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Direitos Humanos tema 4

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Direitos Humanos e Cidadania
Tema 4
A PERSPECTIVA DE DESENVOLVIMENTO DOS SISTEMAS DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS
Nesta unidade temática, você vai aprender
A caracterizar a evolução histórica do sistema internacional de proteção dos direitos humanos.
A identificar os sistemas regionais de proteção dos direitos humanos.
A compreender o sistema brasileiro de proteção dos direitos humanos.
Introdução
Iniciaremos no primeiro ponto com a análise do sistema internacional dos direitos humanos. Demonstraremos como e a partir de quais patamares a consagração dos Direitos Humanos é uma evolução na história da humanidade.
No segundo subitem passa-se ao denominado sistema regional de proteção dos Direitos Humanos, a maioria deles inspirados na fundamentação e consolidação da ordenação internacional.
Finalmente, na terceira posição, analisaremos o sistema brasileiro de proteção dos Direitos Humanos, que também teve, é claro, inspiração no patamar internacional e nas experiências regionais, principalmente entre nós, a partir da Constituição Federal de 1988.
Bom estudo!
A perspectiva de desenvolvimento dos sistemas de proteção dos direitos humanos
O sistema internacional de proteção dos direitos humanos
A controvérsia sobre o fundamento e a natureza dos direitos humanos sempre se deu de forma intensa, mormente no que se refere aos direitos naturais e inatos, direitos positivos, direitos históricos ou, ainda, direitos que advêm de determinado sistema moral, dado que o questionamento ainda permanece ativo no pensamento contemporâneo (PIOVESAN, 2018).
Além do mais, o maior problema, atualmente, não é mais o de fundamentar os Direitos Humanos, e sim o de protegê-los, sendo objetivo do Direito Internacional dos Direitos Humanos, resguardar o valor da dignidade humana, engendrada como âmago dos direitos humanos (PIOVESAN, 2018).
Avulta-se que o Direito Humanitário, a Liga das Nações e a Organização Internacional do Trabalho assentam-se como as primeiras estremaduras do processo de internacionalização dos direitos humanos (PIOVESAN, 2018). E, nesse passo, tem-se o Direito Humanitário como um componente de direitos humanos da lei da guerra (the human rights component of the law of war), sendo o Direito que se adota na hipótese de guerra, no intuito de fixar limites à atuação do Estado e asseverar a observância de direitos fundamentais. É a entonação abaixo:
“A proteção humanitária se destina, em caso de guerra, a militares postos fora de combate (feridos, doentes, náufragos, prisioneiros) e a populações civis. Ao se referir a situações de extrema gravidade, o Direito Humanitário ou o Direito Internacional da Guerra impõe a regulamentação jurídica do emprego da violência no âmbito internacional. Nesse sentido, o Direito Humanitário foi a primeira expressão de que, no plano internacional, há limites à liberdade e à autonomia dos Estados, ainda que na hipótese de conflito armado.” (PIOVESAN, 2018, p. 188/189)
A Liga das Nações veio a fortalecer a necessidade de relativizar a soberania dos Estados, sendo embrionada após a Primeira Guerra Mundial, a Liga das Nações propendia promover a coparticipação, paz e segurança internacional, refutando agressões externas contra a integridade territorial e a independência política dos seus afiliados (PIOVESAN, 2018).
Ao lado do Direito Humanitário e da Liga das Nações, a Organização Internacional do Trabalho (International Labour Office, agora cognominada International Labour Organization) também contribuiu para o processo de internacionalização dos direitos humanos.
Fique de olho!
Com o advento da Organização Internacional do Trabalho, da Liga das Nações e do Direito Humanitário, registrou-se o fim de uma época em que o Direito Internacional era, salvo raras exceções, confinado a regular conexões entre Estados, no terreno estritamente governamental.
Dessa feita, foi por meio desses institutos que se buscou o abarcamento de obrigações internacionais a serem garantidas ou implementadas coletivamente, que, por seu caráter, transcendiam os interesses exclusivos dos Estados contratantes, posto que essas obrigações internacionais voltavam-se à salvaguarda dos direitos do ser humano e não das prerrogativas dos Estados (PIOVESAN, 2018). A datar de então, surge uma nova formulação de legitimidade ativa da cidadania em busca de direitos igualmente no plano internacional:
“Prenuncia-se o fim da era em que a forma pela qual o Estado tratava seus nacionais era concebida como um problema de jurisdição doméstica, restrito ao domínio reservado do Estado, decorrência de sua soberania, autonomia e liberdade. Aos poucos, emerge a ideia de que o indivíduo é não apenas objeto, mas também sujeito de Direito Internacional. A partir dessa perspectiva, começa a se consolidar a capacidade processual internacional dos indivíduos, bem como a concepção de que os direitos humanos não mais se limitam à exclusiva jurisdição doméstica, mas constituem matéria de legítimo interesse internacional.” (PIOVESAN, 2018, p. 190).
Saiba mais
A evidente consolidação do Direito Internacional dos Direitos Humanos surgiu em meados do século XX, em resultância da Segunda Guerra Mundial. Logo, o hodierno Direito Internacional dos Direitos Humanos é um fenômeno do pós-guerra, tendo sua amplificação atribuída às violações de direitos humanos da era Hitler e identicamente à crença de que quinhão dessas transgressões poderiam ser prevenidas se um efetivo complexo de proteção internacional de direitos humanos existisse.
“A internacionalização dos direitos humanos constitui, assim, um movimento extremamente recente na história, que surgiu a partir do pós-guerra, como resposta às atrocidades e aos horrores cometidos durante o nazismo. Apresentando o Estado como o grande violador de direitos humanos, a Era Hitler foi marcada pela lógica da destruição e da descartabilidade da pessoa humana, o que resultou no extermínio de onze milhões de pessoas. O legado do nazismo foi condicionar a titularidade de direitos, ou seja, a condição de sujeito de direitos, à pertinência a determinada raça – a raça pura ariana. No dizer de Ignacy Sachs, o século XX foi marcado por duas guerras mundiais e pelo horror absoluto do genocídio concebido como projeto político e industrial.” (PIOVESAN, 2018, p. 191)
Seja dito, foi a inevitabilidade de uma ação internacional mais eficaz para a proteção dos direitos humanos que impulsionou o dinamismo de internacionalização desses direitos, culminando na fabulação da sistêmica normativa de custódia internacional, que faz possível a responsabilização do Estado no domínio internacional quando as instituições nacionais se mostram falhas ou omissas na tarefa de escudar os direitos humanos (PIOVESAN, 2018). E foi em derivação desse processo de internacionalização dos direitos humanos que se passa, assim, a ser uma alentada resposta na perquisição da reconstrução de um novo paradigma, diante do repúdio internacional às brutalidades cometidas no holocausto.
Outrossim, foi após a Segunda Guerra Mundial que se fortaleceu a marcha de internacionalização dos direitos humanos, cite-se a maciça expansão de organizações internacionais com propósitos de coadjuvação internacional.
Ainda, com a gênese das Nações Unidas com suas agências especializadas, demarcou-se o surgimento de um novo arranjo internacional que instaura um novo modelo de conduta nas relações internacionais, preocupando-se com a manutenção da paz e segurança internacional, com o alargamento de relações amistosas entre os Estados, a adoção da cooperação internacional no plano econômico, social e cultural, o acatamento de um padrão internacional de saúde, a proteção ao meio ambiente, a criação de uma nova ordem econômica internacional e a resguardo internacional dos direitos humanos (PIOVESAN, 2018). É a modulação salientada por Piovesan, observe:
A Carta das Nações Unidas de 1945 consolida, assim, o movimento de internacionalização dos direitos humanos, a partir do consenso de Estados que elevam a promoção desses direitos a propósito e finalidade das Nações Unidas. Definitivamente,a relação de um Estado com seus nacionais passa a ser uma problemática internacional, objeto de instituições internacionais e do Direito Internacional. Basta, para tanto, examinar os arts. 1º (3), 13, 55, 56 e 62 (2 e 3), da Carta das Nações Unidas.
(PIOVESAN, 2018, p. 200)
São três os intuitos centrais da ONU: manter a paz e a segurança internacional; fomentar a cooperação internacional nos campos social e econômico; e promover os direitos humanos no âmbito universal.
Fatos e dados
A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi validada em 10 de dezembro de 1948, pela aprovação de 48 Estados, com 8 abstenções, tendo a inexistência de qualquer questionamento ou reserva feita pelos Estados aos princípios da Declaração, bem como de seja qual fosse voto contrário às suas disposições, confere à Declaração Universal o significado de um código e plataforma comum de desempenho, consolidando-se a afirmação de uma ética universal ao legitimar um consenso sobre valores de cunho universal a serem seguidos pelos Estados (PIOVESAN, 2018).
Essa Declaração se particulariza por sua amplitude e universalismo, tendo a Assembleia Geral proclamado a Declaração Universal, levando em conta que, até então, ao longo dos trabalhos, era nomeada Declaração internacional. Firma-se, então, a percepção internacional dos Direitos Humanos, no realce feito por Piovesan:
“A Declaração Universal de 1948 objetiva delinear uma ordem pública mundial fundada no respeito à dignidade humana, ao consagrar valores básicos universais. Desde seu preâmbulo, é afirmada a dignidade inerente a toda pessoa humana, titular de direitos iguais e inalienáveis. Vale dizer que, para a Declaração Universal, a condição de pessoa é o requisito único e exclusivo para a titularidade de direitos. A universalidade dos direitos humanos traduz a absoluta ruptura com o legado nazista, que condicionava a titularidade de direitos à pertinência à determinada raça (a raça pura ariana). A dignidade humana como fundamento dos direitos humanos e valor intrínseco à condição humana é concepção que, posteriormente, viria a ser incorporada por todos os tratados e declarações de direitos humanos, que passaram a integrar o chamado Direito Internacional dos Direitos Humanos.” (PIOVESAN, 2018, p. 205)
Fique de olho!
Frisa-se que, além da globalidade dos direitos humanos, a Declaração de 1948 ainda principiou a indivisibilidade desses direitos, ao ineditamente conjugar o catálogo dos direitos civis e políticos com o dos direitos econômicos, sociais e culturais.
Ademais, a Declaração de 1948 introduziu extraordinária inovação ao conter alocuções de direitos até então inédita, ao combinar o discurso liberal da cidadania com o discurso social, passando-se a elencar tanto direitos civis e políticos como direitos sociais, econômicos e culturais (PIOVESAN, 2018). Ressalta-se que sem a efetividade dos direitos econômicos, sociais e culturais, os direitos civis e políticos se reduzem a meras categorias formais. À vista disso, sem a efetividade da liberdade entendida em seu mais amplo sentido, os direitos econômicos, sociais e culturais carecem de verdadeira significação. Proeminência para o jugo jurídico vinculante desses documentos internacionais:
“A Declaração Universal não é um tratado. Foi adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas sob a forma de resolução, que, por sua vez, não apresenta força de lei. O propósito da Declaração, como proclama seu preâmbulo, é promover o reconhecimento universal dos direitos humanos e das liberdades fundamentais a que faz menção a Carta da ONU, particularmente nos arts. 1º (3) e 55. Por isso, como já aludido, a Declaração Universal tem sido concebida como a interpretação autorizada da expressão ‘direitos humanos’, constante da Carta das Nações Unidas, apresentando, por esse motivo, força jurídica vinculante.” (PIOVESAN, 2018, p. 208).
Também merece realçamento a prática eleita de incorporação dos regramentos internacionais de Direitos Humanos na alçada interna dos países:
“Ademais, a natureza jurídica vinculante da Declaração Universal é reforçada pelo fato de – na qualidade de um dos mais influentes instrumentos jurídicos e políticos do século XX – ter-se transformado, ao longo dos mais de cinquenta anos de sua adoção, em direito costumeiro internacional e princípio geral do Direito Internacional. Com efeito, a Declaração se impõe como um código de atuação e de conduta para os Estados integrantes da comunidade internacional. Seu principal significado é consagrar o reconhecimento universal dos direitos humanos pelos Estados, consolidando um parâmetro internacional para a proteção desses direitos. A Declaração ainda exerce impacto nas ordens jurídicas nacionais, na medida em que os direitos nela previstos têm sido incorporados por Constituições nacionais e, por vezes, servem como fonte para decisões judiciais nacionais.” (PIOVESAN, 2018, p. 210)
Calha citar que a compreensão multifacetada dos direitos humanos demarcada pela Declaração sofreu e sofre fortes resistências dos adeptos do movimento do relativismo cultural (PIOVESAN, 2018).
Reflita
O debate entre os universalistas e os relativistas culturais trata a respeito do alcance das normas de direitos humanos, ante o movimento internacional dos direitos humanos, na medida em que tal movimento flexibiliza as noções de soberania nacional e jurisdição doméstica ao ratificar uma referência internacional mínima, relativa à tutela dos direitos humanos, aos quais os Estados devem se conformar (PIOVESAN, 2018).
Os instrumentos internacionais de direitos humanos são claramente universalistas, uma vez que buscam afiançar a proteção universal dos direitos e liberdades fundamentais (PIOVESAN, 2018). Dessa feita, qualquer afronta ao chamado “mínimo ético irredutível” que comprometa a dignidade humana, ainda que em nome da cultura, importará em incumprimento a direitos humanos.
“O Direito Internacional tradicional reconheceu desde logo, em seu desenvolvimento, que os Estados tinham a obrigação de tratar os estrangeiros em conformidade com determinados parâmetros mínimos de civilização ou justiça. Na ocorrência de danos, entretanto, eles seriam usualmente compensados às vítimas por parte dos países de sua nacionalidade, embora o Direito Internacional não exigisse expressamente tal compensação. A ficção legal de que o dano sofrido pelo estrangeiro no plano internacional significava um dano ao próprio Estado de nacionalidade da vítima preservava a noção de que apenas os Estados eram sujeitos de Direito Internacional”. (PIOVESAN, 2018, p. 218-19)
Fique de olho!
O Direito Internacional dos Direitos Humanos, com seus abundantes instrumentos, não pretende substituir o sistema nacional, em verdade, envida ser um Direito subsidiário e suplementar ao Direito nacional, no sentido de assentir sejam superadas suas omissões e deficiências (PIOVESAN, 2018).
Ademais, é no sistema internacional de proteção dos Direitos Humanos que o Estado tem a responsabilidade primária pela proteção desses direitos, ao passo que a comunidade internacional tem a responsabilidade subsidiária, tendo os procedimentos internacionais, índole secundária, constituindo garantia adicional de proteção dos Direitos Humanos, quando falham as instituições nacionais (PIOVESAN, 2018).
O Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, aprovado em 1966 pela Assembleia Geral das Nações Unidas, entrou em vigor tão somente dez anos depois, em 1976, tendo em vista que somente nessa data alcançou o número de ratificações necessárias.
Em dezembro de 2012, cento e sessenta e sete Estados já haviam aderido ao Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e cento e sessenta Estados estavam aglutinados ao Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (PIOVESAN, 2018).
O Protocolo Facultativo ao Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, adotado em 16 de dezembro de 1966, vem adicionar a essa metodização um importante mecanismo, que traz significativos avanços à ambiência internacional especialmente no plano da international accountability.Trata-se, dessa forma, de um aparato das petições individuais a serem apreciadas pelo Comitê de Direitos Humanos, instituído pelo Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos:
“O Pacto dos Direitos Civis e Políticos proclama, em seus primeiros artigos, o dever dos Estados-partes de assegurar os direitos nele elencados a todos os indivíduos que estejam sob sua jurisdição, adotando medidas necessárias para esse fim. A obrigação do Estado inclui também o dever de proteger os indivíduos contra a violação de seus direitos perpetrada por entes privados. Isto é, cabe ao Estado-parte estabelecer um sistema legal capaz de responder com eficácia às violações de direitos civis e políticos. As obrigações dos Estados-partes são tanto de natureza negativa (ex.: não torturar) como positiva (ex.: prover um sistema legal capaz de responder às violações de direitos). Ao impor aos Estados-partes a obrigação imediata de respeitar e assegurar os direitos nele previstos — diversamente do Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, que, como se verá, requer a “progressiva” implementação dos direitos nele reconhecidos —, o Pacto dos Direitos Civis e Políticos apresenta auto-aplicabilidade.” (PIOVESAN, 2018, p. 243)
Assim como o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, o supremo objetivo do Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais foi incorporar os dispositivos da Declaração Universal sob a corporatura de preceitos juridicamente obrigatórios e vinculantes.
Novamente, assumindo a roupagem de tratado internacional, o desígnio do Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais foi permitir a admissão de uma linguagem de direitos que implicasse obrigações na planura internacional, mediante a sistemática da international accountability.
O Protocolo Facultativo ao Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais capacita o Comitê a:
a) apreciar petições submetidas por indivíduos ou grupos de indivíduos sob a alegação de serem vítimas de violação de direitos enunciados no Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais;
b) requisitar ao Estado-parte o emprego de medidas de urgência para evitar danos irreparáveis aos padecedores de violações;
c) apreciar comunicações interestatais, por meio das quais um Estado-parte denuncia a inobediência de direitos do Pacto por outro Estado-parte;
d) realizar investigações in loco, na conjectura de grave ou metódica violação por um Estado-parte de Direito enunciado no Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (PIOVESAN, 2018).
Quanto às demais convenções internacionais de Direitos Humanos, aluda-se que foi a partir do advento da International Bill of Rights que se constituiu a baliza do processo de proteção internacional dos Direitos Humanos. Ademais, foi a começar dela que inúmeras outras Declarações e Convenções foram elaboradas, algumas sobre novos direitos, outras relativas a certos descumprimentos, outras, ainda, para tratar de determinados grupos caracterizados como vulneráveis. Temas certamente em voga na atualidade, o direito à diferença e o direito ao reconhecimento de identidade fazem parte do âmago dos direitos humanos:
“O direito à igualdade material, o direito à diferença e o direito ao reconhecimento de identidades integram a essência dos direitos humanos, em sua dupla vocação em prol da afirmação da dignidade humana e da prevenção do sofrimento humano. A garantia da igualdade, da diferença e do reconhecimento de identidades é condição e pressuposto para o direito à autodeterminação, bem como para o direito ao pleno desenvolvimento das potencialidades humanas, transitando-se da igualdade abstrata e geral para um conceito plural de dignidades concretas.” (PIOVESAN, 2018, p. 262).
E são inúmeros os instrumentos jurídico-políticos internacionais para o combate às várias feições de discriminação:
“É neste cenário que se apresentam a Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação Racial, a Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação contra a Mulher, a Convenção sobre os Direitos da Criança, a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, a Convenção Internacional sobre a Proteção dos Direitos de todos os Trabalhadores Migrantes e dos Membros de suas Famílias, a Convenção contra a Tortura, a Convenção para a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio, dentre outros importantes instrumentos internacionais.” (PIOVESAN, 2018, p. 263)
Fatos e dados
Apadrinhada pela ONU em 21 de dezembro de 1965, a Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação Racial apresentou como precedentes históricos o ingresso de dezessete novos países africanos nas Nações Unidas em 1960, a consumação da Primeira Conferência de Cúpula dos Países Não Aliados, em Belgrado, em 1961, tal como o ressurgimento de atividades nazifascistas na Europa e as preocupações ocidentais com o antissemitismo (PIOVESAN, 2018).
Dispõe que qualquer doutrina de superioridade baseada em diferenças raciais é cientificamente falsa, moralmente condenável, socialmente injusta e perigosa, inexistindo justificativa para a discriminação racial, em teoria ou prática, em lugar algum, repudiando-se teorias que hierarquizam indivíduos, classificando-os em superiores ou inferiores, em virtude de dessemelhanças raciais.
Fatos e dados
A Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação contra a Mulher, em 1979, impulsionada pela proclamação de 1975 como Ano Internacional da Mulher e pela efetuação da primeira Conferência Mundial sobre a Mulher, as Nações Unidas aprovaram a Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação contra a Mulher (PIOVESAN, 2018).
O Comitê sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação contra a Mulher, em sua Recomendação Geral n. 21, destacou ser dever dos Estados desencorajar toda noção de desigualdade entre a mulher e o homem, quer seja evidenciada por leis, quer pela religião ou pela cultura, de maneira a eliminar as reservas que ainda incidam no Art. 16 da Convenção, concernente à igualdade de direitos no casamento e nas relações familiares (PIOVESAN, 2018).
Outro documento que reclama relevo é a Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes, adotada pela ONU em 28 de setembro de 1984. Em dezembro de 2012, dispunha de 153 Estados-partes. E, ao longo da Convenção, são convalidados, dentre outros direitos, a proteção contra atos de tortura e outras conformações de tratamento cruel, desumano ou degradante, o direito de não ser extraditado ou expulso para um Estado onde há substancial risco de sofrer tortura, o direito à indenização no caso de tortura, o direito a que a denúncia sobre tortura seja examinada imparcialmente e o direito a não ser torturado com finalidade de obtenção de prova ilícita, como a confissão (PIOVESAN, 2018).
Fatos e dados
A Convenção sobre os Direitos da Criança, adotada pela ONU em 1989 e vigente desde 1990, destaca-se como o tratado internacional de proteção de direitos humanos com o mais elevado cômputo de ratificações e em dezembro de 2012 contava com 193 Estados-partes (PIOVESAN, 2018).
A Convenção acolhe a idealização da desenvolução integral da criança, reconhecendo-a como verdadeiro sujeito de direito, a exigir proteção especial e absoluta prioridade.
Os sistemas regionais de proteção dos direitos humanos
Fique de olho!
Os complexos global e regional não são dicotômicos, mas são complementares, visto que são inspirados pelos valores e princípios da Declaração Universal e compõem o macrocosmo instrumental de proteção dos Direitos Humanos, no espaço internacional (PIOVESAN, 2018).
A destinação da coexistência de distintos instrumentos jurídicos é ampliar e fortalecer a proteção dos Direitos Humanos, pois o que importa é o grau de eficácia da proteção, devendo ser aplicada a norma que no evento concreto melhor proteja a vítima (PIOVESAN, 2018).
A Convenção Americana de Direitos Humanos é o aparato demaior importância no sistema interamericano, similarmente denominada Pacto de San José da Costa Rica, sendo assinada em San José, Costa Rica, em 1969 e entrando em vigor em 1978. A Convenção Americana de Direitos Humanos anui e assegura um catálogo de direitos civis e políticos similar ao antevisto pelo Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, não enunciando de forma específica qualquer direito social, cultural ou econômico, limitando-se a determinar aos Estados que alcancem, progressivamente, a plena realização desses direitos por intervenção da adoção de medidas legislativas e outras que se mostrem apropriadas (PIOVESAN, 2018). A Comissão Interamericana de Direitos Humanos granjeia a totalidade dos Estados-partes da Convenção Americana, em encadeamento aos Direitos Humanos nela aclamados, também alcança todos os Estados-membros da Organização dos Estados Americanos em relação aos direitos consagrados na Declaração Americana de 1948.
Sua principal função é viabilizar a observância e a proteção dos Direitos Humanos na América e também é competência da Comissão esquadrinhar as comunicações encaminhadas por indivíduo ou grupos de indivíduos, ou, ainda, agremiação não governamental, que contenham malsinação de violação a direito consagrado pela Convenção por Estado que dela seja parte (PIOVESAN, 2018).
A Corte Interamericana de Direitos Humanos é o órgão jurisdicional do grupamento regional, composta por sete juízes nacionais de Estados-membros da OEA, eleitos a título pessoal pelos Estados-partes da Convenção, apresentando-se atribuição consultiva e contenciosa (PIOVESAN, 2018). Apenas a Comissão Interamericana e os Estados-partes podem submeter um feito à Corte Interamericana, não estando prevista a legitimação do indivíduo nos termos do Art. 61 da Convenção Americana, usufruindo a Corte competência para sopesar casos que envolvam a denúncia de que um Estado-parte violou direito protegido pela Convenção (PIOVESAN, 2018).
O sistema brasileiro de proteção dos direitos humanos
No decurso do processo de democratização, o Brasil passou a aderir a marcantes instrumentos internacionais de Direitos Humanos, concedendo expressamente a legitimidade das preocupações internacionais e dispondo-se a um diálogo com as instâncias internacionais sobre a efetivação conferida pelo País às incumbências internacionalmente assumidas, e acentuou-se a participação e mobilização da sociedade civil e de organizações não governamentais no colóquio sobre o sustentáculo dos Direitos Humanos (PIOVESAN, 2018).
Pontua-se que desde o processo de democratização do País, e em particular a contar da Constituição Federal de 1988, o Brasil tem adotado importantes medidas em prol da incorporação de instrumentos internacionais voltados à proteção dos Direitos Humanos.
Fatos e dados
O marco inicial do processo de incorporação do Direito Internacional dos Direitos Humanos pelo Direito brasileiro foi a ratificação, em 1º de fevereiro de 1984, da Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação contra a Mulher e, a partir dessa ratificação, imensuráveis outros relevantes instrumentos internacionais de proteção dos Direitos Humanos foram também incorporados pelo Direito brasileiro, sob a égide da Constituição Federal de 1988, que situa-se como marco jurídico da transição democrática e da institucionalização dos Direitos Humanos no País (PIOVESAN, 2018).
Afora as inovações constitucionais, como valoroso fator para a ratificação desses tratados internacionais, acrescenta-se a primordialidade do Estado brasileiro de reorganizar sua agenda internacional de modo mais condizente com as transformações internas decorrentes da marcha de democratização. Acontece assim uma nova dimensão da cidadania:
Enfatize-se que a reinserção do Brasil na sistemática da proteção internacional dos direitos humanos vem a redimensionar o próprio alcance do termo ‘cidadania’. Isso porque, além dos direitos constitucionalmente previstos no âmbito nacional, os indivíduos passam a ser titulares de direitos internacionais. Vale dizer, os indivíduos passam a ter direitos acionáveis e defensáveis no âmbito internacional. Assim, o universo de direitos fundamentais se expande e se completa, a partir da conjugação dos sistemas nacional e internacional de proteção dos direitos humanos.
(PIOVESAN, 2018, p. 389)
Em face dessa interação, o Brasil assumiu perante a comunidade internacional a obrigação de manter e desenvolver o Estado Democrático de Direito e de proteger, mesmo em situações de emergência, um núcleo de direitos básicos e inderrogáveis, aceitando que esses encargos sejam fiscalizadas e controlados pela comunidade internacional, por intermédio de uma sistemática de monitoramento efetuada por órgãos de supervisão internacional (PIOVESAN, 2018).
O Estado brasileiro deve também, encaminhar aos competentes órgãos internacionais os relatórios pertinentes às medidas legislativas, administrativas e judiciárias adotadas, para a terminação de conferir cumprimento às obrigações internacionais subsequentes à ratificação dos tratados de proteção dos direitos humanos, tendo em mente que, no âmbito do sistema regional, cabe ao Estado brasileiro elaborar a declaração a que faz referência o Art. 45 da Convenção Americana, de modo a habilitar a Comissão Interamericana a apreciar comunicações interestatais, em que um Estado-parte alegue que outro Estado-parte tenha cometido violação a direito enunciado na Convenção (PIOVESAN, 2018).
Finalmente, avultam-se os avanços agudamente significativos ao longo do processo de democratização brasileiro no que se refere à assimilação de mecanismos internacionais de proteção de Direitos Humanos, ainda resta o momentoso desafio do pleno e total comprometimento do Estado brasileiro com a causa dos Direitos Humanos (PIOVESAN, 2018).

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