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Hanseníase: Conceito, Epidemiologia e Transmissão

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1 
FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO 
SAMANTHA LEÃO F. LIMA 
TUTORIA 7 – HANSENÍASE 
 
É contagioso, doutor? 
P.T.B., 58 anos, sexo feminino, dona de casa, procurou UBS do bairro Brasília, 
após surgimento de lesão em face com, aproximadamente, 6 meses de 
evolução, acompanhada de dormência local. Ao exame físico, apresentava 
placa de aproximadamente 1,5 cm de diâmetro com bordas eritematosas e 
elevadas, pápula hipocrômica na borda inferior da placa, com centro 
levemente deprimido e halo hipocrômico, bem delimitado, localizada em 
região malar esquerda. A lesão mostrou-se anestésica aos testes de 
sensibilidade térmica e dolorosa. Apresentava, ainda, madarose e 
espessamento do nervo ulnar. Foi solicitado exame de baciloscopia, que 
evidenciou presença de raros bacilos álcool ácido resistentes. O médico, 
então, notificou o caso, iniciou o tratamento com esquema 
poliquimioterápico e informou à paciente sobre a necessidade de avaliação 
dos contatos próximos e acompanhamento psicológico. No entanto, durante 
o tratamento, ela apresentou algumas lesões eritematosas, dolorosas, mais 
palpáveis do que visíveis, em membros inferiores. O médico, então, 
encaminhou a paciente ao Dermatologista. 
 
OBJ 1: ANALISAR A HANSENÍASE CONSIDERANDO CONCEITO, 
EPIDEMIOLOGIA, ETIOLOGIA, FISIOPATOLOGIA, MANIFESTAÇÕES 
CLÍNICAS, TIPOS, DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO. 
 
CONCEITO E ETIOLOGIA 
 
→ É uma doença crônica e infectocontagiosa, de grande importância para a 
saúde pública devido ao seu poder incapacitante. 
→ Seu agente etiológico é o Mycobacterium leprae, um bacilo álcool-ácido 
resistente, fracamente gram-positivo, que infecta os nervos periféricos e, 
mais especificamente, as células de Schwann. 
OBS: O M. leprae infecta, em especial, macrófagos e células de Schwann e requer 
temperaturas entre 27 e 30ºC1°'11, que é clinicamente notável pelo predomínio de 
lesões nas áreas mais frias do corpo. Apresenta ultraestrutura comum ao gênero 
Mycobaderium. Entretanto, a cápsula apresenta grupamento lipídico específico, o 
glicolipidio fenólico (PGL1), que está envolvido na interação do M. leprae com a 
laminina das células de Schwann, sugerindo ser importante na transposição 
intracelular. 
→ Seu alto potencial incapacitante está diretamente relacionado à capacidade 
de penetração do Mycobacterium leprae na célula nervosa e seu poder 
imunogênico. 
→ A doença acomete principalmente os nervos superficiais da pele e troncos 
nervosos periféricos (localizados na face, pescoço, terço médio do braço e 
abaixo do cotovelo e dos joelhos), mas também manifesta-se como uma 
doença sistêmica, comprometendo olhos, articulações e órgãos internos 
(mucosas, testículos, ossos, baço, fígado, etc.). 
→ Se não tratada na forma inicial, a doença quase sempre evolui, torna-se 
transmissível e pode atingir pessoas de qualquer sexo ou idade, inclusive 
crianças e idosos. Essa evolução ocorre, em geral, de forma lenta e 
progressiva, podendo levar a incapacidades físicas. 
 
FATOS HISTÓRICOS 
 
→ A hanseníase é uma das doenças mais antigas da humanidade. As 
referências mais remotas datam de 600 a.C. e procedem da Ásia, que, 
juntamente com a África, são consideradas o berço da doença. 
→ Entretanto, a terminologia hanseníase é iniciativa brasileira para 
minimizar o preconceito secular atribuído à doença, adotada pelo 
Ministério da Saúde em 1976. 
→ Com isso, de acordo com a Lei nº 9.010, de 29 de março de 1995, o termo 
"Lepra" e seus derivados não poderão ser utilizados. 
 
EPIDEMIOLOGIA 
 
→ Globalmente, o número de casos de hanseníase está caindo. 
 
2 
FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO 
SAMANTHA LEÃO F. LIMA 
→ O Brasil ocupa o segundo lugar em número absoluto de casos, atrás apenas 
da Índia. É o único país que não atingiu a meta de eliminação da doença como 
problema de saúde pública, definida pela prevalência menor que 1 
caso/10.000 habitantes. 
→ No Brasil, as áreas economicamente menos desenvolvidas são mais 
endêmicas, como Nordeste, Norte e Centro-oeste, havendo uma relação 
direta da incidência da doença com o aspecto socioeconômico de cada 
região. 
 
TRANSMISSÃO E FISIOPATOLOGIA 
 
→ A hanseníase é transmitida por meio de contato próximo e prolongado de 
uma pessoa suscetível (com maior probabilidade de adoecer) com um 
doente com hanseníase que não está sendo tratado. Normalmente, a fonte 
da doença é um parente próximo que não sabe que está doente, como avós, 
pais, irmãos, cônjuges, etc. 
→ A bactéria é transmitida pelas vias respiratórias (pelo ar), e não pelos objetos 
utilizados pelo paciente. 
→ Estima-se que a maioria da população possua defesa natural (imunidade) 
contra o M. leprae. Portanto, a maior parte das pessoas que entrarem em 
contato com o bacilo não adoecerão. É sabido que a susceptibilidade ao M. 
leprae possui influência genética. Assim, familiares de pessoas com 
hanseníase possuem maior chance de adoecer. 
→ Os doentes com poucos bacilos – paucibacilares (PB) – não são 
considerados importantes como fonte de transmissão da doença devido à 
baixa carga bacilar. As pessoas com a forma multibacilar (MB) - muitos 
bacilos - no entanto, constituem o grupo contagiante, mantendo-se como 
fonte de infecção enquanto o tratamento específico não for iniciado. 
→ A hanseníase tem como principal via de inoculação a mucosa das vias aéreas 
superiores. Em alguns casos, soluções de continuidade na pele podem ser 
via de ingresso do bacilo. 
→ Após a sua entrada no organismo do hospedeiro, o bacilo de Hansen ocupa 
dois sítios principais; a pele e as células de Scwann, com tropismo especial 
pelas células de Scwann, que não tem capacidade fagocítica natural, assim, 
o M. leprae consegue multiplicar-se de forma contínua e permanece 
protegido dos mecanismos de defesa do indivíduo. A permanência do bacilo 
nas células de Schwann pode trazer comprometimento da função neural. 
→ O período de incubação é de 2 a 5 anos em média. É a epidemiologia de um 
bacilo lento, que faz uma divisão binária a cada 12 a 21 dias, e sua localização 
intracelular obrigatória no sistema fagocítico-mononuclear, que imprimem a 
característica de doença crônica à hanseníase. 
→ A defesa contra o bacilo é efetuada pela imunidade celular, entretanto, sua 
exacerbação pode se tornar lesiva ao organismo do hospedeiro. Como 
consequência da ação das citocinas e mediadores da oxidação, podem 
ocorrer paralisia periférica e lesões cutâneas e neurais. 
→ Na hanseníase tuberculoide, a exacerbação da imunidade celular e a 
produção de citocinas pró-inflamatórias (IL-1 e TNF-alfa) impedem a 
proliferação bacilar, mas podem se tornar lesivas ao organismo, causando 
lesões cutâneas e neurais, pela ausência de fatores reguladores. Na 
hanseníase virchowiana, a produção de substâncias pelo bacilo (ex.: PGL-1), 
no interior do macrófago, favorece seu escape à oxidação, pois estes 
possuem função supressora da atividade do macrófago e favorecem a sua 
disseminação. 
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS 
 
→ A hanseníase tem sua manifestação clínica, principalmente, em forma de 
lesões dermatológicas ou neurológicas. As lesões dermatológicas têm uma 
característica importante: diminuição ou ausência da sensibilidade. 
→ PRINCIPAIS SINAIS E SINTOMAS: 
 Áreas da pele, ou manchas esbranquiçadas (hipocrômicas), 
acastanhadas ou avermelhadas, com alterações de sensibilidade ao 
calor e/ou dolorosa, e/ou ao tato; 
 Formigamentos, choques e câimbras nos braços e pernas, que evoluem 
para dormência – a pessoa se queima ou se machuca sem perceber; 
 Pápulas, tubérculos e nódulos (caroços), normalmente sem sintomas; 
 Diminuição ou queda de pelos, localizada ou difusa, especialmente nas 
sobrancelhas (madarose); 
 Pele infiltrada (avermelhada), com diminuição ou ausência de suor no 
local. 
→ PODE-SE TAMBÉM OBSERVAR: 
 Dor, choque e/ou espessamento de nervos periféricos; 
 
3 
FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO 
SAMANTHA LEÃO F. LIMA Diminuição e/ou perda de sensibilidade nas áreas dos nervos afetados, 
principalmente nos olhos, mãos e pés; 
 Diminuição e/ou perda de força nos músculos inervados por estes 
nervos, principalmente nos membros superiores e inferiores e, por 
vezes, pálpebras; 
 Edema de mãos e pés com cianose (arroxeamento dos dedos) e 
ressecamento da pele; 
 Febre e artralgia, associados a caroços dolorosos, de aparecimento 
súbito; 
 Aparecimento súbito de manchas dormentes com dor nos nervos dos 
cotovelos (ulnares), joelhos (fibulares comuns) e tornozelos (tibiais 
posteriores); 
 Entupimento, feridas e ressecamento do nariz; 
 Ressecamento e sensação de areia nos olhos. 
 
→ Outros sintomas e sinais clínicos de suspeita de Hanseníase (presença de um 
ou mais dos seguintes sinais ou sintomas): 
 OLHOS: Olho vermelho crônico (conjuntivite); sensação de “areia nos 
olhos”; embaçamento da visão (alteração da córnea); 
 ARTICULAÇÕES E MÚCULOS: “Dor nas juntas” (artralgias e artrites); 
câimbras; nódulos sobre as articulações; lesões ósseas de mãos e pés; É 
muito comum pacientes com queixas álgicas múltiplas, nos ossos das 
pernas (periostite), na musculatura e tecido celular subcutâneo, sendo 
comum o relato da expressão “dor na carne”. Essa é uma queixa 
importante em crianças o que frequentemente a impossibilita de 
participar das brincadeiras e exercícios; 
 SISTEMA LINFÁTICO E CIRCULATÓRIO: “Ínguas” (linfadenomegalias) 
indolores no pescoço, axilas e virilhas; baço aumentado; cianose de 
mãos e pés (acrocianose); mãos e pés “inchados” (edemaciados), úlceras 
indolores e com bordas elevadas, geralmente múltiplas, em membros 
inferiores (úlceras tróficas); 
 VÍSCERAS: Fígado e baço aumentados; insuficiência suprarrenal ou 
renal; atrofia dos testículos; 
 MUCOSAS: “Entupimento” (obstrução), ressecamento e/ou 
sangramento (“cascas de ferida”) da mucosa nasal, com inchaço (edema) 
da região do osso do nariz, ou até desabamento nasal; “caroços” ou 
ulcerações indolores no “céu da boca” (palato); e rouquidão; 
 NEUROLÓGICOS E DEMATO: Manchas ou nódulos (“caroços”) 
eritematosos, dolorosos e quentes, às vezes ulcerados, associados a 
manifestações sistêmicas como febre alta, artralgia, mal estar geral, 
orquite, anemia; Surgimento de lesões avermelhadas e descamativas, 
com lesões satélites, eventualmente associadas a edema (inchaço) das 
mãos e pés, geralmente com neurite de nervos dos cotovelos, punhos, 
joelhos e tornozelos. 
 
→ Segundo a classificação de Madri (1953), categoriza-se a hanseníase em: 
HANSENÍASE INDETERMINADA (PB), TUBERCULÓIDE (PB), DIMORFA (MB) e 
VIRCHOWIANA (MB). 
 
HANSENÍASE INDETERMINADA (PAUCIBACILIAR) 
→ Todos os pacientes passam por essa fase no início da doença. Entretanto, ela 
pode ser ou não perceptível. 
→ Geralmente afeta crianças abaixo de 10 anos, ou mais raramente 
adolescentes e adultos que foram contatos de pacientes com hanseníase. 
→ A fonte de infecção, normalmente um paciente com hanseníase multibacilar 
não diagnosticado, ainda convive com o doente, devido ao pouco tempo de 
doença. 
→ A lesão de pele geralmente é única, mais clara do que a pele ao redor 
(mancha), não é elevada (sem alteração de relevo), apresenta bordas mal 
delimitadas, e é seca (“não pega poeira” – uma vez que não ocorre sudorese 
na respectiva área). Há perda da sensibilidade (hipoestesia ou anestesia) 
térmica e/ou dolorosa, mas a tátil (habilidade de sentir o toque) geralmente 
é preservada. 
→ A prova da histamina é incompleta na lesão, a biópsia de pele 
frequentemente não confirma o diagnóstico e a baciloscopia é negativa. 
Portanto, os exames laboratoriais negativos não afastam o diagnóstico 
clínico. Atenção deve ser dada aos casos com manchas hipocrômicas 
grandes e dispersas, ocorrendo em mais de um membro, ou seja, lesões 
muito distantes, pois pode se tratar de um caso de hanseníase dimorfa 
macular (forma multibacilar); nesses casos, é comum o paciente queixar-se 
de formigamentos nos pés e mãos, e/ou câimbras, e na palpação dos nervos 
frequentemente se observa espessamentos. 
 
4 
FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO 
SAMANTHA LEÃO F. LIMA 
 
HANSENÍASE TUBERCULÓIDE (PAUCIBACILAR) 
→ É a forma da doença em que o sistema imune da pessoa consegue destruir 
os bacilos espontaneamente. 
→ Assim como na hanseníase indeterminada, a doença também pode 
acometer crianças (o que não descarta a possibilidade de se encontrar 
adultos doentes), tem um tempo de incubação de cerca de cinco anos, e pode 
se manifestar até em crianças de colo, onde a lesão de pele é um nódulo 
totalmente anestésico na face ou tronco (hanseníase nodular da infância). 
→ Mais frequentemente, manifesta-se por uma placa (mancha elevada em 
relação à pele adjacente) totalmente anestésica ou por placa com bordas 
elevadas, bem delimitadas e centro claro (forma de anel ou círculo). 
→ Com menor frequência, pode se apresentar como um único nervo espessado 
com perda total de sensibilidade no seu território de inervação. Nesses casos, 
a baciloscopia é negativa e a biópsia de pele quase sempre não demonstra 
bacilos, e nem confirma sozinha o diagnóstico. 
→ Sempre será necessário fazer correlação clínica com o resultado da 
baciloscopia e/ou biópsia, quando for imperiosa a realização desses 
exames. 
→ Os exames subsidiários raramente são necessários para o diagnóstico, pois 
sempre há perda total de sensibilidade, associada ou não à alteração de 
função motora, porém de forma localizada. 
 
HANSENÍASE DIMORFA (MULTIBACILAR) 
→ Caracteriza-se, geralmente, por mostrar várias manchas de pele 
avermelhadas ou esbranquiçadas, com bordas elevadas, mal delimitadas na 
periferia, ou por múltiplas lesões bem delimitadas semelhantes à lesão 
tuberculóide, porém a borda externa é esmaecida (pouco definida). 
→ Há perda parcial a total da sensibilidade, com diminuição de funções 
autonômicas (sudorese e vasorreflexia à histamina). É comum haver 
comprometimento assimétrico de nervos periféricos, as vezes visíveis ao 
exame clínico: 
 
5 
FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO 
SAMANTHA LEÃO F. LIMA 
 
→ É a forma mais comum de apresentação da doença (mais de 70% dos casos). 
Ocorre, normalmente, após um longo período de incubação (cerca de 10 
anos ou mais), devido à lenta multiplicação do bacilo (que ocorre a cada 14 
dias, em média). 
→ A baciloscopia da borda infiltrada das lesões (e não dos lóbulos das orelhas e 
cotovelos), quando bem coletada e corada, é frequentemente positiva, 
exceto em casos raros em que a doença está confinada aos nervos. Todavia, 
quando o paciente é bem avaliado clinicamente, os exames laboratoriais 
quase sempre são desnecessários. 
→ Esta forma da doença também pode aparecer rapidamente, podendo ou não 
estar associada à intensa 13 dor nos nervos, embora estes sintomas ocorram 
mais comumente após o início do tratamento ou mesmo após seu término 
(reações imunológicas em resposta ao tratamento). 
 
HANSENÍASE VIRCHOWIANA (MULTIBACILAR) 
→ É a forma mais contagiosa da doença. 
→ O paciente virchowiano não apresenta manchas visíveis; a pele apresenta-
se avermelhada, seca, infiltrada, cujos poros apresentam-se dilatados 
(aspecto de “casca de laranja”), poupando geralmente couro cabeludo, axilas 
e o meio da coluna lombar (áreas quentes). 
→ Na evolução da doença, é comum aparecerem caroços (pápulas e nódulos) 
escuros, endurecidos e assintomáticos (hansenomas). Quando a doença 
encontra-se em estágio mais avançado, pode haver perda parcial a total das 
sobrancelhas (madarose) e também dos cílios, além de outros pelos, exceto 
os do couro cabeludo. 
→ A face costuma ser lisa (sem rugas) devido a infiltração, o nariz é congesto, 
os pés e mãos arroxeados e edemaciados, a pele e os olhos secos. O suor 
está diminuído ou ausente de forma generalizada, porém é mais intenso 
nas áreas ainda poupadas pela doença, como o couro cabeludoe as axilas. 
 
6 
FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO 
SAMANTHA LEÃO F. LIMA 
→ São comuns as queixas de câimbras e formigamentos nas mãos e pés, que 
entretanto apresentam-se aparentemente normais. “Dor nas juntas” 
(articulações) também são comuns e, frequentemente, o paciente tem o 
diagnóstico clínico e laboratorial equivocado de “reumatismo” (artralgias ou 
artrites), “problemas de circulação ou de coluna”. 
→ Os exames reumatológicos frequentemente resultam positivos, como FAN, 
FR, assim como exame para sífilis (VDRL). É importante ter atenção aos casos 
de pacientes jovens com hanseníase virchowiana que manifestam dor 
testicular devido a orquites. Em idosos do sexo masculino, é comum haver 
comprometimento dos testículos, levando à azospermia (infertilidade), 
ginecomastia (crescimento das mamas) e impotência. 
→ Os nervos periféricos e seus ramos superficiais estão simetricamente 
espessados, o que dificulta a comparação. Por isso, é importante avaliar e 
buscar alterações de sensibilidade térmica, dolorosa e tátil no território 
desses nervos (facial, ulnar, fibular, tibial), e em áreas frias do corpo, como 
cotovelos, joelhos, nádegas e pernas. 
→ Na hanseníase virchowiana o diagnóstico pode ser confirmado facilmente 
pela baciloscopia dos lóbulos das orelhas e cotovelos. 
 
 
REAÇÕES HANSÊNICAS 
 
→ São fenômenos de aumento da atividade da doença, com piora clínica que 
podem ocorrer de forma aguda antes, durante ou após o final do 
tratamento com a poliquimioterapia (PQT). 
→ Pacientes com carga bacilar mais alta (virchowianos) geralmente 
apresentam reações de início mais tardio, ou seja, no final ou logo após o 
término da PQT. 
→ Essas reações resultam da inflamação aguda causada pela atuação do 
sistema imunológico do hospedeiro que ataca o bacilo. 
→ As características típicas dessa resposta são: edema, calor, rubor, dor e perda 
da função. 
→ Suspeitar de REAÇÃO HANSÊNICA TIPO 1 se ocorrerem, sem mal estado geral 
do paciente, os seguintes sinais e sintomas: 
 as lesões de pele da hanseníase se tornarem mais avermelhadas e 
inchadas; e/ou 
 os nervos periféricos ficarem mais dolorosos; e/ou 
 houver piora dos sinais neurológicos de perda de sensibilidade ou perda 
de função muscular; e/ou 
 as mãos e pés ficarem inchados; e/ou 
 houver surgimento abrupto de novas lesões de pele até 5 anos após a 
alta medicamentosa. 
 
 
7 
FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO 
SAMANTHA LEÃO F. LIMA 
→ Suspeitar de REAÇÃO HANSÊNICA TIPO 2 (eritema nodoso hansênico) se 
houver: 
 manchas ou “caroços” na pele, quentes, dolorosos e avermelhados, às 
vezes ulcerados; e/ou 
 febre, “dor nas juntas”, mal-estar; e/ou 
 ocasionalmente dor nos nervos periféricos (mãos e pés); e/ou 
 comprometimento dos olhos; e/ou 
 comprometimento sistêmico (anemia severa aguda, leucocitose com 
desvio à esquerda, comprometimento do fígado, baço, linfonodos, 
rins, testículos, suprarrenais). 
 
 
DIAGNÓSTICO 
 
O diagnóstico no caso de Hanseníase é essencialmente clínico e 
epidemiológico; os exames subsidiários podem auxiliar na classificação e no 
diagnóstico, entretanto, exames que não comprovem o diagnóstico não são 
suficientes para afastar a hipótese de hanseníase. 
 
 TESTE DA SENSIBILIDADE 
A sensibilidade térmica é a manifestação mais precoce do dano 
neural e deve ser testada na pele lesada comparada com a pele sadia. Utiliza-
se um floco de algodão embebido em éter sulfúrico, que leva à sensação de 
gelado, e um floco de algodão seco. A pessoa deve estar com os olhos 
fechados e identificar qual a sensação ao toque dos flocos de algodão. 
Podem também ser utilizados tubos de ensaio com água quente (aprox. 
45ºC) e fria (temperatura ambiente). 
A sensibilidade dolorosa é realizada com uma agulha romba. Deve-
se testar a ponta e a cabeça da agulha e solicitar que o indivíduo diferencie. 
A sensibilidade pode ser testada com auxílio dos monos filamentos 
de nylon de Semmes-Weinstein, essencial para a avaliação da sensibilidade 
protetora e na investigação da neurite silenciosa. 
 PROVA DA HISTAMINA 
Realizada por meio da puntura sobre uma gota da solução milesimal 
de histamina na área suspeita e região contralateral. Revela lesão de 
ramúsculo neural periférico, pela ausência do eritema secundário reflexo, da 
tríplice reação de Lewis, que, quando completa, apresenta o surgimento de 
eritema primário, critcma reflexo e pá pula urticada. É fundamental em lesões 
hipocrômicas ou eritemato-hipocrómicas e quando não há colaboração para 
a realização das provas de sensibilidade. 
 
 PROVA DA PILOCARPINA 
A área a ser testada deve ser pincelada com tintura de iodo, injeta-
se pilocarpina a 0,5 ou 1% e, em seguida, polvilha-se amido sobre o local. 
Caso os ramos neurais periféricos estejam íntegros, haverá sudorese no 
local, levando ao surgimento de pontos azul-escuros resultantes do contato 
da umidade com iodo e amido. Nas lesões de hanseníase, espera-se que a 
prova seja incompleta, sem os pontos azuis por ausência de sudorese. 
 
 EXAME ANATOMOPATOLÓGICO 
Realizado a partir de material de biópsia coletada de lesão cutânea 
ou fragmento de nervo, é corado pela hematoxilina-eosina (HE) e os 
padrões histopatológicos estão descritos na seção de Manifestações 
clinicas. A coloração utilizada para pesquisa de bacilos é o Fite-Faraco e suas 
variações. 
 
 BACILOSCOPIA 
A baciloscopia positiva é diagnóstica de hanseníase, mas o exame 
negativo não afasta a hipótese. Consiste na pesquisa de BAAR em esfregaço 
de linfu coletada de áreas suspeitas. Na ausência de lesões cutâneas, a 
baciloscopia pode ser coletada dos lóbulos das orelhas, dos cotovelos ou 
dos joelhos. O esfregaço é corado pelo método de Zihel- Ncelsen e os 
bacilos coram-se em vermelho. É possível avaliar os índices: baciloscópico 
(quantidade de bacilos por campo variando de O a 6+) e morfológico 
 
8 
FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO 
SAMANTHA LEÃO F. LIMA 
(avaliação da viabilidade bacilar, que podem estar íntegros ou 
fragmentados). 
 
 
 REAÇÃO DE MITSUDA 
Não é teste diagnóstico. Avalia a capacidade do indivíduo em 
elaborar resposta imune granulomatosa a antígenos do M. leprae. E uma 
intradermorreação tardia à inoculação de solução de bacilos mortos pelo 
calor. A leitura do teste é feita no 28° dia e é considerada positiva se maior 
de S mm. Apresenta-se negativa na forma virchowiana e positiva na 
tuberculoide. Nas formas dimorfas, pode ser positiva se estiver mais próxima 
do polo tuberculoide, ou negativa se estiver mais próxima do polo 
virchowíano. Por se tratar de teste que avalia o padrão de resposta, não a 
presença da doença, indivíduos não expostos à harucnlase podem apresentar 
teste de Mitsuda positivo. 
Na investigação do eritema nodoso, caso seja positivo, exclui o 
diagnóstico de hanseníase, uma vez que o ENH acomete indivíduos do polo 
virchowiano e DV, cuja resposta é predominantemente humoral. Por outro 
lado, na investigação de placa sarcóidea, o teste de Mitsuda negativo afusta 
a hanseníase. 
 
 TESTES SOROLÓGICOS 
O exame negativo não afasta hanseníase, pois tem valor diagnóstico 
limitado pela baixa positividade nas formas paucibacilares. Até o momento, 
o teste mais estudado detecta o anticorpo glicolipldio fonólico 1 (PGL-1). 
Constituinte da membrana do M. leprae, entretanto não está amplamente 
disponível e reflete a carga bacilar. 
Reação em cadeia de polimerase 
O exame negativo não afasta o diagnóstico. Pode auxiliar na 
confirmação de casos iniciais e subclínicos, pois possibilita detectar 
fragmentos do M. lepme, entretanto, está restrita a centros de pesquisa e 
tem custo elevado. 
 
 ELETRONEUROMIOGRAFIA 
Indicada principalmente na investigação da hanseníase neural 
primária e na monitoração do tratamento. A mononeurite múltipla é a 
apresentação mais frequente, e o exame pode auxiliar na escolha do local de 
biópsia de nervo, quando necessária. 
 
 EXAMES DE IMAGEM 
A ultrassonografia,a tomografia computadorizada e a ressonância 
magnética auxiliam na avaliação dos nervos periféricos, evidenciando 
espessamento, edema, abscessos intraneurais, compressões, 
 comprometimento osteoarticular, principalmente na 
 investigação da osteomielite, e avaliação do 
 comprometimento nas reabsorções ósseas. 
 
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL 
 
 Na forma indeterminada são diferenciais pitiríase alba, pitiríase 
versicolor, vitiligo, nevo anêmico, nevo acrômico e hipocromia pós-inflamatória. 
 As lesões do polo tuberculoide e dimorfo-tuberculoide devem ser 
diferenciadas de sarcoidose, granuloma anular, dermatofitoses, tuberculose, 
eritemas figurados, pitiríase rósea, psoríase, LES, leishmaniose, sífilis e outras. 
 Lesões dimorfas e virchowianas têm como diagnósticos diferenciais 
principais farmacodermias, LES, micose fungoide, pelagra, dermatofibroma, 
queloide e xantomas. 
 
TRATAMENTO 
 
Toda pessoa afetada pela hanseníase deverá ter fácil acesso ao 
diagnóstico e ao tratamento gratuito com a poliquimioterapia. Precisamos 
garantir que sejam realizadas atividades sustentáveis, e que serviços de 
qualidade sejam oferecidos dentro de uma estrutura integrada que inclua 
uma rede eficaz de referência para abordar de forma eficiente as 
complicações relacionadas à hanseníase. 
 
 
 
 
 
 
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FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO 
SAMANTHA LEÃO F. LIMA 
 ESTRATÉGIAS DE ELIMINAÇÃO 
Detecção oportuna de casos e tratamento com PQT são as 
estratégias centrais para redução das complicações da hanseníase, além da 
melhora nas condições de vida. 
 
 POLIQUIMIOTERAPIA 
 
A PQT é o tratamento indicado, por prevenir a resistência 
medicamentosa, diminuir rapidamente a carga bacilar, interrompendo a 
transmissão, com poucos efeitos colaterais e baixa taxa de recidiva (cerca de 
1 %). “O tratamento da hanseníase é ambulatorial, utilizando-se os esquemas 
terapêuticos padronizados pela OMS e pelo Ministério da Saúde de acordo 
com a classificação opera ional”. As medicações preconizadas para o 
tratamento dos indivíduos paucibacilares são a rifampicina e a dapsona. Para 
os multibacilares, acrescenta-se a dofazimina. Outras drogas estão sendo 
estudadas, entre elas doxiciclina, moxifloxacino, rifapentina e 
diarilquinolina14, mas ainda não estão padronizadas para o tratamento da 
hanseníase. A Tabela apresenta as doses e os esquemas preconizados pelo 
Ministério da Saúde. 
 
 
A gravidez e o aleitamento não contraindicam o tratamento padrão. 
Deve-se atentar que a rifampicim1 pode interagir com anticoncepcionais 
orais, diminuindo a ação. Exames laboratoriais devem ser realizados no 
mínimo no início do tratamento e quando houver suspeita de efeitos 
adversos a medicamentos e/ou nos episódios reacionais: hemograma, urina 
1, parasitológico de Íe7...es, glicerina, avaliações bioquímicas renal e hepática 
e provas inflamatórias. 
 
 
 
 ESQUEMAS ALTERNATIVOS 
Disponíveis apenas nos serviços de referência, são utilizados em caso 
de intolerância grave ou contraindicação a um ou mais medicamentos do 
esquema padrão. Clofazimina pode ser utilizada nos paucibacilares com 
intolerância à dapsona. Ofloxacino e minociclina são as medicações utilizadas 
nos esquemas alternativos, cm doses diárias substituindo a medicação 
suspensa. As dosagens dos esquemas alternativos e os esquemas em 
situações especiais como abusam de álcool e drogas, transtornos psíquicos, 
substituição de medicamentos cm crianças e gestantes, devem ser 
consultados nas publicações do Ministério da Saúde. 
 
EFEITOS ADVERSOS AO TRATAMENTO: 
 
Os efeitos graves mais frequentes estão relacionados à dapsona e, 
em geral, ocorrem nas primeiras 6 semanas de tratamento. É importante 
diferenciar das reações hansênicas, uma vez que, nestas, a PQT não deve 
ser suspensa, enquanto as reações medicamentosas graves indicam a 
suspensão da medicação causadora. 
1. Rifampicina: toxicidade hepática, podendo se manifestar 
por icterícia assintomática, anorexia, náuseas e aumento de enzimas 
hepáticas cm 2 a 3 vezes; rubor, prurido e exantemas medicamentosos; 
coloração vermelho- alaranjada das secreções; vômitos e diarreia; 
trombocitopenia; síndrome pseudogripal (hipersensibilidade por dose 
intermitente) é rara e manifesta-se com febre, calafrios, mialgias, cefaléia, 
dores ósseas, cosinofilia, falência renal aguda, trombocitopenia, anemia 
hemolítica e choque; redução do efeito de anticoncepcionais. 
 
2. Dapsona: exantema medicamentoso; DRESS (reação a 
drogas com eosinofilia e sintomas sistêmicos); eritrodermia; síndrome de 
Stevens-Jonhson; icterícia colestática; hepatite tóxica; síndrome nefrótica; 
psicose; neuropatia motora periférica; agranulodtose; anemia hemolítica, 
em geral nas primeiras semanas e mais grave em indivíduos com deficiência 
da enzima glicose-6-fosfuto- -desidrogenase (G-6-PD); meta-
hemoglobinemia: cianose, dispneia, taquicardia, cefaleia, fadiga. 
3. Clofazimina: fotossensibilidade; xerose cutânea; 
pigmentação cutânea de coloração cinza- -azulada (regride em cerca de 1 
ano após o tratamento); vômitos; náuseas; diarreia e dor abdominal. 
 
 
10 
FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO 
SAMANTHA LEÃO F. LIMA 
MANEJO DAS REAÇÕES HANSÊNICAS 
 
Episódios reacionais hansénicos não contraindicam o in[cio da PQT, 
não implica na interrupção nem é indicação de reinicio da PQT. Entretanto, 
após 5 anos do término do tratamento, caso ocorra a apresentaç;1o de 
episódio reacional, deve-se pesquisar recidiva ou reinfecção e manter a busca 
de focos ativos intradomiciliares. 
Para tratamento adequado, é importante diferenciar entre os tipos 
de reações hansénicas, avaliar extensão do comprometimento de nervos 
periféricos e outros órgãos, investigar e controlar potenciais fatores 
desencadeantes (ver Episódios reacionais), instituir precocemente 
terapêutica medicamentosa e realizar medidas de prevenção de 
incapacidades, como repouso dos membros afetados nos casos de neurite ou 
edema, lubrificação dos olhos e exame do genital masculino. 
 
 REAÇÃO TIPO 1 
Prednisona: 1 a 1,5 mglkg de peso/dia até a melhora clínica, com 
redução gradual lenta, cm tomo de 6 meses, de acordo com a avaliação 
clínica. O peso, a glicemia e a pressão arterial devem ser avaliados 
periodicamente. O tratamento preventivo para estrongiloidfase ou o exame 
de fezes periódico devem ser realizados, assim como medidas profiláticas da 
osteoporose. 
 
 
 REAÇÃO TIPO 2 
Analgésicos e anti-inflamatórios não hormonais são indicados nos 
casos pouco sintomáticos. 
Talidomida: 100 a 400 mg/dia, de acordo com a intensidade do 
quadro, até a melhora clínica. Para mulheres em idade fértil, a talidomida é 
contraindicada por tratar-se de droga tcratogênica e regulamentada pela 
Agência Nacional de Vigilância Sanitária pela Resolução RDC n. 11, de 22 de 
março de 201 1. 
Na impossibilidade do uso da talidomida, substituir por prednisona 1 
a 1,5 mg/kg/dia 
Na vigência de lesões oculares, neurite, orquiepididimite ou edema 
inflamatório de mãos e pés, glomerulonefrite, artrite, vasculite e eritema 
nodoso necroti1.ante, associar talidomida e prednisona. 
 
 
ACOMPANHAMENTO PSICOSSOCIAL 
 
 A descoberta de uma doença gera muitos impactos na vida 
de uma pessoa, como somos únicos, cada um vai reagir de acordo com a 
sua singularidade, porém na maioria dos casos poderá vir acompanhada de 
muita ansiedade, angústias e dúvidas, esses sentimentos são geralmente 
ainda maiores pela falta de informação gerando assim o medo do 
desconhecido. No caso da Hanseníase esses sentimentos são reforçados 
pelos estigmas e preconceitos que existem em relação à doença, tendo um 
impacto ainda maior na vida do indivíduo. 
 
 A Hanseníase é uma doença que existe a muitos séculos, 
representando ainda nos dias atuais um problema de saúde pública devido 
à grande prevalência da doença. Conhecida antigamente omo “Lepra”, se 
tin a pouco conhecimento sobre ela, seja a sua causa, tratamento ou cura. 
 
 Naquela época os pacienteseram isolados do restante da 
sociedade e passavam a viver nos antigos leprosários, muitos viveram 
nestes locais até o fim da vida. Essas pessoas além de isoladas conviviam 
com a rejeição e o preconceito da sociedade, pois essa doença era vista por 
muitos por um cunho bastante religioso, onde era visto como um castigo 
divino. 
 
 Muita coisa mudou, hoje já se sabe a sua causa e o 
tratamento para se chegar à cura, no entanto ainda existem estigmas e 
preconceitos que permeiam a doença; muitas vezes causados pela falta de 
informação, um exemplo disso são as dúvidas quanto a transmissão, 
algumas pessoas não sabem que o paciente que está em tratamento não 
mais a transmite, dessa forma se afastam com medo de serem acometidas 
pela doença. 
 
 Muitos ao serem diagnosticados sentem vergonha, então 
não contam para seus familiares nem amigos, enfrentam sozinhos, pelo 
 
11 
FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO 
SAMANTHA LEÃO F. LIMA 
medo de serem rejeitados ou isolados, tornando assim o processo muito 
mais doloroso. 
 
 Dessa forma, se torna muito importante um acompanhamento 
psicológico, além da presença de outros profissionais de saúde, onde teriam um 
papel importante desde o momento do diagnóstico, onde poderiam contribuir para 
amenizar as angústias que surgirem, seja tirando dúvidas quanto à forma de 
tratamento, de transmissão, podendo também esclarecer mitos e preconceitos que 
existe em torno da doença. 
 
 No enfrentamento de uma doença, como a Hanseníase, se torna 
fundamental um espaço, onde o paciente possa falar das suas fantasias e medos. 
Um espaço em que principalmente se sinta ouvido e acolhido. Outra forma eficiente 
de se trabalhar com os pacientes é através da terapia em grupo, onde permite a 
troca de experiência, onde um vai aprendendo com o outro, tanto sobre a doença, 
quanto as maneiras diferentes de enfrentá-la. 
 
 Se torna também interessante realizar um trabalho com os próprios 
profissionais que estão envolvidos no acompanhamento dos hansenianos, para 
reavaliarem alguns preconceitos que possam existir, e que de alguma maneira 
possa interferir no tratamento do paciente. 
 
 É necessário a realização de um trabalho também com os familiares, 
comunidade e com a sociedade de maneira geral, pois quanto mais pessoas tiverem 
esclarecimentos, e o conhecimento correto sobre a hanseníase, menor será o 
preconceito, além de contribuir para o diagnóstico precoce, evitando assim as 
possíveis sequelas. 
 
 
 O importante é o engajamento de todos, seja comunidade, seja 
profissionais de saúde, todos que puderem multiplicar as informações, formando 
assim uma rede que cresça cada vez mais, permitindo que ocorram as mudanças 
necessárias. 
 
NOTIFICAÇÕES – SISTEMA DE INFORMAÇÃO 
 
 
 A hanseníase é uma doença de notificação compulsória em 
todo o território nacional e de investigação obrigatória. Após a confirmação 
do diagnóstico, a notificação deve ser realizada. O registro precisa ser feito 
através da Ficha de Notificação/Investigação de Hanseníase do Sistema de 
Informação de Agravos de Notificação (SINAN). 
 
 
MEDIDAS DE PREVENÇÃO E CONTROLE 
 
 As estratégias de vigilância e prevenção envolvem o estímulo 
ao diagnóstico precoce e a avaliação precoce dos contatos mais próximos 
ao usuário com hanseníase na tentativa de interromper o ciclo de 
transmissão da doença e evitar que mais pessoas adoeçam. Medidas 
preventivas de acompanhamento e monitoramento regular assim como o 
a realização da avaliação neurológica juntamente com a classificação do 
grau de incapacidade e a identificação e intervenção adequada das reações 
hansênicas, são necessárias para evitar maiores complicações. 
 O Programa Estadual de Controle da Hanseníase desenvolve 
ações que visam direcionar a prática em serviços de Saúde através da 
uniformização e sistematização do atendimento ao usuário tendo por 
objetivo atingir a Meta de Eliminação da Hanseníase como Problema de 
Saúde Pública no Brasil. 
 
 Pessoas com Hanseníase e seus responsáveis devem ser 
orientados no cuidado com áreas anestésicas, em especial extremidades, 
sinais e sintomas em orofaringe e olhos. 
 Conhecer os sinais e sintomas dos episódios reacionais 
para evitar instalação e/ou agravamento das incapacidades. 
 Abordagem multidisciplinar com profissionais de áreas de 
terapia ocupacional, fisioterapia, nutrição, psicologia e assistente social. 
 
PROFILAXIA 
 
 A investigação consiste no exame dermatoneurológico de 
todos os contatos intradomiciliares dos últimos 5 anos dos casos novos 
detectados, independente da classificação operacional. 
 Os contactantes que não apresentarem sinais e sintomas 
de hanseníase no momento da avaliação devem receber a vacina BCG, de 
acordo com o MS, ressaltando que a aplicação da vacina não previne o 
desenvolvimento da doença, mas é utilizada com o propósito de estimular 
a resposta imune celular: 
 
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FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO 
SAMANTHA LEÃO F. LIMA 
 
 
- < 1 ano de idade, já vacinados - não revacinar 
- > 1 ano de idade, sem cicatriz ou com uma cicatriz de BCG - aplicar 
uma dose 
- 2 Cicatrizes de BCG - não revacinar 
- Cicatriz vacinal incerta - aplicar uma dose independentemente da 
idade 
 
 
REFERÊNCIAS 
 Guia para o Controle da Hanseníase - MINISTÉRIO DA SAÚDE; 
 GUIA PRÁTICO SOBRE A HANSENÍASE – Ministério da Saúde; 
 LONGO, Dan L. et al. Medicina interna de Harrison. 18.ed. Porto Alegre: 
AMGH, 2013. 2 v.

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