considerar que o crime é o fato humano contrário a lei ou à norma moral, constituindo dano ou perigo de dano a um bem jurídico ou fato proibido por lei, sob risco de pena, caracterizando-se por ser um fato típico, culpável e punível. É a ação (ou omissão) humana que provoca um resultado contrário ao direito, abrangendo a conduta, seu resultado, a relação entre a conduta e o resultado, e a classificação do ocorrido dentro da norma penal. A culpabilidade refere-se à consciência do infrator de ter agido de forma errada e voluntária. Já a punibilidade é a possibilidade jurídica que o Estado possui de impor a conduta legal de punição pela conduta criminosa. O crime ambiental é a agressão ao meio ambiente e seus elementos - flora, fauna, recursos naturais, patrimônio cultural - que ultrapassam os limites estabelecidos por lei, ou a conduta que ignora normas ambientais legalmente estabelecidas mesmo que não sejam causados danos ao meio ambiente. O conceito abrange toda e qualquer ação prejudicial ou danosa que seja cometida contra os elementos que formam o ambiente. As condutas tipificadas na Lei 9.605/98 – Lei de Crimes Contra o Meio Ambiente – são atos considerados criminosos cuja ocorrência acarreta a imposição de uma sanção criminal, uma pena, que é colocada ao infrator como consequência da prática ilícita. A lei protege os bens jurídicos ambientais, definindo objetos jurídicos – que são os bens jurídicos tutelados pelas normas. São bens jurídicos ambientais protegidos por normas criminais: a fauna, a flora, a sanidade do meio, o ordenamento urbano, a cultura e a administração ambiental. Crimes contra a fauna O bem jurídico tutelado pela norma é o conjunto dos animais existentes na Terra. Protege- se não apenas a sua vida, mas também a sua liberdade e possibilidade de reprodução. Todos os valores relacionados à preservação da fauna são protegidos pelos tipos penais, cujo objeto é a fauna. TRENNEPOHL (2020, 8ª edição, pág. 286) considera necessário, para a compreensão dos crimes contra a fauna, entender a diferenciação entre fauna silvestre – aquela compreendida pelas espécies que ocorrem naturalmente no território brasileiro ou que o utilizam em alguma fase de seu desenvolvimento e a fauna exótica, que compreende todas as espécies que não ocorrem naturalmente no território nacional, nem o utilizam em rota migratória, independente de possuírem ou não populações livres na natureza, no local de origem. Os fatos típicos referentes à proteção do bem jurídico fauna estão tratados na Lei 9.605/98 do artigo 29 até o artigo 37, na qual também estão explicitadas as causas de exclusão da ilicitude atinentes à espécie. Art. 29. Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida: Pena - Detenção de seis meses a um ano, e multa. Matar, perseguir, apanhar, caçar são condutas abrangidas pelo tipo penal. O crime é de ação múltipla, bastando apenas uma das atitudes para ver-se configurado o delito. O conceito de animal silvestre é dado pelo próprio legislador e a legislação protege, por meio do tipo penal, todas os espéci- mes que são originários do ecossistema brasileiro, bem como os que para cá vieram em outros tempos e aqui se desenvolveram. Há determinados tipos de caça que são permitidos pela Lei de Proteção à Fauna, tais como a caça amadorística, a caça de controle e a destinada a fins científicos. Dessa forma, a morte, a caça, a apanha e a perseguição podem tornar-se lícitas se albergadas dentro do permissivo legal a partir de permissão administrativa. Dada a natureza do bem jurídico, o órgão que possui atribuição para conceder o ato autorizativo é o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Crimes contra o meio ambiente Art. 30. Exportar para o exterior peles e couros de anfíbios e répteis em bruto, sem a au- torização da autoridade ambiental competente: Pena - Reclusão, de um a três anos, e multa. Exportaré vender para o exterior, razão pela qual ficam afastados do âmbito de incidência da norma os atos de comércio praticados com o fito de remeter para outros estados, municípios ou regiões, peles e couros de répteis ou anfíbios. Pune-se exclusivamente a atividade de remessa para o exterior. A expressão “em bruto” quer dizer não manufaturado. O que se pune é a exportação de matéria-prima para a indústria estrangeira. Vale notar que nem toda exportação é punida, mas somente aquela realizada “sem autorização competente”. Art. 31. Introduzir espécime animal no País, sem parecer técnico oficial favorável e licen- ça expedida por autoridade competente: Pena - Detenção, de três meses a um ano, e multa. O presente tipo penal visa proteger a fauna brasileira do desequilíbrio ecológico, eventualmente causado pela introdução em território nacional, de espécime que possa alterar o equilíbrio do ecossistema. Toda a importação de espécime da fauna, com sua respectiva entrada no território nacional, caracteriza infração, desde que não revestida dos elementos necessários que o próprio artigo indica. Para a configuração do crime exige-se a existência de um elemento normativo do tipo que é a ausência de licença expedida pela autoridade competente e a inexistência de parecer técnico oficial favorável. Art. 32. Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. § 1º Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos. § 1º-A Quando se tratar de cão ou gato, a pena para as condutas descritas no caput deste artigo será de reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, multa e proibição da guarda. § 2º A pena é aumentada de um sexto a um terço, se ocorre morte do animal Art. 33. Provocar, pela emissão de efluentes ou carreamento de materiais, o perecimento de espécimes da fauna aquática existentes em rios, lagos, açudes, lagoas, baías ou águas jurisdicionais brasileiras: Pena - Detenção, de um a três anos, ou multa, ou ambas cumulativamente. Direito Ambiental Vale notar que o §1-A foi acrescido à norma pela Lei nº 14.064, de 2020, que aumentou as penas cominadas ao crime de maus-tratos aos animais quando se tratar de cão ou gato. Este não é um crime de menor potencial ofensivo, e, por tal razão, não admite a transação penal. A doutrina considera que essa mudança legislativa revogou, tacitamente, o art. 64 da Lei de Contravenções Penais (Tratar animal com crueldade ou submetê-lo a trabalho excessivo). Praticar ato de abuso significa exagerar nas atividades impostas ao animal, exigindo mais do que o nível suportado pelo espécime. Exemplo de abuso é a utilização de animal de tração, impondo-lhe peso excessivo para arranque e carregamento. A partir do artigo 136 do Código Penal tem-se a concepção de que o crime de maus-tratos em animal pode ser definido como exposição ao perigo de vida e exposição à saúde, pela sujeição ao trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando dos meios de correção, quer privando-o de alimentação e cuidados. Interessante é perceber que a lei não deixa margens, a princípio, para a descriminalização de condutas que diariamente ocorrem na sociedade. A conduta criminosa é provocar, pela emissão de efluentes, ou carreamento de materiais, perecimento de unidades da fauna aquática existente em águas brasileiras. O elemento subjetivo do tipo é o dolo consistente na vontade livre e desimpedida em realizar a conduta. Não há necessidade da vontade específica de causar a morte da fauna ictiológica, punindo-se tão somente a vontade livre de lançar efluentes ou carrear materiais para as águas. Protege-se com este delito o ambiente e especialmente a fauna ictiológica. Trata-se de crime comum, material, de forma livre. A consumação ocorre com o perecimento do animal. A tentativa é de possível configuração. Art. 34. Pescar em período no qual a pesca seja proibida ou em lugares interditados por órgão competente: Pena - Detenção de um ano a três anos e multa, ou ambas as penas cumulativamente. Pune-se a pesca fora do período em que a atividade é permitida. A lei não faz diferenciação entre a pesca comercial, científica ou esportiva. Portanto, qualquer ruptura da norma administrativa que estabeleça período de pesca específico dá azo à aplicação desta. Incrimina-se também a pesca em locais proibidos. O Ibama, que é o órgão competente para o exercício do poder limitador das atividades pesqueiras, pode considerar impróprio para pesca determinados locais e assim interditá-los para a atividade. Isso pode se dar em razão da necessária preservação das espécies ameaçadas pela atividade humana. O crime é cometido por meio de uma ação, é material, pois provoca resultados e se consuma com a prática do ato de pescar. A tentativa é admitida. Art. 35. Pescar mediante a utilização de: I - explosivos ou substâncias que, em contato com a água, produzam efeito semelhante II - substâncias tóxicas, ou outro meio proibido pela autoridade competente: Pena - Reclusão de um a cinco anos. A norma do presente artigo pune mais gravemente a pesca realizada com a utilização de explosivos e substâncias tóxicas, ou outro meio similar ao tóxico ou assemelhado ao explosivo quando em contato com a água. Não há necessidade de norma administrativa proibindo a utilização de explosivos ou substâncias tóxicas, pois a proibição advém da própria Lei. Trata-se de crime cujo elemento subjetivo do tipo é o dolo dirigido para o fim de pescar, utilizando-se de tais instrumentos. Consuma-se com a realização dos atos de pesca. Pune-se a tentativa, que é possível. Constitui crime comum, comissivo e material. Art. 36. Para os efeitos desta Lei, considera-se pesca todo ato tendente a retirar, extrair, coletar, apanhar, apreender ou capturar espécimes dos grupos dos peixes, crustáceos, mo- luscos e vegetais hidróbios, suscetíveis ou não de aproveitamento econômico, ressalvadas as espécies ameaçadas de extinção, constantes nas listas oficiais da fauna e da flora. Crimes contra o meio ambiente A presente norma não contém um tipo penal, mas sim um conceito que aproveita a todos os artigos que tratam da atividade pesqueira. Não há ato de pesca que possa ser praticado contra tais animais, que serão objeto do crime do artigo 29. De outro lado, cumpre observar que não somente animais podem ser objetos de pesca, mas também os vegetais hidróbios. Seguindo a diretriz da legislação anterior, a Lei 9.605/98 estabeleceu que determinado crime contra a fauna pode ser cometido, em exceção, tendo por objeto um vegetal. Art. 37. Não é crime o abate de animal, quando realizado: I - em estado de necessidade, para saciar a fome do agente ou de sua família; II - para proteger lavouras, pomares e rebanhos da ação predatória ou destruidora de ani- mais, desde que legal e expressamente autorizado pela autoridade competente; III - (Vetado) IV - por ser nocivo o animal, desde que assim caracterizado pelo órgão competente. O presente artigo estabelece cláusulas de exclusão de antijuricidade genéricas, a rigor já previstas no próprio Código Penal brasileiro. São hipóteses em que, muito embora os atos previstos como criminosos sejam praticados, não é caso de ocorrência de crime porque incide uma cláusula que o exclui. Há hipóteses em que o abate animal não há de ser considerado uma atividade contrária à preservação ambiental. É que o meio ambiente é um complexo de elementos culturais, biológicos e éticos, razão pela qual é possível perceber uma coerência na atitude de descriminalizar certas atividades a princípio lesivas à fauna. Crimes contra a flora O bem jurídico tutelado pela norma é composto da totalidade da flora existente no Brasil. FIORILLO (2019, 19ª edição, pág. 250) conceitua a flora como o coletivo que engloba o conjunto de espécies vegetais de uma determinadaregião, enquanto a floresta é um dos conteúdos do continente flora, correspondendo à formação arbórea densa, de alto porte, que recobre área de terra mais ou menos extensa. O autor frisa que os termos “flora” e “floresta” não possuem, no texto constitucional, o mesmo significado. A depender das condutas que venham a ser objeto dos delitos o ar-tigo estará protegendo imediatamente uma ou outra modalidade de flora presente neste ou naquele ecossistema. Os fatos típicos, bem como demais disposições específicas referentes à tutela criminal da flora, estão previstos na lei 9.605/98 entre os artigos 38 e 53. Art. 38. Destruir ou danificar floresta considerada de preservação permanente, mesmo que em formação, ou utilizá-la com infringência das normas de proteção: Pena - detenção, de um a três anos, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente. Parágrafo único. Se o crime for culposo, a pena será reduzida à metade. Art. 38-A. Destruir ou danificar vegetação primária ou secundária, em estágio avançado ou médio de regeneração, do Bioma Mata Atlântica, ou utilizá-la com infringência das normas de proteção: Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente. Parágrafo único. Se o crime for culposo, a pena será reduzida à metade. A norma protege o patrimônio florestal, bem jurídico essencial à preservação de todos. Podem praticar o delito todas as pessoas, físicas ou jurídicas, proprietárias ou não de terras que abrigam as florestas. Não apenas a coletividade é sujeito passivo do crime por sofrer consequências da devastação, mas também o proprietário das terras onde se situam as florestas. O crime se consuma com a destruição, danificação ou inutilização do bem. Não há a necessidade, entretanto, de que a floresta seja totalmente devastada ou danificada. O delito é tentado quando não se chega a consumar a destruição ou o dano por ato alheio à vontade do agente. Direito Ambiental Art. 39. Cortar árvores em floresta considerada de preservação permanente, sem permissão da autoridade competente: Pena - Detenção, de um a três anos, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente. A conduta criminosa é a de cortar árvores em floresta definida administrativamente ou legalmente como Área de Preservação Permanente (APP). Para que ocorra o crime é necessário que haja vontade de cortar árvores em floresta considerada de preservação permanente. A consumação do delito se satisfaz com o corte de apenas um espécime, não havendo necessidade de que diversas árvores sejam atingidas para consumar o delito. Art. 40. Causar dano direto ou indireto às Unidades de Conservação e às áreas de que trata o art. 27 do Decreto nº 99.274, de 6 de junho de 1990, independentemente de sua localização: Pena - reclusão, de um a cinco anos. § 1o Entende-se por Unidades de Conservação de Proteção Integral as Estações Ecológicas, as Reservas Biológicas, os Parques Nacionais, os Monumentos Naturais e os Refúgios de Vida Silvestre. § 2o A ocorrência de dano afetando espécies ameaçadas de extinção no interior das Unidades de Conservação de Proteção Integral será considerada circunstância agravante para a fixação da pena. § 3º Se o crime for culposo, a pena será reduzida à metade. Art. 40-A. (VETADO) § 1o Entende-se por Unidades de Conservação de Uso Sustentável as Áreas de Proteção Ambiental, as Áreas de Relevante Interesse Ecológico, as Florestas Nacionais, as Reservas Extrativistas, as Reservas de Fauna, as Reservas de Desenvolvimento Sustentável e as Reservas Particulares do Patrimônio Natural. § 2o A ocorrência de dano afetando espécies ameaçadas de extinção no interior das Unidades de Conservação de Uso Sustentável será considerada circunstância agravante para a fixação da pena. § 3o Se o crime for culposo, a pena será reduzida à metade. O crime se configura quando um dano, de qualquer espécie, é praticado contra a Unidade de Conservação (UC), assim definidas pela legislação pátria. O que se intenta preservar é o ambiente como um todo. Qualquer pessoa, física ou jurídica, pode cometer o crime cujas vítimas serão a União, os estados, os municípios e a coletividade. A conduta se demonstra pela atitude de causar dano direto ou indireto a uma unidade de conservação ou às áreas circundantes. Entendendo-se por área circundante o raio de dez quilômetros. O crime não é de destruição, mas de dano. Para que ocorra o delito faz-se mister apenas a redução das características originais da unidade de Conservação. Art. 41. Provocar incêndio em mata ou floresta: Pena - Reclusão, de dois a quatro anos e multa. A conduta criminosa é a de incendiar mata ou floresta. Pode-se perceber a semelhança com a contravenção penal prevista no artigo 26, “e”, da Lei 4.771/65. O incêndio, quando for levado a efeito em outras formas de vegetação que não sejam a mata ou a floresta, não dá azo ao cometimento do crime mencionado neste artigo, caracterizando a contravenção definida no Código Florestal. Art. 42. Fabricar, vender, transportar ou soltar balões que possam provocar incêndios nas florestas e demais formas de vegetação [...].: Pena - Detenção de um a três anos ou multa, ou ambas as penas cumulativamente. Trata-se de um crime de perigo. O que se criminaliza não é o incêndio ou dano causado por balões, mas a possibilidade da ocorrência destes. O ato de fabricar, vender, transportar ou soltar balões que potencialmente possam causar incêndios em quaisquer formas de vegetação já representa a conduta criminosa. Qualquer pessoa física ou jurídica pode ser sujeito ativo do delito. Pune-se, contudo, o ato doloso, não havendo punição por negligência, imprudência ou imperícia. Caso haja incêndio posterior, este será mero exaurimento, pois o crime já estará consumado desde a prática das ações descritas no artigo. Crimes contra o meio ambiente Art. 44. Extrair de florestas de domínio público ou consideradas de preservação permanente, sem prévia autorização, pedra, areia, cal ou qualquer espécie de minerais: Pena - Detenção, de seis meses a um ano, e multa. Cuida-se de proteger as florestas de domínio público ou de preservação permanente. Quaisquer pessoas jurídicas ou físicas podem cometer o delito que se tem por consumado quando se pratica a extração dos objetos mencionados no tipo penal, sem o albergue em ato administrativo autorizativo. É indiferente para a ocorrência do delito quem o pratica, seja pessoa física ou pessoa jurídica. Até mesmo o proprietário da área pode cometer o delito. Art. 45. Cortar ou transformar em carvão madeira de lei, assim classificada por ato do Poder Público, para fins industriais, energéticos ou para qualquer outra exploração, eco- nômica ou não, em desacordo com as determinações legais: Pena - Reclusão, de um a dois anos, e multa. O crime ocorre quando o agente corta ou transforma em carvão, madeira de lei, em desacordo com as determinações legais. A expressão madeira de lei quer dizer um especial tipo de madeira declarada como tal por ato do Poder Público. Podem praticar o delito pessoas físicas ou jurídicas. Sujeito passivo é a coletividade e, indiretamente o proprietário ou possuidor da área. O crime estará consumado quando houver o efetivo corte da madeira de lei para a produção de carvão ou sua transformação. Art. 46. Receber ou adquirir, para fins comerciais ou industriais, madeira, lenha, carvão e outros produtos de origem vegetal, sem exigir a exibição de licença do vendedor, outorgada pela autoridade competente, e sem munir-se da via que deverá acompanhar o produto até final beneficiamento: Pena - Detenção, de seis meses a um ano, e multa. O crime é praticado quando ocorre a chamada receptação de madeira ilegal. Toma-se por ilegal a madeira que não possui sua origem declarada por não estar acompanhada da Autorização de Transporte de Produtos Florestais (ATPF). Podem praticar o delito quaisquer pessoas físicas ou jurídicas. Trata-se de crimeque se pode praticar por múltiplas ações, tais como receber, e adquirir, que representam ações criminosas quando o objeto é madeira, lenha, carvão e outros produtos vegetais. O art. 47 da norma foi vetado, e por essa razão, não receberá comentário. Art. 48. Impedir ou dificultar a regeneração natural de florestas e demais formas de ve- getação: Pena - Detenção, de seis meses a um ano, e multa. O crime consiste em impedir ou dificultar a recuperação, a restauração natural de florestas ou outras formas de vegetação, sejam elas os campos, os cerrados, as caatingas, os manguezais ou quaisquer outras existentes em território nacional. Qualquer forma de embaraço à regeneração dá azo ao cometimento do delito pela só razão de que os meios impeditivos podem ser quaisquer. Art. 49. Destruir, danificar, lesar ou maltratar, por qualquer modo ou meio, plantas de ornamentação de logradouros públicos ou em propriedade privada alheia. Pena - Detenção, de três meses a um ano, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente. Direito Ambiental Comete-se o crime do artigo 49 da Lei 9.60 5/98 com a destruição, danificação, lesão ou maus- tratos à planta ornamental. Trata-se de um crime que pode ser cometido por qualquer pessoa física ou jurídica e cujo objeto é o patrimônio ambiental, mais precisamente as espécies de vegetação destinadas a fins ornamentais. Tal crime pode ser cometido na modalidade culposa, ou seja, por negligência, imprudência ou imperícia. Art. 50. Destruir ou danificar florestas nativas ou plantadas ou vegetação fixadora de dunas, protetora de mangues, objeto de especial preservação: Pena - Detenção, de três meses a um ano, e multa. Trata-se de crime que pode ser praticado por diversas ações (crime de ação múltipla), e se consuma com a destruição ou a produção de um dano sobre florestas nativas ou plantadas ou vegetação fixadora de dunas ou ainda protetora de mangues. Isso implica dizer que se trata de um crime de dano à flora qualificado pela especialidade do objeto, que é exatamente aquele mencionado no próprio artigo. Qualquer pessoa, física ou jurídica, pode cometer esse delito, que, por sua vez, admite a forma tentada que é aquela em que o crime não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente. Art. 51. Comercializar motosserra ou utilizá-la em florestas e nas demais formas de vegetação, sem licença ou registro da autoridade competente: Pena - Detenção, de três meses a um ano, e multa. Comentando o dispositivo, TRENNEPOHL (pág. 292) considera que as condutas de desmatar, explorar economicamente ou degradar floresta, plantada ou nativa, em terras de domínio público ou devolutas, sem autorização do órgão competente, é crime, com pena prevista de reclusão de dois a quatro anos e multa; além disso, o autor destaca que a conduta não será criminosa quando praticada por necessidade de subsistência imediata pessoal do agente ou de sua família. Sendo a área explorada superior a 1.000 ha (mil hectares), temos hipótese de aumento de pena, na razão de um ano por milhar de hectare. Crimes contra o meio ambiente Art. 50-A. Desmatar, explorar economicamente ou degradar floresta, plantada ou nativa, em terras de domínio público ou devolutas, sem autorização do órgão competente: Pena - reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos e multa. § 1o Não é crime a conduta praticada quando necessária à subsistência imediata pessoal do agente ou de sua família. § 2o Se a área explorada for superior a 1.000 ha (mil hectares), a pena será aumentada de 1 (um) ano por milhar de hectare. O crime pode ser praticado de duas maneiras. Primeiramente consiste em negociar motosserra sem o registro do estabelecimento comercial responsável junto ao Ibama. A segunda conduta criminosa é utilizá-la em quaisquer formas de vegetação sem a licença, registro ou outra forma de controle do órgão ambiental. Não é simplesmente o uso da máquina que se constitui em crime, mas sim a ausência de licença ou de registro da autoridade competente, acrescido dos atos de comercializar ou utilizar. Trata-se de crime de perigo, uma vez que não é o dano que se pune, mas sim a potencial possibilidade de ele vir a ocorrer. Art. 52. Penetrar em Unidades de Conservação conduzindo substâncias ou instrumentos próprios para caça ou para exploração de produtos ou subprodutos florestais, sem licença da autoridade competente: Pena - Detenção, de seis meses a um ano, e multa. A conduta criminosa consiste na simples entrada na unidade de conservação portando substâncias ou instrumentos próprios para caça ou para exploração de produtos e subprodutos florestais, sem autorização de órgão competente. A entrada clandestina, portando as substâncias e os instrumentos indicados, é que caracteriza o delito. O crime é de mera conduta e de perigo, uma vez que a consumação se dá quando da simples entrada do agente na UC, e em razão da potencial probabilidade de o dano ambiental vir a ocorrer. Art. 53. Nos crimes previstos nesta Seção, a pena é aumentada de um sexto a um terço se: Crimes contra o meio ambiente I - do fato resulta a diminuição de águas naturais, a erosão do solo ou a modificação do regime climático; II - o crime é cometido: a) no período de queda das sementes; b) no período de formação de vegetações; c) contra espécies raras ou ameaçadas de extinção, ainda que a ameaça ocorra somente no local da infração; d) em época de seca ou inundação; e) durante a noite, em domingo ou feriado. O artigo apresenta causas de aumento das penas previstas para os crimes contra a flora de, no mínimo, um sexto e, no máximo, um terço do quantum fixado. O juiz, depois de aplicar a pena-base, deve verificar primeiramente se é caso de aplicação de algumas circunstâncias atenuantes e agravantes e, por último, a incidência ou não das causas de aumento possíveis. Crimes de poluição Os denominados crimes de poluição são aqueles delitos que existem para proteger o bem jurídico sanidade do meio, tipificando condutas afrontosas ao ambiente e que causem uma diminuição na sua qualidade. AMADO (2020, 8ª edição, pág. 349) destaca que apenas será considerada criminosa a poluição ilícita, ou seja, a que não está amparada em licenciamento ambiental ou é promovida em desconformidade com a licença ou autorização ambiental obtida – e que somente a forma mais grave de poluição foi tipificada, em quatro núcleos alternativos do tipo penal: causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a destruição significativa da flora. O conceito de poluição da Lei 6.938/81 – em que poluição é toda modificação para pior do ambiente – é corretamente utilizado como indicativo de consequência esperada quando da realização do ato, justificando, assim, a tipificação da conduta atentatória ao meio. Os fatos típicos, bem como demais disposições específicas referentes a essa tutela criminal, estão previstos na Lei 9.605/98 entre os artigos 54 e 61. Art. 54. Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a des-truição significativa da flora: Pena - Reclusão, de um a quatro anos, e multa. §1.º Se o crime é culposo: Pena - Detenção, de seis meses a um ano, e multa. Poluição Qualificada §2.º Se o crime: I - tornar uma área, urbana ou rural, imprópria para a ocupação humana; II - causar poluição atmosférica que provoque a retirada, ainda que momentânea, dos habitantes das áreas afetadas, ou que cause danos diretos à saúde da população; III - causar poluição hídrica que torne necessária a interrupção do abastecimento públ i- co de água de uma comunidade; IV - dificultar ou impedir o uso público das praias; V - ocorrer por lançamento de resíduos sólidos, líquidos ou gasosos, ou detritos, óleos ou substâncias oleosas, em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou regulamentos.Pena - Reclusão, de um a cinco anos. Direito Ambiental A conduta prevista como típica é a de causar poluição de qualquer natureza, em níveis tais que possam causar ou causem danos à saúde humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou destruição significativa da flora. Incrimina-se a conduta de causar, que significa gerar, produzir, dar ensejo, fazer acontecer instituto que se denomina poluição. Quaisquer instrumentos aptos a causar o efeito podem ser utilizados, não se preocupando com a forma pela qual a poluição será causada. Esta infração penal admite a modalidade culposa, com pena de detenção, de seis meses a um ano, e multa, e foi previsto o delito de poluição qualificada pelo maior desvalor do resultado (art. 54, §2º). Já o art. 54, §3º, prevê um tipo omissivo formal, ao estabelecer que incorre nas mesmas penas previstas no parágrafo anterior quem deixar de adotar, quando assim o exigir a autoridade competente, medidas de precaução em caso de risco de dano ambiental grave ou irreversível. Art. 55. Executar pesquisa, lavra ou extração de recursos minerais sem a competente au- torização, permissão, concessão ou licença, ou em desacordo com a obtida: Pena - Detenção, de seis meses a um ano, e multa. O bem jurídico tutelado pela norma é o meio ambiente agredido pela mineração. Consequentemente, também há a proteção do bem jurídico “minério”, “floresta” e quaisquer outros agredidos com a atividade mineradora. Trata-se de tipo penal que visa a proteção do meio ambiente e do patrimônio mineral, que é de propriedade da União. Trata-se de crime de perigo abstrato, em que não se perquire qualquer dano e presume-se o perigo pela simples existência de uma atividade contrária à regu-lamentação existente. O tipo subjetivo é o dolo dirigido para a prática da mineração sem a existência de ato administrativo legitimador. Admite-se a tentativa. Trata-se de crime comum, de ação múltipla e praticado na forma comissiva, ou seja, mediante ação. Art. 56. Produzir, processar, embalar, importar, exportar, comercializar, fornecer, transportar, armazenar, guardar, ter em depósito ou usar produto ou substância tóxica, perigosa ou nociva à saúde humana ou ao meio ambiente, em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou nos seus regulamentos: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. § 1o Nas mesmas penas incorre quem: I - abandona os produtos ou substâncias referidos no caput ou os utiliza em desacordo com as normas ambientais ou de segurança; II - manipula, acondiciona, armazena, coleta, transporta, reutiliza, recicla ou dá destinação final a resíduos perigosos de forma diversa da estabelecida em lei ou regulamento. § 2º Se o produto ou a substância for nuclear ou radioativa, a pena é aumentada de um sexto a um terço. § 3º Se o crime é culposo: Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa. O bem jurídico tutelado pela norma é o meio ambiente sadio e equilibrado, e por via transversa a saúde humana, que já está incluída no conceito de ambiente equilibrado. Quaisquer dos atos descritos pelo dispositivo, que sejam realizados tendo por objeto substância nociva ou tóxica, realizam o tipo penal deste artigo. Admite-se a tentativa, pois a conduta pode ser fracionada permitindo a interrupção da ação por força de outrem. O elemento subjetivo é o dolo dirigido para um fim específico, que é o de praticar ações descritas nos verbos empregados no tipo. O art. 58 da norma traz hipóteses de aumento de pena para os crimes dolosos nela previstos, que somente serão aplicadas se do fato não resultar crime mais grave e são as seguintes: • de um sexto a um terço, se resulta dano irreversível à flora ou ao meio ambiente em geral; • de um terço até a metade, se resulta lesão corporal de natureza grave em outrem; • até o dobro, se resultar a morte de outrem. O art. 59 da norma foi vetado, e por essa razão, não receberá comentário. Art. 60. Construir, reformar, ampliar, instalar ou fazer funcionar, em qualquer parte do território nacional, estabelecimentos, obras ou serviços potencialmente poluidores, sem licença ou autorização dos órgãos ambientais competentes, ou contrariando as normas legais e regulamentares pertinentes: Pena - Detenção, de um a seis meses, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente. A prática dessas ações representadas pelos verbos que constituem o núcleo do tipo, desde que combinadas com as demais condições que indica o artigo, é o que caracteriza a prática do ilícito. Para a configuração do delito não basta que haja a prática de tais ações, mas também que este estabelecimento, obra ou serviço, seja potencialmente poluidor. O delito é crime de perigo abstrato, pois só a colocação em condições ilegais o configura. Admite tentativa porque a conduta pode ser fracionada. O elemento subjetivo que se busca é a vontade livre e desimpedida no sentido de praticar uma das ações mencionadas no caput (cabeça – enunciado do artigo). Crimes contra o meio ambiente A conduta incriminada é a de disseminar doença, praga ou espécies que possam vir a causar danos ao ecossistema, agricultura, pecuária, fauna e flora. A atividade de biopirataria ou de bioterrorismo é que se pune com o presente artigo. Trata-se de crime de perigo abstrato. Não se perquire a possibilidade da doença ou praga vir a causar dano, mas só a disseminação já causa a ocorrência do delito. O elemento subjetivo que se busca é a livre vontade de praticar o elemento constitutivo do tipo, ou seja, a vontade do agente, necessária à configuração do crime, deve ser a vontade de disseminar doença, praga ou espécie, e não a vontade de causar dano ao ambiente. Crimes contra o ordenamento urbano e o patrimônio cultural O meio ambiente cultural é parte integrante do conceito de ambiente. Também os produtos da atividade intelectual – atividade esta que caracteriza o Homem e o diferencia dos animais – são bens ambientais que devem ser protegidos por normas criminais. Os fatos típicos, bem como demais disposições específicas referentes à tutela criminal do ordenamento urbano e do patrimônio cultural, estão previstos na Lei 9.605/98 entre os artigos 62 e 65. Art. 62. Destruir, inutilizar ou deteriorar: I - bem especialmente protegido por lei, ato administrativo ou decisão judicial; II - arquivo, registro, museu, biblioteca, pinacoteca, instalação científica ou similar protegido por lei, ato administrativo ou decisão judicial: Pena - Reclusão, de um a três anos, e multa. O crime ocorre quando o agente pratica destruição, inutilização ou deteriorização em objetos que ambos os incisos indicam. Observam-se três verbos que se constituem em núcleos alternativos do tipo, caracterizando o crime como um delito de ação múltipla. O dolo exigido é genérico, o que implica dizer que a vontade a ser perquirida é a vontade de praticar as ações descritas no artigo, independentemente da finalidade. Permite-se a forma culposa, o que significa dizer que o delito pode ser praticado por negligência, imprudência ou imperícia. Art. 63. Alterar o aspecto ou estrutura de edificação ou local especialmente protegido por lei, ato administrativo ou decisão judicial, em razão de seu valor paisagístico, ecológico, turístico, artístico, histórico, cultural, religioso, arqueológico, etnográfico ou monumen-tal, sem autorização da autoridade competente ou em desacordo com a concedida: Pena - Reclusão, de um a três anos, e multa. Direito Ambiental Art. 61. Disseminar doença ou praga ou espécies que possam causar dano à agricultura, à pecuária, à fauna, à flora ou aos ecossistemas: Pena - Reclusão, de um a quatro anos, e multa. Pratica-se o delito quando se transforma, transmuda o aspecto ou a estrutura da construção ou do local. Entretanto, o delito somente se configura quando há proteção do local por manifestação da Administração ou do Judiciário, e quando a prática ocorre sem a autorização da autoridade competente ou em desacordo com a obtida. Art.64. Promover construção em solo não edificável, ou no seu entorno, assim considerado em razão de seu valor paisagístico, ecológico, artístico, turístico, histórico, cultural, religioso, arqueológico, etnográfico ou monumental, sem autorização da autoridade competente ou em desacordo com a concedida: Pena - Detenção, de seis meses a um ano, e multa. O delito somente se configura se ocorre a ausência de autorização ou a discordância com a que tenha sido obtida e quando o objeto são os valores paisagísticos, ecológicos, artísticos, turísticos, históricos, culturais, religiosos, arqueológicos, etnográficos ou monumentais, e o fato se dá em solo não edificável. Art. 65. Pichar ou por outro meio conspurcar edificação ou monumento urbano: Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa. § 1o Se o ato for realizado em monumento ou coisa tombada em virtude do seu valor artístico, arqueológico ou histórico, a pena é de 6 (seis) meses a 1 (um) ano de detenção e multa. § 2o Não constitui crime a prática de grafite realizada com o objetivo de valorizar o patrimônio público ou privado mediante manifestação artística, desde que consentida pelo proprietário e, quando couber, pelo locatário ou arrendatário do bem privado e, no caso de bem público, com a autorização do órgão competente e a observância das posturas municipais e das normas editadas pelos órgãos governamentais responsáveis pela preservação e conservação do patrimônio histórico e artístico nacional. O delito ocorre quando se pratica a atividade de grafitar, pichar, ou ainda qualquer outra que seja apta a conspurcar edificação ou monumento urbano. Aqui se protege o patrimônio cultural material das agressões que possam ser levadas a efeito por atividades urbanas depredadoras. Há modalidade agravada quando se trata de bem especialmente protegido. Crimes contra a Administração Ambiental Compreende-se por Administração Pública ambiental o conjunto dos órgãos administrativos que tutelam o meio ambiente e – integrantes do Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama) – contribuem para a preservação do patrimônio ambiental. Os delitos cujo bem jurídico tutelado é a Administração são mediatamente delitos ambientais na medida em que ao se proteger os serviços públicos protege-se o objeto da atuação dessa mesma administração. Os fatos típicos, bem como demais disposições específicas referentes à tutela criminal da atividade administrativa ambiental, estão previstos na Lei 9.605/98 entre os artigos 66 e 69. Art. 66. Fazer o funcionário público afirmação falsa ou enganosa, omitir a verdade, so- negar informações ou dados técnico-científicos em procedimentos de autorização ou de licenciamento ambiental: Pena - Reclusão, de um a três anos, e multa. O delito configura-se quando o agente pratica a ação de afirmar falsamente ou enganosamente, omite a verdade ou sonega informações ou dados em meio a procedimento de autorização ou de licenciamento ambiental. Crimes contra o meio ambiente Dessa forma, só há que se falar na ocorrência desse ilícito quando os comportamentos enfocados realizam-se em procedimentos especificados. Art. 67. Conceder o funcionário público licença, autorização ou permissão em desacordo com as normas ambientais, para as atividades, obras ou serviços cuja realização depende de ato autorizativo do Poder Público: Pena - Detenção, de um a três anos, e multa. É crime conceder licença, sem autorização ou permissão para implementação de obras, atividades ou serviços em “desacordo com as normas ambientais”. Trata-se de crime próprio e de mera conduta que se consuma com a outorga pelo funcionário público dos atos autorizativos mencionados. Art. 68. Deixar, aquele que tiver o dever legal ou contratual de fazê-lo, de cumprir obrigação de relevante interesse ambiental: Pena - Detenção, de um a três anos, e multa. É crime o não fazer ou o não praticar ato que deva ser cumprido em razão de um relevante interesse ambiental. Trata-se de um crime omissivo próprio. A designação de um dever legal ou contratual implica na necessidade de uma imposição deste dever por uma outra norma ou um contrato, que complementa o sentido do tipo insculpido na legislação. Havendo a constatação de que houve uma omissão, de que a ação era obrigatória e que seu cumprimento era de relevante interesse ambiental haverá o cometimento do delito. Art. 69. Obstar ou dificultar a ação fiscalizadora do Poder Público no trato de questões ambientais: Pena - Detenção, de um a três a nos, e multa. O crime estará cometido quando houver a prática da atitude de obstar ou dificultar a fiscalização ambiental. Por fiscalização ambiental subentende-se toda a atividade do Poder Público com objetivo de constatar o cumprimento da legislação ambiental. É um delito comum, podendo qualquer pessoa ser o sujeito ativo. Direito Ambiental Art. 69-A. Elaborar ou apresentar, no licenciamento, concessão florestal ou qualquer outro procedimento administrativo, estudo, laudo ou relatório ambiental total ou parcialmente falso ou enganoso, inclusive por omissão: Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. § 1o Se o crime é culposo: Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos. § 2o A pena é aumentada de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se há dano significativo ao meio ambiente, em decorrência do uso da informação falsa, incompleta ou enganosa. Conforme TRENNEPOHL (pág. 298), elaborar ou apresentar, no licenciamento, concessão florestal ou qualquer outro procedimento administrativo, estudo, laudo ou relatório ambiental total ou parcialmente falso ou enganoso, inclusive por omissão, é conduta punível com reclusão, de três a seis anos, e multa (art. 69-A); se o crime for culposo, a detenção será de um a três anos. O § 2º do art. 69-A traz uma hipótese de aumento de pena, na razão de um terço a dois terços, nos casos em que houver dano significativo ao meio ambiente, como resultado da utilização da informação falsa, incompleta ou enganosa. Conclusão A tutela criminal do ambiente, por meio do estabelecimento de fatos típicos que protejam o ambiente é instrumento eficaz para a preservação ambiental. São condutas que, por atentarem contra o ambiente de forma significativa merecem a repreensão criminal e a imposição de pena compatível com o ilícito praticado. Direito Ambiental Os crimes ambientais segundo a Lei 9.605/98 (MILARÉ, 2001, p. 462-463) Publicada em 13 de fevereiro de 1998, com dez vetos, e após quarenta e cinco dias de vacân- cia, entrou em vigor, em 30 de março, a Lei 9.605/98, que cumpriu ao mesmo tempo duas missões: deu efetividade ao ideário constitucional de apenar as condutas desconformes ao meio ambiente e atendeu a recomendações insertas na Carta da Terra e na Agenda 21, aprovadas na Conferência do Rio de Janeiro, acolitando os Estados a formularem leis direcionadas à efetiva responsabilidade por danos ao ambiente e para a compensação às vítimas da poluição. Embora denominada Lei dos Crimes Ambientais, trata-se, na verdade, de instrumento nor- mativo de natureza híbrida, já que se preocupa também com infrações administrativas e com aspectos da cooperação internacional para a preservação do ambiente. De fato, embora de elaboração mais criteriosa e técnica, padece também de certos vícios que a fazem destoar do atual “estado da arte” das Ciências Ambientais. Alguns deles são produto de excisões promovidas por pressão dos diversos lobbies interessados, que, segundo os noticiários, desempenharam importante papel nos vetos presidenciais. Outros parecem resultar de concessões a uma visão equivocada do verdadeiro interesse social onde se insere a preservação da qualidade e dos recursos ambientais. Vários, enfim, decorrem da prodigalidade do legislador “no emprego de conceitos amplos e indeterminados – permeados, em grande parte, por impropriedades linguísti- cas, técnicas e lógicas –, o que contrasta com o imperativo inafastável de clareza, precisão e cer- teza na descriçãodas condutas típicas” (Luiz Regis Prado. Princípios penais de garantia e a nova lei ambiental. Boletim IBCCrim, edição especial do IV Seminário Internacional do IBCCrim, n. 70, p. 10, 1998). Nada obstante, entendemos que o novo diploma, embora não seja o melhor possível, apresen- tando ao contrário defeitos perfeitamente evitáveis, ainda assim representa um avanço político na proteção ao meio ambiente, por inaugurar uma sistematização da punição administrativas com severas sanções e tipificar organicamente os crimes ecológicos, inclusive na modalidade culposa. Em grupo, descreva um caso ambiental com riqueza de detalhes. A seguir, passe para outro grupo o caso elaborado e receba o texto feito por outros colegas. Ao final, descreva – também em grupo – o enquadramento legal que achar adequado nos diversos crimes por ventura ocorrentes. Crimes contra o meio ambiente Direito Ambiental Bibliografia AMADO, Frederico. Sinopses para Concursos - v.30 - Direito Ambiental. – 8ª edição. Salvador: Editora JusPodivm, 2020. FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de direito ambiental brasileiro. -19. ed. - São Paulo: Saraiva Educação, 2019. SALIM, Alexandre; AZEVEDO, Marcelo André de. Direito Penal, Parte Geral – Coleção Sinopses para Concursos. – 7. ed. rev., atual. e ampl. – Salvador: Editora Juspodivm, 2017. TRENNEPOHL, Terence. Manual de direito ambiental. – 8. ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2020. Direito Ambiental 00 07
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