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Psicologia Social latino-americana e brasileira Introdução A psicologia social tem uma longa trajetória de desenvolvimento, acompanhando as transformações sociais e históricas. Os ideais chegaram até os Estados Unidos num contexto de segunda guerra, com influência de filósofos como Hannah Arendt e Gestalt, e moldaram a percepção de fazer psicológico. A psicologia social no Brasil 1900 – Início dos estudos etnopsicológicos de Nina Rodrigues: o animismo fetichista dos negros africanos e as coletividades anormais, ou melhor, como coloca Laplantine (1998) nos estudos que revelam o confronto entre a etnografia e a psicologia. Materiais etnográficos recolhidos a partir de observações muito precisas são interpretados no âmbito da psicologia clínica da época. Nina Rodrigues considera os problemas da integração das populações europeias às advindas da diáspora africana que segundo ele constituem o principal obstáculo para o progresso da sociedade global. Muitos autores brasileiros seguiram essa linha de raciocínio que oscilava entre os pressupostos biológicos racistas da degenerescência racial, uma interpretação psicológica (instabilidade do caráter resultante do choque de duas culturas) até as modernas interpretações sociológicas iniciadas a partir de 1923 com os estudos de Gilberto Freyre autor do reconhecido internacionalmente Casa grande e senzala. Arthur Ramos (1903-1949): Com o título de Psicologia Social, foi o professor convidado para ministrar o curso de psicologia social na recém criada Universidade do Distrito Federal no Rio de Janeiro (1935) e logo desfeita pelo contexto político da época. Este não fugiu à clássica abordagem do estudo simultâneo das inter-relações psicológicas dos indivíduos na vida social e a influência dos grupos na personalidade mas fez as suas experiências anteriores nos serviços de medicina legal e médico de hospital psiquiátrico na Bahia tinha em mente os problemas da inter- relação de culturas e saúde mental (com atenção especial aos aspectos místicos - primitivos da psicose) retomando-os a partir das proposições da psicanálise e psicologia social americana situando-se criticamente entre as tendências de uma sociologia psicológica e uma psicologia cultural. A metodologia da psicologia social brasileira nos anos 50 – Assim como em toda a América Latina, importava práticas e teorias da psicologia social produzida na América do Norte, adaptando o aparato teórico-prático americano à realidade de cada país. Essa influência consolidava-se, principalmente, devido ao fato de que os formadores em psicologia social brasileiros se especializavam em centros de estudos norte-americanos. Associação Latino-Americana de Psicologia Social (ALAPSO): Foi fundada na década de 1960. tal associação estreitou ainda mais os laços entre a produção latino-americana com a norte-americana; estabelecendo ainda mais a psicologia estadunidense como seu principal referencial. Entretanto, ao longo dessa década, surgiram movimentos opostos a esse alinhamento, dando mais ênfase à psicologia social local. Estimulados pelos regimes militares ditatoriais e pela acentuada desigualdade social presente na América do Sul, os psicólogos integrantes desses movimentos de oposição à visão norte-americana passam a defender uma ruptura radical com a psicologia social tradicional. A fundação da ABRAPSO, foi um importante passo para o desenvolvimento desse panorama para a psicologia social nacional; as pesquisas produzidas pela associação enfatizavam problemas sociais, econômicos e políticos. Dessa forma, pode- se dizer que a psicologia política brasileira cresceu em conformidade com a psicologia social, uma vez que o corpus abrapsiano deu à psicologia política um viés psicossocial. Nesse contexto, pode-se destacar a atuação de Silvia Lane, cuja obra sistematizou o processo de politização da atuação profissional do psicólogo. Silvia Tatiana Maurer Lane, (1933-2006), é considerada uma das mais importantes teóricas da Psicologia Social Brasileira, de 1980 a 1983, atuou como presidente da ABRAPSO (Associação Brasileira de Psicologia Social), além de ser um dos membros fundadores da mesma. Seus estudos Marxistas – era na realidade que se encontram os dados para a construção de uma psicologia social (Psicologia voltada para a realidade brasileira). Essas instituições adotaram como referencial a Psicologia Social Crítica como perspectiva para os desenvolvimentos de suas pesquisas. Um dos primeiros autores desse movimento foi Martin-Baró, psicólogo e padre jesuíta espanhol, radicado em El Salvador, que em suas obras defendia uma psicologia social alinhada com a realidade social da América Latina. No Brasil, a partir do final da década de 1970, os psicólogos sociais brasileiros também participaram do movimento de ruptura com o alinhamento norte-americano. Com diversas publicações como “Psicologia Social: O homem em movimento” de Silvia Lane e Vanderley Codo até aos mais recentes manuais de Psicologia Social. Aniela Ginsberg (1930): Professora e fundadora do Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia Social da PUC-SP o primeiro curso de mestrado e doutorado da área a funcionar no Brasil, entre 1972 e 1983. - Influência da Gestalt Virgínia Bicudo: - Estudo de Atitudes raciais de pretos e mulatos em são Paulo; - Primeira dissertação de Psicologia Social sobre o tema. Otto Klineberg (1945): - Curso: introdução a psicologia social; - Enfatiza a importância do campo do social na psicologia; - Psicologia vista por um olhar antropológico. Anita Cabral (1947): Estudos interculturais. Dante Moreira Leite: - Orientador de Anita Cabral; - A partir do interculturalismo, desconstrói a teoria de Sergio Buarque de Holanda sobre o homem cordial, além de atacar a ideia de democracia racial de Gilberto Freire. Ecléa Bosi (1970): - Orientanda de Dante; - Tese: Cultura de massas e cultura popular: leituras de operárias; - Memória e sociedade: memórias de velho. Psicologia Social na América Latina Essa corrente penetra na américa latina e forma outra forma de fazer a psicologia social, fazendo refletir o papel do psicólogo, junto da progressão as experiências brasileiras. Ignácio Martín-Baró (pai da psicologia da libertação) que vive num contexto de guerra e violência dentro de El Salvador, patrocinado pelos EUA. Dentro do que seria o famoso Bem-Estar Social norte-americano, a população salvadorenha vivia uma crise de desigualdade, massacres e instabilidade em meio a sete golpes de estado. As críticas que ele tece se baseiam na forma estadunidense de psicologia social e sua padronização, reforçando esse ‘bem-estar’ e estando a par dos interesses políticos locais. Logo, ela deveria estar voltada à transformação e justiça social, numa mudança radical e paradigmática. A psicologia nortista entra como um movimento de influência, já a latino-americana pauta isso de forma crítica, visando a psicologia social como emancipação intelectual. Feitas as críticas da psicologia social norte-americana, pensa-se a psicologia social latino-americana a partir do pensamento de libertação de Martin-Baró. No artigo que ele produz (aprofundamento), ele traz uma pergunta importante: para que psicólogos? Ela nos situa nas relações de poder que regem as sociais. Essa indagação vem de Marc Richelle, em 1968, que estuda como a sociedade contemporânea estava urgindo da psicologia em suas múltiplas áreas. A psicologia era análoga a uma ‘torre de marfim’, justamente na questão da elitização, inacessibilidade e branquitude que permeavam essa realidade acadêmica. A clínica focava nas raízes individuais e esquecia as sociais, num movimento de individualização das causas sociais, esquecendo dos recortes sociais, culturais, econômicos e raciais. Logo, nesse aspecto, é percebido um esforço de reproduçãodo sistema vigente. Com o desenvolvimento dos estudos de Baró, vem-se os estudos a respeito da consciência da população. Ela consiste no saber ou não sobre si e o sobre o mundo como um todo, mais prático que mental. A realidade psicossocial se configura numa consciência coletiva, mas ela tem raízes na imagem histórica que cada pessoa possui e no saber social e cotidiano, o famoso ‘senso comum’. Martin-Baró entendia que a função do psicólogo social seria conscientizar as pessoas e grupos, estimulando-os a desenvolver pensamento crítico sobre a sua realidade, permitindo-os a ter maior controle sobre sua existência e assim lutar pela diminuição das injustiças sociais. Paulo Freire Cunha o termo conscientização como o processo de transformação pessoal e social que experimentam os oprimidos quando se alfabetizam em dialética com seu mundo. Para ele, alfabetizar-se não é aprender a ler e escrever, e sim consiste em aprender a ler a realidade circundante e a escrever sua própria história. O que importa de verdade é aprender a dizer a palavra da própria existência, que é pessoal, mas, acima de tudo, coletiva. É necessário superar sua falsa consciência e atingir um saber crítico sobre si, seu mundo e sua inserção no mundo. Dessa forma, conscientização não significa uma mudança da subjetividade individual que deixaria intacta a situação objetiva, mas sim uma mudança das pessoas no processo de mudar sua relação com o meio ambiente e, sobretudo, com os demais. A conscientização leva as pessoas a recuperar a memória histórica, a assumir o mais autêntico do seu passado, a depurar o mais genuíno do seu presente e a projetar tudo isso em um projeto pessoal e nacional.
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