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- -1 CONTABILIDADE APLICADA AO SETOR PÚBLICO UNIDADE 4 – DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS APLICADAS AO SETOR PÚBLICO – DCASP Autoria: Graziana Olinda da Silva Mattos - Revisão técnica: Jardson Edson Guedes da Silva Almeida - -2 Introdução Para se conhecer adequadamente todos os fatos ocorridos durante um exercício em qualquer ente público, é necessário que eles divulguem seus demonstrativos contábeis, pois é por meio deles que se pode analisar as alterações patrimoniais, orçamentárias e financeiras ocorridas no período. Assim, esta unidade tratará basicamente dos demonstrativos contábeis aplicados ao setor público que são exigidos pela legislação brasileira pertinente e pelos normativos contábeis elaborados em consonância com o processo de padronização das normas contábeis brasileiras com as normas internacionais de contabilidade. Para isso, faremos as seguintes reflexões: de que maneira é possível avaliar variações patrimoniais de um ente público? Como podemos acompanhar se o planejamento orçamentário foi executado adequadamente? E de que forma é possível saber se um ente público está funcionando de maneira eficiente, financeiramente falando? Pelos demonstrativos contábeis aplicados ao setor público, é possível ter acesso a todos esses tipos de informações e, nesta unidade, você terá a oportunidade de aprender sobre o balanço patrimonial, o balanço orçamentário, o balanço financeiro e a demonstração das variações patrimoniais por meio do conhecimento de suas estruturas e das informações que eles entregam. Além disso, será possível conhecer também as notas explicativas que acompanham todos esses demonstrativos de forma a detalhar melhor algumas informações que eles evidenciam. Este conteúdo é de extrema relevância para o setor público. Bons estudos! 4.1 Demonstrações contábeis As entidades do setor público são obrigadas a realizar o levantamento de demonstrativos contábeis, com naturezas de informação distintas, e a divulgá-los aos órgãos de controle interno e externo, e à sociedade em geral. Essa obrigação advém de normativos contábeis específicos para este fim e da legislação brasileira que trata sobre a matéria. Entre os normativos contábeis, existem as Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público – NBCASP, que surgiram no processo de convergência e de padronização das normas contábeis brasileiras às normas contábeis internacionais. E, especificamente para os demonstrativos contábeis, foram elaborados normativos específicos que tratam exclusivamente sobre esse assunto, tamanha é sua relevância. Quanto à legislação brasileira, destacam-se a Lei 4.320/64, que é a lei mais importante para a administração pública em nível contábil e financeiro, e a Lei Complementar 101/2000, conhecida como Lei de Responsabilidade Fiscal. Sobre esses normativos, estudaremos com mais detalhes no tópico a seguir. 4.1.1 Lei 4.320/64/NBCT 16.1 a 16.11 Por ser da competência da União legislar sobre normas gerais de direito financeiro, a Lei 4.320 de 17 de março de 1964 foi editada para regulamentar essa temática, instituindo as normas gerais para elaboração e controle de orçamentos e balanços gerais da União, estados, municípios e do Distrito Federal. Dessa forma, este foi o primeiro e o principal normativo a regulamentar a elaboração e a divulgação de demonstrações contábeis no setor público. Com o passar dos anos e a evolução, tanto da ciência contábil quanto das necessidades do setor público, outros normativos surgiram além da lei supracitada. De acordo com o Manual de Contabilidade Aplicada ao Setor Público (2018, p. 404): A Lei nº 4.320/19641 dispõe sobre as demonstrações contábeis em seus artigos 101 a 106 e apresenta a estrutura para tais demonstrativos em seus anexos. Conforme o art. 113 da Lei, dentre outras atribuições, compete ao Conselho Técnico de Economia e Finanças a atualização de tais anexos. Com a extinção deste Conselho, tais funções são exercidas, na atualidade, pela Secretaria do - -3 anexos. Com a extinção deste Conselho, tais funções são exercidas, na atualidade, pela Secretaria do Tesouro Nacional (STN), devido a sua competência estabelecida pela Lei Complementar nº 101 /2000 (LRF) de consolidação das contas públicas, nacionais e por esfera de governo, bem como a competência estabelecida pela Lei nº 10.180/2001 de órgão central do Sistema de Contabilidade e de Administração Financeira Federal. Infere-se do excerto que a Secretaria do Tesouro Nacional é o órgão competente central da Contabilidade Federal e cabe a ele tratar sobre os demonstrativos contábeis constantes nos anexos da Lei 4.320/64 de forma a padronizar os procedimentos de levantamento, elaboração e divulgação desses demonstrativos. A partir da competência instituída no art. 7º do Decreto 6.976/2009, a STN passou a editar a parte V do Manual de Contabilidade Aplicado ao Setor Público, que trata exclusivamente das DCASP. No que tange ao Conselho Federal de Contabilidade, em consonância com a harmonização das normas contábeis às normas internacionais, foram editadas a Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público – NBCASP. As dez primeiras normas foram publicadas pelo CFC em 2008 e a décima primeira em 2011. São as NBC T 16.1 a NBC T 16.11. Figura 1 - Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público Fonte: Elaborada pela autora, 2020. #PraCegoVer: a figura mostra um quadro que mostra as primeiras onze Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público – NBC T 16.1 a 16.11, discriminando a resolução do Conselho Federal de Contabilidade, que instituiu a norma bem como o objeto de cada uma delas. Como o processo de convergência é recente, essas normas passam por revisões e reformulações constantes, a depender da necessidade da matéria tratada e das atualizações dos normativos internacionais. Nesse sentido, as NBCASP sofreram alterações. Confira! • NBC T 16.1, 16.2, 16.3, 16.4 e 16.5 Revogadas pela Norma Brasileira de Contabilidade, NBC TSP Estrutura Conceitual, de 23 de setembro de • - -4 Revogadas pela Norma Brasileira de Contabilidade, NBC TSP Estrutura Conceitual, de 23 de setembro de 2016. • NBC T 16.6 e 16.8 Revogadas pela NBC TSP 11 – Apresentação das Demonstrações Contábeis. • NBC T 16.7 Revogada pela NBC TSP 17 – Demonstrações Contábeis Consolidadas. • NBC T 16.9 e 16.10 Revogadas pela NBC TSP 07 – Ativo Imobilizado. Fique atento! De acordo com a NBC TSP 11, as demonstrações contábeis “são aquelas destinadas a satisfazer às necessidades de informação de usuários que não se encontram em condições de exigir relatórios elaborados para atender às suas necessidades específicas”. Desse modo, estudaremos a seguir os demonstrativos contábeis exigidos por esses normativos e suas principais características e peculiaridades, para que você possa ficar inteirado sobre esse tema, que é de extrema relevância para a contabilidade aplicada ao setor público. Condensando os demonstrativos exigidos pela Lei 4.320/64 com os exigidos pelos normativos contábeis respectivos, temos o seguinte conjunto de DCASP: Balanço Patrimonial. Demonstração das Variações Patrimoniais. Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido. Demonstração dos Fluxos de Caixa. Balanço Orçamentário. Balanço Financeiro. Notas explicativas, compreendendo a descrição sucinta das principais políticas contábeis e outras informações elucidativas. Entre essas DCASP, as obrigatórias de acordo com a Lei 4.320/64 para todos os entes são: balanço patrimonial, balanço orçamentário, balanço financeiro e a demonstração das variações patrimoniais. A demonstração dos fluxos de caixa e a demonstração das mutações do patrimônio líquido foram introduzidas a partir da NBC TSP 11 • • • VOCÊ SABIA? As Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público são frequentemente revisadas e editadas para que contenham sempre conteúdos atuais e estejam em consonância com a harmonização dos procedimentos contábeis aplicados no âmbito mundial. É importante que o profissional da área esteja sempre atentoao site institucional do Conselho Federal de Contabilidade para averiguar novas publicações sobre esse tema. - -5 fluxos de caixa e a demonstração das mutações do patrimônio líquido foram introduzidas a partir da NBC TSP 11 e as notas explicativas acompanham todos os demonstrativos, quando necessário, para elucidar alterações significativas nos itens demonstrados entre outras peculiaridades que veremos em tópico específico. 4.1.2 Patrimonial No âmbito patrimonial propriamente dito, a demonstração contábil que o aborda mediante identificação de cada item dessa natureza é o balanço patrimonial. Por meio dele, é possível conhecer de forma quantitativa e qualitativa o patrimônio público de uma entidade. Será o primeiro demonstrativo contábil que você irá conhecer no tópico que segue. A Lei 4.320/64 atribui um viés orçamentário ao balanço patrimonial, pois divide o ativo e o passivo em dois grupos: financeiro e permanente. Dessa forma, ele procura evidenciar as informações que dependem da autorização legislativa ou orçamentária das que não dependem. Em virtude da questão supracitada, o processo de convergência e de padronização das normas, por meio das Normas Brasileiras de Contabilidade, alterou a forma de ilustrar o balanço patrimonial, agregando mais informações para que ambos os normativos fossem atendidos, conforme veremos no próximo tópico. 4.1.3 Balanço patrimonial O balanço, falando de maneira genérica, é um demonstrativo estático que evidencia duas grandes seções as quais se igualam em suas somas. É como se fosse uma foto do patrimônio naquele momento em que ele foi levantado. De acordo com o MCASP (2018, p. 431): O Balanço Patrimonial é a demonstração contábil que evidencia, qualitativa e quantitativamente, a situação patrimonial da entidade pública por meio de contas representativas do patrimônio público, bem como os atos potenciais, que são registrados em contas de compensação (natureza de informação de controle). O balanço patrimonial, conforme estabelece a Lei 4.320/64, divide o ativo e o passivo em dois grupos: financeiro e permanente, destacando o enfoque orçamentário. A partir da Portaria STN 438/2018, essa estrutura foi alterada para que pudesse atender à norma brasileira de contabilidade respectiva. Portanto, o balanço patrimonial como demonstrativo é composto pelos seguintes quadros: quadro principal; quadro dos ativos e passivos financeiros e permanentes; quadro das contas de compensação (controle); VOCÊ QUER VER? A Secretaria do Tesouro Nacional – STN, órgão central de contabilidade pública do Governo Federal, possui um canal oficial no YouTube com diversos vídeos que abordam os conteúdos estudados nessa unidade e no decorrer de toda a disciplina. Sugerimos que você assista ao vídeo de apresentação do órgão a fim de conhecer melhor esse importante órgão da contabilidade aplicada ao setor público. Acesse-o em: https://www.youtube.com/watch? v=2ASbQY5uUH8. - -6 quadro das contas de compensação (controle); quadro de superávit/déficit financeiro. Agora, uma curiosidade! Assim, vamos conhecer a estrutura desses quadros pelas figuras a seguir: Quadro 1 - Quadro principal do BP Fonte: Elaborado pela autora, baseado em MCASP, 2020. #PraCegoVer: a figura ilustra o Quadro 1 do balanço patrimonial de maneira sintética elencando as principais contas utilizadas. Essa é a estrutura básica do quadro principal do balanço patrimonial, divulgado pelas entidades do setor público. Ressalta-se que as contas elencadas no balanço patrimonial constam no plano de contas aplicado ao setor público e, nessa estrutura, elas foram simplificadas para melhor compreensão da estrutura do demonstrativo. Além disso, os saldos apresentados em cada conta são do período atual e do período imediatamente anterior para que seja possível realizar a comparação da evolução das alterações patrimoniais. VOCÊ O CONHECE? Ana Maria Elorrieta é o nome de uma das mulheres mais importantes da área contábil. Foi presidente do Instituto dos Auditores Independentes do Brasil – Ibracon e eleita umas das 50 pessoas mais influentes da contabilidade pelo Global Accountancy Power 50, que é uma espécie de ranking mundial de pessoas influentes da ciência contábil. Também foi membro do Federação Internacional de Contadores – IFAC. Em suma, é um importante nome feminino que se destacou na contabilidade mundial. - -7 Quadro 2 - Quadro dos ativos e passivos financeiros e permanentes Fonte: Elaborado pela autora, baseado em MCASP, 2020. #PraCegoVer: a figura ilustra o segundo quadro do balanço patrimonial chamado de quadro de ativos e passivos financeiros e permanentes, elencando as contas envolvidas do ativo e do passivo, e os saldos do exercício atual e do exercício anterior. Em relação a esse quadro, Bezerra Filho (2014, p. 303) ressalta que “os ativos e passivos financeiros e permanentes e o saldo patrimonial deverão ser apresentados pelos seus valores totais, podendo ser detalhados”, ou seja, apesar de o quadro identificar apenas o nome dos grupos, caso seja necessário, a subclassificação desses grupos poderá ser discriminada no quadro contanto que os totais das contas principais sejam preservados. - -8 Quadro 3 - Quadro das contas de compensação Fonte: Elaborado pela autora, baseado em MCASP, 2020. #PraCegoVer: a figura ilustra o terceiro quadro que compõe o demonstrativo do balanço patrimonial das entidades do setor público. Esse quadro é chamado de quadro das contas de compensação e elenca contas ativas e passivas que tenham tal natureza. Esse quadro representa a discriminação das contas que podem afetar o patrimônio do ente público futuramente, seja de forma ativa, seja passiva. Nesse sentido, o MCASP (2018, p. 443) ressalta que esse quadro [...] compreende os atos a executar que podem vir a afetar o patrimônio, imediata ou indiretamente, por exemplo: direitos e obrigações conveniadas ou contratadas; responsabilidade por valores, títulos e bens de terceiros; garantias e contragarantias recebidas e concedidas. A definição é orientada pelo fluxo de caixa a ser envolvido na execução futura do ato potencial. Os atos potenciais ativos afetam o patrimônio de forma positiva e os atos potenciais passivos afetam-no de forma negativa. As contas utilizadas nesse quadro são as da classe 8 do PCASP, ou seja, controles credores. - -9 Quadro 4 - Quadro do superávit/déficit financeiro Fonte: Elaborado pela autora, baseado em MCASP, 2020. #PraCegoVer: a figura ilustra o último quadro do balanço patrimonial chamado de quadro do superávit/déficit financeiro. Nele, são discriminadas as fontes de recursos do ente e seus respectivos saldos no exercício atual e no exercício anterior. Esse quadro evidencia as fontes de recursos do ente que não foram utilizadas no exercício pelos seus saldos finais, sendo que a soma final desses saldos é o evidenciado no quadro da próxima figura, ou seja, o superávit ou o déficit financeiro (diferença entre ativo financeiro e passivo financeiro). A conta do PCASP a ser utilizada nesse quadro é a “disponibilidade por destinação de recurso – (DDR)” cujo código é 8.2.1.1.1.00.00. De acordo com Bezerra Filho (2014, p. 306): Poderão ser apresentadas algumas fontes com déficit e outras com superávit financeiro, de modo que o total seja igual ao superávit/déficit financeiro apurado pela diferença entre o Ativo Financeiro e o Passivo Financeiro conforme o quadro dos ativos e passivos financeiros e permanentes. Assim, ficou evidenciado o conjunto de quadros que compõem o balanço patrimonial, de modo que esse conjunto atende tanto à Lei 4.320/64 quanto à NBC TSP 11. Em relação a esta última, esse modelo visa atender ao processo de padronização de procedimentos contábeis instituído no Brasil em consonância com as normas internacionais de contabilidade. VAMOS PRATICAR? Agora que você aprendeu sobre o balanço patrimonial, que tal se inteirar um pouco sobre o assunto na prática? Busque sites institucionais de órgãos públicos que você conheça, sejam eles federais, estaduais ou municipais,e veja se eles divulgam os seus balanços patrimoniais. Caso encontre, tente entender todas as informações ali divulgadas de acordo com o que você aprendeu aqui nesta unidade. Aproveite a oportunidade! - -10 4.2 Natureza orçamentária O segundo demonstrativo contábil das instituições do setor público é o balanço orçamentário. Este, por sua vez, é muito particular e específico dessas instituições, pois somente elas são obrigadas a elaborar e a publicar seus orçamentos em forma de lei. E, mesmo as que o fazem de forma voluntária, devem elaborar esse demonstrativo para que os fatos relacionados a seus orçamentos sejam evidenciados possibilitando a comparabilidade e a responsabilização. Vejamos os principais aspectos do balanço orçamentário no tópico seguinte. 4.2.1 Balanço orçamentário A essência do balanço orçamentário é demonstrar as receitas previstas e as despesas fixadas com as receitas arrecadadas e as despesas realizadas, ou seja, evidenciar se o orçamento do ente público foi executado de maneira eficiente. E, caso não o tenha sido, os motivos que levaram o ente a ultrapassar os limites impostos em sua lei orçamentária. Na estrutura do balanço orçamentário, é necessário discriminar as receitas e as despesas por categoria econômica realizando o confronto do orçamento inicial e suas alterações com o que foi de fato executado, demonstrando o resultado orçamentário no período em análise (BEZERRA FILHO, 2014). A estrutura do balanço orçamentário contempla: quadro principal; quadro da Execução dos Restos a Pagar Não Processados; quadro da Execução dos Restos a Pagar Processados. Vejamos a estrutura desses quadros nas figuras que seguem. - -11 Quadro 5 - Quadro principal do balanço orçamentário Fonte: Elaborado pela autora, baseado em MCASP, 2020. #PraCegoVer: a figura ilustra o quadro principal do balanço orçamentário discriminando os grupos de contas que contemplam as informações necessárias para atender o fim desse demonstrativo, quais sejam as receitas e despesas orçamentárias e suas subclassificações. As classes de contas a serem utilizadas nesse demonstrativo são as classes 5 e 6 (planejamento e execução orçamentários). O MCASP (2014, p. 414) ainda acrescenta que O quadro principal apresentará as receitas e despesas previstas em confronto com as realizadas. As receitas e despesas serão apresentadas conforme a classificação por natureza. No caso da despesa, a classificação funcional também será utilizada complementarmente à classificação por natureza. As receitas deverão ser informadas pelos valores líquidos das respectivas deduções, tais como restituições, descontos, retificações, deduções para o Fundeb e repartições de receita tributária entre os entes da Federação, quando registradas como dedução [...]. O quadro evidencia a previsão inicial, a qual deve se manter inalterada durante todo o exercício, visto que é o que consta da lei orçamentária aprovada; a previsão com as alterações que porventura tenham ocorrido no decorrer da execução, como reestimativa de receitas com excesso de arrecadação; a execução propriamente dita, que são as receitas arrecadadas e as despesas realizadas pelo ente; e o saldo final após o confronto desses saldos. O resultado poderá ser superavitário, caso as receitas sejam maiores do que as despesas, ou deficitário, caso ocorra o inverso. - -12 Quadro 6 - Quadro da execução de restos a pagar não processados Fonte: Elaborado pela autora, baseado em MCASP, 2020. #PraCegoVer: a figura ilustra o segundo quadro do balanço orçamentário que se chama “execução dos restos a pagar não processados” evidenciando as contas que compõem essa demonstração divididas entre despesas correntes e despesas de capital e suas subclassificações. Conforme ressalta o MCASP (2018, p. 414): Neste quadro, deverão ser informados os restos a pagar não processados inscritos até o exercício anterior e suas respectivas fases de execução. Os restos a pagar inscritos na condição de não processados que tenham sido liquidados em exercício anterior ao de referência deverão compor o Quadro da Execução de Restos a Pagar Processados. Por fim, temos o terceiro quadro do balanço orçamentário, o quadro da execução dos restos a pagar processados. Quadro 7 - Quadro da execução dos restos a pagar processados Fonte: Elaborado pela autora, baseado em MCASP, 2020. - -13 Fonte: Elaborado pela autora, baseado em MCASP, 2020. #PraCegoVer: a figura ilustra o terceiro e o último quadros do balanço orçamentário, chamados “execução dos restos a pagar processados” evidenciando as contas que compõem essa demonstração divididas entre despesas correntes e despesas de capital e suas subclassificações. Esse quadro diferencia-se do quadro anterior pela ausência da coluna “liquidados”, uma vez que esses restos a pagar são processados e já passaram por essa fase da despesa. 4.2.2 Orçamento público O balanço orçamentário evidencia o orçamento do ente público de acordo com as informações registradas na escrituração contábil relativas à sua lei orçamentária, desde o seu planejamento até a sua execução. O orçamento público ganhou importância quando a Lei 4.320/64 estabeleceu regras de acompanhamento e evidenciação dos orçamentos públicos em todo o país. Por esse motivo, a divulgação dos demonstrativos contábeis respectivos são extremamente relevantes para os controles interno e externo, e para a sociedade de maneira geral, porque, por meio deles é possível verificar se o orçamento público está sendo executado de maneira correta, ponderada e eficiente. 4.3 Natureza financeira O terceiro demonstrativo contábil dos entes públicos que estudaremos a seguir é o balanço financeiro. Esse demonstrativo evidencia, além das receitas e despesas orçamentárias, ingressos e dispêndios extraorçamentários, condensando essas informações com os saldos de caixa do exercício anterior e os que se VOCÊ QUER LER? Você conhece o site do Tesouro Nacional? Lá, ele disponibiliza diversas informações e, entre elas, existe o chamado “Tesouro Transparente”, que demonstra a execução orçamentária e financeira do Governo Federal em números e de maneira detalhada. Vale a pena conferir! Acesse no link: https://www.tesourotransparente.gov.br/temas/execucao-orcamentaria-e- .financeira VAMOS PRATICAR? Acompanhando a atividade do tópico anterior, busque agora o balanço orçamentário do ente público do qual você conseguiu o balanço patrimonial e faça uma apreciação de sua estrutura de acordo com os conteúdos estudados aqui. Se tiver dúvidas, não hesite em procurar o tutor da disciplina! - -14 extraorçamentários, condensando essas informações com os saldos de caixa do exercício anterior e os que se transferem para o exercício seguinte. Ele é composto por um único quadro que demonstra a movimentação financeira dos entes públicos possibilitando a apuração do resultado financeiro do período. Justamente por ter natureza financeira, o balanço financeiro trabalha os saldos disponíveis na conta de caixa e seus equivalentes do período anterior e o que será transferido para o período imediatamente seguinte. Vejamos com mais detalhes esse demonstrativo no tópico que segue. 4.3.1 Balanço financeiro A principal informação que o balanço financeiro demonstra é se o ente teve equilíbrio financeiro no decorrer de um exercício. Contudo, suas informações devem ser analisadas juntamente com as informações do balanço patrimonial, na medida em que: [...] uma variação positiva na disponibilidade do período não é sinônimo, necessariamente, de bom desempenho da gestão financeira, pois pode decorrer, por exemplo, da elevação do endividamento público. Da mesma forma, a variação negativa não significa, necessariamente, um mau desempenho, pois pode decorrer de uma redução no endividamento [...]. (MCASP, 2018, p. 426) O balanço financeiro se utiliza das contas das classes 1, 2, 3, 4, 5 e 6, a saber: ativo, passivo, variações patrimoniais diminutivas, variações patrimoniais aumentativas, orçamento aprovado e execução do orçamento, respectivamente, para ser elaborado.Vejamos, então, como é a estrutura de um balanço financeiro, com a figura seguinte. Quadro 8 - Balanço financeiro Fonte: Elaborado pela autora, baseado em MCASP, 2020. - -15 Fonte: Elaborado pela autora, baseado em MCASP, 2020. #PraCegoVer: a figura ilustra um quadro demonstrativo da estrutura de um balanço financeiro e as respectivas contas que o compõem. As receitas e despesas ordinárias são aquelas que têm aplicação livre, ou seja, não estão vinculadas a uma finalidade específica. Já as receitas e as despesas vinculadas, como o próprio nome sugere, são específicas para uma finalidade definida por lei. As transferências financeiras concedidas e recebidas são as movimentações de recursos entre órgãos da administração pública direta e indireta. Os recebimentos extraorçamentários são aqueles que não estão previstos no orçamento do ente, assim como os pagamentos dessa mesma natureza são os que não precisam de autorização orçamentária. Por fim, o saldo do exercício anterior e o saldo para o exercício seguinte são os recursos financeiros em caixa disponíveis nesses respectivos períodos. 4.3.2 Restos a pagar Em detrimento do regime de competência instituído pela Lei 4.320/64, foi necessário que o mesmo dispositivo legal viabilizasse o dispositivo para inserir as despesas que foram empenhadas em um exercício, mas não foram pagas nele. São os chamados restos a pagar. De acordo com a referida lei, em seu art. 36, “consideram-se Restos a Pagar as despesas empenhadas, mas não pagas até o dia 31 de dezembro, distinguindo-se as processadas das não processadas” (BRASIL, 1964). Logo, de acordo com o artigo supracitado, existem os restos a pagar processados e os não processados. Entretanto, qual a diferença entre eles? Os restos a pagar processados são aqueles derivados das despesas empenhadas e liquidadas dentro do exercício, ou seja, que percorreram dois estágios da despesa, restando apenas o pagamento para o exercício seguinte (ou exercícios seguintes). Já os restos a pagar não processados são aqueles que apenas foram empenhados em um exercício sem ter passado pelos demais estágios da despesa (liquidação e pagamento). A inscrição ocorre mediante essas duas particularidades. E a exclusão dessa característica ocorre ou quando são pagos ou mediante o que dispõem dispositivos legais pertinentes a essa matéria. O que geralmente acontece é que existe um prazo para que esses restos a pagar permaneçam nessa situação. Findado esse prazo, o ente precisará revisar a obrigação para dar baixa nesses restos a pagar, seja pelo pagamento, seja pela prescrição da obrigação. VAMOS PRATICAR? Agora que você já buscou o balanço patrimonial e o balanço orçamentário de um ente público que você tinha curiosidade de conhecer, busque também o balanço financeiro e faça as mesmas avaliações que fez com os demais demonstrativos a partir dos conhecimentos adquiridos nesta unidade. - -16 4.4 Variações patrimoniais O último demonstrativo contábil do setor público que estudaremos é a demonstração das variações patrimoniais – DVP. O resultado apurado nesse demonstrativo compõe o saldo patrimonial do balanço patrimonial. Vejamos, a seguir, suas principais características. 4.4.1 Demonstração das variações patrimoniais A demonstração das variações patrimoniais ilustra as variações que ocorreram no patrimônio do ente durante determinado exercício, sejam elas resultantes da execução orçamentária ou independentes dela. Esse demonstrativo tem funcionamento similar à demonstração de resultado do exercício (DRE) das empresas privadas. A diferença é que a DRE apura lucro ou prejuízo. Já a DVP demonstra as alterações de natureza quantitativa nos itens do patrimônio do ente público. A DVP “permite a análise de como as políticas adotadas provocaram alterações no patrimônio público, considerando-se a finalidade de atender às demandas da sociedade” (MCASP, 2018, p. 444). Vejamos, na próxima figura, como é a estrutura de uma DVP. Acompanhe! - -17 Quadro 9 - Demonstração das variações patrimoniais Fonte: Elaborado pela autora, baseado em MCASP, 2018, p. 446. #PraCegoVer: quadro contendo a estrutura de uma demonstração das variações patrimoniais elencando todas as contas envolvidas em uma coluna dividida por tipo de variação, se aumentativa ou diminutiva, e mais duas colunas contendo os valores do exercício atual e do exercício anterior. As variações patrimoniais aumentativas são aquelas que provocam alteração positiva na situação patrimonial do ente. Já quando a alteração é negativa, diz-se que ocorreram variações patrimoniais diminutivas. O ato de provocar alterações na situação patrimonial deriva da natureza quantitativa das variações. Já o não provocar deriva da natureza qualitativa. A DVP evidencia as duas naturezas, separadamente. 4.4.2 VPA e VPP: variação patrimonial ativa e variação patrimonial passiva Variação patrimonial ativa era o nome utilizado anteriormente para evidenciar variações ocorridas no patrimônio que denotam aumento patrimonial de forma quantitativa. Atualmente, essa denominação é utilizada como variação patrimonial aumentativa. Já a variação patrimonial passiva é conhecida hoje como variação patrimonial diminutiva e evidencia alterações negativas no patrimônio, ou seja, que diminuem a situação líquida patrimonial de maneira quantitativa. - -18 4.5 Notas explicativas Todos os demonstrativos contábeis, quando necessário, necessitam de notas explicativas. Para cada um deles, as notas elucidam particularidades inerentes ao respectivo demonstrativo. As notas explicativas servem como um detalhamento de alguns itens que compõem os demonstrativos contábeis e que necessitam de melhor explicação sobre as alterações ocorridas. Normalmente, são aquelas variações que chamam mais atenção de um período para o outro, provenientes de fatos que merecem um detalhamento mais minucioso. Elas são parte integrante das demonstrações contábeis, complementando ou mesmo suplementando uma informação relevante do demonstrativo. As notas explicativas contêm informação adicional em relação àquela apresentada nas demonstrações contábeis. As notas explicativas oferecem descrições narrativas ou detalhamentos de itens divulgados nessas demonstrações e informação sobre itens que não se enquadram nos critérios de reconhecimento nas demonstrações contábeis. (NBC TSP 11, 2018, p. 3) Apesar de teoricamente serem uma informação extra às demonstrações contábeis, existem entidades do setor público que divulgam notas explicativas trimestralmente em um único relatório e dentro delas estão inseridos todos os demonstrativos contábeis pertinentes, tamanha sua importância. VAMOS PRATICAR? Se você conseguiu um balanço patrimonial de um ente público na prática do primeiro tópico, provavelmente conseguirá também a demonstração das variações patrimoniais. E você sabe por quê? Veja se você realmente entendeu a ligação entre os dois demonstrativos com esta prática! CASO Vamos exemplificar notas explicativas às demonstrações contábeis. Para o caso da demonstração das variações patrimoniais, deverão constar notas explicativas sobre valores relevantes, e não somente sobre valores que chamam a atenção, mas sobre fatos que merecem um detalhamento maior por serem importantes para a entidade, ainda que seus valores não os sejam. É o caso de constituição ou reversão de provisões, baixas de itens do ativo imobilizado, baixas de investimentos etc. Para cada um desses fatos, devem ser evidenciadas as naturezas e seus valores. Da mesma forma, os demais demonstrativos devem tratar informações relevantes por meio das notas explicativas. - -19 Conclusão Chegamos ao final desta unidade e você teve a oportunidade de conhecer as demonstrações contábeis aplicadas ao setor público exigidas pelos normativos pertinentes. Cada demonstrativo ilustrado foi explorado de forma a deixar clara a compreensão sobre sua importância para a transparência da informação contábil dos entes públicos de maneira geral, visando à prestação de contas de suas ações perante a sociedade. Nestaunidade, você teve a oportunidade de: • conhecer a legislação e os normativos contábeis pertinentes aos demonstrativos contábeis; • conhecer e aprender sobre o balanço patrimonial e sua elaboração; • entender o que é e como se estrutura um balanço orçamentário; • aprender sobre o balanço financeiro e suas particularidades; • compreender as notas explicativas e sua inserção como complemento dos demonstrativos contábeis. Bibliografia BRASIL. . Estatui Normas Gerais de Lei Federal 4.320, de 17 de março de 1964 Direito Financeiro para elaboração e controle dos orçamentos e balanços da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L4320.htm. Acesso em: 7 jun. 2020. FILHO, J. E. B. abordagem simples e objetiva. São Paulo: Atlas, 2014.Contabilidade aplicada ao setor público: CFC. . Brasília: Conselho Federal de Contabilidade, 2018. Disponível em: NBC TSP 11 https://www1.cfc.org.br /sisweb/SRE/docs/NBCTSP11.pdf Acesso em: 24 jun. 2020. SECRETARIA DO TESOURO NACIONAL. MCASP. 8. ed.Manual de Contabilidade Aplicada ao Setor Público – Brasília, DF: 2018. Disponível em: https://www.tesourotransparente.gov.br/publicacoes/manual-de- contabilidade-aplicada-ao-setor-publico-mcasp/2019/26. Acesso em: 7 jul. 2020. SLOMSKI, V. de acordo com as normas internacionais de contabilidadeManual de Contabilidade Pública: aplicadas ao setor público (IPSASB/IFAC/CFC). 3. ed. São Paulo: Atlas, 2013. • • • • •
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