Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
97 Anhanguera Educacional Ltda. Correspondência/Contato Alameda Maria Tereza, 4266 Valinhos, SP - CEP 13278-181 rc.ipade@aesapar.com Coordenação Instituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE Publicação: 1 de novembro de 2012 Trabalho realizado com o incentivo e fomento da Anhanguera Educacional Natalia Carolina C. Fonseca Della Valle Pinheiro Paulo A. Valbuena da Silva Prof. Janice Campos Lima Prof. André Luis Câmara Curso: Fisioterapia FACULDADE ANHANGUERA DE SANTA BÁRBARA RESUMO Introdução: Fratura designa interrupção do tecido ósseo causado por diferentes situações, tais como traumas, estados patológicos ou ainda cirurgias. Visando minimizar o tempo da consolidação óssea, estudos são realizados investigando os efeitos da terapia com o ultrassom aplicado no foco da fratura. Objetivo: descrever os efeitos e os parâmetros do ultrassom terapêutico nas fraturas. Resultados: o US é um recurso capaz de auxiliar o processo de reparação do osso fraturado. Estudos sugerem que o US aplicado da forma pulsada (1/2 ou 1/5 a 16 Hz) com uma dose de 0,5W/cm² é capaz de aumentar o número de trabéculas ósseas repletas de neovascularização (sist. Harvers), além de promover um melhor alinhamento das fibras de colágeno. Foi investigado que o US também age na fase do calo cartilaginoso, deixando a cartilagem mais hipertrófica e diminuindo o tempo de ossificação endocondral. Conclusão: o US quando aplicado de forma indicada, mostra-se capaz interferir na fisiologia do processo de consolidação da fratura minimizando o seu tempo de reparo da mesma. Palavras-Chave: ultrassom, fratura, consolidação óssea. ANUÁRIO DA PRODUÇÃO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DISCENTE Vol. 13, N. 18, Ano 2010 A APLICABILIDADE DO ULTRASSOM TERAPÊUTICO NO REPARO ÓSSEO DE FRATURAS: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 98 A aplicabilidade do ultrassom terapêutico no reparo ósseo de fraturas: uma revisão bibliográfica Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente Vol. 13, N. 18, Ano 2010 p. 97-108 1. INTRODUÇÃO Fratura designa a interrupção do tecido ósseo causado por diferentes situações como traumas, estado patológico ou ainda situações cirúrgicas, tendo como conseqüência a agressão física do periósteo do osso e do endósteo, podendo ocorrer deslocamento de alguns fragmentos. A laceração durante a fratura faz com que hematomas e coágulos são formados pelo extravasamento de sangue devido o rompimento dos vasos do osso, bem como dos tecidos adjacente sendo o motivo pelo qual as fraturas causam lesões neuróticas (GARCIA; GOMEZ, 2004). O osso possui uma propriedade elétrica particular, a piezoeletricidade, que significa a capacidade de gerar sinais elétricos a partir de uma tensão mecânica, contribuindo para a reparação óssea (RENNÓ et al., 2002). Estresse físico ou ausência de estresse físico pode influenciar a remodelagem do osso. De acordo com Lesh (2000), a lei de Wolf é o princípio que explica que o osso será depositado ao longo da linha de estresse e reabsorvido onde houver ausência ou pouco estresse. A incidência das fraturas está relacionada diretamente com a cultura de uma determinada região. (GRECCO et al., 2002). A partir disso, nota-se, por exemplo, que nas zonas rurais, podem ocorrer acidentes relacionados com as atividades agrícolas (acidentes com tratores, amputações traumáticas, entre outros). Observa-se também que, o aumento dos casos de fraturas mantém-se atrelado à evolução tecnológica, visto que, existem, por exemplo, mais carros circulando o que acarreta mais casos de acidentes, como atropelamentos, colisões, etc. Outro fator ligado à tecnologia é a questão do armamento, pois as diversas facções criminosas são detentoras de grande poder de fogo, e a partir do momento em que ocorre o ataque ao cidadão comum, bem como, os confrontos com policiais, população fica à mercê das lesões ocasionadas por PAF (projéteis de arma de fogo) (GRECCO et al., 2002). Apesar dos crescentes avanços em algumas áreas sobre os procedimentos nas fraturas, a medicina pouco pode fazer para aumentar a velocidade de consolidação da fratura. Assim, terapias alternativas, que possam auxiliar na recuperação da fratura, são muito importantes, pois podem minimizar o tempo de tratamento, bem como os custos, garantindo o retorno mas rápido às atividades de vida diárias e laborais (DOUAT, 2004). A fisioterapia atua de forma positiva no tratamento de pacientes fraturados, pois possui um arsenal de recursos que visam permitir que o paciente se reabilite com uma melhor qualidade e em menos tempo, porem, os bons resultados no tratamento de Natalia Carolina Cassaro Fonseca Della Valle Pinheiro, Paulo André Valbuena da Silva, Janice Campos Lima, André Luis Câmara 99 Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente Vol. 13, N. 18, Ano 2010 p. 97-108 fraturas dependem muito da reabilitação. Embora todo paciente adulto com uma fratura mais importante deva fazer exercícios supervisionados com a maior frequência possível, ele deve ser alertado de que este tratamento organizado é apenas uma parte do tratamento, e que o resultado final depende muito da continuidade das atividades normais tanto quanto possível quando ele estiver fora das sessões de fisioterapia. Uma ferramenta valiosa que o fisioterapeuta possui para este tipo de abordagem é o ultrassom terapêutico. (ADAMS et al., 1994). O presente estudo irá realizar uma análise das pesquisas que abordam: as características, funções e a fisiologia do tecido ósseo, as fases da consolidação do osso pós- fratura, os efeitos e as particularidades do ultrassom terapêutico e também serão discutidos os efeitos da aplicação do ultrassom ao osso fraturado. 2. OBJETIVO O objetivo desta revisão bibliográfica é descrever o efeito do ultrassom terapêutico e da sua aplicação á ossos fraturados, bem como os melhores parâmetros do ultrassom que devem ser utilizados para promover a consolidação. 3. METODOLOGIA Para este estudo de revisão literária, foi realizada uma busca em livros, periódicos científicos nacionais e internacionais e bibliotecas eletrônicas como a SciELO, BIREME e PUBMED. As palavras-chave mais utilizadas foram: fratura, fisioterapia e ultrassom. Foram utilizados materiais nos idiomas em português e inglês. 4. DESENVOLVIMENTO 4.1. O Tecido Ósseo e sua Reparação Pós-Fratura O osso é um tecido conjuntivo especializado, formado por células que se denominam osteoblastos, osteoclastos e osteócitos. Também constitui o osso a matriz orgânica que contem em maior quantidade colágeno (tipo I), proteoglicanas, proteínas e água, esta é responsável pela resistência a forças de tensões impostas ao osso e por dar ao mesmo uma certa flexibilidade. Este também possui a matriz inorgânica que é responsável principalmente pela resistência a forças compressivas e por proporcionar ao osso sua 100 A aplicabilidade do ultrassom terapêutico no reparo ósseo de fraturas: uma revisão bibliográfica Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente Vol. 13, N. 18, Ano 2010 p. 97-108 característica rígida. Ossos menos mineralizados são também mais flexíveis que ossos completamente mineralizados (DOBLARÉ; GARCIA, 2003). Após uma fratura ocorre um processo chamado de reparo ósseo ou remodelamento ósseo. O efeito do primeiro se dá de modo muito semelhante ao dos tecidos moles. Os dois processos de reparo consistem em três fases que se sobrepõem: inflamação, proliferação e remodelamento. Contudo, no reparo ósseo a fase de proliferação é subdividida na formação de um calo ósseo mole e um calo ósseo duro. O primeiro é o equivalente ao tecido de granulação nas lesões de tecidos moles e é, dentro deste tecido, que o novo osso se regenera para formar então o calo duro (APLEY, 2002). Segundo Landa (2005), existem dois tipos de consolidação, a primária e a secundária. Na consolidação primária, células osteogênicase endoteliais dos capilares morrem próximas da região lesionada do osso devido a interrupção da circulação. Os osteócitos que circundam os canais de Havers, também morrem. Nas regiões dos canais de Havers onde as células estão vivas, ocorre proliferação celular, crescimento celular e neoformação capilar. As células osteogênicas se transformam em osteoblastos e começam a reconstruir os canais de Havers. Esse processo avança até a região da área agredida, passando a ser chamado de osso imaturo. Neste tipo de consolidação não há a formação de um calo osso (LANDA, 2005). Na consolidação óssea secundária ocorre um processo extremamente complexo que pode ser dividido em três fases sequenciais que são: fase inflamatória, fase de reparo (proliferação) e a fase de remodelamento (SOUSA, 2003; HOPPENFIELD, 2001). A duração de cada estágio varia, dependendo da localização e gravidade da fratura, lesões associadas, idade do paciente e da condição nutricional do paciente. A fase inflamatória começa imediatamente após a fratura e ocorre aproximadamente nas primeiras duas a três semanas após o traumatismo. No período de 48 horas o exsudato do hematoma da fratura contém vários mediadores da inflamação, fatores angiogênicos e do crescimento liberados pelas plaquetas, células locais, mastócitos, neutrófilos, macrófagos e linfócitos. O fator do crescimento derivado das plaquetas, o fator do crescimento epidérmico e o fator transformador do crescimento beta são exemplos de ativadores da formação do calo ósseo. Nesta fase os fagócitos iniciam o processo de reabsorção e remoção de tecido ósseo morto (SOUSA, 2003). A fase reparativa pode perdurar por vários meses. Essa fase é caracterizada pela diferenciação de células mesenquimatosas pluripotenciais. O hematoma de fratura é invadido por condroblastos e fibroblastos, que irão depositar a matriz para o calo. Inicialmente, forma-se um calo mole, composto principalmente de tecido fibroso Natalia Carolina Cassaro Fonseca Della Valle Pinheiro, Paulo André Valbuena da Silva, Janice Campos Lima, André Luis Câmara 101 Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente Vol. 13, N. 18, Ano 2010 p. 97-108 (colágeno tipo I) e cartilagem com pequena quantidade de osso. Então, os osteoblastos são responsáveis pela mineralização desse calo mole, convertendo-o num calo duro de osso reticulado e aumentando a estabilidade e resistência no foco da fratura. Inicialmente esse tipo de osso é imaturo e fraco em termos de torque; portanto não pode ser submetido a estresse em demasia. Nesta fase radiograficamente a linha de fratura começa a desaparecer (SOUZA, 2003). O processo de remodelamento ósseo ocorre quando a linha de fratura é preenchida pelo calo ósseo. Nesta fase a cartilagem mineralizada é transformada em tecido ósseo, que é modificado em osso lamelar com a organização do sistema haversiano. Neste processo os osteoclastos removem o tecido e os osteoblastos depositam osso lamelar em volta do canal central do capilar (VELLOSO, 2005). Os principais objetivos da fisioterapia são eliminar a causa da disfunção, propiciar alivio da dor e redução do processo inflamatório, prevenir ou diminuir o comprometimento do sistema músculo-esquelético e articular e diminuir o tempo do processo de consolidação do osso. (BOCKSTAHLER; LEVINE; MILLIS, 2004). 4.2. As Características e Os Efeitos do Ultra-som Terapêutico O ultrassom terapêutico têm sido utilizado por mais de 50 anos, para o tratamento de tecido ósseo, muscular e tendíneo lesados e diversos trabalhos têm demonstrado que o UST pulsado é eficiente na promoção da regeneração óssea (GOUVEA, 1998; PARIZOTTO; VIDAL, 2001). A energia ultrassônica pertence ao espectro acústico, com uso para diagnóstico, reparo ou destruição tecidual, de acordo com a frequência utilizada. O ultrassom é produzido por uma corrente alternada fluindo através de um cristal piezoelétrico, produzindo contrações e expansões deste cristal. Esta vibração causa a produção mecânica de ondas sonoras de alta frequência (STARKEY, 2001). De acordo com Bassoli (2001) as ondas ultrassônicas podem se propagar de dois modos, o contínuo e o pulsado. A diferença entre os modos está na interrupção da propagação de energia. O ultrassom pode exercer efeitos fisiológicos térmicos (modo contínuo) e não-térmicos (modo pulsado), sendo que o aquecimento produzido pele efeito térmico pode produzir efeitos desejáveis como analgesia, diminuição da rigidez articular, aumento do fluxo sanguíneo, aumento da extensibilidade do tecido colágeno e redução do espasmo muscular. Já os efeitos não térmicos são confirmados sobre a regeneração dos tecidos moles e sobre o reparo ósseo (BATALHA, 2006). O ultrassom pulsado leva a dois 102 A aplicabilidade do ultrassom terapêutico no reparo ósseo de fraturas: uma revisão bibliográfica Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente Vol. 13, N. 18, Ano 2010 p. 97-108 eventos, cavitação e correnteza acústica. Os pulsos individuais fazem com que as células e moléculas oscilem de maneira cíclica e diretamente proporcional a intensidade de saída da unidade. Essas oscilações estimulam, em conteúdos líquidos, a criação de bolhas cheias de ar (STARKEY, 2001). O Ultrassom terapêutico induz mudanças fisiológicas como ativação de fibroblasto, colágeno e diminuição de células inflamatórias por aceleração do metabolismo celular, sendo assim, influenciando diretamente no processo de reparação dos tecidos, inclusive o tecido ósseo (OLSSON et al., 2006). As cargas elétricas necessárias ao reparo ósseo são produzidas no osso por meio do efeito piezoelétrico, pois o ultrassom pulsado atinge a superfície do osso por uma sucessão de impulsos, cada um deles resultando em um sinal elétrico como resposta do osso (LANDA, 2005). A colocação de cargas elétricas na superfície celular, decorrente da aplicação de energia ultrassônica pulsada, mantém a polarização elétrica média enquanto durar o estímulo. Essa polarização faz com que os osteoblastos alterem seus potenciais de membrana permitindo o bombeamento de íons e a captação de nutrientes. As células atuam como transdutor biológico, onde o estímulo elétrico produz uma maior atividade das células, as quais se agruparão segundo a polaridade compatível com a sua natureza, isto é, os osteoblastos serão atraídos pelo pólo negativo e os osteoclastos pelo pólo positivo, promovendo assim o reparo ósseo (GUIRRO, 2002). A presença do tecido ósseo sadio no caminho da irradiação ultrassônica de tecidos moles ainda é motivo de preocupações por conta de suas características de atenuação, absorção, reflexão e refração que, segundo Moros (2004), são acentuadas nas interfaces do tecido ósseo, produzindo efeitos adversos nos tecidos circunvizinhos. 5. RESULTADOS A intensidade da radiação ultrassônica é fator essencial para o sucesso de qualquer terapia, bem com o seu tempo de aplicação. A quantidade de energia total depositada sobre um determinado tecido biológico é o produto da intensidade com o tempo de aplicação (GUIRRO & SANTOS, 1997; FERNANDES et al., 2003). A duração do tratamento é determinada pela intensidade de saída, pelas metas específicas do tratamento e pela área a ser tratada, sendo a dosagem inevitavelmente uma questão de bom senso (STARKEY, 2001; LOW e REED, 2000). Natalia Carolina Cassaro Fonseca Della Valle Pinheiro, Paulo André Valbuena da Silva, Janice Campos Lima, André Luis Câmara 103 Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente Vol. 13, N. 18, Ano 2010 p. 97-108 Muitos trabalhos foram feitos investigando os efeitos da terapia com ultrassom no processo de reparo ósseo de fraturas, Dyson e Brokes citados por Kitchen (2003) mostraram que era possível acelerar o reparo de fraturas da fíbula usando níveis terapêuticos de ultrassom (1,5 ou 3 MHz, pulsado, 0,5W/cm2). Trabalhos relatam que os tratamentos mais efetivosforam aqueles realizados durante as duas primeiras semanas de reparo, ou seja, durante a fase inflamatória de reparo tecidual. Foi visto que se o tratamento era iniciado entre a terceira e a quarta semana após a lesão, o ultrassom parecia estimular o crescimento da cartilagem, atrasando a consolidação óssea. Este tipo de tratamento, durante a fase inflamatória de reparo, aumenta a quantidade de colágeno depositado no foco da fratura (KITCHEN, 2003). No experimento realizado por Martins et al. (2008) em ratos, foi possível verificar que o ultrassom terapêutico representou uma aceleração no processo de focos de osteóide trabecular imaturo, já no grupo sem tratamento o processo de reparo tecidual também ocorreu, porém, de forma mais lenta. Outros dados observados no grupo de controle foi um excesso de tecido conjuntivo mesenquimal associado á neoformação vascular, recobrindo áreas de matriz cartilaginosa, com proliferação fibroblástica. No grupo que recebeu tratamento verificou-se uma redução significativa do volume do calo ósseo, associado a uma redução do tecido mesenquimal periostal do calo de fratura. Para a realização deste estudo foi aplicado ultras-m terapêutico pulsado de 1 MHz com dose de 0,5 W/cm2. Em modelo experimental de pseudoartrose de tíbia de ratos, o ultrassom pulsado de baixa intensidade foi utilizado com sucesso para acelerar o processo de reparo ósseo (GEBAUER et al., 2002). Após seis semanas de tratamento diário (20 minutos por dia), 50% das fraturas tratadas foram consolidadas, enquanto nenhuma fratura do grupo controle obteve cura neste intervalo de tempo. Albertin (2003) realizou um estudo com falhas ósseas experimentais em rádio de coelhos com o objetivo de identificar o tempo de estimulação pelo ultrassom mais adequado para a aceleração do reparo ósseo. Para isso, estabeleceu tempos de aplicação do ultrassom por 5, 10, 20 e 40 minutos diários, por um período de 15 dias, comparando- os entre si e com o grupo controle, submetido à recuperação espontânea. Radiograficamente observou-se a formação de calo ósseo em todos os animais tratados e nos controles, porém, no grupo controle este calo foi pouco desenvolvido. Nos animais tratados por 5, 10 e 20 minutos este calo é evidente, mas no grupo tratado por 40 minutos ele é melhor desenvolvido. 104 A aplicabilidade do ultrassom terapêutico no reparo ósseo de fraturas: uma revisão bibliográfica Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente Vol. 13, N. 18, Ano 2010 p. 97-108 Azuma et al. (2001) realizaram um estudo com ratos onde analisou os efeitos do ultrassom pulsado de baixa intensidade em fraturas bilaterais de fêmur, onde o fêmur direito foi exposto ao ultrassom em diferentes períodos de tempo, e o esquerdo serviu como controle. Foi observado pela análise histológica que no grupo tratado ocorreu maior ossificação endocondral, com maior formação de tecido cartilaginoso, e maior remodelamento ósseo que no grupo controle. Também foi visto que a formação de osso trabecular foi maior no grupo tratado que no controle. Pilla et al. (1990) demonstraram que o ultrassom de baixa intensidade (1,5 ou 3 MHz, pulsado, 0,3 W/ cm²) podia estimular o reparo das fraturas de coelhos maduros brancos a tal ponto que por volta de 17 dias após a lesão, havia sido alcançada a resistência máxima nos membros tratados em comparação com 28 dias nos membros laterais, que serviram de grupo controle. Segundo Guirro (2002) a fase inflamatória do reparo é extremamente dinâmica, e durante o seu transcorrer, células de vários tipos (plaquetas, mastócitos, macrófagos, neutrófilos) entram e saem do local lesionado. O ultrassom terapêutico pode interagir com estas células, influenciando sua atividade e levando á aceleração do reparo de fraturas. Rawool et al. (2003), demonstraram que o ultrassom de baixa intensidade (30mW/cm2) estimulou a vascularização no sítio de osteotomias em ulnas de cães. Os autores observaram que o aumento do fluxo sanguíneo no local da fratura continuou evidente após o término da estimulação ultrassônica, ocorrendo simultaneamente a formação do calo ósseo exuberante e evidente aumento da distribuição do fluxo sanguíneo em torno do foco de fratura. Frankel (1998) relatou índice de consolidação óssea de 90% em ossos longos, exceto o úmero (82%) em pacientes com retardo de consolidação óssea (91 a 150 dias após a fratura) tratados com ultrassom. Nos casos clínicos de retardo de consolidação óssea crônica (151 a 269 dias após a fratura) os índices de regeneração óssea apresentados foram de 75% para o úmero e 85% para os demais ossos (fêmur, tíbia, fíbula, metatarso, rádio e ulna). Bezerra (2005) realizou uma pesquisa verificando os efeitos do UST de baixa intensidade sobre a consolidação de fraturas de fíbulas em ratos diabéticos, para a realização do experimento os ratos foram divididos em dois grupos, o controle e o grupo submetido a aplicação do UST, eles realizaram 21 sessões com duração de 20 minutos, o meio acoplante utilizado foi o gel hidrossolúvel, a frequência utilizada foi de 1,5 MHz e intensidade de30mW/cm2.Após o estudo foi possível observar que o grupo tratado com o Natalia Carolina Cassaro Fonseca Della Valle Pinheiro, Paulo André Valbuena da Silva, Janice Campos Lima, André Luis Câmara 105 Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente Vol. 13, N. 18, Ano 2010 p. 97-108 UST apresentou melhora significativa na consolidação óssea comparado ao grupo de controle. Em uma revisão sistemática e meta-análise realizada por Busse et al. (2002) foram analisadas de forma cuidadosa as evidências a respeito do efeito de ultrassom pulsado de baixa intensidade sobre o tempo de cicatrização da fratura. They conclude that the evidence from randomised trials where the data could be pooled (3 studies, 158 fractures) that the time to fracture healing was significantly reduced in the ultrasound treated groups than in the control groups and the mean difference in healing time was 64 days. Eles concluem que as evidências de estudos randomizados, onde os dados podem ser agrupados (3 estudos, 158 fraturas) que o tempo de cura da fratura foi significativamente reduzida em grupos tratados com o ultrassom do que no grupo controle, a diferença média no tempo de cicatrização foi de 64 dias . Warden et al. (1999) publicaram um artigo de revisão e concluiram a partir de estudos animais e humanos, que o uso do ultrassom pode acelerar a taxa de reparo de fraturas.The unit utilised for this work (Sonic Accelerated Fracture Healing System – SAFHS) delivers a low intensity (0.03 W cm-2) at 1.5 MHz pulsed at a ratio of 1:4. A unidade utilizada para este trabalho (Sonic Accelerated Fracture Healing System - SAFHS) fornece uma baixa intensidade (0,03 W cm-2) em 1,5 MHz, modo pulsado na proporção de 1:4.As sessões duraram 20 minutos. Dyson citado por Kitchen (2002) relata que o reparo das fraturas de fíbula foi acelerado e modificado através do tratamento com UST, que foi aplicado com intensidade de 1,5W/cm2, com pulso de 2 ms ligado, 8 ms desligado durante 20 minutos em quatro dias sucessivos durante cada semana de tratamento. A terapia ultrassônica teve eficiência quando aplicada na fase inflamatória, ou seja, logo após o trauma (antes da formação do calo duro).Também foi determinado, que se o tratamento fosse iniciado na terceira ou quarta semana após a lesão, aparentemente o UST estimulava o crescimento da cartilagem, retardando a união óssea. Tsai et al., citados por Landa (2005) descreveram a possibilidade de se acelerar o reparo de fraturas fibulares de coelhos com o uso de níveis terapêuticos de ultrassom (1,5 MHz, pulsado, 0,5 W/CM2). Heckman et al. (1994) investigaram o efeito do ultrassom de baixa intensidade na consolidação de fraturas tibiais. As fraturas foram examinadas numa avaliação duplo- cega randomizada e prospectiva do ultrassomde baixa intensidade. O grupo tratado exibiu uma diminuição significativa no tempo de consolidação óssea (86 dias), em comparação ao grupo de controle (114 dias). 106 A aplicabilidade do ultrassom terapêutico no reparo ósseo de fraturas: uma revisão bibliográfica Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente Vol. 13, N. 18, Ano 2010 p. 97-108 Mayr et al. (2000) afirmam que o ultrassom pulsado de baixa intensidade pode ser um método de tratamento não-cirúrgico muito promissor para alterações de reparo tecidual. Takikawa et al. (2001) postulam que o ultrassom pode exercer uma força mecânica nas células dos tecidos moles no local da fratura, sugerindo uma investigação do efeito piezoelétrico com o objetivo de esclarecer se o efeito in vivo é apenas devido ao material como transdutor ou se as células se comportam como um transdutor. Sun et al. (1999) utilizaram 14 dias de tratamento ultrassônico em defeito de fêmur de rato in vitro, mas com uma intensidade mais alta do que o usual neste tipo de tratamento (3,0W/cm2) e demonstraram aceleração do reparo ósseo. Silveira et al. (2008) realizaram um estudo verificando o efeito do UST de 1MHz com dose de 0,5 W/cm2 sobre o tecido ósseo cães e constataram que o US é capaz de acelerar a estimulação da osteogênese seguindo os parâmetros utilizados no estudo. A diversidade de modelos experimentais descritas na pesquisa realizada por Busse et al. (2002) que apresentam frequências variadas (1 a 3 MHz), diferentes intensidades, tempos de aplicação, diferentes tamanhos de ERA (área de radiação efetiva) e áreas de lesão dificultam a interpretação e a associação de informações obtidas sobre os efeitos fisiológicos do UST aplicadas ao tecido ósseo e a escolha do melhor modo de tratamento para fraturas ósseas. No entanto consideram que o tratamento das fraturas com UST pode reduzir o tempo de reparo e, consequentemente, os custos financeiros e sociais relacionados ao retardo da consolidação ou não união óssea. 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir desta revisão de literatura é possível observar que o UST quando aplicado a fraturas tem a capacidade de reduzir o tempo de consolidação das mesmas. Também foi constatado que a terapêutica mais indicada para este fim é a aplicação do UST com frequências menores (1 MHz), com tempos mais elevados (aproximadamente 20 minutos de aplicação), no modo pulsado e com doses mais baixas (0,5W/cm²). No entanto, ainda há uma carência desse tipo de estudo realizados em humanos. Para conclusões mais solidas sugere-se que mais pesquisas sejam realizadas. REFERÊNCIAS ADAMS, JC; HAMBLEM, D. L. Manual de fraturas: incluindo lesões articulares. [s. l.]: Artes médicas, 1994. Natalia Carolina Cassaro Fonseca Della Valle Pinheiro, Paulo André Valbuena da Silva, Janice Campos Lima, André Luis Câmara 107 Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente Vol. 13, N. 18, Ano 2010 p. 97-108 ALBERTIN M. L. Efeito do ultrassom sobre o reparo de falha óssea experimental: avaliação quantitativa e morfológica do parâmetro tempo de estimulação. Revista Brasileira de Fisioterapia; São Carlos; v. 8; n. 1; fev. 2004. APLEY, A. G. Ortopedia e fraturas: em medicina e reabilitação. São Paulo: Atheneu, 2002. AZUMA, Y. et al. Low intensity pulsed ultrasound accelerates rat femoral fracture healing by acting on the various cellular reactions in the fracture callus. Journal of bone and mineral research; v.16, n.4, abril 2001. BASSOLI, D. A. Avaliação dos efeitos do ultrassom pulsado de baixa intensidade na regeneração de músculos esqueléticos com vistas à aplicabilidade em clínica fisioterapêutica. 2001. 93 f. Dissertação (Mestrado) – Escola de Engenharia de São Carlos / Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto / Instituto de Química de São Paulo, 2001. BATALHA, C.G. Fisioterapia no tratamento de fratura incompleta de epicôndilo medial em fox paulistinha, 2006. Dissertação (Especialização) – Escola Qualittas / Universidade Castelo Banco. BEZERRA, J. B. Estudo dos efeitos do ultrassom de baixa intensidade e do exercício físico sobre a consolidação de fraturas em ratos diabéticos. Dissertação (Pós Graduação) – Escola de Engenharia de São Carlos. 2005. BOCKSTAHLER, B; LEVINE, D; MILLIS; D. Essencial Facts of Physiotherapy Babenhausen.. ACLIPEVA - Cap.2.p.6-15, Rio Grande do Sul 2004. BUSSE, J. W. M..et al.. "O efeito da terapia de baixa intensidade do ultrassom pulsado no tempo de cicatrização da fratura: uma meta-análise”. 2002 DOBLARÉ Ml; GARCIA, J. M. On the modeling bone tissue fracture and healing of bone tissue. Acta Científica Venezolana; Venezuela; v. 54; p. 58 - 75; abr. 2003. DOUAT, E. S. V. Estudo comparativo do efeito do ultrassom terapêutico de 1MHz de frequência de repetição de pulso a 100Hz e 16Hz no reparo da osteotomia por escareação de tíbia de rato. São Carlos. [dissertação] Escola de Engenharia de São Carlos, Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto e Instituto de Química de São Carlos da Universidade de São Paulo. DYSON, M.; BROKES, M. Stimulation of bone repair by ultrasound. Wave ultrasound IEEE Transsaction on Sonics and Ultrasonics, v.17, p. 133-140, 1970. FERNANDES, M.A.L. Avaliação dos efeitos do ultrassom terapêutico sobre lesões experimentais do tendão flexor digital superficial em eqüinos: estudo clínico, ultra-sonográfico e histopatológico. 2001. 67f. Dissertação (Mestrado em Medicina Veterinária) – Curso de Mestrado em Medicina Veterinária, Universidade Federal de Minas Gerais. GARCÍA J. M.; GÓMEZ, M. J. Modelling bone tissue fracture and healing: a review. Engineering Fracture Mechanics, v. 71. P. 1809-1840, 2004. GEBAUER, G. P. Low-intensity pulsed ultrasound increases the fracture callus strength in diabetic BB Wistar rats but does not affect cellular proliferation. J Orthop Res 2002; 20:587-92. GOUVEA, C. M. C. P.; VIEIRA, P. M. N.; AMARAL, A..C. Efeito do ultrassom na recuperação de músculo tibial anterior de rato lesado. Revista da Universidade de Alfenas. V.4, p. 165 – 173, 1998. GRECCO, M.; et al. Epidemiology of tibial shaft fratures.Acta Ortopédica Brasileira, v.10 n.4 São Paulo Out./Dez 2002. GUIRRO, R.; SANTOS, S.C.B. A realidade da potência acústica emitida pelos equipamentos de ultrassom terapêutico: uma revisão. Revista de Fisioterapia da Universidade de São Paulo, v.4, n.2, p.76-82, 1997. HECKMAN, J. D, RYABY, J.P. et al. "Acceleration of tibial fracture-healing by non-invasive, low- intensity pulsed ultrasound”. J Bone Joint Surg 1994;76-A:26-34. HOPPENFELD S. MURTHY V. L. Tratamento e Reabilitação de Fraturas. São Paulo: Manole, 2001. KITCHEN, S. Eletroterapia prática baseada em evidências. 11º edição, Ed. Manole, 2003. 108 A aplicabilidade do ultrassom terapêutico no reparo ósseo de fraturas: uma revisão bibliográfica Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente Vol. 13, N. 18, Ano 2010 p. 97-108 LANDA, L. V. Estudo comparativo entre terapia com laser de baixa potência e terapia ultrassônica na promoção da osteogênese em rádio de coelho, 2005. Dissertação de Mestrado em Bioengenharia, Universidade do Vale do Paraíba. LESH, S. G. Ortopedia para fisioterapeutas. Ed. Revinter. 2000. LOW, J.; REED, A. Eletroterapia explicada – princípios e prática, 3ª ed. São Paulo: Manole, 2001. MARTINS, D.R. Efeito do ultrassom terapêutico pulsado no processo de consolidação de fratura óssea induzida: estudo experimental, 2008 MAYR, E., V. FRANKEL, et al.. "Ultrasound--an alternative healing method for nonunions”. Arch Orthop Trauma Surg, 2000. MOROS, E.G. et al. Thermal contribution of compact bone to intervening tissue-like media exposed to planar ultrasound. Phys Med Biol, London, v.49, n.6, p.869-886, 2004. OLSSON, D; MARTINS, V; PIPPI, N. MAZZANTI, A; TOGNOLI, G. Ultra-som Terapêutico na cicatrização tecidual: Estudo experimental. Ciência Rural, v.38, n.4, jul, 2008. PARIZOTTO, N. A.; VIDAL, B. C. The effect of therapeutic ultrasound on repair ofthe Achilles tendon of the rat. 2001. Ultrasound Med Biol. PILLA, A. A.; MONT, M. A ., NASSER, P. R., KHAN, S. A. ., FIGUEIREDO, M., KAUFMAN, J. J., SIFFERT, R. S. Non- invasive Low- intensity Pulsed Ultrasound Acelerates Bone Healing in The Rabbit. Journal of Orthopedic Trauma 4: 246-253, 1990. RAWOOL, N. M. et al. Power Doppler assesment of vascular changes during fracture treatment with low intensity ultrasound.2003. J Ultrasound Med 2003; 22:145-153. RENNÓ, A. C. M. et al. O efeito osteogênico do ultrassom de baixa intensidade. Fisioterapia em movimento; Champagnat; São Carlos; v.14; n.2; p. 52-57; out./ mar. 2002. SOUSA, V. L. Efeitos do ultrassom de baixa intensidade sobre a consolidação óssea em fraturas de ossos longos (rádio, ulna, fêmur, tíbia e fíbula). 2003.Disponível em www.bv.fapesp.br/pt/.../efeitos-ultrassom-baixa-intensidade/ SOUZA, J. B. Revisão de literatura: efeitos do ultrassom de baixa intensidade no auxilio ao tratamento de pseudoartrose de ossos longos (úmero, ulna, fêmur, tíbia e fíbula). 2008. [teseonline]. [s.l.] Disponível em www.fag.edu.br/.../efeito_do_ultrasom_terapeutico_pulsado_no_processo_de_consolidacao_de_f ratura_ossea_induzida_estudo_experimental SILVEIRA, D. S. et al. O ultrassom terapêutico de 1 MHz, na dose de 0,5 W/cm2, sobre o tecido ósseo de cães avaliado por densitometria óptica em imagens radiográficas. 2008. Rev. Ciência Rural, v38, n.8, nov. STARKEY, C. Recursos Terapêuticos em Fisioterapia. 2ª ed. São Paulo: Manole, , p. 277-313. 2001 SUN, J. S. et al. In vitro effects of low intensity ultrasound sti on bone cells..Journal of Biomedical Materials Research 2001. TSAI, W.C. "Ibuprofen inhibition of tendon cell proliferation and upregulation of the cyclin kinase inhibitor . Journal Orthop Res 2004. VELLOSO, G. R. Fraturas: origens e tratamentos. 2005. Univ. Ci. Saúde, Brasília, v. 3, n. 2, p. 297- 301, jul./dez. WARDEN, S. J. Ultrasound usage and dosage in sports physiotherapy. Ultrasound in Med. & Biol., v. 28, n. 8,.1999 CABS_PIC 10169_OK_unlocked
Compartilhar