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QUALIDADE DE VIDA EM PACIENTES PORTADORES DE HEMOFILIA: UMA REVISÃO DA LITERATURA J U L I A N O A N T Ô N I O D E D E U S U B A L D O Trabalho de Conclusão de Curso apresentado no Curso de Biomedicina como requisito obrigatório para obtenção do título de Biomédico. Orientadora: Profª. Msc. Angélica Cristine Heilmann Steffen Canoas, 2020 • A hemofilia é um distúrbio hereditário que tem como principal característica a diminuição na concentração de trombina. Introdução Classificação HEMOFILIA A (HA) •Caracterizada pela deficiência no Fator VIII HEMOFILIA B (HB) • Relacionada ao fator IX As quais podem ser de origem hereditária ou adquirida. • A hemofilia hereditária se apresenta de forma recessiva, ligada ao cromossomo sexual X. • Atinge principalmente o sexo masculino, por apresentarem apenas um cromossomo X. • As mulheres são apenas portadoras assintomáticas, por possuírem dois cromossomos X. • A hemofilia de caráter adquirida apresenta incidência rara, sendo decorrente da formação de autoanticorpos, geralmente de causa idiopática ou associada a alguma doença. EPIDEMIOLOGIA HA 1/5000 nascimentos HB 1/30000 nascimentos 400.000 no mundo todo (80-85% HA) 10.123 casos de HA no Brasil em 2016 Ocorrência maior no sexo masculino SINTOMAS • Os portadores hemofílicos, possuem concentrações reduzidas ou ausentes de FCs, ocasionando ao portador crises hemorrágicas intensas. HA GRAVE Hemorragias e sangramentos espontâneos Possível aparecimento de gengivite, periodontite e cárie Os mesmos quadros de sangramentos podem ser encontrados na HB Ou devido algum trauma que aconteça com uma frequência alta Devido ao paciente apresentar medo de sangramento no momento da higienização bucal DIAGNÓSTICO Levantamento do histórico familiar Exame físico, avaliando possíveis hematomas confirmação do diagnóstico por meio de testes laboratoriais da coagulação Com a confirmação do resultado positivo, exames imunológicos ou genéticos são solicitados, visando detectar a concentração do fator deficiente e sua mutação genética. • Para a definição do tipo de hemofilia, é testado a concentração do fator VIII (HA) e fator IX (HB) TRATAMENTO HA Fator VIII HB Fator IX Hoje, no Brasil, com intuito de evitar ou deter a propagação dos sangramentos, se promove a hemostasia através da infusão endovenosa de fatores Alguns tratamentos não específicos também auxiliam na recuperação do paciente, por exemplo: • Repouso da região afetada • utilização de gelo para conter o fluxo de sangue • uso de fármacos como analgésicos, anti-inflamatórios e antifibrinolíticos QUALIDADE DE VIDA • Segundo um grupo de especialistas da OMS , a qualidade de vida está diretamente relacionada a como o indivíduo percebe sua condição. • Logo, quanto mais harmônica for a relação do paciente com a condição, melhor será sua qualidade de vida. • As limitações físicas e psicológicas atuam como um limitador quanto a aceitação, tanto à cunho pessoal quanto no contexto familiar, cultural e socioeconômico. • A análise da qualidade de vida dos pacientes frente a hemofilia tem despertado interesse da OMS. A análise abrange características valorizadas dos pacientes, tais como: • Seu conforto, função física, emocional e intelectual, graus de habilidades para participar de suas atividades relacionadas com a família, local de trabalho e a comunidade. OBJETIVO E JUSTIFICATIVA • O trabalho teve o objetivo de avaliar a qualidade de vida do portador de hemofilia, por meio de artigos científicos que aplicaram questionários abrangendo as esferas física, psicológica, relações sociais e meio ambiente, analisando o impacto na vida cotidiana do hemofílico. • De modo geral, a propagação da informação quanto a doença para a população já seria um grande avanço rumo à melhora da qualidade de vida dos portadores no ambiente social. Nesse sentido faz-se necessária uma revisão de literatura acerca da temática para avaliar a qualidade de vida de hemofílicos e contribuir com a disseminação do conhecimento sobre o tema. MATERIAIS E MÉTODOS O presente estudo foi estabelecido a partir de uma revisão de literatura, a qual foi baseada na pesquisa e análise de obras bibliográficas e de artigos científicos referente ao assunto delimitado. Pubmed, SciELO e BVS Palavras chaves: Coagulopatia, Hemofilia, Hemofilia A, Hemofilia B, Inibidores Hemostáticos, qualidade de vida Keywords: Coagulopathy, Hemophilia, Hemophilia A, Hemostatic Inhibitors, quality of life Para a busca dos artigos que avaliaram a qualidade de vida foi utilizado "whoqol bref " (instrumento para avaliar qualidade de vida desenvolvido pela OMS) e associado a palavra hemofílicos Preferencialmente artigos entre 2010- 2020 • Foram avaliados dois grandes estudos (Souza et al., 2018; Nunes et al., 2009) onde foram aplicados questionários para realizar a avaliação da qualidade de vida. As questões, de modo geral, abrangem as esferas físicas, psicológicas, relações sociais e ambiente. RESULTADOS Avaliação da qualidade de vida Dados demográficos Nunes et. al, 2009 •Masculino • Solteiro • Sem ensino superior •Usuários de um hemocentro na região Sudeste do Brasil •Média de idade de 21 anos •Maioria desempregada Souza et. al, 2018 •Masculino • Solteiro • Sem ensino superior •Usuários de um hemocentro na região Amazônica • Todos acima de 13 anos •Maioria com emprego formal e legalizado AVALIAÇÃO DO DOMÍNIO FÍSICO Domínio Souza et. al, 2018 (1-5) n= 13 Nunes et. al, 2009 (0-100) n=23 Físico Dor e desconforto 3,53 59,2 Dependência médica e tratamentos 3,46 62,6 Vitalidade e energia 3,69 75,6 Mobilidade 4,00 78,2 Sono e Repouso 3,69 79,2 Atividade Cotidiana 3,76 80,0 Capacidade de trabalho 3,61 68,6 Mobilidade, sono e repouso, atividade cotidiana: Nestes pontos os entrevistados conseguem viver com relativa qualidade de vida. Dor e desconforto: O score sugere que os partícipes são afetados negativamente por esses fatores na vida cotidiana. AVALIAÇÃO DO DOMÍNIO PSICOLÓGICO Espiritualidade e autoaceitação: aponta que os partícipes apresentam uma boa relação com estes aspectos questionados, não afetando negativamente a qualidade de vida. Concentração, aprendizado e memória: Apresentou o menor score médio, indicando que os entrevistados já não possuem um domínio tão bom quanto a este ponto, podendo este fato estar ou não correlacionado com a condição de hemofílico. Domínio Souza et. al, 2018 (1-5) n= 13 Nunes et. al, 2009 (0-100) n=23 Psicológico Sentimentos positivos/ Aproveitar a vida 3,84 78,2 Espiritualidade/ Sentido da vida 4,15 82,6 Concentração, aprendizado e memória 3,53 69,6 Imagem corporal e aparência/ autoaceitação 4,07 84,4 Autoestima 4,07 77,4 Sentimentos negativos 3,76 80,8 AVALIAÇÃO DO DOMÍNIO DAS RELAÇÕES SOCIAIS No estudo de Nunes, a faceta “Relações pessoais” apresentou o maior score, enquanto que no estudo de Souza, a faceta “Vida sexual” ocupou este posto. Contudo, em ambos os estudos a faceta “Apoio social” foi a que apresentou o score mais baixo, entende-se então que a doença afeta então a rede de apoio social dos participantes. Domínio Souza et. al, 2018 (1-5) n= 13 Nunes et. al, 2009 (0-100) n=23 Relações Sociais Relações pessoais 4,00 87,0 Vida sexual 4,23 67,0 Apoio social 3,61 75,6 AVALIAÇÃO DO DOMÍNIO DO MEIO AMBIENTE Com o maior score em ambos os estudos, a faceta “Ambiente no lar” indica que neste ponto os participantes apresentavam uma boa relação com a questão. Segurança e recursos financeiros: Estes fatores podem estar relacionados não somente com o fato de os partícipes apresentarem uma condição física, e sim com o quadro geral de violência e desigualdade que a sociedade enfrenta. Domínio Souza et. al, 2018 (1-5) n= 13 Nunes et. al, 2009 (0-100) n=23 MeioAmbiente Segurança física e proteção 3,53 66,0 Ambiente físico: Poluição, ruído, trânsito e clima 3,61 65,2 Recursos financeiros 2,84 54,8 Oportunidade de adquirir novas habilidades 2,84 67,0 Oportunidades de recreação e lazer 3,23 62,6 Ambiente no lar 3,76 80,0 Cuidados de saúde e sociais 3,30 72,2 Transporte 2,46 72,2 • No presente estudo, foi possível analisar que os questionários abrangeram esferas que cobriram as mais diversas áreas da vida cotidiana, indo desde a capacidade física até o ambiente em que o hemofílico está inserido • Os scores médios dos domínios analisados apontaram dados importantes quanto a qualidade de vida. DISCUSSÃO Dom. Fís. •Pos.: Vida cotidiana e mobilidade •Neg.: Dor e desconforto Dom. Psic. •Pos.: Autoaceitação e espiritualidade •Neg.: Memória e concentração Dom. Rel. Soc. •Pos.: Relações interpessoais •Neg.: Rede de apoio social Dom. Meio amb. •Pos.: Ambiente no lar •Neg.: Segurança e finanças CONCLUSÃO Após avaliar os pontos onde se encontram as maiores dificuldades desta população, espera-se futuramente auxiliar por meio deste estudo, com o planejamento de políticas e infraestrutura que possam melhor atender os indivíduos hemofílicos, proporcionando assim uma melhor qualidade de vida e uma sociedade mais igualitária e livre de dúvidas e preconceitos relacionados à esta condição. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Especializada. (2006). Manual de tratamento das coagulopatias hereditárias (76 p.). Brasília-DF: Editora do Ministério da Saúde. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Especializada. (2008). Manual de Atendimento Odontológico a Pacientes com Coagulopatias Hereditárias (36 p.). Brasília-DF: Editora do Ministério da Saúde. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. 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