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Importância da temperatura de material no processamento de polímeros Grandes projetos em polímeros de engenharia podem ser postos a perder na fase de execução. Um projeto de design bem executado e uma perfeita seleção de materiais podem ir por água abaixo se, na moldagem dos componentes, alguns cuidados não forem observados. São vários os fatores que precisam de atenção na moldagem de termoplásticos. Quando se tratam de polímeros de engenharia e peças de alto desempenho o controle estrito destes fatores é mais crucial ainda. Neste artigo, vou apresentar para você um destes fatores: a temperatura de material fundido ou temperatura de massa. Vou mostrar como avaliar esta temperatura e quais as consequências de um ajuste inadequado. Um mito Muitos clientes me perguntam: ”Ricardo, quais temperaturas devo ajustar na minha máquina para o material xxxx?”. Minha resposta é sempre a mesma: ”O que importa é a temperatura da massa de material fundido. As temperaturas que você regula na máquina visam atingir a temperatura desejada na massa e é essa que você deve controlar”. É muito comum em manuais de processo e fichas técnicas de material você encontrar recomendações de temperatura para as diferentes zonas da máquina. Se este tipo de informação for utilizado apenas como ponto de partida, OK. O problema é que, na maioria das vezes, o moldador toma esta informação como definitiva e sagrada. O problema com este tipo de recomendação é que ela não leva em conta os aspectos de cada máquina e de cada ciclo de moldagem em particular. Tipos de rosca diferentes, ajustes de velocidade, tempo de ciclo entre muitos outros fatores determinam a temperatura do material. Ao escolher uma recomendação direta de regulagem, você pode estar ignorando outros fatores mais importantes e que farão diferença na qualidade das suas peças. O que olhar então Minha recomendação, como disse antes, é sempre usar como base de ajuste a temperatura da massa fundida e o aspecto visual do material. Estes dois fatores lhe ajudarão a determinar a qualidade do material e ajustar seu processo adequadamente. Temperaturas recomendadas Você deve procurar nas fichas técnicas e manuais de moldagem pela informação de temperatura recomendada do fundido ou da massa. Em inglês procure por ”Recommended Melt Temperature” ou ”Ideal Melt Temperature”. Usualmente esta informação é passada na forma de um intervalo de valores de temperatura. Se o seu material estiver entre este intervalo é a primeira indicação de que tem boa qualidade. Na Tabela 1 eu listo a faixa de temperatura recomendada para os principais materiais de engenharia do mercado. Tabela 1 - Temperaturas e tempos de residência recomendados para vários materiais Material Temperatura de Fundido Ideal (ºC) Tempo de Residência Ideal (min) Nylon 6 260 – 280 3 a 10 Nylon 66 295 – 305 3 a 10 POM-H 200 – 210 3 a 10 PC 310 – 330 2 a 8 ABS 180 – 230 2 a 10 PBT 240 – 260 3 a 10 PET + GF 280 – 300 3 a 10 Note que também listei o tempo de residência recomendado para cada material. Os materiais precisam de tempo para absorver a energia térmica e para que a temperatura se homogeneize em toda a massa. Da mesma forma, tempo excessivo pode levar a queima do material (degradação) mesmo se a temperatura estiver dentro dos limites recomendados. A forma de medir a temperatura da massa é com um termômetro de contato (específico para medição de temperatura de fluidos). Purgue a máquina e insira a sonda diretamente na massa fundida. Mantenha a sonda em movimento durante todo o tempo para evitar que o material se solidifique e isole a sonda, impedindo uma medição precisa. Repita a operação pelo menos 2 vezes. Isso assegura que desvios causados pelo tempo necessário a aquecer a sonde ocorram. Lembre-se também de sempre usar equipamento de proteção como luvas para proteção térmica, colete de couro e óculos de proteção. A temperatura medida deve estar próxima do limite superior caso o tempo de residência esteja próximo do limite inferior. E a temperatura deve estar próxima do limite inferior se o tempo de residência estiver próximo do limite superior. Para calcular o tempo de residência use a seguinte fórmula: 𝑇𝑅 = 𝐶𝑎𝑝𝑎𝑐𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑇𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑑𝑎 𝑀á𝑞𝑢𝑖𝑛𝑎 𝐷𝑜𝑠𝑎𝑔𝑒𝑚 𝑟𝑒𝑔𝑢𝑙𝑎𝑑𝑎 × 2 × 𝑇𝑒𝑚𝑝𝑜 𝑑𝑒 𝑐𝑖𝑐𝑙𝑜 (𝑒𝑚 𝑠𝑒𝑔𝑢𝑛𝑑𝑜𝑠) 60 onde: • TR – Tempo de Residência • Capacidade total da máquina – é a capacidade de injeção máxima da máquina em cm3 ou g de material. Se esta informação não estiver prontamente disponível você pode usar o curso de dosagem máximo da máquina. • Dosagem regulada – é o quanto da capacidade máxima da máquina você está efetivamente usando. Certifique- se de utilizar apenas a capacidade que será injetada no molde. Se você usar o curso de dosagem máximo no item anterior, aqui também deve usar o curso de dosagem regulado. • 2 – é um fator empírico e está relacionado com a geometria interna da unidade de injeção. Na prática este valor pode estar entre 1,4 e 2,1. • Tempo de ciclo em segundos – é o tempo total que leva para produzir um conjunto de peças • 60 – fator de conversão para obter o tempo em minutos. Para processos de extrusão, o tempo de residência deve ser medido com cronômetro. Avaliação visual da massa Além da medição direta da temperatura é uma boa prática observar o aspecto do material. Uma medição de temperatura, mesmo sendo repetida várias vezes, pode não identificar falta de homogeneidade na temperatura ou pontos de superaquecimento localizado. A análise visual busca indícios de qualidade (ou da falta dela). Idealmente, a massa fundida deve apresentar aspecto homogêneo, sem diferenças de coloração, sem rugosidades ou caroços (como seria o caso de grânulos inteiros e não fundidos presentes na massa). Também deve estar livre de gases e odor em excesso. Devido à viscosidade elevada dos materiais, gases de degradação em excesso tendem a ficar aprisionados na massa. O material então, assume uma aparência de chocolate aerado. Um bom teste pode ser jogar a borra num balde com água. Um material degradado e com excesso de gases tenderá a flutuar. Consequências de um fundido de má qualidade Um material fundido de baixa qualidade (falta de homogeneidade ou temperatura incorreta) pode acarretar em problemas visuais como manchas, rugosidade, afloramento de fibras e peças incompletas. Porém o pior problema pode ser o da degradação das propriedades mecânicas. Temperaturas baixas (ou baixo tempo de residência) podem impedir a homogeneização adequada do material e o consequente tensionamento das peças. Isto leva à possibilidade de quebra das peças com cargas muito mais baixas do que as esperadas para o material/design utilizado. Já temperaturas em excesso (ou tempo de residência em excesso) pode ocorrer a degradação do material – quebra das cadeias moleculares. Isto acarreta diminuição da viscosidade do material podendo influenciar a estabilidade do processo (especialmente processos de extrusão) e principalmente a perda de propriedades mecânicas do material e da peça. Na Figura 1 você pode ver a influência do tempo de residência e da temperatura na resistência ao impacto de um Nylon com fibras de vidro. Conclusão O cuidado com a temperatura de moldagem de polímeros termoplásticos é crucial para o sucesso de qualquer projeto, em especial àqueles que utilizam polímeros de engenharia. Neste artigo eu te mostrei como avaliar esta temperatura e quais as consequências da não observação dos limites recomendados. Como você faz o controle de temperaturas dos seus processos? Como está a qualidade das peças que você molda? Até que ponto os resultados que você está obtendo pode estar relacionado com a temperaturade moldagem das suas peças? Deixe seu comentário nos meus canais ou me mende um email com sugestões de novos conteúdos, dúvidas e assuntos do seu interesse. Até a próxima. Figura 1 - Influência da temperatura e tempo de residência na res. ao impacto de PA + FV. Fonte: Manual de Moldagem do Zytel® (DuPont)
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