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Cervo, Amado Luiz - Inserção internacional

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Amado luiz Cervo _do_. __ ·NPP 
Indtuto di Relações Int,'nllcioNlÍl - tRllPUC-Rio 
INSERÇÃO INTERNACIONAL: 
FORMAÇÃO DOS CONCEITOS BRASILEIROS 
Obra apoiada por bolsa de Produtividade em Pesquisa do CNPq 
n,.Ed'tMa \..-4 Saraiva 
,. 1ÀIllb 0l 5llo YICINII. !Ml_UPOIl:D.!I)I 
.. - 1iI: flAl !»J:1l1llill-JXKJ 
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r ...... lIIXlln}JiI .. m - SIIIPaIII -SI' 
I1dAo;olll<!rilll !IiIJ:!Iowo __ Ofttr .... 
foJI'Co\I;l MwcI>. 56 - Cd'Il 
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SÃQPlI.o\O 
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ISBN 
CIP'· !fIASIL CAJ.I.I.OOAC,I, NA fOlflE 
SIIIOICAJO DOS lD!fOOfS rx LMIOS. RJ , 
, 
C!r'IG. - Si) PU« m . 
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1.1'D1t'a 1nler1iV1)(I1I · SrWl l . 
J, 8ozI1- PIIf\U«:OI'IIlmi1 t. (k",il • OjO'I'eIilO I. Trtlll.l . 
01·2SlII. 
." 
coo 32111 
coo l;?7.(IT) 
Sobre o autor 
Amado Luiz Cervo é professor titular de Relações Internacio-
nais da Universidade de Brasília e do CNPq. Pos-o 
sui J 6 livros publicados, 33 capítulos de livros 33 artigos em 
periódicos especializado". C:ontribuiu para a dos 
estudos de Relações lnternlldonais no Brasil, promovendo, cm 
especial, a histó ria das relações internaçionaiS. Manteve estreita 
cooperação com centros avançados do exterior, 
pensâvd para quem se ocupa com o campo das relações inter-
nacionais. Aproximou estudiosos brasil eiros, particularmente da 
Universidade de Brasilia, onde trabalha desde 1976, com 
de outros países, sobretudo argentinos, franceses, pbrtugueses, 
italianos e alemães. Em reconhecimento por sua contribuição à 
lnstituição e às ciêricias humanas, a Universidade de &bf1ia con-
cedeu-lhe.o título de Professor Emérito. 
Contato com o autor: 
amadocervo@editorasaraiva.com.br 
= 
= 
= = 
" i 
.. 
Prefácio 
A política externa do Brasil foi, durante muito tempo, uma 
espécie de domínio aristocrático, reservado a certos segmentos 
da elite agrária e da incipiente burocracia. Teve, inegavelmente, 
sucesso em seu objetivo prinripal, qual seja garantir ii integrida-
de territoriaJ e a legitimidade das fronteiras . Ao mesmo tempo 
buscava boas perspectivas comerciais na Europa e a segurança na 
América do Sul (onde o País era um Império entre Repúblicas), 
particularmente na Bacia do Prata. Com o advento da Repúbli-
ca, e a paralela da ..vgentina, a"ã1p[oinada 
'prõcUrou a não I:;.sCJita': c.om ,0 ,5 E.<.tsclos Unidos, barga-
- _... -
Mas a Grande Depressão, de 1929, pôs fim ao provincianis-
mo da oligarquia cafeeira e impulsionou a industrialização e a 
construçiio de um Estado e de uma nação modernos, com a con-
seqüente emergência de uma política externa mais ativa, volta-
da ao apoio -ao desenvol vinJento. A agenda diplomática de uma 
sociedade em plena industrialização sofreu profu nda alteração, 
pois o Brasil não poderia permanecer como aliado secundário e 
regional de uma (mica potencia. Com a Política Externa Inde-
-
= = = 
-= 
VIII 
pendente o POlís superou sua dime nsão regional, d iversificando suas pan:erias 
e atingindo todos os cont inentes. 
Mudanças de regime, apesar de seguidas por hiatos de liberalismo eco-
nómico e alinhamentos subordinados no plano externo, não c.heg.u:am a 
interromper uma linha diplomática que tcm sido, predominantement e, de 
Estado e não de governo. Com uma sut ile7.a instigante, a Casa de Rio Bran-
co manteve com criatividade a defesa de princípios próximos ao idearia de 
Bandung, que forjou muito antes conferência. Sessenta anos após a 
crise de 1929, o país e ncerrava um ciclo de desenvolvimento bem-sut.:ed ido, 
apesar do aprofundamento das dt!sigualdades sociais. 
( Os abalos na estrutura do sistema mundial, com o fim da bipolaridade, 
obrigaram o Brasil a buscar novas fo rmas de inserçãó diante da globalizaÇãoJ 
Com o profissionalismo que caracteriza ó ltamarat)', já vinh a sendo buscad:l 
aproximação com os \-Junhos, paradoxalmente, a última fron teira a ser 
explorada por nossa d iplomaci:i't< Ao mesmo tempo, iniciavam-se com inten-
Sidade os estudos acadêmicos d'e relações internacionais no País, em meio a 
certa perplexidade quanto ao caminho a seguir. 
Houve quem pregasse o abandono da rica tradição diplomática bmsileinl, 
atitude que começou a reflui r no fim da década de 1990. Para tanto, foi fun-
damental o posidonamento de alguns acadêmicos criticas, como o autor deste 
livro, que oUSaram manter uma oposição construtiya. Ele desenvolveu uma 
re flexão rica sobre a interação e ntre a politica C1\ tema e o Estado-nação lUl 
construção do desenvolvimento. Amado Ct>rvo, de formação , con-
seguiu apree nder, 30 longo de sua trajet6ria pro6ssional, O 4\le Pierre R.enouvin 
denominou de/orças profwuins das relaçóe5 internacionais do Bnlsi!. 
Nesse se ntido, este livro representa ú coroamento de uma carreira de-
dicada ao estudo da política exte rna brasileira. Sintetiza o conhecimento 
. empírico acumulado, enriquecido com uma teorização madura que analisa 
as escolas de pensamento diplomático c estabelece uma periodização, a qual 
ident ifica as tendências dominantes e os momentOs de exceção. Seu embasa . 
menta der::orre de um uabalho de mais de trinta anos como professor univer-
sitârio, quase todo na Universidade de Brasília, sendo o pioneiro acadêmico 
no estudo das modernas internacionais TI O Brasil. 
Depois do lançamento de Conraro 1m Ir e civilizações, em 1975, foram de-
zenas de artigos e livros, dent re os qua is destaca-se O dá ssico manual História 
da Política Exterior do Brasil. redigido cm pan.cria com C lodoaldo Bueno. 
Com seu estilo afável, mas extremamente fi rme em suas convicções, Cervo 
realizou seus estudos de pós-graduação em Estrashurgo, mas jamais adotou 
uma visão colonizada, apesar de seu fino viés .. no plano pessoal. 
_ • Autêntico cavalheiro de fala m ansa, Amado Cervo orientou dezenas de 
teses, formou uma geração de professores e, pardalmente, d e- diplomatas, 
criando redes internacionais de pesquisa e desenvolvendo uma intensa ati-
vidade editorial e institucional. Seu trabalho, sem dúvida, projetou o Brasil 
no campo do estudo das relações int e rnacionais, assim como também con-
trirnliu decisivamente para o est abelecimento de uma sólida ligação entre a 
academia e a diplomacia. 
Seu universalismo se associou, dialeticamente, a um sentimento de brasi-
!idade, tão necessário nos dias de hoje . Tendo participado por dez anOS de um 
Projeto Integrado de Pesquisa sobre a História das Relações Internacionais, 
liderado por ele e financiado pelo CNPq, sinto-me homado pelo convite para 
prefaciar esta importante obra. Como cientista soeilll, Cervo demonstra que 
não existe ação política sem ideologia, e que nada é mais ideológico do qu(' 
a defesa do m ercado como panacéia univerMI. E, nesta obm, fi ca 
daro que não pode haver uma grande diplomada sem um grande pensamen-
to nacional. 
Paulo G. Fagundes Vizentiflj 
Prof. Titular de. Relações Internacionais da UFRGS 
IX 
' .. . , 
" 
Sumário 
Introdução ....... ...... _ ....... .. " ............................... .. ... 1PARTE 1- CONCEITOS. rRANSlçÕES E PARAOIGMAS 
Caprtulo 1 No Bresil: da teoria à prótica ......................... . ........... ............... _ .... 7 
'- 1.1 Diplomacia, politica eldClior e relações inlernaciol!ais ............. . ....... _ ............... 8 
1.2 Tendências do pensamento brasileiro aplicado as relações irrtemacionais.. . ... 12 
1.2.10 Brasil e II Cepal •. H ..... . _. . . .. .... .. ...... . ....... • ... . ....... .. 14 
Teorias da depandência e pensamento independenusta ........... __ ........... _ .. 15 
1.2.3 Neoliberalismo e globalilaçãoH ....... __ .............. _.H . .................... .... ..... .•..••.. 10 
1.3 Acumulado histórico da diplomacia brasileira ,,_. . .. ......................... ........... 2fi 
Capítulo 2 Transições: regime político, governo, partido e ideologia 
no poder............................. ......................... ... . ..... .. 33 
2. , Transições: o problema cognitivD ................. . . ......... _ ........... ............. ... ............ _ ... 34 
2.2 1889: Transição da MonarQ\lia ii República lo! interesses de grupo ........... _ ...... _ .. _41 
2.3 Dêcada di 1930: IndllSltializaçlio e interesses da naçio ....................................... _.43 
2.4 Periados de 1945·47 e 1964-67: Redemoc ratilaçao e regime militar, 
dois hiatos liberais e interesses ocidelna is ........ .. ........... ............... ......... .. . .... 46 
2.51985: Transiçio sem mud. nça .................................... _ ..... _ ...... _........ ......... 50 
-= .= 
= 
= 
= 
XII 
2,6 A dacada de 1990: Neoliberalismo de verdo democrática e interesses globais ... ...... _ .... 50 
2.7 2003: Continuidade demDCrática. mudança de mDdelo ti interesses sociais ........... ........ _.53 
CapitJJlo 3 Paradigmas da politica exterior: liberal-conservador, 
desenvollJimentista, neoliberal e logístico.............. . .. , ......................... 61 
I I TeOfias de retaçô8$ internacionais: quais 8 para que? ... .. _.M......... . ........ __ ... &2 
3.2 Componentes do conceito paradigmático ............ ...... ............ ... . ........ ......... .... .. 65 
3.3 O paradigma liberal·conservador do século XIX e da Primeira Republica 11810-.1930) ..... 67 
3.4 O paradigma desenvolvimentista entre 1930 e 198'3 ._._ ........ _... . .... _ ................... 71 
3.5 O paradigma normal. tambêm chamado de neofiberal (1990-20021 .. . .. • .16 
3.6 O paradigma !ogfstico ..... __ ._ ............................... _._.......... .. . ..... ....... 82 
PARTE 11 - O BRASIL DIANTE DA GLOBALIZAÇÃO E DA REGIONALIZAÇÃO 
- Capitulo 4 O Brasil diante da ONU e da OMC. das conferências internacionais, de 
outros órgãos multilaterais globais e da sistema interamericano ........ 93 
4.1 Multilateralismo ..... .... ......... _ .. _ .......... _ ..... ..... _ .................... .... ............... 54 
4.2 Contribuição do Brasil II do sistema multilateral do pós·guerra ... . ... 95 
4.3 A relOlma do sistema multihnerel: os conceitos dos anos 1950 e a 
luta das dêcadas seguintes ......................... _ ............................................... ........................ 97 
4.4 Agir por dentro do multilateralismo com ob jetivos próprios: o propõsrro na era da 
........ ....... _ ....... _ ....... _ .. _ • ................ _ ................. . .. ..•. 102 
4.4.1 Evolução dos conceitos .......................• . ........................................ _ ............. 102 
4.4.2 Os objetlvos prôprKls ....... IOS 
4.5 O sistema illtaramericano ..... ........................... ..... . .. 11 2 
4.6 A idéia brasileira de multilateralismo .................................................. ... _ . .......................... 113 
Capitu lo 5 Se!lurança, defesa e politica slIterior. .............. . ................... ... 117 
5.1 As questões da seguranç a ........... .. ............................................... . ....... .............•. .......... 118 
5.2 A escola geopolitica brasileira ... ... . .......... _...... ....... .. . ... 119 
5.3 Genese da relaçao entre segwsnça e politica exterior: 1822·1945....... .. ... . ...... 12\ 
5.4 Segurança coretiva sob hegemonia norte-americana. 1945-61 .................. _....... . ..... 128 
5.5 O conceito de poder e a nacionalização da segurança, 1961·89 .......... . .. 131 
5.6 A Zona de Paz na América do Sul. a segurança multileteralizada a 
a relevância global do 8rasil... ..... _ ... _ ...................... _............. ..136 
5.Ii.l Uma Zona de Pazllara a América do SuL .............................. ............. _ ......... : ........... 137 
5.6.2 A segurança rnl.lltilateralizada . .................... _ ... __ .... . ... _._ ............. _141 
5.6,3 Volta ao realismo _ ....................... .............. , .. _._ ... _ ...... ..... .. _._ .. __ ...... .... . 144 
S,7 COntlusões ... _ ...... H ••• • ••••• _ • • ••••••••••••• • ••••••• _._ •••••••••••• _ ••••••• _. • _ _ ••• __ ._ ••• • •• • _ •• __ •• _ •• • __ •• _148 
Capítulo 6 O Brasil e 8 formaç ão dos blocos ....... .. .. ......... .. _ .. _ ............... ;{51.) 
6.\ Globalização e integraçio._ ..... _ ............... __ ....................... _ .............. ..... ___ . .... _ ...... _. I!J2 
6.2 FormaçDo do pensamento integracionista no Brasil e na América do Sul.. . ........•..... 153 
6.3 A idéia integraciooista em marcha ........................................... _ ............................... _ .. 158 
6.4 Consolidaçio do Morcosul e avaliação de resllhados ............................................... _ ...... 162 
6.5 A vocaçlio industrlil ii preservar .... ... ........... ...... .. .. . .... 166 
6.6 O Brasil e o Mercosul diante de outros blocos de fim integra cionista ......... .... .. ....... ... .. 172 
Capítu lo 7 Relações intersocietárias: migrações, turismo, 
coopera çao científica .......................................... . ............. 177 
7.1 Relações inlersocielárills ................................. _ ....... _ ... .....• _ ... _ ........... _ .......... _ ... _ ...... _ ..... 178 
7.2 Da imigração à emigraç!fo ............... ... . .. 179 
7.3 O turismo no Brasil ................................................. ........ _ ..... .•.. 183 
7.4 Da cooperaçiio técnica à cooperação ciantífica ................................... ......... _ ............... 187 
PARTE III - AS R'LAÇO,S REGIONAIS 
Capítulo B O Brasil e seus vizinhos da Am éric a do Sul. ................ ." .. 
8.1 O olhar sobre a vizinhlloça ... _ ............................................ _ ............................. _ ....... .... 196 
8.2 Bases mentais B cutturais das relações do Brasil com seus vizinhos .............. ....... ........ 191 
8.2. \ Carências do pensamento cer)a lino ...... _... . ..... ........................................... 198 
8.22 Gerência das capacidades de poder ........................ .......... _ ..........• _ ....... _ ............ ... 199 . 
81.3 Emergência do EstadD loglstico .. ................ . ........... : ..•... 200 
8.2.4 A idéia de América do Sul ................. ... . . ................ .. ................. .... 202 
8.2.5 O paradigma da cordialidade oficia l ............... ................................ _ .. : .: ... 204 
8.3 Quatro paradigmas de relações entre vizinhos da América do Sul. 
8.3.1 Rivalidade .................. ....... .. .. ... ...........•.. . .. ..... 201 
8.3.2 Cooperação e conflito __ .•. . 
8.3.3 Relações ciclicas .... ........ .. ...... . 
B.3.4 Ralaç5es em eixo ...... 
................•. _ ... _ .... _ ... _ ................. _ ... ................... : .. .. 2D8 
..... _ .. ....•.. ... ... ... 210 
........ ........ 211 
8.4 Aplicabilidade dos paradigmas de relações com a vizinhança ._ .. ........... _ ............ 214 
XIII 
r' 
I 
XIV INWlÇiO INTEIIfIACIONAI.; JilRIIII.o.çÃO DOS CONCfJTOS II\WWftClS 
Capítulo 9 Brasil e Estados Unidos: a parceria estratégica ..................... . . .. .. 219 
9.1 Buscando compreender .. H .. ..... . . . .._ ... 220 
910legado do barão do Rio 8r8nco._ ............ _ ......... 221 
9.3 parcerill estratégica: gt1nese do conceito ... _ ........ _.N ..... . • •••• ••••••••••• H • •• _ •••• _ _ ••• _ ••••• 224 
9.4 Hegemooia e estruturas hegemónicas .... _ _ ........ _... . ........ 226 
9.5 Como administrar as relações com os Estados UllidO$? ..... _ .. _ . ........ _ ...... _ .. _ ..... ___ ..... .2JO 
9.6 Da rivalidade emergente às relações perigosas .. . ...... .... _, .. _ ... ... 232 
9.1 As relações triangulares ......................... __ ......... _... . ........ _ ........ _._ ... _ ... _ ..... _ .... __ .231 
Capitulo la o Brasil e a União Européia .................... . ...................................... :.241 
10.1 Relações de intimidade ... .. ...... .. 242 
10.2 A esfera das relações sociais e culturais ..... _ .. _ ......... ................. 243 
10.3 A esfera das relações económicas e de poder .... .. ...... .. .. .. .. ... 247 
10.4 Relaçries entre blocos ................... _ ........... _ ...... _ ....................... __ ...... _ ..... _ .. __ .... _ ...... _ ... 251 
10.5 Relações triangulares: Estados Unidos, Uniao Européia. países emergeMes ..... ...... ..... 256 
Caprtulo 11 As relações com II Russia e o Leste europeu ..... ... . ................. 261 
11 .1 Transformações na região .... .. . ....... _ ..... _ .. .. .... ..261 
11 .2 O peso do comunismo ..... _ .. .. .. ........ ........... .... .. 263 
11 .3 O peso do neoliberafismo ........................... .. .. ................ __ .... _ .. _ .. _ ........ _ ... ......... _ ...... 265 
11 .4 Oportunidades da interdependência global .... , .. .... , ........... .. .. ............. 169 
Capítulo 12 As relações com o Japão, a China. a índia e o interior astático ....... 273 
12.1 O olhar brasileiro sobre a Ásia .. 
12.2 Japllo, a parceria estratégica ........... "._ .. ... ... h 
12.3 China. o futuro ao alcance ...... 
12.4 índia, a distAncia não percorrida .... . 
.. ..... ... 273 
... 276 
.. .•. 278 
.. ....... h ... _ .... __ .... ......... 284 
12.S Os tigres asiãlicos ............................................... h .. _ ........ ........ .. .............. ......... _ .... __ .... 285 
Capitulo 13 Próximo Oriente e África: oscilações da politica brasileira ............... 287 
13.1 Regiões instáveis, lelaçoes instãlleis _ ..... _ .... _ .... __ .............. .... :,_ ............ ............... _ .... 287 
13,2 Prôximo Oriente: presença, retirada e retorno ,... .. .... ... 288 
13.3 Álrica subsaa/iaIl3: Iltração e distanciamento ..... . .... "" ......... . ", ........... ,., .. ....... 292 
Introdução 
Um conjunto de conceitos, quando entrelaçados peja função 
de dar compreensão a determinado objeto de estudo na área das 
ciências humanas, conduz, em nosso entender, à teoria. O senti-
do desta obra se en4uadra nessa perspectiva e tem por objeto 3S 
relações internacionais do Brasil. 
A origem de nossos conceitos advém de duas fontes : em pri-
meiro lugar, uma vasta literatura, em pane referida a cada início 
de capitulo para orientar o leitor, expõe o resultado de estu-
dos desenvolvidos quer seja no seio de universidades brasileiras 
e estrangeiras, quer seja em institutos isolados de pesquisa ou 
individualmente; em segundo lugar, nossa própria obra publicada 
como resultado de décadas de trabalhos voltados ao tema das 
relações internacionais do País. 
Em ambos os casos, tÍVemos o propósito de expor o 
menta de modo original e novo, por efeito de seu ordenamen-
to, avaliação e atualizaçãu. Mesmo quando voltamos a conceit05 
próprios, diretamente ou pinçando-os em nossas publicações, a 
reflexão os depura e lhes dá o acabamento dest inado a produzir 
nova explanação que se aproxime da construção de uma teoria. 
z 
Para a confecção desta obrn, além das duas categorias de fontes cit3das 
anteriormente, fora m utilizadas as páginas que inúmeras man-
tém na Internet. Esse t ipo de fonte, embora conduza a textos superficiais 
quando adotada sem senso critico ou com excl usividade, útil ao 
analista que busca o complemento de SU3 pesquisa e necessita de 
tos oficiais, informações atualizadas acerca dos fatos , análises de conjuntura 
e artigos de smtese relativos à contempor:mcidatlc dos fatos. Citamos e ntre 
os siles mais relevantes o do Mini stério das Relaçõcs Exteriores, em prj. 
oleiro lugar, e de aJgum35 universidades, como a Universidade de'Br;asília,;] 
Universidade de Sõo Paulo. o Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de 
Janeiru c (I Centro Brasileiro de Relaçõcs Internacionais do Rio de Janeiro . 
A imprensa periódica, enfim, acrescenta, nesse sentido, outro complemento 
de informação e de opinião acerca rclaçóes internacionais, que também 
revd ou-se de bom aproveitamento. 
Este livro apresenta caráter didático, mesmo porque foi concebido a par-
tir da experiéncia de ensino na Unh'ersidade de Brasília e no Instituto Rio 
Branco, onde oferecemos, entre outras, as disciplinas de Hist6ria da PoHtica 
Exterior do Brasil e Política Externa Brasileira, esta última destinada à e:.:po-
do conceito, mais do que à narrativa . Dessa experiência didática , que 
associa pesquisa e ensino, tiramos o método utili7.ado nesta obra: extrair do 
conhecimento hist6rko conceitos explicativos da evolução, sem o que não se 
pode compreender o presente ou tentar c.ontrolar as tendências do futuro . 
Em razão dessa concepção, a obra que oferecemos ao leitor .envolve, c.m 
primeiro lugar, o objeti \'o da aprendizagem de professores e alunos dos cur-
sos de rdações. internacionais, porém também se preocup3 com os pronssio-
nais que necessitam d esse para tomar d(:ci5Ões no exercíciQ 
de sua profissão. 
A do livro três níveis de' análise: iniciamos pda 
exposição dos conceitos-chave das relações intemaqbnais no mundo atual 
e dos conct!itos aplicados à inserção do Brasil nesse c.enário; passamos jX:1a 
análise do modo Como O Brasil se conduz diante das dimensões globais das 
relações internacionais, como o muhilateralismo, as da globaliza-
ção e da integmção, a segurança e as relaçôes intersocieti'írias; e nnalizamos 
pelos eixos de rdaçôes regionais do país, a começar pelos vizinhos da Amé-
rica do Sul t" Estados Unidús, seguindo por ou trus eixos de relações com :l 
União Européia , a Rússia, a Âsia e a Áfri ca. 
1111OOUÇÃO 
A hipótese manipulada neste livro, com u intuito de buscar 
para as relações internacionais J o Brasil, coloc3 cm jogo a alternativa da ação 
estratégico. Diante de modelos de inserção internacional postos 11 escolha 
dos dirigentes c dos agente5 sociais, a alternância de longo.> prazo prevalece 
a continuidad e e provoca impactos sobre o destino da nação, 
porém, por vezes, especialmente nos anos recente5, elementos imbricados 
de diferentes paradigmas de relações inte rnacionais coabitam e os efeitos 
se entrelaçam. O fato é que o Brasil exibe entre as nações uma experiência 
singular, que o situa entre cerca de uma dezena de países que perseguem 
modelo próprio de inserção internacional, porque fazem de si idéia própria 
do papel a desempenhar no mundo. 
1 
·' 
.. 
PARTE I 
1IIIIIIIIIIIIIII IIIIIIIIIIIIIII IIIII1II IIIIIIIIIIIIIIIIUIIIIIIIII1IIII II II IIIIIIIIIIIIIIIIII""1II1I1II1J1II1I1II1II1I1I1II 
Conceitos. transições e paradigmas 
I. I • 
I 
" 
" . 
. , 
1 
No Brasil: da teoria à prática 
lflTURAS RECOMENDADAS: 
BAYLlS, John; SMITH, Steye. The GlnhülixariOll of World Poliries. 
Oxford: Oxford Universilv Press, 200! , VJGEZZI, Brunello. The Bri· 
lish Commiul!' 0'11 lhe l Mory o} Internll l ional PoIirics (1954-19851-
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da. Brasília: UnS, 2004 . DUROSELLE, Jean ·Baptiste. Todo impirir) pe_ 
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DUPAS, Gilberto. Hegemonia, Es ladu e gownlilbilidade. Perplexidades e alttmari. 
n .s no centro e na periferia . Sãu Paulo: Senac, 2002 . 
,_, Diplomacia, política exterior e relações internacionais 
Os termos diplomacia, polftica exterior e relações illternaóonais corres-
pondem a t rês da convivência entre os povos, as quais, ao con-
verterem-se em objetos de análise, dão origem a três conceitos distintos. A 
especificidade de cada conceito é dctum inada pelo grau de abrangência que 
comporta: as relaçõcs internacionais corresponde.m ao conceito mais largo, 
uma vez que incluem a política exterior, que, em ordem de 
abrangência, inclui a di plomacia . 
A diplomacia compreende a ação extema dos gove.rnos expressa em ob-
jetivos, vaJo res e padrões de conduta vinculados a uma agenda de compro-
missos pelos quais se pretende realizar detenninados interesses. Essa agenda 
é, em prind pio , detenninada mu ito mais de fora do que de dentro de cada 
nação. O elev9do gr9u de detemüllaçiio externa da diplomacia pode ser ob-
servado em sua dimensão global, regional e bilateral. 
O que internad onll.listas chamam de govcrnança ,dobai, sociedade inter-
nacional ou ordem universal constitui, ao mesmo tem po, um conju nto de 
regras, um cálculo de interesses e um código de valores. Quando uma conff'-
rência internacional promove a negoc iação desses elementos, por exemplo, 
no campo do meio ambiente, das fi nanças, do comé.rdo, dos direitos huma-
nos f' de outros di reitos, da segurança e de outt3S qucstões de alcance uni-
versal, li agenda não é determinada por esse ou aquele país ou bloco político, 
mas de forma cole tiva , nem sempre com o expressão da autonomia deds6ria 
nacional. Óbserva-se, ademais, uma disparidade de peso re lat ivo entre os 
govcmos, seja quando estabelecem 3 agenda internacional da d iplomacia, 
seja quando atingem resu ltados t"spemdos. Essa. disparidade de peso pode ser 
explicada pelo maior ou menor poder de que dispõe cada Estado ou bloco de 
Estados que com p&-m o sistema internaciona l. 
Os proC(·ssos·de integração que vêm St! multiplicando nas últimas décadas 
também esse caráter externo da d iplomacia, porquanto lidam com 
os mesmos fa tores em d imt'ns.1o regiona l. com vistas ao relacionamento dos 
países que imegram um bloco e do conjunto desses com out ros blocos ou . 
países. Mesmo a esfera da ação diplomática bilateral evidencia a externa Iida-
de da diploffiilcia, na medida que pelo menos dois governos em 
negociar uma agenda comum . 
Por a ação diplomática de todos os países e blocos de países, convi-
ria, para a sorte da humanidade, que se estabelecesse o equilíbrio na nego-
ciação, envolvendo interesses, valores implfcitos e regras comuns. Mas esse 
equih'brio não ocorre na prática e os conceitos de política exterior e relações 
internacionais fornecem explicações para as desigualdades entre poténdas, 
ou seja, entre capacidades díspares de influéncia dos governos no que diz 
respeito aos resultados da diplomática. 
AJ).tes de .1 3 política exterior gozava de elevada consideração pelos 
governos e e!o"tudiosos, porque, como se supunha, condicionava a margem de 
manobra de uma diplomacia. Depois disso, inteligências ficaram em dúvida 
quanto a sua conveniência, especialmente os neoliberais 
acadêmicos e dirigentes, que a desejavam enfraquecida ou mesmo banida 
do processo decisório de Estado e dos currículos nas universidades. A or-
dem sistémica provida pela globalizílção bastava, em seu ente nder. No início 
do século XXI, todavia, à sombra do unilateralismo norte-americano, bem 
como e.m razão de efcitos nocivos da globalização e estando a integração em 
baixa corno alternativa a esses proble mas internacionais, a política exterior 
recupc::rou seu lugor de destaque na consideraçiio dos governos e nos estudos 
acadêmicos. Na verdade, a politica exterior não perdera tanto espaço como 
disciplina acadêmica e prática política na era da globalização. Em países cen-
trais, a literatura a respeito da poIrtica t'.x terior não cessa de crescer. Na 
Aroéricól Latina, depois das críticas a que o modelo neoliberal esteve expos-
to, a política cxterior recupera seu prestígio. 
Uma das razões para isso consiste precisamente na conexão entre duas va-
ri áveis: a polftica exterior fornece o conteúdo da diplomacia, sendo respon-
sável por seus erros e acertos_ Diplomacia sem política não de cond uta 
vazia, movimento sem rumo, ação externa sem estratégia de realização de 
interesses nacionais e mesmo coletivos.(Cabe à política ex terior agregar os 
interesses, os valores e as prete ndidas regras do urdenamento globa l, da inte-
gração ou da relação bilaterai., é, prover u conteúdo da diplomacia desde 
uma perspect iva inte rna, quer scja nacional. regional, quer seja universa L, 
LA história das políticas exteriores evidencia as diferent es conce pções do 
destino nacional que intelectuais e estadistas propõem a su:.s n" .. ões, com 
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maior ou menor aceitação por parte da opinião publica, maior ou mcnor con-
versão em prãtica política. Para além do alc.:at'lcl" inter-no que essas concep-
ções envolvem, o papel do respa:ti\'o país SQbre o cenário internacional taro-
- bém se desvela por m eio delas. O mal!ifesr destiny oorte-americano, o grand 
dessein francês e a revoluçiio transnacional soviética são exemplos remotos 
dI! desígnios incrustados na política exterioi,1A Guerra Fria. a globalização e 
o combate ao terrorisfTlO são exemplos recentes de desígnios transformados 
em política caso do Brasil, em menor escala também em outros 
paíSt!s da Amt rica latina, 3 experiência h ist6rica permite construir o c.oncei-
to de projeto nacional de desenvolvimento, de finido como desígnio nacional 
.e .vetor da ação externa.] 
QU3ndo a opinião pública, os estadistas ou os intelectuais concebem o 
destino da nação, seu projeto e seu papel sobre a arena internacional estão fi -
x:lOdo pressupostos da política exterior, e quando os djplom:nas moldam sua 
ação sobre eles, estão cumprindo adequadamente sua função. Na ausénci3 
de tais pressupostos, o que também ocorre, por vezes, o processo decisório 
em política exterior subordina-se a valores, interesses e regras desejados por 
outros, que não os cidadâos de um de t'ennin3do país. Nessas condi ções, a na-
ção permanece em sua infância política e há necessariamente de ser tutelada 
ou dominada. Uma diplomacia adequada repousa, portanto, sobre a política 
exte rior e d ela tira orientação para estabelecer a equaliução entre os povos, 
úti l ã vida internacional. 
LA evolução dos sistemas de Estado desde tempos remotos até a 
internacional atual, segundo Adam Watson, evidenda a importãncia da cul: 
tura relações internacionais. Dominante.s (' dominados organizam-se em 
determinado por concessões de Estados ã autorida-
de, se-ja e la hegemonia, domínio ou império, porque aceitam regras corounse, assim, legitimam a hierarquia do poder) Colonialismo c impenalismo bro-
tam de conces'"sões de povos q\le se resignam à jnfância política efn nome de 
v:lJores culturais ou benefícios de aparente estabilidade. A sociedade inter-
nacional européia qu e se e:ot:pandiu em dimensão global TIO século XlX em 
mulO da cultural e da superioridade tecnológica consáva até hoje 
a he rança d o conflito com outras civiU7.ações. A harmonia entre os povos do 
pl aneta l'l'qucr a diferença5 culturais e a equali zação de ime-
não Alcançilf essa harmonia representa o maior desalio 
posto à sociedade internacional de no.'\5OS dias. 
No BR4SIL.: DA UOI!I.I ;. !'MIICA 
o conceito de relações internacionais evoca, pois, um fenômeno ainda 
mais abrangente do que diplomada e política exterior. A .. relações interna-
cionais compreendem três categorias de agentes: a diplomacia, o governo 
com sua política e a sociedade com suas forças. Esses agentes das relações 
internacionais se relacionam e nt re si de fonna a se poder vislumbrar um 
esquema de influências recíprocas. Assim, as forças sociais que espelham o 
grau de desenvolvimento econômico, como a apropriação de conhecimento 
científico, a inovação tecnológica, a organização empresarial e a concentraçáo 
de capital, mas 4ue também espelham outros fatores como a geografi?, a 
densidade demográfica, a cultura, a opinião publica e o sentimento nac ional, 
relacionam-se com a política exterior, uma vez. que a sociedade organizada 
pretende alcançar objetivos tnmsnacionais. Por efeito da racionalidade, as 
forças sociais condicionam, assim, o movimento das diplomacias, na forma 
de ação ou reação. 
O processo decis6rio dos governos equivale a um cálculo estratégico de 
meios, fins e riscos, no entender de Jean-Baptiste Durose1Je. Nele, d ige-
rem-se os componentes destes tcês níveis da realidade; forças sociais que 
fornecem meios de açâo, objetiv0s externos que correspondem a interesses 
a realizar e conduta diplomática coerente com os dois anteriores. A deci-
são em política exterior está re lacion ada com o grau de organização dessas 
forças sociais c com sua c3Pllcidade dI' influência sobre os A 
decisão também dep<!ooe da psicologia, do carater e do temperamento do 
homem de Estado. Ademais, é t ributária dos próprios fatos, na medida que 
um fato apenaS ou uma seqüên cia de fatos produzem, por vezes, impactos 
sobre a decisão. 
A gerência das re lações inte rnacionais requer, portanto, a abertura do 
Ministério das Relações Exteriores fi sociedade. A reconhecida capacidad e 
gerendal do setor externo por parte do Itamaraty, consideradas a dimensão 
e a 'complexidade da Sociedade brasileira , é metodologicamente insuficien-
te em termos pragmáticos. A penetração de agentes, ou seja, de forças 
sociais. no processo decisório e na negociação, que existe obviamente em 
determinado grau, contribui para adequá-los aos fins da política exteriDr. 
Por exemplo, os interesses do 'etor siderúrgico brasileiro em relação aos 
Estados Unidos, onde sofre restrições de mercado, somen te serão conte m -
plados se O diplomata ouvir o empresário e seu executivo. O estudante d e 
internacionais do Brasíl multiplicaria exemplos dessa natureza e 
11 
Lais
. 0 
12 CoN(;tnos, TAANslÇtirs (1'I\KAb1CMA5 
demonstraria a necessidade de abertura da diplomacia ii sociedade para 
dela tirar inspiração conceüuai e decisões práticas em áreas como investi-
mentos, indústria, exp:m5ão empresarial, agricultura, meio ambiente, tu-
rismo, artesanato, migrações, direitos humanos e outras que a diplomaci<1 
tem dificuldades de identificar. 
1.2 Tendências do pensamento brasileiro aplicado às relaçoes 
internacionais 
O pensamento internaciona lista lança raízes longínquas na História. Des-
de o aparecimento do Estado moderno, no século XVI, as relações interna-
cionais despertam curiosidade e uma estirpe de grandes pensadores, hoje 
incorporados ao patrim6nio intelectual da humanidade, tomou-as como ob-
jeto de reflexão ao longo dos séculos . Mesmo correndo o risc;o de deixar im-
portantes pensadores fora, nao os mencionando aqui, lembr-.1mos alguns: 
Bartolomé de Las Casas e Tomás Moros que escreveram sobre o contato 
entre civilizações; Nicoli> Maquiavel, sobre a arte da guerra; Hugo Grotius, 
sobre o direito internacional; ElTlmanuel Kant, sobre a hamlOnia universal; 
Leopoldo Von Ranke, sobre a história das relações entre os Estados; Adam 
Smith e Karl Marx, sobre as reJaçf>es econômicas internacionais. 
À época da Segunda Guerra Mundial, esse pensamento internacionalista 
evoluiu e tomou-se disciplina acadêmica. Alcançou grau mais elevado de 
ab;,1:ração e maior alcance explicativo, multiplicando-se as teorias de relações 
internacionais. Umas brotavam da História, alargando o campo de observa-
ção e usando o método indutivo, outras lluiam de pressupostos conceituais 
e utilizavam o método dedutivo. As teorias mais consistentes são aquelas 
que sabem gerendar a relaçào entre a fonnulação teórica e a base históri-
ca de observação. Na Inglaterra e, sobretudo, nos Estados Unidos, a teoria 
das relações internacionais abrigou-se nas universidades e revelou prl'tensões 
epistemológicas e práticas ambiciosas: fornecer a e.,<plicação-chave p:!ra as 
relações internacionais e inspirar as decisões dos dirigentes. As teorias fir-
maram-se como corpus de conhecimento nos países que criaram centros de 
pesquisa e ensino e são até o presente muito úteis, porquanto contribuem 
para iluminar o campo de estudo das relações internacionais com cOnceit05 
que lhe dá!) compreensão e inteligibilidade. 
As teorias te.ndem à abstração, como, aliás, todo conhecimento cienti· 
fico, e adquirem, pela via da gC'neralização, alcance universal. Em vez de 
revelar consistência e reali7.ar os dois objetivos a que se propõe - produzir 
inteligibilidade e inspirar a decisão - , a pretensão universal const itui uma 
fraqueza. Os crfticós estão convencidos de que não há teoria acabada na área 
das ciências humanas e sociais que lidam com o comportamento humano. 
por isso não se Furtam em demonstrar a forma contradit6ria c polêmica com 
que as teorias vêm evoluindo nas últimas décadas. O estudioso das relações 
internacionais percebe, contudo, outra limitação. k teorias carregam consi -
go valores e veiculam interesses das naçõcs cujos intelectuais as concebem, 
por mais isentas e objetivas que se apresentem. Es.«! fato não deve ser to-
mado como deprimente, porém exige leitura crítica das teorias para evitar 
que acentuem \J fe nômeno da dependência cultural entre os povos, além de 
assentar o mundo sobre pafses que t iram proveito das relações internacionais 
e outros que são explorados porque se deixam explorar. 
Em termos comparativos, o Brasil é um país que acumulou sólido pen-
samento, que não evoluiu, contudo, para a teorização das relações inter-
nacion3is. Perde para seu vizinho do sul, a Argentina, onde uma literatura 
mais abundante a tal respeito está disponível. Existe, pois, um consistente 
pensamento brasileiro aplicado às relações intemacionais que .1inda está por 
ser investigado, orga nizado e exposto em sua riqueza de filigranas, apesar de 
uma primeira sistematização elaborada por RalJ Bernal-Meza. As correntes 
dn pensamento brasileiro revelam dois traços em sua evolução recente: a 
vinculação com teorias Jatino-americanas de relações internacionais e o pro-
blema epistemológico central, o desenvolvimento. Esses dois traços são per-
ceptíveis nas versõe"s com que o pensamento brasileiro, aplicado às relaçôes 
internadonais, st" revestíu em sua trajet6ria, dos anos 1950 a nossos dias. 
Examinamos essa evolução em seis fases: a ve-rsão da Comissão Pemlanente 
para a América Latina da ONU (Cepal) e a teoria do desenvolvimento, a 
teoria da e o pensamento independentista, o neoüberalismo e a 
concepção cética da glooolização . . 
Havendo ce"ntrado seu foco sobre o desafio do desenvolvimento, o pensa-
mento ;;á ex;x,sto 
te, porém com o intuito de avaliá-lo como insuumento político propulsorde decisões favoráveis, desf:lvoróveis ou indiferentes. O leitor perceberá que 
os pensadores brasileiros, conquanto tenham centrado sua reflexão sobre o 
desenvolvimento da nação, não coincidiram no modo de logi-
camente, nos mecanismos de como ale.mçá-lo. 
13 
Lais
., 14 CoHcmos. tu.NSlÇUES [ PAI!AOl6MAS 
1,2.1 O Brasil e a Cepa! 
q pt!nS<ltnento de Raúl Prebisch do grupo l.jur com ele compôs a Cepal, 
na década de 1950, p:uticulannente Celso Furtado, constitui o ponto de par-
tida de uma teoria latino-americana e brasileira das relações internacionais. 
b; ccpalinos foram originais, mas não de todo. Por um lado, elaboraram uma 
consistente crítica à teoria clássica de DavW RK:ardo, que preconiza a divisão 
internacional do trabalho e a especialiZllção dos mercados, substituindo-a pela 
visão de um mundo dividid o em duas metades, o ('entro e li periferia. Por ou-
tro, tiraram inspiração da experiência latino-americana, especialmente li bra-
sileira, concebida'pelos estadistas dos anos 1930-40, quando se wnfigurou o 
paradigma desenvolvimentista de política c.'.::tenor, como se verá adiante. 
Suste ntavam os cepaHnos que as relações internacionais. particulannente 
° com ércio, com portavam mecanismos que reproduziam as condições do 
$ubdesen\'olvimento, perpet uando-as no tempo, ou sej a, convertendo-as em 
estruturas permanentes. Os conceitos que elaboraram a partir dessa \'isão 
dual de mundo por um lado, como diagnóstico da realiJa-
de, por outro, como base para a estratégia de ação. 
O acelVo do pensamento çepalino contil COIll conceitos que e:spdham wna 
realidade evidenciada pela divisão das estruturas econôrnicas entre centro e pe-
riferia. O comércio internacional favorecia a acumulação de riqueza nos países 
que exportavam produtos manufaturados e importavam matérias-primas, oorno 
também a 3C\lmubção de pobreza nos países que faziam o contrãrio. A divisão 
e ntre ricos e pobres, centro e periferia, países desenvolVidos e subdesenvolvidos, 
manter-se-ia enquanto não fosse quebrada por mecanismos que a desfizessem. 
Os conceitos cepalinos sugeriam , portanto, aos dirigentes latino-americanos, 
uma estratégia politica de superação da de.<;igualdade entre as nações. 
LA estratégia de ação proposta por d es e nvolvia o esforço interno das naçw 
no sentido de promover a industrialização como política de Estado, adequando' 
política exterior e ação d iplomática para induzir um nOvo modelo de inserção 
intem3cionàt Desde sua independénc:i3., a socicdnde latino-americana ha\lia-se 
estabelecido na infância social e econômica, contentando-se com formal sobe-
rania política, porém aceitando a condição de exportadora de produtos primá-
rios e imp(l(tador.!. de manufaturndos;':O pensamento cepalino concebia uma 
quebra dessa ordem e atribula ao Estado o papel principal de agente indutor 
da!> LOndiçiles requeridas pelo novo Para esses inte:lectuais, estava em 
jogo a superação do sistema dual mundial, nada menos. 
Celso Furtado agregou o papel das diferenças no domínio tecnológico 
como elemento constitutivo da configuração dual do mundo. Sua teoria do 
desenvolvimento avanÇa, pois, para nova etap<l do pensamento, fundado em 
forte análise histórica. O subdesenvolvimento teria se constituído como pro-
cesso histórico e como outra face do desenvolvimento capitalista, desde que 
alguns centros de inovação tecnológica, situado!'> na Europa, inadiaram sua 
dominação sobre palses ou regiôes atrasadas. Assim, de.finiram-se as estrutu-
ras da organização local e das relações internacionais, modo a reproduzi-
re m-se mutuamente e a perpetuarem-se de forma dual. Osvaldo Sunkel, por 
sua vez, aprofwmou O conceito de dominação do centro :mbre a periferiaJ ao 
demonstrar que se tratava de i?stnlturas parciaisJ complementares, sendo, 
porém, uma dominante sobre a outra. Nesse sentido, a capacidade de ditar 
regras ou criar mecanismos de ordenamento internacional cabia a urna das 
plmes, dotada de eStnlturas hegemônicas. Esse detalhe não foi percebid o 
pelo inglês Adam Watson, todavia o foi pelo ital iano 8runello Vigezzi, espe-
cialista na contribuição do British Committee on the Theory of lnternational 
Politics, para quem a sociedade internacional européia do século XIX 
,'erteu-se em poderoso instrumento da expansão capitalista sobre a periferia 
do mundo. Ambos os autores requerem wna nova etapa no pensamento 
internacionalista, que desabrocharia na América Latina. 
A fragilidade do pensamento de Prebiscb, bem com o de Furtado e SunkeJ, 
reside, contudo, em insuficiente análise histórica . A expansão do capitalismo 
não comporta, a partir- do século XIX, a existên cia de mecanismos de per-
petuação da con6gUração duaJ. ao contrário, revela a possibilidade prática 
de dirigentes de alguns países perceberam a necessidade de 
romper com tais estruturas, enquanto outros acomodaram-se na condição 
periférici.) Essa fragilidade explica, contudo, uma nova fase do pensamento 
e latino-americano que r,:,presenta uma evolução do pensamento 
entretanto, sugere saltar para rara do sistema capitalista com o fim 
de superar o su1:xl.esenvolvimento. Trata -se das t{'()rias da dependência . 
1.2.2 Teorias da dependência e pensamento independentista 
Os enfoques da dependênda tomaram dois rumos no pensamento brasilei-
ro. Uma primeira vertente , de caráter teórico e confonnista, expressou-se por 
meio das chamadas te_orias da dependência por Teotónio dos 
Santos e Fernando Henrique Cardoso, entre outros. A outra de cará-
15 
Lais
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Lais
., 
ter realista e prático, foi expressa pelo grupo dos independentistas, que induía 
intelectuais e diplomatas de pensamento forte, a exemplo de Oswaldo Ara-
nha, Afonso Arinos, San TIago Danus e Araújo Castro. Seus vieram a 
público nas décadas de 1960 e 1970, porém o segundo grupo prevaleceu, ao 
inspirar o pensamento t! a ação externa dos três chanceleres que ocuparam o 
Ministério das Relações Exteriores entre 1969 e 1985, Mário Gibson Barboza, 
Antônio F. Azeredo da Silveira e Ramiro E. Saraiva Guerreiro. 
Os pensadores de então, agrupados nessas vertentes referidas, foram res-
pelo extraordinário sucesso que alcançou o termo tkpendéncia 
entre os internacionalistas latino·americanos. As origens situam-se na aná-
lise estruturalista dos economistas da Cepa I, mas a evolução epistemológica 
e!õteve a cargo de sociólogos, os teóricos da dependência, e de diplomata.s •. 
os quais definiram uma estratégia de superação de longo prazo. Para os so-
ciólogos, os componentes do conceito dependência adquirem cadter similar 
ao que desempenham as leis cientffi cas na elaboração de teorias físicas , bio-
lógicas ati naturais. Por isso. foram tais componentes do conceito por eles 
agrupados e chamados de teoria da dependência. 
Em síntese, a teoria da dependência e sua relação com o subdesenvol-
vimento sobre os seguintes pressupostos: a) o 
se liga a re lações de dominação e dependência entre os povos; b) constitui 
fenômeno h..istônco mlmo;;!1 inf'rente às e:.1:ruturas que se definiram com a 
evolução do capitalismo; c) comporta o conluio de jnteresses no centro e 
na periferia, de modo a favorecer, no interior das sociedades e Estados de 
3mbos 05 lados, os interesses de segmentos sociais dominantes; d) por essa 
razão, consciência e cultura são afetadas, como se desenvolvimento e subde-
senvolvimento fossem mutuamente nect!SSários e benéficos; e) o subdesen-
volvimento impregna também o poder, ou seja, a política e seu processo de-
cisório; f) estabelece-se, enfim, a interdependênci3 dependente, vale dizer, 
. o fato de uns países te·rem economia e poder condicionados ti economia e ao 
poder de outros países. 
Por considerarem tais mecanismos inexorávels, a conclusão lógica dos teó-
ricos da dependência encaminha-se no sentido de propor aos países atrasados 
a saída do sistema capitalista. Mesmo porque, na época, o capitalismo dispu-
tava com o socialismo a organização social interna e a ordem internacional. 
A crítica às teorias da dependência foi p1"ccoce.por isso elas não conhe-
ceram·o sucesso nos meio..o; acadêm icos brasileiros. Os equívocos que com-
No a'IUa..: 00\ lIDllIA À I'd.TICA 
portam foram identificados, por historiadores, como sendo a manipulação 
do conhecimento nistóricp, e por politólogos, que apontaram o fato de que 
somente é explorado e dominado quem consente. Não existindo estruturas 
que mantenham o internacional indefinidamente esdvel. 
Apesar da crítica, o pensamento brasileiro aplicado às relações interna-
donais incorporou contribuiçôes do pensamento cepalino original, como 
as teorias do desenvolvimento e da dependência. Entre essas contribuições 
que irão inspirar o pensamento dos independentistas realistas e dos desen-
volvimentistas estão a desçobe:rta de formas polarizadas de distribuição de 
beneffcios, a incapacidade de o livre-2omércio permitir a modernização da 
periferia, a f:.xistência de sistemas produtivos diferentes no centro e na peri-
feria, a assimetria na tecnológica, os ritmos descompassados de de-
dos países, o ordenamento espontâneo do mercado mundial 
segundo regras de benefícios unilaterais. 
A corrente de realista e prático tomou, nos anos 1960, o rumo 
do pensamento independentista. Embora dispusessem das contribuições da 
Cepal, os independentes, liderados por San TIago Dantas, fonnularam novas 
re fl exões sobre as re lações internacionais do País, em WIla fase em que o 
avanço da industrialização era notável em razáo do êxito do Plano de Metas 
de Juscelino Kubitsc:hek . Desenvoh"imento e emancipação económica eram 
El5 idéias-chave a serem aplicadas no plano ;ntf'rno; não·intervenção e coe-
xistência pacífica dos regimes capitalista e comunista, no plano externo. 05 
independentes concebiam, portanto, o descolamento dos Estados Unidos e a 
diversificação de eixos externas de cooperação para o desenvolvimento, mas 
insistiam sobre a utilidade do planejamento estratégico do desenvolvimento. 
No berço dessas idéias, gemtinava o pensamento universalista, caro a Oswàl-
do Aranha e a Afonso Arinos, assim como fora a opção americanista valiosa 
para Raúl Fernandes e João Neves da Fontoura na d&ada anterior . 
Com efeito, dois discursos, o ameri€anista e o independentista, ambos 
vinculados à questão centra l do pensamento brasileiro, o desenvolvimento 
& promover, radicalizaram-se nos anos 1960, cindindo a opinião pública e o 
meio político. Os dois campos disputavam O poder com o objetivo de im-
pensamento e su a ação. Os americanistas cogitavam usar a aliança 
estratégica com os Estados Unidos e o comprometimento na Guerra Fria 
com o fi m de alimenta r o desenvolvimento por meio capital e empreen-
dimentos norte-america nos. Prolongavam, desse modo, o pensamenlo d e 
t7 
Lais
Lais
Lais
Lais
, , 
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.' 18 
Neves da Fontoura. Os independentes pensavam em tomar distancia dD 
Guerra Fria e promover um modelo de desenvolvimento menos tributário 
d o capitie da tecnologia de fOfa. Os americanistas triunfaram em 1964 e 
mantiveram seu protagonismo politico durante o governo de Castelo Bran-
co, que os independentes influíram sobre o governo de João Cou-
lart e alongaram sua influência sobre o regime militar desde a ascensão de 
Costa e Silva, em 1967. 
Os esquemas mentais que se configuram quantO 30 modo de gerenciar o 
processo de desenvolvimento tomam, nos anos 1960. duas formas 
les: o desenvolvime nto Msociado às forças do capitalismo e tocado, essenCial-
mente, de fora. e o desenvolvimento autónomo, tocado peb s forças internas 
da nação." Os llacionalji>1.as centravam-se em torno das idéias de soberania, 
desideologização da política exterior, proteção das atividades econômicas e 
uo mercado internos, fortalecimento da empresa nacional , desenvolvimento 
dt! tecnologias próprias, autonomia de segurança e solidariedade com a peri-
fe ria, então cham ada de Ten.:eiro Mundo. TIravam, portanto, inspiração do 
pensamento brasileiro fonnulado anteriormente. Já os associacionistas culti-
vavam 3:; idéias de subordinação à vontade dos Estados Unidos com a]jnha-
mento politico, ideologi2.ação da política exterior e envolvimento na Guerra 
Fria o domínio do livre mercado sobre o planejamento do desenvolvimento, 
a de empresas e de tecnologJas estrangeiras e a segurança l ult:tiva. 
Esses acabaram por inspirar, pela via do al'&umento lógico, os neoliberais dos 
anos 1990. 
Essas correntes de pensamento exen:eram influência desigual sobre o 
modelo de desenvolvimento e a política exterior por este requerida, pre-
valecendo, na segunda metade do seculo XX, a corrente independentista, 
derrocada somente à época da globaliz.,çáo do fim do sé-culo. Mesmo as-
sim, não convém ins istir sobre a divisão do pensamento brasileiro aplicado 
relaçõcs internacionais, visto que houve, entre suas vertentes 
a independentista e a associacion;sta, interpenetração de jnfluência:; e muito· 
diálogo político a condicionar os efeitos sobre o processo decisório e sobre a 
formaçã[' nacional. ' 
Um passeio pelas visões de mundo que ess:ls correntes de pensamento 
comportam, visão inerente a toda teoria de relações internacionais, permite 
compreender mel hor a simbiose que se rorma nà inteligência brasil t'i ra acer-
ca da inserção internacional do País . Para os cepalinos, O mundo era o mundo 
I 
dU:ll , marcado pela fenda entre ricos e pobres, estes últimos dispostos are· 
cuperar o tempo perdido e a aproximar-se dos primeiros. O mal da desigual-
dade não havia sido concebido como tal , em sua origem, por doutrináriOS, 
políticos e empr«ndedores, apenas resultava da evolução dos fatores e tinha 
no livre mercado, aceito peJos pobres, seu instrumento de indução. Domar 
o mercado tomou-se a chave da solução. O subdesenvolvimento poderia ser 
superado peJa capacidade de que dispunha o Estado de conduzir a sociedade, 
mediante o planejamento da industrialização, à geração dr emprego, à ex-
pansão du consumo de massa c ao desenvolvimento tE'cnológico. 
Os troricos da dependência aprofundaram o raciodnio, chegando a con-
clusões radicalizadas acerca da divisjo dual c não vendo solução dentro d os 
meí."anismos do sistema capitalista. Para eles, 3 cooperação internacional de 
suas forças, com o fim de debelar o subdesenvolvimento, apenas transferia 
para outros patamares a dominação e a dependência, perpetuando a pobreza 
de metade do mundo. 
O pensamento brasileiro que se firma por contradição na década de ) 960, 
quando as correntes independente e :\Ssociacionista disputavam o Estado, 
compona aquela visão de um mundo dual dos anos 1950, porém capaz de 
remediar-se desde suas estruturas internas. O dilem'1 consistia em dosar o 
peso entre fatores externos e internos, com o fim de diminuir a distânda 
entre centro e periferia c ao teTIna do processo. Em outras pala -
vras, o que estava em jogo era a natureza da relação l'nlre o centro e a peri -
feria. Nesse ponto, a inteligência n3cional cindiu-se na tentativa de dosagem 
dos fatores , inclinando-se uns para o recurso externo, outros para o interno. 
A idéia de cooperação internacional emergiu , assim , vinculando amba s aS 
correntes de pensamento, porque lhes era comum, visão de mundo 
cooperativo entre países desenvolvidos e aspirantes irá perpetuar-se como 
viga mestru do pens;amento brasileiro aplicado às relações internacionais. As 
dt'rivaÇÕeS lógicas da idéia de cooperação !:e manifestamm com clareza e 
foram operacion3lizadas pela polftica ao longo do tempo. Contribufram para 
formar o acumul3do histórico da diplomacia brasileira as seguintes diretri-
zes: cooperativa e nào-confrontacionista, universalista, pacifista, zelosa pela 
soberan ia em razão do papel indutor do E:."tado e da neccssídade de planejar 
o desenvolvimento. 
O pontQ de equilíbrio da política de desenvok imento pcrmamxcrá com Q 
Q ue.sano da intdigênci.l braSileira nas três últ imas décadas du século xx. O 
19 
2tl 
regime miliur não inovou, apenas deu ênfase aos fatores internos. Convinha 
reforçar.o núcleo central da economia nacional, composto de empresas, ca-
pital e tecnologia,com o fim de conduzir o processo de d esenvolvimento ao 
pat<LfllM de auto-suSlentação, após a criaçãO das indústrias de transformação. 
que dependiam cada vez mais de insumos básicos. Convinha manter as deri· 
vações lógicas da idéia de cooperação internacional, capazes de dotar de efi-
ciência a politica exterior. Ademais, essa economia politica contribuía pa.ra o 
reforço do poder, sem o qual nada se alcança a cena internacional. Um 
pensamento a essas duas idéias - o núcleo robusto económico e 
sua correlação com o reforço do poder - foi elaborado entre os anos 1960 
e 1980, explicitamente pelos militares que ocuparam a Presidência, p0-
rém pelos seus três chanceleres, MMio Gibson Berboza, Antônio Azeredo da 
Silveira e Ramiro Saraiva Guerreiro , 
A redemocratização dos anos 1980 tampouco trouxe inovação para o pen-
samento brasileiro aplicado às relações internacionais do País , O procesSO de 
integração que se concebeu ao sul do continente deve ser tomado como um 
meio a mais, não um fim da política, que permanecia voltada para o desafio 
do desenvolvimento. A inovação, apesar de derivada de formulações ante-
riores, porque contaminada pelo legado do passado, virá com a irrupção do 
pensamento neoliberal a partir de 1990 e com o pensamento cético acerca 
da globalização. 
12.3 Neoliberalismo e globalização 
O neoliberalismo não foi uma invenção da inteligência politica brasi-
leira, mas antes uma assunção, devicltl a quatro influências externas. Em 
primeiro lugar, a substituição no' pensamento econôn\ico do modelo key-
nesiano de Estado, inerente iIIs concepções cepalinas, pelo modelo liberal, 
proposto por Friedrich Hayek e Milton Friedman, e operacionalizado na 
Inglaterra e nos Estados Unidos nos anos 1970 e 1980. Em segundo lu,gar, 
a unificação do mundo sob a égide do capitalista, ocorrida O 
fim do socialismo real em 1989. Em terceiro, 01$ experiências monetarist3S 
levadas a termo no Chile e na Argentina, de forma iJ'lte'rmitente, desdf: os 
anos 1950, porém recentemente concebidas por escolas norte-americlmas 
e propostas aos governos da América latina com o fim de debelar a crise 
da dívida externa dos anos 1980. Por fi m, a ascensão de governos neo!j-
na vizinhança, Chile, Argentina, Peru, Venezuela e Méxicu. A1'sim, 
! 
I 
I 
1 
de repente, o Brasil cepalino e cooperativo, com Esudo intervencionista e 
condutor autônomo da política exterior, isolado, Um trauma 
que afetaria sua inteligência polftica. 
As injunçôes externas não são suficientes para explicar a gênese do neoli-
beralisroo latino-americano, visto que essa corrente de pensamento aplicado 
às relações internacionais assenta sobre base histórica local. composta de 
pensamento' e ensaios políticos, Esse fermento local pôs-se em ação quando 
esteve em jogo o problema crônico da instabilidade monetária e da inflação, 
talvez decorrente das atribuições. económicas desempenhadas pelo Estado. 
Duas inteJ"pretal;Ôt"S acerca das causas e duas estratégias sobre as soluçóes 
para o problema da instabilidade monetária afloraram à mente de pensa· 
dores e dirigentes. O velho pensamento da Cepa! concebia soluções estru-
turais, como aumento da renda e do consumo, portanto, industrialização 
e expansão do mercado interno, ao passo que os monetaristas concebiam 
soluções de choque, mediante manipulação tempestiva da moroa e do mer-
cado, confrontando-se, pois, estratégias de longo prazo e de curto prazo. 
Ambos tinham em mente a estabilização económica, porim os neoliberais a 
restringiam à estabiJizaçáo monetária. O valor supremo da política desloca-
se, destarte, do desenvolvimen.to a promover para a inflação a matar. Mas as 
derivações dessas duas linhas de ação, agora estando em mira as derivaç6cs 
da estratégia ncoUberal, compõem um conjunto de idéias assentado em cor-
pus de observação e conhecimento. 
O neoliberalismo yeio a e rigir sua própria visão de mundo e a propor 0'10-
dela pr6prio de inserção internacional, no Brasil e em quase todos os países 
da América Latina. Substituiu a visão estruturalista tradicional e embarcou 
no paradigma da globalização do fim do século xx, Substituiu a visão dual 
centro e periferia e a idéia de conserto da ordem internacional pela de 
um mundo unificado pelos fatores transnacionais do capitalismo. O curso 
profundo desse pcnsarnemo abandona, no Brasil , a crítica ii economia ricar-
diana clássica da divisão internacional do trabalho e das vantagens compara-
tivas, e reflete, ademais, o estágio de QVQnço da competitividade nacional, 
reivindicando, como benéfico, o livre mercado global. 
Como expressão mais elaboraJa desse pensamento no Brasil, convém re-
fe rir dois intelectuais consistentes, que garanti rdlTl sua atuação como dirigen-
tes da nação, Fernando Henrique Cardoso, Ministro de Relações Exteriores 
c Presidente da República, e Celso Ltlfer, por duas vezes de Rela-
li 
22 
çóes Exteriores. Seus textos, que ainda são pertinentes. incluem reflexôes de 
homens de Estado, como também pesquisas e análises que expressam idéias, 
visões do nacional c do internacional f, 50bretudo, um modelo alternativo de 
inserção internacional. 
Três requisições essenciais conduzem o pensamento neoliberal: a) elimi-
nor o modelo do Estado desenvolvimentista interventor, julgado perdulário e 
inefidente em termos econômicos; h) abrir o mercado t" o sistema produtivo 
à penetração dos fatores externos do capitalismo, considerados suficientes 
para promover o desenvolvimento 3 época da globalização; c} ferir o conceito 
de sociedade com que se OC\lpaV3 o Estado e promover a oportu nidade de 
indivIduos, o que supunha enorme deslocamento da renda . 
De certo modo, neoliberalismo e cepalismo encontram-se no propósito 
de origem, ou transfomlal a economia e a organização social, uti lizando 
para esse fim as instituições e II lei, porém separam-se ao conduzi-Ias por 
outrOS caminhos, a outras situações. Por isso o neoliberali smo contém uma 
crítica ao E...tado keynesiano do bem -estar, à sua visão cooperativa, todavia 
controlada de mundo, e ao modo de promover o bem-estar dos individuos. 
Sob sua égide, a desregulação tomou-se mecanismo de ajuste inte rno e a 
abertura da economia. estratégia pura e simples de inserção internacional. 
Embora tenham levado a sociedade latino-americana ao descontenta-
menlO, convulsão social e à derrubada pela via eleitoral de todos os goyer-
nos de sua inspinlção. quando a exd usão social atingiu em 2003, segundo 
dados da CepaJ, cerra de 40% da população da região, os neoliberais con-
sideravam-se, na origem. promotores de novo renascimento, tido ('"orno re--
denção dos problemas económicos e sociais. As. circunstn'lc1as imperan tes 
_ expressão usada por Cardoso e Lafe r - da interdependência globa l que 
consuangjam a mente neoliheral não Jei.xavam alternativa ao processo de-
cisório em política exterior. Tanto mais que acreditavam nes:<;e munJo novo 
de regras justas, rrallspartfttes e benéficas para rodos, a serem produzidas 
pela negociação multilateral, como novo ordenamento do sistema capita-
lista em todos os domínios das relações internaciona.is: comércio, finanças, 
direitos, meio ambiente e segurança. Ressalte-se a.inda que acreditav3m no 
efeito sistémico e benéfico da ação das forças transnacionais que com:mda-
varn o curso profu ndo das relações internacionais e ra da globalização. O 
neoliberalismo reivindicava. ademais, uma revolução na cjênci;l, na polític;l 
c no pensamento. Assimilou, enfi m, o caráter de um Fundamenta lismo tí-
pico da ('fa da globalização, ao confundir argumento, raciocínio c ciência 
com convicção, crença e fé. 
Dotado de ambições messiânicas, mescladas com atributos de intolerân-
cia, o neoliberalisnl o pOO\lOCOU três reações mentais: o regionalismo aberto, 
um aggiornamenlo do pensamento cepaüno, o neoestnlturnlismo, expresso 
sobretudo pelo mexicano Osvaldo SunkeJ, e o pensamento (ético acerca da 
globalização, expresso com vigor por internacionalistas ruspano-amerk anos 
como Aldo Ferrer, Luciano Tomassini,Mario Rapoport e Raúl Bernal-Meza, 
bem como pelo brasile iro teórico da Fernando Henrique Car-
doso, conduzido pelos caminhos da incoerência - ou .seria da coerência a 
posreriori? - ao neoUbernlis-r:uo, e posteriormente ã aftiea da globalização. 
Para os jovens economistas da Cepal, o regionalismo aberto constitui o 
ponto de chegada de uma evolução, além de evidenciar o desejo de adapta-
ção à era da globalizaç1io do grupo originalmente ocupado com soluções para 
o desenvolvimento. Com sua nova proposta, pretendiam os neocepalinos 
conciliar a interdependência posta em marcha pelos processos de integra-
ção da América Latina com a interdependência advinda da liberalização do 
mercado global. Assim. a integração passa a ser considerada uma espécie de 
resseguro económico diante de eventuais ameaças t razidas peja globJlização, 
isto é, pelo curso desenfreado do liberalismo mundial, como crise financeira, 
comeraal ou produtiva . 
Ao examiná-lo bem de perto. o observador percebe, contudo. que o 
regionalismo aberto inclina-se mais para o neoliberalismo do que para o es-
truturalismo cepalino, uma vez que enaltece a abertura econõmica, afasta o 
protecion ismo c riador de empreendimentos e tecnologias, sugere a adesão . 
aos temas globais e im pregna a agenda d iplomática, que se movimenta fe-
brilmente com o fim de orientar, por meio de tais pressupostos, a formação 
dos blocos e a negociação de t ratados de comércio. O obServador percebe, 
ademais, que o pensamento cepa lino, ness·a segunda versão, a exemplo d o 
?eoli beraJ . ainda ignora o fator de impulsão do sistema capitalista, a inter-
nacionalização econômica entendida como p rojeção para fora de negócios 
nacionais ou regionais, com que se atinge a verdadeira interdependência 
dos fatores mediante competitividade sistémica e distrihuiçâo e.quiübrada 
de benefícios. Tido por refere nda de regionalismo abt'rto, o· Chile revela 
pft'cisameme essa condição de país que abandonou a \·oca\áo iodostria l, 
ahriu seu sistema produtivo e de serviços ao empreendimento estrange iro 
2J 
24 COfICEITGS, llI,AlISlÇÕES (1'Ml1I6IMS 
e estabilizou-se na mediocridade do setor primário, aprofundando a depen-
dência estrutural . 
Os criticas da globalização, entre des uma fatia do pensamento de Fer-
nando Henrique Cardoso que opõs o conceito de globalização assimétri-
ca 30 de globalização benigna avançado pela comunidade epistêmica da 
Argentina à época de Carlos Menem, concebem modelo alternativo de 
inserção internacio nal aos que foram disponibilizados pelos neoliberais e 
neocepalinos. Ainda sob influência remota do pensamento dua l 
latino-americano, esses inJ-electuais céticos retornam com suas pesquisas à 
evolução histórica do capitalismo e repensam a globalização e os fatores do 
atraso e do desenvolvimento. 
A!; assimetrias entre os dois mundos, o desenvolvido e o subdesenvolvido, 
ter-se-iam imiscuído no processo histórico de evolução do capitalismo q\lan-
do alguns países se diferfOndaram de outros, inidalmente, ao criar e repro-
duzir suas vantagens comparativas intangíveis {capital, ciência e tecnologia) e 
combiná- las, a seguir, com o modo como as puseram em jogo ao administrar 
as rebções com os vizinhos c, depois, com o mundo todo. Resolver o proble-
ma da relação entre o interno e o entorno, com b .. se nessas vantagens com-
pararivas intangíveis, significa resolver o problema do desenvolvimento. Di-
ferentemente da América utina que, desde a até o advento 
do processo de industrialização, buscou soluções nas vantagens comparativas 
naturais, do tipo: solo, subsolo, clima e setar primário. A transnacionaliza-
ção das empresas e a intensificação dos fluxos financeiros e de seus efeitos 
universais representam fenômenos recentes, porém a globalização remonta 
ao século XVI, com as Grandes Navegaçôes e " decorrente 3mpliação do 
mundo conhecido, ocorrendo por da unificação do mercado, em sua 
primeira fase, e da ÍJlovação tecnológica, desde XIX. O pensamento 
critico desqualifica a ilusão neoliberal de que a globalização significa fenôme-
no recente vincu13do ao fin'l da bipolaridade leste-oeste e afasta o consenso 
enue doutrinários norte-americanos e intelectuais e dirigentes latino-ameri-
de que a abertura econômica do presente substitui o livre-comércio de 
OUlrora como mecanismo de superação do atraso histórico. 
O pensamento dos críticos latino-amerkanos acerca da glohaliZilçáQ con-
verte-se em pcnsamt'nto cético, ao rechaçar a visão de mundo e (lS soluções 
ao desafio do desenvolvimento concebidas pelos neoliberais. O grau de Ce-
tidsmo acentua-se quand<l aquel e!õ pensadores despem o neoliherali ... mo de 
I , 
suas bases conceituais e fixam, ao mesmo ternpo, as linhas do próprio argu-
mento: a) os níveis atuais de interdependência económica de forma alguma 
carecem de precedentes históricos; b) a transnadonalização econômica não 
evidencia nova ordem mundial menos centrada no Estado; c) cm vez de víti· 
mas passivas, os governos são <)S arquitetos da globalização; d} a interdepen-
dência liberal não t raz implícita uma recfOita de superação das desigualdades 
entre as nações; e) o realismo dos dirigentes globalistas latino-americanos 
não passa de ilusão acerca da benignidade da govemança global sobre a qual 
assentam o processo decisório, mesmo porque essa atitude evidencia tam· 
bém o caráter ideológico Wli6cador da globalização, conveniente par3 pôr em 
prática uma impopular. 
A critica da globalização e o ceticisrno diante do modelo neoliberal de 
inserção internacional se fazem presentes no Brasil de dois modos: no pen-
samento acadêmico de alguns grupos de internacionalistas que atuam em 
universidades de renome e na opinião pública que elegeu Luiz Inácio Lula da 
Silva ii Presidência da República em 2002. Observa-se, portanto, no início 
do século XX1, uma confluência de pensamento, opinião públ-ica e políti-
ca exterior. Como são manifestações imbricadas da sociedade, dividem ou 
aproximam diplomatas. políticos, jornalistas, empresários e acadêmicos. O 
pensamento prevalecente durante o governo Lula conduz a urna inferên-
cia: as estruturdS- do \:ilpitalisIIIO pnxluzc=-m benefícios unilaterais cm favor 
dos mais fortes, como pensavam os cepalinos e os independentes, a menos 
que se estabeleça a uniiio dos países emergentes, cujos governos, agrupados 
em coalizões (como o Mercosul), negociam rroprocidQdcs reais nas relaçóes 
com os paIses centrais ou travam o avanço da govemança global, como pensa 
Celso Amorim, estrategista das relações internacionais pós-neoliberais. 
Dumnte.a campanha eleitoral de 2006, cujos resultados estenderiam o 
governo de Lula por mais quatro anos, as dUas ,'ertentes básicas do pensa-
mento às relações internacionais afloraram mais uma vez 
e de modo explícito. O embaixador aposentado Rubens Barbosa, porta-voz 
da oposição, definiu em artigos publicados no jornal O Estado de S. PauLo 
os Conceitos inerentes à política exterior do candidato derrotado, Geraldo 
Alclunin. Esses conceitos reJletem as tendências do pensamento que lança 
raízes na concepção do desenvolvimento associado e do neoliberalismo: vín-
culos e.<; u eitos com Estados U.nidos e Europa e descolamento do mundo dos 
emergentes, cuja prioridade estllbeledda por Lula estaria contaminada pela 
Z5 
\P UC .RIO! 
" 
ideologia . O tt"fmo ideologia é recorrente no discurso da direita brasileira. 
quando (l"itica a política exterior do governo Lula ou, quando em campanha 
política, se opõe a candidatos de percepção nacional de interesseS e de vj· 
são realista de mundo, entretanto esse discurso cm, de fato , para a opinião 
pública do presente, os esquemas essencialmente ideológicos da época da 
Guerra Fria, como o leitor pode ohservar pela exposição das tendências do 
pensamento brasileiro. 
O leitor pt'rcebe que o pensamento globalista no Brasil , ao transitar da 
teoria à prática, também transita do Estado à sociedade, sob as versões de 
pensamento crítico, cético e logístico. Este último vem sendo incorporado 
tantopelo Governo, que se integra às estruturas hegemónicas do c<lpitalismo 
com o fim de influir na produção das regras do ordenamento multilateral, 
quanto pela sociedade, por meio da internacionalização de empresas de ma-
triz brasileira que: penetram as cadeias globais e alcançam compe-
titividade sistêmic3. 
Reviver o confronto de visões de mundo, bem como de correntes de 
pensamento Que tendem a se da opinião e leitoral e do Estado, 
demonstra que no Brasil, apesar do diálogo político, o pensamento acadêmi-
co, pol1tico e diplomático nunca fecha consenso definitivo, ao contrário, faz 
emergir ti riqueza da divergência e das propostas alternativas. Sem impedir ti 
definição de uma pr§tica de carátcr própriQ, brasileiro. 
1.3 Acumulado histórico da diplomacia brasileira 
A política exterior do BraSil, em sua evolução, vem agregando princípios e 
valores ti diplomada, de modo a tornar tais elementos inerentes à sua conduta. 
Esses padrões de conduta não surgem tempestivamente como subprodutos da 
História, porém. um após outro, adquirem car:íter duradouro e, por vezes, per-
manente . Não se estendem sobre todo o passado, vb10 que seu aparecimento 
e eventual abandono vêm CSl:alonado no tcmpo.(EJes exercem funções: 
em primeiro lugar, dão previsibilidade à ação externa, tanto para observadores 
brasileiros quanto para estrangeiros, e, em segundo, moldam a conduta exter-
na dos governos, impondo-se à suo sucessão e até mesmo o mudanças de re-
gime polftico. Resistem ao tempo, portanto, e exibem traços de continuidade 
inerentes à política exterior, tanto mentais quanto Contribuem para 
fazer da política exterior politica de Estado ao imprimir-lhe a lógica da racio-
nalidade e ao dar à continuidade sobre mudança, à causalidade 
s.obre a ruptura. O padrão do :Jcurnulado histórico vincula-st! como se verá ao 
paradigma da política exterior, em cujo fermento germina, contudo, 
preceder ou sobreviver a um determinado paradigma. 
A reflexão sobre a relações internacionais do País permite 
identificar e descrever- a origem, a essência e a duração padrões de con-
duta qu e compõem o acumulado histórico da diplomacia brasileira. A enu-
menção dos componentes desse acumulado, feita a seguir de forma sudnta, 
confere ênfase ao presente: 
a) Autooetenninação, não-intervenção e sol}lção pacífica de' 
Nem sempre a diplomada brasileira orientou-se pelos principias de' au-
todeterminação, nãú-intervençã9 l>olução padfica de contrové.rsias, como 
revela a política implementada nas re lações com os países da Bacia do Prata 
nos meados do século xrx. Contudo, esse padrão da açiio diplomática vem 
de longe e carrega, desde sua origem, princípios e valores que influenciam 
a conduta até o presf'Ilte . Há várias causas a considerar na origem des-
se componente do acumulado histórico, qtle por vezes é designado como 
lPlIdfismo da política exte rior: o legado conceituai do pan-americarusmo 
do sérulo XIX; o pacifismo do barão do Rio Branco; o fato de o Brasil se 
envolver em dUfls guerras mundiais engendradas pelo ... outros; a convivên-
cia das tlifen.·nças Da sociedade hrasileira, que sugere a coexistência entre 
noções de cultura e interesses diferenciados; a valori?..ilçiio sobernn ia e 
da individualidade du El>1adu cumo l>ujeitLl uas rdaçóes internacionais; a 
percepção segundo .a qual a intervenção, feita sob o manto da civilização 
a difundir, dos direitos humanos, da democracia ou de outras causas tira, 
via de regra, a motivação propulsora de intt"resst's nacionais concretos de 
nações dotadas de maior poder; o falO de o Brasil n50 dispor de potência 
estratégica; a valorização teórica do multilateraJismu COmo agente da 
monia universal.] 
IAo reconht"Cer a ingerência feita em da democracia c dos direitos 
hu manos, os dirigentes brasileiros da década de 1990 hesitaram em manter 
esse g'ui:rde conduta, mas não chegaram ao ponto de comprometê-lo em sua 
é que ele chega ao presente sob a forma de divergfncia 
com os Esudos Unidos e a Gla-Bretanhll, cujas diplomacias optaram por 
mmbater O terrorismo mec!Ífmte iniciativas de guerra contra outras Ilações. 
O regime cubano, a pressão dos Estados Unidos sobre a VenC'l.ueb a 
nali?..ação dos hidrocarbonetos pela Bolh'Ía, 9JX'sar de contar com em 
!1 
I •• li CONtEltos. lllANSlÇÕU E N,IIAO"IIAS 
favor do abandono do componente de conduta, nâo demoveu ii diplom:1Cia 
brasileira do respejto ao princípio em questão. 
b} Juridicis.m,9 
Trata-se de um padrão COTISelVador de conduta da diplomacia brasileira, que 
reforça o anterior. Os tratados foram assimilados (orno falOll:':s de estabilização 
das relações intemadonais, desde que o Brasil firmou, à época da Independên-
cia, cerca de duas dezenas de tratados desiguais com as potências capitalistas 
de então e desde que, posterionnente, firmou com os vi7jnhos outros tantos 
com o fim de gaITIlltir o território e a paz. O respeito ao compromisso jurídico 
internacional, sob as formas de tratado, convenção, protocolo e ou-
tras, envolve a soberania e a.'isegura a autodeterminação dos povos. 
c) Multilateralismo nonnativo 
A v31orização do mult iJateralismo pela diplomacia brasileira conheceu 
dois momentos importantes em sua gênese. O primeiro data dos anos 1960-
70, quando o país empenhou-se na construção da chamada Nova Ordem 
Econômica Internaciona l, ao lado do lerceiro Mundo, em confrontação ao 
esquema bipolar, considerado de interesse das duas superpotências de então, 
Estados U njdos e União Soviética.(9 segundo corresponde às expectativas 
de que a globalização do fim do século XX daria origem a uma ordem inkr-
nacional, cujas regras transparentes, justas e respeitadas por todos seriam 
estabelecidas por meio da negociação multilateraQEm razão desse interesse 
pelo ordenamento multilateral, as legações brasile ir3s contam ent re as pre-
senças mais numerosas e ativas perante as organizações multilaterais existt'n-
tes desde a Segunda Guerra Mundial os dias aluais . 
d) Ação externa cooperativa e não-confrontadollista 
Esse padrão de conduta da diplomada comporta dois impulsos dedsivos 
em sua gf.nese. O primeiro vem da era Vargas (1930-S3), quando a cooper.!-
ção de guerra com os Estados Unidos foi prestada com segundas intenções. 
Gerou-se, desse modo, a convicção de que a cooperação económica para 
promover ('o desenvolvimento traz ganhos concretos e aconse.!ha submeter 
a política de segurança a esses mesmos ganhos, portanto, recomendava não 
confrontar outros países. O segundo vem do governo KubiIschek (1956-61) 
e da Política E:xterna Independente {196 1-64}, sobretudo do (".hamado Prag-
No Busa: DA 1E1lm. P'ÚntA 
matismo Responsável de Geisel (1974-79). quando se preparou e se imple-
mentou o s3 1\'0 para aJé.m da cooperação entre Brasil e Estados Unidos, até 
então considerada como eixo externo promotor do desenvotvi-
menta nacional. Na virad:1 do milénio, a globalização deprime o padrão da 
cooperação bilateral, enfraquecendo-se as parcerias em favor de laços da 
interdependência sistémica, mas sem sacrificar o não-confrontaàonismo. 
e) Parcerías estratégicas 
O padrão corresponde ao aprofundamento do que foi percebido anterior-
mente como necessário, em certos casos. A iniciativa L'Ompete à diplomacia 
brasileira, em razão de objeth·os e interesses nacionais de primeira importância 
a serem realizados por meio da ação externa. Pensado por Kubitschek e os 
independentes, desde que a cooperação com os Estados Unidos revelOIl-se 
insuficiente e por vezes nociva, depois diversificado por G eisel, o padrão da 
parceria estratégica norteia as opçóes de cooperação externa para o desenvol-
vimento, não sem reRetir uma divísão dos dirigentes e dos diplomatas, alguns 
dos quais manifestam preferências exclusivas por parceiros do Primeiro MUII-
do. A mais longa e relevante parceria, Brasil-Estados Unidos, entra em crise 
nos anos 1970 e a política eKterior dirige seu foco para a dive rsificação. 
Essa primeira evolução do padrão sofre nova inflexão ao tempo da 
zaçiio, quando transita do hilateral

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