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Instituições Internacionais e Relações Internacionais

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Prévia do material em texto

Indaial – 2020
InstItuIções, RegImes 
e ORganIzações 
InteRnacIOnaIs
Prof. Diego Boehlke Vargas
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2020
Elaboração:
Prof. Diego Boehlke Vargas
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
Impresso por:
V297i
 Vargas, Diego Boehlke
Instituições, regimes e organizações internacionais. / Diego Boehlke 
Vargas. – Indaial: UNIASSELVI, 2020.
 211 p.; il.
 ISBN 978-65-5663-343-5
 ISBN Digital 978-65-5663-344-2
1.Relações internacionais. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo 
da Vinci.
CDD 327
apResentaçãO
Olá, acadêmico! Seja muito bem-vindo aos estudos das Instituições, 
Regimes e Organizações Internacionais. Esta disciplina envolve um grupo 
bastante amplo de conceitos, contextos históricos e acordos em nível interna-
cional por meio das instituições, que atuam no espaço internacional.
Você já pensou em todas as relações humanas que envolvem a dinâ-
mica das Relações Internacionais? A forma pela qual políticas internacionais 
são operacionalizadas? A cooperação que pode existir entre Estados para a 
convergência de interesses comuns? Estas são as preocupações de diversas 
teorias das Relações Internacionais que você irá aprender aqui.
E quanto aos regimes internacionais? O que eles são, de fato? Nós 
veremos que os regimes se disseminaram por diferentes áreas temáticas no 
contexto internacional. Existiram regimes internacionais de segurança para 
garantir a paz com o passar das grandes guerras mundiais. Contudo, a segu-
rança internacional continua sendo foco de amplo debate político e econô-
mico na atualidade. 
É deste contexto que emana a relevância das organizações interna-
cionais em um cenário que os Estados nacionais não são os únicos atores 
políticos a se relacionarem. As relações econômicas possuem organizações 
específicas; a garantia dos direitos humanos precisa ser executada de forma 
neutra e autônoma; o meio ambiente não é gerido por um único dono. O 
conjunto das organizações no campo internacional traz legitimidade e de-
mocracia para ações realizadas, cujos objetivos se somam ao alcance de um 
desenvolvimento pleno, amplo e sustentável aos indivíduos. 
Assim, as temáticas citadas serão amplamente estudadas ao longo 
das páginas do Livro Didático de Instituições, Regimes e Organizações Inter-
nacionais. Dedicar-nos-emos tanto às teorias que fundamentam as institui-
ções e os regimes internacionais, quanto à manifestação dos regimes interna-
cionais no campo político e social, seja por meio da segurança internacional, 
do comércio internacional, dos direitos humanos ou do meio ambiente. Para 
ajudá-lo nos estudos, os temas apresentados ao longo do livro foram dividi-
dos em três unidades, cada uma delas contendo três tópicos, além de autoa-
tividades de apoio. Fique atento à leitura!
A Unidade 1 foi dedicada às teorias de base das instituições e organi-
zações internacionais, bem como à Teoria da Interdependência Complexa e à 
cooperação internacional. No início de cada unidade, você encontrará os obje-
tivos específicos das unidades, que podem ser usados como guia. Na Unidade 
2 entramos no campo dos regimes internacionais. É o momento de entender 
o desenvolvimento teórico e prático dos regimes internacionais, assim como 
sua relevância para o contexto das Relações Internacionais. A Unidade 3 foi re-
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para 
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novi-
dades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagra-
mação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para 
diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade 
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apre-
sentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em 
questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institu-
cionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar 
seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de De-
sempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
NOTA
servada ao aprofundamento do tema das organizações internacionais a partir 
das dinâmicas econômica, social e ambiental. Desta forma, você irá estudar os 
organismos internacionais do comércio internacional, a formação do regime 
internacional de direitos humanos e de mudanças climáticas.
As teorias e os temas abordados ao longo do livro didático são o prin-
cipal material para os seus estudos na área de Instituições, Regimes e Orga-
nizações Internacionais. Contudo, as páginas desta obra também são dedi-
cadas à indicação de diversas dicas, sites, vídeos, bibliografias e muito mais 
para que você possa ampliar ao máximo seus conhecimentos. Além disso, as 
autoatividades ao final de cada tópico, garantem que o conteúdo estudado 
seja devidamente discutido a aprendido. Portanto, não deixe de fazê-las e 
tirar suas dúvidas conosco.
Desejamos ótimos estudos para você!
Diego Boehlke Vargas
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela 
um novo conhecimento. 
Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro 
que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você 
terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complemen-
tares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento.
Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.
Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!
LEMBRETE
sumáRIO
UNIDADE 1 — INSTITUIÇÕES INTERNACIONAIS ................................................................... 1
TÓPICO 1 — DO LIBERALISMO AO INSTITUCIONALISMO ................................................. 3
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3
2 LIBERALISMO CLÁSSICO E INSTITUCIONALISMO LIBERAL-
 INTERNACIONALISTA .................................................................................................................... 4
3 RELAÇÕES INTERNACIONAIS E DOUTRINAS ECONÔMICAS: 
 MERCANTILISMO, LIBERALISMO, MARXISMO E NEOLIBERALISMO .......................... 8
RESUMO DO TÓPICO 1 .................................................................................................................... 18
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 19
TÓPICO 2 — TEORIA DA INTERDEPENDÊNCIA...................................................................... 21
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 21
2 INTERDEPENDÊNCIA E ATUAÇÃO DOS ATORES INTERNACIONAIS ......................... 21
3 ELEMENTOS FUNDAMENTAIS DA INTERDEPENDÊNCIA COMPLEXA ...................... 30
RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................37
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 38
TÓPICO 3 — COOPERAÇÃO INTERNACIONAL ...................................................................... 39
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 39
2 GRANDES GUERRAS MUNDIAIS E COOPERAÇÃO INTERNACIONAL ....................... 39
3 COOPERAÇÃO INTERNACIONAL APÓS A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL .............. 46
4 COOPERAÇÃO NORTE-SUL E SUL-SUL ................................................................................... 48
LEITURA COMPLEMENTAR ........................................................................................................... 53
RESUMO DO TÓPICO 3 .................................................................................................................... 57
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 58
UNIDADE 2 — REGIMES INTERNACIONAIS ............................................................................ 59
TÓPICO 1 — PRINCÍPIOS E CONCEITOS DOS REGIMES INTERNACIONAIS ............... 61
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 61
2 VISÕES, PERSPECTIVAS E O DESENVOLVIMENTO DOS REGIMES 
 INTERNACIONAIS ......................................................................................................................... 62
RESUMO DO TÓPICO 1 .................................................................................................................... 76
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 77
TÓPICO 2 — REGIMES INTERNACIONAIS EM TEORIAS DAS RELAÇÕES 
 INTERNACIONAIS ................................................................................................... 79
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 79
2 REGIMES INTERNACIONAIS NO DEBATE DAS TEORIAS 
 DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS ......................................................................................... 79
2.1 VISÃO ESTRUTURAL CONVENCIONAL .............................................................................. 82
2.2 VISÃO ESTRUTURAL MODIFICADA ..................................................................................... 84
2.3 VISÃO GROCIANA (OU COGNITIVISTA) ............................................................................. 88
RESUMO DO TÓPICO 2 .................................................................................................................... 93
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 94
TÓPICO 3 — REGIMES DE SEGURANÇA INTERNACIONAL ............................................... 95
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 95
2 HISTÓRICO DA SEGURANÇA INTERNACIONAL NO MUNDO ...................................... 95
3 ORGANIZAÇÃO DO TRATADO DO ATLÂNTICO NORTE (OTAN) ............................... 102
4 CONSELHO DE SEGURANÇA DA ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES
 UNIDAS (ONU) ............................................................................................................................... 110
LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 115
RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 121
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 123
UNIDADE 3 — ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS .......................................................... 125
TÓPICO 1 — MULTILATERALISMO E COMÉRCIO INTERNACIONAL ........................... 127
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 127
2 INTEGRAÇÃO ECONÔMICA E O REGIME INTERNACIONAL DE COMÉRCIO ........ 127
3 BLOCOS ECONÔMICOS: OS CASOS DE UNIÃO EUROPEIA, ACORDO DE
 LIVRE COMÉRCIO DA AMÉRICA DO NORTE E MERCADO COMUM DO SUL ........ 133
3.1 UNIÃO EUROPEIA – UE ......................................................................................................... 134
3.2 ACORDO DE LIVRE COMÉRCIO DA AMÉRICA DO NORTE – NAFTA ....................... 136
3.3 MERCADO COMUM DO SUL – MERCOSUL ..................................................................... 140
4 O ACORDO GERAL SOBRE TARIFAS E COMÉRCIO (GATT) E A
 ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO ....................................................................... 143
4.1 A RODADA URUGUAI ............................................................................................................ 147
4.2 A RODADA DE DOHA ............................................................................................................. 150
RESUMO DO TÓPICO 1 .................................................................................................................. 154
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 155
TÓPICO 2 — REGIMES INTERNACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS .......................... 157
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 157
2 HISTÓRIA DOS DIREITOS HUMANOS NO MUNDO ........................................................ 157
3 AS DIMENSÕES DOS DIREITOS HUMANOS ....................................................................... 168
RESUMO DO TÓPICO 2 .................................................................................................................. 177
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 178
TÓPICO 3 — REGIMES INTERNACIONAIS DE MEIO AMBIENTE ................................... 179
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 179
2 A FORMAÇÃO DO REGIME INTERNACIONAL AMBIENTAL ........................................ 179
3 CONVENÇÃO - QUADRO DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE MUDANÇAS
 CLIMÁTICAS E O PROTOCOLO DE KYOTO ......................................................................... 190
LEITURA COMPLEMENTAR ......................................................................................................... 199
RESUMO DO TÓPICO 3 .................................................................................................................. 203
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 205
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 206
1
UNIDADE 1 — 
INSTITUIÇÕES INTERNACIONAIS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• compreender a importância do pensamento liberal-clássico e do 
institucionalismo;
• esclarecer e revisar as doutrinas econômicas relevantes às Relações 
Internacionais;
• entender a contribuição da Teoria da Interdependência complexa e 
a atuação dos atores internacionais;
• analisar a cooperação internacional investida ao longo do Século 
XX, bem como diferenciar as cooperações Norte-Sul e Sul-Sul;• distinguir os conceitos de dependência mútua, assimetria, 
sensibilidade e vulnerabilidade;
• analisar as premissas fundamentais do modelo de Keohane-Nye.
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade 
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo 
apresentado.
TÓPICO 1 – DO LIBERALISMO AO INSTITUCIONALISMO
TÓPICO 2 – TEORIA DA INTERDEPENDÊNCIA
TÓPICO 3 – COOPERAÇÃO INTERNACIONAL
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em 
frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá 
melhor as informações.
CHAMADA
2
3
TÓPICO 1 — 
UNIDADE 1
DO LIBERALISMO AO INSTITUCIONALISMO
1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico! É um prazer tê-lo como leitor do livro de Instituições, 
Regimes e Organizações Internacionais. O estudo das Relações Internacionais 
possui um amplo campo de debate ao longo do Século XX. Os avanços e retrocessos 
das dinâmicas política, econômica e social nos diferentes Estados reconfiguraram 
um tema já antigo às sociedades: a inter-relação mútua que é própria do conjunto 
social. 
A partir de um cenário em que o fluxo de pessoas, produtos, armas e, até 
mesmo, de poder é altamente intensificado, o tema das Instituições que regulam 
e atuam, no interior e entre os Estados, passa a ter demasiada relevância para o 
contexto internacional.
Muitas são teorias e as perspectivas que analisam a inter-relação entre 
os Estados. Aliás, o tema do Estado é objeto de estudo há muitos séculos. Não 
é necessário ser cientista social ou economista para entender o funcionamento 
básico do mercado, ou saber minimamente que existe uma relação de poder entre 
o Estado e demais instituições da sociedade. Contudo, é importante que enquanto 
estudante, você saiba distinguir diferentes visões quanto ao campo de estudo das 
Relações Internacionais. É a partir destes marcos que iremos entrar no mundo das 
Instituições Internacionais no Tópico 1.
Veja algumas perguntas que procuraremos responder ao longo das 
páginas seguintes: de onde se origina o pensamento liberal? Qual é a importância 
do liberalismo clássico? Como podemos entender o institucionalismo? Quais 
doutrinas econômicas são relevantes para o estudo das Relações Internacionais? 
Como podemos diferenciar o liberalismo do marxismo? Como o neoliberalismo 
nos ajuda a compreender o mundo atual?
Ficou curioso? Para que estas perguntas sejam respondidas da forma mais 
clara possível preparamos este livro com uma leitura fácil e dinâmica, embora seja 
preciso atenção e dedicação para que os temas sejam perfeitamente assimilados. 
As páginas que você lerá contam com ilustrações, informações adicionais e dicas 
para aprofundar o seu estudo.
Desejamos que tenha ótimos resultados! Vamos lá?
UNIDADE 1 — INSTITUIÇÕES INTERNACIONAIS
4
2 LIBERALISMO CLÁSSICO E INSTITUCIONALISMO LIBERAL-
INTERNACIONALISTA
Quando procuramos estudar com maior propriedade uma escola de 
pensamento é fundamental que façamos um retorno às origens fundacionais ou 
às matrizes de sua formulação, bem como ao contexto histórico de suas principais 
obras literárias.
 
Esta perspectiva é um pouco do que faremos com a análise do liberalismo 
clássico, do institucionalismo liberal-internacionalista e do neoliberalismo. As 
fontes que inspiraram e inspiram determinado paradigma científico devem ser 
minimamente conhecidas para que suas premissas possam ser reconhecidas e 
suas tendências futuras previstas.
Partindo da ideia de liberalismo clássico, é possível afirmar que este 
paradigma teórico representa a base para demais vertentes do liberalismo. 
Em seu conjunto, composto por matrizes jurídicas, filosóficas, naturalistas, o 
liberalismo clássico representa o paradigma teórico do liberalismo nas Relações 
Internacionais (CASTRO, 2012).
O liberalismo clássico é o arcabouço teórico que faz contraposição ao 
realismo, tanto clássico, como neoclássico e neorrealista. Enquanto o realismo 
defende centralidade no Estado e do Estado, o liberalismo não desconsidera 
a importância desta instituição, ou do Leviatã, mas “enxerga outras forças 
pulverizadas juridicamente guiadas no interior e no exterior dos Estados que 
possuem papel legitimante nas Relações Internacionais” (CASTRO, 2012, p. 338).
A existência de outros atores internacionais na dinâmica das Relações Interna-
cionais é o ponto principal da crítica liberal-institucionalista ao realismo, o qual considera 
válidas apenas as variáveis diplomáticas e militar-estratégicas. Com a difusão de atores não 
estatais no cenário internacional e a relevância de questões globais, como o tema do Meio 
Ambiente e dos Direitos Humanos, o institucionalismo critica a visão realista considerando 
que tais forças transcendem a capacidade de ação dos Estados de forma individual e abrem 
oportunidade para um processo de cooperação internacional.
IMPORTANT
E
Ademais, no liberalismo está presente a noção progressista e de confiança 
sobre a natureza humana, e da partilha de responsabilidades comuns como forma 
de promover a paz, a justiça, a cooperação. Os marcos do liberalismo podem ser 
vistos no reconhecimento da força normativa das instituições multilaterais, dos 
regimes internacionais e das regras acordadas entre diferentes sociedades. Aliás, 
TÓPICO 1 — DO LIBERALISMO AO INSTITUCIONALISMO
5
deste modo, podemos perceber que muitos dos temas que estudaremos ao longo 
das páginas deste livro têm origem no paradigma do liberalismo.
Hobbes utilizou o Leviatã como referência ao monstro bíblico que aparece 
no livro de Jó para expressar o significado do Estado como uma organização política. A 
imagem da capa revela muito sobre o pensamento de Hobbes. Em primeiro plano aparece 
um homem, o monarca, segurando uma espada na mão direita e um cetro, na esquerda, 
os quais sugerem, respectivamente, a força do absolutismo e a da Igreja. A coroa indica 
a liderança de tal monarca. O corpo da figura desta autoridade é composto por uma 
multidão de pequenos seres humanos, que seriam aqueles que abdicam de seus direitos 
particulares para transferirem-nos àquele que os irá representar, este seria o “corpo político” 
do soberano. Além disso, o tamanho do rei é maior do que o das pessoas que compõe a 
estrutura de seu corpo, indicando assim, sua grandiosidade e superioridade política e social. 
O monarca encontra-se, também, acima de uma cidade e, inclusive, acima da imagem 
de uma Igreja, representando uma ordem hierárquica (aqui a imagem foi colocada lado a 
lado).
FONTE: <https://www.sabedoriapolitica.com.br/products/a-obra-leviata>. Acesso em: 27 
maio 2020.
NOTA
DETALHES DA CAPA DE LEVIATÃ, DE THOMAS HOBBES (1651)
FONTE:<https://bit.ly/30RfOf8>. Acesso em: 26 maio 2020.
São muitas as obras que representam fontes inspiradoras para o 
paradigma do liberalismo clássico, contudo, há duas obras principais que podem 
ser consideradas aqui: de Marsílio de Pádua, Defensor Pacis (do Século XIV) e de 
Dante Alighieri, Da Monarquia (do Século XIII).
O liberalismo clássico defende o pacifismo a partir do cooperativismo, 
da transparência e do progresso, além do conjunto de princípios jusnaturalistas 
de Immanuel Kant. Com relação ao cooperativismo estatal, a inspiração está na 
UNIDADE 1 — INSTITUIÇÕES INTERNACIONAIS
6
formalização de uma comunidade perfeita, expressa em Defensor Pacis (1324), ou 
por meio da ilha perfeita, estável e comunitária de Thomas More (1587), a Utopia. 
Especificamente em relação às guerras, na ilha Utopia, idealizada em sua criação, 
vê-se que “os Utopianos detestam e abominam a guerra como coisa brutal e 
selvagem”; “os Utopianos lamentam e chegam mesmo a se envergonhar de uma 
vitória sangrenta, considerando loucura comprá-la por tal preço” (MORE, 2001, 
p. 94 apud CASTRO, 2012, p. 339). Ideias que vão ao encontro do pensamento em 
formação em torno do paradigma do liberalismo clássico.
A outra referência que inspirou o liberalismo clássico está nas palavras de 
Dante Alighieri, em Da Monarquia (ALIGHIERI, 1980, p.10 apud CASTRO, 2012, p. 339, grifo 
nosso): Entre dois príncipes, dos quais um não é submetido a outro, pode surgir um litígio, 
seja pela sua própria culpa, seja pela culpa dos seus súditos, é evidente. Por isso, entre eles 
é necessário um julgamento. Como um não pode examinar a conduta do outro (cada 
um deles sendo independente e um igual não tendo nenhum poder sobre seu igual) um 
terceiro príncipe deve existir, com uma jurisdição mais ampla e que tenha sob seu poder 
os dois príncipes precedentes.
NOTA
É perceptível que os escritos durante a Idade Média possuem muita 
correlação com a atualidade das organizações internacionais e do multilateralismo 
a partir do Século XX. O grifo relativo ao “terceiro príncipe” se refere a uma 
instituição superior aos Estados nacionais, mas com neutralidade suficiente para 
exercer influência sobre decisões que afetem ambos os territórios.
Estas e muitas outras obras são, portanto, partes de um liberalismo que foi 
sendo formado e pensado ao longo dos anos, as quais representam o contraponto 
ao realismo. Assim, a idealização do liberalismo vinha sendo preenchida com 
perspectivadas a partir da lógica da boa-fé, da cooperação, da interação normativa 
e igualitária no campo político da esfera internacional, além de um arcabouço 
jurídico capaz de articular a paz e a justiça mundiais por meio de partilha e 
aceitação de valores universais (CASTRO, 2012).
TÓPICO 1 — DO LIBERALISMO AO INSTITUCIONALISMO
7
Vejamos, por exemplo, como Immanuel Kant conduzia a discussão que lançou 
as bases e consolidou o ideário liberal, em À Paz Perpétua (KANT, 2008, p. 52 apud CASTRO, 
2012, p. 340), em que se percebe a preocupação com a autonomia de cada Estado: “a ideia 
do direito internacional pressupõe a separação de muitos Estados vizinhos independentes 
uns dos outros, embora uma tal situação seja em si já um estado de guerra [...]; é, contudo, 
mesmo este estado, segundo a ideia da razão, melhor do que fusão deles por uma potência 
que cresça uma sobre a outra e que se converta em uma monarquia universal”.
NOTA
Agora que já conhecemos um pouco sobre o liberalismo clássico, cabe nos 
preocupar com uma das vertentes que mais nos interessa, que diz respeito ao 
institucionalismo, com o chamado liberalismo de linha institucional.
Por meio desta perspectiva, o termo “instituição” tem como definição 
um arranjo específico construído pelo homem, formal ou informalmente 
organizado, no sentido em que permite que organismos internacionais possam 
operar diferenças de forma eficiente como forma de resolução dos conflitos de 
interesses. Assim, o institucionalismo liberal-internacionalista (ILI) é composto 
por três características essenciais:
• “Afirmar o fato de que instituições multilaterais em conjunto com regimes 
internacionais normatizam a conduta externa dos Estados.
• Sintetizar a importância da boa-fé, da transparência discursiva e da ação demo-
crática como prática aceita e amplamente debatida nos fóruns internacionais.
• Fundamentar-se na necessidade de multilateralidade participativa dos 
Estados que estão posicionados em um patamar de isonomia e coordenação” 
(CASTRO, 2012, p. 356).
O ideário que formou a ONU em 1945, por exemplo, é a do paradigma 
do institucionalismo liberal-internacionalista, cuja missão foi e continua sendo 
marcada pelo idealismo de Immanuel Kant da “paz perpétua” no plano 
multilateral. 
A transferência parcial de soberania para um organismo supranacional 
traria governança democrática e paz coletiva por meio do estabelecimento do 
comunitarismo à luz do pensamento kantiano. Assim, os valores adquiridos 
seriam relativos à isonomia dos Estados, ou seja, quando os estados são governados 
todos pelas mesmas leis, com legitimidade multilateral, comunitarismo e 
jurisdicionalidade externa, por meio da Corte Internacional de Justiça (CIJ). Estas 
são as características que perfazem o liberalismo como o ideal que norteou sua 
missão fundamental (CASTRO, 2012).
UNIDADE 1 — INSTITUIÇÕES INTERNACIONAIS
8
O principal objetivo da ONU estava em evitar uma nova guerra em escala 
mundial, como foram os casos da primeira e segunda guerras mundiais, cujas 
consequências, conforme descreve o Preâmbulo da Carta das Nações Unidas, 
trouxeram sofrimentos extraordinários à humanidade. Além disso, buscou 
constituir-se no centro harmonizador entre seus Estados-membros como o intuito 
de aprimorar o sentido altruísta do comportamento externo coletivo. Ou seja, 
seu papel almeja ser bem maior do que o de limitar conflitos armados em escala 
mundial, mas o de atuar de forma mais incisiva nos contextos socioeconômicos, 
culturais, comerciais e humanísticos, sobretudo, quanto à redução da fenda que 
separa o mundo das grandes regiões Norte, industrializada, e Sul, em processo 
de desenvolvimento (CASTRO, 2012).
Os “sofrimentos indizíveis” (untold sorrow), descritos no preâmbulo da 
Carta, referem-se não somente aos totalitarismos nazifascistas desde a 
década de vinte no período descrito por Hobsbawm por “paz armada”, 
mas também a quaisquer outros revolucionarismos de conquista que 
ousaram questionar e redefinir a falida ordem Europeia herdada de 
Viena em 1815 e, posteriormente, a fraturada e frágil ordem mundial 
do interbellum de Versalhes de 1919 (CASTRO, 2012, p. 358).
Contudo, se a ideia principal da ONU girava em torno de uma 
desmilitarização das sociedades, após 1945, houve um movimento contrário, 
no sentido de uma militarização ampla dos Estados, tornando a ONU um ator 
secundário no âmbito dos assuntos de alta densidade política internacional, com 
papel de menor centralidade nas Relações Internacionais.
3 RELAÇÕES INTERNACIONAIS E DOUTRINAS ECONÔMI-
CAS: MERCANTILISMO, LIBERALISMO, MARXISMO E NEOLI-
BERALISMO
Outra grande abordagem no interior da epistemologia das Relações 
Internacionais diz respeito à chamada Escola da Economia Política Internacional 
(EPI). Assim como sugerido pelo nome, essa linha de pensamento compreende 
duas grandes trajetórias acadêmicas ao fundir a economia ou economia política 
com a política internacional. 
Essa união conceitual e política se estabelece como o próprio paradigma 
das Relações Internacionais, cujas contradições resultam, bem como influenciam 
diretamente a organização da vida em sociedade. A fusão de uma visão mais 
economicista com outra mais politológica resulta em binômios importantíssimos 
para as Relações Internacionais, tai como: integração regional, relações econômico-
comerciais, finanças internacionais, doutrinas e ideologias econômicas, 
organismos e instituições multilaterais (CASTRO, 2012).
TÓPICO 1 — DO LIBERALISMO AO INSTITUCIONALISMO
9
Vista por outra perspectiva, a economia política internacional procura 
analisar os desejos humanos com relação ao progresso material e à organização 
da sociedade em torno do consumo de mercadorias. Também permite que a 
dinâmica da distribuição dos recursos disponíveis à produção de mercadorias 
seja amplamente captada.
Contudo, o exame do conjunto da economia internacional tem, aqui, a 
política como variável interveniente. Ou seja, como uma variável que interfere no 
exame da economia internacional.
Assim, a política internacional é constituída ao longo da história a partir de 
um lento processo de acumulação comercial das classes sociais economicamente 
mais relevantes desde a Idade Média, representadas posteriormente pela 
burguesia. É justamente esse processo de acumulação inicial que formara, mais 
tarde, após o Século XVIII, as escolas de pensamento fisiocrata, mercantilista, 
bem como aquelas abordagens mais específicas do capitalismo e do socialismo 
(CASTRO, 2012).
Quanto ao mercantilismo, é preciso mencionar que foi a escola vigente da 
economia política internacional desde o Século XVI até meados do Século XVIII. 
Do Século XVIII em diante, as relações especificamente econômicas e de produção 
já dominavam a organização dos indivíduos em sociedade. Uma das principais 
práticas mercantilistas era a utilização das balançascomerciais superavitárias a 
partir de pactos coloniais como forma de garantir ganhos e crescentes vantagens 
econômicas.
Por sua vez, os ajustes positivos das balanças comerciais eram propiciados 
pelo bimetalismo. Com a exploração de metais preciosos, como o ouro e a 
prata, em colônias mundo a fora – a unilateralidade era uma marca evidente do 
mercantilismo. Assim, o lastro das moedas nacionais de potências marítimas 
como Espanha, Inglaterra, França e Portugal se dava em função da exploração e 
da acumulação de metais preciosos de suas colônias.
Ademais, a grande concentração de riquezas nacional durante o 
mercantilismo ocorria a partir do protecionismo, cujas práticas diferenciadas 
de conquistas coloniais garantiam a exploração e a manutenção dos domínios 
ultramarinos (CASTRO, 2012).
As ideias mercantilistas se dão no período de expansão comercial das 
economias europeias, com a proliferação de novos mercados e o surgimento da 
classe mercantil. Com o aumento da atividade econômica e das trocas comerciais 
a classe dos comerciantes tornou-se bastante influente perante os governos, 
motivando certa intervenção do Estado sobre as concepções a respeito do 
comércio e da produção.
O pensamento mercantilista via na acumulação de metais preciosos como 
o ouro e a prata o “tesouro” ou a fonte de riqueza de uma nação. E é justamente 
UNIDADE 1 — INSTITUIÇÕES INTERNACIONAIS
10
neste ponto em que o Estado tinha um papel decisivo: a regulação do comércio 
exterior por meio de tarifas sobre a importação, embora encorajasse as exportações 
de produtos acabados (REZENDE FILHO, 2010).
Quanto aos princípios básicos encontrados no mercantilismo, é possível 
resumi-los, conforme a imagem a seguir:
FIGURA 1 – PRINCÍPIOS BÁSICOS DO MERCANTILISMO
FONTE: Adaptado de Rezende Filho (2010)
Já o liberalismo, quando nos preocupamos com o ponto de vista da 
Economia, possui origem na dinâmica da própria formação do capitalismo. 
Assim, Adam Smith é considerado o pai da economia, a partir da publicação de 
sua principal obra em 1776, A riqueza das nações. A importância desta publicação 
foi que, justamente na segunda metade do Século XVIII, é o momento em que a 
forte industrialização da Inglaterra demandava um ideário teórico baseado na 
perspectiva do liberalismo.
David Ricardo foi outro economista de grande relevância para o 
pensamento liberal, cuja teoria das vantagens comparativas reforçava o 
crescimento e o desenvolvimento do capitalismo a partir da especialização da 
produção como forma de promover o comércio entre as nações. E, para isso, 
demandava uma atuação bastante liberal por parte do Estado para a garantia do 
livre mercado e da extinção de barreiras comerciais internacionais.
TÓPICO 1 — DO LIBERALISMO AO INSTITUCIONALISMO
11
Estes e outros estudos e autores revelam que o acúmulo crescente do capital 
industrial, no contexto da formação do capitalismo europeu, estava fundamentado 
na própria acumulação por si, mas, também, no empreendedorismo, no egoísmo, 
no fetichismo do consumo (conceito amplamente explorado por Karl Marx) e, 
consequentemente, na ênfase mercadológica (CASTRO, 2012).
Mais tarde, no início do Século XX, um economista que teve relevância 
para uma redefinição do capitalismo foi Joseph Schumpeter, cujos impactos 
foram importantes para a estruturação do sistema internacional do capitalismo 
até a atualidade. Parte dessas mudanças resultaram de um longo processo em 
que a classe liberal-burguesa tinha interesse no enfraquecimento ou em uma 
redefinição do papel do Estado como ator principal no sistema econômico 
internacional. 
Por meio desse panorama podemos perceber que a atuação ou a relevância 
do Estado nas relações sociais e econômicas é uma discussão que sempre esteve presente 
na economia política. Com a recente internacionalização dos mercados, elementos novos 
e muito relevantes foram trazidos à tona para se pensar em uma redefinição do papel do 
Estado – daí advém a importância da Economia Política Internacional.
IMPORTANT
E
A força política do ideal liberal diz respeito “a própria essência de amoldar 
a capacidade do Estado, por meio das escalas crescentes de retorno, promover a 
lógica do ganho financeiro e cada vez em mais amplas perspectivas geográficas” 
(CASTRO, 2012, p. 365).
A teoria das vantagens comparativas, de David Ricardo, defende a especia-
lização e a intensificação do comércio entre os países. Uma das compreensões-chave a 
respeito das vantagens comparativas no comércio internacional revela que “o comércio 
entre dois países pode beneficiar ambos os países, se cada um produzir os bens nos quais 
possui vantagens comparativas” (KRUGMAN; OBSTFELD, 2001, p. 15).
NOTA
UNIDADE 1 — INSTITUIÇÕES INTERNACIONAIS
12
O que acompanhamos no Século XXI é justamente um prolongamento 
deste processo por meio da desterritorialização das economias mundiais, cuja 
dinâmica permite que as fronteiras nacionais não sejam vistas como entrave para 
a circulação do capital financeiro. Assim, a geografia e o Estado assumem um 
novo papel com foco na maximização do lucro oriundo de aplicações financeiras.
Para se contrapor à perspectiva dos ganhos produzidos pelo liberalismo 
ao final do Século XVIII surge o pensamento marxista. Essa teoria entende, por 
meio da dialética e das inerentes contradições do materialismo histórico, que o 
capitalismo (ou o momento em que as relações econômicas são predominantes 
na organização social) é apenas um momento histórico específico, precedido pelo 
Estado primitivo e pela sociedade feudal. Assim, o auge de um longo processo 
civilizatório da humanidade poderia ser vislumbrado após as etapas socialistas 
e comunistas.
Embora Karl Marx não tenha se dedicado à formulação de teorias 
específicas às Relações Internacionais, suas formulações são bastante importantes 
para o estudo da disciplina, bem como para a práticas das relações sociais em 
sua amplitude internacional. “A própria compreensão do capitalismo, como força 
universal e como formação histórica e dialética, confere melhor entendimento do 
sistema internacional” (PAULA, 2011, p. 146).
TÓPICO 1 — DO LIBERALISMO AO INSTITUCIONALISMO
13
Desta forma, a superação das relações internacionais atuais a partir da 
perspectiva marxista surge como possibilidade de criação de uma nova estrutura 
política mundial, redesenhada sob a dinâmica de extrema desterritorialização 
dos espaços nacionais (CASTRO, 2012).
É por isso que o marxismo, para além das assimetrias do processo de 
globalização, tem oferecido importantes elucidações atuais, enquanto uma escola 
das Relações Internacionais. Veja um exemplo: embora a tendência do capital 
mundial esteja, obviamente, na impossibilidade de existir de outra forma que 
Karl Heinrich Marx, nascido em 1818, na Alemanha, foi filósofo, cientista político 
e social, com Friedrich Engels realizou amplos estudos sobre as relações econômicas e 
sociais presentes na sociedade, os quais deram origem à escola de pensamento marxista. 
Seus escritos influenciaram diversas áreas como o Direito, a Economia e a Sociologia. 
A principal obra publicada por Marx foi “O Capital”, de 1867. Trata-se de um livro sobre 
Economia Política, mas que realiza uma extensa análise crítica da sociedade capitalista. 
Os conceitos de mais-valia, força de trabalho, acumulação primitiva foram introduzidos 
por Marx e Engels na segunda metade do Século XIX, mas são extremamente úteis à 
compreensão do mundo atual.
FONTE: <https://www.ebiografia.com/karl_marx>. Acesso em: 27 maio 2020.
NOTA
INFORMAÇÕES FUNDAMENTAIS SOBRE KARL MARX
FONTE: <https://bit.ly/2DOTz0B>. Acesso em: 26 maio 2020.
UNIDADE 1 — INSTITUIÇÕES INTERNACIONAIS
14
não a forma de capitais individuais distintos e concorrentes, isso não explica a 
fragmentação territorial do espaço político do capitalismo atual.
A vida comercial e industrial passa por estágios que transcendem o Estado 
e a nação. Ao mesmo tempo, os capitais individuais devem afirmar-se em suas 
relações externas a partirde uma nacionalidade específica, e, internamente, deve 
se organizar como um Estado.
Desta forma, como o marxismo entende a existência dos papéis dos estados 
nacionais? O que se sugere é que o Estado é nada mais do que a forma de organização 
que os burgueses (ou as classes dominantes) adotam para fins internos e externos, 
para a garantia mútua de suas propriedades e interesses (CASTRO, 2012). 
Assim, podemos ver que a forma de atuação dos Estados novamente é co-
locada “contra a parede”. Será que existem Estados que procuram defender, atualmente, 
os anseios de uma classe econômica específica? Estas são algumas das indagações que 
o pensamento marxista poderia auxiliar também no âmbito das Relações Internacionais.
IMPORTANT
E
Os diversos pontos de vista, ou as escolas de pensamento da Economia 
Política Internacional produziram diversas ideias sobre quais seriam as matrizes 
do desenvolvimento econômico e social dos territórios. Deste modo, pela 
perspectiva do liberal-capitalismo enfatizou-se a importância dos investimentos 
em tecnologia e educação para que competências intelectuais e de formação de 
capital humano pudessem ser alcançadas.
Além desses fatores, outros são privilegiados por uma leitura mais 
desenvolvimentista. Os mais tradicionais para a macroeconomia são o capital 
físico e a força de trabalho, mas alguns deles são determinantes para o crescimento 
econômico, tais como: a importância das instituições, a relevância do comércio 
exterior, a garantia de um nível de desigualdade reduzido para a distribuição de 
renda, o papel da infraestrutura na geração de atividades produtivas, além do 
papel dos gastos dos governos (CASTRO, 2012).
Neste contexto se percebe a importância em compreender adequadamente 
os estágios do próprio capitalismo, os quais vêm redefinindo a organização dos 
Estados a partir da formação dos chamados blocos geoeconômicos. Acompanhe 
na figura a seguir como podemos entender essa trajetória histórica.
TÓPICO 1 — DO LIBERALISMO AO INSTITUCIONALISMO
15
FIGURA 2 – TRAJETÓRIA HISTÓRICA DO CAPITALISMO
FONTE: Adaptado de Castro (2012, p. 367)
É devido a este processo histórico e político que podemos perceber a 
importância do tema da globalização para a atualidade, bem como entender a 
necessidade de reflexões sobre o atual estágio da globalização. Esta fase da nossa 
história e da história do próprio capitalismo é vista como um projeto político que 
agrupa as questões especificamente econômicas e de comércio, mas, também, os 
capitais financeiros.
FIGURA 3 – ASPECTOS DA DINÂMICA DA GLOBALIZAÇÃO
FONTE: O autor
Neste contexto, surgem concepções teóricas da economia política 
internacional sobre como o Estado se estabelece atualmente. O fato é que temos 
no mundo um Estado cada vez mais integralizado ou um Estado geoeconômico 
em âmbito sub-regional, já que cada vez mais os países precisam organizar sua 
UNIDADE 1 — INSTITUIÇÕES INTERNACIONAIS
16
política e economia por meio de blocos regionais. Ao mesmo tempo que o Brasil 
organiza suas pautas político-econômicas, também as faz unindo os interesses 
dos países do Mercosul, por exemplo.
Dada a complexidade da dinâmica da globalização, podemos agrupar as 
diferenças e semelhanças deste estágio e processo em quatro grandes matrizes 
de compreensão, conforme as da figura a seguir. Cada uma das “globalizações” 
procura indicar um perfil de entendimento para os objetivos de cada público 
específico. Estas matrizes nos ajudam a compreender melhor o atual estágio da 
economia política internacional no seu caráter liberal-capitalista.
FIGURA 4 – MATRIZES DA GLOBALIZAÇÃO PARA A ECONOMIA POLÍTICA INTERNACIONAL
FONTE: Adaptado de Castro (2012, p. 369)
Estas são diferentes vertentes da globalização. A globalização, por sua vez, é 
uma característica da última e atual fase de expansão do liberal-capitalismo: ao mesmo 
tempo que é desterritorializado, pois não é um fato específico para um ou outro 
país, também é global, porque envolve todas as nações do mundo, ultrapassando as 
fronteiras nacionais, independentemente das vontades e ambições individuais.
Um dos aspectos importantes a se destacar diz respeito à “volatilidade do 
Estado”. Este termo aparece em todas as matrizes da figura anterior e se refere à 
capacidade de controle dos Estados nacionais em nossa atual conjuntura: o que se 
pode chamar de controlabilidade. 
TÓPICO 1 — DO LIBERALISMO AO INSTITUCIONALISMO
17
Como podemos entender a controlabidade? Diante da incapacidade relativa 
de Estados, organismos e agências multilaterais mantiverem o efetivo domínio sobre os 
fluxos transacionais (resultando em baixa controlabilidade), desenvolve-se aqui a relação 
entre as lealdades de vários atores não estatais internacionais do segundo setor para con-
cretização de ganhos no sentido amplo (CASTRO (2012).
NOTA
Esta forma de atuação do Estado é o tema central e própria do liberal-
capitalismo, pois com o agrupamento dos territórios em blocos econômicos 
mundiais ou blocos geoeconômicos surgem questionamentos sobre a constituição 
de novos atores de decisão para o plano internacional político e econômico, 
também denominados de macroestados.
Os novos atores para o novo cenário internacional são construídos “pela 
força motriz do comunitarismo e da integração de políticas setoriais específicas 
e estratégicas de política externa com renúncia residual da soberania de cada 
Estado integrante” (CASTRO, 2012, p. 370).
Não é à toa que ouvimos em noticiários ou lemos em artigos a respeito 
de importantes instituições tais como: ONU, Banco Mundial, Fundo Monetário 
Internacional (FMI). A inter-relação que possuem com os Estados é fundamental 
para compreendermos a conjuntura política, econômica e social da atualidade. 
Vamos estudar mais sobre isto? Fique atento, pois no Tópico 2, a seguir, estes e 
outros temas serão esclarecidos.
Antes de prosseguir, não deixe de revisar os principais assuntos deste 
primeiro tópico com a ajuda dos itens a seguir. Na sequência, você encontrará 
uma lista de autoatividades para melhor fixar alguns dos temas mais importantes 
aqui estudados.
18
Neste tópico, você aprendeu que:
RESUMO DO TÓPICO 1
• O liberalismo clássico entende o Estado como relevante, mas considera a exis-
tência de outros atores que possuem papel legítimo nas Relações Internacio-
nais.
• O institucionalismo liberal-internacionalista é entendido como o liberalismo 
de linha institucional.
• A formação da Organização das Nações Unidas em 1945 está inserida na dinâ-
mica do institucionalismo liberal-internacionalista.
• A fusão presente na Economia Política Internacional resultou em termos como 
integração regional, finanças internacionais, instituições multilaterais.
• Era comum no mercantilismo a utilização das balanças comerciais superavitárias 
como forma de garantir ganhos e crescentes vantagens econômicas.
• Outras características do mercantilismo eram o bimetalismo, protecionismo e 
intervenção do Estado.
• A perspectiva marxista traz a superação das relações internacionais atuais 
como possibilidade de criação de uma nova estrutura política mundial.
• A globalização pode ser entendida como um processo que reúne os temas eco-
nômicos, comerciais e financeiros.
• A partir do liberal-capitalismo ou neoliberalismo enfatizou-se os investimen-
tos em tecnologia e educação para que a formação de capital humano pudesse 
ser alcançada.
• Para a economia política internacional a globalização pode ser vista nas matri-
zes: globalização assimétrica; globalização especulativo-financeira; globaliza-
ção solidária; globalização produtiva.
• A globalização, no neoliberalismo é, ao mesmo tempo, desterritorializada e 
global.
19
1 Como podemos entender a vertente do liberalismo clássico?
2 O que se refere ao chamado liberalismo de linha institucional? 
3 Qual é a contribuição da doutrina marxista para o contexto das Relações 
Internacionais?
AUTOATIVIDADE
20
21
TÓPICO 2 — 
UNIDADE 1
TEORIA DA INTERDEPENDÊNCIA
1 INTRODUÇÃOOlá, acadêmico! O tópico que se inicia a partir deste momento é 
fundamental para os estudos sobre Instituições, Regimes e Organizações 
Internacionais. Aqui entenderemos a contribuição da Teoria da Interdependência 
complexa e a atuação dos atores internacionais. A centralidade da questão do 
poder inerente aos atores que se estabelecem no cenário internacional é bastante 
importante para um entendimento mais amplo da dinâmica entre os Estados e o 
corpo de instituições.
Iniciaremos pela compreensão da Teoria da Interdependência complexa, 
que discute as relações de poder intrínsecas aos atores no contexto político e 
econômico internacional. Assim, poderemos entender a inter-relação entre os 
elementos de poder presentes nos Estados e nos atores internacionais. 
Os Estados se relacionam uns com os outros de forma isenta. A 
perspectiva da interdependência revela que há uma dependência mútua. Desta 
forma, os efeitos de certas decisões políticas e/ou econômicas são reverberados 
em diferentes territórios. Contudo, tanto os benefícios quanto os prejuízos são 
assimilados de forma desigual ao redor do mundo.
Percebeu como as interpretações sobre os Estados são cruciais para o 
entendimento de nossa realidade social? Estes temas serão aprofundados ao 
longo deste tópico. Vamos lá? Siga atento para mais esta etapa de estudos!
2 INTERDEPENDÊNCIA E ATUAÇÃO DOS ATORES INTERNA-
CIONAIS
Muitas são as teorias que procuram explicar a dinâmica entre Estado, 
política e poder. Assim como os Estados estão vinculados às questões das políticas 
nacionais e internacionais, o poder é um fenômeno que está presente tanto nas 
relações sociais quanto no território de cada Estado. É pela perspectiva da relação 
entre Estado e poder no contexto internacional que a teoria da interdependência 
complexa ganha relevância.
Enquanto as teorias liberais são colocadas à margem da discussão 
internacional devido às Grandes Guerras Mundiais e à Guerra Fria, algumas 
22
UNIDADE 1 — INSTITUIÇÕES INTERNACIONAIS
abordagens mais positivistas procuram reconfigurar a atuação dos atores 
internacionais na resolução de problemas e conflitos. A partir da década de 1970, 
o institucionalismo propõe incluir, de fato, as instituições internacionais como 
atores fundamentais inclusive para a mudança de pautas políticas e econômicas 
(PAULA, 2011).
A teoria da interdependência complexa traz em suas discussões a 
abordagem de que o poder possui diversas dimensões. Assim, contrapunha-
se às ideias predominantes até meados do Século XX, as quais resumiam a 
interdependência como relações simples entre países, cujas decisões geram efeitos 
recíprocos (CADEMARTORI, SANTOS, 2016; PAULA, 2011). Seu surgimento 
ocorre em 1970 com a publicação de Poder e interdependência: a política mundial 
em transição, pelos americanos Robert O. Keohane e Joseph S. Nye (KEOHANE; 
NYE, 1977).
Para começarmos a entender esta perspectiva veja as manchetes de 
notícias atuais sobre o contexto internacional em que alguns problemas nacionais 
estão inseridos.
FIGURA 5 – MANCHETES JORNALÍSTICAS
FONTE: O autor
Os acontecimentos e situações que envolvem a política dos países 
tornaram-se cada vez mais transnacionais, bem como a regulamentação e o 
aparato legislativo dos países. Isto ocorre porque tanto a política como a economia 
TÓPICO 2 — TEORIA DA INTERDEPENDÊNCIA
23
não são mais pensadas apenas para o interior de um país, e, assim, ultrapassam 
fronteiras e nações. Sem mencionar que existe também uma diferenciação em 
termos culturais das sociedades que é crescente e muito rápida.
Sempre foi um desafio para os Estados lidarem com questões já antigas 
ligadas à soberania, cidadania e democracia. Contudo, a intensificação da 
interdependência que estas relações foram assumindo com o desenvolvimento 
das sociedades contemporâneas, trouxeram à tona dificuldades totalmente 
novas daquelas dos Séculos XVIII, XIX e da primeira metade do Século XX 
(CADEMARTORI; SANTOS, 2016).
A partir desta perspectiva, os atores que não são Estados também são 
relevantes na hierarquia dos assuntos internacionais. Assim, a cooperação 
e a integração entre os atores são uma forma alternativa ao uso da força e das 
guerras para os custos da interdependência sejam extinguidos. Aí entra outro 
conceito que iremos explorar mais adiante a respeito da vulnerabilidade de 
cada Estado, definida a partir dos maiores ou menores custos consequentes da 
interdependência (PAULA, 2011). 
O fato é que muitas questões políticas que vivemos hoje exigem ações 
que somente serão eficazes se as soluções forem organizadas com a participação 
de vários Estados e dos atores internacionais envolvidos. Isto ocorre porque há 
uma tensão entre a soberania ilimitada que é territorializada, ou seja, acontece 
em cada território, e a lógica atual das políticas ao assumirem característica 
desterritorializada e transnacional.
Neste contexto, a resolução de conflitos por meio das guerras deixa de 
ser a lógica predominante das Relações Internacionais, em que a defesa das 
fronteiras e da integridade territorial dos Estados era crucial. O destaque está 
na emergência de novos atores internacionais no plano internacional, cuja tarefa 
assumida é questionar e redefinir a atuação e a lógica de predomínio dos Estados 
no âmbito internacional.
A perspectiva da interdependência complexa leva em conta a relação 
que existe entre Estados, atores internacionais e mercado global – uma relação 
intrínseca, pois é própria da natureza destes agentes sociais. Assim, os conflitos 
são resolvidos por meio da prática da arbitragem, da negociação e da mediação 
transnacional, uma vez que são predominantemente problemas ligados a temas 
econômicos, comerciais e financeiros (CASTRO, 2012).
Você sabe o que podemos entender por “atores internacionais”? Não 
é preciso dizer que os hollywoodianos ficam de fora. Os atores internacionais 
no campo político são os agentes que atuam na dinâmica da organização das 
sociedades. Ou seja, os próprios Estados são atores internacionais indispensáveis 
quando são formuladas políticas com outros países. Aí se inserem diplomatas, 
chanceleres, embaixadores e Ministros de Relações Exteriores.
24
UNIDADE 1 — INSTITUIÇÕES INTERNACIONAIS
As empresas multinacionais, que possuem operações em diversos 
territórios também são importantes atores internacionais. Como é o caso de 
grandes bancos privados, companhias de petróleo com atuação mundial, 
montadoras de automóveis, entre tantas outras. E também as organizações não 
governamentais são atores internacionais, a exemplo do Médicos sem Fronteiras, 
Comitê Internacional da Cruz Vermelha, Oxfam, Greenpeace, WWF, Anistia 
Internacional. Além das organizações governamentais internacionais, tais como 
Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional, Organização das Nações Unidas 
(ONU), Organização Mundial do Comércio (OMC), Organização do Tratado do 
Atlântico Norte (OTAN), Organização Mundial da Saúde (OMS).
É justamente a convergência entre Estados e atores internacionais o foco 
de atenção da teoria de Keohane e Kye. Quando os elementos centrais de análise 
das Relações Internacionais passam ser “a cooperação e a capacidade de geração 
de ganhos e vantagens mútuas por meio da criação e manutenção de instituições 
e regimes internacionais” (CADEMARTORI; SANTOS, 2016, p. 72). 
Além disto, as instituições internacionais têm um papel importante no 
âmbito dos Estados que não compõem o bloco de poder dominante mundial. 
Neste caso,
As instituições internacionais serviriam como espaços para os países 
intermediários influenciarem o sistema, pois não podem fazê-lo 
individualmente. Elas quebram o ambiente anárquico do sistema 
internacional através de regimes e normas e contribuem para a 
mudança de estratégia dos Estados que passam a cooperar em 
decorrência da reciprocidade e confiança (PAULA, 2011, p. 145).
O modelo de compreensão criado pela dupla de pesquisadores procura 
explicar o comportamento dos Estados frente a diversas agendas (outemas) 
de trabalho que, por sua vez, estão amarradas a uma multiplicidade de atores 
governamentais e não governamentais. Além desta estrutura ser bastante complexa 
por si só, vale lembrar que esta dinâmica não funciona apenas nacionalmente, 
mas é operada no âmbito internacional (CASTRO, 2012).
TÓPICO 2 — TEORIA DA INTERDEPENDÊNCIA
25
FIGURA 6 – INTER-RELAÇÃO ENTRE ELEMENTOS DE PODER
FONTE: O autor
Assim, em sua obra conjunta, Keohane e Nye descrevem a teoria da 
interdependência complexa como uma nova percepção da política mundial. 
A partir do contexto mundial são analisadas as formas pelas quais a política 
internacional interfere no comportamento dos Estados (RODRIGUES, 2014). 
Além desta obra, outras publicações ganharam destaque nesse arcabouço teórico, 
como Understanding global conflict and cooperation, de Joseph S. Nye e David A. 
Welch, e After hegemony, de Robert O. Keohane.
26
UNIDADE 1 — INSTITUIÇÕES INTERNACIONAIS
FIGURA 7 – CAPA DA OBRA CONJUNTA DE KEOHANE (ACIMA) E NYE (ABAIXO)
FONTES: <https://bit.ly/2LZQQlB>; <https://bit.ly/2TGOAUt>; <https://bit.ly/3gq5Kj2>. Acesso 
em: 26 maio 2020.
Com a criação de empresas transnacionais na década de 1970 e o 
fortalecimento do papel da economia, as teorias realista e idealista deixaram de 
explicar satisfatoriamente as mudanças promovidas pela própria dinâmica das 
Relações Internacionais. A difusão de novas tecnologias, ainda que incipientes, 
como os computadores pessoais e empresariais, promoveram um salto em termos 
de comunicação, organização e circulação de informações e bens/serviços. Desta 
forma, os acordos e parcerias entre atores de diferentes lugares são realizados em 
uma escala bastante acelerada.
O idealismo constituiu-se por uma visão de mundo difundida pelo então 
presidente dos Estados Unidos Woodrow Wilson (1913-1921). Com o término no primeiro 
conflito mundial, promovia uma reformulação completa do sistema internacional a partir 
dos chamados “14 pontos” do idealismo. A proposta condenava as alianças mundiais 
secretas, defendia uma diplomacia regulada pela opinião pública de cada país, bem como 
a idealização da Liga das Nações.
A teoria realista é uma das mais importantes dentro das Relações Internacionais quando 
se fala em política internacional. Inspirada em Maquiavel e Hobbes a teoria realista surge 
em contraposição ao idealismo e explica as relações políticas entre os Estados conside-
rando válidas apenas as variáveis diplomáticas e militar-estratégicas. Por meio desta pers-
pectiva, os “indivíduos” são os Estados-nacionais, e considerados os únicos atores válidos 
do sistema internacional (LACERDA, 2006).
NOTA
TÓPICO 2 — TEORIA DA INTERDEPENDÊNCIA
27
Os pressupostos realistas passaram por um processo de redefinição que 
iniciou justamente com o desenvolvimento da interdependência complexa. Du-
rante as décadas de 1960 e 1970, os chamados autores transnacionalistas trouxe-
ram um aporte teórico com uma visão alternativa às teorias predominantes até o 
momento (RODRIGUES, 2014). Assim, os estudos de Keohane e Nye procuraram 
integrar as abordagens do realismo e do idealismo suplementando-as com o 
conceito de interdependência (CADEMARTORI; SANTOS, 2016).
FIGURA 8 – ESCRITÓRIO DE TRABALHO DA DÉCADA DE 1970 NOS ESTADOS UNIDOS
FONTE: <https://data.whicdn.com/images/314277750/original.jpg>. Acesso em: 26 maio 2020.
A perspectiva da interdependência revela uma dependência mútua entre 
os Estados. Ou seja, os protagonistas de determinadas questões políticas, sociais, 
econômicas, militares estão ligados a diferentes partes de um sistema, cujos 
efeitos são mútuos entre os atores participantes. “A interdependência aborda a 
cooperação recíproca, ou seja, dependência mútua e contempla a interferência de 
forças externas que influenciam atores em diversos países” (RODRIGUES, 2014, 
p. 109).
Um exemplo estaria em uma barreira comercial devido à sustentabilidade 
de um produto. Se determinado país cria uma política para não realizar comércio, 
ambos os Estados perdem economicamente. Por outro lado, atores internacionais 
ligados à pauta da sustentabilidade são mobilizados e afetados. Ademais, 
economias de outros Estados provavelmente suprirão a falta de oferta de produtos 
e serão afetados também por esta situação.
28
UNIDADE 1 — INSTITUIÇÕES INTERNACIONAIS
A interdependência refere-se a “situações nas quais os protagonistas ou os 
acontecimentos em diferentes partes de um sistema afetam-se mutuamente” (NYE JR., 
2009, p. 250-251 apud CADEMARTORI; SANTOS, 2016, p. 72).
IMPORTANT
E
Desta forma, é importante destacar que a interdependência que é própria 
a estas situações pode gerar benefícios, mas, também, custos para as partes 
envolvidas. Contudo, os benefícios e/ou custos gerados não são necessariamente 
simétricos, pois, os benefícios podem significar os ganhos de um Estado a partir 
da perda de um ou mais Estados. Assim, os custos gerados em determinada 
situação envolvem a sensibilidade a curto prazo, ou a vulnerabilidade a longo 
prazo. E como podemos entender sensibilidade e vulnerabilidade?
1. “A sensibilidade refere-se à quantidade e ao ritmo dos efeitos da dependência” 
(CADEMARTORI; SANTOS, 2016, p. 72). É a sensibilidade ou a resposta que 
os Estados possuem no curto prazo para as mudanças geradas por outros 
Estados. Ou também podemos entender como o potencial de resposta às 
mudanças no contexto político que um país pode oferecer a outro país.
2. “Já a vulnerabilidade diz respeito aos custos relativos de mudar a estrutura 
de um sistema de interdependência” (CADEMARTORI; SANTOS, 2016, 
p. 72). Por esse motivo que a vulnerabilidade se refere ao longo prazo, já 
que mudanças estruturais, ou as “regras do jogo”, das políticas dos Estados 
precisam de mais tempo para serem inteiramente concluídas. Portanto, 
vulnerabilidade não é a resposta que um país pode dar, mas a capacidade de 
influenciar as decisões tomadas por outro país (RODRIGUES, 2014).
Você conseguiu assimilar essas ideias? Lembre-se destas questões chave: 
dependência mútua, assimetria, sensibilidade e vulnerabilidade.
IMPORTANT
E
Vamos trazer este tema mais abstrato para a realidade política e econômica? 
Um exemplo prático da ideia de dependência mútua dos países, da assimetria 
dos impactos gerados está na produção mundial de grãos na década de 1970.
29
Neste período, os Estados Unidos já tinham destaque no comércio mundial 
de soja. Com o rápido aumento da demanda mundial, os preços internos dos 
produtos norte-americanos também aumentavam. No intuito de reduzir os índices 
de inflação, o governo dos Estados Unidos decide interromper a exportação de soja 
para o Japão. Por consequência, o Brasil torna-se um dos grandes fornecedores de 
soja ao Japão. Com o passar do tempo, a oferta e a demanda de soja dos Estados 
Unidos se estabilizam, reduzindo os níveis de inflação. Quando o governo norte-
americano resolve cessar a política de bloqueio às exportações, o mercado japonês 
já havia estabelecido novas estruturas de comércio internacional ao comprar o 
produto de uma fonte mais barata no mercado brasileiro.
FIGURA 9 – EXEMPLO DA INTERDEPENDÊNCIA ENTRE PAÍSES
FONTE: O autor
Você conseguiu perceber a ideia da interdependência por meio deste 
exemplo? Temos aí o conceito de dependência mútua entre os países, bem como 
se pode ver que os custos e os benefícios desta situação não são simétricos, pois, 
cada país teve benefícios e custos diferenciados. Já a noção de sensibilidade 
está na decisão de curto prazo do Japão em importar soja do Brasil. Devido à 
vulnerabilidade, no longo prazo, houve custo aos Estados Unidos a partir da 
mudança estrutural do comércio internacional japonês.
E quanto à complexidade da interdependência, ou melhor, a ideia de 
“interdependência complexa”? Vamos estudar mais sobre isto? Acompanhe o 
próximo item.
30
3 ELEMENTOS FUNDAMENTAIS DA INTERDEPENDÊNCIA COM-
PLEXA
Dentre os conceitos sobre a interdependência complexa que estudamos 
até aqui é importante compreenderque, em síntese, a teoria de Keohane e Nye 
“defende que os Estados estão atrelados a uma ampla rede de contatos, interesses, 
articulações e fluxos transnacionais, mostrando a emergência de novos atores não 
estatais internacionais” (CASTRO, 2012, p. 361).
Contudo, as relações de poder entre os Estados possuem certo grau de 
simetria e assimetria, as quais produzem uma dependência mais equilibrada ou 
mais desequilibrada. Assim, a independência pode ser vista como um a fonte de 
poder: quando um país é menos dependente de outro país. 
Portanto, se dois países ou atores internacionais são interdependentes, 
mas uma das partes é menos dependente, esta parte menos dependente possui 
certo nível maior de poder. Contudo, esta lógica se opera somente se a relação de 
interdependência for realmente valorizada por ambas as partes.
Por isso que a manipulação das assimetrias existentes nas relações de 
poder entre os Estados e/ou os atores internacionais envolvidos resulta em uma 
fonte de poder na política internacional (CADEMARTORI; SANTOS, 2016).
A arena internacional de discussões entre Estados e atores internacionais 
não é um ambiente pleno de cooperação, mas “no jogo para obter os resultados 
propostos é necessário manipular os fatores de interdependência. Tais assimetrias 
são consideradas fontes de poder entre os atores” (RODRIGUES, 2014, p. 109).
Devido à complexidade desta característica da interdependência entre 
os países os estudos neste campo deram origem à chamada “interdependência 
complexa”, a qual aparece como alternativa tanto à teoria realista quanto como 
forma de organizar uma política internacional viável aos Estados.
Uma das importâncias na teoria de Keohane e Nye está no olhar alternativo 
para a política internacional daquela leitura realizada pelos realistas políticos. 
Pois, o entendimento predominante até a década de 1970 era de que a luta pelo 
poder na política internacional fundamentava-se na violência organizada dos 
Estados.
 
Para cada uma das três premissas defendidas pela visão realista, a teoria 
da interdependência complexa trouxe três contra premissas. Estas críticas servem 
como respostas ao realismo e como contribuição à compreensão da organização 
social internacional em cada país.
31
1) Múltiplos canais de contato – A primeira das premissas da visão realista 
é a que os Estados seriam os únicos atores dominantes na política internacional. 
Deste modo, demais atores internacionais não existiriam como uma força política 
ou de poder, ou, se existissem, teriam pouca significância. Para este postulado, a 
interdependência complexa entende que são os protagonistas transnacionais, os 
quais possuem atuação através das fronteiras dos Estados, os maiores agentes da 
política internacional.
Na verdade, existem “múltiplos canais de comunicação entre as sociedades, 
[tais como] comunicação interestatal, transgovernamental e transnacional, 
sendo formais e informais, entre governos, elites e organizações transnacionais” 
(CADEMARTORI; SANTOS, 2016, p. 73). Assim, as organizações internacionais e 
transnacionais funcionam como fortes espaços de promoção da cooperação entre 
os próprios Estados.
Se até meados do Século XX os interesses transnacionais estavam ligados 
fundamentalmente às companhias de navegação e de pesca, atualmente este 
cenário foi dominado por companhias petrolíferas internacionais, ou dedicadas à 
extração mineral, bem como grupos transnacionais ligados ao desenvolvimento 
da Ciência e Tecnologia, preservação ambiental e ordem mundial (combate à 
fome, pobreza, desigualdade).
 Quando as empresas são mais poderosas que os países
Imagine uma companhia com a influência do Google, do Facebook ou da Amazon. E que 
ainda recebe do Estado o monopólio do comércio com uma zona geográfica. Também 
pode cobrar impostos, assinar acordos comerciais, prender criminosos e declarar guerras. 
Esses eram alguns dos poderes e atribuições da Companhia Holandesa das Índias Orien-
tais, criada no Século XV por empresários com apoio do Governo dos Países Baixos para 
comercializar com a Ásia.
Hoje, a concentração de poder é especialmente clara no setor tecnológico. As cinco gran-
des – Apple, Google, Microsoft, Facebook e Amazon – são as mais valiosas da Bolsa. Sua 
capitalização oscila entre os 500 bilhões de dólares do Facebook e os 850 bilhões de dó-
lares da Apple. Com esse critério, se a Apple fosse um país, teria um tamanho similar ao da 
economia turca, holandesa ou suíça.
FONTE: <https://brasil.elpais.com/brasil/2017/11/03/economia/1509714366_037336.html>. 
Acesso em: 26 maio 2020.
NOTA
32
IMPORTÂNCIA DE GRANDES EMPRESAS PARA A ATUALIDADE DA ORGANIZAÇÃO DOS 
ESTADOS
Comparação da cifra de negócio das empresas com os rendimentos consignados nos 
orçamentos dos países.
FONTE: <https://bit.ly/36yw3za>; <https://bit.ly/2ZFECqu>. Acesso em: 26 maio 2020.
2) Menor emprego da força militar – Como segunda premissa, a visão 
realista tem o entendimento de que a força seria um instrumento útil e o mais 
efetivo de todos os instrumentos de organização dos espaços a partir do Estado. 
Deste modo, partia-se do pressuposto de que haveria uma anarquia do sistema 
internacional a ser controlada, sendo a segurança seria a meta dominante 
(CASTRO, 2012). Por meio da interdependência complexa há a compreensão de 
que a força não é o único instrumento, tampouco o mais importante. A força bruta 
militar não é vista como um elemento de negociação internacional entre os Estados. 
Pois, a manipulação econômica e a utilização de instituições internacionais são 
as ferramentas dominantes neste campo.
“Quando prevalece a interdependência complexa não se usa a força militar 
por governos contra outros governos, haja vista a força militar ser irrelevante 
para resolver disputas entre os membros de uma aliança” (CADEMARTORI; 
SANTOS, 2016, p. 73). Isto pode ser confirmado pelo fato de que no mundo 
moderno há predominância de Estados com alto grau de democratização das 
decisões econômicas, sociais e políticas. E, nestes casos, há uma forte oposição à 
ação militar prolongada.
O resultado é que outros mecanismos passam a ser utilizados pelos Estados, 
cujas possibilidades são ampliadas com o desenvolvimento tecnológico. Assim, 
como no exemplo da notícia a seguir, sobre aeronaves não tripuladas para o controle 
dos espaços marítimos e aéreos.
33
Capacidades do drone MQ-9 Guardian são demonstradas na Grécia
A General Atomics Aeronautical Systems (GA-ASI) está destacando os recursos de vigilân-
cia marítima e integração do espaço aéreo civil de nossas aeronaves não tripuladas para 
nossos clientes europeus. Nossa Aeronave Pilotada Remotamente (RPA) de longa duração 
(25-40 horas por surtida, dependendo da configuração) estará em exibição e fornecerá 
informações sobre a importância da patrulha marítima, além de mostrar nosso sistema 
aviônico Detect and Avoid (DAA) que apoiará nosso objetivo de voar RPA no espaço aéreo 
civil”, disse Linden Blue, CEO da GA-ASI.
FONTE: <https://bit.ly/3kDtQcb>. Acesso em: 26 maio 2020.
NOTA
DRONE MQ-9
FONTE: <https://bit.ly/2TFxtSS>. Acesso em: 26 maio 2020.
Portanto, as ações militares com uso, de fato, de força são menos frequentes 
dada a complexidade das relações sociais, econômicas e políticas da atualidade. 
Basta olharmos para as múltiplas ações de preservação dos recursos naturais 
realizadas entre Estados, ou para as parcerias na comercialização de recursos 
naturais como o petróleo e gás, e os acordos comerciais internacionais de comércio. 
É neste sentido que as instituições internacionais passam a ter bastante relevância 
para que a força não seja empregada e os interesses econômicos atendidos.
Dependendo do tamanho do Estado e da situação econômica em que se 
encontra, a força é sim utilizada, assim como é possível perceber nos conflitos 
recentes contra o Estado Islâmico, na Guerra Civil da Síria, ou na Revolta do norte 
do Mali, por exemplo. 
34
A Guerra Civil Iemenita se estende desde 2015 no territóriodo Iêmen a partir 
das trocas presidenciais e dos movimentos separatistas. Embora as negociações tenham 
avançado no último ano, ainda não há um plano definitivo para um cessar fogo no conflito 
que já tirou a vida de pelo menos 310 pessoas. Sem falar nos 14 milhões de feridos e na 
crise humanitária que o país enfrente, por exemplo, no que diz respeito à subnutrição de 
milhares de crianças. Neste cenário, a Organização das Nações Unidas é a principal orga-
nização internacional que procura mediar e mitificar o conflito. 
FONTE: <https://www.politize.com.br/crise-no-iemen/>. Acesso em: 26 maio 2020.
NOTA
3) Ausência de temas ordenados hierarquicamente – A terceira premissa, 
conectada às anteriores, defende que haveria uma hierarquização da política 
internacional, em que a alta política de segurança dominaria a baixa política de 
segurança. Estas, por sua vez, regulam a dinâmica da economia e o conjunto 
da organização social. Neste caso, a interdependência complexa defende que a 
guerra é a meta fundamental, e não a segurança.
A justificativa para a agenda das Relações Internacionais não ser 
organizada hierarquicamente está na constatação de que muitas das situações a 
serem resolvidas pelos Estados, oriundas da política doméstica, não serem apenas 
domésticas, pois a distinção entre política externa e doméstica não é totalmente 
clara. Situações como energia, recursos, meio ambiente, população, uso de 
espaços terrestres e marítimos estão constantemente em disputa por Estados de 
diversas partes do mundo.
A complexidade da hierarquização da política internacional pode ser acom-
panhada por diversas notícias sobre acordos e parcerias entre os Estados. Veja este caso:
EUA querem coalizão militar para proteger navegação perto de Irã e Iêmen
Washington e Teerã – Os Estados Unidos anunciaram que pretendem trabalhar com paí-
ses aliados na criação de uma coalizão militar internacional que proteja a navegação em 
pontos chave do Oriente Médio, nas costas do Irã e do Iêmen. A medida é uma resposta 
à escalada das tensões entre Washington e Teerã, que vêm se agravando desde que os 
americanos deixaram o acordo nuclear de 2015 e voltaram a aplicar sanções no país persa. 
FONTE: <https://glo.bo/3ajXu1f>. Acesso em: 26 maio 2020.
NOTA
35
Os departamentos – agricultura, comércio, defesa, saúde, educação etc. – têm 
ramificações internacionais e essas múltiplas questões estão sobrepostas. Quando existem 
múltiplas questões na agenda, muitas das quais ameaçam interesses de grupos domésti-
cos, mas não claramente a nação como um todo, há problemas na formulação de políticas 
externas coerentes e consistentes” (CADEMARTORI; SANTOS, 2016, p. 73).
NOTA
As três contrapremissas elaboradas pela teoria de Keohane e Nye podem 
ser sintetizadas na figura a seguir.
FIGURA 10 – PERSPECTIVA ANTIRREALISTA DA INTERDEPENDÊNCIA COMPLEXA
FONTE: O autor
Existe, portanto, a percepção que de os Estados vão, pouco a pouco, 
renunciando as suas soberanias, para se integrarem a blocos geográficos 
e econômicos, com a forte participação de outros atores interacionais não 
necessariamente governamentais. Assim são formadas novas redes de comunicação 
(networks), malhas de interlocução independentes das já tradicionalmente criadas 
e difundidas, criando novas possibilidades de governança internacional. “O plano 
do comércio exterior e da excessiva competitividade pela vantagem competitiva 
dos Estados marca o pragmatismo e a interdependência dos atores estatais pela 
via dos retornos crescentes financeiros” (CASTRO, 2012, p. 363).
36
Obviamente que os Estados, embora tenham dividido seu destaque na 
política internacional com os demais atores que a compõem, não se tornaram, 
devido a isso, os elos mais fracos de todo o processo (RODRIGUES, 2014). 
Os Estados continuam exercendo forte influência sobre os demais atores 
internacionais. A grande mudança houve no poder de participação de outros 
agentes, também com interesses econômicos, sociais e políticos, nas decisões 
internacionais orientadas pelos Estados.
Chegando ao final da leitura deste tópico, revise os temas mais importantes 
com a ajuda dos itens a seguir. Eles são os assuntos-chave deste tópico e devem 
ser plenamente assimilados. Depois disto, não deixe de realizar as autoatividades.
37
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
• A Teoria da Interdependência Complexa ganha relevância a partir da relação 
entre Estado e poder no contexto internacional.
• O surgimento da Teoria da Interdependência Complexa ocorre em 1970 com 
a publicação de “Poder e interdependência: a política mundial em transição”, 
pelos americanos Robert O. Keohane e Joseph S. Nye.
• A perspectiva da interdependência complexa leva em conta a relação que 
existe entre Estados, atores internacionais e mercado global.
• Os atores internacionais no campo político são os agentes que atuam na 
dinâmica da organização das sociedades.
• Os estudos de Keohane e Nye integraram as abordagens do realismo e do 
idealismo suplementando-as com o conceito de interdependência.
• O conceito de Dependência Mútua entende que os protagonistas de 
determinadas questões políticas, sociais, econômicas, militares estão ligados 
a diferentes partes de um sistema, cujos efeitos são mútuos entre os atores 
participantes.
• A ideia de Assimetria na interdependência complexa se refere a que os 
benefícios e/ou custos internacionais gerados são assimétricos: os benefícios 
ou ganhos de um Estado podem ser devido à perda de um ou mais Estados.
• A manipulação das assimetrias existentes nas relações de poder entre os 
Estados e/ou os atores internacionais envolvidos resulta em uma fonte de 
poder na política internacional.
• A teoria da interdependência complexa traz três contra premissas da visão 
realista: manipulação econômica e instituições internacionais, protagonistas 
transnacionais, e ausência de temas ordenados hierarquicamente.
38
1 Como podemos entender a Teoria da Interdependência Complexa?
2 O que são atores internacionais? Cite e explique alguns exemplos.
3 De que forma os conceitos de dependência mútua, assimetria, sensibilidade 
e vulnerabilidade se inter-relacionam no entendimento da interdependência 
complexa?
AUTOATIVIDADE
39
TÓPICO 3 — 
UNIDADE 1
COOPERAÇÃO INTERNACIONAL
1 INTRODUÇÃO
Estamos quase chegando ao fim da primeira unidade do livro de 
Instituições, Regimes e Organizações Internacionais. Por isso, antes de 
concluirmos o aprendizado sobre as instituições internacionais, iremos abordar 
algumas questões relevantes sobre a cooperação internacional. 
O processo de cooperação entre os países não é uma novidade do Século XXI, 
tampouco ocorreu somente devido à velocidade de comunicação na atualidade. 
Desde o Século XVII são firmados acordos de cooperação entre distintos Estados, 
embora os elementos de poder atuais sejam muito mais complexos nos séculos 
passados.
Contudo, com a criação da Organização das Nações Unidas (ONU) após a 
Segunda Guerra Mundial, a cooperação internacional assume nova perspectiva, 
cuja preocupação se volta ao desenvolvimento amplo dos Estados. Questões 
ligadas à pobreza e desigualdade econômica não atingiram apenas os países mais 
pobres, mas, também, os mais desenvolvidos.
A partir da compreensão da temática que envolve a cooperação 
internacional, muitas outras dinâmicas sociais e econômicas podem ser 
esclarecidas. Se a cooperação entre os países do Norte e do Sul resultou em 
crescimento econômico aos últimos, aos primeiros, os ganhos foram relacionados 
ao poder político. E quanto à cooperação entre os países do Sul? Os objetivos e 
propósitos foram bastante distintos.
Vamos seguir adiante neste último tópico? Tenha uma ótima leitura e um 
bom aproveitamento em seu estudo!
2 GRANDES GUERRAS MUNDIAIS E COOPERAÇÃO INTERNA-
CIONAL
A denominada Paz de Westfália diz respeito aos diversos tratados de paz 
assinados durante o Século XVII na Europa como forma de dar fim a uma série de 
conflitos nos territórios desde

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