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1_ A TEORIA DA CRISE E A PRODUÇÃO CAPITALISTA DO ESPAÇO EM DAVID HARVEY

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TEORIA DA CRISE E PRODUÇÃO CAPITALISTA DO ESPAÇO: A 
CONTRIBUIÇÃO DE DAVID HARVEY 
 
Paulo Massey Saraiva Nogueira1 
 
1. O processo de acumulação capitalista: pressuposições onto-metodológicas para 
uma discussão interessada 
 
‘Localização’ e ‘espaço’ só adquirem especificidade enquanto suporte às 
atividades econômicas e, inversamente, as leis econômicas que governam a 
produção e reprodução social permanecem incompletas a não ser que levem 
em conta, desde sua concepção, a dimensão espacial da economia. 
(Csaba Deák) 
 
A teoria da ordenação espaço-temporal - contribuição seminal de David Harvey 
para a discussão do fenômeno urbano – pode ser sumariamente apresentada assim: o 
processo de autovalorização do valor como finalidade em si mesma faz da acumulação 
capitalista um movimento que se sobrepõe imperativamente ao mundo dos homens, 
desencadeando - contra e por meio deste - uma lógica incontrolável e expansível sob a 
forma-mercadoria. Por sua vez, isso leva às crises cíclicas de sobreacumulação do 
capital que, geralmente, encontram na expansão geográfica do espaço construído ou no 
deslocamento temporal dos excedentes de capital e trabalho uma solução temporária 
para a estagnação geral que sobrevém aos sistemas territoriais2. A continuidade do 
processo de valorização que exigira anteriormente o escoamento dos excedentes 
produzidos leva, mais uma vez, à sobreacumulação, desencadeando assim um ciclo de 
valorização/desvalorização enredado por uma dialética insana de destruição criativa. 
Antes, porém, de tentarmos apresentar os termos gerais dessa teoria em tão curto 
espaço e como resultado de um primeiro contato com o autor – o que será feito no 
próximo tópico (cf. 2.1 e 2.2) - queremos previamente advertir sobre duas preocupações 
 
1 Bacharel em Ciências Sociais (UECE). Mestrando em Geografia – MAG (UECE) 
 
2 Sem entrar no mérito das dissensões teóricas que se arrastam historicamente em torno dos conceitos 
fundadores da Geografia (espaço, região, território, lugar etc.), Harvey se refere comumente aos sistemas 
territoriais como sendo equivalente ao que ele chama de “coerência regional estruturada”, conceito este, 
por sua vez, apresentado de forma mais rigorosa, cumprindo possivelmente uma função de síntese em seu 
pensamento. Como afirma: “as alianças regionais de classe, vinculadas vagamente num território e 
organizadas habitualmente (ainda que não exclusiva ou unicamente) pelo Estado, são uma resposta 
necessária e inevitável à necessidade de defender os valores já materializados e a coerência regional 
estruturada já alcançada” (HARVEY, 2005b, p. 151).

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