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1 2 Ficha Bibliográfica BUENO, André; CREMA, Everton; ESTACHESKI, Dulceli; NETO, José [org.] Aprendizagens Históricas: gêneros e etnicidades. União da Vitória/Rio de Janeiro: LAPHIS/Edições especiais Sobre Ontens, 2018. ISBN: 978-85-65996-52-5 Disponível em: www.revistasobreontens.site 3 Apresentação É com satisfação que nós do LAPHIS–Laboratório de Aprendizagem Histórica da UNESPAR e do Leitorado Antiguo da UPE apresentamos esse novo livro para vocês. Ele é resultado do nosso Simpósio Eletrônico de Ensino de História realizado em Abril de 2018, que recebeu conferencistas e cinco mesas diferentes ao longo de uma semana de intensos e ricos debates. Como parte integrante de nosso trabalho, ao final do evento produzimos essa série de livros cheia de experiências, relatos e projetos para uma aprendizagem histórica atualizada e enriquecedora. Cada volume traz uma proposta diferente [e por isso, optamos sempre por produzir um ebook, e não anais], que agregam nossos convidados, participantes, e todos aqueles que desejam saber um pouco mais sobre as questões do Ensino de História em nosso país. Convidamos tod@s a leitura desse nosso novo volume, cuja temática agrega pesquisadores de todos os cantos do Brasil, envolvidos na difícil – mas edificante – tarefa de trabalhar a História. Seja bem vind@ ao nosso livro! Bons estudos! 4 SUMÁRIO O NEGRO NA PUBLICIDADE: ECOS DE UMA HISTÓRIA ORDINÁRIA, p.7 Ana Lourdes Queiroz da Silva HISTÓRIA E EDUCAÇÃO SEXUAL: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES, p.19 Arthur Jonatha Souza de Nascimento RACISMO, HISTÓRIA DE ÁFRICA E APLICABILIDADE: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES, p.24 Cirila Regina Ferreira Serra RELEVÂNCIA DA LEI Nº 10.639/03 NO CURRÍCULO ESCOLAR DA EJA, p.29 David Richard Martins Motta HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO INDÍGENA: ENTRE LUTAS, RESSIGNIFICAÇÕES E CONQUISTAS DE DIREITOS, p.34 Denilce Raimunda de Castro Mourão e Wilverson Rodrigo Silva de Melo O ENSINO DA HISTÓRIA INDÍGENA NAS UNIVERSIDADES BRASILEIRAS: LEI, TABU E AUTODETERMINAÇÃO, p.41 Eduardo Gomes da Silva Filho AS MINORIAS SOCIAIS E A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO HISTÓRICO NO ENSINO MÉDIO, p.48 Fábio Alexandre da Silva PROTAGONISMO INDÍGENA E A NOVA HISTÓRIA: REFLEXÕES PARA A PESQUISA E O ENSINO DE HISTÓRIA INDÍGENA E DO INDIGENISMO NO BRASIL CONTEMPORÂNEO, p.53 Fernando Roque Fernandes e Beatriz da Silva Mello PRECISAMOS FALAR SOBRE RACISMO: O PAPEL DA EDUCAÇÃO NO COMBATE À DISCRIMINAÇÃO,p.62 Hemerson dos Santos Junior DA MARGINALIZAÇÃO À PATRIMONIALIZAÇÃO: A ―ARTE DA VADIAÇÃO‖ RESSIGNIFICADA NA RODA LIVRE DE CAXIAS, p.67 Igor Fernandes de Alencar O ENSINO DE HISTÓRIA POR MEIO DA PUBLICIDADE: UMA ANÁLISE SOB A CATEGORIA GÊNERO, p.73 Janaína Jaskiu O PATRIMÔNIO CULTURAL NEGRO NO ENSINO DE HISTÓRIA, p.84 Janaina Cardoso de Mello e Hiago Feitosa da Silva 5 AS REPRESENTAÇÕES ÉTNICAS E CULTURAIS NO PCN – VOL. 10 - PLURALIDADE CULTURAL E ORIENTAÇÃO SEXUAL, p.93 Jander Fernandes Martins e Vitória Duarte Wingert HISTÓRIA DAS MULHERES E ENSINO DE HISTÓRIA: APRESENTANDO REFLEXÕES, CONEXÕES E POSSIBILIDADES, p.103 Jeane Carla Oliveira de Melo A RELAÇÃO TERREIRO ESCOLA: DIÁLOGOS PARA UM ENSINO DE HISTÓRIA QUE REPENSE O CURRÍCULO ESCOLAR COM BASE NA LEI 10.639/2003 NO CENTRO DE ENSINO JOÃO MARQUES MIRANDA EM CURURUPU-MA, p.108 Jêibel Márcio Pires Carvalho VISIBILIDADE DA HISTÓRIA AFRICANA E AFRO-BRASILEIRA NO CONTEXTO EDUCACIONAL NAS ESCOLAS EM SÃO LUIS, p.118 Josué Viana da Silva e Douglas Oliveira Machado É DE PEQUENINO QUE SE APRENDE! OLHARES SOBRE O ENSINO DE HISTÓRIA DA ÁFRICA E AFRO-BRASILEIRA NO FUNDAMENTAL I DA CIDADE DE PONTA GROSSA-PR, p.127 Julia M. Kalva e Simone Aparecida Dupla MANIFESTAÇÕES DE PRÁTICAS RACISTAS: O QUE MUDOU NO LIVRO DIDÁTICO?, p.134 Ledyane Lopes Barbosa e Vanessa Marcela Rodrigues O USO DOS ―MEMES‖ NO ENSINO DE HISTÓRIA: A HISTÓRIA DAS MULHERES NAS OLIMPÍADAS E AS NARRATIVAS CONTEMPORÂNEAS, p.145 Luciana Mendes dos Santos RETÂNGULOS, BALÕES E NEGRITUDE EM HQ ONLINE: ESCRAVIDÃO ENTRE ÁFRICA E SERGIPE NO SÉCULO XIX, p.150 Luciano dos Santos Ferreira PROJETO "CAIXA ARAXÁ": APORTE DIDÁTICO PARA O ENSINO DE HISTÓRIA E CULTURA INDÍGENA, p.162 Lui Fonseca Do Nascimento e Caroline Dos Santos Andrade PRECISAMOS FALAR DOS NEGROS: ENSINANDO CIDADANIA NA AULA DE HISTÓRIA DOS ANOS INICIAIS, p.172 Olga Suely Teixeira DESAFIOS DO ENSINO DE HISTÓRIA PARA ALUNOS SURDOS EM CLASSES INCLUSIVAS, p.176 Paulo José Assumpção dos Santos HISTÓRIA POR MEIO DAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS – CUMBE A HQ SOBRE A ESCRAVIDÃO, p.182 Ellen Cristina Araújo Silva e Policleiton Rodrigues Cardoso 6 AÇÕES AFIRMATIVAS E AS PROPOSTAS DE ENSINO DE HISTÓRIA, p.193 Siméia de Nazaré Lopes HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA: UMA ANÁLISE NA PERSPECTIVA DO DIREITO DOS POVOS A UMA EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA, p.202 Suerley Mendes Parintins e Wilverson Rodrigo S. de Melo ESCRAVIDÃO NEGRA NO BRASIL E O ENSINO DE HISTÓRIA: UMA BREVE REFLEXÃO, p.208 Valdenira Silva de Melo DEZ ANOS DA LEI 11.645: ENTRE MUDANÇAS E PERMANÊNCIAS, p.217 Vânia Cristina da Silva e Cláudia Cristina do Lago Borges PROBLEMÁTICAS NO ENSINO DE HISTÓRIA INDÍGENA, p.222 Wesley de Oliveira Silva 7 O NEGRO NA PUBLICIDADE: ECOS DE UMA HISTÓRIA ORDINÁRIA Ana Lourdes Queiroz da Silva Refletir acerca do que é História e, ainda, pensar este campo do saber de uma maneira diferente, com vistas à observação dos discursos que circulam socialmente, nos dará condições de conjecturar e compreender que relações de força estão envolvidas nos jogos de poder que autorizam os saberes e constituem o sujeito. A História, até então a nós apresentada, objetivava compreender o passado, recontando-o ordenadamente, em uma sequência temporal ou dialética, para apreensão dos fatos presentes e a possível visualização de prováveis fatos futuros. Para tanto, os documentos oficiais tornaram-se monumentos sobre os quais a verdade estava estabelecida por trilhas organizadas e ininterruptas. Na trilha de uma nova forma de ver a história, os documentos oficiais deixam de ser monumentos estáveis e inquestionáveis e o foco desloca-se para as narrativas ordinárias e, a partir desta nova postura, fundamentada nas descontinuidades ora apreendidas, tudo passa a ser História. O cotidiano e as minorias, as modas e práticas outrora silenciadas, agora é possível sim problematizá-los, recortá-los e explicá-los à luz de sua própria descontinuidade: a Nova História. Segundo Barros (2011, p.38), ao transitarmos entre as noções de práticas e representações, seremos capazes de: ―(...) examinar tanto os objetos culturais produzidos, os sujeitos produtores e receptores de cultura, como também os processos que envolvem a produção e a difusão cultural, os sistemas que dão suporte a estes processos e sujeitos, e, por fim, as normas a que se conformam as sociedades através da consolidação de seus costumes‖. Para Burke (1992), enquanto a história tradicional é essencialmente política, marginalizando outras vertentes do saber, consideradas periféricas aos interesses dos verdadeiros historiadores, essa nova forma de fazer história não está restrita a um único campo, mas espraia-se, considerando que toda atividade humana tem uma história. Nessa seara, nasceu, na primeira metade do século XX, a História das ideias, que passa a considerar outros tópicos relevantes e dotados de história própria, como a infância, a morte, o corpo e, até mesmo, o próprio silêncio. 8 Outra característica cultivada pela história tradicional, repousa nas bases do que é central, importante e oficial. Na contramão desta proposição,a nova história é marcada pelo relativismo cultural. O periférico passa a povoar o interesse dos estudiosos da área. Para o autor, a História tradicional constrói seu itinerário ao considerar as narrativas de acontecimentos oficiais. Por outro lado, a História Nova pontua mudanças nas estruturas ao longo do tempo. Em síntese, esta História, vista de baixo, abre espaço para opiniões ordinárias, pessoas comuns e para a queda de paradigmas tradicionais, fundamentados em documentos oficiais. A Nova História das ideias, ao contrário, diversifica suas fontes, relativiza os olhares, até então presos a um olhar oficial, examinando, portanto, amplas variedades de evidências, substituindo a objetividade pelo relativismo cultural, dando a este saber um tom mais próximo ao real. Chamada para ser interdisciplinar, a Nova História aponta para a preocupação com toda a atividade humana. Nessa direção, Burke (1992) discorre: ―O movimento da história-vista-de-baixo também reflete uma nova determinação para considerar mais seriamente as opiniões das pessoas comuns sobre seu próprio passado do que costumava fazer os historiadores profissionais‖. (BURKE, 1992, p. 16). Partimos dessas premissas e conseguimos ouvir ecos da história do negro no Brasil, vista de um lugar comum demais, de onde sons abafados ainda tentam nutrir a ilusão de um país democrático racialmente. Pontuamos que a história real sobre o negro e os seus efeitos está nas pessoas ordinárias que foram ensinadas a alisar os cabelos para serem melhores, mais brancas e aceitas socialmente. Esse pensamento é materializado em suportes diversos e fazem remissão a um passado que ainda mantém a esperança de uma nação livre do mal que o negro representa. Junto a esta ideia, é comum a oferta de produtos de beleza sob a perspectiva de ―melhorar‖ a aparência do negro, levando-o mais próximo ao perfil do estereótipo dominante. Vejamos a peça publicitária a seguir: 9 Figura 1 http://www.revistaforum.com.br/2015/03/25/as-10-propagandas- mais-machistas-e-racistas-do-ultimo-ano/ A nova história do negro deixa o olhar oficial de documentos que engessam e condicionam os efeitos da história, contada a partir da centralidade e passa a observar como as materialidades, ou melhor, as estruturas continuam a transformar, adaptar, sublimar ou condensar ideias que continuam a povoar um arquivo discursivo sobre o negro no Brasil. Na relação entre o histórico e a enunciação de um discurso, a ideia de acontecimento passa a ser uma noção muito cara a AD. Segundo Possenti (2006, p.93), essa perspectiva torna o acontecimento uma espécie de matéria-prima dentro do viés histórico, marcado por sua natural relação com a enunciação, não repetível dentro da história. Nesse cenário, níveis de acontecimentos descortinados pela análise, apontarão para conjuntos de materialidades, que alinhados dentro de regularidades existentes, localizarão os resquícios de uma memória discursiva que se presta ao alinhavo de descontinuidades registradas na História: 10 ―(...) um fato se transforma em acontecimento – é retomado, revisado, analisado, especificado, detalhado e correlacionado a outros similares ou tornados similares. Enfim, ele se tornou o motivo pelo qual um conjunto de textos foi em seguida produzido e veiculado. [...] Dessa maneira, forma-se uma espécie de arquivo, no interior do qual as relações intertextuais e interdiscursivas se desenham, as diversas posições se materializam, as posições vão se repetindo ou se renovando‖. (POSSENTI, 2006, p.95) Alinhar regularidades retomando, revisitando, reinventando e reconstruindo o ser negro no Brasil, por meio da publicidade, evoca a necessidade de um olhar de ruptura, agindo em momentos e espaços descontínuos e heterogêneos. Propositalmente, as marcas do ―branqueamento‖ do negro ainda vicejam no espaço publicitário, embora tenhamos a necessidade de escutar outros ecos históricos. Campanhas publicitárias circulam, trazendo à tona a estratégia de minoração da população negra, reforçando o ideário do embranquecimento, essência da perspectiva de democracia racial, amplamente difundida no início do século XX e que passou a significar o negro como um mal prestes a ser extirpado da nossa nação. Na opinião de Nina Rodrigues, em Os Africanos no Brasil, os pretos e mestiços são classificados com traços que inferiorizavam o país, problema que ratificava a marca genética nada nobre. Segundo o autor, ―todo brasileiro é mestiço, se não no sangue, pelo menos nas ideias‖ (RODRIGUES, 2011, p. 31). Nesse contexto, era recorrente a espera por saídas para o estágio de sub-raça a que chegou o brasileiro. Um progressivo processo de ―branqueamento‖ da população poderia ―resolver‖ o problema em médio prazo. O estado de degeneração influenciado pelo clima e pela mestiçagem poderia ser resolvido com a inserção do sangue novo dos europeus, com vistas na melhoria de três características negativas do brasileiro: apatia, desânimo e falta de iniciativa. (RODRIGUES, 2011). Na contramão destes pensamentos, a Universidade Federal de Juiz de Fora – MG lançou, em 2016, a campanha #nãoécoincidência, difundindo o seguinte questionamento: ―Quantos professores negros você tem? ” 11 Figura 2 http://www.hypeness.com.br/2016/02/naoecoincidencia-campanha- questiona-a-ausencia-de-professores-negros-nas-universidades- brasileiras/ A campanha traz à tona reflexões e debates sobre ações afirmativas. Nesse momento, é destacada a existência de menos de 1% de professores negros atuando em universidades públicas, em um país que conta hoje com 53% de negros (especificação genérica atribuída pelo IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas – e que reúne pretos e pardos) autodeclarados. Não é coincidência! O ontem e o hoje se encontram por meio de distintos acontecimentos, materializados e relacionados no alinhavo de descontinuidades constantes na memória discursiva, ratificando a ideia de que o negro que ocupasse altos lugares sociais, na verdade, era branco, ou ―um preto de alma branca‖. Essa imposição, largamente difundida, nos idos de 1894, por Nina Rodrigues, lançou pesquisas e classificações que passaram a configurar como arquivos, autorizados por instituições enunciativas – a Ciência – e que 12 alimentou, durante séculos, o acorrentamento da imagem do negro aos porões e senzalas. Os acontecimentos movimentam-se, rizomaticamente, rompendo a continuidade, sem rejeitar a remissão. O lançamento da campanha #nãoécoincidência não para de remeter-se a outros acontecimentos, como a fala do jogador Robson, do Fluminense, em entrevista ao jornalista Mário Filho, na década de 30, momento em que relatou sobre o poder de embranquecimento do preto nos grandes clubes de futebol do Rio de Janeiro, quando esticavam os cabelos, faziam operações plásticas, usavam pó de arroz e fugiam da cor ao dizer: ―Eu já fui preto e sei o que é isso‖ (FILHO, 2010, p.15). Cartograficamente, o discurso é transformado, mantendo muito do mesmo no Outro, à medida que acontecimentos dispersos são postos em relação, diante das regularidades que povoam os significados que dali surgem. A perspectiva de que ascensão é sinônimo de embranquecimento ratifica que o lugar nobre, reconhecido e respeitado, não é para o negro, e isso não é coincidência. Trata-se de uma formação discursiva que ainda permeia as materialidades e, por consequência, as enunciações que ainda hoje circulam socialmente. Para Possenti (2006, p.99), essa visão descontínua e assíncrona, oportunizada pelas séries propostas por uma forma de História, permite ao pesquisador vislumbrar um panorama mais diversificado e fértil para a descoberta de novos posicionamentos e formações discursivas nas quais os sujeitos estão inscritos. Expostas as considerações sobre o peso que os estudosde ordem discursiva e simbólica tiveram para a Nova História Cultural, é relevante apontar para os efeitos do arquivo na análise do discurso, ao lado da História, e na constituição de uma memória discursiva. A análise do discurso emerge, segundo Maldidier e Guilhaumou (1997, p.181), ao evidenciar ―as estratégias discursivas que se desenrolam no acontecimento. O novo se situa em outra parte, no retorno ao arquivo‖. Na AD, o arquivo nunca é dado a priori, é construído pelo pesquisador sob a opacidade e percebido pelo lugar que ocupa em uma série, de ou seja, em um recorte da realidade.Quanto a esta questão Foucault (2008) pontua: ―O historiador não interpreta mais o documento para apreender por trás dele uma espécie de realidade social ou espiritual que nele se esconderia: seu trabalho consiste em manipular e tratar uma série de 13 documentos homogêneos concernindo a um objeto particular e a uma época determinada, e são as relações internas ou externas desse corpus de documentos que constituem o resultado do trabalho do historiador‖. (FOUCAULT, 2008, p.291) Na História Tradicional, os acontecimentos eram definidos por aquilo que era conhecido ou identificável, direta ou indiretamente, sendo o trabalho do historiador buscar sua causa ou seu sentido. A própria ideia de acontecimento era questionável, fosse por meio de dados visíveis ou documentos: Sob a ideia força do pensamento foucaultiano, constatamos que o que há no subterrâneo da bruma do que é conhecido por história, esconde práticas do presente, momentaneamente invisíveis, mas capazes de revelar como os discursos são autorizados a demarcar poderes e subjetividades É notório que determinados acontecimentos são mais difíceis de localizar. Verifiquemos o anúncio abaixo: Figura 3 http://g1.globo.com/distrito-federal/noticia/2015/07/anuncio-para- debater-racismo-recruta-negra-para-papel-de-domestica-no-df.html 14 O anúncio apresentado compunha uma estratégia, com vistas à reflexão e debate acerca do racismo, em uma campanha orquestrada pelo Festival de Latinidades, em 2015. Há de se notar, no entanto, que a estereotipação impressa no cartaz, colocando a mulher negra em situação de servidão, pertence a um arquivo validado e difundido por meio de diversos suportes, em múltiplos campos discursivos.Constatamos, portanto, que apesar dos documentos que regulamentam o lugar que o negro deve ocupar socialmente, por um olhar oficial, o efeito de sentido que emerge dos documentos ditos ordinários, apresentam sintomas de uma imagem que ainda está ligada à subalternidade. Este sujeito deve estar onde poderes silenciosos o subjetiva como inferior e à margem. Estas percepções, muitas vezes invisíveis aos contemporâneos, constituem rupturas decisivas que emergem de acontecimentos difusos e que determinarão, terminantemente, os novos movimentos tomados por uma História Cultural. A mulher negra, dócil e necessitada, se dispõe, servilmente, a ocupar o lugar de empregada doméstica, marcada por sua cor, conduzida pelos efeitos históricos, pelas névoas que, sorrateiramente, são formadas e que escondem que o negro ainda é escravo de um ideário que o inferioriza. Mas ao mesmo tempo, desenrola-se um acontecimento, materializado em forma de anúncio, que faz do seu interesse a entrada para o lugar de reflexão sobre o racismo do qual a mulher negra é alvo. Neste ensejo, ―(,,,) a história não é, portanto, uma duração: é uma multiplicidade de tempos que se emaranham e se envolvem uns nos outros. É preciso, portanto, substituir a velha noção de tempo pela noção de duração múltipla‖. (FOUCAULT, 2005, p.291, grifo nosso). É fato, que aquilo que buscamos na História, que é constituída por esses arquivos, é posto em um jogo de vela e revela, determinado pelas práticas discursivas, difundidas socialmente. Estas práticas produzem múltiplas identidades e o sujeito é constituído historicamente também como produto, cristalizando ou apagando determinadas formas de habitar no mundo social. Nesta senda, Foucault, em Arqueologia do Saber (2015), propõe um trabalho historiográfico não mais preocupado em revelar ou explicar o real, mas desconstruí-lo enquanto discurso: ―(...) a história mudou sua posição acerca do documento: ela considera sua tarefa primordial, não interpretá-lo, não determinar se diz a verdade nem qual é seu valor expressivo, mas sim trabalhá-lo no interior e elaborá-lo: ela o organiza, recorta, distribui, ordena e reparte em níveis, estabelece séries, distingue o que é pertinente do 15 que não é, identifica elementos, define unidades, descreve relações‖. (FOUCAULT, 2015, p. 7). Na ordem da descontinuidade, os objetos históricos e as identidades surgem como efeitos das construções discursivas, e não mais como origem para justificar as práticas sociais. Nessa esteira teórica, o historiador é convidado a analisar o que está, silenciosamente, ancorado para além da espessura do discurso. Nesse sentido, a história é feita das práticas rotineiras, das trilhas de improviso e das muitas vozes que enunciam um mundo comum demais para os documentos oficias ou para os monumentos tombados, mas essenciais à composição dos fios discursivos que tecem a História Ordinária. Para De Certeau (1982), o historiador adota um ponto de vista que singulariza seu olhar para o passado. Sob este viés, o lugar que ocupa e a forma como trata os dados tornam impossível a neutralidade do sujeito que constrói e vivencia esta História. A História transpõe as relações cronologicamente estabelecidas a partir de documentos que primam por uma visão central e caracterizada por sua identidade oficial. Para o historiador, este saber está na forma sorrateira como as práticas cotidianas se instalam socialmente, mudando as maneiras de fazer, afetando diretamente as configurações de significar ideias. Ao trabalhar fundado nas práticas cotidianas, o historiador voltará sua análise a lugares secretamente habitados por essas articulações, considerando, sobretudo, as pistas que as experiências ordinárias e comuns farão emergir. Assim, a historiografia se apresenta como prática, que tem como resultados os discursos,em outras palavras, oportunamente aplicado a este momento de reflexão, a história do negro contada a partir de uma visão central e difundida por meio de instituições enunciativas oficiais, contou com narrativas que o tornavam uma presença indesejável, ainda que a abolição já fosse uma realidade sancionada por lei. Por meio desse pensamento, a imagem do negro no Brasil é construída pela ideia de uma torrente de instintos selvagens, incapaz de ser responsabilizado por seus atos. Tornou-se o negro o próprio discurso do perigo, encravado e contaminando uma matriz pura e perfeita. Nesse propósito, o negro ainda é descrito como um compêndio de interesses, ditos inconfessáveis, oriundos da revolta 16 datada do período da escravidão e fruto das lutas incandescentes das ideias abolicionistas. Quanto a essa condição bestial do negro, Rodrigues (2011, p.47) argumenta: ―(...) mas nenhum homem de bom senso, bem esclarecido sobre os fatos, poderá crer em geral que o negro valha tanto quanto o branco e muito menos seja-lhe superior. E assim é, torna-se impossível acreditar que logo que sejam afastadas as incapacidades civis, desde que a carreira lhes seja aberta e que não sejam oprimidos ou favorecidos cromáticos possam lutar com vantagem com os seus irmãos melhor favorecidos de cérebro‖. Desse arquivo discursivo, raspamos os escritos enunciados pelas instituições oficiais e percebemos os movimentos construídos sobre práticas silenciosas e não honrosas. O corpo que se movimentava como um animal, agora faz menção a este mesmo arquivo, ziguezagueando por entre novos sentidos, que surgem como sintomas das mudanças estruturais que insistemem se revelar. Os mesmos dizeres, que acampavam no ideário social minimizando a importância do ser negro, são resgatados na atualidade para ratificar que ―irmãos cromáticos‖ são iguais, não pela licença do branco, mas como forma de valorização de uma identidade até então inferiorizada. Nas trilhas desse pensamento, campanhas emergem com vistas ao combate ao racismo e valorização do sujeito negro na sociedade: 17 Figura 4 e 5 brasil.gov.br Para Certeau (2014), a inteligibilidade da História se passa na relação com o outro; se desloca e modifica o que é feito pelo seu ―outro‖ – de outras visões – do louco, do povo, do selvagem, do terceiro mundo, as quais se articulam a um saber-dizer do que o corpo cala. Por meio do já-dito, o corpo do negro é autorizado a ser reinventado pelas práticas que sussurram e constituem esse ser no mundo. Para o autor, muito mais que separar o presente do passado, a historiografia se constrói a partir de rupturas e releituras de outros já-dito. ―Por sua vez, cada tempo ‗novo‘ deu lugar a um discurso que considera ‗morto‘ aquilo que o precedeu, recebendo um ‗passado‘ já marcado pelas rupturas anteriores. Logo, o corte é o postulado da interpretação (que se constrói a partir de um presente) e seu objeto (as divisões organizam as representações a serem reinterpretadas)‖. (CERTEAU, 1982, p. 15) Dessa forma, as produções de um tempo são sintomas daquilo que o produziu, ou seja, discursos resultantes de práticas discursivas. Há de se considerar as condições de possibilidades, a fim de que esse processo de produção saia da antiga concepção de causalidade. Não se busca a origem, mas as rupturas que tornaram possíveis a 18 produção dessas mudanças. A História passa a ser uma razão que articula as práticas e os discursos, então, como produtos dessas práticas, ―autoriza a força que exerce o poder‖. Percebemos, dessa forma, que as mudanças na estrutura e nos discursos que enunciam o que é ser negro no Brasil, fundamentam-se em condições de possibilidades instauradas em um arquivo gerado a partir de acontecimentos que compõem a memória do povo brasileiro, seja por meio dos discursos oficiais, localizados nas leis, seja pelas narrativas ordinárias que vicejam dos adágios populares, das lutas ou dos silêncios, que invadem como fumaça, que anuncia fogo e que tornará a invadir o campo, ao sabor do vento. Referências Ana Lourdes Queiroz da Silva tem Mestrado em Letras, pela Universidade Federal do Maranhão. Professora Assistente II, da área de Letras do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão. BARROS, José D‘Assunção. A Nova História Cultural – considerações sobre o seu universo conceitual e seus diálogos com outros campos históricos. Cadernos de História, Belo Horizonte, v.12, n. 16, 1º sem. 2011; BURKE, Peter. A escrita da história: novas perspectivas. São Paulo. Universidade Estadual Paulista, 1982; CERTEAU, Michel de. A Escrita da história. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1982. ______. A invenção do cotidiano. Rio de Janeiro: Vozes, 2014; FILHO, Mário. O negro no futebol brasileiro. 5ª. Edição. Rio de Janeiro: Mauad, 2010; FOUCAULT, Michel. A arqueologia do saber. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2015. ______. Arqueologia das ciências e a história dos sistemas de pensamento. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2008; GUILHAUMOU, J.; MALDIDIER, D. Efeitos do arquivo: análise do discurso ao lado da história. IN: ORLANDI, Eni. Gestos de Leitura: da história no discurso. 2ª.ed. Campinas, SP: Unicamp, 1997; POSSENTI, Sírio. Análise Do Discurso e Acontecimento: Breve Análise de Um Caso. In: NAVARRO, P. (Org). Estudos do texto e do discurso: mapeando conceito e métodos. São Paulo: Claraluz, 2006; 19 HISTÓRIA E EDUCAÇÃO SEXUAL: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Arthur Jonatha Souza de Nascimento Na escola as relações socioculturais e as relações de gênero são marcadas por discursos sobre a sexualidade e gênero que podem produzir desigualdades e submissões. A partir dessa perspectiva o objetivo deste trabalho é promover algumas reflexões críticas sobre a Educação Sexual na prática pedagógica e sua importância no combate ao preconceito e estereótipos de gênero, assim como na conscientização acerca de gênero e sexualidade. O trabalho foi realizado através de uma pesquisa bibliográfica utilizando conceitos de autores como Michel Foucault. Procurou-se demonstrar também algumas das dificuldades enfrentadas para a efetivação de políticas públicas voltadas para a Educação Sexual. O debate acerca da temática não é recente, durante o século XX a Educação Sexual de jovens e adultos já era foco de professores e médicos. Desde a década de 80 o assunto vem ganhando mais espaço na atualidade, problemas como a gravidez na adolescência e a transmissão de DSTs vêm alertando autoridades e pais sobre a relevância da educação sexual escolar como instrumento de prevenção. O tema da pesquisa bibliográfica foi selecionado devido à emergência do debate sobre temas como gênero, sexualidade e orientação sexual, estas temáticas ainda são consideradas tabus, principalmente no ambiente escolar, diante desta realidade, o estudo visa descrever a importância da Educação Sexual e auxiliar para que a sexualidade possa ser desenvolvida com respeito, respeitando as diferencias de gêneros e orientação sexual, visando à tolerância e o respeito entre os membros do ambiente escolar. O Grupo de Trabalho e Pesquisa em Orientação Sexual (GTPOS) define educação sexual como qualquer meio pelo qual aprendemos sobre a sexualidade ao longo da vida, seja pela família, da religião, a comunidade, através dos livros ou da mídia. Essa educação é contínua podendo ser intencional ou não. Questões referentes à educação sexual abrangem aspectos emocionais, históricos, socioculturais, entre outros, nesse sentido, pra tratar da educação sexual é necessário utilizar mais que a abordagem da biologia. A escola é o ambiente onde jovens e crianças ficam a maior parte do tempo durante o desenvolvimento do seu aprendizado e enquanto espaço social que reúne diariamente crianças e adolescentes se torna um ambiente favorável ao desenvolvimento de atividades no âmbito da sexualidade e tem importante papel para a sexualidade, saúde e 20 cidadania. A escola exerce um importante papel na sexualidade durante a infância e adolescência ―se relacionarmos o processo de escolarização à disciplinarização dos corpos de crianças e jovens, veremos que a educação do sexo encontrou seu lugar privilegiado na escola desde muito cedo‖. [in: César, 2009]. Segundo Ribeiro (2011), a Educação Sexual no ambiente escolar necessita ocorrer no campo pedagógico, não tendo, assim, um caráter terapêutico. Para Jardim e Bretas (2005) a Educação Sexual é majoritariamente um domínio da família, pois é peça chave na formação da identidade de gênero e na prática dos papéis sexuais de seus filhos. É indiscutível a importância da família neste debate, porém é necessário que a escola se mantenha aberta para a discussão, independentemente da participação de ambos, a sexualidade está abertamente sendo debatida através dos meios de comunicação, como internet e televisão. Dificuldades para a criação de políticas públicas para educação sexual César (2009) alerta que durante a ditadura de 1964 o regime impôs um controle e moralização dos costumes, especificamente devido à união entre os militares e o grande grupo conservador da igreja católica, a Educação Sexual foi banida e taxada como ―imoral‖ e considerada inapropriada para o ambiente escolar, tal pensamento ainda é presente, em 2004 o governo federal lançou o projeto Brasil Sem Homofobia, um parte deste projeto tratava sobre a formação de educadores para questões de gênero e sexualidade, vejamos alguns pontos: ―Elaborar diretrizesque orientem os Sistemas de Ensino na elaboração de ações que comprovem o respeito ao cidadão e a não- discriminação por Orientação Sexual. Fomentar e apoiar curso de formação inicial e continuada de professores na área da sexualidade. Estimular a produção de materiais educativos (filmes, vídeos e publicações) sobre orientação sexual e superação da homofobia.‖ [In: Brasil, 2004]. A preocupação com questões de gênero, sexualidade e orientação escolar na escola causou a reação da chamada Bancada Evangélica do congresso nacional que promoveu um verdadeiro ataque ao projeto fazendo que fosse abandonado pelo governo federal, tal acontecimento demonstra a dificuldade para implantação de políticas públicas para a Educação Sexual. Para Zarbato (2015) atualmente, a abordagem do assunto gênero é um dos grandes desafios do ensino 21 de história, devido aos encadeamentos das legislações, assim como as influências sociais e culturais. História, gênero e sexualidade Como demonstra Foucault a sexualidade é constituída historicamente através de discursos que produzem regras e normas, vejamos: ―A sexualidade é o nome que se pode dar a um dispositivo histórico: não à realidade subterrânea que se aprende com dificuldade, mas à grande rede de superfície em que a estimulação dos corpos, a intensificação dos prazeres, a incitação ao discurso, a formação dos conhecimentos, o reforço dos controles e das resistências, encadeiam-se uns aos outros, segundo algumas grandes estratégias de saber e poder‖. [In: Foucault, 1984]. Louro (2007) afirma que grande parte dos pesquisadores e interessados no assunto concordam que a sexualidade supõe ou implica mais do que corpos, que nela estão envolvidos valores, linguagens e comportamentos. A sexualidade é inerente e faz parte da condição humana e a escola deve tratá-la como tal. É importante ressaltar que ao falarmos de sexualidade, também estamos falando de orientação sexual, tal assunto muitas vezes é alvo de colocações equivocadas, o discurso da escola deve ser livre de preconceitos para que não ocorra nenhum tipo de discriminação. Sobre Gênero, Joan Scott (1995, p.71) justifica suas ideias nas concepções a seguir: ―As relações de gênero são marcadas por desigualdades, hierarquias e obediências, sendo relações de poder. Elas possuem uma dinâmica própria, se articulando através de outras formas de dominação e desigualdades sociais, como raça, etnia, classe, etc. Sendo legitimada socialmente, se constitui em construções. Essa perspectiva permite entender as relações sociais entre homens e mulheres, o que pressupõe modificações e conservações, desconstruções e reconstrução de elementos simbólicos, imagens, práticas, comportamentos, normas, valores e representações‖. Conforme Louro (1997) os conceitos de gênero divergem não meramente entre as sociedades ou os contextos históricos, mas também no interno de uma dada sociedade, ao se considerar os diversos grupos (étnicos, religiosos, raciais, de classe) que a constituem. A abordagem do tema gênero no ambiente escolar visa à desconstrução de ideias sexistas, que são adquiridas através de 22 inúmeras aprendizagens e práticas e que são reproduzidas pelos alunos. Segundo César (2009) trabalhar as relações de gênero consiste em somente expressar que meninos podem ser também meigos e sensíveis sem que isso seja capaz de ―machucar‖ sua masculinidade, e que meninas podem ser agressivas e objetivas, além de gostarem de futebol, sem que esses atributos diminuam sua feminilidade. A educação sexual deve buscar demonstrar e combater estereótipo de gênero que permeiam a existência das mulheres e dos homens. Na história a questão do gênero pode ser abordada buscando dialogar sobre as lutas das mulheres e sua história, como afirma Costa (2003, p. 165); ―Os estudos das mulheres, a história social e a dos feminismos, aproximados, serão, agora, os lugares principais de assentamento do conceito de gênero. Agrupadas sob diferentes interesses intelectuais, pesquisadoras, feministas ou não, portam inquietações e tradições intelectuais e, se com elas se ingressa nos debates sobre o conceito de gênero, experimentam-se profundas mudanças paradigmáticas na história social e pessoal‖. [in: Costa, 1994.] Considerações finais A escola deve discutir os vários temas e ações da sociedade atual, relacionados a gênero, sexualidade e orientação sexual sempre buscando a reflexão para que assim ocorra uma educação sexual realmente emancipadora e tenhamos jovens com menos preconceitos nas relações sociais e mais informações sobre o corpo e a sexualidade. Deve-se compreender a sala como um espaço para que, por meio de dinâmicas, possamos problematizar temáticas, elevar questionamentos e expandir a visão de mundo e de conhecimento. Finalizando, para Britzman (1999) professores necessitam produzir a capacidade de desestabilizar o conhecimento em nome da liberdade. A Sexualidade e a Educação Sexual se referem a práticas de liberdade e todos os esforços a favor desse debate é preciso. Referências Graduando do Curso de História na Universidade da Amazônia - UNAMA e professor do ensino fundamental na rede privada de ensino em Belém-PA. BRASIL. Conselho Nacional de Combate à Discriminação. Brasil Sem Homofobia: Programa de combate à violência e à discriminação contra GLTB e promoção da cidadania homossexual. Brasília: Ministério da Saúde, 2004. 23 BRITZMAN, Deborah. Curiosidade, sexualidade e currículo. In: LOURO, G.L (Org). O corpo educado. Pedagogias da Sexualidade. Belo Horizonte: Autentica 1999. CÉSAR, Maria. Gênero e sexualidade e educação: Notas para uma ―Epistemologia‖. Educar em Revista [online]. Vol.35, Curitiba. 2009. COSTA, J.F. A ética e o espelho da cultura. RJ: Rocco, 1994. FOUCALT, M. História da sexualidade: a vontade de saber. 4. ed. Rio de Janeiro: Graal, 1997. V.1. JARDIM, Dulcilene Pereira; BRETAS, José Roberto da Silva. Orientação sexual na escola: a concepção dos professores de Jandira - SP. Revista Brasileira de Enfermagem. 2006, vol.59, n.2, pp.157- 162. LOURO, Guacira Lopes. Gênero, sexualidade e educação: Uma perspectiva pós-estruturalista. 6. Ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1997. ______Gênero e sexualidade: pedagogias contemporâneas. Pro- Posições [online]. 2008, vol.19, n.2, pp.17-23. RIBEIRO, Marcos. Educação Sexual e Metodologia. 2011. Disponível em: <http://www.adolescencia.org.br/upl/ckfinder/files/pdf/Educa%C3% A7%C3%A3o%20Sexual_Marcos%20Ribeiro.pdf>. Acesso em: 30 jul. 2017. SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil para a análise histórica. Educação e Realidade, Porto Alegre, v.20, n.2, p.71-99, 1995. ZARBATO, Jaqueline Aparecida Martins. As estratégias do uso do Gênero no ensino de História: narrativa histórica e formação de professoras. Revista Trilhas da História. Três Lagoas, v.4, nº8 jan- jun, 2015.p.49-65 24 RACISMO, HISTÓRIA DE ÁFRICA E APLICABILIDADE: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Cirila Regina Ferreira Serra Em geral, a conquista da lei 10.639/03 resulta no reconhecimento a invisibilidade africana na formação histórica do país ao longo da trajetória do sistema educacional e social. Tal reconhecimento foi fruto de lutas do movimento negro organizado e outros agentes sociais que buscavam a inclusão do Ensino de África como carga horária curricular obrigatória como forma de atenuar o problema da questão racial no Brasil. Para além dos aspectos do problema de implementação e aplicabilidade da lei, não é demasiado lembrar a grande importância que os povos africanos tiveram no processo de construção sociocultural brasileiro, mas devido a problemática do racismo,a população constituída por pretos e pardos foram colocados a invisibilidade, sendo lembrados e associados de maneira recorrente ao passado de escravidão, e submetidosa imposição de se moldarem a um padrão de beleza totalmente contrário as origens africanas. O que torna imprescindível a aplicabilidade de uma educação antirracista. A permanência de práticas racistas na sociedade contemporânea, segundo Hasenbalg, ―trata-se de um conflito político e ideológico em torno de símbolos e significados que remetem a interpretações contraditórias da sociedade brasileira e sua história‖ (HASENBALG, 1992, p. 142). Contradições estas que não podem ser resumidas apenas a um legado escravista porque o Brasil criou um tipo específico de racismo que se espalhou entre os meios sociais, entre as classes, entre as pessoas, de modo que ele se reproduz cotidianamente silenciado entre pessoas que sofrem e praticam, às vezes, sem nem mesmo o perceber. Nesta perspectiva, a lei 10.639/03 e outras são necessárias ao enfrentamento de práticas racistas. Logo, exigir a garantia do seu cumprimento significa não só uma reparação social, mas um direito à afirmação de uma identidade que é negada à população negra, a qual ao longo da história foi marcada por serem descendentes de sujeitos escravizados e não de povos tirados do seu continente de origem e submetidos ao trabalho forçado. A lei acabou significando para muitos que lutam e sofrem com a questão racial um instrumento legal para proporcionar uma educação cuja referência histórica da população negra não fosse limitada 25 apenas a escravidão, mas acerca da historicidade de povos do continente africano para além do olhar europeu. Como resultado de uma educação voltada para pensar a inclusão do negro a partir de um protagonismo negro, resolveria, em parte, a problemática do racismo e suas variáveis, mas para isso o ensino de história de África tem que deixar de ser um problema e se tornar algo aplicável.Hebe Mattos, ao refletir acerca da problemática do ensino de África na educação básica faz a seguinte sugestão, ―Desenvolver condições para uma abordagem da História no mesmo nível de profundidade com que se estuda a história europeia e suas influencias sobre o continente americano. (...) Incorporar, de forma vigorosa, à formação de professores do ensino fundamental, as novas pesquisas que abordam, historicamente, experiências concretas de criação e de transformação culturais e identitárias, na experiência da diáspora africana. Ao contar a história das festas populares, das vivencias religiosas de escravos e livres nas irmandades católicas ou nos terreiros de candomblé, ao discutir as transformações da capoeira ou estudar as diferenças étnicas e culturais entre os escravos africanos, bem como seus conflitos e alianças com os escravos nascidos no Brasil, entre tantos outros temas, começa-se finalmente a romper a dualidade Brasil mestiço versus pureza africana e a enfatizar uma perspectiva efetivamente plural, do ponto de vista da história cultural‖. (MATTOS, 2009, p. 135). Hélio Santos analisando a problemática recomenda que se trabalhe para a construção de uma pedagogia reversiva, ―que possa ser usada pela escola, em conjunto com a visibilidade positiva do negro e o afro-mestiço pela mídia – facilitarão ao país assumir a sua verdadeira cara. Isso significa construir um modelo novo estético-cultural que revolucione o país, pois muda a maneira do brasileiro ver a si próprio‖ (SANTOS, 1996, p. 119). E, assim, se possa trabalhar a autoestima dos que não se veem representados na grande mídia, em livros didáticos, e na própria historiografia. Para que se possa amenizar no futuro o ―racismo sem raça‖(MBEMB, 2014, p. 19).Nessa acepção, refiro-me a Achille Mbembe, que esclarece que a categoria negro foi ―inventado para significar exclusão, embrutecimento e degradação, ou seja um limite sempre conjurado e abominado‖, que resultou na construção de uma raça social fundamentada na ideologia do racismo. Em linhas gerais, os meandros que definiram e promulgaram a lei 10.630/03 não definiram a sua implementação e aplicabilidade. Embora a conquista da lei tem se constituído ao longo dos anos um 26 grande avanço social e histórico para população de negros e negras e para própria história social do Brasil, nos últimos anos, se conseguiu muito pouco em termos de aplicabilidade, considerando que já passaram catorze anos da promulgação. O pouco se deu em virtude de muita discussão envolvendo estudos acadêmicos, secretárias, corpo docente, gestores escolares e os demais agentes educacionais. As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, apresenta dimensões normativas, reguladoras de caminhos para implementação da lei 10.639/03, a partir de quatro eixos normativos: história e cultura afro-brasileira e africana, consciência política e histórica da diversidade, fortalecimento de identidades e de direitos, ações educativas de combate ao racismo e as discriminações. O texto salienta ainda ―que tais políticas têm como meta o direito dos negros se reconhecerem na cultura nacional, expressarem visões de mundo próprias, manifestarem com autonomia, individual e coletiva, seus pensamentos‖, e prossegue argumentando que: ―Tais políticas têm, também, como meta o direito dos negros, assim como de todos cidadãos brasileiros, cursarem cada um dos níveis de ensino, em escolas devidamente instaladas e equipadas, orientados por professores qualificados para o ensino das diferentes áreas de conhecimentos; com formação para lidar com as tensas relações produzidas pelo racismo e discriminações, sensíveis e capazes de conduzir a reeducação das relações entre diferentes grupos étnico- raciais, ou seja, entre descendentes de africanos, de europeus, de asiáticos, e povos indígenas. Estas condições materiais das escolas e de formação de professores são indispensáveis para uma educação de qualidade, para todos, assim como o é o reconhecimento e valorização da história, cultura e identidade dos descendentes de africanos‖. (BRASIL, 2004, p. 10-11). O passo seguinte para implementação das diretrizes se constituem em um comprometimento dos vários elos ligados ao sistema de ensino, assim como a participação do corpo docente, gestores, equipe pedagógica e demais agentes ligados a educação como secretaria, conselho e ministério. No que tange aplicabilidade, embora o livro didático em grande parte ainda não atenda as diretrizes curriculares sugeridas a História da África, hoje é possível encontrar uma variedade de materiais muito bem produzidos (Faço referência a coleção da Unesco sobre a História Geral da África, o trabalho de Leila Leite Hernandez: África na sala de 27 aula, o trabalho de Marina de Mello e Sousa: África e Brasil africano e uma quantidade significativa de materiais que o MEC vem produzindo como os materiais didáticos e paradidáticos para suprir essa necessidade) que atende as definições da lei. A utilização de repertórios pedagógicos, sequencias didáticas, estratégias didáticas tem se constituídos em táticas de aplicabilidade, pois tais recursos abrangem uma serie de possibilidades de aplicação desse conteúdo. Cabe ao corpo docente fazer uso de tais recursos. As Diretrizes Curriculares para a Educação das Relações Étnico- Raciais, no que se refere ao Ensino de História da África tem com princípio tratar o tema a partir de uma ―perspectiva positiva, não só de denúncia da miséria e discriminações que atingem o continente, nos tópicos pertinentes se fará articuladamente com a história dos afrodescendentes no Brasil‖ (BRASIL, 2004, p. 21) a partir de temas relativos como a importância da oralidade como fonte de memória histórica, à história da ancestralidade e religiosidade africana, às civilizações e organizações e pré-coloniais, à ocupação colonial na perspectiva dos africanos, às lutas pela independência política dos países africanos,às relações entre as culturas e as histórias dos povos do continente africano e os da diáspora, entre outros tema. O que se propôs aqui foi apresentar uma reflexão ainda que sucinta sobre a questão racial brasileira e a importância de se ter uma lei que ressignifique a história social e cultural da população de negros (as), assim como discutir formas de implementação e aplicabilidade para o ensino de História da África. Embora ainda não tenha sido possível efetivar como se espera a implementação e aplicabilidade do ensino de África ao currículo escolar, tendo em vista que ainda permanecem muitas lacunas a serem preenchidas como a própria qualificação do corpo docente, já é possível trabalhar mesmo com dificuldades, a temática na sala de aula, pois cabe também aos professores/coordenadores/gestores pensar estratégias de aplicabilidade. A lei 10.639/03 se constitui como meio legal e institucional de reparar por via da educação, anos de folclorização e silenciamento da história e cultura afro-brasileira e africana nos currículos escolares, possibilitando uma consciência histórica a jovens negros(as) e brancos(as), fazendo compreender-se como sujeitos históricos e transformadores da sociedade. Para que no futuro possam representar uma nova geração que possivelmente tornarão as relações sociais menos desiguais e o racismo menos praticável. 28 Referências Cirila Regina Ferreira Serra, mestrando no Programa de Pós- Graduação de História da UEMA. BRASIL. Diretrizes curriculares nacionais para a educação das relações étnico-raciais e para o ensino de história e cultura afro- brasileira e africana. Brasília: MEC/SECAD/ SEPPIR/INEP, 2004. BRASIL, Lei Federal nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003. HASENBALG, Carlos A. Discursos sobre a raça: pequena crônica de 1988. In: SILVA, Nelson do Valle; HASENBALG, Carlos A. Relações raciais no Brasil contemporâneo. Rio de Janeiro: Rio Fundo Ed., IUPERJ, 1992. MATTOS, Hebe M. O ensino de história e a luta contra a discriminação racial no Brasil. In: ABREU, Martha; SOIHET, Rachel (orgs.). Ensino de história: conceitos, temáticas e metodologia. – 2. ed. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2009. MBEMB, Achille. Crítica da Razão Negra. Lisboa: Antígona, 2014. SANTOS, Hélio. Uma visão sistemática das estratégias aplicadas contra a discriminação racial. In: Estratégias e políticas de combate à discriminação racial. São Paulo: Editora USP: Estação Ciência, 1996. 29 RELEVÂNCIA DA LEI Nº 10.639/03 NO CURRÍCULO ESCOLAR DA EJA David Richard Martins Motta Pontuando os alicerces da Educação de Jovens e Adultos (EJA) nos aspectos emancipatórios voltados para a classe trabalhadora, o presente trabalho busca destacar a relevância desses preceitos somados a Lei nº 10.639/03. Esse estudo destaca a importância da abordagem valorativa das contribuições afro brasileira e africanas na disciplina de história na modalidade de ensino da EJA. Para nos situarmos é preciso pontuar que a Educação de Jovens e Adultos (EJA) é uma categoria de ensino destinada aos jovens e adultos que não tiveram acesso ou que por algum motivo não puderam concluir o ensino na idade própria. O que descrevemos aqui como ―aspectos emancipatórios da EJA‖ é o entendimento que a Educação de Jovens e Adultos tem em seu cerne práticas e reflexões que favorecem a consciência crítica e a emancipação do educando (VENTURA, 2008). Dentro desse contexto percebemos também que a EJA está associada diretamente a classe trabalhadora (CIAVATTA; RUMMERT, 2010) não uma classe trabalhadora qualquer, mas uma que, em sua maioria, é negra, e sofre pesadas consequências por viver em um país com latentes cicatrizes históricas da escravidão, que permeiam a vida de todos os trabalhadores negros do Brasil. Nesse sentido, seguindo os aspectos emancipatórios da Educação de Jovens e Adultos que se relaciona com a valorização e respeito à cerca das origens do alunado o presente trabalho se propõe a analisar sucintamente as contribuições da Lei 10639/03 na Educação de Jovens e Adultos. Para entendermos a importância de um projeto emancipador para os alunos negros e trabalhadores da EJA, temos que antes de tudo entender a trajetória histórica da diáspora africana no Brasil. Desde os primórdios da colonização do Brasil, a mão de obra negra escravizada foi engrenagem motriz para a saúde econômica do Brasil colonial. O historiador Alencastro explica: ―A partir de 1550, todos os ―ciclos‖ brasileiros – o do açúcar, o do ouro e o do café – derivam do ciclo multissecular de trabalho escravo resultante da pilhagem do continente africano. O tráfico negreiro vai irrigar os desdobramentos regionais e setoriais da economia mineira, permitindo o desenvolvimento simultâneo das diferentes zonas produtivas: a indústria açucareira não só se mantém como acaba 30 rendendo mais que a do outro no século XVIII‖ (ALENCASTRO, 2000, p.353). O trecho supracitado traz uma informação bastante estudada quando analisamos a época colonial brasileira. Contudo, na maioria das vezes que estudamos os ciclos econômicos da história colonial, não conectamos que quem produziu toda a riqueza do ouro, açúcar e o café foram os escravizados vindos coercitivamente da África. Outro fator que pesa sobre a trajetória negra no território nacional é que durante o regime escravocrata, chegaram a desembarcar no litoral do brasileiro cerca de cinco milhões e oitocentos mil seres humanos para serem escravizados (SLAVE VOYAGES, 2017). Dentro desse contexto de laços estreitos com o continente africano devemos perceber que a educação de jovens e adultos tem, em seus fundamentos, a emancipação das massas excluídas, além disso, seus conteúdos curriculares e as práticas pedagógicas devem estar mais próximos do educando possível (CAPUCHO, 2012). Nesse sentido a EJA dentro das suas matrizes curriculares para o ensino de história tem uma obrigação especial em considerar a Lei nº 10.639/03, que torna obrigatório o ensino de História e Cultura africana e afro brasileira. Outro ponto fundamental para o ensino da EJA é que esse espaço não pode ser um ambiente de reprodução dos ―preconceitos, estereótipos e discriminações construídas socialmente e carregados tanto por essa modalidade educacional‖ (ANDRADE, 2009). Esse aspecto contra hegemônico da EJA de sempre se opor aos preconceitos enraizados na sociedade brasileira referente à população negra e trabalhadora, tem como auxílio o currículo escolar emancipatório alinhado a Lei nº 10.639/03. Lei nº 10.639/03 no currículo escolar Entendendo que os estabelecimentos de ensino são ambientes multiculturais e plurirraciais acreditamos que diante de currículos e propostas pedagógicas que valorizem a aprendizagem da história e da memória de povos de todo o mundo e da cultura que cerca a sociedade, ter-se-á uma sociedade mais justa, igualitária e comprometida com a disseminação das suas raízes culturais. Assim, a Lei nº 10.639/03 vem como uma forma de garantir que tais instrumentos de aprendizagem sejam disponibilizados para milhões de estudantes brasileiros, buscando ―superar a valorização da diversidade cultural como mero folclore, tentando articular essa valorização com o desafio às desigualdades e a construção das diferenças a elas associadas‖ (CANEN, 2004, p.113). 31 O Brasil é o país com a maior população negra no mundo fora da África, no entanto as desigualdades étnicas ainda persistem. Houve grandes avanços nos últimos anos, no combate à discriminação e nas políticas afirmativas, uma delas é a Lei 10.639/03 que tornou obrigatório em todas as escolas do país, o ensino de história da África e de história e cultura afro-brasileira e, mais tarde, a Lei 11.645/08, expandiu o alcance dessa obrigatoriedade implementando o ensino de históriae cultura indígena. Essas novas leis reconhecem a memória e as contribuições afro-brasileiras. No Brasil, se cruzam dois movimentos ideológicos de dominação sobre os brasileiros, o da ideologia da dominação racial, que ao propagar ―idéias de inferioridade do negro justificava a escravização dos africanos e o mito da democracia racial, que ao negar a estrutura racista brasileira, naturalizou as desigualdades sociais‖ (ROCHA, 2009, p. 54). Conforme Heymann e Arruti analisam a Lei 10.639/03 se encaixa mais como a rejeição à marginalização e busca de inclusão social do que como afirmação de uma identidade exclusiva ou alguma forma de separatismo (HEYMANN; ARRUTI, 2012, p. 112). Além disso, a Lei 10.639/03 desempenha um papel muito importante para a desconstrução dessas ideologias de dominação, para a valorização dos brasileiros negros e também auxiliam na ―descolonização‖ dos currículos educacionais brasileiros. Essa lei contribui para a construção de uma educação livre de racismo, no momento em que tornam ―público os estudos sobre a questão afro-brasileira e africana‖. Ademais, essa lei contribui para o processo de ―superação da perspectiva eurocêntrica de conhecimento tornando-se um desafio para a escola, os educadores e para a formação docente em geral‖ (GOMES, 2012, p. 105-107). A Lei 10.639/03 se encaixa perfeitamente no que os autores Heymann e Arruti ressaltaram a cerca do reconhecimento de memória nacional, eles destacam que: ―[...] aqui (no Brasil) estaria em jogo, sobretudo, a memória da diversidade [...] no Brasil, as lutas por reconhecimento e direitos de grupos minoritários emergem da valorização da diversidade étnica e cultural e da denúncia de uma situação histórica de desigualdade e exclusão [...]‖ (HEYMANN; ARRUTI, 2012, p. 114). Ou seja, a Lei 10.639/03 vem para livrar da marginalização histórica grupos minoritários reivindicando assim o dever de memória, história e justiça. Além disso, em relação a EJA essa lei contribui positivamente para o projeto de educação emancipadora da classe trabalhadora que está contida na cerne da EJA. 32 Outro ponto que pesa a favor da aplicabilidade da Lei 10.639/03 na disciplina de história e nas turmas de EJA tem relação as que as atuais concepções da história social prezam por uma abordagem histórica que não se paute somente nos feitos dos ―heróis‖. Os ―novos‖ sujeitos históricos esquecidos e relegados a subalternidade agora tem peso relevante no ensino de história (BERUTTI; MARQUES, 2009). Se tratando da história do Brasil, percebemos que os sujeitos negros escravizados por mais de 300 anos se encaixam nesse grupo social abandonado pelas antigas abordagens historiográficas na disciplina escolar de história. Essa perspectiva historiográfica que possibilita a ―incorporação de novos sujeitos, provenientes de setores populares‖ (BITTENCOURT, 2009) gera a necessidade de novas propostas curriculares que estejam de acordo a Lei 10.639/03 e as concepções da EJA. Considerações finais Buscou-se abordar nesse trabalho o entendimento a respeito da importância de um projeto emancipador para os alunos negros e trabalhadores da EJA. Para isso abordamos aqui o peso da Lei 10.639/03 na disseminação da memória das contribuições africana e afro-brasileiras na construção nacional. Nosso entendimento nesse estudo é de que o currículo escolar pode contribuir positivamente para uma abordagem valorativa das contribuições afro-brasileira e africanas na disciplina de história na modalidade de ensino da EJA. A escolha pelas turmas de EJA se deu pelo fato dessa modalidade de ensino estar associada diretamente a classe negra trabalhadora e que sofre pesadas consequências por viver em um país com latentes cicatrizes históricas da escravidão, que permeiam a vida de todos os trabalhadores negros do Brasil. Referências Bibliográficas David Richard Martins Motta. Licenciado em História pela UFRRJ – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Estudante de Pós- graduação pelo IFRJ - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro. E-mail:mottacell@yahoo.com.br ALENCASTRO, Luiz Felipe. O trato dos viventes – formação do Brasil no Atlântico Sul - Séculos XVI e XVII. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. ANDRADE, Eliane Ribeiro. Os jovens da EJA e a EJA dos jovens. In: PAIVA, Jane; OLIVEIRA, Inês B. de (Orgs.). Educação de jovens e adultos. Petrópolis: DP e Alli, 2009, p.35-43. BERUTTI, Flávio; MARQUES, Adhemar. Ensinar e Aprender História. Belo Horizonte: RHJ, 2009. 33 BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Ensino de História: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2009. CANEN, Ana. Novos olhares sobre a produção científica em educação superior: contribuições do multiculturalismo. São Paulo: Cortez, 2004. CIAVATTA, Maria; RUMMERT, Sonia Maria. As implicações políticas e pedagógicas do currículo na educação de jovens e adultos integrada à formação profissional. Educação & Sociedade. Campinas, v.31, n.111, p. 461-480, abril/junho. 2010. ISSN 0101-7330. Disponível em:<http://dx.doi.org/10.1590/S0101-73302010000200009>. Acesso em: 18 nov. 2017. GOMES, Nilma Lino. Relações Étnico-Raciais, Educação e Descolonização dos currículos. Currículo sem Fronteiras, v.12, n.1: 2012. pp. 98-109 HEYMANN, Luciana Quillet; ARRUTI, José Maurício. Memória e reconhecimento: notas sobre as disputas contemporâneas pela gestão da memória na França e no Brasil. In: GONÇALVES, Márcia de Almeida et al. (Orgs.). Qual valor da história hoje? 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Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade Federal Fluminense, Rio de Janeiro. 2008. 34 HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO INDÍGENA: ENTRE LUTAS, RESSIGNIFICAÇÕES E CONQUISTAS DE DIREITOS Denilce Raimunda de Castro Mourão Wilverson Rodrigo Silva de Melo Introdução O final da década de 70 foi marcado por discussões acaloradas quanto a luta dos direitos indígenas no que tange o contexto educacional, em especifico, pela conquista de um currículo diversificado que contribuísse no resgate e valorização de aspectos da cultura indígena, considerando nesse contexto, a histórica sobreposição de valores e costumes europeus em relação aos indígenas desde a colonização. As lutas dos movimentos indigenistas giravam em torno da defesa de uma educação específica e diferenciada que atendesse o conjunto de singularidades culturais, linguísticas e de costumes, ou seja, todos aqueles saberes empíricos relevantes para os povos tradicionais. O processo de reivindicação dos direitos indígenas foi assinalado pelo surgimento de associações nacionais e outras não governamentais no amazonas como a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN), Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB) e Movimento dos Estudantes Indígenas do Amazonas (MEIAM), que objetivavam e defendiam uma educação escolar indígena específica e diferenciada que abrangesse da educação básica até o ensino superior, fortalecendo as reivindicações dos movimentos indígenas. O surgimento dessas associações se justificava na medida em que contribuíam na socialização e no debate quanto a relevância de se preservar e introduzir elementos dos costumes, tradições e saberes tradicionais dentrodo currículo e no bojo das discussões de políticas públicas, visando a garantia do direito de reconhecimento a pluralidade étnico- cultural de cada povo. Década de 70: as lutas indígenas, as organizações e as conquistas O final da década de 70, marca o início das lutas, surgimento de organizações no Estado do Amazonas de apoio aos movimentos indígenas em busca de dar um novo sentido em relação a cultura que por um longo período da história foi ignorando pelos catequizadores da época, onde foram quase que totalmente descartados saberes de grande relevância a muitos povos primitivos, sendo impostos costumes alheio aos seus. Ainda no período da ditadura militar não existia nada que amparasse constitucionalmente a educação voltada para a cultura indígena, sobre o comando dos jesuítas não se pensava na diversidade cultural que existia entre os povos, o que 35 estava em discussão era envolver os sujeitos através da religiosidade e trabalho. De acordo com Buratto [2004], os jesuítas formaram as primeiras escolas, sobre a ordem de D. João, com o objetivo de povoar terras e espalhar o catolicismo entres os povos indígenas.Com a expulsão dos jesuítas pelo Marquês de Pombal, as escolas foram desativadas, a aprendizagem da língua materna foi substituída por apenas o português. Apesar de ainda não existir leis que amparasse o direito a uma educação diferenciada, já se existiam modelos de alfabetização para esses povos de acordo com o grupo a qual pertenciam, conforme Lei 6001 (Estatuto do Índio) garante a alfabetização dos índios (BURATTO, 2004;6). Durante o período de colonização, os povos indígenas tiveram modificações em vários aspectos que envolve o processo cultural, tendo suas identidades negadas, como os seus hábitos, costumes e principalmente na sua língua nativa, que foi mesclada no período que foram catequizados pelos jesuítas, como forma de unificar o processo cultural e de comunicação entre eles. Sobre isso esclarece Ióris: ―Ao longo de quase um século, até serem expulsas em 1750, essas missões cumpriram duplo papel, o de assegurar o alargamento das fronteiras coloniais lusitanas e o de promover um movimento para homogeneizar cultural e linguisticamente uma mão de obra indígena oriunda de diversos e distintos grupos étnicos.‖ [IÓRÍS, 2010:225]. Ainda sobre esse contexto: ―Esse período, de modo sucinto, teve como objetivo homogeneizar a diversidade cultural indígena através da imposição dos preceitos da civilização crista e, na medida do possível, incorporar sua mão de obra a emergente sociedade nacional‖ [RODRIGUES, 2016:24]. Essa é uma das principais causas de lutas e conflitos por espaços dentro da sociedade, tendo que ser palco de muitas discussões para ressignificação de saberes empíricos indígenas. Apesar de todas as conquistas, principalmente no que já está amparado por lei não são garantias de que todos os direitos serão efetivados na realidade. Sobre isso esclarece Estácio: ―Logo, parece haver um jogo de forças contraditórias entre as posições progressistas garantidas na lei e a efetivação desses princípios, ou seja, um distanciamento do dizer para o fazer.‖ [ESTÁCIO, 2016:107]. 36 Por mais que já exista na constituição o direito a uma educação diferenciada e específica para índios, ainda continua a resistência em seguir o sistema tradicional, com professores não indígenas ministrando aulas, sem entender a língua, deixando de garantir direitos educacionais relevantes a sua cultura, impondo costumes apenas dos ―brancos‖, os livros didáticos repletos de ideologias que não condizem as suas realidades. Década de 80: As lutas Indígenas Pós Ditadura Militar Com o fim do regime militar, abriu- se um caminho para um período longo de grandes lutas implementadas pelas entidades e organizações não- governamentais, em reivindicação pelas modificações na área política, onde o governo foi muito pressionado para buscar melhorias para o Brasil. Na década de 80, as lutas indígenas continuam com mais intensidade, uma época de muitos conflitos, com todos esses acontecimentos, dentro desse contexto surge a maior lei de 88, chamada de carta Magna, que abre caminhos para novas conquistas de direitos tradicionais que foram quase que esquecidos no tempo, como é o caso da cultura indígena, não só esse marco, como também a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional Lei n° 9394/96. Também conhecida como LDBEN ou Lei Darcy Ribeiro, garantindo que o ensino fundamental fosse ministrado na Língua Portuguesa, e dando aos povos indígenas o direito a aprendizagem de sua língua materna e o seu próprio processo de ensino, e também a lei 11/645/2008, que ampara o estudo da história tanto afro- brasileira como indígena no currículo. Os direitos não se restringem só a isso, mais esses marcos constitucionais abrem caminhos para os decretos, artigos e todos que virem a apoiar dentro desse contexto. ―O autor deixa claro que o objetivo principal das lideranças indígenas ao final da ditadura militar, era pressionar a união, os estados e também a sociedade, em busca de reestruturação na política indigenista do estado como forma de assegurar seus direitos a uma educação escolar autêntica que atendessem às especificidades de cada povo. Mesmo não tendo chegado ao ideal das escolas indígenas, as mudanças que vem acontecendo principalmente por causa da legislação, trazem uma aproximação para as exigências do movimento indígenas‖ [ESTÁCIO, 2016]. Nesse período as lutas dos povos indígenas eram por uma educação escolar que atendesse a diversidade cultural dos vários povos indígenas existentes. Foi um período onde surgiram importantes organizações de apoio aos movimentos e o princípio de inúmeras conquistas, que atendesse todos os seus direitos e alcançassem as 37 conquistas constitucionais de 1988. Nesse sentido esclarece Rodrigues: ―(...) a constituição de 1988 marca uma mudança importante na concepção do Estado sobre as sociedades indígenas. O fundamento epistemológico deixa de ser o integracionista e passa a ser o da valorização, ou pelo menos da aceitação, da diversidade cultural (...)‖ [RODRIGUES, 2016:26]. Ainda sobre esse fator discorre Souza: ―Ás décadas de 1980 e 1990, apesar de a educação escolar indígenas se apresentar ainda com mais questões a serem discutidas e transformadas, foram períodos de significativos avanços e conquistas, principalmente marcadas pela aceleração das discussões e propostas legais de regulamentação de educação escolar nas comunidades indígenas a partir da promulgação da Constituição Federal de 1988.‖ [SOUZA, 2016:56]. Apesar de todas as conquistas, ainda continuava a ser aplicada a educação do sistema formal, institucionalizada pela educação não indígena, ou seja estava amparado na lei, mas não estava sendo efetivado como deveria e continuava o processo de exclusão. Devido a esse fator de tantas contradições, as lideranças e representações comunitárias indígenas de todo o Brasil, procuraram através de assembleias resolver problemas comuns, como a educação específica e diferenciada que atendessem as especificidades sociocultural de cada povo. Sobre isso pondera Mourão; Melo: ―O reconhecimento desses saberes, como discorre a lei 11.645/2008, torna-se necessário no currículo escolar tanto fundamental, quanto médio, sendo um fator essencial para a transmissibilidade de um povo para outro, mas para isso é necessário que criem escolas, que atendem os povos indígenas com suas culturas, costumes, línguas enfim com tudo que for de direito, ou seja, uma escola diferenciada mas que possibilite não só esses saberes como também o sistematizado‖ [MOURÃO; MELO, 2017:14]. São inúmeros problemas em que os povos tradicionais são submetidos a enfrentar, desde a educação, saúde, disputas por posse de terra, percebe- se que atualmente ainda continuam intensose precisam lutar e construir meios para garantir espaços na sociedade, por esses motivos que quanto mais trabalhos, ou seja, literaturas voltadas para esses ricos conhecimentos, melhor para a valorização de saber. Sobre isso afirma Mourão; Melo: 38 ―Nessa mesma linha, torna- se necessário a construção de literaturas voltadas para os saberes como um fortalecimento cultural e social em favor dos povos tradicionais e também para o resgate desses costumes necessários para essa população‖ [MOURÃO; MELO, 2017:14). Os indígenas, assim como outros grupos tradicionais lutam contra a desigualdade ao acesso à educação dentro das universidades, sabem que é de grande importância para a construção de conhecimentos principalmente das leis que os amparam, mesmo tendo a consciência de que não é tão simples assim, pois a presença deles nesse espaço vem acompanhados de discriminações e de muitas dificuldades relacionado a língua e também ao seu cotidiano. Nesse campo esclarece Pitanga; Lira: ―Diversas são as dificuldades enfrentadas pelos indígenas no curso, sendo que a língua é a dificuldade preponderante. Isso sem contar que o seu cotidiano sofre consideradas transformações mesmo que estes estejam alojados em local um pouco afastado da sede do município, esses costumam caçar, por exemplo, o que não é possível no local. Não menor é o trabalho com textos científicos e a linguagem dos mesmos. Porém, os mesmos enfrentam esses fatos que se constituem enquanto problemas, o que nos impulsiona e aumenta nossa vontade de estudar e ampliar a sua formação nos professores indígenas‖ [PITANGA; LIRA, 1996:4]. Considerações finais No final da década de 70, começam as discussões, as lutas, em prol de uma educação específica e diferenciada para os índios.Nesse mesmo período surgem associações que vão fortalecer os movimentos indígenas em prol das reivindicações feitas por eles. Foram muitas conquistas, principalmente na década posterior, apesar da constituição estar recheada de direitos, ainda é preciso que se lutem constantemente para que sejam concretizados no que tange a educação escolar indígena. E um grande desafio para esses povos, pois em uma sociedade capitalista, onde o sistema das classes educacionais dominantes persistem em se manter, a efetividades desses direitos constitucionais ficam cada vez mais difícil. Dito em outras palavras, a história da educação brasileira no que tange a educação escolar indígena, no pós ditadura militar, teve inúmeras lutas, modificações, discussões e também conquistas em relação as leis, mas não o suficiente para mudar a realidade ao qual esses povos indígenas estão sujeitos.Atualmente esse senário continua evidente dentro dos ambientes escolares, da educação infantil, do ensino fundamental e médio e do ensinosuperior, 39 principalmente nessa última modalidade de ensino, onde são mais expostos as condições de desigualdade. A lei da abertura, mas não condições, ou seja, integra mas não incluem.Esses sujeitos têm acesso à educação superior, mas tem sua aprendizagem comprometida por vários aspectos, os mesmos além de terem que sair do seu próprio local de origem, aprender uma segunda língua (o português), encontrarem professores sem qualificação em línguas indígenas, sem intérprete na sala, e ainda são submetidos a avaliações formuladas para todos como se as salas de aula fossem homogêneas, sem se preocuparem com a diferença cultural de cada indivíduo. Dentro desse cenário, pode-se perceber que ainda é preciso muitas lutas para a efetivação de direitos constitucionais visando atender a educação em todas as suas dimensões, para que os povos indígenas tenham direitos ao acesso, permanência e formação no âmbito de uma educação intercultural, específica e bilíngue. Referências Denilce Raimunda de Castro Mourão – É acadêmica indígena do curso de Licenciatura Plena em Pedagogia da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA). E mail: denilcedecastro@hotmail.com Wilverson Rodrigo Silva Melo (Coautor e Orientador) - É Mestre em História pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e Doutorando em História Contemporânea pela Universidade de Évora (UÉVORA). Atualmente é Docente na Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA). E-mail: w.rodrigohistoriador@bol.com.br. BURATTO, Lucia Gouvêa. A educação escolar indígena na legislação e os indígenas com necessidades educacionais especiais. 2004?. In: http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/565- 4.pdf. ESTÁCIO, Marcos André Ferreira. Organizações Indígenas no Amazonas e a luta por Educação Escolar.VII Congresso Brasileiro de História da Educação- Cuiabá- MT. Ano 2016. IÓRIS, Edvirges Marta. Identidades negadas, identidades construídas:processos indenitários e conflitos territoriais na Amazônia.Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil, 2010. MOURÃO, Denilce Raimunda de Castro; MELO, Wilverson Rodrigo Silva de. Educação Indígena: os saberes tradicionais no currículo escolar. I Encontro Regional do Grupo de Estudos e Pesquisas 40 HISTEDBR-UFOPA Educação e Realidade Amazônica: história, formação docente, tecnologia, política educacional e diversidade cultural. Santarém, 2017. PITANGA, Maria Eunice Sá; LIRA, Rosenir de Sousa. Os (des) caminhos da educação indígena no Amazonas: o papel da universidade na formação dos professores. Revista Ibero americana de Educación - Palestra proferida no I Simpósio dos Povos Indígenas do Rio Negro: Terra e Cultura, Manaus, 1996. RODRIGUES, Gilberto Cesar Lopes. Educação e Emancipação na Escola Indígena: uma análise à luz dos fundamentos filosóficos da pedagogia histórico-crítica.In: Marcos André F. Estácio; Lucia Nicida. (Org). História e educação na Amazônia. EDUA, 2016, V. 1, P. 23-42. SOUZA, Adria Simone Duarte de. A construção do conceito de bilinguismo na educação escolar indígena: o caso dos Munduruku do Rio Canumã-AM. H673 História e Educação na Amazônia. / Organização de Marcos André Ferreira Estácio e Lucia Regina de Azevedo Nicida. – Manaus: EDUA; UEA Edições, 2016. 41 O ENSINO DA HISTÓRIA INDÍGENA NAS UNIVERSIDADES BRASILEIRAS: LEI, TABU E AUTODETERMINAÇÃO Eduardo Gomes da Silva Filho No Brasil o ensino da temática indígena ainda é tratado como tabu, mesmo com o advento da Lei nº 11.645/08. Esta Lei foi responsável pela obrigatoriedade da inclusão da história e da cultura dos povos indígenas nos currículos da Educação Básica. De fato, isso requer uma ampla divulgação junto aos sistemas de ensino, pois trata-se de além da efetivação da lei, uma maneira de garantir o direito dos povos tradicionais. Isto posto, volto-me agora para a questão do tabu do ensino da temática indígena nas escolas, que é um problema que deve ser enfrentado, não só por docentes e discentes, mas principalmente, pelo próprio poder público. Todavia muitas instituições não inseriram esta temática em suas grades curriculares, abrindo uma lacuna que precisa ser preenchida com brevidade. A esse respeito Luisa Tombini Wittmann et al comenta: ―É necessário, de início, que haja formação de professores na temática africana, afro-brasileira e indígena. Caso contrário, é alto o risco de não efetivação ou mesmo de abordagens enviesadas de conteúdos‖. (WITTMANN et al, 2016, p. 02). O alerta da profa. Wittmann é muito pertinente, soma-se a isso, outro fato colocado pelo professor Edson Silva (2002) que comenta: ―O desconhecimento sobre a atual situação dos povos indígenas, está associado basicamente à imagem do índio que é tradicionalmente veiculada pela mídia: um índio genérico com um biótipo formado por características correspondentes aos indivíduo dos povos nativos habitantes na Região Amazônica e no Xingu, com cabelos lisos, pinturas corporais e abundantes adereços
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