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1 1 - Pós-graduanda em Fisioterapia Dermato-Funcional 2- Orientadora Fisioterapeuta Especialista em Metodologia do Ensino Superior Recursos fisioterapêuticos utilizados no tratamento das cicatrizes hipertróficas em pacientes queimados Andréia Nascimento Bentes 1 andreiamedic@hotmail.com Dayana Priscila Maia Mejia 2 Pós-graduação em Fisioterapia Dermato-Funcional – Faculdade Ávila Resumo As queimaduras são feridas traumáticas causadas por agentes térmicos, químicos, elétricos ou radioativos que atuam nos tecidos de revestimento do corpo humano e as Cicatrizes Hipertróficas são desordens fibroproliferativas em que há deposição excessiva de proteínas da matriz extracelular. Este trabalho verificou quais os recursos da Fisioterapia são utilizados no tratamento dessas disfunções. Realizou-se um levantamento bibliográfico nos livros e nas diferentes bases de dados como SciELO, MEDLINE, Pubmed, Lilacs e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). Evidenciou-se que os recursos mais utilizados são o ultrassom contínuo, modo direto, numa potência de 1 a 3 W/cm 2 durante 5 a 8 minutos; o laser quando utilizado com pulso de 0,45 ms e fluência de 6,5 a 7,25 J/cm 2 , com comprimento de onda de 585 – 595 nm; a massagem juntamente com o uso das vestes compressivas; a endermologia no modo pulsátil nas regiões próximas da lesão e sobre as cicatrizes, de modo contínuo; a eletroterapia como a corrente alternada bipolar e galvânica e a carboxiterapia com fluxo entre 80 e 150 ml/min. Espera-se que este estudo sirva de base para novas descobertas que abordem o papel da Fisioterapia no tratamento de queimados para que os gastos onerosos e o tempo de internação destes pacientes sejam reduzidos. Palavras-chave: Queimaduras; Cicatrizes hipertróficas; Recursos Fisioterapêuticos. 1. Introdução A queimadura é um dos traumas mais devastadores que pode atingir o homem, é também uma das causas frequentes de mortalidade e de graves incapacidades a longo prazo (ANDRADE; LIMA; ALBUQUERQUE, 2010). As lesões por queimadura representam um importante problema de saúde em termos de tratamento e cuidados com os sobreviventes e o traumatismo ocasionado por estas injúrias representa um gasto dispendioso para os cofres públicos. Para Herson et al. (2009), nos EUA aproximadamente 1,25 milhões de pessoas sofrem queimaduras todos os anos, cerca de 1 milhão de pessoas necessitam de tratamento e 100.000 queimaduras são de moderadas a grave, sendo que 51.000 indivíduos requerem hospitalização, e desses 5.500 morrem anualmente. Os autores afirmam que são realizados mais de 34 milhões de procedimentos cirúrgicos relacionados a este tipo de lesão. Neste contexto, sabe-se que as crianças são as maiores vítimas, pois estatísticas do National Burn Repository, entre 1995 e 2005, ocorreram mais de 6.000 queimaduras em crianças menores de dois anos, 2.987 de dois a quatro anos e mais de 3.000 naquelas acima de cinco anos (SILVA, et al., 2009). Estima-se que no Brasil ocorrem em torno de um milhão de acidentes por queimaduras ao ano, sendo que 100.000 pacientes procuram atendimento hospitalar e, destes, cerca de 2.500 pacientes falecem direta ou indiretamente de suas lesões (GOMES In GUIMARÃES Jr., 2006). Porém, estudos recentes demonstram que significativos avanços médicos têm melhorado o prognóstico e a capacidade funcional dos pacientes que sobrevivem às lesões por queimaduras graças a melhorias nas técnicas clínicas, cirúrgicas e reabilitativas. No entanto, Herson et al. (2009) afirmam que, apesar dos avanços em vigência, a eficácia dos diversos tratamentos continua a ser insatisfatória. 2 Sabe-se que os pacientes queimados requerem uma atenção multiprofissional, onde para Rocha, Rocha e Souza (2010), a intervenção fisioterapêutica é de extrema importância, pois contribui para a diminuição das sequelas deixadas pela lesão, na melhoria da qualidade de vida e da integração, não só física, mas também psicológica, do indivíduo na sociedade. Guirro e Guirro (2010) afirmam que o fisioterapeuta possui aptidões específicas, certas metodologias e linhas de conhecimento que irão atuar no tratamento. Para cada fase cronológica da queimadura, este profissional possui um recurso específico que irá permitir que a lesão se cicatrize de maneira correta e evitando complicações futuras. Dentre as diversas complicações que podem ocorrer por esta injúria, destacam-se as cicatrizes hipertróficas que são deformidades que trazem graves problemas psicológicos como depressão, vergonha e isolamento do indivíduo queimado. Esta ocorre quando o colágeno é produzido em quantidade normal, mas a sua organização é inadequada, oferecendo aspecto não harmônico (CANDIDO, 2001). De acordo com Iurk et al. (2010), as cicatrizes hipertróficas oriundas de queimaduras profundas e extensas podem se desenvolver em pessoas que nunca apresentaram tendência a esse tipo de cicatrização. Desta forma, o presente trabalho propõe-se verificar quais os recursos dentro da Fisioterapia Dermato-funcional são utilizados no tratamento das Cicatrizes Hipertróficas resultantes das lesões por queimaduras e assim, ajudar o profissional que atua nesta área a conhecer as diversas possibilidades de intervenção fisioterapêutica e consequentemente, proporcionar um atendimento de qualidade para os pacientes sequelados por essas deformidades. 2. Histofisiologia e anatomia do sistema tegumentar O sistema tegumentar é constituído pela pele ou cútis, pelo tecido subcutâneo e por anexos epidérmicos – os folículos pilosos, pêlos, as unhas, as glândulas sudoríparas e as glândulas sebáceas (ROCHA, 2010). A autora citada afirma que a temperatura normal da pele varia de 32 a 36º C, porém este valor diminui anatomicamente em direção aos dedos dos pés. Já a espessura pode ser de um, dois ou três milímetros, também variando conforme a localização anatômica, sendo mais espessa nas superfícies dorsais e extensoras do corpo do que nas ventrais e flexoras. Ainda, fisiologicamente, a pele é mais delgada na infância e na senilidade. Guirro e Guirro (2010) relatam que funcionalmente, a pele é responsável pela termorregulação, evitando perdas hídricas e controlando a temperatura e umidade superficial, a mesma participa do metabolismo e do armazenamento de vitaminas e de lipídeos, além de regular os fluxos sanguíneo e linfático. Além disso, Azulay e Azulay (2006) apud Andrade e Cunha (2011), afirmam que a pele do homem corresponde a 15% de seu peso corporal e sua função é revestir e delimitar o organismo, esta apresenta alterações constantes, sendo dotada de grande capacidade renovadora e de reparadora, e de certo grau de impermeabilidade. Neste contexto, projetos científicos produtivos têm mostrado a pele como um órgão complexo no qual, interações celulares precisamente reguladas, governam várias respostas cruciais ao nosso ambiente (MURPHY; SELLHEYER; MIHM Jr. In KUMAR; ABBAS; FAUSTO, 2005). Sendo assim, frisa-se que este órgão é responsável pela sensação, proteção, termorregulação e secreção, é um revestimento elástico que protege o homem do meio ambiente contra passagem de agentes químicos e físicos, e impede a perda excessiva de água e eletrólitos (RIBEIRO; FERRANTI, 2005). Staley e Richard In O’Sullivan e Schmitz (2004) afirmam que a pele é o maior órgão do corpo humano e consiste, anatomicamente, de duas camadas distintas de tecido: a epiderme, camada mais exposta ao ambiente e a derme, camada mais profunda. A camada subcutânea de células adiposas que fica sob a derme e acima da fáscia muscular não é considerada parte propriamente dita da pele, mas não deve ser esquecida ao falar de sua anatomia. 3A epiderme é constituída por cinco camadas: germinativa, que é a mais profunda e faz limite com a derme, a espinhosa, granulosa, lúcida e córnea. Esta última se constitui por células escamosas e queratinizadas que proporcionam proteção contra traumas físicos e químicos (BLANES, 2004). As células da camada basal que se localizam nas saliências e vales entre a epiderme e a derme são capazes de se regenerar e são necessárias para vencer as forças de fricção às quais a pele é exposta nas atividades diárias. Sua ausência após a cicatrização das queimaduras resulta em bolhas por abrasão e pouca aderência do novo tecido epidermal ao entrar em contato com as roupas ou outras superfícies (STALEY; RICHARD In O’SULLIVAN; SCHMITZ, 2004). A derme é camada mais espessa da pele, nela contém vasos sanguíneos, linfáticos, nervos, colágeno, fibras elásticas que são os anexos da epiderme. É subdividida em camada papilar superficial, que contêm plexos vasculares, que em parte, servem para a nutrição da epiderme através da osmose; e camada reticular profunda que se localiza abaixo da derme papilar e suas fibras de colágeno são densamente entrelaçadas. Essa camada se prende ao tecido subcutâneo através de uma rede entrelaçada irregular de tecido conjuntivo fibroso (BLANES, 2004). A alteração da integridade vascular desta camada resulta na formação de edema nos espaços intersticiais, que é uma das principais alterações fisiopatológicas, que ocorre não somente na área da queimadura, como também nos tecidos adjacentes (STALEY; RICHARD In O’SULLIVAN; SCHMITZ, 2004). A hipoderme não faz parte da pele, mas torna-se importante por unir a derme aos tecidos subjacentes. É formada por tecido conjuntivo que varia do tipo frouxo associada à grande quantidade de tecido adiposo unilocular (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2008). Rocha (2010) diz que identificar a área total da superfície corporal é importante para mensurar o metabolismo basal, isto é, a produção de energia sob condições padronizadas de repouso. Afirma ainda que esta área corresponde no adulto a aproximadamente dois metros quadrados e, no recém-nascido, cerca de 1/5 de metro quadrado, valores de grande relevância nas mensurações para análise da porcentagem corporal comprometida nas queimaduras. 3. Conceito e classificação das queimaduras As queimaduras, de acordo com Serra, Gomes e Crisóstomo In Lima Jr. (2006), são feridas traumáticas causadas por agentes térmicos (frio e calor), químicos, elétricos ou radioativos. Estes agentes atuam nos tecidos de revestimento do corpo humano, determinando destruição parcial ou total da pele e seus anexos, podendo atingir estruturas profundas como, tecido celular subcutâneo, músculos, tendões e ossos. O Conselho Internacional de Enfermeiras (2001) afirma que o calor leva a perda da camada exterior do tecido da superfície e leva a alterações significativas no organismo, como coagulação das proteínas das células, aumento do metabolismo, perda da reserva dos nutrientes nos músculos e nos tecidos adiposos, das proteínas e dos compostos azotados. Essa injúria provoca grande dor, desconforto ou estresse, podendo levar a choque hipovolêmico, e também a óbito. Consequentemente, o paciente apresenta necrose dos tecidos, infecção da ferida, contraturas, escaras hipotróficas com rigidez por espessamento, o que leva uma acentuada desfiguração do paciente. Para Gomes In Guimarães Jr. (2006), a queimadura pode variar desde uma pequena flictena (bolha) na pele até agressão grave, capaz de desencadear um grande número de respostas sistêmicas proporcionais à extensão e à profundidade dessas lesões. Mendes et al. (2008) complementam afirmando que esse trauma assume proporções variáveis dependendo do tempo de exposição, do percentual de área queimada e do agente causador. De acordo com Guirro e Guirro (2010), a classificação da gravidade das queimaduras é determinada mediante diversos fatores como a idade do paciente, profundidade da lesão, tipos de lesões, regiões afetadas, agente causador, porcentagem de superfície cutânea lesada e 4 traumas associados. Para os autores, determinar o grau de uma queimadura significa atentar para a profundidade do trauma térmico na pele. Segundo Staley e Richard In O’sullivan e Schmitz (2004) as classificações das feridas decorrentes de queimaduras apresentam diferentes quadros clínicos, e cada um pode se modificar dramaticamente durante o curso do tratamento. Para os autores acima mencionados, as queimaduras estão classificadas quanto à profundidade como superficial (1 o grau); superficial de espessura parcial (2 o grau); profunda de espessura parcial (2 o grau profundo); queimadura de espessura integral (3 o grau); queimadura elétrica (4 o grau). Gomes In Guimarães Jr. (2006) mostra que a mesma é dividida classicamente em primeiro, segundo e terceiro graus, onde a queimadura de primeiro grau é aquela que atinge a camada mais externa da pele, não provoca alterações hemodinâmicas e não é acompanhada de alterações clínicas significativas. A lesão é hiperemiada, úmida e dolorosa como a causada por raios solares. O’Sullivan e Schmitz (2004) afirmam ainda que normalmente, há uma leve reação inflamatória e a cicatrização ocorre dentro de dois a cinco dias, podendo haver também alguma descamação da epiderme externa. A queimadura de segundo grau atinge tanto a epiderme como parte da derme e pode ser classificada como superficial ou profunda. Esta se diferencia da primeira pela formação das bolhas ou flictenas. A mesma pode ser evidenciada por lesão térmica causada por líquido superaquecido (GOMES In GUIMARÃES Jr., 2006). Para o autor supracitado, a queimadura de terceiro grau por sua vez, acomete a totalidade das camadas da pele, sendo que outros tecidos são atingidos, tais como tecido celular subcutâneo, músculos e osso. Clinicamente, apresenta um aspecto esbranquiçado ou marmóreo e há redução da elasticidade tecidual, o que torna o tecido rígido. A mesma pode apresentar vasos sanguíneos trombosados e é considerada a mais grave de todas as lesões por provocar grandes deformidades, podendo ser de causa elétrica ou térmica. Alguns autores como Fernandes Jr. et al. In knobel (2006) consideram as áreas carbonizadas lesões de quarto grau. Dentro deste contexto, a queimadura grave não fatal causada por calor, eletricidade, agentes químicos e radiantes é considerada uma das piores lesões que o corpo humano pode sofrer. Ocorre intensa dor durante o tratamento, exige longo período de internação, além de múltiplos procedimentos cirúrgicos reconstrutores e as reinternações hospitalares (HERSON et al., 2009). 4. Fisiopatologia das queimaduras Nos últimos anos, uma gama de estudos têm demonstrado diferentes alterações fisiopatológicas que ocorrem nas queimaduras onde afirmam que a pele humana pode tolerar sem prejuízo, temperaturas de até 44°C, acima deste valor, são produzidas diferentes lesões e a classificação quanto aos seus graus está diretamente relacionada à temperatura e ao tempo de exposição ao agente causador (BOLGIANI; SERRA, 2010). De acordo com Fernandes Jr. et al. In knobel (2006), o paciente queimado apresenta alterações fisiopatológicas importantes como hipóxia tecidual, ativação de todas as vias biológicas da inflamação, alteração da imunidade celular, da imunidade mediada por citocinas, fatores de crescimento, do sistema complemento, da casca de coagulação, lesão de reperfusão e disfunção endotelial. Estes autores dividem as alterações fisiopatológicas em cinco períodos. Assim, no primeiro período tem a formação de edema local devido a intensa vasodilatação, aumento da pressão osmótica e intersticial e pela degradaçãodo colágeno tendo seu pico de incidência em 1 e 3 horas após o insulto. No segundo período, há uma redução heterogênea da perfusão tecidual com consequente isquemia local e instalação de necrose que se estende das 12 a 24 horas após a lesão. O 5 terceiro período é marcado pela adesão de plaquetas e leucócitos à superfície das células endoteliais lesadas. O quarto período ocorre mais tardiamente onde acontece a reparação das lesões com o aumento da perfusão tecidual para a manutenção das necessidades metabólicas e das defesas locais e sistêmicas contra infecção nos tecidos queimados. A última fase é marcada pela colonização da área queimada e da infecção nas primeiras 48 horas onde bactérias Gram- positivas que habitam os folículos pilosos profundos e as glândulas sebáceas são suprimidas por bactérias Gram-negativas. 5. Processo de cicatrização da pele Segundo Piccolo et al. In Lima Jr. et al. (2008), o processo de cicatrização, mesmo com avanços na área da saúde, ainda guarda mistérios quanto aos seus mecanismos regulatórios, principalmente em relação à formação de cicatrizes com repercussões funcionais e estéticas desfavoráveis. Após uma lesão tecidual, um processo de reparo dinâmico, interativo e complexo se instala para a formação de uma cicatriz. A cicatrização de uma ferida não é um fenômeno isolado, mas uma série complexa de eventos biológicos, cujo objetivo final é a preservação da vida (KREISNER; OLIVEIRA; WEISMANN, 2005). Stanley e Richard In O’Sullivan e Schmitz (2004) afirmam que a cicatriz ocorre quando uma lesão envolve tecidos mais profundos do que a epiderme. Desta forma, a cicatrização ocorrerá toda vez que a perda de tecido for além da derme, dividindo-se em três fases: A fase inflamatória, que é a preparação da ferida para a cicatrização, tem início em 3 a 5 dias. Nesta há uma agregação das plaquetas e depósito de fibrina, formando um coágulo sobre a lesão. Esta fase é fundamental ao processo de cura e engloba todos os sinais flogísticos da inflamação como eritema, edema, calor, dor e diminuição da amplitude de movimento (Stanley; Richard In O’Sullivan; Schmitz, 2004). Vale ressaltar que os neutrófilos, linfócitos e macrófagos migram sobre a rede de fibrina com o objetivo de remoção de tecidos desvitalizados (ANDRADE; LIMA; ALBUQUERQUE, 2010). A fase proliferativa é marcada pela reepitelização da superfície da ferida e migração e proliferação dos fibroblastos a níveis mais profundos. O colágeno é depositado aleatoriamente e junto com este, forma-se o tecido de granulação que por sua vez é composto por novos vasos sanguíneos que trazem suprimento para a área da ferida. Esta fase tem duração de 6 dias a 3 semanas (Stanley; Richard In O’Sullivan; Schmitz, 2004). A fase reparadora ou de remodelamento tem início por volta da terceira semana após o ferimento e se estende por até dois anos, dependendo do grau, extensão e local da lesão. Nesta, a força tênsil da cicatriz é aumentada (ABREU; MARQUES In JORGE; DANTAS, 2003). Para Tazima,Vicente e Moriya (2008), o reparo de lesões é um esforço nos tecidos para restaurar a função e estruturas normais, porém vários fatores interferem na cicatrização como infecção, idade, desnutrição, sendo também que a deficiência de proteínas e vitamina C afeta a síntese de colágeno. Mandelbaum, Di Santis e Mandelbaum (2003) enfatizam que além destes fatores acima citados, a existência de doenças de base, como diabetes, alterações cardiocirculatórias e de coagulação, aterosclerose, disfunção renal, quadros infecciosos sistêmicos e uso de drogas sistêmicas dificultam ainda mais a cicatrização. É importante ressaltar que os principais tipos de cicatrização no indivíduo queimado são cordões fibrosos, bridas e placas cicatriciais. Estes resultam das constantes remodelações do tecido de granulação, incitadas pela lise e síntese do colágeno, fibroblastos e substâncias enzimáticas do local. De acordo com Barguil In Borges (2010) esse fenômeno, próprio das queimaduras profundas, é denominado cicatrização anárquica, pela forma desordenada com que as camadas celulares se dispõem, tendendo a aproximação dos segmentos corporais. 6 6. Cicatrizes hipertróficas Vale relembrar que todas as lesões passam pelas fases inflamatória, proliferativa e de remodelamento, tendo como resultado final a formação de cicatriz. Entretanto, para Piccolo et al. In Lima Jr. (2008), cicatrizes anormais podem se desenvolver, determinando alterações psicossociais estressantes, uma vez que podem ser esteticamente desfigurantes, com limitações funcionais, e apresentar sintomatologia exuberante. Além disso, sistemas biológicos complexos, incluindo o bioquímico, metabólico e imunológico, parecem estar implicados na formação de cicatrizes anormais. Mendonça e Coutinho-Netto (2009) mostram em seu estudo que a cicatrização de feridas é processo complexo que envolve a organização de células, sinais químicos e matriz extracelular com o objetivo de reparar o tecido. Sendo assim, o tratamento voltado para essas injúrias busca o fechamento rápido da lesão de forma a se obter cicatriz funcional e esteticamente satisfatória. Os autores ainda afirmam que somente durante a fase fetal o reparo de lesões se dá sem a formação de cicatriz, ocorrendo perfeita restauração do tecido pelo processo de neoformação tecidual. Porém, após o nascimento, o organismo falha nesse processo, desencadeando a formação da cicatriz após o reparo. De acordo com Candido (2001), existem diversos tipos de cicatrização, a Normotrófica quando a pele adquire o aspecto de textura e consistência anterior ao trauma; Atrófica quando sua maturação não atinge o trofismo fisiológico esperado, surgindo, geralmente, por perda de substância tecidual ou sutura cutânea inadequada; Bridas cicatriciais, cicatrizes localizadas nas regiões articulares e, por essa razão, podem provocar limitações funcionais; Hipertrófica, a cicatriz respeita o limite anatômico da pele e o Quelóide que é decorrente da contínua produção de colágeno jovem devido à ausência de fatores inibitórios. Ruiz et al. (2005) relatam que atualmente, considera-se a cicatriz hipertrófica como um estágio cicatricial que pode regredir para uma cicatriz não patológica, permanecer com altura elevada ou evoluir para cicatriz queloideana. Sendo assim, para Piccolo et al. In Lima Jr. et al. (2008), Cicatrizes Hipertróficas são desordens fibroproliferativas características da raça humana, em que há deposição excessiva de proteínas da matriz extracelular após processos inflamatórios, traumas. Estas apresentam as mesmas fases do processo normal de cicatrização, entretanto têm a evolução temporal mais prolongada e a retração cicatricial mais importante do que a observada em cicatrizes não hipertróficas. Ainda segundo os autores, estas cicatrizes são tipicamente elevadas, de coloração vermelha, pruriginosas, endurecidas, dolorosas, confinadas aos limites originais da lesão, começam a se desenvolver em 6 a 8 semanas após a epitelização, e sofrem regressão, pelo menos parcialmente e ainda que tardia, em 12 a 24 meses após o final do processo de cicatrização. Para Pinto et al. (2007), esta característica diferencia os quelóides das cicatrizes hipertróficas, pois os primeiros não respeitam os limites da cicatriz e não regridem espontaneamente ou continuam a progredir após 6 meses de evolução, embora ambos sejam considerados distúrbios fibroproliferativos. Vale salientar que fatores neurogênicos também estão presentes na cicatriz hipertrófica. A mesma é frequentemente caracterizada por sintoma de dor, ao contrário da cicatriz normotrófica, que é caracterizada por uma redução na sensibilidade. Esse fenômenodeve-se ao fato das cicatrizes hipertróficas possuírem maior densidade de filetes nervosos que as cicatrizes normais (ZHANG; LAATO, 2001). 7. Recursos fisioterapêuticos utilizados no tratamento das cicatrizes hipertróficas Sabe-se que a fisioterapia está presente no tratamento de queimados desde as primeiras 24 horas após a lesão. Rochet e Zaoui (2002) Apud Rocha (2010) afirmam que atendimento fisioterapêutico no atendimento a queimados deve iniciar o mais precoce possível, 7 preferencialmente no dia do acidente; evitar imobilizações prolongadas de qualquer parte do corpo, devendo instituir movimentação ativa do paciente, quando possível nas extremidades. Para Rocha (2010), a fisioterapia tem por objetivos primordiais prevenir a perda de movimento, minimizar e evitar as deformidades anatômicas, diminuir a perda de massa corporal. A autora ainda frisa que o papel do fisioterapeuta envolve, também, a elaboração de um programa de tratamento adequado a cada tipo de paciente, as atividades devem ser planejadas e realizadas diariamente, avaliando as condutas de acordo com a evolução do paciente, visto que as necessidades de reabilitação se modificam com frequência. Após a alta hospitalar, o paciente deve ter atenção ambulatorial por um período de até dois anos pós-queimadura. Neste período, o fisioterapeuta acompanha o paciente a fim de alcançar dentre seus objetivos a melhora das cicatrizes hipertróficas, retráteis e bridas, bem como amenizar as limitações articulares e funcionais decorrentes destas (BARGUIL In BORGES, 2010). Para se alcançar os objetivos propostos pela Fisioterapia, existe um arsenal de recursos que podem ser utilizados na reabilitação de pacientes queimados. Dentro destes, os mais utilizados e mencionados pelos autores para o tratamento das cicatrizes hipertróficas são: 7.1. Eletroterapia A Eletroterapia apresenta íntima relação com a Fisioterapia sendo um dos recursos base dos agentes físicos utilizados nessa área. Agne (2009) define a Eletroterapia como o uso da corrente elétrica de baixa intensidade, como forma direta ou previamente transformada a fim de estimular diferentes sistemas orgânicos com distintos objetivos terapêuticos. Deste modo, este recurso é importante no tratamento das cicatrizes hipertróficas e dentre suas diversas modalidades, pode-se destacar a aplicação da corrente alternada, pois é útil para tratar aderências de tendões ao tecido cicatricial subjacente. A corrente alternada bipolar, pulsada ou oscilante, ajuda a reduzir o edema e aumentar a amplitude de movimento (DELISA, 2002). De acordo comTibola In Lima Jr. et al. (2008), o uso das correntes elétricas em crianças deve ser cauteloso para que estas possam fazer uso destes recursos sem danos à saúde e para que não tenham traumas das sensações causadas pelos aparelhos. Sendo assim, é necessário explicar-lhes o recurso a ser utilizado e, principalmente, saber adequar o recurso à idade de cada criança, o que muitas vezes impede de utilizar a eletroterapia nesses indivíduos. Guirro e Guirro (2010) em sua obra quando abordam sobre as cicatrizes hipertróficas, indicam a corrente galvânica como o melhor recurso eletroterapêutico pela sua capacidade ionização. Estes afirmam que quando se coloca o polo negativo diretamente sobre a cicatriz ocorre a endosmose, o aumento da circulação e a formação de um composto de pH básico que auxilia no aumento da distensibilidade da mesma. Esta corrente pode ser também associada à terapia medicamentosa pelo processo de iontoforese. 7.2. Ultrassom Por terapia ultrassônica entende-se o tratamento mediante vibrações mecânicas com uma frequência superior a 20.000 Hz, sendo que as frequências utilizadas no ultrassom terapêutico oscilam entre 0,7 e 3 MHz. Este recurso é estudado por vários autores como Agnes (2009), Barguil In Borges (2010) e Guirro e Guirro (2010) os quais demonstram que no tratamento de cicatrizes hipertróficas preconiza-se o uso do modo contínuo por aumentar a mobilidade da cicatriz madura, aumentar sua extensibilidade colágena onde o tecido cicatricial pode ser suavizado e assim mobilizado de forma eficaz, o que se torna um tratamento indispensável nas cicatrizes hipertróficas pós-queimadura. Borges (2010) aponta o método direto por acelerar e normalizar o tecido e minimizar o endurecimento tecidual. Pestana, Gabriel e Sampaio (2011) por sua vez, afirmam que quando o ultrassom é aplicado com potências de 1 a 3 W/cm 2 durante 5 a 8 minutos é eficaz no 8 tratamento das cicatrizes hipertróficas porque aumenta a mobilidade de cicatrizes maduras, liberta o tecido cicatricial através de pré-aquecimento, antes ou durante manobras de estiramento e massagem da cicatriz, o que reduz a possibilidade de lesão durante a sua execução. Na prática clínica, em pacientes vítimas de queimaduras, a aplicação de ultrassom normalmente na fase de remodelagem é realizada com o objetivo de adquirir ou de favorecer um realinhamento do colágeno. Se o mesmo for usado no modo contínuo em dosagens de 1 a 2w/cm 2 e diretamente sobre a cicatriz durante seis a oito minutos, tal processo pode facilitar o aumento na amplitude de movimentos e reduzir a dor associada à cicatriz. O ultrassom trabalha mais efetivamente se for usado nas cicatrizes com menos de um ano de idade (AFONSO; MARTINS In LIMA JR., 2008). Guirro e Guirro (2010) afirmam que há um consenso no sentido de que o ultrassom além de acelerar a resposta inflamatória, promovendo entre os efeitos desencadeados a liberação de histamina, de fatores de crescimento pela granulação de macrófagos, mastócitos e plaquetas, pode incrementar a síntese de fibroblastos e colágeno, o que é visto na fase de remodelagem. Apesar da eficácia do ultrassom, é importante atentar para as contraindicações que este apresenta como aplicação do aparelho em áreas com hipoestesia, com insuficiência vascular, a nível dos olhos, útero gravídico, sobre área cardíaca, tumores malignos, testículos, tromboses, implante metálico, endopróteses (BORGES, 2010). 7.3. Endermologia/vacuoterapia A vacuoterapia consiste na restauração da forma e da função dos tecidos resultando na melhora circulação e da oxigenação do meio intersticial, fator importante na qualidade de vida de toda estrutura tecidual (BORGES, 2010). É uma técnica de tratamento que engloba equipamentos específicos, baseados na aspiração, acrescidos de uma mobilidade profunda da pele e tela subcutânea, permitindo um incremento na circulação sanguínea e superficial (GUIRRO; GUIRRO, 2010). Segundo Borges (2010), esta técnica utiliza um aparelho que faz uma forte sucção na pele que gera um processo inflamatório agudo. A partir dessa inflamação, através do processo de reparação fisiológica da pele, há o restabelecimento da integridade do tecido através da estimulação de células conhecidas como fibroblastos. Ainda segundo o autor, no tratamento das cicatrizes hipertróficas a técnica de endermologia utilizada é a depressomassagem contínua (DMC) aplicada em toda a superfície dermodistônica onde a intensidade deve permanecer entre 100 a 250 mmHg. Para Guirro e Guirro (2010), as manobras devem ser executadas no sentido das fibras musculares e linhas de tensão da pele, a fim de evitar flacidez tecidual. Pravatto (2007) sugere tipos de manipulações onde o cabeçote ou a ventosa deslizam seguindo uma linha reta sobre a zona a tratar. Na fase de remodelagem, onde as sequelas já estão instaladas, realiza-se a depressomassagem pulsátil nas regiões próximas da lesão para liberar as zonas tensionadas; sobre as cicatrizes, realiza-se a depressomassagem contínua, e a pressão vai depender da sensibilidade dopaciente. O tratamento deve realizado duas ou três vezes por semana, podendo ser associado a outras técnicas dermatológicas como a aplicação corticóide intralesional que é de responsabilidade médica (BARGUIL In BORGES, 2010). 7.4. Carboxiterapia A Carboxiterapia como método coadjuvante aos pacientes que apresentam sequelas de queimaduras tem sido muito utilizada, proporcionando resultados visíveis na melhora dos movimentos, da cicatrização e regeneração do colágeno (SCORZA; JAHARA In BORGES, 2010). 9 A técnica é definida como a administração terapêutica do anidro carbônico (também denominado gás carbônico ou CO2) através de injeção hipodérmica no tecido subcutâneo diretamente nas áreas afetadas (CORRÊA et al., 2008). Os autores afirmam que mecanismo de ação do gás carbônico é, sobretudo, na microcirculação vascular do tecido conectivo, promovendo uma vasodilatação e um aumento da drenagem veno-linfática. Com a vasodilatação, melhora-se o fluxo de nutrientes, entre eles, as proteinases necessárias para remodelar os componentes da matriz extracelular e para acomodar a migração e reparação tecidual. Scorza e Borges (2008) afirmam que após a ação mecânica ocorrida na carboxiterapia, provocada pelo “trauma” da agulha e pela introdução do gás, há a produção de um processo inflamatório e consequente migração de fibroblastos para a região da agressão e sua posterior proliferação estimulando a síntese de colágeno e de outras moléculas do tecido conjuntivo, como a fibronectina, glicoproteína encontrada no sangue, associada a vários processos biológicos como adesão e diferenciação celular, reparação de tecidos, servindo como substrato para enzimas fibrinolíticas e da coagulação. Estudo histológico com a Carboxiterapia comprovou um aumento da espessura da derme, evidenciando estímulo à neocolagenase, bem como preservação total do tecido conjuntivo, incluindo estruturas vasculares e nervosas, ou seja, um evidente rearranjo das fibras colágenas (BRANDI et al., 2001 Apud SCORZA; BORGES, 2008). Em um estudo piloto com ratos jovens (3 meses) e ratos mais velhos (14 meses), realizou-se biópsia da pele antes e após a injeção subcutânea e intradérmica de gás carbônico. Verificou- se que de fato, após a injeção do gás carbônico, o arranjo das fibras de colágeno dos ratos mais velhos era similar ao dos ratos mais jovens. Além disso, houve um aumento da quantidade de fibras de colágeno na área tratada, sendo mais pronunciadas com as injeções intradérmicas (FERREIRA; HADDAD; TAVARES, 2008 apud SCORZA; BORGES, 2008). A carboxiterapia é um método, utilizado para tratamento de irregularidades da pele, outros estudos realizados demonstram melhora na pressão parcial de oxigênio tecidual, da perfusão tecidual, e também, de parâmetros locais de circulação. Com isso, a carboxiterapia já vem sendo utilizada para o tratamento de arteriopatias, psoríase, úlceras, varizes, na redução de adiposidades localizadas, por seu efeito oxidativo sob os lipócitos. Os mesmos estudos fazem referências aos resultados positivos obtidos com a aplicação de gás carbônico sobre a elasticidade cutânea (BRANDI et al, 2004 Apud CORRÊA et al., 2008). O gás carbônico age quimicamente na modulação das interleucinas pró-inflamatórias, diminuindo a ação destas e aumentando das interleucinas antiinflamatórias, o que conduz um processo cicatricial normal. Simultaneamente, em razão do efeito mecânico do gás, haverá ruptura do colágeno cicatricial, que se encontra duro, denso, aderente às camadas mais profundas, e sua posterior substituição (SCORZA; JAHARA In BORGES, 2010). Para os autores mencionados o método de aplicação deve ser o dérmico-superficial, com volume mínimo necessário para promover microdescolamentos e um eritema em toda a extensão afetada. Já nas bordas, recomenda-se pinçar o local utilizando fluxo alto, entre 80 e 150 ml/min. Nos pontos que ainda apresentarem aderência, a aplicação deve ser feita no plano dérmico-profundo, no volume máximo suportável pelo paciente, objetivando a formação de um novo tecido de sustentação. Os mesmos autores sugerem que o intervalo das sessões seja de no mínimo de trinta dias. Durante o tratamento ocorre um retorno gradual das sensibilidades térmica, tátil e sensitiva nas áreas lesionadas. Como foi dito, a carboxiterapia é considerada uma técnica segura, mas devemos atentar para algumas contraindicações citadas por alguns autores: infarto agudo do miocárdio, angina instável, insuficiência cardíaca, hipertensão arterial, tromboflebite aguda, gangrena, infecções localizadas, epilepsia, insuficiência respiratória, insuficiência renal, gravidez, distúrbios psiquiátricos (SCORZA; BORGES, 2008). 10 7.5. Laserterapia Entre os vários recursos utilizados, o laser de baixa potência vem ganhando destaque nas últimas décadas. De acordo com Agne (2009) considera-se laser de baixa potência os inferiores a 50 mW, com luz no espectro vermelho visível ou no espectro infravermelho (não visível). Dentre os efeitos terapêuticos alcançados, destacam-se a analgesia local, redução de edema, ação antiinflamatória e estimulação da cicatrização de feridas de difícil evolução. Este último contribui assim para reparar perdas de substâncias, sobretudo em queimaduras. Andrade, Lima e Albuquerque (2010) conceituam o laser terapêutico como uma forma de fototerapia que envolve a aplicação de luz monocromática e coerente de baixa energia em vários tipos de lesões, obtendo sucesso quando usada para induzir a cicatrização de feridas difíceis. Seu êxito deve-se a amplos efeitos sobre os diferentes tecidos, entre os quais se destacam os efeitos trófico-regenerativos, antiinfamatórios e analgésicos, os quais têm sido demonstrados em estudos tanto in vitro como in vivo. Na maioria das vezes este recurso é utilizado, quando a lesão por queimadura se encontra em aberto, porque ele bioestimula a regeneração da área através do reparo tecidual. A sua utilização é rápida, não invasiva e efetiva (GUIRRO; GUIRRO, 2010). No entanto, sabe-se que o laser não somente bioestimula, mas também bioinibe e biomodula os processo de regeneração (AGNE, 2009). Pinto et al. (2007) cita alguns estudos que demonstram que aplicação do laser diretamente sobre a cicatriz favorece a formação do tecido de granulação e interfere no metabolismo dos fibroblastos na região da lesão. A irradiação do laser promove um aumento de aproximadamente 22% na síntese de ATP mitocondrial, acelerando o metabolismo celular e o reparo alveolar. Para esses autores isso se deve ao fato que na epiderme existem substâncias capazes de inibir a atividade mitótica da epiderme onde o complexo calona adrenalina é ativado. O raio laser atuaria impedindo a formação deste complexo, ativando a quantidade de mitose epitelial. Pestana, Gabriel e Sampaio (2011) demonstram em seu estudo que o laser pulsado com comprimento de onda de 585 – 595 nm pode ser usado no tratamento de cicatrizes hipertróficas e quelóides. A cicatriz é exposta a feixe com pulso de 0,45 ms e fluência de 6,5 a 7,25 J/cm 2 . A fototermólise provoca degradação do colágeno e apoptose dos fibroblastos com subsequente redução da espessura da cicatriz, eritema, prurido e dor. Este parâmetro do laser também foi confirmado por Lupton e Alster (2002) Apud Kreisner, Oliveira e Weismann (2005) os quais apontam os efeitos benéficos evidenciados pela redução do eritema, altura, rigidez e sintomatologia dessas lesões. Andrade, Lima e Albuquerque (2010) afirmam que a aplicação precoce do laser terapêutico sobre as feridas é capaz não só de acelerar o fechamento das mesmas, provocando efeitos na fase infamatória e proliferativa, mas de estimular um processocicatricial mais harmônico e organizado, produzindo efeitos posteriores sobre o aspecto estético da cicatriz na fase de remodelamento. Sendo assim, observa-se que o laser terapêutico é capaz de promover um processo cicatricial mais rápido e de melhor qualidade. A maioria dos estudos analisados por estes autores revela que a laserterapia acelerou a proliferação de células, aumentou a vascularização e melhorou a organização do colágeno. Entretanto, poucos exploraram os efeitos do laser na cicatrização de queimaduras e mostraram achados divergentes. 7.6. Massagem Conforme Barguil In Borges (2010), a massagem tem papel fundamental na reabilitação do paciente queimado. Embora controversa, pode ser utilizada em regiões cicatrizadas, enxertadas ou áreas doadoras, desde que observado o tipo de cicatriz. Esta tem a finalidade de 11 melhorar a aparência do plano cicatricial e liberar aderências, tornando-o mais elástico e uniforme. A autora relata ainda a massagem pode ser associada ao uso de corticóide tópico para inibir a hipertrofias, segundo prescrição médica, junto com manobras de pressão, deslizamento e técnicas de liberação miofascial, sendo somente contraindicado na presença de bridas, o que deve ser corrigida pelo cirurgião plástico. É importante relembrar que as mobilizações articulares para evitar sequelas e aderências de fáscias, músculos e tendões, devem começar imediatamente, assim como as massagens, exercícios passivos e ativos, e não somente na fase de remodelamento. Entretanto, deve-se levar em consideração o quadro clínico do paciente, uma vez que o tratamento é individualizado. Órteses simplificadas devem ser logo colocadas para que o pescoço, as mãos e pés não assumam posições viciosas (ROCHA; ROCHA; SOUZA, 2010). Guirro e Guirro (2010) ressaltam que as modalidades de massagem utilizadas nas cicatrizes hipertróficas são a massagem clássica para melhorar a circulação e facilitar a penetração de agentes lubrificantes; drenagem linfática para atenuar edemas e linfedemas, principais problemas apontados por ocasião da lesão térmica e/ou nas cirurgias reparadoras; massagem transversa profunda para romper as aderências, possibilitando um aumento na maleabilidade tecidual; massagem reflexa, especificamente as manobras propostas por Félix Wetterwald que têm como objetivo principal a liberação também de aderências, aumento da circulação e analgesia. Os autores citados anteriormente, afirmam que a utilização de curativos de silicone gel pode complementar os efeitos produzidos pela massagem por produzirem melhora no aspecto das cicatrizes hipertróficas e queloideanas. A vacuoterapia também pode completar a massoterapia, pois apresenta uma ação desfibrosante de grande interesse em cicatrizes aderentes, promovendo seu remodelamento. O benefício das massagens foi frisado por Stanley e Richard In O’Sullivan e Schmitz (2004), pois os mesmos acreditam que esta descola o tecido cicatricial, mobilizando o tecido cutâneo do tecido subjacente e agindo para quebrar as aderências. Quando a massagem é usada junto a exercícios, a cicatriz imatura pode ser alongada com mais facilidade e a contratura pode ser corrigida. Apesar de haver uma carência de estudos que comprovem a eficácia da massagem em pacientes queimados, na vivência clínica nota-se que em longo prazo, a maleabilidade e a textura da pele parecem melhorar com o uso desta terapêutica. Observa-se ainda que cicatrizes firmes rotineiramente massageadas tendem a amolecer, costuras dos enxertos ou qualquer área que esteja elevada e rígida podem se beneficiar da massagem. Sugere-se que as cicatrizes sejam massageadas de maneira lenta e firme, por 5 a 10 minutos, 3 a 6 vezes por dia (STANLEY; RICHARD In O’SULLIVAN; SCHMITZ, 2004). Pestana, Gabriel e Sampaio (2011) sugerem algumas técnicas de massoterapia que podem ser utilizadas nas cicatrizes após três semanas da lesão como as vibrações, manobras sedativas que melhoram a circulação sanguínea e alteram a substância fundamental; pressões que devem ser acompanhadas de fricção para mobilizar a cicatriz nos planos profundos; estiramentos que combatem a capacidade de retração das fibras de colágeno; petrissage ou amassamento que modifica a espessura do tecido, melhora a fibrose e suprime as aderências; pinçamento que atua sobre a fibrose; palper-rouler o qual consiste em rolar o plano superficial da pele sobre o profundo atuando deste modo sobre a fibrose e aderências. 7.7. Compressão No início, a cicatriz hipertrófica é prontamente influenciada pelas forças compressivas e, portanto responde a terapia por compressão. Quanto mais cedo o tecido cicatricial é exposto à pressão, melhor o resultado (ANDRADE; CUNHA, 2011). 12 Reforçando esta afirmativa, Stanley e Richard In O’Sullivan e Schmitz (2004) declaram que se a cicatriz tem menos de seis meses, ela responderá à terapia compressiva se adequando à pressão, permanecendo plana e na superfície, não se tornando hipertrófica. Este tempo pode se estender até por um ano se a mesma ainda estiver ativa ou mostrar sinais de vascularização (cor vermelha). Durante este período acima especificado, os autores atentam para possíveis mudanças que podem ocorrer quando a ferida ou o enxerto se tornar avascular, pois as áreas recém- cicatrizadas podem tonar-se elevadas e endurecidas. Por este motivo a compressão será imprescindível uma vez que acelera a maturação da cicatriz e minimiza a formação de cicatriz hipertrófica. Para estes autores a pressão exercerá controle sobre a formação de cicatriz hipertrófica por afinamento da derme, alteração da estrutura bioquímica do tecido cicatricial, diminuição do fluxo sanguíneo e reorganização dos feixes de colágeno para a cicatriz e diminuição do conteúdo de água no tecido. Para alcançar estes benefícios, Tibola In Lima Jr. et al. (2008) afirmam que as malhas compressivas proporcionam cicatrizes planas e uniformes, pois reorganizam as fibras do tecido em recuperação por meio de vestes compressivas com pressão em torno de 20 a 25 mmHg. São utilizadas de modo contínuo depois que a lesão não apresenta mais áreas cruentas, e por volta de seis meses a dois anos após o início do uso. São retiradas apenas para a higiene pessoal e sessões de fisioterapia. Pestana, Gabriel e Sampaio (2011) mostram que apesar de os princípios da compressão não serem bem conhecidos, algumas teorias apresentadas por alguns autores são a redução do débito sanguíneo com subsequente diminuição de microgobulina e estimulação da degradação de colágeno pelas colagenases; hipóxia, o que leva a diminuição do metabolismo tecidual com degeneração dos fibroblastos e degradação do colágeno; diminuição da hidratação da cicatriz, o que estabiliza os mastócitos e subsequente diminuição de neovascularização e produção de matriz. Afonso e Martins In Lima Jr. (2008) sugerem que a terapia compressiva se inicie após a epitelização completa por 23 horas/dia por um período de 12 a 36 meses. As vestes do tipo Jobst Garments exercem pressão contínua sobre as áreas cicatrizadas e enxertadas, prevenindo cicatrizes hipertróficas e são confeccionadas sob medida, devendo ser retiradas para higiene pessoal. As mesmas não precisam ser retiradas para a sessão de fisioterapia. No que tange aos tipos de compressão, Stanley e Richard In O’Sullivan e Schmitz (2004) sugerem ainda as faixas elásticas para prover suporte vascular aos enxertos de pele e aos sítios doadores, assim como controlar o edema e a formação de cicatrizes. As mesmas devem ser usadas até que a pele do paciente ou as cicatrizes possam tolerar as forças de cisalhamento da aplicação de malhas compressivas e as áreas abertas sejammínimas. Estas devem ser dispostas em padrão de “8” sobre os membros inferiores, espiral nos membros superiores e a circular no tronco. Outro tipo de compressão sugerida é a bandagem elástica autoaderente que pode ser usada para as mãos e os dedos dos pés. Essa bandagem adere apenas nela mesma e pode ser posta sobre o curativo antes das feridas terem cicatrizado e ajuda a minimizar o edema e controlar a formação de cicatrizes, podendo ser também usada antes da aplicação de uma luva. Segundo Barguil In Borges (2010) o fisioterapeuta pode prescrever, quando necessário, o tipo e modelo de vestes compressivas, checar tamanho, modelo, ajustamentos e força de compressão. O profissional deve vestir o paciente para que o acompanhante possa observar e passar instrução aos mesmos quanto ao aspecto da higiene do cliente e da malha, orientar quanto à necessidade de uso contínuo e juntamente com o cirurgião planejar a alta do uso da veste compressiva. A veste compressiva pode ser associada ao uso do silicone que se apresenta como gel sólido e constitui produto não medicamentoso, atóxico, hipoalérgico e lavável. Afonso e Martins In 13 Lima Jr. (2008) dizem que o tempo de uso recomendado é de seis a oito horas por dia, podendo chegar a 12 horas diárias. Entretanto, alguns cuidados específicos devem ser tomados, tais como não perfurar o silicone, lavá-lo com água corrente e sabão neutro e polvilhar talco depois de seco. O ideal é começar o tratamento com um plano de horas de uso progressivo para evitar reações cutâneas como dermatite de contato. Além de todos esses recursos utilizados no tratamento das cicatrizes hipertróficas, Stanley e Richard In O’Sullivan e Schmitz (2004) mencionam ainda os cuidados com a pele, onde para melhorar a estética a fotoproteção é indispensável. Corroborando com esta afirmativa Andrade e Cunha (2011) afirmam que se deve higienizar e tonificar a pele utilizando produtos que preparam a pele para a aplicação dos princípios ativos, remoção de células mortas, oleosidade, maquiagem, leve esfoliação para regulagem do pH. O sabonete deve ser suave, sem perfumes e poderá se usado depois que todas as áreas abertas tiverem cicatrizadas. Os cremes hidratantes devem ser aplicados 2 a 3 vezes ao dia e não devem conter perfumes ou uma quantidade significativa de álcool. 8. Metodologia Este estudo se caracteriza como uma revisão bibliográfica, pois se realizou um levantamento nas diferentes bases de dados das bibliotecas indexadas de artigos científicos, SciELO, MEDLINE, Pubmed, Lilacs, Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), além de livros que abordam sobre os recursos fisioterapêuticos utilizados no tratamento das cicatrizes hipertróficas em pacientes queimados. O mesmo é pré-requisito para a obtenção do título de Especialista em Fisioterapia Dermato-Funcional da Faculdade Ávila. 9. Discussão No decorrer deste levantamento bibliográfico pode-se perceber que as queimaduras são uma das injúrias mais terríveis que uma pessoa pode sofrer, pois deixam sequelas importantes que afetam drasticamente a aparência, a capacidade de independência e consequentemente, o bem- estar psicológico do indivíduo (ROSSI; DALRI In LIMA Jr. et al., 2008). Dentre as deformidades mais preocupantes, as cicatrizes hipertróficas destacam-se por apresentarem um gasto elevado para os cofres públicos uma vez que requerem longos períodos de intervenção e a maioria das vezes o paciente não tem como arcar com as despesas (HERSON et al., 2009). Neste contexto, a Fisioterapia tem um papel importante no tratamento destas disfunções cicatriciais, pois possui um arsenal de recursos que podem ser utilizados para alcançar os objetivos primordiais no tratamento das cicatrizes como diminuir as sequelas deixadas por estas injúrias, melhorar a qualidade de vida e a aumentar a autoestima destes indivíduos (ROCHA; ROCHA; SOUZA, 2010; GUIRRO; GUIRRO, 2010). Nas bibliografias consultadas, os recursos que mais se destacaram, sejam por sua comprovação científica, sejam por experiências clínicas citadas por alguns autores foi o uso do ultrassom contínuo, modo direto, numa potência de 1 a 3 W/cm 2 durante 5 a 8 minutos (BARGUIL In BORGES, 2010). O laser mostrou-se eficaz no tratamento das cicatrizes quando utilizado com pulso de 0,45 ms e fluência de 6,5 a 7,25 J/cm 2 , com comprimento de onda de 585 – 595 nm. Dentro deste parâmetro, Pestana, Gabriel e Sampaio (2011) demonstraram que o laser por seu efeito fototermólise provoca degradação do colágeno e apoptose dos fibroblastos com subsequente redução da espessura da cicatriz, eritema, prurido e dor. A massagem foi mencionada por todos os autores estudados, juntamente com o uso das vestes compressivas. A primeira por promover o descolamento do tecido cicatricial, agindo para quebrar as aderências. A mesma pode ser também associada ao alongamento e à vacuoterapia 14 (STANLEY; RICHARD In O’SULLIVAN; SCHMITZ, 2004). As vestes compressivas mostram-se eficazes por permitirem que as cicatrizes permaneçam planas e uniformes, onde a pressão exercida deve ser em torno de 20 a 25 mmHg. Autores como Tibola In Lima Jr. et al. (2008) preconizam o uso contínuo depois que a lesão não apresentar áreas cruentas, e por volta de seis meses a dois anos após o início do uso. Sendo retiradas apenas para a higiene pessoal e sessões de fisioterapia. Outro recurso que se destacou dentre os autores, foi a endermologia por apresentar-se eficaz no tratamento das cicatrizes hipertróficas uma vez que atenua as cicatrizes hipertróficas quando utiliza a depressomassagem numa intensidade entre 100 a 250 mmHg (GUIRRO; GUIRRO, 2010). Barguil In Borges (2010) sugere que esta técnica seja realizada no modo pulsátil nas regiões próximas da lesão para liberar as zonas tensionadas; mas sobre as cicatrizes, de modo contínuo. As sessões devem ser numa frequência de duas ou três vezes por semana. Na eletroterapia os autores chamam a atenção para o uso das correntes que promovem a lise do colágeno como a corrente alternada bipolar para reduzir edema e aumentar a amplitude de movimento (DELISA, 2002). Já Guirro e Guirro (2010) indicam a corrente galvânica como o melhor recurso eletroterapêutico pela sua capacidade ionização, aumento da circulação e a formação de um composto de pH básico que auxilia na distensibilidade do tecido hipertrófico. Esta corrente também pode ser associada à terapia medicamentosa pelo processo de iontoforese. A carboxiterapia, a pesar de seus efeitos serem bastante conhecidos, seu uso na cicatriz hipertrófica ainda não é muito divulgado. No entanto Barguil In Borges (2010) demonstram sua eficácia para este fim terapêutico. Para Corrêa et al. (2008), o mecanismo de ação do gás carbônico promove uma vasodilatação que melhora o fluxo de nutrientes. Assim, as proteinases necessárias para remodelar os componentes da matriz extracelular e para acomodar a migração e reparação tecidual chegam até a cicatriz hipertrófica. 10. Considerações finais No decorrer deste trabalho pode-se perceber que a Fisioterapia Dermato-Funcional deve fazer parte da equipe multidisciplinar que atende os pacientes vitimados por queimaduras. O fisioterapeuta é o profissional que acompanha estes sujeitos por longos períodos, visto que sua atuação vai desde a fase hospitalar até a ambulatorial. Nesta última fase, o objetivo primordial volta-se para as sequelas instaladas e dentre estas, as cicatrizes hipertróficas ganham destaque, sendo que o seu o tratamento é extremamente complexo. Apesar desta complexidade, diversos recursos fisioterapêuticos têm-se mostrado eficientes no tratamento destas disfunções, alguns bem divulgados, outrospoucos, mas que já apresentam repostas promissoras na prática clínica mencionados por alguns profissionais renomados na área. Sendo assim, estes recursos aqui expostos devem ser minuciosamente estudados a fim de se comprovar cientificamente sua eficiência no tratamento das cicatrizes hipertróficas e com isso contribuir para melhorar a qualidade de vida destas pessoas, devolvendo-lhe dignidade e coragem de enfrentar os desafios da sociedade, sem que se sintam estigmatizadas. Espera-se ainda que este estudo sirva de base para novas descobertas que abordem o papel da Fisioterapia no tratamento de queimados com intuito de aumentar o arsenal de possibilidades na atenção destes pacientes, para que os gastos onerosos e o tempo de internação sejam reduzidos. Referências ABREU, Eliane S.; MARQUES, Mariângela E. A. Histologia da Pele Normal. In: JORGE, Silvia A.; DANTAS, Sonia R. Abordagem multiprofissional para o tratamento de feridas. São Paulo: Atheneu, 2003. 15 AFONSO, Cristina L.; MARTINS, Vaneide C. Fisioterapia Motora em pacientes queimados. In: LIMA JÚNIOR, Edmar Maciel et al. 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