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FSM – P7 – M13 | HELOYSA RIBEIRO 1 Medicina Legal Heloysa Ribeiro INTRODução DEFINIÇÃO É a Medicina a serviço do Direito. Consiste na aplicação dos conhecimentos médicos para atender as necessidades do Direito. É uma especialidade médica - resolução do Conselho Federal de Medicina que, em 2018, elenca as especialidades médicas que inclui a especialidade de Medicina legal e perícia médica. Assim como outras especialidades, pode ser realizada através de provas de título e/ou residência médica. No Tratado de Medicina Legal de Genival Veloso de França, referência literária para o estudo dessa disciplina, a Medicina Legal não é considerada especialidade médica porque a edição mais recente é de 2017, anterior a resolução do CFM. Exercício médico no campo da Medicina Legal acontece de forma compulsória, de modo que uma autoridade (juiz de Direito ou delegado de polícia) determina a realização de uma perícia. Isso ocorre no fórum penal, em casos como lesões corporais, ofensas físicas e crimes sexuais, em que a vítima presta queixa na delegacia após sofrer um crime. • Esses crimes deixam vestígios no corpo da vítima, sendo considerados matérias médicas que são analisadas por um perito oficial ou por qualquer médico (quando não há perito oficial na localidade) nomeado pela autoridade judicial. • Logo, a autoridade judicial tem a obrigação de determinar a realização da perícia e o médico nomeado tem a obrigação de realizá-la. Obs: Se o médico se recusar a realizar a perícia pode pagar com multa, responder pelo crime de desobediência ou ser conduzido coercitivamente até o local da perícia. Exemplo: Diante de um crime de lesão corporal, o delegado registra o boletim de ocorrência da vítima e em seguida tem por obrigação determinar a realização de perícia, nomeando um perito oficial ou outro médico, para verificar a existência da lesão corporal e as eventuais consequências para a vítima e para o agressor. A partir das provas produzidas pelo médico, a lei poderá ser aplicada de acordo com a gravidade do caso. CONTRIBUIÇÕES PARA O DIREITO 1. ELABORAÇÃO DE NORMAS: função legislativa “Contribui na elaboração e revisão das leis em que se disciplinam fatos ligados às ciências biológicas ou afins.” (FRANÇA, Genival. 2017) Exemplo: Na elaboração de uma legislação sobre transplantes de órgãos e tecidos é necessário o conhecimento de transplantes, do ponto de vista médico, para orientar a elaboração dessa norma. Os legisladores não são necessariamente especialistas em Medicina. 2. INTERPRETAÇÃO DE NORMAS: função doutrinária “No trato das questões periciais nos seus pleitos judiciais, seja na análise dos diversos ramos do Direito que necessitam de interpretação médico- P7 – M13 Prof: Dr. Ronivaldo de Oliveira FSM – P7 – M13 | HELOYSA RIBEIRO jurídica que encerra a nova doutrina” (FRANÇA, Genival. 2017) Exemplo: Uma norma que trata do aborto e determina o aborto não punível em casos de risco para a vida da mãe. Essas situações em que a gravidez deve ser interrompida para salvar a vida da gestante é determinada pelo médico, podendo haver até mesmo diferenças de entendimento temporais entre os códigos penais. 3. APLICAÇÃO DE NORMAS: função pericial “É a sua forma mais anterior e está voltada aos interesses legispericiais da administração da Justiça.” (FRANÇA, Genival. 2017) É a face mais conhecida e mais aparente da Medicina Legal. É nela que a contribuição se dá de forma mais frequente, com a realização de milhares perícias médicas, no INSS, na Justiça Federal, na Justiça Estadual, na Justiça do Trabalho e em âmbitos administrativos (juntas médicas municipais e federais, órgãos públicos). Exemplo: Realização de perícia médica para avaliar suspeita de crime por lesão corporal. Entre as três contribuições citadas acima, a mais comum é a prática da Medicina Legal Especial ou Pericial no campo do Direito Penal, de forma coercitiva. • Em localidades que não existem Instituto Médico Legal (IML), é comum que os delegados determinem a função pericial aos médicos plantonistas ou das Unidades Básicas de Saúde. Nos outros campos do Direito, como o Civil e o Trabalhista, a atuação é menos comum e ocorre através do cadastro e nomeação judicial, normalmente de forma não coercitiva. As perícias podem ser realizadas por diferentes categorias de peritos: ▪ Perito louvado: atua no campo Penal de maneira compulsória ao ser nomeado pelo juiz quando não há perito oficial. ▪ Perito juízo: atua nas diversas esferas do Direito de maneira não compulsória ao se credenciar e ser nomeado para a prestação do serviço e, eventualmente, atuar também como assistente técnico da parte autora. MÉDICO LEGISTA X MÉDICO PERITO Os médicos peritos são médicos legistas? Não! → Um médico legista é obrigatoriamente um perito oficial, no entanto, um médico perito não é obrigatoriamente um médico legista. Médicos Legistas: são aqueles que trabalham no Instituto Médico Legal (IML), exercendo a posição de perito oficial do campo Penal no IML e que ingressam nesse serviço através de concurso público. É importante lembrar que nem todo legista atua na justiça, juntas médicas e/ou INSS. Médicos Peritos: são aqueles que realizam perícias em juntas médicas, no INSS e na Justiça, sem vínculo com o IML. MERCADO DE TRABALHO A Medicina Legal se insere no mercado de trabalho de forma que pode se associar a outra especialidade médica. É um campo de trabalho aberto a qualquer médico e de boa remuneração. A área pericial é uma área médica que possui bons empregos com boa remuneração, seja como perito federal com vinculação (ex: perito do INSS), perito da Justiça Federal sem vinculação (prestador de serviço) ou médico legista (concurso público). MEDICINA LEGAL Classificação de acordo com a finalidade: Legislativa: “A Medicina Legal Legislativa contribui na elaboração e revisão das leis em que se disciplinam fatos ligados às ciências biológicas ou afins.” (FRANÇA, Genival. 2017) Doutrinária: “A Medicina Legal Doutrinária trata de temas subsidiários que sustentam e explicam certos institutos jurídicos onde o conhecimento médico e biológico faz-se necessário e, por isso, ela é, na verdade, bem mais uma ordem do pensar do que do agir.” (FRANÇA, Genival. 2017) Pericial: “A Medicina Legal Pericial, também chamada de Medicina Forense ou 3 Medicina Legal Judiciária, é a sua forma mais anterior e está voltada aos interesses legispericiais da administração da Justiça.” (FRANÇA, Genival. 2017) Sinonímia Mesmo considerando-se, na maioria das vezes, Medicina Legal como sinônimo de Medicina Forense e de Medicina Judicial, é evidente que estas duas últimas expressões são mais ajustadas às atividades das instituições de perícias junto à administração dos tribunais, enquanto Medicina Legal tem, pela maior extensão e abrangência, uma contribuição que vai mais além, inclusive com sua contribuição legislativa, doutrinária e filosófica, advinda principalmente do ambiente universitário. Certamente por isso Medicina Legal é a denominação mais aceita. O uso a consagrou não como a mais correta, mas como a menos imperfeita. (FRANÇA, Genival. 2017) Relação com os ramos do Direito Existe um pré-conceito formado na sociedade de que a Medicina Legal está associada somente ao Direito Penal e se resume aos crimes e as necropsias no IML. Essa é uma ideia equivocada, porque até mesmo a maioria dos exames realizados no IML ocorrem in vivo, como exames de sexologia, paternidade, lesão corporal e embriaguez. Além de se relacionar com todas as especialidades médicas, a Medicina Legal também se relaciona com as ciências jurídicas e sociais e aos diversos ramos do Direito, de modoque presta importantes contribuições ao Direito Penal, Civil, Administrativo, Processual, Trabalhista, Penitenciário, Ambiental, Desportos, Internacional Público e Privado, Comercial e Canônico. Existe uma associação entre a figura do perito e a Medicina Legal, já que a perícia é uma das atividades mais comuns, pelo médico perito, no exercício da Medicina Legal. → A perícia é um exame realizado por uma pessoa que possui conhecimento profundo sobre a matéria e dela nasce um conjunto de informações que vão compor um documento oficial, seja um relatório/laudo médico ou pericial, um auto ou um parecer médico-legal. Exemplo: Relação da Medicina Legal com o Direito Trabalhista ➜ Um trabalhador (periciado), diante de uma fratura de fêmur (fato de natureza médica), solicita administrativamente um benefício (auxílio por incapacidade laboral, anteriormente conhecido como auxílio doença). Para avaliar a existência e o tempo da incapacidade é necessário um parecer médico a partir de um exame (perícia) feito pelo perito federal (médico perito do INSS), que gera informações necessárias para compor um documento oficial que, juntamente a outros dados, irá determinar ou não a liberação do benefício. → A realização de perícias médicas quanto ao destino se dá de maneira coercitiva diante do fórum penal, enquanto nos fóruns civil, trabalhista, militar e administrativo o médico se credencia junto ao juízo e espera a nomeação. A perícia de destino do fórum penal terá ênfase nessa disciplina e na prática de médico clínico geral. 1. OBRIGAÇÃO SUI GENERIS - “Sui generis” é uma expressão em latim que significa “de seu próprio gênero”. Muito utilizada no Direito, ela indica algo que é particular, peculiar, único. O profissional médico na prática diária tem por objetivo atender ao interesse do paciente que FSM – P7 – M13 | HELOYSA RIBEIRO procura assistência médica, examinando e traçando alternativas de tratamento/cura. O serviço de um médico perito/legista é determinado por uma autoridade judicial, de modo que o periciado não está à procura de assistência médica e o perito não tem obrigação de atender ao interesse do periciado. O parecer do perito/legista pode ir ao encontro (a favor) ou de encontro (contra) ao interesse do periciado. 2. SEGREDO MÉDICO MITIGADO Em regra, um médico é obrigado a guardar segredo das informações que tem conhecimento no exercício da profissão. Para um perito, o segredo médico é tratado com uma certa atenuação porque o seu serviço é solicitado para revelar um fato que é interesse da Justiça e porque as informações devem constar nos autos do processo. O segredo médico não deve ser confundido com o segredo processual. Existem processos que tramitam publicamente e podem ser acompanhados por qualquer cidadão, enquanto outros correm em segredo de justiça. 3. CARÁTER COMPULSÓRIO Nas localidades que não existem médicos legistas, as demandas periciais de crimes que deixam vestígios nos corpos das vítimas são destinadas coercitivamente pela autoridade judicial a um médico.
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