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1 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 Módulo dermato 1. OBJETIVO 1: ENTENDER A EPIDEMIOLOGIA, ETIOLOGIA, FISIOPATOLOGIA, QUADRO CLINICO, DIAGNOSTICO E TRATAMENTO DA HANSENIASE. A hanseníase é também conhecida como lepra ou mal de lazaro e surgiu na índia e na china e acredita-se que tenha sido levada para o mediterrâneo pelas conquistas de Alexandre, o grande. A hanseníase é uma infecção crônica, granulomatosa, curável, que tem como agente etiológico o Mycobacterium leprae ou bacilo de Hansen, um micro- organismo de elevada infectividade, porém baixa patogenicidade, isto é, poucos indivíduos infectados adoecem. O Mycobacterium leprae ou bacilo de Hansen (BH) é um bacilo álcool-ácido resistente (BAAR), parasita intracelular obrigatório com predileção pelas células do sistema reticuloendotelial. Uma diferença em relação ao bacilo da tuberculose é que o BH, quando em grande quantidade nas lesões, forma aglomerados bacilares, denominado globias. O bacilo encontra-se nas partes profundas da derme e apresenta uma multiplicação extremamente lenta (justificando a apresentação insidiosa da doença e o período de incubação de anos) e também possui preferência com ambientes com temperaturas baixas. Classicamente, o acometimento cutâneo caracteriza- se por máculas hipocrômicas, hipo ou anestésicas. EPIDEMIOLOGIA Nos últimos anos, observou-se bastante sucesso na implantação dos programas de controle da hanseníase. O foco desses programas está na detecção precoce de casos novos, tratamento gratuito e redução da carga da doença nas comunidades endêmicas. Pode-se dizer que a prevalência da doença vem diminuindo em todo o mundo nos últimos anos. No mundo, foram reportados à Organização Mundial da Saúde (OMS) 202.185 casos novos da doença em 2019. Desses, 29.936 (93%) ocorreram na região das Américas e 27.864 (93% do total das Américas) foram notificados no Brasil. Diante desse cenário, o Brasil é classificado como um país de alta carga para a doença, ocupando o segundo lugar na relação de países com maior número de casos no mundo, estando atrás apenas da Índia. Entretanto, a prevalência de hanseníase ainda apresenta importantes variações regionais e estaduais. Nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste (exceto Rio Grande do Norte e Distrito Federal), ainda há coeficientes elevados, sobretudo nos estados de Mato Grosso, Tocantins e Maranhão. TRANSMISSÃO E PATOGÊNESE O homem é considerado o único reservatório natural do bacilo. Os pacientes portadores da forma multibacilar são a principal fonte de infecção; As vias aéreas superiores são a principal via de inoculação e eliminação do bacilo. Soluções de continuidade da pele eventualmente podem ser porta de entrada da infecção. Secreções como leite, esperma, suor e secreção vaginal podem eliminar bacilos, mas não possuem importância na disseminação da hanseníase. A hanseníase raramente ocorre em indivíduos menores de 5 anos. E está relacionado com alguns fenótipos como HLA-DR2 e HLA-DR3 (paucibacilar) e HLA-DQ-1 (multibacilar). O período de incubação é longo, em média de 2 a 5 anos. E isso ocorre em virtude do microrganismo ser lento, se reproduzir por divisão binaria a cada 14 dias, sendo necessário muitos anos para que o organismo possua uma carga bacilar capaz de expressar-se clinicamente. Depois da sua entrada no organismo, se não for destruído, o bacilo irá se localizar na célula de shwann e na pele. Sua disseminação para outros tecidos (linfonodos, olhos, testículo, fígado) pode ocorrer nas formas mais graves. A imunidade humoral (dependente de anticorpos) é ineficaz contra o M.leprae. A defesa é efetuada pela imunidade celular, capaz de fagocitar e destruir os bacilos, medida pelas citocinas e mediadores de oxidação. Na forma paucibacilar (lesões tuberculoides), há predomínio de linfócitos Th1, produzindo IL-2 e IFN- gama, enquanto que na forma multibacilar (lesões virchowianas ou lepromatosas), o predomínio é de linfócitos T supressoras e Th2, produzindo IL-4, IL-5 e IL-10 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Os principais sinais e sintomas da hanseníase são: • Áreas da pele, ou manchas esbranquiçadas (hipocrômicas), acastanhadas ou avermelhadas, com alterações de sensibilidade ao calor e/ou dolorosa, e/ou ao tato; • Formigamentos, choques e câimbras nos braços e pernas, que evoluem para dormência – a pessoa se queima ou se machuca sem perceber; • Pápulas, tubérculos e nódulos (caroços), normalmente sem sintomas; Sp2 - A vida e dura! 2 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 • Diminuição ou queda de pelos, localizada ou difusa, especialmente nas sobrancelhas (madarose); • Pele infiltrada (avermelhada), com diminuição ou ausência de suor no local. Além dos sinais e sintomas mencionados, pode-se observar: • Dor, choque e/ou espessamento de nervos periféricos; • Diminuição e/ou perda de sensibilidade nas áreas dos nervos afetados, principalmente nos olhos, mãos e pés; • Diminuição e/ou perda de força nos músculos inervados por estes nervos, principalmente nos membros superiores e inferiores e, por vezes, pálpebras; • Edema de mãos e pés com cianose (arroxeamento dos dedos) e ressecamento da pele; • Febre e artralgia, associados a caroços dolorosos, de aparecimento súbito; • Aparecimento súbito de manchas dormentes com dor nos nervos dos cotovelos (ulnares), joelhos (fibulares comuns) e tornozelos (tibiais posteriores); • Entupimento, feridas e ressecamento do nariz; • Ressecamento e sensação de areia nos olhos CLASSIFICAÇÃO De acordo com a Organização Mundial da Saúde para fins operacionais de tratamento, os doentes são classificados em paucibacilares (PB – presença de até cinco lesões de pele com baciloscopia de raspado intradérmico negativo, quando disponível) ou multibacilares (MB – presença de seis ou mais lesões de pele OU baciloscopia de raspado intradérmico positiva). 1. HANSENIASE INDETERMINADA (PAUCIBACILAR) Todos os pacientes passam por essa fase no início da doença. Entretanto, ela pode ser ou não perceptível. E após um período de tempo ela evolui para cura ou para outra forma clínica. A fonte de infecção, normalmente é um paciente com hanseníase multibacilar não diagnosticado, que ainda convive com o doente, devido ao pouco tempo de doença. Caracteriza-se pelo aparecimento de manchas hipocromicas, anestésicas e anidrótica, com bordas imprecisas. As lesões são únicas ou em pequeno número e podem se localizar em qualquer área da pele. 2. HANSENIASE TUBERCULOIDE (PAUCIBACILAR) Essa forma surge a partir de uma HI não tratada, nos pacientes com boa resistência. É a forma da doença em que o sistema imune consegue destruir os bacilos espontaneamente. As lesões são bem delimitadas, em número reduzido, eritematosas, com perda total da sensibilidade e distribuição assimétrica. Inicialmente são maculas, que evoluem para lesões em placas com bordas papulosas e áreas de pele eritematosas ou hipocromicas. Pode se manifestar como nódulos, placas, lesões tricofitoides ou sarcoidicas. A neurite normalmente se apresenta com um quadro agudo de dor intensa e edema, sem que haja, a princípio, comprometimento funcional do nervo. Contudo, a lesão se torna crônica e passa a evidenciar o dano, identificado por anidrose e ressecamento cutâneo; alopecia; alteração sensitiva (na ordem em que é perdida: térmica, dolorosa e tátil) e motora, cursando com dormência e perda da força muscular. Se não tratado, o acometimento neural pode provocar incapacidades e deformidades. Outra forma é a forma neural pura, quando não se encontram lesões cutâneas, mas encontramos espessamento do tronco nervoso e dano neural precoce e grave. Na hanseníase tuberculoide podemos ver emergindo da placa o espessamento neural, o qual denominamosde sinal da raquete. Os principais troncos nervosos periféricos acometidos na hanseníase são: 1. Face – trigêmio e facial: podem causar alterações na face, nos olhos e no nariz; 2. Braços – radial, ulnar e mediano: podem causar alterações nos braços e nas mãos; 3. Pernas – fibular e tibial: podem causar alterações nas pernas e nos pés 4. HANSENIASE DIMORFA OU BODERLINE (MULTIBACILAR) Este grupo é marcado pela instabilidade imunológica, o que faz com que haja grande variação em suas 3 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 manifestações clínicas, seja na pele, nos nervos, ou no comprometimento sistêmico. As lesões da pele revelam-se numerosas e a sua morfologia mescla aspectos de HV e HT, A infiltração assimétrica da face e dos pavilhões auriculares, bem como a presença de lesões no pescoço e nuca, é elemento sugestivo desta forma clínica. As lesões neurais são precoces, assimétricas e, com frequência, levam a incapacidades físicas. Dependendo da morfologia, número de lesões e simetria, a hanseníase dimorfa é subclassificada em: Borderline Tuberculoide (BT): placas ou manchas eritematosas, por vezes anulares, de maior extensão, distribuição assimétrica, pouco numerosas ou com lesões satélite. A baciloscopia é negativa ou discretamente positiva. Borderline Borderline (BB): lesões bizarras, semelhantes ao “queijo suíço” (“esburacadas”), também descritas como anulares ou foveolares, com limite interno nítido e limites externos imprecisos, com bordos de cor ferruginosa. As lesões são mais numerosas que a BT, mas de distribuição assimétrica. A baciloscopia geralmente é moderadamente positiva. Borderline Virchowiana (BV): múltiplas lesões elevadas eritematoinfiltradas, algumas de aspecto anular. A baciloscopia é francamente positiva (tal como na hanseníase virchowiana). 5. HANSENIASE VIRCHOWIANA (MULTIBACILAR) Caracteriza-se pela infiltração progressiva e difusa da pele, mucosas das vias aéreas superiores, olhos, testículos, nervos; podendo afetar, ainda, os linfonodos, o fígado e o baço (hepatoesplenomegalia) O paciente virchowiano não apresenta manchas visíveis; a pele apresenta-se avermelhada, seca, infiltrada, cujos poros apresentam-se dilatados (aspecto de “casca de laranja”), poupando geralmente couro cabeludo, axilas e o meio da coluna lombar (áreas quentes). Na evolução da doença, é comum aparecerem caroços (pápulas e nódulos) escuros, endurecidos e assintomáticos (hansenomas). Quando a doença se encontra em estágio mais avançado, pode haver perda parcial a total das sobrancelhas (madarose) e também dos cílios, além de outros pelos, exceto os do couro cabeludo. A face costuma ser lisa (sem rugas) devido a infiltração, o nariz é congesto, os pés e mãos arroxeados e edemaciados, a pele e os olhos secos. O suor está diminuído ou ausente de forma generalizada, porém é mais intenso nas áreas ainda poupadas pela doença, como o couro cabeludo e as axilas. O acometimento dos testículos pode levar à diminuição da produção de testosterona, ocorrendo aumento do FSH e LH com queda da libido e eventualmente ginecomastia. O acometimento da câmara anterior do olho resulta em glaucoma e formação de catarata. DIAGNÓSTICO • EXAME NEUROLOGICO O exame dos nervos periféricos é fundamental, procurando-se déficit motores, sensitivos e espessamento dos troncos nervosos pela palpação. O nervo deve ser palpado com as polpas digitais do segundo e terceiro dedos, deslizando-os sobre a superfície óssea, acompanhando o trajeto do nervo, no sentido de cima para baixo. Deve-se verificar se há queixa de dor espontânea no trajeto do nervo; de choque ou de dor; se há espessamento do nervo palpado comparado com o nervo correspondente, no lado oposto; se há alteração na consistência do nervo (endurecimento, amolecimento); se há alteração na forma do nervo (abscessos e nódulos); se o nervo apresenta aderências. 4 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 Para avaliação da sensibilidade (térmica, dolorosa e tátil) o paciente deve estar de olhos fechados e sempre comparamos com um lado normal. Para a sensibilidade térmica utiliza dois frascos contendo temperaturas diferentes. Para a sensibilidade dolorosa utiliza-se uma agulha. E para sensibilidade tátil, verificamos através de um toque, geralmente utilizando um monofilamento. Considera-se um caso de hanseníase a pessoa que apresenta um ou mais dos seguintes sinais cardinais: • Lesão (ões) e/ou área (s) da pele com alteração da sensibilidade térmica e/ou dolorosa e/ou tátil; • Comprometimento do nervo periférico, geralmente espessamento, associado a alterações sensitivas e/ou motoras e/ou autonômicas; e • Presença de bacilos M. leprae, confirmada na baciloscopia de esfregaço intradérmico ou na biópsia de pele. BACILOSCOPIA DO RASPADO INTRADÉRMICO É o exame complementar mais útil no diagnóstico; é de fácil execução e baixo custo. Deve ser feito com a linfa obtida em pelo menos quatro locais (lóbulos das orelhas direita e esquerda, cotovelos direito e esquerdo) e em lesão cutânea suspeita. No paciente paucibacilar (indeterminada ou tuberculóide) a baciloscopia é negativa. Caso seja positiva, reclassificar o doente como MB. No paciente multibacilar (dimorfa e virchowiana), a baciloscopia normalmente é positiva. Caso seja negativa, levar em consideração o quadro clínico para o diagnóstico e classificação desse doente. EXAME HISTOPATOLÓGICO (BIÓPSIA DA PELE) O material será enviado a um laboratório de patologia, onde serão feitas as colorações para avaliação histopatológica e procura de bacilos. A interpretação desses achados deverá ser realizada de acordo com o quadro clínico do paciente. Na hanseníase indeterminada, encontra-se, na maioria dos casos, um infiltrado inflamatório que não confirma o diagnóstico de hanseníase. A procura de bacilos (BAAR) é quase sempre negativa. Na hanseníase tuberculóide, encontra-se um granuloma do tipo tuberculóide (ou epitelióide) que destrói pequenos ramos neurais, agride a epiderme e outros anexos da pele. A procura de bacilos (BAAR) é negativa. Na hanseníase virchowiana, encontra-se um infiltrado histiocitário xantomizado ou macrofágico, e a pesquisa de bacilos mostra incontáveis bacilos dispersos e organizados em grumos (globias). Na hanseníase dimorfa, há um infiltrado linfo- histiocitário, que varia desde inespecífico até com a formação de granulomas tuberculóides; a baciloscopia da biópsia é frequentemente positiva, sobretudo nos nervos dérmicos e nos músculos lisos dos pelos; Em caso de dúvida, pode-se lançar mão de provas complementares, que são o teste da histamina (ausência do eritema secundário) e da pilocarpina (anidrose). 1. TESTE DE HISTAMINA O teste de histamina é feito colocando-se uma gota de solução de cloridrato de histamina a 1:1.000 sob a pele. Com uma agulha fina faz-se uma escoriação embaixo do líquido, de modo que não haja sangramento. O esperado normalmente é que ocorra a tríplice reação de Lewis: I. Eritema inicial no local da picada, no máximo com 10 mm, 20 a 40 segundos após a picada; II. Eritema pseudopódico com 30 a 50 mm após aproximadamente um minuto, devido à 5 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 vasodilatação arteriolar por ato reflexo axônico; e III. seropápula, dois a três minutos após a escarificação. É um exame útil para auxiliar no diagnóstico de manchas hipocrômicas hansenianas iniciais, pois nestas falta o eritema pseudopódico. Não se realiza este exame na raça negra devido à dificuldade de leitura. 2. TESTE DE PILOCARPINA No teste da pilocarpina utilizamos injeção intradérmica de cloridrato de pilocarpina a 1%. Normalmente ocorre sudorese na área picada dois minutos após. Nas lesões hansênicas ocorre anidrose. 3. REAÇÃODE MITSUDA A reação de Mitsuda é um teste de aplicação intradérmica cuja leitura é tardia (28 dias). Utiliza-se na classificação da doença e na definição do prognóstico. Não possui valor para o diagnóstico, pois de um modo geral é encontrado de forma positiva na população sã, que já teve contato com o bacilo, porém não desenvolveu a doença O teste consiste na aplicação intradérmica – na superfície extensora do antebraço direito – de 0,1 ml de um preparado que contém 40 a 60 milhões de bacilos mortos por mililitro; Após cerca de 48 a 72 horas da injeção, observa-se uma reação localizada (semelhante à reação tuberculínica), denominada reação de Fernandez, de significado incerto. Depois de 28 a 30 dias pode ocorrer uma segunda reação tardia à mitsudina ou lepromina: é a reação de Mitsuda. Esta consiste na presença de uma pápula ou nódulo, que pode ou não ulcerar. Segundo a Organização Mundial de Saúde, reações até 5 mm chamamos de mitsuda negativo, e acima de 5 mm chamamos de mitsuda positivo. COMPLICAÇÕES Os surtos reacionais são definidos como episódios inflamatórios que se intercalam no curso crônico da hanseníase. Muitas vezes podem chamar mais atenção do que as próprias lesões primárias da hanseníase, pela riqueza de sinais e sintomas. Ao contrário da apresentação esperada para uma hanseníase, possuem evolução aguda. Os tipos de reação mais importantes são a reação reversa ou reação do tipo 1 e a reação do tipo 2 ou Eritema Nodoso da Hanseníase (ENH). As reações seguem-se a fatores desencadeantes, tais como: infecções intercorrentes, vacinação, gravidez e puerpério, medicamentos iodados, estresse físico e emocional. Os quadros reacionais, às vezes, antecedem o diagnóstico da hanseníase, surgem durante o tratamento ou após a alta. Obs: A ocorrência de reações hansênicas não contraindica o início da PQT, não implica sua interrupção e não é indicação de reinício de PQT se o paciente já houver concluído seu tratamento. • REAÇÃO TIPO 1 (REVERSA) É mais característica da forma clínica paucibacilar. INICIO: Antes do tratamento ou nos primeiros seis meses do tratamento. Pode ser a primeira manifestação da doença. CAUSA: Processo de hiper-reatividade imunológica, em resposta ao antígeno (bacilo ou fragmento bacilar); MANIFESTAÇÕES: Aparecimento de novas lesões que podem ser eritematoinfiltradas (aspecto erisipeloide). Reagudização das lesões antigas; Dor espontânea nos nervos periféricos; Aumento ou aparecimento de áreas hipo ou anestésicas. COMPROMETIMENTO SISTEMICO: Não é frequente. FATORES ASSOCIADOS: Edema de mãos e pés; aparecimento brusco da mão em garra e pé caído; HEMATOLOGIA: Pode haver leucocitose; EVOLUÇÃO: lenta, pode ocorrer sequelas neurológicas e complicações, como abcesso de nervo. TRATAMENTO: iniciar prednisona na dose de 1-1,5 mg/kg/dia, reduzindo conforme resposta terapêutica. • REAÇÃO TIPO 2 (ERITEMA NODOSO HANSÊNICO) Mais comum na forma multibacilar. INICIO: Pode ser a primeira manifestação da doença; pode ocorrer durante ou após o tratamento. CAUSA: Processo de hiper-reatividade imunológica, em resposta ao antígeno (bacilo ou fragmento bacilar); MANIFESTAÇÕES: As lesões pré-existentes permanecem inalteradas; há aparecimento brusco de nódulos 6 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 eritematosos dolorosos a palpação ou até mesmo espontaneamente, que pode evoluir para vesículas, pústulas, bolhas ou ulceras. COMPROMETIMENTO SISTÊMICO: é frequente e apresenta febre, astenia, mialgias, náuseas e dor articular. FATORES ASSOCIADOS: Edema de extremidades - irite, epistaxes, orquite, linfadenite, neurite, comprometimento gradual dos troncos nervosos. HEMATOLOGIA: Leucocitose com desvio a esquerda e aumento de imunoglobulina e anemia. EVOLUÇÃO: Rápido, o aspecto necrótico pode ser continuo, durar meses e apresentar complicações graves. TRATAMENTO: A talidomida é a droga de escolha na dose de 100 a 400 mg/dia, conforme a intensidade do quadro. A corticoterapia pode ser indicada em determinadas situações: • Contraindicações à talidomida; • Mulheres grávidas ou sob risco de engravidar; • Presença de lesões oculares reacionais, com manifestações de hiperemia conjuntival com ou sem dor, embaçamento visual, acompanhadas ou não de manifestações cutâneas; • Edema inflamatório de mãos e pés (mãos e pés reacionais); • Glomerulonefrite; orquiepididimite; artrite; vasculites; eritema nodoso necrosante; • Reações de tipo eritema polimorfo-símile e síndrome de Sweet-símile TRATAMENTO As drogas são administradas por via oral. A PQT é distribuída em blisteres convenientes com tratamento para quatro semanas. Existem blísteres para crianças, com as mesmas drogas em dosagens menores; Até 2020, o esquema utilizado para PB era composto de duas drogas (rifampicina e dapsona) e para MB, de três drogas (rifampicina, dapsona e clofazimina). No entanto, diante da baixa disponibilidade da baciloscopia, da insuficiente acurácia dos profissionais de saúde no diagnóstico e classificação da hanseníase, fez com que o tratamento passasse a ser unificado, usando as 3 drogas para os dois tipos. Atualmente utiliza-se a associação dos fármacos rifampicina + dapsona + clofazimina, na apresentação de blísteres, para tratamento de hanseníase, passando a ser denominada “Poliquimioterapia Única – PQT-U”. Nos casos em que não seja possível utilizar algum medicamento do esquema padrão, recomenda- se substituir por ofloxacino 400 mg e/ou minociclina 100 mg; Nos casos de crianças abaixo de 30 kg, as doses de rifampicina, clofazimina e dapsona deverão ser ajustadas conforme peso corporal (rifampicina: 10-20 mg/kg; clofazimina: 1 mg/kg diariamente e 5 mg/kg mensalmente; dapsona: 1,5 mg/kg diariamente e mensalmente). Condutas para pacientes irregulares: os pacientes que não completaram o tratamento preconizado – PB: 6 (seis) doses em até 9 (nove) meses e MB: 12 (doze) doses em até 18 (dezoito) meses – deverão ser avaliados quanto à necessidade de reinício ou possibilidade de aproveitamento de doses 7 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 anteriores, visando à finalização do tratamento dentro do prazo preconizado. SITUAÇÕES ESPECIAIS • HANSENIASE E HIV Deve ser mantido o esquema de PQT. A hanseníase não se modifica pela coinfecção com o HIV, porem existe a probabilidade de uma maior gravidade nas reações hansenicas. • HANSENIASE E TUBERCULOSE Deve ser mantido o esquema apropriado para tuberculose acrescido dos medicamentos específicos para hanseníase. • HANSENIASE E GRAVIDEZ A gestação nas mulheres portadoras de hanseníase tende a apresentar poucas complicações, exceto pela anemia, comum em doenças crônicas. A gravidez e o aleitamento materno não contraindicam a administração dos esquemas de tratamento Os recém-nascidos, porém, podem apresentar a pele hiperpigmentada pela clofazimina, ocorrendo a regressão gradual da pigmentação, após a parada da PQT. RECIDIVAS A recidiva é a situação em que o paciente completa o tratamento (poliquimioterapia) com sucesso e, depois, desenvolve novos sinais e sintomas da doença. No caso de suspeita de recidiva, o paciente deverá ser encaminhado para um centro de referência para confirmação e reinício do tratamento. GRAUS DE INCAPACIDADE Grau 0 significa que nenhuma incapacidade foi encontrada. Grau 1 significa que se observou perda de sensibilidade nas mãos ou nos pés (aos olhos não é dado grau 1). Perda de sensibilidade nas mãos ou nos pés significa que um dos principais troncos nervosos periféricos foi lesado pela hanseníase. Grau 2 indica a presença de uma lesão ou incapacidade visível. 2. OBJETIVO 2: DIAGNOSTICO DIFERENCIAL DA HANSEANIASE (PTIRIASE, ECZEMA E LUPUS). ECZEMAS (DERMATITES ECZEMATOSAS)Os eczemas são dermatites caracterizadas pela presença de eritema, edema, vesiculação, secreção, formação de crostas, escamas e liquenificação. Essas lesões se sucedem ou se associam, formando os aspectos multiformes dos eczemas, e são acompanhadas do prurido, um sintoma constante, que pode ser mínimo, moderado ou intenso. A síndrome eczematosa pode ser classificada em aguda, subaguda ou crônica, de acordo com o aspecto que apresenta. Quando ocorre eritema, edema, vesiculação e secreção, o eczema é agudo; se o eritema e o edema são menos intensos e predominam as manifestações de secreção com formação de crostas, tem-se o subagudo. O eczema de evolução prolongada, com liquenificação, é a forma crônica. A síndrome eczematosa é das mais frequentes afecções cutâneas, sendo causada por agentes exógenos (contactantes) ou endógenos (endotantes), que atuam com mecanismos patogenéticos diversos. Por critério clínico e etiopatogênico, podem-se agrupar as seguintes formas de eczemas ou dermatites eczematosas: • Eczema ou dermatite eczematosa de contato. • Eczema ou dermatite eczematosa atópica. • Eczema ou dermatite numular. • Eczema ou dermatite de estase. • Eczema disidrótico ou disidrose. • Eczema microbiano ou dermatite eczematoide infecciosa 3. OBJETIVO 3: ELUCIDAR MECANISMO DE AÇÃO DA RIFAMPICINA, DAPSONA E CLOFAZIMINA. Rifampicina: Modo de ação: antimicrobianos que se ligam a RNA polimerases dependentes de DNA e inibem a iniciação da síntese de RNAm. Espectro de atividade: amplo espectro. Mais utilizados no tto de hanseníase e tuberculose. Resistência: comum. Terapia combinada visto que a resistência é comum. Contraindicações: insuficiência renal grave, uso concomitante de ACO ou fármacos hepatotóxicos. A rifampicina funciona melhor quando é tomada com estômago vazio (se possível, não comer durante as seis horas antes da tomada da rifampicina e durante a meia hora depois de ter tomado). Dapsona: Mecanismo de ação: é um antibiótico da classe das sulfonas, inibe competitivamente a pteridina sinteatase, bloqueando a formação do ácido dihidropteróico, o que impede a síntese proteica. Espectro de atividade: usado no tto de hanseníase. Contraindicações: alergia às sulfonas. Para doentes com anemia deve ter tratamento apropriado, antes de se iniciar a terapêutica com dapsona. Há interações medicamentos com anti-histamínico, antidepressivos tricíclicos... Aconselha-se monitorar os pacientes com os seguintes exames: hemograma, determinação de G6PD, testes de função hepática e renal. 8 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 USO DURANTE A GRAVIDEZ (Categoria de risco C): Não há segurança sobre o emprego de DAPSONA na gravidez, assim este medicamento somente deve ser utilizado após criteriosa avaliação da relação benefício/risco. Recomenda-se que a gestante que use dapsona também faça ingestão diária de 5 mg de ácido fólico. Se ocorrer a síndrome da dapsona (exantema, febre e eosinofilia) deve-se descontinuar o tratamento imediatamente porque pode evoluir para dermatite esfoliativa, hipoalbuminemia, psicose e morte. Clofazimina: Modo de ação: inibição da replicação do DNA. Exerce efeito anti-inflamatório e evita a formação do eritema nodoso hansenico (reação tipo 2). A clofazimina é geralmente bem tolerada e praticamente não tóxica nas dosagens utilizadas. A sua eficácia é maior quando administrada diariamente. Atenção: quando houver dor abdominal e/ou diarreia crônica intermitente, deve-se evitar o uso da clofazimina. Coloração escura, avermelhada da pele, das palmas das mãos, das plantas dos pés, da esclerótica e das urinas (o sol agrava estes efeitos). Coloração escura das lesões da pele. Não é um problema sério. Após terminar o tratamento, a cor regressa lentamente ao normal (em alguns meses); Secura da pele especialmente na face anterior das coxas. Neste caso devemos untar com óleo a pele seca e continuar com a clofazimina. Reações adversas: 4. OBJETUVO 5: ESTUDAR COMO FUNCIONA A NOTIFICAÇÃO DA HANSENIASE. As principais medidas de vigilância compreendem: ● Notificação: a hanseníase é uma doença de notificação compulsória em todo território nacional e de investigação obrigatória; ● Descoberta de casos e tratamento específico: por meio da detecção ativa e passiva (demanda espontânea e encaminhamento). A detecção ativa de casos de hanseníase prevê a busca sistemática de doentes, pela equipe da unidade de saúde, por meio das seguintes atividades: investigação epidemiológica de contatos; exame de coletividade, com inquéritos e campanhas; exame das pessoas que demandam espontaneamente os serviços gerais de unidade de saúde, por outros motivos que não sinais e sintomas dermatológicos ou neurológicos; exame de grupos específicos, em prisões, quartéis, escolas, de pessoas que se submetem a exames periódicos, entre outros; mobilização da comunidade adstrita à unidade, principalmente em áreas de alta magnitude da doença, para que as pessoas demandem os serviços de saúde sempre que apresentarem sinais e sintomas suspeitos. O tratamento da hanseníase é eminentemente ambulatorial e os medicamentos devem estar disponíveis em todas as unidades de saúde de municípios endêmicos; ● Vigilância de casos em menores de 15 anos: diante de um caso suspeito de hanseníase em menores de 15 anos, deve ser preenchido o “Protocolo Complementar de Investigação Diagnóstica de Casos de Hanseníase em Menores de 15 Anos” (PCID – < 15) e, se confirmado o caso, remeter esse protocolo à SMS, com a ficha de notificação do Sinan, anexando cópia no prontuário do paciente; ● Vigilância de recidivas: as unidades de saúde dos municípios, diante de um caso suspeito de recidiva, devem preencher a “Ficha de Intercorrências Pós-Alta por Cura” e encaminhar o caso para a unidade de referência mais próxima. Uma vez confirmado o caso, remeter a ficha para a secretaria municipal de saúde, juntamente com a ficha de notificação do Sinan, anexando cópia no prontuário do paciente; ● Atenção às áreas de ex-colônias de hanseníase: apesar do isolamento compulsório ter sido abolido em 1962 no Brasil, muitas pessoas permaneceram residindo em ex-colônias ou em seus arredores. Outras foram internadas por razões sociais até o início dos anos 1980, em alguns estados. Recomenda-se, portanto, que essas populações sejam alvo de ações de vigilância e controle de hanseníase; ● Prevenção e tratamento de incapacidades físicas: todos os casos de hanseníase, independentemente da forma clínica, deverão ser avaliados quanto ao grau de incapacidade no momento do diagnóstico e, no mínimo, uma vez por ano, inclusive na alta por cura. Toda atenção deve ser dada ao diagnóstico precoce do comprometimento neural; ● Investigação de contatos: sabe-se que a suscetibilidade ao bacilo tem influência genética. Assim, familiares de pessoas com hanseníase possuem chances maiores de adoecer. Desta forma, essa investigação tem por finalidade a descoberta de casos novos pelo exame dermatoneurológico entre aqueles que convivem ou conviveram, de forma prolongada, com o caso novo de hanseníase diagnosticado, devendo ser realizada: Para fins operacionais, define-se como: 9 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 • Contato domiciliar: toda e qualquer pessoa que resida ou tenha residido, conviva ou tenha convivido com o doente de hanseníase, no âmbito domiciliar, nos últimos cinco (5) anos anteriores ao diagnóstico da doença, • Contato social: toda e qualquer pessoa que conviva ou tenha convivido em relações sociais (familiares ou não), de forma próxima e prolongada com o caso notificado. Os contatos sociais que incluem vizinhos, colegas de trabalho e de escola; Recomenda-se a avaliação dermatoneurológica pelo menosuma vez ao ano, por pelo menos cinco anos, de todos os contatos domiciliares e sociais que não foram identificados como casos de hanseníase na avaliação inicial, independentemente da classificação operacional do caso notificado – Paucibacilar (PB) ou Multibacilar (MB). Não se utiliza mais a Rifampicina como quimioprofilaxia de contatos de doente. 10 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022
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