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1 O Capital - Crítica da Economia Política Primeira Aula Estrutura:vol I - O processo de produção do Capital vol.II - O processo de circulação do Capital vol. III - O processo global da produção capitalista Estrutura do volume I: Seção 1 - Mercadoria e dinheiro Seção 2 - A transformação do dinheiro em capital Seção 3 - A produção de mais-valia absoluta Seção 4 - A produção de mais-valia relativa Seção 5 - A produção de mais-valia absoluta e relativa Seção 6 - O salário Seção 7 - O processo de acumulação de capital Estrutura do capítulo I: Mercadoria 1. Os dois fatores da mercadoria: valor de uso e valor (substância do valor e grandeza do valor) 2. Duplo caráter do trabalho representado nas mercadorias 3. A forma de valor ou o valor de troca 4. O caráter fetichista da mercadoria e seu segredo 2 A mercadoria Seção 1: Os dois fatores da mercadoria: valor de uso e valor A riqueza das sociedades em que domina o modo de produção capitalista aparece como "uma imensa coleção de mercadoria", e a mercadoria individual como sua forma elementar. Nossa investigação começa, portanto, com a análise da mercadoria. A mercadoria é, antes de tudo, um objeto externo, uma coisa, a qual pelas suas propriedades satisfaz necessidades humanas de qualquer espécie [...] a utilidade de uma coisa faz dela um valor de uso [...] ou bem. • Há o visível: propriedades dos objetos; há o invisível: utilidade (que não é meramente subjetivo, mas social). • O valor de uso é uma propriedade social das mercadorias. Eles expressam relações que os homens mantêm entre si num mundo cultural (social e histórico). • Logo, o valor de uso pertence à linguagem do vivido. • Enquanto valores de uso, as mercadorias são incomensuráveis entre si. Os valores de uso constituem o conteúdo material da riqueza, qualquer que seja a forma social. Na forma social a ser por nós examinada, eles constituem, ao mesmo tempo, os portadores materiais do − valor de troca. • Logo, a mercadoria é − valor de troca. E valor de troca é uma relação. Que relação? 3 O valor de troca aparece, de início, com relação quantitativa, a proporção na qual valores de uso de uma espécie se trocam contra valores de uso de outra espécie, uma relação que muda constantemente no tempo e no espaço. • O “aparece” indica que Marx está falando do valor de troca do ponto de vista do vivido. • Por exemplo, ele aparece assim: 1 casaco = 20 lenços. • Mas ele está falando também do ponto de vista da ciência que vai querer explicar o valor de troca como mero fenômeno, como mera aparência (ocultando, esse caráter de aparência) • Os valores de troca aparecem para o vivido e para a ciência como algo puramente quantitativo. • Notem que Marx distingue a Ciência (que vai explicar o valor de troca por sua essência, por seu fundamento metafísico) e a ciência vulgar (que vai explicá-lo como mero fenômeno quantitativo tal como aparece no vivido dos agentes). � Nota: Ciência (com c maiúsculo) é a ciência originada na Grécia antiga, especialmente Aristóteles, e desenvolvida pelo idealismo alemão. Não confundir com a Science anglo- saxônica. • Para Marx, os valores de uso são qualitativamente diferentes e, por isso, não podem ser as fontes do valor de troca. Mas isto tem de ser inferido com mais detalhes. O valor de troca parece, portanto, algo casual e puramente relativo; um valor de troca imanente [...] à mercadoria... [se afigura como uma contradição, um absurdo]. 4 • Por que absurdo? Se for explícito, não pode ser implícito. • Há, pois, uma ambigüidade: valor de troca imanente?! Ora, a aparência (o valor de troca) tem de ser distinguida da essência (valor imanente). • Aparência (1 casaco = 20 lenços); essência (valor intrínseco no casaco = valor intrínseco nos 20 lenços) Determinada mercadoria, 1 quarter de trigo, por exemplo, troca-se por x de graxa de sapato, ou por y de seda, ou por z de ouro etc. ... Assim, o trigo possui múltiplos valores de troca... permutáveis uns pelos outros ou iguais entre si. • Notem que coisas qualitativamente diferentes são igualadas no mercado. É isto o que faz a linguagem das ações dos agentes, a linguagem das mercadorias. Como isto é possível? Por conseguinte, primeiro: os valores de troca [...] expressam algo igual. Segundo, porém: o valor de troca só pode ser [...] a "forma de manifestação" de um conteúdo dele distinguível. • Percebam que, agora, a ambigüidade acima referida começou a ser esclarecida. Afinal que é o algo igual? Por exemplo, se um triângulo é igual a um quadrado que é o algo igual? É a área, obviamente. E no caso das mercadorias? Esse algo em comum não pode ser uma propriedade geométrica, física, química ou qualquer outra propriedade natural das mercadorias. As propriedades corpóreas [...] tornam-nas valores de uso. Por outro lado, porém, é precisamente a abstração de seus valores de uso que caracteriza evidentemente a relação de troca das mercadorias. Nessa relação um valor de uso vale exatamente tanto como outro qualquer, desde que esteja na proporção adequada. 5 Deixando de lado, então, o valor de uso dos corpos das mercadorias, resta a elas apenas uma propriedade, que é a de serem produtos do trabalho. • Mas que "trabalho"? Notem que pedreiro, por exemplo, produz casa; marceneiro produz móveis, etc., ou seja, que cada trabalho concreto produz um valor de uso específico. Ao desaparecer o caráter útil dos produtos do trabalho, desaparece o caráter útil dos trabalhos neles representados [...] para reduzir-se em sua totalidade a igual trabalho humano, a trabalho humano abstrato [...] [As mercadorias, então,]... como cristalizações dessa substancia social comum ... são valores - valores mercantis. O que há de comum, que se revela na relação de troca ou valor de troca da mercadoria, é, portanto, seu valor. • A mercadoria agora não é mais valor de troca. Ela é valor. A ambigüidade antes referida desapareceu. O prosseguimento da investigação nos trará de volta ao valor de troca, como a maneira necessária de expressão ou forma de manifestação do valor. Portanto, um valor de uso ou bem possui valor, apenas, porque nele está objetivado ou materializado trabalho humano abstrato. Como medir então a grandeza de seu valor? Por meio do quantum nele contido da substância constituidora do valor, o trabalho. • Por que Marx se vale da linguagem da metafísica para compreender o sistema econômico burguês? Porque esse sistema para ele é metafísico. Para compreendê-lo é preciso distinguir o sensível do supra-sensível, o visível do inteligível. 6 Em resumo: a) a mercadoria é valor de uso e valor; b) o valor de troca é a forma do valor; c) o trabalho abstrato é a substância do valor; d) o trabalho abstrato é o contrário e a negação do trabalho concreto; e) o valor é o contrário e a negação do valor de uso; f) mercadoria é, portanto, uma unidade de contrários • Podemos dizer, com alguma provocação, que a mercadoria é valor de uso que não é “só” valor de uso; pois, vem a ser algo que tem um duplo caráter. Parece ter valor de troca, mas é também um valor intrínseco. • Esse valor intrínseco é posto pela ação dos agentes, mas eles não sabem que o fazem. Há, pois, um inconsciente social que para ser desvendado requer uma volta à linguagem da metafísica. • Para Marx, o sistema econômico real é metafísico. A metafísica aqui não advém de obra divina (como em Platão e Aristóteles), mas advém de obra humana social e histórica.
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